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No capítulo IV, o pregador inicia as repreensões aos peixes / homens, seguindo o método que usou para fazer
os seus louvores: do geral para o particular.
1. Neste capítulo, António Vieira destaca as duas principais repreensões feitas aos peixes, a partir das quais, é
possível, desde logo, estabelecer uma relação com a conduta dos homens. Assim:
1.ª repreensão
Peixes Homens
2.ª repreensão
Peixes Homens
2. Depois de apresentar a 1.ª repreensão, o Padre António Vieira constrói um paralelismo invertido, através
da figura de Santo Agostinho. Diz, então, que:
pregava prega
aos homens aos peixes
exemplificava exemplifica
nos peixes nos homens
3. Para comprovar a tese de que os homens se comem uns aos outros (1.ª repreensão), o orador usa uma lógica
implacável. Uma vez que os seus ouvintes sabiam que os peixes se comiam uns aos outros [os maiores aos mais
pequenos], A. Vieira estrutura a sua argumentação da seguinte forma:
▪ primeiro faz um apelo à observação,
▪ depois passa à exemplificação,
▪ e finalmente à amplificação.
Matos e sertão cidades
Dá dois exemplos:
Conclusão Conclusão
os peixes/homens comem os mais pequenos;
os homens comem não só o povo mas a sua plebe;
os homens não só os comem, mas também os engolem e os devoram;
os homens devoram e comem pessoas como se comessem um simples pedaço de pão.
Obs.:
▪ Ao longo da argumentação usada para comprovar a 1.ª repreensão feita, A. Vieira repete inúmeras vezes o
verbo “comer”. Este verbo adquire aqui um sentido polissémico, uma vez que “comer” tanto pode significar o
acto de comer/ ingerir alimentos, propriamente dito, como pode representar, metaforicamente, o acto de
explorar; de tirar proveito / roubar.
4. Na 2.ª repreensão o pregador critica os peixes / homens por serem ignorantes e cegos. A estrutura usada na
argumentação desta 2.ª repreensão é semelhante à que usou na 1.ª repreensão. Assim:
dá o exemplo dos peixes que caem facilmente no engodo da isca. Diz, especificamente, o seguinte: “Toma um
homem do mar um anzol, ata-lhe (...) acaba por morrer”.
▪ Passa, depois, para o exemplo dos homens que enganam, facilmente, os indígenas e para a facilidade com que
estes se deixam enganar. Apresenta aqui 2 situações.
– Numa delas refere o caso daqueles que se deixam pescar por um pedaço de pano pertencente a uma de
três Ordens: a Ordem de Malta, a Ordem de Assis e a Ordem de Cristo. E conclui que “O que engoliu o
ferro ou ali, ou noutra ocasião ficou morto”, porque acabou por cometer muitas injustiças, que implicaram
a sua morte espiritual.
– Numa outra situação, apresenta o caso dos moradores do Maranhão, que se deixam enganar por um
mestre de navio de Portugal, que os isca com “quatro varreduras das lojas, (...) e não implicam gastos”.
Em consequência disso, o “trabalho de toda a vida” é gasto “no triste farrapo com que saem à rua”. É para
isso que se matam a trabalhar todo o ano.
▪ A crítica à exploração dos mais desfavorecidos (dos índios e dos escravos) é, neste capítulo e neste exemplo
em particular, cerrada e implacável.
▪ Feita a exposição e a confirmação, o Padre António Vieira conclui que os peixes / homens são muito cegos e
ignorantes. Por isso, apresenta, em contraste, o exemplo de Santo António que:
– não se deixou enganar pela vaidade;
– abdicou dela ( vaidade), ao fazer-se pobre e simples.
Através das duas repreensões gerais feitas neste capítulo, o Padre António Vieira faz 2 grandes e
pertinentes críticas aos homens (aos habitantes do Maranhão, tanto os colonos como os índios).
Críticas subjacentes:
▪ Crítica à prepotência dos mais poderosos, que se alimentam do sacrifício dos mais fracos.
▪ Crítica aos comportamentos dos homens, uma vez que estes se encontravam mais preocupados em criar
inimigos entre os da sua espécie, do que defender a sua espécie, o seu povo dos verdadeiros inimigos.
Críticas subjacentes:
▪ Crítica à vaidade do homem dos matos e dos sertões, que se deixa enganar pelo homem da cidade,
mostrando ignorância.