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2 Comédia/Mistério - Peça para dois atores. Constituída por três atos: As discussões / O apagão / A tragédia
3 final.
4 Personagens:
5 MATILDO - Gabriel
6 SHIRLEY – Valter
7 Cenário: Tema principal: Funeral. Mobília: Caixão, cavaletes, sofá, almofadas, telefone, quadros, mesa
8 para o bar, garrafas, bandeja, taças, toalha para a mesa, janela. (Outros objetos podem ser
9 posteriormente adicionados)
10 Ato I – As Discussões:
11 As cortinas se abrem, e entram MATILDO e SHIRLEY já discutindo:
12 MATILDO: Eu já não tinha te falado antes, que era pra comprar um caixão minimamente decente?!
13 SHIRLEY: Falar, cê falou sim, mas de que adianta comprar um caixão bonito, todo enfeitado, se ele já morreu?
14 MATILDO: Pelo menos ele iria pro outro mundo com um pingo de dignidade!
15 SHIRLEY: Ahhh.... Tanto faz, olha, eu não vou gastar todas as minhas economias pros bichos da terra comerem!
16 MATILDO: É bom saber que tipo de mulher que o meu cunhado tinha...
17 SHIRLEY: Hmpf... Como se ficar jogando a culpa em mim fosse adiantar de algo...
18 MATILDO: Adiantar eu sei que não adianta mais, agora que a gente tá aqui.
26 SHIRLEY: Olha, pensando bem, cê deveria se chamar Metildo ein? Porque cê só se mete aonde não é chamado!
27 MATILDO: Pelo menos, eu não preciso de platéia pra discutir... Cê não percebe o mico que cê ta pagando?
29 MATILDO: É claro, só se for da casa da mãe Joana... A propósito, como foi que ele morreu?
31 MATILDO: EU, SUA TANÇA! Claro que não né?! O diacho do teu ex-marido!
36 SHIRLEY: Como você pode falar desse jeito com a sua irmã, seu, seu monstro!
37 MATILDO: É claro né, eu sou o dragão aqui... Não é você não, sua sênil!
38 SHIRLEY: Olha, você não me provoque, se não a minha pressão, a pressão vai...
39 MATILDO: Se for pra subir, abaixar, o raio que o parta, faça logo de uma vez, e não fique enrolando!
40 SHIRLEY: Era pra ser um dia feliz, hoje, esse funeral... E você tem a capacidade de estragar tudo!
42 SHIRLEY: AI!!! AI!!! EU ACHO QUE VOU DESMAIAR! Matildo, liga pra ambulância!
43 MATILDO: Claro, claro, vou ligar pra ambulância, pra funerária, pro tio Tetinha, pra todo mundo...
46 SHIRLEY: Não seu estrupício. A gente precisa ligar pro resto dos parentes pra avisar que o Severo morreu...
55 MATILDO: Menino?!
57 MATILDO: É o que?!
59 MATILDO: Divirta-se...
60 SHIRLEY: Alô, Crosós, Crisóstamo, Cristóstomos... Isso, Crisóstomo! Oi, aqui é a tia Shirley, lembra de mim... Não, a
61 Shirley do Severo... Como que ele tá? Bem morto...
64 MATILDO: Shirley, eu acho que cê deveria ser um pouquinho mais simpática com os outros...
65 SHIRLEY: Eu não vou sair gastando a minha simpatia com qualquer um!
67 SHIRLEY: Ah Matildo, para de drama e liga pra alguém ai... Pode ser a... A vó Neide. Liga pra ela vai.
68 MATILDO: Oi! É da casa da vó Neide? Aqui é o Matildo... Não, ta tudo bem por aqui sim... Quer dizer, na verdade eu
69 tenho uma notícia ruim para contar pra senhora... Não, não, a gente ainda vai te visitar no asilo, é que... Olha para,
70 para de tentar adivinhar! Estupido?! Não, eu não tô sendo estupido, eu só quero dizer que... AAAAAA!!!! VAI FAZER
71 O TEU TRICÔ, VAI! EU SÓ TÔ QUERENDO TE DIZER QUE O FALECIDO ACABOU DE FALECER!
73 MATILDO: Olha, antes que nós tenhamos mais um morto, dá um jeito de ligar logo pro tio Tetinha...
74 SHIRLEY: É, é verdade, ele gostava tanto do tio Tetinha tadinho. Me alcança o telefone!
76 SHIRLEY: Boa tarde, é da casa do tio Tetinha? Aqui é a Shirley, a gente tá ligando pra avisar que o Severo faleceu...
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79 Ato II – O Apagão:
80 SHIRLEY: AI MEU DEUS! O QUE ACONTECEU?!
82 SHIRLEY: Será que não foi o Severo?! Será que ele não veio pra assombrar a gente?
83 MATILDO: Isso, isso, é o Severo sim. Agora me ajuda a procurar uma lanterna...
84 SHIRLEY: Ai meu deus, não brinca com isso Matildo... Vai que é ele mesmo...
92 SHIRLEY: Se eu tivesse feito mais as coisas que ele gostava... Aquela sopinha de feijão...
93 MATILDO: Sexo...
95 MATILDO: Enfim, né? Acontece... Agora ele vai vir te levar junto com ele...
102 SHIRLEY: Era você Matildo?! Cê sabe que com essas coisas não se brinca...
105 MATILDO: Não vou te dar esse gostinho de mais uma discussão, olha, eu achei uma lanterna.
107 SHIRLEY: Mas de que adianta uma lanterna se a gente tá preso aqui?
108 MATILDO: Pelo menos eu vou te mostrar que ele não é uma assombração... Vem cá!
109 SHIRLEY: Matildo, Matil... Não brinca com essas coisas, cê vai se arrepender...
110 MATILDO: SEVERO! VOCÊ ESTÁ AÍ?! VAMOS SEVERO! NOS DÊ UM SINAL! SE VOCÊ REALMENTE ESTÁ AI! Tá vendo?
111 Nada aconteceu...
116 MATILDO: Shirley, eu retiro o que eu disse, eu acho que agora é hora de...
120 MATILDO: Sua velha tansa... kkkkk Te peguei! Foi tudo uma pegadinha... kkkkkk
127 SHIRLEY: Tá bom, tá bom, que seja... Quem é?! Ah... uma carta... especial? O testamento?! Epa, opa... Fechou...
128 Muito obrigada! Matildo, Matildo, olha só!
136 SHIRLEY: Ah... Eu não vou abrir não, vai que é mais uma coisa sua Matildo...
137 MATILDO: Coisa minha?! A, me dá esse troço aqui vai! Eu que vou ler!
145 SHIRLEY pega o testamento das mãos de MATILDO, e dá uma rápida olhada...
146 SHIRLEY: É... Pelo visto é isso mesmo, mas olha, tá bom, podia ser pior né, eu poderia ter ficado toda endividada...
147 MATILDO: Olha, mas meio que é isso mesmo que aconteceu, porque eu não me lembro do Severo ter casa na praia,
148 discos e perucas, e todo o resto...
149 SHIRLEY: Matildo, não vamos nos esquentar com isso... Só, vamo acabar logo, por um fim em tudo isso, e seguir a
150 vida...
151 MATILDO: Mas, tão simples assim? Cê não vai querer discutir nada?
152 SHIRLEY: Não, mesmo que eu queira, ele já se foi mesmo... Não adianta...
154 SHIRLEY: Sim ué! Queres que eu invente algum motivo para discutir?!
155 MATILDO: Não, é que geralmente é tão mais complicado te convencer de algo, e agora, simplesmente te ver decida,
156 acaba me deixando meio perplexo...
157 SHIRLEY: A, então cê tá querendo dizer que eu amo fazer barraco?! É isso?!
158 MATILDO: Esquece o que eu disse... Liga pra funerária, nós precisamos encerrar tudo isso de uma vez...
159 SHIRLEY: Liga tu, que da última vez que eu mexi nesse telefone, deu problema.
160 MATILDO: Mesmo que eu quisesse, eu não tenho mais nenhuma carta na manga.
162 MATILDO: Alô, é da funerária Agora só Falta Você? Oi, aqui é o Matildo, cunhado do Severo, irmão da Shirley... Isso,
163 nós tínhamos um horário agendado com vocês... É, se puderem vir por agora, seria ótimo... Ok, ficaremos no
164 aguardo, muito obrigado...
167 SHIRLEY: Me buscar?! MATILDO: Quem me dera... É... Quer dizer, disseram que já estão vindo buscar o Severo. Coisa
168 de 10 á 15 minutos... Inclusive, uma pergunta, vais junto dele né?
169 SHIRLEY: Sinceramente, eu tava pensando em ficar por aqui, e quem sabe já ir dando uma ajeitada nas coisas...
171 SHIRLEY: Mas pra cortar custos, eu... eu... Acabei cancelando com eles...
172 MATILDO: Pobrezinha, já ta ficando maluquinha já... Ô sua louca, isso é meio que de...
174 SHIRLEY: Olha! Chegou o carro! Vamos Matildo, vai, chama alguém desse povo aí pra te ajudar! Rápido, antes que o
175 carro parta!
176 MATILDO: Se acalma mulher, o defunto já morreu mesmo, não tem por que ter pressa...
178 Nessa hora, MATILDO vai até a plateia e pede a ajuda de quatro pessoas para poderem carregar o caixão. Enquanto
179 eles carregam, ele vai resmungando atrás. Quando MATILDO sai do palco, SHIRLEY arrasta o sofá para o meio dos
180 cavaletes onde o caixão estava, joga as almofadas para o lado, corre atrás da mesa do bar e pega a janela no meio
181 dos panos. Pondo a janela em cima do sofá, e esperando o irmão sair do teatro, ela começa a deliberar sobre um
182 plano para dar um fim no mesmo...
183 SHIRLEY: Certo... Ok, como será que eu vou dar um jeito nele? Pensa Shirley, pensa... Tá, acho que já sei! Vou matar
184 o desgraçado com facadas! Várias devem resolver o problema! Não, pera, mas assim, eu vou sujar tudo de sangue...
185 Vai demorar pra cacete pra limpar, e sempre fica algum cantinho sujo... E se eu der um tiro! Um tiro bem no meio da
186 testa vai dar um jeito... Mas dai tem outro problema né? Imagina só o barulhão que isso vai fazer. Eu vou
187 praticamente me entregar... Pensa Shirley, sua velha burra, pensa... O que que eu posso usar, que não vai fazer
188 barulho, nem vai sujar tudo... AH! JÁ SEI! Arsênico... Isso derruba até elefante! É claro, lógico! Eu posso “fazer” um
189 chá, coloco umas boas gotas, e catapimbas, menos um...
190 Ela vai até o bar, pega dois copos, e põe um sache de chá em cada um enche os copos com água, e acaba
191 esquecendo a colher no copo sem o arsênico.
192 Nesse exato momento, MATILDO retorna meio tristonho, e no susto, ela não consegue esconder muito bem o frasco.
194 MATILDO: Aconteceu que estamos em um velório e o morto acabou de ser enterrado! SHIRLEY: Putz, pior que é
195 mesmo... Meus pêsames, quem era o falecido?
196 MATILDO: Como assim quem era o falecido?! Era o teu marido sua maluca!
197 SHIRLEY: Aí meu deus... É verdade... Pobre Severo, foi dessa pra melhor...
198 MATILDO: Cada dia que passa eu te entendo menos... Mas enfim, eu to com a garganta seca, não tem alguma coisa
199 pra gente tomar, não?
200 SHIRLEY: Olha... Eu tava fazendo um chá pra mim... Se quiseres tá ali na mesa...
201 MATILDO: Pô, até que um chazinho não cairia mal não hein...
203 SHIRLEY: Não, não precisa se levantar, deixa que eu pego pra ti... Deves estar muito cansado A campainha toca...
204 MATILDO: Não vai atender a porta? Afinal, eu até atenderia, mas como me disseram, eu estou muito cansado...
206 Ao ir para o balcão pegar o chá, Matildo percebe o vidro de arsênico e o pó em um copo, quando ele vai jogar o pó
207 fora, acaba percebendo o revóver na pia. Ele pega e esconde o revóver, põe água nos dois copos e volta para o
208 banco. Shirley pega o chá e oferece para Matildo, ele toma e finge-se de morto. Shirley comemora, e levanta da cera,
209 ao virar de costas, matildo levanta e lha dá um tiro. Depois disso, ele aponta a arma para a platéia, e arrasta o corpo
210 morto de Shirley enquanto as cortinas se fecham. Fim