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CURSO DE EXTENSÃO EM

Alfabetização e Produção de Materiais para


Estudantes com Deficiência Sensorial II
MÓDULO 3 | SEMANA 05

A ALFABETIZAÇÃO DA
CRIANÇA CEGA
A ALFABETIZAÇÃO MÓDULO 3
SEMANA 05
DA CRIANÇA CEGA

INTRODUÇÃO
Como você aprendeu nas aulas anteriores, a alfabetização da
criança cega pressupõe todo um trabalho anterior com os sen-
tidos remanescentes e de desenvolvimento da psicomotricida-
de, quando são trabalhadas as sensações proprioceptivas, ci-
nestésicas e labirínticas, além da coordenação motora fina.

Isso é essencial, por exemplo, para o reconhecimento das letras


em Braille, que demandam uma boa orientação espacial, visto que
elas diferem entre si pela localização dos pontilhados organizados
em linhas na página. Ao proporcionar à pessoa cega o desenvolvi-
mento da escrita Braille, cria-se a possibilidade de acesso ao co-
nhecimento, “abrindo-lhes horizontes novos, tanto na ordem so-
cial, moral, bem como na espiritual” (MARUCH; STEINLE, 2009, p. 8).

E é importante atentar para o fato de que dificuldades ou fra-


cassos das crianças na fase escolar demandam mudanças de
atitudes e metodologias pedagógicas. Afinal,

O alfabetizado não é só aquele que reconhece sinais gráficos, aprende


fonemas, mecaniza procedimentos de leitura e de escrita, e os alfabe-
tizadores necessitam preparar-se e estar atentos à responsabilidade
que lhes cabe. Alfabetizar é rasgar horizontes, abrir atalhos, apontar
saídas, descobrir soluções, criar situações concretas e propor desa-
fios. É fazer o educando trilhar o caminho do conhecimento formal, e
levá-lo a apreender “o saber consciente” (ALMEIDA, 1997, p. 3).

Por isso, os ambientes educacionais devem proporcionar es-


tímulos e experiências que propiciem atitudes criativas e es-
timulem atividades que favoreçam o desenvolvimento global

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das crianças cegas.

Algumas dificuldades serão geradas pela própria cegueira, por


isso é importante acionar “mecanismos capazes de mobilizar es-
truturas internas, pode-se: ampliar movimentos corporais, for-
talecer músculos, refinar percepções, estimular memória e ama-
durecer condutas” (ALMEIDA, 1997, p. 5). Por exemplo, para que a
criança seja introduzida no sistema de leitura e escrita Braille,
ela precisa do conhecimento de lateralidade, dos números (prin-
cipalmente 1 a 6, por causa dos pontos da cela Braille) e de coor-
denação motora fina para perfurar e praticar a leitura háptica.

Quando a criança com deficiência visual é alfabetizada junto às de-


mais, todas têm muito a aprender, desde o respeito às diferenças
até o contato entre ambas as realidades – a de enxergar e a de não
enxergar. Por exemplo, as crianças videntes já sabem como é as-
sistir a um filme com as imagens em tela, mas desconhecem como
é assistir-lhe sem essas imagens, por meio da audiodescrição. Elas
aprendem a escrever com o lápis, mas não conhecem outras for-
mas de escrita, como o Braille ou o leitor de telas, instrumentos
que elas passarão a conhecer no convívio com crianças cegas.

Há uma aprendizagem mútua que amplia e enriquece as rela-


ções humanas. Isso impacta diretamente a redução da desi-
gualdade, uma vez que as crianças com deficiência visual pas-
sam a ter consciência do seu papel no mundo, dos seus direitos,
deveres e potencialidades para protagonizarem suas próprias
histórias como desejarem, o que inclui ingressar na universi-
dade, formar família, participar politicamente nos espaços so-
ciais, investir na carreira, enfim, aquilo que elas passam a en-
tender como importante para elas próprias.

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A ORIGEM DO SISTEMA BRAILLE


O sistema Braille teve origem na França, em 1825, e carrega o
nome de seu inventor, Louis Braille. O jovem, que ficou cego aos
dois anos de idade por causa de um acidente e posterior infec-
ção, ingressou no Instituto para Jovens Cegos em Paris onde, in-
satisfeito com os métodos de estudo, se empenhou em criar um
sistema que permitisse a leitura e a escrita por pessoas cegas. A
matriz para essa realização foi a “Escrita Noturna”, uma escrita
em relevo que possibilitava a comunicação entre militares mes-
mo em batalhas no escuro, criada pelo capitão Charles Barbier.

Antes da criação do sistema Braille, já houvera uma tentativa


institucional de escolarização de pessoas cegas, sendo a pri-
meira escola destinada a esse público criada em 1784, em Paris,
por Valentin Haüy. Todavia, os métodos de ensino enfatizavam
a memorização, levando os estudantes a repetir a explicação
dos professores e os textos ouvidos. Havia poucos livros, cons-
truídos com letras convencionais fortemente marcadas no pa-
pel, o que inviabilizava qualquer forma de escrita.

Apesar das resistências à adoção do sistema Braille pelo mun-


do, em 1847 ele foi oficialmente reconhecido em Paris para a
impressão de livros. Na América Latina, o Brasil foi o primeiro
país a adotar o Braille, em 1854, com a criação do Imperial Ins-
tituto dos Meninos Cegos, atual Instituto Benjamin Constant,
por D. Pedro II. Atualmente, o Braille já é ensinado nas escolas
de Ensino Básico, especialmente no Atendimento Educacional
Especializado – AEE por meio de professores especialistas. 

A cela Braille é formada por um conjunto de seis pontos, dis-


postos em duas colunas, da seguinte forma:
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Assim, todas as letras, pontuações e numerais são formados


pela combinação desses pontos, por exemplo:

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Fonte: https://www.alfabeto.net.br/alfabeto-braille/

Além desse site, você também pode acessar o vídeo Lógica de


formação das letras em Braille.

INSTRUMENTOS PARA A LEITURA E


ESCRITA EM BRAILLE: REGLETE, MÁQUINA
DE ESCREVER, LINHA BRAILLE E BRAILLE FÁCIL
A leitura e a escrita em Braille podem ser feitas por meio de
diferentes instrumentos:

Reglete com punção: instrumento usado


para escrita manual do Braille. Apresen-
ta-se em diferentes modelos: reglete de
mesa, reglete de bolso, reglete positiva e
reglete negativa. Todos eles visam à es-
crita Braille de forma prática, são leves,
de custo mais acessível que outras tecnologias e podem ser
transportados facilmente pelo usuário para utilização em di-
ferentes situações que envolvam a escrita. A metodologia de
escrita varia na reglete negativa e na positiva. Enquanto na pri-
meira é necessário escrever com os pontos invertidos, em bai-
xo-relevo (para depois virar a folha) e da direita para a esquer-
da, na segunda a escrita já é feita em alto-relevo, dispensan-
do, portanto, a inversão dos caracteres durante o processo de
escrita. Nesse modelo, escreve-se da esquerda para a direita,
como nos textos em tinta. Você poderá conhecer o manuseio
da reglete negativa com punção acessando o vídeo Ensinando
o Braille e da reglete positiva pelo vídeo Reglete Positiva.

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Máquina de escrever: semelhante e ao


mesmo tempo diferente da máquina
de escrever convencional, a máquina
de escrever em Braille é composta por
nove teclas: espaço, retrocesso, avan-
ço de linha e seis teclas correspondentes aos pontos da cela
Braille. Geralmente, em uma folha, essa máquina chega a es-
crever 23 linhas e 42 colunas. Você pode conhecer mais o fun-
cionamento dessa máquina acessando o vídeo Máquina de es-
crever em Braille Perkins Next Generation.

Linha Braille: utilizada para a leitura


em Braille, é um dispositivo ligado ao
computador, que transmite informa-
ções deste em Braille a partir de um painel. É comum esse tipo
de equipamento ser usado em conjunto com softwares leitores
de tela. Conheça mais essa tecnologia acessando o vídeo Co-
nheça uma Linha Braille.

Impressora Braille: assim como as


demais impressoras, as que impri-
mem em Braille têm diferentes mo-
delos e preços. Todas elas precisam
estar devidamente instaladas em um computador. Cada fabri-
cante fornece orientações quanto ao tamanho e espessura do
papel, assim como ao software utilizado para diagramação e
impressão dos arquivos. Esses softwares podem ser manuse-
ados pela pessoa com deficiência visual por meio de leitores

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de tela, o que proporciona certa autonomia. Por causa do alto


custo, poucas pessoas adquirem essas impressoras para uso
doméstico. Há vários vídeos, de diferentes fabricantes, sobre
esse equipamento como, por exemplo, o vídeo Impressora Ba-
sic Braille.

ROTINA DA CRIANÇA CEGA NA ESCOLA:


A MOBILIDADE NO ESPAÇO, A
SOCIALIZAÇÃO E O USO DE BENGALAS
A inclusão de estudantes cegos nas escolas regulares de ensi-
no tem gerado histórias de êxito, mas também impõe compro-
metimento de todos os profissionais envolvidos no processo
de ensino e aprendizagem desses estudantes.

Essa inclusão demanda, por exemplo, o acolhimento do estu-


dante na chegada à escola (apresentando-lhe o espaço físico, a
localização das salas, dos banheiros, das escadarias, do refei-
tório e demais ambientes), o planejamento de aulas inclusivas
(com audiodescrição de imagens, uso de materiais em Braille,
inserção do estudante em grupos de trabalho e em atividades
físicas) e o tratamento respeitoso e igualitário sem negar o que
é de direito do estudante (por exemplo, tempo estendido para
avaliações).

Pode demorar um tempo para que o estudante se sinta seguro


para se locomover com segurança no ambiente escolar, por isso
é fundamental o treinamento de orientação e mobilidade com
e sem guia vidente, com e sem o uso de bengala. Você poderá
conhecer as técnicas de orientação e mobilidade acessando o

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vídeo Caminhando juntos – orientação e mobilidade.

Cabe lembrar que o estudante cego sem acesso ao Braille e a


outras tecnologias assistivas próprias para a sua inclusão tende
a se submeter a práticas obsoletas de ensino por memorização
e repetição, o que infringe o seu direito de acesso igualitário à
educação. Por isso professores, monitores e estagiários devem
dar suporte a esses estudantes, todavia, sempre estimulando a
sua autonomia para uma vida independente.

Agora, você conhecerá um pouco mais o sistema Braille e


as letras, sinais de pontuação e numerais. Para isso, acesse
o site http://www.braillevirtual.fe.usp.br/ e navegue pelo
curso virtual de Braille. Ao término do curso do Braille vir-
tual, também estão disponíveis em animação jogos de for-
ca e memória, que ajudarão você a fixar esse conteúdo de
maneira lúdica e prazerosa.

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REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Maria da Glória. Alfabetização: uma reflexão necessária. Revista
Benjamin Constant, n. 6, 1997. Disponível em: http://revista.ibc.gov.br/index.
php/BC/article/view/653. Acesso em: 12 ago. 2020.

LARAMARA. Caminhando juntos – orientação e mobilidade. Disponível em:


https://www.youtube.com/watch?v=fXHc7MNfw2A&t=92s Acesso em: 4 jul.
2020.

TECNOVISÃO. Conheça uma linha Braille. Disponível em: https://www.youtu-


be.com/watch?v=Y2g7izad9bo Acesso em: 9 jun. 2020.

SILVA, Cida. Ensinando o Braille. Disponível em: https://www.youtube.com/


watch?v=2uLxVBK78rk Acesso em: 16 out. 2020.

TECASSISTIVA. Impressora Basic Braille. Disponível em: https://www.youtu-


be.com/watch?v=tj_HCtg1lxQ Acesso em: 11 set. 2020.

UNESP. Lógica de formação das letras em Braille. Disponível em: https://


www.youtube.com/watch?v=rWMZApCxaao. Acesso em: 12 ago. 2020.

LOJA CIVIAM. Máquina de Escrever Braille Perkins Next Generation. Disponí-


vel em: https://www.youtube.com/watch?v=DYPzl7OwRfM

MARUCH, M. A. S.; STEINLE, M. C. B. Alfabetização e letramento do educan-


do cego ou de baixa visão: uma reflexão necessária. 2009. Disponível em:
<http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/2348-6.
pdf>. Acesso em: 2 jul. 2020.

TESTANDO TECNOLOGIA ASSISTIVA. Reglete positiva. Disponível em: https://


www.youtube.com/watch?v=gz_o8JihuDw Acesso em: 12 jun. 2020.

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