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DEBORA MARQUES SILVA

CARTOGRAFIA DE FÓRUNS GENERALISTAS DA INTERNET: MAPEANDO


TROCAS E PROCESSOS DE APRENDIZAGENS
RESUMO

Este projeto apresenta componentes teórico-metodológicos de pesquisa em desenvolvimento


que se propõem a investigar fóruns generalistas da internet que são espaços do ciberespaço
que agrupam pessoas, a partir de temas variados. Tal temática propiciou o aparecimento de
questões sobre a constituição das motivações dos participantes nos fóruns generalistas da
internet pesquisados, em estudo piloto, se desdobrando em outras questões sobre: que tipos de
trocas ocorrem entre os interagentes nos fóruns? E que tipo de aprendizagens ocorrem nestes
espaços? Tal temática e pesquisa são importantes para educação, no sentido de melhor
compreender as aprendizagens em contexto de cibercultura. Objetivando investigar como se
constituem as motivações dos participantes e as aprendizagens desenvolvidas nos fóruns
generalistas da internet e especificamente: observar e analisar os tipos de trocas entre os
participantes; identificar as motivações dos participantes de participarem, interagirem e
colaborarem nos fóruns; analisar os discursos produzidos nas trocas neste espaço. Nesta etapa
apresento alguns resultados do projeto piloto que possibilitou testar categorias de análise e
obter alguns resultados preliminares que, atrelados a estudos empíricos, gerou um maior
aprofundamento da temática num nível teórico sobre as aprendizagens e metodológico
relacionado à como construir a pesquisa da tese. No piloto foram identificados e observados
dois fóruns o UOL (Vale Tudo UOL, tópico “Mostre sua refeição diária”) e site HardMOB
(Áudio, Vídeo & TV, tópico “Clube da Pioneer MRX – 3”). A metodologia do componente
empírico da tese se baseou nos princípios da etnografia do ciberespaço (RIFFIOTIS, 2010;
2016) e na prática da Teoria Fundamentada (CHARMAZ, 2009) que abrange a realização da
observação de campo e coleta de materiais, a fim de documentar as trocas a partir da
observação geral do fórum, especificamente duas das maiores threads (blocos com o maior
número de trocas de mensagens) de cada um dos dois fóruns observados, a partir da
ocorrência de participação, interação, colaboração e engajamento. Com base nos dados
coletados e analisados, emergiu do campo a categoria interação que foi ampliada nas
seguintes subcategorias de análise: Interação Discursiva/Questionadora (ID); Interação
Reativa (IR); Interação Dialógica (IDIA); Interação Argumentativa (IA) e Interação
Impositiva/Imperativa (II) e por fim, Interação multimodal (IM). Estas categorias
identificadas nos fóruns analisados são apresentadas e detalhadas a fim de indicar a natureza e
a complexidade das práticas ciberculturais constituídas nesses espaços interativos da internet.
Para o desenvolvimento da tese será realizado novo estudo empírico, desta vez abrangendo o
fórum Outer Space no tópico “MUSCULAÇÃO (perda e ganho de peso) Agora com
ÍNDICE” e Reddit na “Comunidade Brasil” com grupo temático a ser escolhido
posteriormente, tendo por critério de escolha a diversidade temática, elemento característico
de fóruns generalistas, tipo de estrutura das mensagens, forma como os participantes são
representados nos fóruns (anonimamente ou não); funcionalidade (se é de fácil uso pelos
participantes) e liberdade do discurso. Além da utilização das categorias desenvolvidas no
piloto, novos aportes teóricos e metodológicos serão realizados, dentre eles estudos
metodológicos sobre analise do discurso (BAKHTIN, 1997; GILES, 2015, 2019; HICKS,
1995; PARKER, 2014; POTTER, J & WETHERELL, M, 1987) e estudos teóricos sobre
capital social (BOURDIEU, 1986).

Palavras-chave: Fóruns virtuais; Cibercultura; Etnografia; Aprendizagens no ciberespaço.


LISTA DE TABELAS

Tabela 01 Os espaços da pesquisa do Projeto Piloto. 51


Tabela 02 Quantitativo de mensagens das Subcategorias Interação 53
Tabela03 Os espaços e participantes da Pesquisa de Tese. 84

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – O que é comunidade virtual? 31


Quadro 2 – Elementos de contraste dos Fóruns UOL e hardMOB 50
Quadro 3 Categoria e Subcategoria Interação 52
Quadro 4 – Etapas da pesquisa 86
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Tipos de estruturas do discurso em ambientes on-line 38


Figura 2 – Fórum UOL 40
Figura 3 Tópico “Mostre sua Refeição diária” 40
Figura 4 – Primeira postagem no Tópico 41
Figura 5 – Primeira foto postada no tópico 43
Figura 6 Indagação do participante Sega&AMD 44
Figura 7 – Resposta do participante “Aquele Mesmo” a pergunta de 44
Sega&AMD.
Figura 8 – Dialogo do participante “Sega&AMD” com o “Aquele Mesmo” 45
Figura 9 – Dialogo do participante “Sega&AMD” com o “Aquele Mesmo” 45
Figura10 – Visão geral do fórum HardMOB 46
Figura11 – Representação dos Membros no tópico 48
Figura12 – Primeira postagem no tópico “Clube da Pioneer MX-3” no fórum 48
hardMOB
Figura13 – Tela com visualização das mensagens no tópico 49
Figura14 – Componentes de uma teoria social da aprendizagem em comunidades 65
de prática
Figura15 – Níveis do processo de aprendizagem Hacker 67
SUMÁRIO
1. TECENDO NÓS: INTRODUÇÃO 13
2. NÓS CONCEITUAIS 18
2.1 O Ciberespaço 18
2.2 A Cibercultura 22
2.3 Inteligência Coletiva 24
2.4 Comunidades Virtuais 27
2.5 Sociabilidades em Rede 31
2.6 Aprendizagens em Rede 34
2.7 O que são Fóruns da Internet? 36
2.8 Conhecendo os fóruns UOL e hardMOB e Projeto Piloto 39
2.9 Levantamentos Bibliográfico sobre Fóruns generalistas da internet 58
3. TEORIAS DA APRENDIZAGEM 61
3.1 Teoria Sócio-interacionista 61
3.2 Novas Aprendizagens em Rede 63
3.2.1 Aprendizagens em Comunidades Virtuais 63
3.2.2 Aprendizagem Hacker 65
3.2.3 Aprendizagem Ubíqua 67
3.2.4 Conectivismo 70
4. OBJETIVOS 73
4.1 Objetivo Geral 73
4.2 Objetivos Específicos 73
5 METODOLOGIA 74
5.1 Apontamentos Etnográficos 75
5.2 Etnografia em contextos da Cibercultura 77
5.3 Teoria Fundamentada 81
5.4 Análise do Discurso 83
5.5 Os participantes da pesquisa 83
5.6 Etapas e Ações da Pesquisa 84
REFERÊNCIAS 88
13

1 TECENDO NÓS: INTRODUÇÃO

A partir da década de sessenta, a emergência de novas formas de sociabilidade,


oriundos do desenvolvimento tecnológico, irão propiciar relações inusitadas do homem com
as tecnologias de comunicação e informação. Neste sentido, se a modernidade pode ser
caracterizada como uma forma de apropriação técnica do social, a cibercultura será marcada,
não de modo irreversível, por diversas formas de apropriação social-midiática
(microinformática, internet e as atuais práticas sociais, como veremos adiante) da técnica.
As práticas comunicacionais da cibercultura são inúmeras e algumas
verdadeiramente inéditas. Dentre elas podemos elencar a utilização do e-mail que
revolucionou a prática de correspondências pessoais para lazer ou trabalho, os chats com suas
diversas salas onde a conversação se dá sem oralidade ou presença física, os muds, jogos tipo
role playing games onde usuários criam mundos e os compartilham com usuários espalhados
pelo mundo em tempo real, os jogos eletrônicos em redes domésticas, as listas de discussão
livres e temáticas, os weblogs, novo fenômeno de apresentação do eu na vida quotidiana onde
são criados coletivos diários pessoais (LEMOS, 2003).
Vivemos em um mundo permeado por tecnologias e com oportunidades cada vez
maiores de participação no ciberespaço, o espaço virtual, inseridos na cibercultura que é a
cultura contemporânea marcada pelas tecnologias (LEMOS, 2008). As novas tecnologias
propiciam a criação de redes que geram novas e múltiplas interações entre indivíduos, que vão
além dos espaços físicos antes determinados, a exemplo do ambiente escolar e a casa do
indivíduo, promovendo a quebra da diferenciação dos espaços de convívio, alargando-os e
integrando-os.
Meu percurso no ciberespaço remonta o final dos anos 90 com o miRC, um chat
de bate – papo muito popular na época. Naquele momento como integrante do espaço
participava dos chats, conversava e fazia amigos, lembro de otimizar a madrugada pois eram
tempos de internet discada. Tempos em que via o computador como um objeto cultural que
me possibilitava inúmeras coisas, e era também um elemento de partilha com os demais
moradores da casa.
Participar do miRC, tinha a importância dentro e fora dele, dentro dela como
forma de conhecer pessoas, fazer amigos, falar e conhecer coisas novas, o ruim era entrar em
salas de interesse e por vezes não encontrar ninguém, porém quando essas estavam cheias era
garantia de diversão total. Fora dele, no sentido de que ser pertencente ao grupo, me dava
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status por fazer parte daquele grupo. Fiz amigos dentro e fora do miRC, lembro de marcarem
encontros fora do espaço, porém naquela época não podia participar. Naquela época havia
uma intensa necessidade da relação presencial x virtual, como forma de maior interação dos
participantes, no entanto, este estudo me fez perceber que, hoje, as relações nos fóruns
pesquisados, procuram se pautar exclusivamente na virtualidade. Outro ponto é que essa
interação apenas no virtual não é algo contestado ou discutido, nunca se marca encontros, é
algo internalizado com um fato, o que me leva a estuda-las considerando somente a
virtualidade.
No que diz respeito às aprendizagens, percebo que as dúvidas, questões e trocas se
dão somente no espaço virtual do fórum, apenas em um ou outro momento alguns
participantes explicitamente fazem links, remontam pontos, com outros tópicos de fóruns
relacionados a temática discutida. Outro ponto que pesquisa me apresentou, foi que as
respostas as questões discutidas no fórum, não obedecem uma lógica temporal, podendo ser
respondidas imediatamente ou então dias depois, e isso não causa problemas nas relações
entre os participantes.
Assim, os fóruns estudados, possuem características diferentes dos ambientes do
passado, principalmente devido a evolução dos dispositivos tecnológicos, por exemplo nos
anos 2000 a maioria dos celulares apenas ligava e desligava, imagina então enviar e receber
fotos. Outro fator diz respeito aos encontros fora do ambiente que eram comuns no miRC, e
que hoje não são mais.
Após esses saudosos tempos de conversas fluidas em chats, outras questões
relacionadas ao ciberespaço me suscitam reflexões pessoais e principalmente pedagógicas,
agora enquanto profissional da educação. Como professora formadora do Núcleo de
Tecnologia do Estado – NTE em Belém no estado do Pará, ao longo de minha experiência
profissional pude perceber muitas vezes, certa falta de interesse dos participantes nos fóruns
dos Ambientes Virtuais de Aprendizagem - AVA, especificamente no ambiente e-proinfo do
governo federal e no moodle, onde ministrava formação aos professores, por mais esforços
que a equipe tivesse a participação dos professores estava muito condicionada a questão da
nota, percebia pouco engajamento destes nos AVAs. E, ao mesmo tempo ao participar de
fóruns generalistas da internet minha experiência tem mostrado, ao menos inicialmente, uma
rica participação dos integrantes, além de uma constante troca de informações entre os
mesmos.
15

Essa percepção sobre participação e engajamento nos fóruns trabalhados no NTE,


pode estar atrelados a uma concepção de fórum observada nos estudos de Batista e Gobara
(2007), que procurou compreender a concepção de professores sobre os fóruns on-line na
Educação a distancia -EaD, concluindo que estes fóruns embora fossem eficientes e potentes
como instrumentos pedagógicos no aprendizado dos alunos não tinham sua potência
verdadeiramente efetivada pelos professores e alunos em virtude de concepções inadequadas
que em sua maioria os veem como um repositório de atividades e não como um ambiente de
interação e aprendizagem colaborativa. A autora expõe que as concepções de fórum estão
muito atreladas a formações e práticas presenciais e que isso se reverbera nos usos do fórum
pelos professores e alunos.
Sobre essa questão, Santos et all (2016), expõe que é muito comum usarem o
fórum na EaD como uma espécie de questionário, com perguntas colocadas pelo tutor, sem
uma verdadeira interação entre os participantes do fórum “usado numa perspectiva
instrucionista, em que muitas vezes a mediação do tutor objetiva corrigir a conceituação dos
alunos, indicar mais conteúdo ou apresentar novas questões a serem respondidas por todos”
(p. 30). A autora defende a abordagem chamada “educação online”, nesta perspectiva o tutor-
pesquisador na mediação com o fórum procura “promover a interatividade fazendo os alunos
conversarem entre si colaborando para a construção conjunta do conhecimento em questão”
(p.30).
O estudo de Silva et all (2015), mostra que no contexto educacional, nem sempre
a participação possibilita a colaboração. Esta autora ao pesquisar um bate-papo que em tese
seria um meio de conversação todos-para-todos, adequado a práticas pedagógicas
colaborativas, na EaD pode se apresentar num modelo todos-um.
É neste ponto, relacionado aos processos participativos e interativos que se mostra
interessante pesquisar fóruns generalistas na internet, na medida em que minhas observações
em campo de pesquisa tem mostrado que estes fóruns são um campo fértil de participação,
colaboração e quiçá espaço de novas e potenciais aprendizagens em rede (BARROS, 2015;
DILLENBOURG, 199; IRALA, 2005; PENDRY e SALVATORE, 2015; REGIS, 2010;
SINGH 2013). Entender estes processos pode contribuir para se lançar luz sobre os elementos
e questões que influem na construção de conhecimento nestes espaços da internet. Assim, vê-
se a necessidade de maior aprofundamento sobre os mecanismos de interação e colaboração
nos fóruns generalistas da internet, como forma de lançar luz sobre a arquitetura desses
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processos nestes espaços e, talvez, indicar possíveis caminhos para educação em tempos de
cibercultura.
A partir do exposto, esta a tese apresenta as seguintes questões de investigação
que são: 1) como se constituem as motivações dos participantes nos fóruns generalistas da
internet pesquisados? Se desdobrando em outras como: 2) Que tipos de trocas ocorrem entre
os interagentes nos fóruns? 3) E, que aprendizagens ocorrem nestes espaços? Tal temática é
importante para melhor compreender as aprendizagens em rede. Esta pesquisa objetiva
investigar como se constituem as motivações dos participantes e as aprendizagens
desenvolvidas nos fóruns generalistas da internet e especificamente: observar e analisar os
tipos de trocas entre os participantes; identificar as motivações dos participantes de
participarem, interagirem e colaborarem nos fóruns; analisar os discursos produzidos nas
trocas neste espaço.
Para a pesquisa piloto foram escolhidos dois fóruns, a escolha procurou considerar
diferentes estruturas de fóruns generalistas na internet, um com uma estrutura mais livre, com
pouca ou nenhuma norma de conduta, como se a moderação fosse praticamente ausente, e
outro com uma estrutura de fórum mais fechada com normas de conduta estabelecidas e com
a moderação mais presente. Assim, vamos observar os seguintes fóruns da internet que são
UOL Fórum, no Vale Tudo UOL no tópico “Mostre sua refeição diária”, e na página do
HardMOB no fórum Áudio, Vídeo & TV no tópico “Clube da Pioneer MRX – 3”.
Para continuidade da tese será realizado novo estudo empírico, desta vez
abrangendo o fórum Outer Space no tópico “MUSCULAÇÃO (perda e ganho de peso) Agora
com ÍNDICE” e Reddit na “Comunidade Brasil” com grupo temático a ser escolhido
posteriormente, tendo por critério de escolha a diversidade temática, elemento característico
de fóruns generalistas, tipo de estrutura das mensagens, forma como os participantes são
representados nos fóruns (anonimamente ou não); funcionalidade (se é de fácil uso pelos
participantes) e liberdade do discurso. Além da utilização das categorias desenvolvidas no
piloto, novos aportes teóricos e metodológicos serão realizados, dentre eles estudos
metodológicos sobre analise do discurso (BAKHTIN, 1997; GILES, 2015, 2019; HICKS,
1995; PARKER, 2014; POTTER, J & WETHERELL, M, 1987) e estudos teóricos sobre
capital social (BOURDIEU, 1986).
A metodologia considera os princípios da etnografia do ciberespaço (RIFFIOTIS,
2010; 2016), entendendo este não como “um artefato, mas como um conjunto de processos
que permitem interações sociais e possibilitam a emergência de grupos” (RIFIOTIS, 2010,
17

p.22), e também a prática da Teoria Fundamentada (CHARMAZ, 2009) com a realização de


observação de campo e coleta de materiais no tópico “Clube da Pioneer MRX – 3” no fórum
Áudio, Vídeo & TV do site HardMOB e Vale Tudo UOL no tópico “Mostre sua refeição
diária” objetivando coletar dados materiais por meio do registro das participações, da
dinâmica das conversas, das interações, a presença ou não de elementos da cultura digital
como os memes, dos engajamentos e colaborações, entre outros elementos observáveis no
decorrer da pesquisa que darão suporte para melhor compreender as motivações e as
aprendizagens presentes nas trocas entre os participantes na observação geral do fórum. Para
o piloto fez-se escolha de duas threads (blocos com maior número de trocas de mensagens)
em cada um dos fóruns considerando a presença de participação, interação, colaboração e
engajamento.
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2. NÓS CONCEITUAIS

Como forma de delimitar os temas de referência desta tese, a seguir, discorrerei


sobre alguns conceitos importantes para a pesquisa, como: ciberespaço, cibercultura,
comunidade virtual e inteligência coletiva.

2.1 O Ciberespaço

Os fóruns generalistas são espaços da internet, públicos ou privados, com origem


formal ou não formal, podendo ter ou não moderador, que reúnem especialistas ou não,
interessados em participar, discutir ou debater sobre determinados temas e assuntos gerais ou
específicos. Estes fóruns estão inseridos no ciberespaço.
O primeiro a cunhar o termo ciberespaço foi o autor de ficção cientifica Willian
Gibson, em seu livro Neuromancer de 1984, este considerava o ciberespaço como o universo
das redes digitais, como um mundo de interação e aventura, o lugar dos conflitos globais, uma
nova fronteira econômica e cultural. De lá para cá houve uma evolução do conceito que vai
depender de atores, autores, interesses e reflexões de quem discorre.
Lemos 2008, considera que o ciberespaço é “hoje um espaço relacional de
comunhão, colocando em contato, através do uso de técnicas de comutação eletrônica,
pessoas no mundo todo...” e, acrescenta que “mais que um fenômeno técnico, o ciberespaço é
um fenômeno social” (p.138).
Para Levy (1999), o ciberespaço seria:

o espaço   de   comunicação   aberto   pela   interconexão   mundial   dos


computadores   e   das   memórias   dos   computadores...Insisto na codificação
digital, pois ela condiciona o caráter plástico, fluido, calculável com precisão e
tratável em tempo real, hipertextual, interativo e, resumindo, virtual da informação
que é, parece-me, a marca distintiva do ciberespaço (p.92;93).

Outro pesquisador da área, Rheingold (2000), expõe que ciberespaço seria o


“nome por vezes usado para designar o espaço conceptual onde se manifestam palavras,
relações humanas, dados, riqueza e poder dos utilizadores da tecnologia de CMC. ” (p.16). E,
para melhor entendimento sobre este conceito o autor faz a seguinte analogia.

pense-se no ciberespaço como uma caixa de Petri social, sendo a Rede o meio de
àgar-àgar e as comunidades virtuais, em toda a sua diversidade, as colônias de
microorganismos que normalmente se desenvolvem nas caixas de Petri. Cada uma
19

das pequenas colônias de microorganismos - as comunidades da Rede - é uma


experiência social não planejada que está a decorrer. (p.16).

Tanto Levy, quanto Rheingold conceituam ciberespaço como local de grande


circulação e fluidez de informação, dados e comunicação que neste espaço está em constante
transformação. Estes autores coadunam com Lemos (2008), no sentido de que mais que
técnico o ciberespaço é um espaço social.
Numa perspectiva epistemológica, o “ciberespaço representa o mais recente
desenvolvimento da evolução da linguagem” (p.11). Este permite a circulação de informações
na forma de sons, imagens, textos e outros que são:

traduzidas sob forma de bits, imateriais, abstratas, lidas por uma meta-máquina (o
computador, o ciberespaço). Atualiza-se, com o ciberespaço, o grande sonho
enciclopédico de, em um único media, armazenar todo o conhecimento da
humanidade, disponível a todos” (LEMOS, 2008, p. 71).

As modificações oriundas das tecnologias, transformou nossa sociedade. Assim,


termos como “sociedade da informação”, “sociedade do conhecimento”, “sociedade liquida”,
“sociedade em rede”, “pós-modernidade”, almejam compreender o nosso tempo, numa clara
tentativa de tentar nomear e delimitar a complexidade e as implicações da relação tecno-
humana, em vários ramos, na atualidade. Os modelos sociotecnicos da atualidade tem
implicações no ciberespaço.
A constituição da sociedade em rede se dá pelo conjunto de seres humanos com
interesses afins, interligados por ferramentas e pontos que facilitam a comunicação e a troca
de experiências entre si. Castells (2008), coloca que avanço tecnológico originou um aumento
exponencial do efeito de rede, modelando a sociedade atual, na qual se insere a sociedade da
informação e do conhecimento.
A Sociedade da Informação se caracterizaria por uma transformação da sociedade
iniciada no final do século XVIII. Castells (2008), considera que houveram pelo menos duas
revoluções industriais a primeira iniciada pouco antes dos últimos trinta anos do século
XVIII, caracterizada por máquinas a vapor e a substituição das ferramentas manuais pelas
máquinas, já a segunda aproximadamente cem anos depois destacou-se pelo desenvolvimento
da eletricidade, do motor de combustão interna e pelo início das tecnologias de comunicação,
para o autor estas duas revoluções difundiram-se por todo o sistema econômico e penetraram
em todo o sistema social. Ressaltando que “Entre as duas há continuidades fundamentais,
assim como algumas diferenças cruciais” (CASTELLS, 2008, p.71).
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Adan Schaff (2001), expõe que a primeira revolução técnica científica pode ser
situada ente o final do século XVIII e o início do século XIX tendo como característica a
substituição, na produção, da força do homem pela máquina. A segunda, na qual estamos
assistindo agora, se caracteriza pela ampliação das capacidades intelectuais dos homens sendo
possível até a sua substituição na produção e nos serviços. E a terceira que é a revolução da
microeletrônica, da cibernética, da microbiologia, da engenharia genética, da energia nuclear,
da informática, dos chips. O autor nos coloca que “a primeira revolução conduziu a diversas
facilidades e a um incremento no rendimento do trabalho humano, a segunda por suas
consequências, aspira à eliminação total deste” (SCHAFF, 2001, p.22)
Schaff (2001) nos faz refletir que os elementos dessa terceira revolução
técnico- científica (microeletrônica, microbiologia e energia nuclear) permitem abrir “amplos
caminhos do nosso conhecimento a respeito do mundo e também do desenvolvimento da
humanidade. Como vimos, as possibilidades de desenvolvimento são enormes, como também
são enormes os perigos inerentes a elas, especialmente na esfera social” (p.25).
Para Castells (2008), estas revoluções tecnológicas vão gerar uma nova estrutura
social onde as dinâmicas das redes, sua lógica e forma irão compor o tecido social. Neste
sentido, o autor considera que:

Redes constituem a nova morfologia social de nossas sociedades, e a difusão da


lógica de redes modifica de forma substancial a operação e os resultados dos
processos produtivos e de experiência, poder e cultura. Embora a forma de
organização social em redes tenha existido em outros tempos e espaços, o novo
paradigma de tecnologia da informação fornece a base material para sua expansão
penetrante em toda a estrutura social. ” (P. 497)

A revolução tecnológica concentrada nas Tecnologias de Informação e


Comunicação – TICs, remodela a sociedade em um ritmo acelerado, essa revolução esta
originando uma nova estrutura social (CASTTELS, 2008). O autor considera que este novo
paradigma possui as seguintes características estruturais: primeiro a informação como
matéria-prima: são tecnologias para agir sobre a informação, as tecnologias se desenvolvem
para permitir ao homem atuar sobre a informação propriamente dita; segundo, a
penetrabilidade dos efeitos das novas tecnologias, a informação é parte integrante de toda
atividade humana, desta forma todos os processos de nossa existência individual e coletiva
tendem a ser afetadas diretamente pelas novas tecnologias; terceiro, o predomínio da lógica
de redes em qualquer sistema ou conjunto de relações, esta lógica, característica de todo tipo
de relação complexa e necessária para estruturar o não-estruturado, preservando, porém, a
21

flexibilidade e graças às novas tecnologias pode ser implementada em qualquer tipo de


processo; quarto, a flexibilidade, não apenas os processos são irreversíveis, mas as
organizações e instituições podem ser modificadas, a tecnologia favorece processos
reversíveis e tem alta capacidade de reconfiguração e por fim, a crescente convergência de
tecnologias especificas para um sistema altamente integrado, principalmente a
microeletrônica, telecomunicações, optoeletrônica, computadores, mas também e
crescentemente, a biologia. Neste novo paradigma as diversas áreas do saber tornam-se
interligadas pelo desenvolvimento tecnológico. (p. 108 a 109).
O ciberespaço pode ser entendido como resultado das mudanças sociotecnicas,
onde os fluxos possibilitariam o desenvolvimento de novas relações sociais. Importante
salientar que a era da informação em larga escala surgiu com o advento da internet a partir de
1960, ou mais especificamente em 1969 através da ARPANET da Agencia de Defesa dos
Estados Unidos da America Castells (2008), intensificando as transformações sociais nos
mais diversos campos da atividade humana.
A ARPANET, teve seus quatro primeiros nós na Universidade da Califórnia em
Los Angeles, no Stanford Research Institute, na Universidade da Califórnia em Santa Barbara
e na Universidade de Utah. Esta Rede estava aberta aos centros de pesquisa que colaboravam
com o departamento de Defesa dos EUA. A certa altura, tornou-se difícil separar pesquisas
voltada para fins militares das comunicações científicas das conversas pessoais. Em 1979, três
alunos da Duke University e da Universidade da Carolina do Norte, não inclusas a
ARPANET, criaram:
“uma versão modificada do protocolo UNIX que possibilitava a interligação de
computadores via linha telefônica comum. Usaram-na para criar um fórum on-line
de conversas sobre informática, a Usenet, que logo se tornou um dos primeiros
sistemas de conversas eletrônicas em larga escala. Os inventores da Usenet News
também divulgavam gratuitamente seu software num folheto educativo nos
congressos de usuários de UNIX” (CASTELLS, 2003, p. 87).

Castells (2002), expõe que todos os protocolos nos quais é baseada a Internet,
desde o seu início até agora, estão em código livre Todos estão na Net, podendo ser baixado e
usado por quem quiser. Ressalta-se que a internet é a combinação de quatro culturas
diferentes e que se apoiam mutuamente, uma responsável pela outra. Assim, temos na
cibercultura “a cultura universitária de investigação; a cultura hacker com a sua paixão por
criar; a cultura contracultural por inventar novas formas sociais e a cultura empresarial de
fazer dinheiro através da inovação”. (CASTELLS,2002, p.10).
22

Na atualidade o ciberespaço é dominado por diferentes dispositivos e culturas


digitais como a cultura hacker, cultura universitária, cultura de inovação e além da
contracultura. Existem vários elementos presentes no ciberespaço, como as comunidades
virtuais que possuem fins partilhados por um determinado grupo de pessoas, com o
desenvolvimento de vínculos sociais e de pertencimento, com a interatividade mediada pelas
tecnologias. E, os fóruns generalistas da internet, objeto de estudo desta tese, neste ambiente a
relação da conectividade, interatividade e questões culturais provocam modificações nas
relações de espaço e tempo.

2.2 Cibercultura

As tecnologias são artefatos humanos que transformam a realidade e ao mesmo


tempo transformam o homem, neste sentido as novas tecnologias causaram impactos
profundos na humanidade com repercussões em diferentes aspectos da vida sociocultural dos
indivíduos. Neste sentido, Lemos (2008), coloca que a “técnica é o fazer transformador
humano que prepara a natureza à formação da espécie e da cultura” (p.37). No entanto, as
repercussões e implicações das novas tecnologias na atualidade não se deve apenas ao
técnico, mas sim de uma relação desta com a sociedade originando a cibercultura que para
Lemos (2008) seria a cultura contemporânea fortemente marcada pelas tecnologias e completa
“A cultura contemporânea, associada às tecnologias digitais (ciberespaço, simulação, tempo
real, processos de virtualização, etc.), vai criar uma nova relação entre a técnica e a vida
social que chamaremos de Cibercultura” (p. 15).
Ao longo do tempo, o desenvolvimento tecnológico sempre esteve imerso no
imaginário social. Lemos (2003), destaca que a história do desenvolvimento tecnológico pode
ser pensada considerando três fases, a primeira seria a da indiferença (até a idade média), a
segunda seria a do conforto (modernidade) e a terceira seria a da ubiquidade (pós-
modernidade), onde:

A primeira fase é caracterizada pela mistura entre arte, religião, ciência e mito.
Avida social é um todo coerente que gira em torno de um universo sagrado. A
técnica e a ciência não têm um estatuto privilegiado porque estão imersas na
dimensão global. Nesta fase, o olhar em relação à técnica está próximo da
indiferença” (p.52).

Na segunda fase,
23

A fase do conforto é localizada no princípio de modernidade. A natureza é


dessacralizada, controlada, explorada e transformada. A mente está separada do
corpo. A razão orna-se independente e é, daqui em diante, a norma que dirige o
progresso das condições materiais de existência. A ciência substitui a religião no
monopólio da verdade, e a tecnologia faz do homem um deus na administração
racional do mundo” (p.52).

E, a terceira fase é a da ubiquidade,

a fase da simulação, a fase da cibercultura. As ideologias da modernidade perdem


forças e são substituídas pela ênfase no presente, numa sociedade cada vez mais
refratária às falas futuristas, cada vez mais submergida em jogos de linguagem.
Estamos no vácuo espaço-temporal que alguns chamam de fim da História” (p.52).

Colocando que a cibercultura seria o fruto da relação da tecnologia versus


modernidade, que tem por característica a dominação da natureza e do outro por meio do
projeto racionalista-iluminista (LEMOS, 2003). A partir da década de sessenta, o surgimento
de novas formas de sociabilidades vai dar outros rumos ao desenvolvimento tecnológico com
o aparecimento de variadas formas de relações do homem com a tecnologia.
Assim, se a modernidade se caracterizou pela apropriação técnica do social a
cibercultura vai se caracterizar pela apropriação social-midiática da técnica (LEMOS,2003).
Autores como Rudiger (2003), questionam tal afirmativa no sentido de consideram que “o
tecno e os videogames seriam, entre tantos outros sinais, provas de que reingressamos no
tempo do mito, opera-se agora um reencantamento do mundo” (p.88).
Na perspectiva de Levy (1999), a cibercultura seria o principal canal de
comunicação e suporte de memória da humanidade. Esta seria compreendida como um
conjunto de técnicas, atitudes, práticas e modos de pensamento que se desenvolvem com o
crescimento da internet que surge com a interconexão mundial de computadores. Desta forma,
temos um novo espaço de comunicação, de acesso, de sociabilidade, de organização e
transporte de informação e conhecimento.
A cibercultura possui leis que servem de apoio para compreender a sociedade
contemporânea. A primeira seria a lei da Reconfiguração, esta coloca que devemos evitar a
lógica da substituição ou do aniquilamento. Assim, na cibercultura deve-se reconfigurar
práticas ou modalidades comunicacionais sem a necessidade de substituição dos seus
antecedentes. A segunda lei seria a Liberação do polo da emissão, na cibercultura temos a
emergência de vozes antes reprimidas pelo mass media, presenciamos a liberação do polo de
emissão nas novas formas de relações sociais, nas opiniões, discussões e movimentações
presentes no ciberespaço. A terceira lei é a lei da Conectividade generalizada, originaria da
24

transformação do computador pessoal em computador conectado e deste em computador


móvel. Esta conexão generalizada possibilitou as trocas diretas entre homem – homem,
homem – máquina e também máquinas – maquinas que passam a trocar informações de forma
independente e autônoma (LEMOS, 2003).
Rüdiger (2003), expõe que a cibercultura poderia seria entendida, historicamente,
pela convergência do pensamento cibernético e da informação da comunicação, com os
esquemas de cultura popular. E, como tal, qualquer tentativa de tentar explicar as implicações
desta convergência, em nosso tempo, deve considerar as relações de poder que influenciam o
desenvolvimento tecnológico.
Como podemos observar Levy (1999) e Lemos (2003;2008), possuem uma visão
otimista da cibercultura e das consequências das novas formas de conexão no ciberespaço, já
Rüdiger (2002; 2003) nos coloca o necessário bom senso indicando que as pessoas não
precisam ser contra ou a favor das novas tecnologias e sim reflexivas em relação a elas.

2.3 Inteligência Coletiva

As novas tecnologias digitais geram novas e surpreendentes formas de


relacionamento social. Assim, a cultura mediada por elas, a cibercultura, possui novas
maneiras de se relacionar com o outro e com o mundo. Não se trata de aniquilamento de
formas estabelecidas de relação social (face a face, telefone, correio, espaço público físico),
mas do surgimento de novas relações mediadas (LEMOS, 2008).
Castells (2008) considera que a internet gera modificações nas relações e
interações sociais, originando novas formas de sociabilidades. E essas novas relações
inseridas no ciberespaço, é resultado da ação dos sujeitos. Estes desenvolvem o que Castells
(2008), chama de “cultura da internet” que tem fundamento basilar na realidade social e é
constituída pelas interações estabelecidas nos espaços da rede, promovendo novas
sociabilidades.
Estas interconexões em rede vão gerar “uma inteligência distribuída por toda
parte, incessantemente valorizada, coordenada em tempo real, que resulta em mobilização
efetiva das competências” (LÉVY, 2007, p. 28). A inteligência coletiva procura o
reconhecimento e o enriquecimento mútuo das pessoas, caracterizando-se por uma nova
forma de pensamento sustentável através de conexões sociais que se tornam possíveis pela
25

utilização das redes abertas na internet. Para Levy (2007), o ciberespaço seria o atual espaço
antropológico, por ele considerado:

Espaço do saber” o novo horizonte de nossa civilização? A novidade, nesse

domínio, é pelo menos tripla: deve-se à velocidade de evolução dos saberes, à

massa de pessoas convocadas a aprender c produzir novos conhecimentos e, enfim,

ao surgimento de novas ferramentas (as do ciberespaço) que podem fazer surgir,

por trás do nevoeiro informacional, paisagens inéditas e distintas, identidades

singulares, específicas desse espaço, novas figuras sócio-históricas. (p.24)

Para Lévy (2007), a inteligência coletiva se distribui entre todos os indivíduos,


não estando restrita a poucos privilegiados, considera que ela está em toda a parte e precisa
ser constantemente valorizada. O saber estaria na humanidade e todos os indivíduos podem
potencialmente oferecer conhecimento. Por essa razão, o autor afirma que a inteligência
coletiva deve ser valorizada. Expondo que é importante procurar encontrar o contexto em que,
o saber do indivíduo pode ser considerado valioso e importante para o desenvolvimento de
um determinado grupo.
Esta inteligência coletiva não precisa ser criada, ela já existe e está em todo lugar.
Há nos seres vivos cooperação para solucionar problemas em conjunto, pois pensamos.

é claro, com ideias, línguas, tecnologias cognitivas recebidas de uma comunidade.


Mas a inteligência culturalmente constituída não é mais fixa ou programada como a
do cupinzeiro ou a da colmeia. Por meio de transmissão, invenção e esquecimento, o
patrimônio comum passa pela responsabilidade de cada um. A inteligência do todo
não resulta mais mecanicamente de atos cegos e automáticos, pois é o pensamento
das pessoas que pereniza, inventa e põe em movimento o pensamento da sociedade
(LÉVY, 2007, p.31)

Lévy coloca que o manuseio técnico é importante na cibercultura, porém mais que
isso é necessário reinventar o laço social em torno do aprendizado recíproco, da cooperação
das competências, da imaginação e da inteligência coletiva, ressaltando que:
26

Como deve ter ficado claro, a inteligência coletiva não é um conceito


exclusivamente cognitivo. Inteligência deve ser compreendida aqui como na
expressão “trabalhar cm comum acordo”, ou no sentido de “entendimento com o
inimigo”. Trata-se de uma abordagem de caráter bem geral da vida cm sociedade e

de seu possível futuro. A inteligência coletiva examinada neste livro é um projeto

global cujas dimensões éticas e estéticas são tão importantes quanto os aspectos
tecnológicos ou organizacionais. (p.26).

Interessante considerar que “as duas características distintivas do mundo virtual,


em sentido mais amplo, são a imersão e a navegação por proximidade...Cada ato do indivíduo
ou do grupo modifica o mundo virtual” (LÉVY, 1999, p. 72). Do exposto, pode-se considerar
que cada usuário da internet se sente e percebe como um ser concreto num mundo virtual. As
ações de cada indivíduo modificam sua impressão sobre si mesmo e sobre os outros afetando
efetivamente suas relações em um nível não apenas social, mas também emocional.
Como exposto no tópico anterior, importantes pesquisadores da cibercultura como
Pierre Lévy e André Lemos, são profundamente otimistas quanto ao potencial da imersão, e
das novas formas de interação no ciberespaço, eles consideram que princípios do ciberespaço
como produzir, distribuir e compartilhar são importantes para tornar a humanidade consciente
politicamente, por exemplo, e também mais inteligente.
Existem vários exemplos na atualidade mostrando que a informação em rede pode
ser um vetor de transformação social e do empoderamento de populações, minha dissertação
de mestrado (PEREIRA, 2012), apontou no sentido do potencial das tecnologias digitais para
o benefício de uma determinada comunidade no interior do estado do Pará, no entanto, o caso
da Cambridge Analytica, onde “O Facebook afirma que a empresa britânica teria arquivado,
por anos, dados dos usuários, e de ter mentido ao informar que os havia destruído”. (ROSSI,
2018, on-line), é um exemplo de manipulação dos usuários da rede. De acordo com a
reportagem do site El Pais, acredita-se que esses dados foram usados para influenciar
eleitores, na campanha eleitoral de Donald Trump no Estados Unidos. Esse é apenas um
exemplo de manipulação de dados da rede, que nos mostra o quanto devemos ser, nem
otimistas nem pessimistas, porém sempre prudentes em relação a imersão e as conexões no
ciberespaço.
A partir do final da primeira década do século XXI, as ideias de Lévy ganharam
forma devido principalmente a expansão da Web 2.0, que trouxe aplicações práticas sobre a
inteligência coletiva que anteriormente ficavam na perspectiva teórica. Além é claro de
27

retificar que a inteligência coletiva é mais que o cognitivo, sendo principalmente uma
proposta global com dimensões éticas e estéticas.
Um exemplo de inteligência coletiva seriam as comunidades virtuais. Rheingold
(2000) considera que as comunidades virtuais são junções sociais que emergem da rede
quando existe certo número de pessoas, apresentando discussões longas e com emoções
humanas, formando interconexões de relações pessoais que de algum modo modifica os
participantes desta. Costa (2005) expõe que atualmente Pierre Lévy tem defendido a
participação em comunidades virtuais como estímulo à formação de inteligências coletivas.
O estudo mais aprofundado dos fóruns generalistas podem clarificar se estes
seriam espaços de inteligência coletiva, os resultados da pesquisa poderão nos dar luz sobre
essa questão. Considerando para tanto, que os fóruns generalistas são constituídos por atores
sociais, entendidos como “espaços de interação, lugares de fala, construídos pelos atores de
forma a expressar elementos de sua personalidade ou individualidade. ” (RECUERO, 2009,
p.26).

2.4 Comunidades Virtuais

Um dos primeiros a cunhar o termo comunidade virtual foi Howard Rheingold no


seu livro The Virtual Community (1993), sendo o primeiro a discorrer sobre o que as pessoas
faziam dentro das comunidades, a exemplo da The WELL que foi por ele analisada. O autor
coloca que nas comunidades virtuais os participantes fazem tudo o que as pessoas fazem na
vida real, mas estão desprendidas dos seus corpos. Expondo que não se pode beijar, nem
esmurrar o nariz de ninguém, embora muita coisa possa acontecer dentro desses espaços.
Milhões de pessoas sentem-se atraídas, mesmo viciadas, pelas comunidades unidas por
computador. O autor considera que “as comunidades virtuais são os agregados sociais
surgidos na Rede, quando os intervenientes de um debate o levam em número e sentimento
suficientes para formarem teias de relações pessoais no ciberespaço (RHEINGOLD, 2000,
p.20).
Para Lévy (1999) ciberespaço se apresenta como um novo meio de comunicação
em que todos podem contribuir para o seu crescimento e desenvolvimento através da
produção e divulgação de informação e saber. E, as comunidades virtuais seriam definidas
como pontos de interconexão onde a participação aumentaria a formação da inteligência de
28

quem as usa, estas seriam meios de troca de conhecimentos e informação. Assim, as


comunidades virtuais possibilitariam uma rede de pessoas interessadas pelos mesmos temas.
Coadunando com as ideias acima, Costa (2005) entende que “as comunidades
virtuais como estimulo à inteligência coletiva, que nos ajuda a lidar com excesso de
informação e pode nos abrir a visões alternativas de uma cultura. (p.56), e a participação em
comunidades vai criando “um mundo próprio de significação, povoado por seres virtuais:
ideias, conceitos, sentidos. O objetivo maior está na sensação de pertencer a um ambiente que
todos constroem e compartilham” (p.64). Expondo também, que participar de uma
comunidade requer tempo, paciência e compreensão de coisas novas e que a pessoa ao
participar de uma comunidade é preciso que “tenha claro para si qual será seu benefício
principal” (p.59).
Lemos (2002), ao fazer uma análise acerca das comunidades virtuais e das
agregações eletrônica presentes no ciberespaço considerou que comunidade virtual pode ter
relação com salas de bate-papo, newsgroups, websites, listas de discussão, pois o ciberespaço
propicia a união de grupos através das afinidades temáticas. Para o autor nem tudo no
ciberespaço pode ser definido como comunidade.

no ciberespaço existem formas de agregação eletrônica de dois tipos: comunitárias e


as não comunitárias. As primeiras são aquelas onde existe, por parte de seus
membros, o sentimento expresso de uma afinidade subjetiva delimitada por um
território simbólico, cujo compartilhamento de emoções e troca de experiências
pessoais são fundamentais para a coesão do grupo. O segundo tipo, refere-se a
agregações eletrônicas onde os participantes não se sentem envolvidos, sendo
apenas um locus de encontro e compartilhamento de informações e experiências de
caráter totalmente efêmero e desterritorializado (LEMOS, 2002, p.05).

No entanto, Lemos (2002), atenta para a necessidade de segmentação destes tipos


dividindo-as em comunitárias – cujo sentimento subjetivo de coparticipação,
compartilhamento de emoções e experiências pessoais seria fator importante para a coesão
dessa agregação, e as não comunitárias – nas quais não há envolvimento dos partícipes, que
usariam o ciberespaço apenas como um lugar desterritorializado para encontro,
compartilhamento de informações e experiências de caráter efêmero.
De acordo com Recuero (2009), comunidade virtual seria “um conjunto de atores
e suas relações que, através da interação social em um determinado espaço constitui laços e
capital social em uma estrutura de cluster, através do tempo, associado a um tipo de
pertencimento (p.146)”.
29

A autora entende que a “comunidade virtual é um elemento do ciberespaço, mas é


existente apenas enquanto as pessoas realizarem trocas e estabelecerem laços sociais”
(RECUERO, 2009, p.10). Recuero em 2001, apresentou três características da comunidade
virtual que são: interação, permanência e pertencimento, a seguir detalho cada um desses dos
elementos:

interação mútua é aquela caracterizada por relações interdependentes e processos de


negociação, em que cada interagente participa da construção inventiva e cooperada
da relação, afetando-se mutuamente; já a interação reativa é limitada por relações
determinísticas de estímulo e resposta (p.07).
A permanência é outra característica da comunidade virtual. Isso porque, sem a
existência em um plano de tempo, as relações entre as pessoas não poderão ser
aprofundadas o suficiente para que constituam uma comunidade (p.08).
um "sentimento de pertença", ou de ter-se algo em comum. Segundo ela, é preciso
que os indivíduos tenham consciência de que são partes de uma comunidade e
sintam-se responsáveis por ela, como "partes de um
mesmo corpo” (grifo nosso, p.08).

Para a pesquisadora, as comunidades necessitam de interação entre os


participantes, sobre isso, Recuero (2009), expõe que “A interação, pois, tem sempre um
caráter social perene e diretamente relacionado ao processo comunicativo” (p.31)
Castells (2008), expõe que em geral se entende comunidade virtual segundo a
conceituação de Rheingold (2000), que as vê como redes eletrônicas de comunicação
interativa auto definidas, organizadas em torno de um interesse ou finalidade compartilhada,
embora algumas vezes a própria comunicação se transforme no objetivo.
O autor coloca que ainda não está claro o grau de sociabilidades que ocorrem
nessas redes e as consequências culturais dessas novas formas de sociabilidades (CASTELLs,
2008). E, apresenta as pesquisas de Barry Wellman e seus colaboradores, para no lembrar que
“as comunidades virtuais” não precisam opor-se às “comunidades físicas”: são formas
diferentes de comunidade, com leis e dinâmicas especificas, que interagem com outras formas
de comunidade. ”(p.444).
Ao construir seu conceito de comunidade Castells (2008), pondera se no “fim das
contas, as comunidades virtuais são comunidades reais? ” E entende que “Sim e não” (p.445),
para o pesquisador as comunidades virtuais são:

comunidades, porém, não são comunidades físicas, e não seguem os mesmos


modelos de comunicação e interação das comunidades físicas. Porém não são
“irreais”, funcionam em outro plano da realidade. São redes sociais interpessoais,
em sua maioria baseada em laços fracos, diversificadíssimas e especializadíssimas,
30

também capazes de gerar reciprocidade e apoio por intermédio da dinâmica da


interação sustentada” (CASTELs, 2008, p.445)

Outro ponto interessante colocado por Castells (2008), a partir dos trabalhos de
Wellman e colaboradores, é a reflexão de que muitas vezes, tende-se a transpor o conceito de
comunidade das ciências sociais para entender as comunidades virtuais. E, notadamente, tem-
se um conceito idílico de comunidade, considerando que está seria “uma cultura muito unida,
espacialmente definida, de apoio e aconchego que provavelmente não existia nas sociedades
rurais, e que decerto desapareceu nos países industrializados” (p.444). E, hoje o que temos:

são “comunidades pessoais”: “a rede social dos indivíduos de laços interpessoais


informais, que vão de meia dúzia de amigos íntimos e centenas de laços mais
fracos...Tanto as comunidades de grupo quanto as comunidades pessoais funcionam
tanto on-line quanto off-line (p.444)

Para Wellman (2011), as comunidades virtuais seriam como um agrupamento de


pessoas em rede, com diversos tipos de laços. O autor expõe o individualismo em rede, para ele, as
pessoas permanecem conectadas, mas como indivíduos, em vez de estar enraizadas em bases
da unidade de trabalho e do agregado familiar. Ele coloca que os indivíduos mudam
rapidamente entre suas redes sociais. Cada pessoa opera separadamente suas redes para obter
informação, colaboração, ordens, apoio, sociabilidade e um sentimento de pertença.
Ele alerta sobre a necessidade de mais estudos sobre os tipos de compromissos e
conexões que as pessoas formam e as maneiras pelas quais essas relações interceptam as
comunicações. Essas investigações precisam ir além da já difícil de responder questão do
aumento ou diminuição do capital social e envolvimento nas comunidades virtuais. Para
Wellman (2011), precisamos entender melhor:

(1) como as pessoas funcionam na sociedade moderna, (2) se algumas formas de


organização social promovem vidas melhores e mais satisfatórias do que outras, e
(3) como podemos intervir para criar tais formas de organização social. As respostas
a essas perguntas dizem respeito ao que nos torna humanos. E, em questão estão
nossas identidades, relacionamentos, compromissos e obrigações, nossas
necessidades pessoais e sociais e também, nosso senso de apoio e pertença
(WELLMAN, 2011. p. 323)

O autor expõe que mesmo antes da existência de comunidades virtuais o conceito


de comunidade ao invés de descrever objetivamente um grupo ou associação, carrega em si
um problema que seria a bagagem emocional que lhe é incutida. Wellman está certo em
31

alertar contra uma visão nostálgica de comunidade que promove a suposição de que a vida
moderna está cada vez mais nos privando de fortes laços interpessoais.
Outro autor a entender que o conceito de comunidade virtual não deve se encaixar
em alguma realidade social conhecida é Wilbur (2005), ele não apresenta um conceito sobre o
tema, mas indica possiblidades para a sua construção, considerando que:

importante não forçar concepções antigas – como na fronteira mítica, por exemplo –
no novo fenômeno das redes multitarefas descentralizadas, maquinas de
compartilhamento de tempo e interfaces homem-máquina..então, talvez as melhores
definições são multifacetadas” (p.08).

Abaixo, apresento um quadro sintetico com os principais conceitos de


comunidade vitual, apresentados no texto, a partir dos autores referenciados:
Quadro 01: O que é comunidade virtual?
Conceito de Comunidade Virtual
Lévy (1999) comunidades virtuais seriam definidas como pontos de interconexão onde a
participação aumentaria a formação da inteligência de quem as usa, estas seriam
meios de troca de conhecimentos e informação. Assim, as comunidades virtuais
possibilitariam uma rede de pessoas interessadas pelos mesmos temas. (1999)
Rheingold (2000) comunidades virtuais são os agregados sociais surgidos na Rede, quando os
intervenientes de um debate o levam por diante em número e sentimento
suficientes para formarem teias de relações pessoais no ciberespaço (Rheingold,
2000, p.20).
Lemos (2002) Nas comunidade virtuais “existe, por parte de seus membros, o sentimento
expresso de uma afinidade subjetiva delimitada por um território simbólico, cujo
compartilhamento de emoções e troca de experiências pessoais são fundamentais
para a coesão do grupo” (Lemos, 2002, p.05).
Costa 2005 Entende as comunidades virtuais como estimulo à inteligência coletiva, que nos
ajuda a lidar com excesso de informação e pode nos abrir a visões alternativas de
uma cultura. (p.56)
Castells (2008) São redes sociais interpessoais, em sua maioria baseada em laços fracos,
diversificadíssimas e especializadíssimas, também capazes de gerar reciprocidade
e apoio por intermédio da dinâmica da interação sustentada” (CASTELs, 2008,
p.445)
Recuero (2009) a comunidade virtual é um conjunto de atores e suas relações que, através da
interação social em um determinado espaço constitui laços e capital social em
uma estrutura de cluster, através do tempo, associado a um tipo de pertencimento.
(p.146)
Wellman (2011) comunidades virtuais como um agrupamento de pessoas em rede, com diversos
tipos de laços. (2011)
Fonte: produzido pela autora

Os conceitos de comunidades virtuais expostos no quadro acima, são importantes


para a pesquisa à medida que os fóruns estudados podem ou não ser comunidades virtuais
com o desenvolvimento de inteligência coletiva. Castells (2008) coloca que “os usuários da
32

internet ingressam em redes ou a grupos online com base em interesses e valores e, já que tem
interesses multidimensionais, também os terão suas afiliações on-line” (p.4).

2.5 Sociabilidades em Rede

A cibercultura originou novas formas de viver em sociedade, novas relações


sociais estão presentes na atualidade, nossa sociabilidade é profundamente marcada pela
mobilidade. Os agentes destas novas sociabilidades como os e-mails, comunidades virtuais,
redes socias e também os fóruns, podem gerar interação em tempo real ou não, estas novas
relações permitem ao indivíduo colocar a roupa que melhor lhe couber em um determinado
momento, construir sua identidade num repertório múltiplo e possibilitar a inserção do
indivíduo em quantos grupos quiser. Estas novas sociabilidades abrem caminhos para
diferentes formas de se relacionar com o outro, administrar o tempo, trabalhar e se divertir.
Para Simmel (2006) a sociedade é oriunda das interações dos indivíduos,
apresentando os conceitos de sociação e sociabilidade para entendê-las. Concebendo a
sociação como forma de entender como os atores sociais se relacionam. Existe diferença entre
a forma e o conteúdo da sociação, onde a forma:

“se realiza de inúmeras maneiras distintas, na qual os indivíduos, em razão de seus


interesses - sensoriais, ideais, momentâneos, duradouros, conscientes, inconscientes,
movidos pela causalidade ou teologicamente determinados - se desenvolvem
conjuntamente em direção a uma unidade no seio da qual esses interesses se
realizam” (Simmel, 2006, p.61).

E o conteúdo (os interesses, impulsos, objetivos e outros) seria:

“tudo o que existe nos indivíduos e nos lugares concretos de toda realidade histórica
como impulso, interesse, finalidade, tendência, condicionamento psíquico e
movimento nos indivíduos — tudo o que esta presente nele de modo a engendrar ou
mediatizar os efeitos sobre os outros, ou a receber esses efeitos dos outros” (Simmel,
2006, p.60).

Assim, a sociação articula formas de interagir em função de seus interesses. A


sociedade, no geral, reflete a interação entre indivíduos, essa interação surge sempre a partir
de impulsos ou da busca de finalidades.
E, partir do conceito de sociação é que vai emergir o conceito de sociabilidade que
para Simmel (2006), seria uma forma pura de ação reciproca. O autor define então a
sociabilidade “como a forma lúdica de sociação, e - mutatis mutandis — algo cuja concretude
33

determinada se comporta da mesma maneira como a obra de arte se relaciona com a


realidade” (p.65).
O autor expõe alguns fatores característicos da sociabilidade que são: o lúdico,
caracterizado pelo bom humor, leveza e entusiasmo neste sentido, o alvo não é nada além do
que o momento sociável, quando muito a lembrança dele (não associar o lúdico com estar fora
da realidade). A matéria prima dessa forma lúdica esta na qualidade das pessoas envolvidas
como amabilidade, atenção, cordialidade e sensibilidade, a ludicidade é uma importante
característica da sociabilidade; a igualdade (simetria) onde “cada individuo deve garantir ao
outro aquele máximo de valores sociáveis (alegria, liberação, vivacidade) compatível com o
máximo de valores recebidos por esse individuo” (p.69). No entanto, a democracia na
sociabilidade, mesmo entre seres ditos socialmente iguais é um jogo de cena onde a
sociabilidade origina um mundo sociologicamente ideal e “nela, a alegria do individuo esta
totalmente ligada à felicidade dos outros. Aqui, ninguém pode em principio encontrar sua
satisfação à custa de sentimentos alheios totalmente opostos aos seus” (p.69), somente a
sociabilidade permite esta forma de interação e somente nela é possível uma democracia sem
atritos entre iguais. Nesta característica o “indivíduo forte e extraordinário não só se nivela
aos mais fracos, mas inclusive age como se o mais fraco fosse superior e mais valoroso” (p.
173); reciprocidade que é uma das principais regras dos jogos sociais que são característicos
da sociabilidade e por fim a conversação como forma pura e lúdica da sociação, Simmel
expõe que na sociação as pessoas conversam sobre algo que querem comunicar, sobre o qual
querem entender, contudo numa conversa sociável conversam por conversar, isso não
significa tagarelice por que numa conversa puramente sociável o assunto é simplesmente o
meio indispensável para a viva troca de palavras revelar seus encantos. Esses fatores vão fazer
parte das regras dos jogos sociais que são característicos da sociabilidade.
Com a Web 2.0 a barreira da simetria é quebrada, transpondo os limites da
sociabilidade de Simmel (2006), neste momento os fatores subjetivos são expostos, surge um
novo padrão de sociabilidade o individualismo em rede (WELLMAN, 2001 e CASTTELLS,
2008), caracterizado pela pagina do usuário, pelas redes sociais com círculos sociais
personalizados onde a similaridade e a diferença atuam mutuamente, quanto mais é exposta a
particularidade do individuo mais vigoroso é o investimento nos laços que o ligam, há um
deslocamento da comunidade para a rede o que implica no surgimento de relações sociais
centradas no individuo com uma intensificação das individualidades envolvidas. Nota-se que
esta individualidade não conduz ao isolamento, leva antes de mais nada a modificações nos
34

padrões de sociabilidade em relação dos contatos que são cada vez mais seletivos e
autodirigidos com a tendência na construção de redes de sociabilidades baseados na escolha e
na afinidade.
Nas relações em rede, temos outros conceitos importantes como Laços fortes e
Laços fracos proposta por Granovetter em 1974 e por ele revisitada em seu artigo The
Strength of Weak Ties: A Network Theory Revisited de 1983, expondo que “Laços Fortes”
são característicos de redes relacionais muito densas a exemplo de amigos íntimos e
familiares e os “Laços Fracos” característico de redes pouco densas, mas com diversos
contatos como é o caso de amigos não íntimos e conhecidos. Em sua revisão o autor expõe a
força dos Laços fracos para a expansão da criatividade “porque laços sociais fracos se
estendem para além dos círculos íntimos” (GRANOVETTER, 1983, p.220)

Kaufman (2012) expõe que Granovetter considera que:

os chamados “Laços Fracos” são fundamentais para a disseminação da inovação, por


serem redes constituídas de indivíduos com experiências e formações diversas. Nas
redes de “Laços Fortes” há uma identidade comum, as dinâmicas geradas nessas
interações não se estendem além dos clusters, por isso mesmo, nas referidas redes
procuramos referências para a tomada de decisão; são relações com alto nível de
credibilidade e influência (KAUFMAN, p.208).

Assim, as pessoas com “Laços Fortes” geralmente fazem parte de um mesmo


círculo social, em contrapartida as pessoas com “Laços Fracos” são importantes “porque nos
conectam com vários outros grupos, rompendo a configuração de “ilhas isoladas” dos clusters
e assumindo a configuração de rede social” (KAUFMAN, p.208). Desta formam os “Laços
Fracos” dinamizam as redes sociais e são nesses tipos de laços que a informação circula
melhor, pois as redes densas produzem um fechamento que não favorece a disseminação da
informação. As novas conexões digitais têm potencializado a construção de redes com laços
fracos, onde pessoas participantes de comunidades virtuais possuem mais de mil amigos sem,
no entanto, interagirem entre eles, como exposto:

Trata-se de um vínculo que não demanda interações para ser mantido, é uma relação
mais fluida e menos conectada, na qual não há intimidade, reciprocidade ou mesmo
confiança. Essas conexões ou “coleções de perfis” guardam semelhança com a
definição de “Laços Fracos” de Granovetter, ao desempenharem o papel de
propagadores de inovações, difundindo referências e experiências, facilitadas pela
tecnologia que amplia o acesso e acelera as interações com um número maior de
35

pontos de contato. Todavia, as decisões importantes dos indivíduos continuam sendo


compartilhadas com suas relações de “Laços Fortes”, com as quais têm
implicitamente firmado contratos de fidúcia. (KAUFMAN, p.210).

Os conceitos de sociabilidade, individualismo em rede e tipos de laços são importantes na


pesquisa dos fóruns, pois podem possibilitar observar a articulação de identidade e associação em
grupos, considerando também os tipos de laços presentes nesses espaços se “fortes ou fracos” ou os
dois ou de outro tipo. E, a relação destes conceitos na constituição das interações dos participes
daquele espaço virtual.

2.6 Aprendizagens em Rede

No ciberespaço temos novas formas de ensinar, aprender e viver, desta forma


estudar a construção de conhecimento nestes espaços é importantes para educação seja ela
formal, não formal e informal, pois a grande maioria dos indivíduos que habitam a escola
habitam o ciberespaço, é importante também no sentido de melhor compreender as
aprendizagens em contexto de cibercultura, considerando que o conceito de aprendizagem
está relacionado ao conceito de interação (DILLENBOURG, 1999).
As interações presentes em rede internet são aqui entendidas como "ação entre"
pares ou grupos (PRIMO, 1999). Neste sentido o olhar se volta para os interagentes, para as
questões entre eles, as ações, as mediações, considerando o contexto e como este influencia
nas trocas, saindo de uma premissa de valorização do emissor ou do receptor.
Sobre a interação, esta inclui as relações que se dão de forma mútua o que não
quer dizer que se devem reduzir as discussões sobre a influência que o computador pode gerar
num ambiente mediado, “mas sim salientar as relações recíprocas que ocorrem entre as
pessoas mediadas pelo computador” (PRIMO, 1999).
Especificamente nos fóruns, os participantes ao entrarem nele, desenvolvem um
“aprendizado de protocolos sociais e emocionais para sociabilização na rede” (RÉGIS, 2010).
E, entram nestes espaços provavelmente para explorar o ambiente e buscar uma informação
desejada. Porém, as trocas que se desenvolvem não necessariamente são do tipo econômico na
perspectiva do “dar e receber”, tipo toma-lá-dá-cá, elas possuem outra lógica de construção
que estamos em busca de compreender.
Sobre as aprendizagens trazemos o conceito de colaboração que se baseia num
esforço contínuo e coordenado de construção conjunta, da discussão partilhada de um
problema com o objetivo de resolvê-lo. Onde as atribuições dos participantes muitas vezes se
36

cruzam e não há uma hierarquia definida, pois estes trabalham em atividades e ações
coordenadas, sempre no esforço de desenvolver e manter uma ideia compartilhada de um
problema (DILLENBOURG, 1999).
Importante diferenciar os conceitos de cooperação e colaboração, o primeiro se
refere apenas à distribuição de atividades ou tarefas entre os participantes de uma ação. Já a
colaboração exige trocas entre os participantes “é uma filosofia de interação e um estilo de
vida pessoal, enquanto que a cooperação é uma estrutura de interação projetada para facilitar a
realização de um objetivo” (PANITZ, 1996, apud. IRALA, 2004, p.4).
As interações entendida como uma ação entre pares possibilitam as relações e os
laços sociais, tendo "sempre um caráter social perene e diretamente relacionado ao processo
comunicativo” (RECUERO, 2009, p. 31). No contexto da cibercultura, estas podem ser
síncronas que ocorrem em tempo real e assíncronas quando a expectativa da reposta não é
imediata. Neste sentido um e-mail ou um fórum teriam:

características mais assíncronas, pois a expectativa de resposta não é imediata.


Espera-se que o agente leve algum tempo para responder ao que foi escrito, não que
ele o faça (embora possa fazer, é claro), de modo imediato. Espera-se que o ator, por
não estar presente no momento temporal da interação, possa respondê-la depois”
(RECUERO 2009, p.32).

A comunicação mediada pelas tecnologias, além de serem síncronas ou


assíncronas, podem também ser estabelecer de forma mutua e/ou reativa, onde a interação
mútua é aquela caracterizada por relações interdependentes e processos de negociação em que
cada interagente participa da construção inventiva e cooperada da relação, afetando-se
mutuamente; já a interação reativa é limitada por relações determinísticas de estímulo e
resposta (PRIMO, 2003, p.62).
Neste tópico, discutirmos sobre as aprendizagens em rede e seus elementos
constituintes a exemplo da interação, cooperação, colaboração além do seu caráter social. No
capitulo 03, iremos discutir melhor sobre as principais teorias de aprendizagens oriundas da
cibercultura como aprendizagem em comunidades virtuais; aprendizagem hacker;
aprendizagem ubíqua e o conectivismo e outras que ajudem a pensar as aprendizagens neste
espaço,

2.7 O que são Fóruns da Internet?


37

Os fóruns podem ser definidos como local de reunião e debate de determinados


grupos, com objetivos mais ou menos definidos (GILLES, 2019). Estes espaços podem se
diferenciar pelos tipos de conteúdo que partilham a forma de se comunicar, os objetivos e as
temáticas tendo como objetivo principal a comunicação entre os participantes com interesses
semelhantes. Na atualidade a palavra fórum está muito ligado a internet, através de grupos
que discutem as mais variadas questões no ciberespaço.
Os fóruns on-line de discussão atuais têm suas origens no final da década de 1970,
oriundo dos antigos murais da internet que eram sistemas interativos onde os participantes
podiam publicar mensagens e “desenvolver discussões on-line sobre tópicos específicos”
(GILLES, 2019, p.224). Numa perspectiva evolutiva on-line temos: murais -> listas de correio
eletrônico-> grupos de discussão -> grandes Fóruns de discussão com tópicos específicos,
este ultimo são os que predominam na atualidade.
Lemos (2008), expõe que os fóruns são constituintes do ciberespaço, possuem
elementos da cibercultura que é cultura contemporânea mediada pelas tecnologias. Este autor
lembra que a rede Usenet uma das mais antigas redes de comunicação por computador do
mundo, com suas origens a partir da ARPANET, criada por estudantes universitários da
Carolina do Norte em 1979-1980 é um enorme fórum de discussão, isso tudo uma década
antes da Web ser desenvolvida e o acesso publico da internet ser amplamente disponibilizado.
Sobre a Usenet, Lemos (2008) coloca que:

“Os grupos temáticos são divididos em hierarquias (alt, comp, rec, etc.) e não há um
controle central, mas uma ética (a netiqueta) estabelecida coletivamente onde os
participantes ajustam seus problemas internos de modo autônomo e coletivo. Os
servidores de news, a alma da rede Usenet, funcionam de forma livre, mas
organizada. Dessa maneira, a natureza anárquica, não comercial e em crescimento
geométrico, mostra que essa forma de agregação social é hoje uma realidade”
(LEMOS, 2008, p.148).

Os fóruns on-line podem estar publicamente visíveis, visíveis a membros, com


contribuições somente a membros. Em geral um fórum possui um número de subfóruns e
vários tópicos específicos. Estes espaços on-line são ricas de dados e informações, sendo
espaços presentes no ciberespaço que agrupam pessoas, a partir de temáticas variadas
(GILLES, 2019).
Dos fóruns estuados e de outros que pesquisei pude perceber que no geral estes
espaços possuem normas de funcionamento de forma a tornar, em tese, o ambiente mais
tranquilo e voltado para a sua temática principal, no entanto, notei que a participação mais
38

presente de moderadores e administradores depende fortemente dos integrantes e estrutura do


fórum. A partir da observação do fórum UOL e hardMOB, sublinhei algumas de suas
características importantes para este estudo, como: as mensagens eram transmitidas para um
infinito número de pessoas; nestes fóruns era permitido fazer a rolagem da página quando
necessário; é possível apenas observar as conversas e não entrar nas discussões; o uso de
artefatos da cultura digital como os memes, remix, ghiph, vídeos, entre outros, vai depender
do tipo de fórum, na comparação entre o fórum UOL e hardMOB os elementos da cultura
digital foram mais presentes no UOL, uma hipótese por mim suscitada esta relacionada a
moderação, no sentido de que quanto maior a moderação menor será o uso de elementos da
cultura digital.
O estudo de Pendry e Salvatore (2015) coloca que os fóruns online nos últimos
tempos foram ofuscados pelo boom das redes sociais, sendo muitas vezes vistos como uma
forma primitiva de comunicação perdida no tempo e fora de moda, sobre esta questão esta
pesquisa me fez observar o quanto os fóruns generalistas da internet são ambientes de grande
presença na rede internet, grande participação, engajamento e que continuam muito ativos e
vivos. Outra questão importante observado pelas autoras sobre os foruns, é que os usuários
convertidos, comprometidos e ativos já sabem que eles podem transformar vidas, conseguindo
tornar visitantes ocasionais em participantes que contribuem se dedicam, até afetivamente, a
toda a comunidade participante. Por fim, concluem que os usuários frequentemente
descobrem que os fóruns são excelentes fontes de suporte sobre os mais variados assuntos,
especialmente àqueles que estão procurando informações sobre condições consideradas
estigmatizastes (PENDRY e SALVATORE, 2015).
Outro autor a observar os fóruns generalistas on-line como espaços diferentes,
com potencial para fornecer capital social e atividades cívicas off-line, se apresentando como
força potencial inexplorada foi Gilles (2019). Um ponto interessante é que estar no fórum,
participar dele, contribuir, entre outras questões, esta muito ligada às relacões sociais
construidas e presentes naquele espaço, porém a entrada num fórum estaria talves
intimamente realacionada a fatores instrumentais o que faz com que a expectativa de entrada
no ambiente seja superada devido à relaçoes estabelecidas naquele espaço onde “ a experiência
de interagir com outros usuários do fórum resultará na formação de novos laços sociais, suas expectativas são

frequentemente superadas” (PENDRY e SALVATORE, 2015, p. 213).


Os fóruns podem ter diferentes tipos de linguagem como texto, animação,
desenho, vídeo, fotografia, emojis etc. Apresentando também diferentes formas de organizar
39

as mensagens, como linear (em lista), hierárquica (em forma arvore) e em rede (grafo).
Abaixo, na figura 01, apresento as principais estruturas dos discursos em ambientes em rede,
extraído de Fuks (2003).

Figura 01: Tipos de estruturas do discurso em ambientes on-line

Fonte: Extraído de Fuks (2003, p. 09).

Detalhadamente, a estrutura em forma linear (em lista) muito usada para


comunicação onde a ordem cronológica é mais importante que as possíveis relações entre as
mensagens, nesta forma as relações entre as mensagens não ficam explicitas na visualização
do discurso gerando dificuldades na identificação das relações entre as mensagens e assim
obter uma visão geral dos discursos. A forma hierárquica (em arvore) que permite a
visualização em profundidade das discussões, esta estrutura favorece um encadeamento entre
as mensagens sobre um mesmo assunto numa mesma trilha e a separação das mensagens em
trilhas diferentes sobre assuntos dispares. E, por fim a estruturação em rede (grafo) que
possibilita observar a convergência numa discussão, as relações mais complexas, a construção
de conceitos e suas relações. A escolha dos fóruns para a tese devem considerar os seguintes
elementos: funcionalidade (se é de fácil uso pelos participantes); liberdade do discurso;
identificação ou anonimato; moderação; linguagem dos discursos e tipos de estrutura do
discurso.

2.8 Conhecendo os fóruns UOL e hardMOB e o Projeto Piloto

Como exposto anteriormente, os fóruns generalistas da internet são espaços que


agrupam pessoas, a partir de temáticas variadas, estando presentes no ciberespaço. Neste
40

piloto foi realizado um levantamento prévio de dois fóruns o UOL e hardMOB, os critérios de
escolha desses fóruns considerou que tivessem temáticas e também estrutura organizacional
diferentes, por exemplo, o UOL é um fórum mais aberto, de temática livre, com menos
moderação, já o fórum hardMOB tem temas no geral relacionados a tecnologia, com uma
moderação nem tão presente, porém com participantes muito mais adaptado as normas gerais
de funcionamento do fórum.
Um dos fóruns é o Vale Tudo do fórum UOL Jogos 1 no tópico “Mostre sua
refeição diária” bastante popular entre os tópicos deste fórum, nele você pode observar as mensagens
ou participar das discussões fazendo o login com e-mail e senha através de um cadastro. Nas figuras
02 e 03, abaixo, mostro como este fórum se apresenta na internet, onde podemos observar que
o fórum Vale Tudo da UOL é o que possui mais tópicos e mensagens.

Figura 02: Fórum UOL

Fonte: http://forum.jogos.uol.com.br

Figura 03: Tópico “Mostre sua Refeição diária”

Fonte: http://forum.jogos.uol.com.br

1
Endereco: http://forum.jogos.uol.com.br/vale-tudo_f_57
41

No dia 07 e janeiro de 2019, ocorreu à desativação completa do fórum UOL, os


participantes na maioria migraram para outros portais na rede internet como politz,
adrenaline, reddit e outros, levando inclusive o mesmo nome temático do tópico para esses
novos espaços. A figura 04, abaixo, mostra a primeira postagem do tópico “Mostre sua
refeição diária”, neste espaço os participantes postavam por fotos suas refeições, fossem elas
café da manhã, lanche, almoço ou jantar e também comentavam sobre as refeições postadas,
ou falavam sobre outros pratos alimentares, ou também sobre temas relacionados a culinária.

Figura 04: Primeira postagem no Tópico

Fonte: http://forum.jogos.uol.com.br/em-memoria-de-mostre-sua-refeicao-diaria

Na figura 04, acima, podemos ver o participante que criou e postou a primeira
mensagem no tópico, seu nome é “É PAVÉ OU PACOMÊ?”, neste tópico todos os
participantes tinham como foto de apresentação o uso de avatares que é uma representação
digital de si mesmo, e usavam nomes que provavelmente não correspondia à realidade.
Podemos também observar na foto de entrada, outras informações que aparecem quando o
42

usuário posto algo, como o nível que indica credibilidade, quantitativo de mensagens e data
do cadastro do participe.
Os usuários do fórum podem possuir estrelas e coroas, que representam o tempo
do usuário no fórum (um ano para cada coroa e uma estrela a cada dois meses), e apresentam
um sistema de níveis para identificar os usuários de credibilidade que vai dos níveis 1 a 10,
para subir é preciso marcar pontos contando número de mensagens, data de cadastro, número
de mensagens e tópicos avaliados positivamente e número de mensagens e tópicos apagados
(fora das regras). Assim, ganha um nível quem cumpre todas as condições como: ter os
pontos, ter o tempo de cadastro e ter a porcentagem mínima de avaliações boas. E, cada
mensagem ou tópico publicado conta um ponto. Já as mensagens irregulares diminuem seu
ranking e têm peso maior (uma mensagem apagada pode significar muitos pontos perdidos).
Abaixo apresento um recorte com algumas das regras do fórum:

UOL Fórum:
O Fórum é um espaço público. Sua utilização requer do participante a aceitação das
regras abaixo:
Não serão permitidas, e poderão ser excluídas pelo UOL sem prévio aviso, as
mensagens:
 que violem qualquer norma vigente no Brasil, seja municipal, estadual ou
federal;
 com conteúdo calunioso, difamatório, injurioso, racista, de incitação à
violência ou a qualquer ilegalidade, ou que desrespeite a privacidade alheia;
 com conteúdo que possa ser interpretado como de caráter preconceituoso ou
discriminatório a pessoa ou grupo de pessoas;
 com informação relativa a pirataria de software;
 com linguagem ou imagem grosseira, obscena e/ou pornográfica;
 de cunho comercial e/ou pertencentes a correntes ou pirâmides de qualquer
espécie;
 que caracterizem prática de spam;
 que caracterizem prática de flood;
 fora do contexto do grupo ou tópico escolhido (offs).
O UOL:
 não se responsabiliza pelas opiniões e comentários dos freqüentadores do
Fórum. O conteúdo de cada mensagem é de única e exclusiva responsabilidade civil
e penal do autor da mensagem. O conteúdo das mensagens não é revisado pelo
UOL... (<<http://forum.jogos.uol.com.br>>, acesso 18/03/2018)

Nas regras do fórum não existe normas para moderação, normas sobre
obrigatoriedade de postar, manual de conduta sobre como se portar, nele o participante posta
se quiser e quando quiser que não será penalizado diferente do outro fórum pesquisado o
hardMOB. Mesmo com todas as regras, já observei mensagens que infringiam as normas,
contudo neste tópico nunca vi ninguém ser expulso e/ou advertido, mas pelas conversas entre
os participantes isso acontece em outros tópicos, uma possível forma de saber se o
43

participante teve alguma advertência é observar a sua data de entrada e quantitativo de


postagens e ver o nível a que pertence, pelas normas a data de entrada e quantitativo de
mensagens na trilha gera um quantum positivo. Na trilha que será apresentada abaixo
podemos observar isso, pois o participantes “Aquele Mesmo” esta no mesmo nível que o
participante Sega&AMD, mesmo tendo entrado no fórum dois anos antes e possuir bem mais
mensagens que o outro usuário.
Abaixo apresento uma das trilhas do fórum UOL no tópico pesquisado, nestes
recortes das figuras procuro apresentar ao leitor como as mensagens ficam expostas dentro do
fórum, os elementos presentes e como as participações acontecem neste espaço.

Figura 05: Primeira foto postada no tópico

Fonte: http://forum.jogos.uol.com.br/em-memoria-de-mostre-sua-refeicao-diaria

Na figura 05, acima, o participante “Aquele Mesmo” posta sua refeição de final de
semana. No topo da tela mais azulada temos como responder a mensagem clicando em “citar
esta mensagem” e é possível também que outros participantes possam dar um ok ou um não
para a foto, bastando para isso apertar as mãos que aparecem no topo com o sinal positivo ou
44

negativo. No rolo do tópico para cada postagem, pergunta ou resposta ao tópico aparece para
o leitor ou participante a imagem de “citar esta mensagem” sempre no topo da tela, clicando
neste local se pode fazer perguntas para quem postou a mensagem ou então responder uma
pergunta.
Na figura 06, abaixo, outro participante Sega&AMD indaga o autor da postagem.
Como vemos a pergunta do participante Sega&AMD fica logo abaixo da postagem que
originou a indagação.

Figura 06: Indagação do participante Sega&AMD

Fonte: http://forum.jogos.uol.com.br/em-memoria-de-mostre-sua-refeicao-diaria

Na figura 07, abaixo, o participante “Aquele Mesmo” reponde a pergunta de


Sega&AMD. Como se podem observar todas as postagens anteriores ficam no quadrado
branco e a nova resposta dentro da tela geral mais azulada. Outros elementos observados são
as assinaturas dos participantes (que é opcional), assim como a data e hora das postagens onde
na maioria das vezes temos um tempo de espera entre uma postagem ou pergunta e a resposta
.
45

Figura 07: Resposta do participante “Aquele Mesmo” a pergunta de


Sega&AMD.

Fonte: http://forum.jogos.uol.com.br/em-memoria-de-mostre-sua-refeicao-diaria

Na figura 08, abaixo, o participante “Sega&AMD”, começa interagir com o


participante “Aquele Mesmo”. Na tela recortada, podemos observar a presença de emojis que
são símbolos gráficos usadas em conversas on-line que representam uma palavra ou conceito
abstrato (wikipedia, 2019).

Figura 08: Dialogo do participante “Sega&AMD” com o “Aquele Mesmo”

Fonte: http://forum.jogos.uol.com.br/em-memoria-de-mostre-sua-refeicao-diaria
46

Por fim temos a figura 09, neste recorte podemos observar uma maior interação,
onde o participante “Aquele Mesmo” a partir das questões colocados pelo participante
“Sega&AMD” chega a uma proposição.

Figura 09: Dialogo do participante “Sega&AMD” com o “Aquele Mesmo”

Fonte: http://forum.jogos.uol.com.br/em-memoria-de-mostre-sua-refeicao-diaria
Do exposto, a trilha acima apresenta uma discussão entre dois participantes do
fórum, sobre hábitos alimentares, tipos de comidas, preparo de refeições e cálculo sobre
valores dos pratos considerando a classe social. Esta discussão também mostra que os
participantes de um fórum, migram entre outros fóruns no ambiente da UOL questão exposta
pelo participante “Sega&AMD” na figura 07. Nesta trilha, observamos algumas interações
com elementos de aprendizagens em rede .
Outro fórum observado é o HardMOB2 que é outra página de discussão
generalista da internet, possuindo temáticas versando sobre jogos, ciência e tecnologia,
cultura e entretenimento, com vídeos, imagens, servidores, blogs e fóruns.

Figura 10: Visão geral do fórum HardMOB

2
Endereço: http://www.hardmob.com.br/content/
47

Fonte: http://www.hardmob.com.br

A figura 10, apresenta a visão geral do fórum hardMOB, e todos os seus fóruns.
Esta página está em pleno funcionamento. Os fóruns são subdivididos em salas com vários
tópicos de discussão sobre assuntos relacionados à temática geral dos fóruns. Neste espaço,
você pode entrar e ver as mensagens ou participar das discussões estando logado no ambiente,
podendo postar perguntas e respostas necessitando de cadastro no ambiente para inserção de
e-mail e senha. A participação nos tópicos está condicionada a regras, com infrações leves,
médias e graves, abaixo apresento as normas com as infrações leves e médias:

1. São consideradas infrações leves:


1.1 - Mensagens não relacionadas ao assunto do tópico (off-topic) e que não sejam
ligadas à assuntos abrangidos pelas áreas do Fórum.
1.2 - Tópicos ou mensagens que se transformarem em bate papo/chat, isto é, o
assunto desande para outro que não tenha nada a ver com a dúvida original.
1.3 - Títulos de tópicos não relacionados à dúvida do mesmo, direcionando-o a
algum membro ou com qualquer forma de chamar atenção.
1.4 - Usar extensivamente letras maiúsculas, negrito, cores, fontes ou qualquer
forma de chamar a atenção, seja em toda a mensagem ou no título do tópico. É
permitido destacar pequenos trechos da mensagem.
1.5 - Uso excessivo de gírias e de escrita incompreensível.
1.6 - Criação de mensagens subsequentes em menos de 24 horas, sejam elas com o
intuito de "subir" o tópico/dúvida ou destacar, ou mesmo a criação de mais de um
tópico sobre o mesmo assunto, seja no mesmo setor ou em mais de um.
1.7 - Responder a tópicos parados há mais de seis meses sem adicionar conteúdo útil
ao mesmo.
1.8 - Agir como Moderador do Fórum sem de fato o ser - por exemplo, responder a
tópicos com frases como "Por favor, poste na área correta", "Este tópico já foi
discutido", "Se você pesquisar encontrará a resposta".
2. São consideradas infrações médias:
48

2.1 - Criação de login (nome de usuário) semelhante aos utilizados por qualquer
membro da equipe de moderação. 
2.2 - Tópicos ou mensagens com o tema "Empresa A vs. Empresa B".
2.3 - Mensagens com fatos e informações errôneas ou falsas.  
Serão avaliadas pela Equipe de Moderação e o autor contactado via MP, se
observado ou constatado conteúdo especulativo nas mesmas.
Se após análise e contato com o autor,  e a situação permanecer será considerada
como infração média.
2.4 - Mensagens que não contribuam com o andamento do tópico.
2.5 - Falta de cordialidade e educação, seja em tópico, mensagem, assinatura, perfil
ou mensagem privada.
2.6 - Descumprimento sucessivo de regras locais.
Fonte: http://www.hardmob.com.br/content/

Diferente do fórum da UOL, onde o moderador tem um papel bastante figurativo,


no hardMOB ele existe mas não é tão presente, pois os participantes normalmente seguiam as
regras do fórum, como não fugir do assunto principal, ter cordialidade, tentar ajudar outro
participante. Como disse, a página possui moderador, porém este não participa das discussões
e necessariamente não permanece on-line no fórum, existindo apenas um espaço no ambiente
para avisar a moderação de algum tipo de mensagem inapropriada. Abaixo, na figura 11
podemos observar a primeira postagem no tópico pesquisado.
Os participantes podem usar avatares, apelidos ou seu nome para identificação,
sendo diferenciados principalmente pelas quantidades de “verdinhas” dadas (quando um
participante gosta da mensagem de outro participante) ou recebidas (ocorre quando alguém
gosta da sua mensagem). Esta figura mostra como os participantes são visualizados no tópico.

Figura 11: Representação dos Membros no tópico

Fonte: http://www.hardmob.com.br/audio-video-and-tv

Como observamos na figura acima, na tela de visualização dos membros podemos


ver a data de entrada do participante no fórum, quantitativo de mensagem, assim como o
49

quantitativo de verdinhas que o participante possui. Abaixo, na figura 12, apresento a tela com
a primeira postagem no tópico, em todas as telas pode-se visualizar a ordem, sequencia ou
numero sequencial da postagem ao observar na barra superior à direita o número após o
símbolo jogo da velha (#).

Figura 12: Primeira postagem no tópico “Clube da Pioneer MX-3”


no fórum hardMOB

Fonte: http://www.hardmob.com.br/audio-video-and-tv

Na figura 13, abaixo, temos um recorte de uma tela com a visualização de como
as perguntas e respostas dos participantes ficam apresentadas no tópico. Podemos observar no
canto inferior direito a presença de aspas (“), que é o espaço onde o participante pode
responder na mensagem. A citação (espaço cinza claro) é a pergunta e ao tocar nas aspas o
participante pode responder a pergunta que aparece na tela branca. Dentro de uma mesma tela
pode aparecer varias citações, ou seja mais de uma resposta.

Figura 13: Tela com visualização das mensagens no tópico


50

Fonte: http://www.hardmob.com.br/audio-video-and-tv

Este fórum tem características e temáticas diferentes do fórum UOL, talvez pelos
temas abordados, observei que os participantes estão muito dispostos a ajudar a resolver
questões. Percebi também que muitos participantes, já se conhecem de outros tópicos no
mesmo fórum.

Este tópico iniciou com a seguinte pergunta “vamos trocar informações sobre essa
caixa” e a partir dessa questão os participantes do ambiente começaram a trocar informações
sobre essa questão. A cada problema sobre a caixa de som que aparecia, os participantes
tentavam se ajudar na busca de resolução para o problema, questões eram levantadas e no
geral as perguntas sempre tinham respostas. A partir desta apresentação da estrutura e
dinâmica dos fóruns UOL e hardMOB, foi possível elaborar a tabela XXX que procura
contrastar os elementos constituintes do dois fóruns.

Quadro 02: Elementos de contraste dos Fóruns UOL e hardMOB


Itens Relevantes Fóruns
Fórum UOL Fórum
hardMOB
Permite escolha de um Tema para discussão X X
Possui regras ou normas de uso X X
As regras ou normas são detalhadas X
As regras ou normas são mais leves ou fluidas X
O Fórum diz que existe Moderador X X
O Moderador é Presente
O Moderador é Ausente X
O Moderador quase nunca aparece X
51

O fórum permite vários tipos de linguagem X X


O Cadastro é obrigatório para participar das X X
discussões do fórum.
O Cadastro é obrigatório para observar as
discussões nos fóruns
Pagamento para uso
Espaço de ajuda on line
Organização das mensagens do tipo Lista X X
(Linear)
Organização da mensagem do tipo Árvore
(Hierárquica)
Organização da mensagem do tipo Grafo
(Discussão em rede)
Permite a busca por mensagem/autor/assunto X X
Permite a sugestão de um novo tópico no fórum X X
Apresentação da tela Nome do autor X X
para o envio de Titulo ou assunto da X X
mensagem mensagem
Mensagem X
Cidade ou Estado de
origem da mensagem
E-mail do autor X X
Nome do autor X X
Apresentação da Titulo ou assunto da X X
mensagem na página mensagem
principal do Fórum Data da postagem na X X
publicação
Hora da mensagem na X X
publicação
Cidade ou Estado de
origem da mensagem
E-mail do autor
Fonte: Elaborado pelo autor a partir da observação dos fóruns UOL e hardMOB.

Esta tabela, construída a partir de pesquisas e observações em campo de estudo,


possibilita ver algumas características comuns entre os fóruns pesquisados, assim como,
pontos de contraste nesses espaços.
O Projeto Piloto foi realizada no mês de janeiro de 2018, no fórum hardMOB
foram contabilizados 29 participante, num total de 101 postagens, no período analisado de 01
até o dia 10 de janeiro de 2018. E, no fórum UOL, foram contabilizados 41 participantes,
num total de 182 postagens, no período analisado de 14 até o dia 23 de janeiro de 2018.
Os sujeitos do piloto foram os participantes dos fóruns HardMOB e o UOL, nos
tópicos “Clube da Pionner – MX3” e “Mostre sua refeição diária”. A tabela abaixo apresenta
algumas informações relevantes sobre os tópicos.
Tabela 01: Os espaços e participantes da pesquisa do Projeto Piloto.
Tópico do Fórum Visualizações Quantitativo de Descrição do
Mensagens Ambiente
HardMOB no tópico 24.599 De 01/01/17 à 386 É espaço da internet,
“Clube da Pionner – 20/02/18 ligado a tecnologia e as
52

MX3” relações destas com a


cultura contemporânea.
Nele existe um espaço
de fórum sobre jogos,
equipamento, suporte e
tecnologia com tópicos
em áreas de interesse
da página.

Fórum UOL no tópico 98.403 13.054 Era um espaço da


“Mostre sua refeição De 03/12/16 à 07/01/19 internet, na página do
diária” UOL Jogos com fóruns
sobre os mais variados
temas.
Fonte: produzido pela autora

A realização do piloto possibilitou testar categorias de análise e obter alguns


resultados preliminares que atrelados a estudos empíricos possibilitou um maior
aprofundamento da temática, em dois níveis um teórico sobre as aprendizagens e
metodológico relacionado à como fazer e estruturar a tese. O piloto teve por objetivo observar
os ambientes, entender suas características, funcionalidades, conhecer como os participantes
atuavam as trocas e interações, entre outros elementos pertinentes que aparecessem durante a
observação. Assim, a observação etnográfica do fórum possibilitou fazer uma pré-análise e
pré-categorização das postagens a partir de padrões encontrados dentro destes. Isso tudo de
forma a viabilizar um melhor entendimento ou construção de conhecimento sobre estes. Para
efeito de analise, foi feito um recorte de um período de tempo do fórum, especificamente,
duas das maiores threads (blocos com o maior número de trocas de mensagens) de cada fórum
a partir da ocorrência de participação; interação; colaboração; engajamento;
compartilhamento, além de outros elementos da aprendizagem nas redes.
A observação etnográfica possibilitou identificar que os interagentes dos fóruns ao
participarem das discussões, desenvolviam certos padrões de interação, verificamos que em
determinados momentos os partícipes ao postarem no fórum procuravam incitar uma
discussão, em outros aprofundar algum assunto por meio da troca de ideias e informações, na
tentativa de chegarem ha um consenso.
Já em outros momentos suas postagens, principalmente no fórum hardMOB,
percebemos que os participes procuravam sintetizar uma ideia a partir de uma discussão de
um problema anterior e, por várias vezes, verificamos publicações que apenas reagiam a uma
postagem sem evoluir nas trocas. E, com base nestes dados coletados, a categoria Interação
foi ampliada nas subcategorias listadas no quadro 01.
53

Quadro03: Categoria e Subcategoria Interação


Categoria Subcategoria Sigla Indicador Fo
nt Interação Discursiva/ ID Ocorre quando o participante expõe um assunto e e:
Questionadora quer provocar discussões.
Interação Reativa IR Quando uma ação de alguém provoca uma
reação/resposta, seriam as trocas entre humanos-
humanos. É de natureza reativa.
Interação Dialógica IDIA Quando se tem o maior nível e aprofundamento do
tema, se dão por meio do diálogo, trocas de ideias
e informações onde a fala entre dois ou mais
participantes chegam e/ou tentam chegar a uma
verdade comum.
Interação IA Seria uma ideia sintetizadora postada e ocorreria
Argumentativa quando o participante procura chegar a uma
INTERA conclusão sobre alguma dificuldade procurando
ÇÃO resolver um problema.
Interação Impositiva/ II Um participante e/ou grupos de participantes
Imperativa procuram impor a sua ideia, seja por meio de
ofensa e/ou menosprezo ao argumento do outro
participante, no fórum.
Interação Multimodal IM Um participante utiliza outras formas de interação
como memes, imagens, vídeos, giphy e outros
recursos técnicos.
DERIVA D Ocorreriam quando a postagem parece se
distanciar da questão inicial ou das principais
questões que estão sendo tratada no tópico.
Elaborado pelos autores

A categoria interação inicialmente foi denominada de participação, porem com as


leituras (SCHRIRE, 2006) se chegou ao entendimento que participação se diferencia da
interação no tocante ao aprofundamento dos diálogos, assim ao postarem uma imagem os
participantes estariam participando de fórum, porem quando perguntam ou respondem algo
estariam interagindo.
Após a categorização, foi possível construir uma tabela 01, abaixo com o
quantitativo de mensagens nas subcategorias interação dos dois fóruns.

Tabela 02 – Quantitativo de mensagens das Subcategorias Interação


Categoria Interação Fórum hardMOB Fórum UOL

ID 12,87% 37,91%

IR 31,68% 26,37%

IDIA 26,73% 6,04%

IA 5,94% 2,74%
54

II 00 3,84%

IM 00 23,07%

Deriva 22,77% 00

Total 101 182

Fonte: Elaborado pela autora.

A tabela 02, acima, apresenta o quantitativo de mensagens das subcategorias


interação na pesquisa piloto realizada em janeiro de 2018. No fórum hardMOB foram
contabilizados 29 participante, num total de 101 postagens, no período analisado de 01 até o
dia 10 de janeiro de 2018. E, no fórum UOL, foram contabilizados 41 participantes, num total
de 182 postagens, no período analisado de 14 até o dia 23 de janeiro de 2018.
A pesquisa possibilitou verificar que no fórum hardMOB a maioria das
mensagens se enquadra na subcategoria interação reativa (IR), como vemos neste excerto:

[…] 01 Citando 02: teoricamente vc consegue acessar pelo google home, ou pelo
aplicativo compatível, clicando no ícone do chromecast [...].a testar como ela se
comporta ligada em LAN ? pergunto pq cabeei meu apto inteiro e só ouço falar de
delay pelo wifi ou bluetooth [...] a minha não chegou ainda pra testar.
Resposta 01: Sim, exato, ela aparece no aplicativo do Google Home, e nos
aplicativos. Eu até pensei em testar cabeada, seria apenas um teste mesmo pq não
tem como ela ficar onde coloco o roteador […].

No dialogo acima, os participantes a partir de uma dúvida sobre se a caixa faz a


transmissão de áudio via wi-fi ou se é necessário o uso de cabos, vão ao longo destas
discussões relatando os problemas encontrados, assim como compartilham ideias e propõem
soluções, tentando estabelecer um consenso, numa perspectiva participativa dialógica. Com a
partilha de um problema e a busca compartilhada de solução verificamos também, indícios de
colaboração (DILLEMBOURG, 1999). Outro ponto é que a pergunta de um usuário é
respondida por outro participante, estes procuram se ajudar, respondendo aos colegas como
membros de uma comunidade virtual onde os interesses e a ajuda mútua se fazem presentes
(RHEINGOLD, 2000).
Observamos também indícios de interação dialógica (IDIA) onde, a partir da
partilha de um problema, os interagentes procuram resolvê-lo, como indicado no seguinte
excerto:
55

[…] 01 Citando 05: Dúvida. O chromecast embutido eu consigo acessar como se


fosse o aparelho isolado ou necessita do software da Pioneer?
Fala 01: Acessa como Aparelho isolado. Nos aplicativos compatíveis com
chromecast aparece lá a opção de fazer o streaming para a Pioneer.
Fala 02: teoricamente vc consegue acessar pelo google home, ou pelo aplicativo
compativel, clicando no icone do chromecast, ao inves de transmitir video vc
transimite audio [...] alguem chegou a testar como ela se comporta ligada em LAN ?
pergunto pq cabeei meu apto inteiro e só ouço falar de delay pelo wifi ou bluetooth
[...]?
Fala 01 para 02: Sim, exato, ela aparece no aplicativo do Google Home, e nos
aplicativos. Eu até pensei em testar cabeada, seria apenas um teste mesmo pq não
tem como ela ficar onde coloco o roteador, vou ver se consigo testar mais tarde, o
que me faz pensar que isso não vai resolver o Lag […].
Fala 05: Interessante isso do chromecast. Mesmo que não atualize mais o firmware
pelo menos não morre de tudo […].

No dialogo acima, os participantes a partir de uma dúvida sobre o uso do


Chromecast3, discutem se este pode ser acessado por um aparelho isolado ou necessita de um
software para uso e, ao longo destas discussões vão relatando os problemas encontrados,
assim como compartilham ideias e propõem soluções, tentando estabelecer um consenso,
numa perspectiva dialógica (IDIA). Nesta IDIA, com a partilha de um problema e a busca
compartilhada de solução verificamos também, indícios de colaboração (DILLEMBOURG,
1999).
Recuero (2005) coloca que em uma comunidade virtual é necessário à presença
entre os interagentes de ações cooperativas ou colaborativas como forma de alimentar sua
estrutura de comunidade. Durante a pesquisa de campo observamos vestígios de colaboração
nos diálogos em construção pelos participantes.
Além das subcategorias listadas, a análise dos dados indicou outras ocorrências
que resultam da participação dos usuários no fórum. Em alguns trechos das interações,
percebemos a tentativa de elaboração de sínteses (IA), quando os interagentes procuravam
chegar a alguma conclusão para um problema, como apresentado a seguir:

[…] Fala 01: Vc conseguiu solucionar este problema? Estou com 2 caixas que
pretendia usar na tv e em ambas as caixas ocorre este "silêncio" na caixa por alguns
segundos quando ligada por p2 [...]
06 responde: Percebi que é só quando algo que está passando tem algum momento
de silêncio daí a caixa fica muda [...]
Fala 02: Eu não testei via P2 [...] vc já tentou desligar o stand-by automático? Já tive
esse problema […]
Fala 12: Aqui tá acontecendo isto também. O engraçado é que assisti um filme
ontem usando o cabo P2 e foi sem problema algum.
Fala 12: Minha conclusões são as seguintes: - A caixa possui um recurso para
desligar a reprodução quando não está saindo som para evitar que, por exemplo,

3
Dispositivo criado pelo Google para transformar TVs comuns em Smart TVs com acesso a apps diversos.
Fonte: http://www.techtudo.com.br/tudo-sobre/chromecast.html
56

quando eu vá conectar o cabo num aparelho (celular, TV, qualquer coisa) [...].- Para
tapear esse recurso, é necessário deixar o volume da fonte de áudio no máximo (ou
mais alto, como queira) e passar a controlar o volume na caixa.- Se estiver
reproduzindo através de um computador (usando o VLC, o Media player classic ou
qualquer player mais configurável), é possível pré-amplificar o áudio, o que
minimiza o problema. Aqui funcionou e por enquanto não percebi mais esses cortes
[...].

As trocas acima apresentam discussão sobre o uso do cabo P2 4 pelos participantes


e as dificuldades encontradas nesta utilização, e por fim, um dos interagentes apresenta uma
síntese a partir das trocas estabelecidas e dificuldades reladas numa interação argumentativa
(IA). Estes ao organizarem conhecimento por meio de sínteses como produto coletivo
apresentam elementos de comunidade de prática (WENGER, 1998).
Observamos também que algumas postagens se distanciavam da questão inicial
do fórum, o que foi por nos denominado de deriva, como vemos neste excerto:

[…] Fala 01: Seria bem legal se ela tivesse entrada de USB de forma que vc pudesse
controlar os arquivos via Wi-fi, ela poderia inclusive criar um servidor próprio
DLNA de música, já que tem acesso a rede.
Fala 09: desistiu de devolver a de 359?
Fala01: Ainda não resolvi, pedi a devolução, mas só irei devolver se a de 269 tiver
chegado, ai devolvo, mas até o momento não houve movimentação na totalexpress
desse pedido.
Fala 05: Cancelei meu pedido de 359 hoje. F5 aí […].

Porém, a partir de uma análise mais acurada, consideramos que estas postagens
mesmo fora da temática inicial faziam parte do contexto daquela comunidade e de alguma
forma estava relacionada à questão principal.
Por fim, a maioria das mensagens do fórum hardMOB, se enquadra na
subcategoria interação reativa, seguida da interação dialógica, deriva e interação discursiva.
Observamos poucas trocas na perspectiva interação argumentativa. Verificamos nas postagens
com IDIA indícios de colaboração e nas IR elementos de comunidade de prática. Outro ponto
analisado é que os participantes do fórum atuam como comunidades virtuais. Os fóruns
mesmo não configurados como espaços de aprendizagem formal, possuí traço central da
cibercultura: a aprendizagem em rede.
Nas primeiras análises do fórum UOL, a maioria das mensagens se enquadrou na
subcategoria interação discursiva que é quando um participante expõe um assunto e quer
provocar discussões (a postagem da foto em si já seria teria esse caráter provocador). Esta
4
P2 é a entrada para fones de ouvido mais comuns entre os aparelhos multimídia. Ele o auxilia a conectar um
CD player, MP3 player, Notebook, Microcomputador a um dispositivo de som como um Amplificador,
Subwoofer, Home Theater, Rádio ou até mesmo em alguns casos TV. Fonte:
techtudo.com.br/perguntas/218139/entrada-p2.
57

thread, abaixo, é um dos exemplos de trocas entre os participantes, neste caso em especifico a
conversa iniciou com um pergunta (IR) porem no geral, neste fórum, as participações iniciam
com a postagem de fotos com legenda (ID). O dialogo abaixo inicia com um participante que
faz uma pergunta no fórum sobre como usar os alimentos devido à dieta e a partir desta
pergunta começam algumas discussões, como podemos observar no dialogo:

[…] Fala 04: Vocês que estão de dieta aqui, me respondam algumas indagações:
1. Tenho que fritar a proteina(com azeite de oliva), colocar no grill, ou assar no
forno?
2. Posso refogar os legumes com azeite de oliva, cebola e alho?
3. Como temperar a salada?
Pergunto isso porque o azeite de oliva é calórico, mas se tiverem outra sugestão
agradeço.
Fala 07 para 04: Azeite ou nada, legumes o correto é cozinhar a vapor mas o único
que eu ligo é o brocolis, o resto eu faço a bagaceira que eu quiser. procura temperos
fit no youtube uma lista boa de canais:
https://www.youtube.com/channel/UCzLku3Nr8z0QaG1mP2Qn45A
https://www.youtube.com/channel/UCUqR_3LRQ0RgnzvWYt8Z1EQ
https://www.youtube.com/channel/UCXP-mmy06-y73mMk1rnYO1A
(esse não é de dieta)
https://www.youtube.com/channel/UC6D1NnWCVxDDiQvHch1L8Mw
Fala 04 para 07: Então, mas eu cozinho eles no vapor e quando eles estão perto de
ficar prontos, eu jogo uma pitada de sal e pimenta. Mas as vezes tenho vontade de
refogar eles, mas fico meio assim por causa das calorias do azeite. E sobre a
primeira pergunta, posso fritar as paradas a vontade ou é melhor usar o grill?
Fala 07 para 04: Ele perde parte dos nutrientes, dependendo do oleo e temperatura tb
faz mal a saude, se eu não me engano o azeite é um dos oleos que que você pode
usar uma temperatura mais alta e por mais tempo. Aqui em casa eu nao uso oleo e só
uso fogo baixo pra fritar, comprei uma frigideira dessas aqui:
https://pt.aliexpress.com/item/Non-stick-Copper-Frying-Pan-with-Ceramic-Coating-
and-Induction-cooking-Oven-Dishwasher-safe-10-Inches/32737559733.html
Fala 04 para 07: Ha ta. Cara vou olhar isso ai
Fala 05 para 04: 1-Não uso grill e não tenho muita neura pra gordura. Frito no azeite
ou na manteiga , cozinho ou então asso. 2-Pode. 3-Salada temperada? aqui sempre
comi alface e tomate sem tempero
Fala 04: Entendi. É que a maioria daqueles canais de dieta os caras fazem no grill ou
no forno as paradas. Tenho que perder a banha e falam que a gordura saturada nesse
caso é contra-produtivo.
Fala 05 para 04: Se tu quer perder a banha então retire o que eu disse (emoji)
Fala 04: aí complica parceiro
Fala 09:
Fala 09 para 04: Pra temperar salada eu coloco limão, azeite, pouquinho de sal e
ajinomoto... se tiver vinagre, eu coloco, mas bem pouco... mas sem fica bom
também
Fala 13 para 04: 1) Eu faço no óleo/ azeite/ manteiga. Ingiro 80g de gorduras por dia
e só coloco nos cálculos. 2) pode 3) limão, sal, azeite. Dieta flexível é a única que
presta
Fala 04 para 13: NADA a ver
Fala 07: Lembrando que dieta flexivel nem sempre é saudavel, ficar tomando
refrigerante e tempero zero calorias, encaixar certos lixinhos diariamente.
Fala 05 para 07: Uai. É só não exagerar ue , qualquer coisa em excesso vai fazer mal
Fala 02 para 07: Pra que refrigerante zero quando podemos tomar uma bela
limonada sem açucar?
Fala 16 para 04: Nossa mano sai da neura, tempera as coisas normalmente, usa o que
tu preferir pra fritar, esse tipo de coisa vai ser completamente indiferente no teu
58

resultado final se a tua dieta estiver certa, comida tem que ser boa, nao vai atras
desses "canais fit" que faz tudo na agua, sem sal sem porr@ nenhuma, te garanto
que nenhum atleta come dessa forma, o sucesso da dieta (além dela ser bem
elaborada obviamente) é a consistência, não adianta fazer uma dieta que restringe
tudo e parar no meio do caminho pq nao aguenta mais comer comida bost@ […]
(fonte: fórum UOL 16/01/2018). 

Nessa thread, podemos perceber que os participes procuram ajudar o colega sobre
uma questão que foi colocada, as trocas iniciam com uma pergunta inicial pedindo
informação ao grupo, observamos a presença de interação dialógica (IDIA) na trilha.
Observamos também o uso e compartilhamento de recursos da rede nos vídeos e nas giphys
que são animação curtas. Em alguns trechos do enxerto acima, percebemos a presença de
interação impositiva (II), que não foi observada no fórum hardMOB. Neste fórum percebemos
a presença de muitos elementos da cultura digital como emojis, giphys, vídeos entre outros.
No recorte da pesquisa também foi observado o uso de elementos técnicos, principalmente
nas interações reativas (IR), no entanto esses elementos técnicos não eram capazes de gerar
aprofundamento nos diálogos.
Por fim, no fórum hardMOB, a maioria das mensagens se enquadra na
subcategoria interação reativa (IR), seguida da interação dialógica (IDIA) e interação
discursiva (ID). Nele observamos poucas trocas na perspectiva interação argumentativa, e
verificamos nas postagens com IDIA indícios de colaboração.
Já no fórum UOL a maioria das mensagens se enquadra na subcategoria interação
discursiva (ID), seguida da interação reativa (IR) e interação técnica (IT), observamos poucas
trocas na perspectiva interação argumentativa. Também verificamos nas postagens com IDIA
indícios de colaboração.
A partir dessas analises iniciais, algumas questões podem ser pontuadas como:
- Os fóruns, assim como as redes, são sistemas complexos onde temos ordem,
desordem, incerteza, resistência, sínteses, interferência e múltiplos significados, lembrando
que assim também é a construção de conhecimento. E, pesquisar sobre os fóruns generalistas
da internet a partir desta perspectiva possibilita delinear novos nuances para sua compreensão
no contexto das práticas ciberculturais.

- A análise das postagens, permitiu identificar indícios de colaboração entre os


membros do grupo, além da observação de que eles atuam como comunidades virtuais. Isso
amplia o sentido do fórum, inicialmente identificado como uma “vitrine” para o
compartilhamento de produtos em oferta de interesse dos usuários.
59

- O projeto piloto aqui relatado revela a necessidade de mais complexas


articulações teóricas para o aprofundamento da observação e análise destes fóruns.

Do exposto, as próximas etapas da pesquisa, nos fóruns a serem observados na


tese, vão ao sentido de aumentar a abrangência de análise dos fóruns e relacionar as variáveis
que caracterizam os participantes nestes espaços como experiência, participação,
sociabilidades, capital social, os tipos de laços, entre outros elementos, objetivando
compreender estas relações e também, como estas variaveis podem influenciar em maior ou
menor escala no nível de participação, interação e colaboração.

2.9 Levantamento Bibliográfico sobre os Fóruns generalistas da internet

Para a pesquisa realizei levantamento de materiais empíricos nos portais do Banco


de Teses da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES e na
Base de Dados da Web of Science plataforma referencial de citações científicas. Pesquisei
também em dois eventos de importância nacional, um na área de educação e outro na
comunicação, respectivamente a Anped – Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa
em Educação e Compós - Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em
Comunicação, além da busca da produção oriunda de grupos de pesquisa que tratam sobre
fóruns na internet.
Nos anais das reuniões nacionais da Anped, considerei o período de 2009 a 2017,
especificamente no GT 16 – Educação e Comunicação. A pesquisa nos anais do site, mostrou
não haver nenhum trabalho sobre fóruns generalistas e outras palavras chaves relacionadas.
Encontrei alguns poucos estudos sobre temas transversais como comunidades, fóruns de
educação, formação de comunidade de prática de professores, cibercultura e redes sociais.
Na Compós, fiz levantamento do período de 2009 a 2018, nos anais do evento nos
GTs – Comunicação e Cibercultura; Comunicação e Cultura e Comunicação e Sociabilidades,
nestes GTs procurei encontrar trabalhos que versassem sobre o tema da pesquisa; as palavras
chaves ou temáticas afins. O levantamento mostrou não haver produção sobre fóruns
generalistas na internet, nem fóruns de outros tipos, foram encontrados alguns trabalhos sobre
redes sociais como youtube, facebook e twitter, e sobre capital social nas redes digitais.
No Banco de Teses e dissertações da CAPES, usei as palavras de referência
(“fóruns generalistas da internet”; “fóruns da internet”; “fóruns internet”; “fórum da internet”,
60

“fórum uol” e “aprendizagem em rede”), e a partir da leitura dos títulos dos trabalhos,
observei possíveis relações com o meu tema de pesquisa, também foi feito a leitura dos
resumos. Os resultados apontaram para dois trabalhos um na área de letras e outro na ciência
da informação, ambos sem relevância para esta pesquisa. Ao usar a palavra chave
“aprendizagem em rede” foram encontradas 34 itens entre dissertações e teses, onde a maioria
dos trabalhos versavam ou sobre a educação a distancia, construção de novos modelos e
ambientes de EaD ou sobre o desenvolvimento de disciplinas da educação formal em
ambientes como redes sociais.
Para a pesquisa na Base da Web of Science, usei as palavras "general internet
forums" e “internet forums”, compreendendo o período entre 2014 a 2019, considerando os
títulos dos trabalhos e resumos, observando relações com o meu tema de pesquisa. Neste, foi
encontrado um trabalho com relevância para a pesquisa (MIOLA, 2010; JUGUEL& LECINE,
2015). Já o termo “internet forums”, apresentou 284 resultados que ainda estão sendo
analisados para este estudo.
Nos grupos de pesquisas sobre fóruns da internet encontrei alguns trabalhos
relevantes, como os do grupo de pesquisa do Programa de Pós-graduação em Comunicação e
Cultura Contemporâneas – PosCom da Universidade Federal da Bahia. O primeiro trabalho
“Como avaliar a deliberação online? Um mapeamento de critérios relevantes” de Sampaio et
all 2012, explora os critérios utilizados nas pesquisas da área de Deliberação Online. Através
de uma ampla revisão de literatura, encontrou 59 artigos que elencavam os indicadores a
serem medidos em discussões na internet, entre as categorias agrupadas no artigo foram i
encontra: reciprocidade, pluralidade, respeito, igualdade, informação e outros. Outro artigo
“DISCUSSÃO POLÍTICA ONLINE NO BRASIL: Ocorrência e manutenção da discordância
política no Facebook”, autoria de Rodrigo Carreiro e Wilson Gomes de 2017, trouxe a
relevância do elemento recurso técnico que seriam outras formas de interação; apresentou
como resultado a importância das threads para compreensão de processos pois fora desses
espaços as discussões não se alongam, concluindo também que os memes mesmo comuns não
apresentaram grande impacto nos posts analisados e que a função geral do deboche, sátira
ficou restrito, na maioria, a momentos em que a discussão estaria morta.
Já o trabalho “Quão deliberativas são discussões na rede? Um modelo de
apreensão da deliberação online”, de Rafael Cardoso Sampaio, 2012 propõe a aplicação de
um modelo com itens para construção de fóruns deliberativos que são desenvolvidos para
debates on-line sobre politicas publicas, a aplicação do modelo gerou maior debate e
61

deliberação dos participantes, os itens considerados no modelo foram reciprocidade,


reflexividade, persuasão, respeito, sinceridade, inclusão e igualdade discursiva entre outros.
Estes estudos ajudam a melhor entender fatores que auxiliam na participação dos
interagentes em fóruns da internet, além de lançar olhares sobre outros elementos presentes
nos fóruns generalistas como o elemento técnico (memes, emojis, vídeos e outros) como
constituintes dessas participações. No entanto, não avançam no sentido das aprendizagens em
rede que é um dos objetivos desta pesquisa.

3. TEORIAS DA APRENDIZAGEM

As teorias de aprendizagem fundamentam processos de ensinar e aprender, sendo


atravessadas por concepções epistemológicas que orientam o processo educacional seja ele
formal ou informal. Assim, a finalidade deste capítulo é dar uma visão geral sobre as
principais teorias de aprendizagem que podem dar suporte para entender as aprendizagens em
fóruns generalistas da internet. Neste sentido, discuto a teoria sócio-interacionista e, de forma
a melhor compreender as aprendizagens nos fóruns, discorro sobre as novas aprendizagens em
rede como: aprendizagem em comunidades virtuais; aprendizagem ubíqua; aprendizagem
62

hacker e conectivismo. Objetivando dar maiores elementos para entender os processos


observados no campo de pesquisa.

3.1 Teoria Sócio-Interacionista

O surgimento das novas tecnologias que originam novas abordagens para se


pensar a educação em rede como o conectivismo, não eliminam as teorias clássicas de
aprendizagem como a sócio-interacionista de Vygotsky para se pensar as aprendizagens no
ciberespaço.
Para Vygotsky (1991) os processos mentais superiores seriam oriundos de
processos sociais, assim o desenvolvimento cognitivo do ser humano não pode ser
compreendido sem referência ao meio social e através da socialização que se daria o
desenvolvimento dos processos mentais superiores, esta conversão é mediada através da
internalização de instrumentos e signos, estes são construções sócio-históricas e culturais,
através da apropriação e internalização, destas construções, via interação social, o sujeito vai
se desenvolver cognitivamente. Para “internalizar” signos o ser humano teria que captar os
significados já compartilhados socialmente, ou seja, passar a compartilhar significados já
aceitos no contexto social e cultural que fazem parte. Daí a importância das interações, pois é
através dela que o sujeito poderá captar significados e certificar-se que os significados
captados são aqueles compartilhados socialmente. Nos fóruns podemos observar que a
construção do conhecimento e a aprendizagem são desenvolvidas por meio das trocas e da
interação dos participantes.
O autor considera que a interação com os outros possibilitará o pensamento
reflexivo e processos cognitivos que fundamentam a aprendizagem. Afirmando que, além dos
conteúdos da experiência cultural, o indivíduo assimila, na relação com o outro os métodos e
modos do comportamento cultural e do pensamento. Tais meios culturais (instrumentos e
signos), criados pela humanidade no curso do desenvolvimento histórico, são usados como
meio para executar operações psicológicas, transformando as formas de comportamento
elementares e primitivas em processos culturais mediados.
Vygotsky atribuiu enorme importância ao papel das interações sociais no
desenvolvimento e aprendizagem do ser humano. E uma das suas mais importantes
contribuições para a educação talvez seja a explicação dada à forma como o processo de
desenvolvimento é socialmente construído, nos fóruns generalistas encontramos uma
aprendizagem situada nas trocas sociais. E, dentre os vários conceitos que podem ser
63

pensados para compreender aprendizagem nas redes numa abordagem sócio-histórica temos o
de Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP), que seria:

a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através


da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial,
determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em
colaboração com companheiros mais capazes...O nível de desenvolvimento real
caracteriza o desenvolvimento mental retrospectivamente, enquanto a zona de
desenvolvimento proximal caracteriza o desenvolvimento mental prospectivamente
(VYGOTSKY, 1991, p. 97)

Ao orientar para o futuro a ZDP contribui para se pensar nas aprendizagens em


rede, no sentido de mostrar que a aprendizagem se adianta ao desenvolvimento do aprendiz, a
ZDP possibilita um instrumento para compreender a dinâmica do desenvolvimento,

Usando esse método, podemos dar conta não somente dos ciclos e processos de
maturação que já foram completados, como também daqueles processos que estão
em estado de formação, ou seja, que estão apenas começando a amadurecer e a se
desenvolver. Assim, a zona de desenvolvimento proximal permite-nos delinear o
futuro imediato da criança e seu estado dinâmico de desenvolvimento, propiciando o
acesso não somente ao que já foi atingido através do desenvolvimento, como
também àquilo que está em processo de maturação. (VYGOTSKY, 1991, p. 97-98)

Do exposto, consideramos que os fóruns generalistas da internet são espaços


onde a interação e colaboração com pares mais competentes podem possibilitar aos participes
obter conhecimentos e desenvolver compreensões que talvez não fossem capazes de obter
sozinhos, levando-os a novas aprendizagens.

3.2 Novas Aprendizagens

3.2.1 Aprendizagens em Comunidades Virtuais

Neste tópico, retomo o referencial sobre comunidades virtuais objetivando


compreende-las como espaços de interação e colaboração que podem gerar aprendizagens.
Uma comunidade virtual pode ser entendida como uma comunidade de pessoas
compartilhando ideias, relacionamentos e interesses comuns por meios das redes digitais ou
outras redes colaborativas. O primeiro a cunhar o termo “comunidades virtuais” foi Howard
Rheingold (1993), expondo que esta seria “um agregado social que surge na Internet, quando
64

um conjunto de pessoas leva adiante discussões públicas longas o suficiente, e com suficiente
emoção, para estabelecerem redes de relacionamentos no ciberespaço” (p.18), o autor ao
tentar explicar por que as pessoas participam de comunidades sejam elas virtuais ou não
expõe que os indivíduos participam das comunidades objetivando bens ou recursos coletivos
que somente elas, ou a adesão a elas, podem oferecer como: relacionamento social;
conhecimento e comunhão de interesses (SMITH apud RHEINGOLD, 1993).
Na educação, o conceito de comunidade de aprendizagem vem de longe, Silva
(2005), diz que ele é oriundo dos movimentos da Escola Nova e,
“embora expressando ideias diferenciadas conforme as visões pedagógicas dos seus
criadores (de Montessori, de Decroly, de Freinet, etc.) adoptam em comum os
princípios da aprendizagem construtivista e da utilização de metodologias activas,
centradas na realização de projectos, na resolução de problemas e na aprendizagem
cooperativa.” (p.18)

Estes postulados implicam profundas mudanças no ambiente escolar e nas


relações da escola como professor-aluno e aluno-aluno. No ambiente virtual, existem diversas
formas de agregação no ciberespaço podemos destacar as Comunidades Virtuais,
Comunidades de Prática e as Comunidades Virtuais de Aprendizagem. As Comunidades
Virtuais se constituem por trocas contínuas de mensagens entre os participantes, com fluxo
mantido devido aos interesses e motivações dos participantes, que na maioria das vezes,
ocorre de maneira não sistemática (RHEINGOLD, 2000).
Já as Comunidades de Prática possuem 3 elementos estruturais que são: domínio,
comunidade e prática (WENGER, 1998). O Domínio delimita as fronteiras, a temática tratada
pelo grupo, enfim, o que motiva ou gera interesse das pessoas participarem ou não daquele
grupo, importante salientar que ser participante implica num compromisso e identidade com o
grupo. A Comunidade possibilita interações entre os pares e o compartilhamento de ideias
assim como a discussão de questões independentemente do nível de conhecimento,
proporcionando um clima de acolhimento nestes espaços. A Prática evolui com a
comunidade, é um produto coletivo que organiza conhecimento das mais variadas formas
como ferramentas, ideias, linguagem, informações e documentos que os membros da
comunidade compartilham e que tornam suas ações visíveis.
Por fim, as Comunidades Virtuais de Aprendizagem seriam agrupamentos do
ciberespaço organizados em torno de projeto mútuo, constituídas por interesses “comuns de
conhecimento estabelecidos em um processo cooperativo” (MUSSOI, 2007, p.06).
65

Notadamente, estas possuem objetivos educativos bastante explícitos, com planejamento além
de possuírem um ou mais educadores entre os participantes da comunidade.
Wenger (1998) considera que a aprendizagem em comunidades virtuis possui
como principal centro norteador o aprendizado como participação social, expondo que:

“a participação se refere não apenas a eventos locais de comprometimento com


determinadas atividades e com certas pessoas, mas também com um processo de
maior alcance, que consiste em participar ativamente das práticas das comunidades
sociais e em construir identidades em relação a essas comunidades.” (p.03)

E, ao discutir sobre a importancia de aprender e a natureza do conhecimento,


apresenta quatro pontos essenciais para reflexão que são:
“1) somos seres sociais. Este fato, longe de ser uma verdade trivial, é um aspecto
essencial da aprendizagem;
2) o conhecimento é uma questão de competência em relação a certas habilidades
valiosas como cantar, descobrir fatos científicos, consertar máquinas, escrever
poesia, ser amigável, crescer como menino ou menina, etc;
3) conhecer é uma questão de participar da conquista dessas habilidades, ou seja, de
se envolver de maneira ativa no mundo;
4) o significado - nossa capacidade de experimentar o mundo e nosso compromisso
com ele como algo significativo - é o que o aprendizado deve produzir.” (p.03)

Esses pontos expostos acima mostram o quanto o aprendizado esta relacionado


a participação social e a apredizagem esta relacionada a apropriação de novas práticas. Na
figura abaixo, a autora apresenta componentes importantes para uma teoria social de
aprendizagem em comunidades.

Figura 14: Componentes de uma teoria social da aprendizagem


em comunidades de prática.
66

Fonte: Extraído de Wenger (1998, P.04).

Assim, a aprendizagem em comunidades virtuais, perpassa por elementos como:


significado que pode ser individual e coletivo, o aprendizado como forma de experimentar a
nossa vida e o mundo como algo significativo; prática que seria uma maneia de falar e agir
que pode apoiar um compromisso mútuo de ação, um aprendizado como ação; comunidade
entendido como local de relação e interação onde nossas habilidades e participação são
valiosas; e por fim a identidade relacionada a mudanças que o aprendizado produz em quem
somos. Esses elementos estão interconectados e relacionados mutuamente.
Nos fóruns estudados, observei que o aprendizado se da principalmente por meio
das trocas e colaborações, observamos o engajamento e a participação ativa de seus membros
com o desenvolvimento de aprendizagens autenticas, muitas vezes validadas no interior da
comunidade.

3.2.2 Aprendizagem Hacker

A aprendizagem, nesta perspectiva, tem como ponto de partida a ética Hacker que
para Himanen (2001), pode ser pensada considerando-se três níveis, a saber: a Ética do
Trabalho; a Ética do Dinheiro e a Nética. Diferente da ética protestante do trabalho, derivada
do ensaio de Max Weber “A ética protestante e o espírito do capitalismo”, que coloca o
conceito de trabalho na base do espírito capitalista iniciado no século XVI, o trabalho na
67

perspectiva hacker deve conter: paixão; motivação; liberdade; criatividade; flexibilidade, onde
os indivíduos atribuem significados as atividades desenvolvidas; compartilhamento e valor
social. Percebe-se que a paixão consegue melhor descrever pontos importantes do espirito
hacker como: dedicação, inspiração e felicidade, a palavra paixão consegue descrever o tom
geral de sua atividade.
Sobre a ética do dinheiro, os Hackers entendem que este não é um fim em si
mesmo, diferente da ética protestante na qual a motivação é o dinheiro e o trabalho é fonte de
aceitação social. Para os Hackers, a motivação do trabalho é obter o reconhecimento entre os
pares, ou na comunidade, e este reconhecimento deve estar imbuído de paixão, ou seja, é
resultado de uma ação apaixonada. Como vemos, para eles o trabalho tem um valor diferente
da lógica protestante, tem um valor social que muitas vezes o dinheiro não pode dimensionar.
Por fim, temos o terceiro ponto da ética hacker, a Nética, ou ética da rede, que é a forma
como os hackers se relacionam em rede, no cuidado nas relações dentro da comunidade, se
referindo aos princípios de conduta necessários para a comunicação em rede. Os valores
presentes na ética hacker não são exclusivos dos espaços tecnológicos, eles também ser
pensados e desenvolvidos em ações ou práticas como na área da educação.
A cultura Hacker possui origens na academia, diferente da ética protestante que
tem suas origens no monastério. Assim, tendo raízes no modelo acadêmico, configura-se,
como um modelo aberto e que cresce ao ser compartilhado e melhor aprofundado pelos pares,
oposto a um modelo fechado e autoritário, onde um ente superior define os objetivos e como o
grupo de subordinados irá executá-los. Esta aprendizagem, como colocam Himenan (2001) e
Levy (2012), mesmo tendo origem no modelo acadêmico, se diferencia deste no sentido que
as credencias acadêmicas não são levadas a sério, os “hackers devem ser avaliados por seus
resultados práticos, e não por falsos critérios como formação acadêmica, idade, raça, ou
posição social” (LEVY, 2012, p.29).
O processo de aprendizagem hacker se inicia com um problema interessante,
seguido do trabalho para resolvê-lo. Em seguida, este problema é submetido a prolongados
testes e após todo esse trabalho, tem-se a culminância com a comunicação dos resultados.
Nesta perspectiva, podemos citar Linus Torvalds que aprendeu a programar com um
computador herdado do avô, ele sabia dos problemas da máquina e procurou aprender como
resolvê-los, muitos hackers aprendem a programar assim de forma informal, mesclando
momentos de autodidatismo em seu isolamento e de busca de ajuda e de compartilhamento de
conhecimentos em redes, nos fóruns das comunidades virtuais. Uma questão importante é que
68

quando um hacker aprende ele ensina os outros, procurando desenvolver formas de as pessoas
aprenderem com o seu trabalho e o reconhecimento dos pares faz parte deste processo
(HIMANEN, 2001; LEVY, 2012). Poderíamos considerar quatro níveis no modelo de
aprendizagem hacker, sintetizados na imagem XXX, abaixo.

Figura 15: Níveis do processo de aprendizagem Hacker

Fonte: produzido pelos autores a partir de Himenan (2001).

Abaixo, apresento o recorte de um dos fóruns estudados o Hardmob, os diálogos


mostram que a partir de um problema exposto ao grupo, se inicia um trabalho na tentativa de
resolução do problema.

Fala 01: Vc conseguiu solucionar este problema? Estou com 2 caixas que pretendia
usar na tv e em ambas as caixas ocorre este "silêncio" na caixa por alguns segundos
quando ligada por p2.
06 responde: Percebi que é só quando algo que está passando tem algum momento
de silêncio daí a caixa fica muda.
Fala 02: Eu não testei via P2, vc já tentou desligar o stand-by automático? Já tive
esse problema.
Fala 12: Aqui tá acontecendo isto também. O engraçado é que assisti um filme
ontem usando o cabo P2 e foi sem problema algum.
Fala 12: Minha conclusões são as seguintes: - A caixa possui um recurso para
desligar a reprodução quando não está saindo som para evitar que, por exemplo,
quando eu vá conectar o cabo num aparelho (celular, TV, qualquer coisa).- Para
tapear esse recurso, é necessário deixar o volume da fonte de áudio no máximo (ou
mais alto, como queira) e passar a controlar o volume na caixa.- Se estiver
reproduzindo através de um computador (usando o VLC, o Media player classic ou
qualquer player mais configurável), é possível pré-amplificar o áudio, o que
minimiza o problema. Aqui funcionou e por enquanto não percebi mais esses cortes.

As trocas acima apresentam discussão sobre o uso do cabo P2 5 pelos participantes


e as dificuldades encontradas nesta utilização, e por fim, um dos interagentes apresenta uma
síntese a partir das trocas estabelecidas e dificuldades reladas. Ao longo destas discussões, os
participantes compartilharam ideias e propõem soluções para elucidar o problema,
5
P2 é a entrada para fones de ouvido mais comuns entre os aparelhos multimídia. Ele o auxilia a
conectar um CD player, MP3 player, Notebook, Microcomputador a um dispositivo de som como um
Amplificador, Subwoofer, Home Theater, Rádio ou até mesmo em alguns casos TV. Fonte:
techtudo.com.br/perguntas/218139/entrada-p2.
69

construindo assim processos de aprendizagem que podem ajudar a renovar também práticas
de ensino-aprendizagem na educação formal em tempos de sociedade em rede. Este modelo
de aprendizagem hacker poderia ser definido como “Academia de Rede”, com a característica
de ser aberta, ser um ambiente de aprendizagem em continua evolução, sendo criado pelos
próprios hackers.
Pretto e Bonilla (2015), apresentam alguns elementos para o sistema educacional
numa perspectiva hacker, sendo os seus principais princípios:

“• O acesso a todo e qualquer meio de ensino deve ser total aos que querem
aprender.
• Desconfiar da autoridade significa pensar que os professores, livros e quaisquer
fontes de informação devem ser lidos com desconfiança.
• Os processos de aprendizagem precisam estar centrados numa lógica baseada na
criação e produção de culturas e conhecimentos e não no consumo de informação,
da mesma maneira que deve ser defendido o livre acesso a todo tipo de informação.
• É necessário compreender a diversidade de saberes, culturas e conhecimentos
trazidos para a escola por alunos, professores, mídia e materiais didáticos.
• A cópia é parte do processo de aprendizagem e deve ser defendida, assim como o
livre acesso a todo tipo de informação.
• O erro não deve ser criminalizado e nem mesmo evitado, pois ele faz parte dos
processos de aprendizagem que têm como foco a busca de formar cidadãos criadores
de conhecimentos, saberes e culturas.
• A arquitetura das escolas deve ser tal que possibilite que as atividades se deem de
forma muito mais livre e coletiva” (BONILLA E PRETTO, 2015).

Segundo a cultura hacker, professores ou montadores de fontes de informação,


são pessoas que apenas aprendem alguma coisa, e isso é importante, no sentido que estas
pessoas estariam mais aptas a ensinar os outros que os chamados experts que dificilmente
conseguem desenvolver o mesmo nível de simplificação necessário para ensinar algo a
alguém que estaria em níveis inferiores de aprendizado essa frase ficou difícil de entender
(HIMENAN, 2001). Assim, na comunidade hacker os experts se consideram como alunos e
podem apenas comportar-se como parceiros, isto graças ao seu conhecimento mais
aprofundado.

3.2.3 Aprendizagem Ubíqua


70

As novas tecnologias e redes digitais originaram novas aprendizagens, um novo


ser humano está emergindo e, sobre as novas aprendizagens temos a aprendizagem Ubíqua
oriunda dos, aceleram-se as possibilidades de aquisição de conhecimento e, de certo modo, a
espontaneidade e naturalização de sua absorção.” e se esta aquisição do conhecimento
“implica a aprendizagem, o que brota aí é aquilo que venho chamando de aprendizagem
ubíqua” (p.19).
Santaella (2014) considera que “Sendo ubíquos o acesso, os contatos e as trocas
onipresente” apresenta seis dimensões importantes de serem destacadas. Sua primeira
dimensão está relacionada à ideia de uma aprendizagem que ocorre a qualquer hora e
qualquer lugar (COPE e KALANTZIS, 2010), no que concerne a aprendizagem essa
ubiquidade espacial transfere para o aprendiz total autonomia do seu aprendizado. Uma
segunda dimensão sobre a aprendizagem ubíqua esta relacionada à portabilidade dos
dispositivos moveis onde “a portabilidade desses dispositivos, por sua vez, cria novos tipos de
práticas sociais” (p. 16), o telefone, por exemplo, não serve apenas para atender uma ligação,
serve também para ver as horas, o tempo, entrar nas redes digitais, participar de discussões,
pesquisar informações entre outros usos.
A terceira seria a interconectividade entre vários dispositivos, um exemplo são
casas e automóveis inteligentes, essa interconectividade gera uma inteligência extensível que
tecnologicamente podemos aprimorar apoiar e complementar conhecimentos por meio dos
dispositivos, por outro lado, socialmente possibilita “conectar com pessoas que sabem coisas
ou podem fazer coisas que não poderíamos fazer nós mesmos” (17). Na quarta dimensão
temos o fato de que a ubiquidade quebrou barreiras entre as varias esferas da vida que
tradicionalmente eram vistas de forma separada como trabalho/lazer,
aprendizado/entretenimento, acesso/criação de informação, público/privado.
A quinta dimensão esta ligada a dimensão temporal com a onipresença espacial e
a interconexão constante, ressaltasse que a questão temporal vai além da simples
disponibilidade ela esta relacionada a um senso de tempo alterado, que leva a um aprendizado
ao longo da vida que “não é relegado a certa idade ou tempo, certa instituição, a certo
conjunto de estruturas motivacionais” nesta visão de mundo “ser é aprender”. E, por fim a
dimensão da ubiquidade no sentido das redes globalizadas, dos fluxos sejam de pessoas,
informações, ideias etc. Estas dimensões são importantes para se entender as amplas e
profundas transformações oriundas das tecnologias nas aprendizagens das pessoas.
71

Importante destacar as diferenças entre aprendizagem ubíqua, e-learning, m-


learning e autoformação, onde a e-Learning – é a aprendizagem por meios eletrônicos,
depende do uso do computador e seus programas; já a m-learning – é a aprendizagem móvel,
refere-se ao uso de dispositivos portáteis, portanto ubíquos, estando relacionada a processos
educativos, vai se diferenciar da aprendizagem ubíqua, pois esta é livre, solta e ocasional, já
na autoformação existe uma intencionalidade previa, uma busca em querer se instruir. Na
aprendizagem ubíqua o aprendiz tem autonomia do aprendizado se diferenciando da
autoformação, pois não há uma intencionalidade para o aprendizado.
Ao olhar os fóruns podemos observar elementos da aprendizagem ubíqua como a
presença de um interesse compartilhado que une pessoas e ajudam a desenvolver um estado
de prontidão a colaboração e ajuda mutua, outro ponto que podemos observar nos fóruns é a
espontaneidade, marca da ubiquidade. E, também a presença de aprendizagem colaborativa.
Santaella (2014) expõe que na aprendizagem ubíqua “o tipo de aprendizado que se desenvolve
é aberto, individual ou grupal, podendo ser obtido em quaisquer ocasiões, eventualidades,
circunstâncias e contextos.” (p.19). Nesta aprendizagem a informação se transforma em
aprendizado quando é incorporada a outros usos.

3.2.4 Conectivismo

O conectivismo é uma teoria que procura descrever como a aprendizagem


acontece na era digital. Siemens (2006; 2008), ao observar que as principais teorias de
aprendizagem na atualidade não dão conta de entender as aprendizagens em rede, apresenta o
Conectivismo como uma possível teoria de aprendizagem nas redes. Para o conectivismo
conhecimento e aprendizado são processos que ocorrem em ambientes nebulosos, ambientes
de elementos centrais variáveis - não inteiramente sob o controle do indivíduo e a
“aprendizagem pode residir fora de nós mesmos (dentro de uma organização ou banco de
dados), estando focada em conectar conjuntos de informações especializadas. As conexões
que nos permitem aprender mais são mais importantes que o nosso atual estado de
conhecimento.” (p. 30).
Os Princípios do conectivismo são:

• Aprendizado e conhecimento exigem diversidade de opiniões para apresentar o


todo...e permitir a seleção da melhor abordagem.
72

• Aprender é um processo de formação de rede para conectar especialistas, nós ou


fontes de informação.
• O conhecimento repousa em redes.
• O conhecimento pode residir em aparelhos não humanos e o aprendizado é
ativado/facilitado pela tecnologia.
• Capacidade de saber mais sobre o que é atualmente conhecido.
• Aprender e conhecer são constantes, em andamento (não estado final ou produtos).
• Capacidade de ver conexões e reconhecer padrões e fazer sentido entre campos,
idéias e conceitos, é a principal habilidade dos indivíduos hoje.
• Moeda (conhecimento preciso e atualizado) é o objetivo de todos atividades de
aprendizagem conectivistas.
• Tomar decisões é aprender. Escolhendo o que aprender e o significado das
próximas informações é visto através das lentes de uma realidade em mudança. Uma
resposta certa agora, pode estar errada amanhã devido a alterações no clima das
informações que afetam o decisão. (p. 31)

Destes princípios tiramos que para o conectivismo “saber onde" e "saber


quem" são hoje mais importantes do que “saber o que e como”, pois um mundo rico em
informações requer a capacidade de primeiro determinar o que é importante e como
permanecer conectado e informado conforme as informações mudam. Diferente da
perspectiva tradicinal as redes apresentam um turbilhão de informações e o conectivismo
possibilita ao individuo funcionar com esse grande fluxo de conhecimentos, desta forma “vez
de o indivíduo ter que avaliar e processar cada peça de informação, ela cria uma rede pessoal
de nós confiáveis: pessoas e conteúdo, aprimorados pela tecnologia... O aluno agrega nós
relevantes e confia em cada nó individual para fornecer conhecimento necessário. O ato de
conhecer é transferido para o própria rede” (p.33), onde a aprendizagem se constroi em
função de uma ecologia com diversas opções e oportunidades.
Siemens (2006) observa que a rede possui inumeros nós e que ao longo do tempo
nem todos continuam relevantes no processo de apredizagem, isto se deve ao fato de que
continuamos remodelando a rede na busca de informação e ambientes que posibilitem nossa
aprendizagem, assim o enfrequecimento dos nós na rede pode estar relacionado à perda de
ligação devido às novas relevancias que desenvolvemos.
Do exposto, concluimos que a aprendizagem em rede posibilita a analise, seleção
e avaliação do conhecimento, no entanto, alguns elementos da aprendizagem estão
relacionados a nossos valores, crenças e atitudes e outros se relacionam sobre como
realizamos nosso trabalho, estas questões vão impactar na forma como buscamos informação
e aprendenmos em rede. O conectivismo considera que para haver aprendizagem o
conhecimento precisa ser relevante, desta forma o participe precisa ver relevancia no que vai
aprender, do contrario a motivação não sera decretada, outros elementos para a aprendizagem
73

na perspectiva conectivista seriam a tomada de decisão, exploração, seleção como forma de


adquirir conhecimento.

4. OBJETIVOS
74

Os fóruns generalistas se apresentam como espaços ricos de trocas na internet, se


tornando um ambiente potencial de aprendizagens em rede. Essas aprendizagens iniciam pelo
elemento motivação que inicialmente gera a participação no ambiente, essa motivação possui
alguns componentes em seu entorno que podem influenciar numa maior ou menos
participação, a exemplo do tipo de fórum, a cibercultura, sociabilidades, o tipo de comunidade
virtual além de outros itens que possam atuar neste elemento que influencia os participantes
de estarem e colaborarem nos fóruns observados. Considerando que as motivações podem
gerar trocas, faz necessário analisar os tipos de trocas e os seus discursos de forma a
identificar as aprendizagens neste espaço.
Essas novas aprendizagens podem ser interpretadas a luz de elementos da teoria
sócio-interacionista numa aprendizagem situada nas trocas sociais, ou por meio de elementos
das novas aprendizagens em rede como a aprendizagem ubíqua; aprendizagem hacker,
aprendizagem em comunidades virtuais e conectivismo. Do exposto, abaixo apresento os
objetivos gerais e específicos desta pesquisa.

4.1 Objetivos Gerais

A pesquisa objetiva investigar como se constituem as motivações dos


participantes e as aprendizagens desenvolvidas nos fóruns generalistas da internet.

4.2 Objetivos específicos

 Observar e analisar os tipos de trocas entre os participantes;


 Identificar as motivações dos participantes de participarem, interagirem e colaborarem
nos fóruns;
 Analisar os discursos produzidos nas trocas neste espaço.

5. METODOLOGIA
75

Nesta seção as questões relativas ao método serão apresentadas, o método define os


procedimentos utilizados para alcançar os objetivos e, consequentemente, atingir os resultados
da pesquisa.
A tese será construída em três etapas na primeira se fará a escolha dos dois fóruns que
serão pesquisados, levando em consideração questões como temática, tipo de estrutura, tipos
de linguagens, moderação, funcionalidade e liberdade de discurso, após a escolha, se fara a
observação etnográfica do fórum. Na segunda etapa se fará o mapeamento dos dados
coletados em dois níveis o macro de forma a identificar as motivações e os tipos de trocas
com o mapeamento das participações, interações e diálogos presentes nas maiores threads
(blocos com o maior número de trocas de mensagens) e no nível micro por meio da analise do
discurso das mensagens objetivando analisar as trocas, procurando compreender como o
processo de construção de conhecimento nos fóruns generalistas da internet está relacionado
aos padrões de interação e discurso. Por fim, se fara a analise dos resultados obtidos nos
níveis macro e micro de forma a construir entendimento sobre as aprendizagens
desenvolvidas nos fóruns generalistas da internet pesquisados.
Considerando que os “fóruns generalistas da internet” objeto de estudo apresentam
ausência de base solida de conhecimento, escassez de estudos empíricos e grande quantidade
de dados provenientes do campo de pesquisa, são fatores que encaminham
metodologicamente o estudo para associação da perspectiva Etnográfica do ciberespaço
(RIFIOTIS, 2010; SEGATA e RIFIOTIS, 2016) com a grounded theory ou Teoria
Fundamentada nos Dados – TF (CHARMAZ, 2009). A TF como método de pesquisa concebe
que a teoria emerge dos dados, isso a partir de uma acurada observação, comparação,
classificação, e análise de regularidades e irregularidades do campo de estudo. Já a etnografia
tem por principio a observar, partilhar e captar o “nativo” nas suas condições reais de
existência procurando compreender os significados partilhados, as diferentes essências,
logicas e os significados por meio dos quais as pessoas conferem sentido e organizam a
“realidade" em que vivem.
A associação entre etnografia do ciberespaço e a TF se mostra adequada no sentido de
que a etnografia irá abastecer a construção da TF, onde o pesquisador vai ter proximidade
com a realidade dos sujeitos sem um molde pré-concebido. Assim, a pesquisa vai trilhar pelo
caminho etnográfico no primeiro momento de forma a coletar dados, por meio da observação
e elaboração de diário de campo que posteriormente servirão de base para a construção da
Teoria fundamentada.
76

5.1 Apontamentos Etnográficos

Neste tópico vou discutir questões relevantes sobre a etnografia que podem ajudar
a melhor entender elementos da pesquisa. A etnografia surgiu no campo da antropologia,
encontrando eco nas ciências, principalmente humanas e sociais (FRAGOSO, 2011). Podendo
ser definida como a ciência de descrever grupos humanos, seus comportamentos, instituições
e crenças.
Malinowski (1978) contribuiu para a etnografia por meio da observação, a partir
dele a pesquisa etnográfica procura conviver e olhar para o outro de forma a captar
afetivamente o entorno. Em seu trabalho “Argonautas do Pacífico Ocidental”, ele se deslocou
para a aldeia, longe do convívio de outros homens com imersão na cultura local, procurando
aprender a língua nativa. E mesmo não conseguindo se desvencilhar dos informantes,
empreendeu a observação direta por meio da convivência diária, e participação nos eventos,
considerando que:

um trabalho etnográfico só terá valor científico irrefutável se nos permitir distinguir


claramente, de um lado, os resultados da observação direta e das declarações e
interpretações nativas e, do outro, as inferências do autor, baseadas em seu próprio
bom-senso e intuição psicológica (MALINOWSKI, 1978,p. 18).

Suas observações nos mostram a importância da observação para um efetivo


contato com o objeto de pesquisa. Este contato deve se dar de forma natural e em plena
harmonia com o espaço onde está inserido, somente desta forma o pesquisador poderá captar
efetivamente o que se passa naquela realidade. Para Malinowski, os princípios metodológicos
de um trabalho etnográfico, podem ser agrupados em três unidades que são.

em primeiro lugar, o pesquisador deve possuir objetivos genuinamente científicos e


conhecer os valores e critérios da etnografia moderna. Em segundo lugar, deve
assegurar boas condições de trabalho, o que significa, basicamente, viver mesmo
entre os nativos, sem depender de outros brancos. Finalmente, deve aplicar certos
métodos especiais de coleta, manipulação e registro da evidência” (1978, p. 18).

Além disso, o etnógrafo precisa também estar aprofundado na teoria cientifica e


estar informado de suas últimas descobertas, essas informações não devem conceber a priori o
objeto de estudo e sim proporcionar reflexões. Sobre isso ele coloca:
77

As ideias preconcebidas são perniciosas a qualquer estudo científico; a capacidade


de levantar problemas, no entanto, constitui uma das maiores virtudes do cientista -
esses problemas são revelados ao observador através de seus estudos teóricos
(MALINOWSKI, 1978, p. 22).

Malinowski estabeleceu as “bases para a antropologia interpretativa” (BOGDAN


E BIKLEN, 1994, p.25), permitindo nos situar da importância de que para compreender o
outro, devemos “apreender o ponto de vista dos nativos, seu relacionamento com a vida, sua
visão de seu mundo” (MALINOWSKI, 1978, p. 33; 34).
Neste sentido, para estudar fóruns generalistas da internet é necessário se despir
das preconcepções teóricas sobre estes espaços, suas relações e seus modos de conduta. Sendo
necessário primeiro anotar uma grande quantidade de detalhes, em seguida fazer observações
detalhadas e por fim fazer coletar narrativas, expressões características, e contribuições sobre
visões de mundo, somente desta forma será possível investigar rigorosamente a “cultura
nativa na totalidade de seus aspectos. A lei, a ordem e a coerência que prevalecem em cada
um desses aspectos são as mesmas que os unem e fazem deles um todo coerente” (p. 24).
Outro autor que entende a importância de a etnografia capturar as minucias, os
detalhes, as particularidades da cultura é Geertz (2008), propondo uma antropologia
interpretativa que analise as sociedades a partir de uma descrição densa. Ele considera que
praticar a etnografia é:

estabelecer relações, selecionar informantes, transcrever textos, levantar


genealogias, mapear campos, manter um diário e assim por diante. Mas não são
essas coisas, as técnicas e os processos determinados, que definem o
empreendimento. O que o define é o tipo de esforço intelectual que ele representa:
um risco elaborado para uma "descrição densa" ” (GEERTZ, 2008, p.4).

Desta forma, a etnografia feita por meio da “descrição densa” possibilita perceber
as particularidades, ou miudezas por meio das seguintes características: “ela é interpretativa; o
que ela interpreta é o fluxo do discurso social e a interpretação envolvida consiste em tentar
salvar o ‘dito’ num tal discurso da sua possibilidade de extinguir-se e fixa-lo em formas
pesquisáveis” (GEERTZ, 2008, p.31), assim somente a descrição densa possibilita diferenciar,
os olhares nervosos, o olhar irônico, o olhar de conspiração com outra pessoa e, perceber a
diferenciação desses olhares só será possível se o etnógrafo for capaz de captar as diferenças
de significado buscando o “ponto de vista dos nativos” (GEERTZ, 2008).
Geertz considera o homem como emaranhado de teias o “homem é um animal
amarrado a teias de significados que ele mesmo teceu”. E, a partir disso entende cultura
78

“como sendo essas teias e a sua análise, portanto, não como uma ciência experimental em
busca de leis, mas como uma ciência interpretativa, à procura do significado”. As proposições
acima me fazem refletir sobre meu objeto de pesquisa, que também é constituído deste
emaranhado de significações, e como tal é importante que a prática etnográfica seja pautada
em descrições densas, registradas e anotadas para consultas posteriores e geração de dados.
Essa descrição densa nos fóruns deve ser capaz de captar as sutilezas, nas relações dos
participes nos fóruns, as atuações encontradas entre outros elementos que vão constituir o
ponto de vista dos integrantes daquele grupo.

5.2 Etnografia em Contextos de Cibercultura

A etnografia é uma prática consagrada na Antropologia, que procura compreender


de forma mais completa a cultura dos povos, de grupos sociais. A partir do final do século
XX, os pesquisadores começam a ver o ciberespaço como um local onde se forma uma nova
cultura a cibercultura. Assim, como exporto por Rheingold, nestes espaços as pessoas:

usam palavras projetadas em telas para trocar afeto e argumentar, engajar em


discussões intelectuais, comercializar, trocar conhecimentos, dividir emoções, fazer
planos, fofoca, conhecer pessoas novas, namorar, encontrar amigos e perdê-los,
jogar, flertar, criar coisas muito boas e jogar papo fora. Pessoas em comunidades
virtuais fazem praticamente tudo o que pessoas fazem na vida real, com exceção
daquelas que exigem a presença física de seu corpo. Você não pode beijar nem dar
um soco em ninguém, porém uma série de coisas podem ser feitas sem as fronteiras
físicas. (1993, p. 5).

As transformações tecnológicas geram modificações nas formas de pensar,


sentir e interagir com o outro. E, também a geração de outros espaços de cultura,
parafraseando Castells, temos hoje uma galáxia da internet a ser estudada, para ele nossos
meios de comunicação são metáforas:

Nossas metáforas criam o conteúdo da nossa cultura. Como a cultura é mediada e


determinada pela comunicação, às próprias culturas, isto é, nossos sistemas de
crenças e códigos historicamente produzidos, são transformados de maneira
fundamental pelo novo sistema tecnológico, e o serão ainda mais com o passar do
tempo. (CASTELLS, 2003, p. 414).

A partir do momento que a internet despontou como um espaço, um local de


pesquisa, veio também questionamentos sobre como fazer pesquisas nesses novos espaços?
Qual abordagem usar? Que técnicas? Estas são questões que vivenciamos enquanto
79

pesquisadores. Desta forma, concordo com Escobar (2016), no sentido de entender a


etnografia como uma prática privilegiada para estudos da cibercultura.
Hine (2000) defende a etnografia virtual, como uma abordagem que estende a
tradicional noção de campo, localizada numa perspectiva presencial, para a observação das
interações mediada por computadores, caracterizada pelo “não lugar”, permeada por uma
comunicação hipertextual, marcada pela flexibilidade, características do ciberespaço.
Entendendo que esta metodologia seria:

ideal para iniciar esses estudos, na medida em que pode ser usado para explorar as
complexas inter-relações existentes entre as afirmações que estão previstas para as
novas tecnologias em diferentes contextos: em casa, espaços de trabalho, nos meios
de comunicação de massa, e em revistas e publicações acadêmicas (2000, p. 13)

A etnografia virtual observa os detalhes, as maneiras em que nós experimentamos


a utilização de uma tecnologia, possibilitando compreender como a rede se configura através
dos seus usos. Poderíamos conceber o mundo digital como um cenário onde as interações
sociais são mediadas pela tecnologia. Neste espaço as redes são altamente dinâmicas e
complexas, incluem, além das ligações entre documentos, postagens, mensagens, toda uma
totalidade de relações sociais.
A internet como objeto de estudo apresentaria dois tipos de abordagem teórica,
um na perspectiva da internet enquanto cultura e outro da internet como artefato cultural
(HINE, 2000). Para a autora os estudos sobre a internet enquanto cultura enfoca o contexto
cultural, onde a internet é vista num plano diferente do off-line. Já a internet enquanto artefato
cultura vê a tecnologia como constitutiva da cultura. E, finaliza expondo que “Para dar conta
da Internet em ambas às dimensões: como cultura e como artefato cultural, é necessário
repensar a relação entre espaço e etnografia (2000, p.19). A abordagem teorica sobre a
internet nesta pesquisa, a entende como cultura.
O uso da etnografia em pesquisas no campo da cibercultura pode apresentar
diferentes terminologias que apresentam diferenciações quanto ao campo, design e problema
da pesquisa. Assim, temos a etnografia virtual (HINE, 2000), Netnografia (KOZINETS,
2010) e por fim, a perspectiva etnografia que será adotada nesta pesquisa, que é a proposta
por Rifiotis (2010; 2016), propondo-se a superar dicotomias da cibercultura e que dialogue
com os discursos e práticas sociais.
Rifiotis (2010) expõe vários elementos de dificuldades no campo de estudos da
cibercultura, como a questão da observação direta e participante, a coleta de dados, a redação
80

do diário de campo, a realização de entrevistas, entre outros. Neste sentido o autor aponta
orientações, a exemplo do diário de campo, instrumento da pesquisa antropológica,
considerando que este não deve “ser confundido com um simples “tomar nota”. A real
importância do diário de campo reside exatamente no vaivém entre notas e campo, a reflexão
sistemática entre experiência parcial e a busca de recorrências significativas” (2010, p.21). O
autor indica outros pontos a serem considerados na pratica etnográfica em contextos de
cibercultura, elencados abaixo, como:

- Considerar uma definição operacional do conceito de cultura;


- Olhar o outro, e assim considerar os modos de socialização dos “nativos”,
“usuários”, “internautas”, etc.;
- Aprofundar reflexões sobre a diferença das interações mediadas pelo
computador e a face a face, pessoa x avatar e ser na/pela internet;
- Considerar o textual, as dimensões da fala procurando as especificidades das
conversas escritas;
- Refletir os limites do on e off-line,
- E, por fim, a dimensão ética da pesquisa. (RIFIOTIS, 2010)

Estes pontos devem ser norteadores no desenvolvimento de uma pesquisa de


cunho etnográfico, quer seja pela especificidade do objeto de estudo ou como possibilitadores
de reflexões que enriqueçam o campo de estudo da cibercultura. Assim, como já foi
explanando os dados coletados na etnografia no ciberespaço possibilitará alimentar a
construção da Teoria Fundamentada de forma atingir os objetivos da pesquisa. No projeto
piloto, as observações etnográficas possibilitaram, entre outros exemplos, a coleta de dados
que gerou o recorte abaixo que discorre sobre as normas de conduta de um fórum e sua efetiva
aplicação no tópico pesquisado.

Mesmo com todas as regras, já observei mensagens que infringiam as normas,


contudo neste tópico nunca vi ninguém ser expulso e/ou advertido, mas pelas
conversas entre os participantes isso acontece em outros tópicos.
81

No enxerto acima, a partir da observação do fórum UOL, discorro sobre um


paralelo relativo às normas do fórum e as mensagens que infringiam tais regras presentes
neste fórum, num primeiro momento se poderia pensar que todos os tópicos aceitavam tal
infração, sem qualquer tipo de punição, no entanto a observação etnográfica possibilitou
compreender que a infração estava relacionada aos acordos do grupo naquele tópico
especifico e não em todos os tópicos do fórum da UOL. Como vemos, a minuciosa e densa
descrição etnográfica possibilita ver particularidades e miudezas do contexto, sendo capaz de
captar elementos a partir do ponto de vista dos “nativos” que são os participantes do grupo.

5.3 Teoria Fundamentada

A TF associada à etnografia do ciberespaço possibilitará identificar as motivações


e os tipos de trocas nos fóruns a serem estudados. Fragoso (2011) considera que esta
perspectiva metodológica pode trazer “muitos elementos interessantes para a pesquisa no
ciberespaço” (p.83). Cabe salientar que os métodos da teoria fundamentada seria um conjunto
de princípios e práticas, não uma bula com prescrições prontas. Charmaz (2009) expõe que
ESTA abordagem que não propõe prescrições, porém apresenta componentes determinantes
para a sua prática como:

- O envolvimento simultâneo na coleta e na análise dos dados.


- A construção de códigos e categorias analíticas a partir dos dados, e não de
hipóteses preconcebidas e logicamente deduzidas.
- A utilização do método comparativo constante, que compreende a elaboração de
comparações durante cada etapa da análise.
- O avanço no desenvolvimento da teoria em cada passo da coleta e da análise dos
dados.
A relação de memorandos para elaborar categorias, especificar suas propriedades,
determinar relações entre as categorias e identificar lacunas.
- A amostragem dirigida a construção da teoria, e não visando a representatividade
populacional.
- A realização da revisão bibliográfica após o desenvolvimento de uma análise
independente. (p.19).

Como vemos a Teoria Fundamentada não parte de teorias já existentes, ela se


fundamenta a partir de dados oriundos do extrato social sem a presunção de refutar ou provar
seus achados, mas, sim, acrescentar novas perspectivas para elucidar o objeto pesquisado.
A construção das categorias da tese, será realizada pelo processo de codificação
na prática da TF que procura categorizar segmentos de dados com uma denominação concisa
que “simultaneamente, resume e representa cada parte dos dados” (CHARMAZ, 2009, p. 69).
82

Podemos dizer que a codificação é o esqueleto da análise, a estrutura analítica que construirá
a analise sendo um ele fundamental entre a coleta e o desenvolvimento de uma teoria para
explicar os dados.
No projeto piloto a observação etnográfica possibilitou ver padrões de
participação e interação dos membros do grupo. Assim, observamos que os interagentes ao
participarem das discussões, desenvolviam certos padrões de interação, verificamos que em
determinados momentos os partícipes ao postarem no fórum procuravam incitar uma
discussão, em outros aprofundar algum assunto por meio da troca de ideias e informações, na
tentativa de chegarem ha um consenso. Já em outros momentos suas postagens,
principalmente no fórum hardMOB, os participes procuravam sintetizar uma ideia a partir da
discussão de um problema anterior e, por várias vezes, verificamos publicações que apenas
reagiam a uma postagem sem evoluir nas trocas. E, com base nestes dados coletados, a
categoria Interação foi ampliada nas subcategorias listadas no quadro 03.

Quadro 03: Categoria e Subcategoria Interação


Categoria Subcategoria Sigla Indicador F
o Interação ID Ocorre quando o participante expõe um assunto e n
t Discursiva/ quer provocar discussões. e
: Questionadora
Interação Reativa IR Quando uma ação de alguém provoca uma
reação/resposta, seriam as trocas entre humanos-
humanos. É de natureza reativa.
Interação IDIA Quando se tem o maior nível e aprofundamento do
Dialógica tema, se dão por meio do diálogo, trocas de ideias e
informações onde a fala entre dois ou mais
participantes chegam e/ou tentam chegar a uma
verdade comum.
Interação IA Seria uma ideia sintetizadora postada e ocorreria
INTERAÇÃO Argumentativa quando o participante procura chegar a uma
conclusão sobre alguma dificuldade procurando
resolver um problema.
Interação II Um participante e/ou grupos de participantes
Impositiva/ procuram impor a sua ideia, seja por meio de ofensa
Imperativa e/ou menosprezo ao argumento do outro participante,
no fórum.
Interação IM Um participante utiliza outras formas de interação
Multimodal como memes, imagens, vídeos, giphy e outros
recursos técnicos.
DERIVA D Ocorreriam quando a postagem parece se distanciar
da questão inicial ou das principais questões que
estão sendo tratada no tópico.
Elaborado pela autora
83

As categorias e subcategorias construídas no projeto piloto “revelam a forma


como selecionamos, separemos e classificamos os dados para iniciar uma avaliação analítica
destes” (CHARMAZ, 2009, p. 69) e, a partir do exercício metodológico desenvolvido no
projeto piloto, nós iremos seguir os mesmos passos para fazer a classificação e codificação
das trocas dos fóruns selecionados na tese.
Codificar significa nomear segmentos dos dados com uma classificação que, ao
mesmo tempo, categoriza, resume e representa cada parte dos dados. A codificação na TF
compreende pelo menos duas fases principais, “1) uma fase inicia que envolve a denominação
de cada palavra, linha ao segmento de dado” e posteriormente por “2) uma fase focalizada e
seletiva que utiliza os códigos iniciais mais significativos ou frequentes para classificar,
sintetizar, integrar e organizar grandes quantidades de dados” (CHARMAZ, 2009, p.72).

5.4 Análise do Discurso

A análise do discurso possibilitará analisar os discursos produzidos nas trocas


como forma de compreender como o processo de construção de conhecimento nos fóruns
generalistas da internet está relacionado aos padrões de interação e discurso. A análise se
baseará na perspectiva de Bakhtin (1997), considerando também autores que usam coadunam
com sua corrente teórica como (GILES, 2015, HICKS, 1985; 2019; PARKER, 2014;
POTTER, J & WETHERELL, M, 1987). A análise do discurso pode oferecer ideias
importantes sobre a estrutura e organização das conversas on-line (GILES, 2019) que no caso
especifico pode iluminar o entendimento sobre a constituição das aprendizagens nos fóruns.
Bakhtin (1997) considera que o discurso é uma construção linguística relacionada
ao contexto social no qual o texto é desenvolvido, ou seja, as ideologias presentes em um
discurso são diretamente determinadas pelo contexto social e político em que este inserido o
seu autor. Assim, mais que uma análise textual, a Análise do Discurso é uma análise
contextual da estrutura discursiva.
84

“A riqueza e a variedade dos gêneros do discurso são infinitas, pois a variedade


virtual da atividade humana é inesgotável, e cada esfera dessa atividade comporta
um repertório de gêneros do discurso que vai diferenciando-se e ampliando-se à
medida que a própria esfera se desenvolve e fica mais complexa” (BAKHTIN, 1997,
p.279).

Para Bakhtin (1997) os gêneros seriam formas de ação e na interação eles


funcionariam como pontos de referencia para a construção de enunciados. Deste modo, para a
interação é necessário além do domínio das formas linguísticas o domínio do discurso (os
gêneros do discurso).

5.5 Fóruns e participantes da Pesquisa

Os sujeitos da pesquisa, a principio, serão os participantes dos fóruns: Outer


Space no tópico “MUSCULAÇÃO (perda e ganho de peso) Agora com ÍNDICE” e Reddit na
“Comunidade Brasil” (com grupo temático a ser escolhido posteriormente).

Tabela 03: Os espaços e participantes da Pesquisa de Tese.

Tópico Visualizações (V) Quantida Linguagem Estrutura Descrição do


do Fórum e Quantitativo de de de dos da Ambiente
Mensagens (QM) Participan discursos mensagem
tes
MUSCULA V - 28k (28 mil) Não Texto, Linear Este localizado no
ÇÃO (perda QM - 2M (2 aparece imagens, ambiente Outer Space
e ganho de milhões) vídeos no fórum Vale Tudo.
peso) Agora e outros. Sendo um tópico que
com discute sobre a prática
ÍNDICE. da musculação e
questões como perda e
ganho de peso.
Comunidade Não aparece 284.971 Texto, Em Arvore Esta localizado no
Brasil membros imagens, Reddit, um espaço que
vídeos busca unir uma
e outros. comunidade on-line no
compartilhamento de
informações
relevantes. A
“Comunidade Brasil”
é um local de encontro
de brasileiros para
discutir e compartilhar
conteúdos que possam
interessar aos
brasileiros.
Fonte: produzido pela autora
85

A escolha destes fóruns, esta atrelada a diversidade quanto as temáticas,


característica de fóruns generalistas, a forma como os participantes são representados
(anonimamente ou não) nos fóruns; funcionalidade (se é de fácil uso pelos participantes) e
liberdade do discurso.

5.6 Etapas e Ações da Pesquisa empírica nos fóruns

O projeto piloto, possibilitou testar categorias de análise e obter alguns resultados


preliminares que atrelados a estudos empíricos gerou um maior aprofundamento da temática
num nível teórico sobre as aprendizagens e metodológico relacionado a como construir a tese.
E, a partir desses aprendizados, de forma a atingir os objetivos da tese, a pesquisa será
desenvolvida em três etapas, descritas abaixo:

1) Etapa – Escolha dos fóruns e Observação Participante

Na primeira se fará a escolha dos fóruns a serem estudados na tese, levando em


consideração questões como temática, tipo de estrutura, tipos de linguagens, moderação,
funcionalidade e liberdade de discurso, após a escolha, se fara a observação participante e
etnográfica do fórum.

2) Etapa – Pesquisa de Campo

Nesta etapa se fará a pesquisa de campo nos fóruns com a observação, realização
de entrevista qualitativa, além da coleta de dados e outros elementos, importantes e
relevantes, observáveis no ambiente de pesquisa, a observação se baseará nos princípios da
etnografia do ciberespaço (RIFIOTIS, 2010; SEGATA e RIFIOTIS, 2016).

3) Etapa – Análise

Na terceira etapa se fará o mapeamento dos dados coletados em dois níveis: o


nível macro de forma a identificar as motivações e os tipos de trocas, por meio do
mapeamento das participações, interações e diálogos presentes nas maiores threads (blocos
com o maior número de trocas de mensagens) a partir da ocorrência de participação;
86

interação; colaboração; engajamento; compartilhamento, além de outros elementos da


aprendizagem nas redes, para tanto se fará uso da Teoria Fundamentada nos dados
(CHARMAZ, 2009); e nível micro por meio da analise do discurso, de forma a analisar o
discurso nas trocas procurando compreender como o processo de construção de conhecimento
nos fóruns generalistas da internet está relacionado aos padrões de interação e discurso. A
analise do discurso se propõe a compreender as causas ou antecedentes da mensagem, e as
consequências que esta pode provocar nas trocas presentes no fórum mais especificamente
nas threads, o objetivo então é compreender a constituição das aprendizagens nos fóruns
generalistas da internet estudados.
Assim, se fara a analise dos resultados obtidos nos níveis macro e micro de forma
a construir entendimento sobre as aprendizagens desenvolvidas nos fóruns generalistas da
internet pesquisados.
No quadro 03, abaixo, apresento as etapas, ações e período de realização das
ações propostas na tese.

Quadro 04: Etapas da pesquisa


Etapas da Ações Período
Pesquisa
Dezembro de
Escolha dos fóruns 2019
1º Etapa - Janeiro a Março
Escolha dos Observação participante nos fóruns e Fórum 1 (Outer de 2020
fóruns e coleta dados etnográficos. Space)
Observação
Participante Abril a Junho de
Fórum 2 (Reddit) 2020

2º Etapa - Pesquisa de campo nos fóruns com Janeiro a Junho de


Pesquisa de observação, entrevista qualitativa e 2020
Campo coleta de dados materiais.
Mapear as
participações,
interações e
diálogos presentes
nas maiores threads
(blocos com o maior
número de trocas de
mensagens) a partir
da ocorrência de
participação;
interação;
colaboração;
Mapear os fóruns engajamento;
compartilhamento,
além de outros
Nível Macro elementos da
87

aprendizagem nas Julho a Outubro


redes considerando de 2020
elementos da teoria
3º Etapa - sócio interacionista
Análise (aprendizagem
situada nas trocas);
Aprendizagem
hacker (trocas,
compartilhamento,
síntese e divulgação
dos resultados) e
outra novas
aprendizagens.
Analise do discurso
das maiores threads
procurando
compreender como
o processo de
construção de
conhecimento nos
Nível Micro fóruns generalistas Julho a Outubro
da internet está de 2020
relacionado aos
padrões de interação
e discurso.
Catalogação das maiores threads (blocos com o maior número Janeiro a Junho de
de trocas de mensagens). 2020
Novembro a
Analisar e desenvolver resultados Janeiro de 2021
Redação do Redação do texto de qualificação
Texto para 2º Fevereiro a Março
Qualificação de 2021

2º Qualificação Apresentação do Projeto de 2º Qualificação Abril de 2021


Período Pós- Abril a Junho de
segunda Correções e ajustes ao manuscrito da segundo qualificação 2021
Qualificação
Defesa Defesa final da Tese Junho de 2021
Fonte: Produzido pela autora.
88

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