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Resumo
O presente artigo objetiva fazer um breve resgate, na história, de um conjunto
de objetos de investigação as quais se estabeleceu, ao longo dos séculos,
relações místicas, lendárias ou mitológicas com a matemática, que podem ser
utilizadas no ambiente educacional para atrair a curiosidade de alunos para o
estudo e a pesquisa em matemática. Os Quadrados Mágicos são importantes
exemplos desse grupo de objetos matemáticos carregados de histórias
curiosas que, devidamente trabalhadas, estimulam os alunos a observar,
relacionar e a produzir conhecimentos.
A História
1
GORMAN, P., 1995, Pitágoras uma vida, tradução de Rubens Rusche, 10ª edição, Ed.:
Cultrix/Pensamento, São Paulo.
2
Época em que os símbolos matemáticos eram usados como amuletos.
1
Aos números ímpares eram atribuídas propriedades místicas pelos
gregos. Temos ainda a razão áurea3 que, até os dias de hoje, é utilizada como
critério de beleza para artistas e arquitetos.
Os Quadrados Mágicos são um dos mais antigos membros deste vasto
conjunto mitológico. Sua construção é um entretenimento matemático que,
ainda hoje, desperta a curiosidade por suas propriedades “mágicas”. O
problema consiste em buscar uma disposição de números sucessivos tal que,
colocados num quadrado subdividido em quadrados menores, suas linhas,
colunas e diagonais tenham a soma de seus valores constante. A essa
constante, os antigos denominavam “Constante Mágica”, atribuindo a ela
propriedades maravilhosas.
Se um Quadrado Mágico permanecesse com suas propriedades ao
substituirmos seus números pelos respectivos quadrados, ele era denominado
de “Bimágico”.
O Primeiro Quadrado Mágico
Contam os historiadores que o primeiro quadrado apareceu na China,
cerca de 2800 a.C4.. Esse quadrado mágico (ver figura 1), denominado de Loh-
Shu5, é utilizado como talismã pelo povo chinês. Os Quadrados Mágicos
também eram conhecidos pelos hindus e pelos árabes, que atribuíam às
combinações numéricas propriedades misteriosas. “Na Europa ocidental os
quadrados mágicos eram, na Idade Média, patrimônio dos representantes das
pseudociências, dos alquimistas e dos astrólogos. Deles, os Quadrados
Numéricos receberam a denominação de mágicos, pois acreditavam que quem
os carregasse como um talismã estaria salvo das desgraças.”(Perelmán, 1983 :
341).
3
Ver RPM nº 05.
4
Existem controvérsias a respeito da época em que foi encontrado este Quadrado Mágico. Alguns autores
afirmam que ele foi encontrado entre os anos de 4000 - 5000 antes de Cristo.
5
Ordem interior do Mundo.
2
Fig.1
Mais adiante poderemos comparar essa figura com um Quadrado
Mágico de ordem 3.
Fig.2
6
DÜRER (Albrecht), pintor e gravador alemão (Nuremberg, 1471 – id., 1528). Principal mestre da
escola alemã, revelou seu gênio na pintura a óleo (A festa do rosário), retratos na aquarela (A lebre), na
gravura em madeira e em cobre (A grande paixão, A melancolia, O cavaleiro, A morte e o diabo).
Trabalhou em Nuremberg, salvo duas viagens que fez a Veneza e aos Países Baixos.
3
Mágicos são apresentados com a denominação de “Selos Planetários”.7 O de
Dürer, por exemplo, representa o selo planetário de Júpiter, enquanto
que um quadrado de ordem três representa o selo de Saturno.
A Ordem
O tamanho do quadrado, ou a ordem do quadrado, é definida pela sua
quantidade de linhas ou colunas. Um quadrado de ordem 3 possui 3 linhas e 3
colunas (ver figura 3), logo possui 9 quadrados menores, que deverão ser
preenchidos com os algarismos de 1 a 9. O menor Quadrado Mágico é o de
nove casas. Um quadrado com 16 casas é o de ordem 4. Um quadrado de
ordem 5 possui 25 casas, e assim por diante.
6 7 2 ⇒ 15
1 5 9 ⇒15
8 3 4 ⇒15
⇓ ⇓ ⇓
15 15 15 15 15
Observe que a soma dos algarismos que compõem suas linhas, colunas
e diagonais resultam sempre em 15.
A Constante Mágica
O valor “S”, conhecido como Constante Mágica, que obtemos na soma
dos algarismos, é fixo e diferente para cada ordem. Por exemplo:
7
Denominação dada por Cornelius Agrippa (Colónia 1486 – Grenoble 1535; De Occulta Philosophia,
1510).
4
4 34
5 65
Sn = (1 + n2 ) n ÷ 2.
Ordem 0 0 0 06 07 08 09 10 11 12
3 4 5
Constante 1 3 6 11 17 26 36 50 67 87
Mágica 5 4 5 1 5 0 9 5 1 0
5
Alguns Métodos para a Construção de Quadrados
Mágico
Até o momento não é conhecida uma forma de construir esses
quadrados que sirva para todas as ordens, ou seja, os procedimentos utilizados
para a construção de quadrados de ordem ímpar não servem para a
construção de quadrados de ordem par, e vice e versa.
Neste artigo, mostraremos alguns métodos para a construção de
quadrados de ordem ímpar
6
3a Etapa: A partir do quadrado pintado e seguindo a diagonal crescente,
numerar os quadrados em ordem, com os algarismos de 1 a 9;
3
2 6
1 5 9
4 8
7
2 7 6
9 5 1
4 3 8
4 10
3 9 15
2 8 14 20
1 7 13 19 25
6 12 18 24
11 17 23
16 22
21
3 16 9 22 15
7
20 8 21 14 2
7 25 13 1 19
24 12 5 18 6
11 4 17 10 23
8
J
I
O Algoritmo de Euler
H
5
4
3
2
1
a b c d e
9
55
a b c d e
a b c d e
4
4
A Montagem: 3
1) Primeiramente, colocamos
32 o
número 1 em qualquer casa do
1
quadrado, por exemplo (a;1).
2
2) Movendo-nos duas casas para
1
cima e uma para a direita,
colocamos o número 2 na casa
(b;3).
3) Agora, movendo-nos novamente da
mesma maneira, colocamos o
número 3 na casa (c;5).
4) Se com o movimento, sairmos do
quadrado pela parte superior,
continuamos o movimento pela
parte inferior da mesma coluna. O
mesma se dará quando sairmos
pela lateral direita;
5) Do ponto (d;2) movemo-nos para o
ponto (e;4) e colocamos o número
5.
6) Do ponto (e;4) movemo-nos para o
outro lado do tabuleiro, ponto (a;1).
Como o ponto está ocupado,
colocamos o número na casa
abaixo do ponto de partida.
10
a b c d e
7) Repetindo as 3
operações,
conseguiremos completar
2 o
quadrado de ordem 5, 1 que tem
Constante Mágica igual a 65.
11
Em todos esses quadrados, os algarismos que compõem as linhas e
colunas não se alteram, mesmo variando o local de colocação do primeiro
algarismo.
12
2a - Reflexões Geométricas
Tomaremos como exemplo um quadrado de ordem 3, construído pelo
algoritmo de Euler, e outro construído com uma alteração no movimento
(observe que eles não são mágicos). Ao invés de deslocar duas casas para
cima e uma para a direita, conforme sugere o algoritmo de Euler,
deslocaremos duas casas para a direita e uma para cima, e em caso de
repetição, colocaremos o algarismo na casa imediatamente à esquerda do
ponto de partida.
13
Utilizando o método de Euler, preencheremos um quadrado de ordem 3
fazendo a seguinte alteração: no caso de repetição, colocar o número na
casa imediatamente acima da casa de partida.
14
Completando a seqüência de movimentos, encontraremos este
quadrado:
15
Faremos uma transformação para tentar colocar esta seqüência em uma
das diagonais maiores.
Como sabemos que, se trocarmos a posição do ponto inicial, todas as
colunas se movimentam na mesma direção, conseguiremos montar o Quadrado
Mágico colocando o ponto inicial no primeiro quadrado da segunda coluna.
15
17 6 25 14 3
11 5 19 8 22
10 24 13Utilizando
2 16 este método, conseguiremos montar qualquer Quadrado
4 Mágico
18 7 de21ordem
15 ímpar. Mesmo o quadrado de ordem 5 poderá ser construído
23 por meio
12 1 do método
20 9 alterado. Que terá como resultado o seguinte Quadrado
Mágico:
Aplicações
Existem relatos que apontam para a utilização dos Quadrados Mágicos
como ferramenta para a resolução de Sistemas de Equações, porém, dentro do
aspecto didático, aproveitando sua dimensão lúdica, ele pode se mostrar como
um instrumento curioso e, portanto, motivador, repleto de conceitos
matemáticos.
No decorrer deste texto, falamos de simetrias, reflexões, progressões
aritméticas, potências, entre outros conceitos que ainda podem ser exploradas.
Se existem aplicações práticas para os Quadrados Mágicos, somente uma
investigação mais aprofundada poderá dizer, porém, é importante enfatizar que,
para explorar esses elementos matemáticos, basta que se tenha motivação e
um pouco de dedicação. Desta forma, as portas que escondem os mistérios da
matemática serão abertas e seus segredos desvendados.
16
Bibliografia
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