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PROCESSOS

PATOLÓGICOS
Aterosclerose
Fernanda dos Santos Petry

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

> Identificar as causas relacionadas à aterosclerose.


> Explicar a fisiopatogenia da aterosclerose.
> Resumir os fatores clínicos associados à aterosclerose.

Introdução
Doenças cardiovasculares têm sido associadas a alta morbidade e mortalidade.
Dados da Organização Mundial da Saúde mostram que as duas causas líderes
de morte no mundo atualmente são doença isquêmica cardíaca e acidente
vascular cerebral (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2021). Esses dados também
são verdadeiros para o Brasil, onde as doenças cardiovasculares são o principal
motivo de mortalidade desde a década de 1960 (OLIVEIRA et al., 2020).
A aterosclerose é uma doença lentamente progressiva, caracterizada pelo
desenvolvimento de lesões na túnica íntima das artérias, o que torna suas
paredes mais espessas e endurecidas. Essa condição está diretamente envolvida
na base da patogenia de doenças vasculares coronárias, cerebrais e periféricas.
Nos últimos anos, foram feitos avanços na compreensão dos fatores de risco e
na adoção de estratégias de prevenção e de tratamento da aterosclerose. Ainda
assim, um número muito expressivo de pessoas permanece sendo afetado por
ela, tanto em países desenvolvidos quanto em países em desenvolvimento.
Neste capítulo, você vai estudar a aterosclerose, as principais causas as-
sociadas a seu desenvolvimento e progressão e sua fisiopatogenia. Por fim,
conhecerá também algumas consequências da doença aterosclerótica.
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Aterosclerose e suas causas


A aterosclerose é uma doença caracterizada pelo espessamento e pelo en-
durecimento das paredes arteriais, causados pela formação de lesões na
túnica íntima, as quais são denominadas ateromas (ou placas ateromatosas
ou ateroscleróticas). Essas lesões são compostas pelo acúmulo de lipídios,
células musculares lisas, inflamação e tecido conectivo na camada íntima.
Como você pode observar na Figura 1, as placas ateroscleróticas acabam
por estreitar o lúmen do vaso sanguíneo afetado, além de tornar sua parede
menos elástica. Elas restringem gradativamente o fluxo sanguíneo pelo vaso
e, quando se tornam significativamente grandes, podem bloqueá-lo. Além
disso, essas lesões podem tornar-se o local para a formação de trombos e
êmbolos. Grandes artérias elásticas, como aorta, carótidas e ilíacas, e artérias
musculares de calibre médio, como coronárias, femorais e poplíteas, são as
principais afetadas pela aterosclerose (KIERSZENBAUM, 2016; REISNER, 2016;
SILBERNAGL; LANG, 2016; VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016).

A B

Figura 1. Fotomicrografias de cortes transversos: (a) uma artéria normal; (b) uma artéria
parcialmente obstruída por placa aterosclerótica.
Fonte: Tortora e Derrickson (2017, p. 385).

Essa condição pode ser iniciada já na infância e permanecer silenciosa


enquanto progride lentamente, para então se manifestar clinicamente so-
bretudo após a quinta década de vida (BRASILEIRO FILHO, 2016; HAMMER;
MCPHEE, 2016).
A progressão da aterosclerose é acelerada por uma série de fatores de risco,
que podem ser divididos em dois tipos principais: fatores constitucionais e
fatores adquiridos ou modificáveis. Embora os fatores de risco constitucionais
não possam ser alterados, os adquiridos ou modificáveis são associados a
comportamentos específicos e podem ser controlados com a modificação do
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estilo de vida ou com terapia farmacológica. Assim, evitar os fatores de risco


que aceleram o processo da aterosclerose ou tratar as condições clínicas
de risco já estabelecidas pode prevenir ou tornar mais lenta a formação
das placas ateroscleróticas (KUMAR; ABBAS; ASTER, 2016; VANPUTTE; REGAN;
RUSSO, 2016; HAMMER; MCPHEE, 2016).
A importância da prevenção e do controle efetivo das condições que
aceleram a progressão da aterosclerose se torna ainda mais evidente ao
observarmos que esses fatores de risco apresentam efeitos multiplicati-
vos. Isso significa que um indivíduo que apresenta dois fatores tem o risco
aumentado de aterosclerose e de suas complicações em aproximadamente
quatro vezes. Quando três fatores estão presentes, o risco é aumentado em
sete vezes (KUMAR; ABBAS; ASTER, 2016; REISNER, 2016).

Fatores de risco constitucionais


1. Predisposição genética: a história familiar é o fator de risco independente
mais importante para aterosclerose e cardiopatia isquêmica. O aumento
do risco de desenvolvimento da aterosclerose, nesse caso, pode estar re-
lacionado com a predisposição hereditária a condições que aceleram esse
processo, como hipertensão, diabetes ou hipercolesterolemia familiar. Essa
predisposição parece ser poligênica, visto que, até o momento, não houve
a identificação de um gene que esteja isoladamente envolvido na elevação
do risco (REISNER, 2016).

2. Idade: ainda que a aterogênese seja um processo de progressão lenta, suas


manifestações costumam se tornar clinicamente evidentes a partir da meia-
-idade. Entre os 40 e 60 anos de idade, a incidência de infarto do miocárdio
aumenta em cinco vezes. Ademais, a cada década de vida até a idade avançada,
o risco de óbito por doença cardíaca isquêmica aumenta significativamente
(KUMAR; ABBAS; ASTER, 2016, 2018; REISNER, 2016).

3. Gênero: mulheres na pré-menopausa (que não apresentam outros fatores


predisponentes) têm menor risco de desenvolver aterosclerose e suas con-
sequentes manifestações clínicas quando comparadas a homens de idade
correspondente. Após a menopausa, no entanto, a incidência dessa doença
aumenta em mulheres. A partir dessas observações, cogitou-se que o estro-
gênio pudesse desempenhar um possível papel ateroprotetor, inclusive por
aumentar a remoção de colesterol pelo fígado. Nesse sentido, evidências
indicam que o benefício da reposição de estrogênio sobre o sistema circula-
tório parece ser dependente da idade em que essa terapia é iniciada, já que
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este efeito pode ser observado em mulheres mais jovens na pós-menopausa,


mas não em mulheres mais idosas (KUMAR; ABBAS; ASTER, 2016; REISNER,
2016; HAMMER; MCPHEE, 2016).

Fatores de risco adquiridos ou modificáveis


1. Hiperlipidemia: a hipercolesterolemia é um fator bastante importante para
a ocorrência de aterosclerose, visto que, por si só, é suficiente para iniciar
o desenvolvimento de uma lesão. O aumento do risco, nesse caso, se dá
principalmente por níveis elevados da lipoproteína de baixa densidade (LDL,
low-density lipoprotein), que é responsável pela distribuição de colesterol
nos tecidos periféricos e tem correlação positiva com doença coronariana.
Inversamente, esse risco é reduzido em pessoas com níveis mais altos da
lipoproteína de alta densidade (HDL, high-density lipoprotein), que é res-
ponsável pela mobilização do colesterol da periferia (incluindo ateromas) e
por seu transporte até o fígado para ser excretado na bile (KUMAR; ABBAS;
ASTER, 2016; REISNER, 2016).

O reconhecimento da hiperlipidemia como um fator de risco de


grande peso para o desenvolvimento de aterosclerose evidencia a
importância de seu controle por meio de intervenções não farmacológicas (que
incluem adequações nutricionais e mudanças no estilo de vida) ou tratamento
farmacológico. Essas estratégias visam reduzir os níveis de LDL e de colesterol
plasmático, ou ainda elevar os níveis de HDL e assim prevenir doenças cardio-
vasculares. Observe a seguir algumas das medidas indicadas para o controle
das hiperlipidemias (KUMAR; ABBAS; ASTER, 2016; FALUDI et al., 2017):
„  Adequação nutricional: a substituição parcial de ácidos graxos saturados
por mono e poli-insaturados e a redução de ácidos graxos trans ajudam a
reduzir os níveis de colesterol plasmático. Efeito benéfico também pode ser
observado a partir da ingestão de ácidos graxos ômega 3.
„  Mudanças no estilo de vida: a prática regular de exercícios físicos, o controle
do peso corporal e a redução da ingestão de bebidas alcoólicas estão asso-
ciadas a melhoria do perfil lipídico.
„  Tratamento farmacológico: a terapia a partir da utilização de estatinas é a
mais atestada por estudos clínicos para a redução da incidência de eventos
cardiovasculares. Essa é uma classe de fármacos que inibem a hidroxime-
tilglutaril-coenzima A (HMG-CoA) redutase, enzima limitante na biossíntese
hepática de colesterol, reduzindo os níveis de colesterol circulante.
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2. Hipertensão sistêmica: tanto a hipertensão sistólica quanto a diastólica são


fatores significativos de risco para ocorrência de aterosclerose em todas as
idades. Nesses casos, a pressão arterial elevada induz o aumento da tensão
de cisalhamento a que o endotélio está submetido, podendo levar à sua
disfunção. Por esse motivo, o controle adequado da pressão arterial pode
diminuir significativamente o risco de cardiopatia isquêmica e de acidente
vascular cerebral (REISNER, 2016; HAMMER; MCPHEE, 2016).

3. Tabagismo: o aumento do risco de desenvolvimento de aterosclerose nos


leitos vasculares periféricos, cerebrais e coronários está bem estabelecido
em homens fumantes. No entanto, o tabagismo também pode ser um fator de
risco em mulheres. Isso ocorre porque os componentes da fumaça do cigarro
levam a disfunção endotelial, a criação de um ambiente pró-inflamatório e
pró-coagulante, a aumento do estresse oxidativo e a alteração no metabolismo
de lipídios, fatores que favorecem a aterosclerose (REISNER, 2016; KUMAR;
ABBAS; ASTER, 2016).

4. Diabetes melito: indivíduos diabéticos apresentam maior risco de de-


senvolverem complicações macrovasculares (principalmente associadas à
aterosclerose) e microvasculares. No diabetes melito do tipo 2, a hiperglicemia
está relacionada com resistência a insulina, disfunção endotelial e incorpora-
ção de colesterol, proteoglicanos e materiais extracelulares, processos que
favorecem a incidência de aterotrombose. Esse risco também está aumentado
em indivíduos com diabetes do tipo 1 com hiperglicemia, condição em que
pode haver disfunção endotelial, aumento de ácidos graxos livres circulantes
e ambiente pró-inflamatório. Dessa forma, diabéticos apresentam incidência
de infarto do miocárdio duas vezes maior que não diabéticos. Além disso, há
maior risco de gangrena induzida por aterotrombose das extremidades infe-
riores e de acidente vascular cerebral (REISNER, 2016; HAMMER; MCPHEE, 2016).

Fatores de risco adicionais


Adicionalmente aos fatores de risco vistos até aqui, outros também podem
contribuir para o processo aterosclerótico, com destaque para aqueles exa-
minados a seguir.
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1. Inflamação: por estar diretamente envolvido na aterogênese, na progres-


são da placa aterosclerótica e em sua ruptura, o processo inflamatório está
associado também com as doenças cardiovasculares. Por isso, é relevante
a utilização de biomarcadores de inflamação sistêmica, como a proteína
C-reativa (PCR), para a estratificação do risco cardiovascular (KUMAR; ABBAS;
ASTER, 2016).

Na prática clínica, a dosagem imunoquímica da PCR ultrassensível


(PCR-us) pode ser útil na reclassificação de indivíduos de risco inter-
mediário para uma categoria superior (quando é detectada a elevação de seus
níveis). No entanto, não é recomendada a sua utilização para a estratificação
de risco em pessoas com doença aterosclerótica manifesta ou subclínica, em
diabéticos ou naqueles com alto risco cardiovascular global (FALUDI et al., 2017).

2. Síndrome metabólica: esta condição é associada a obesidade, resistência


a insulina, hipertensão, dislipidemia, hipercoagulabilidade e estado pró-
-inflamatório. Devido a esses fatores, indivíduos com características clínicas
de síndrome metabólica apresentam risco duas vezes maior de ocorrência
de doença aterosclerótica das artérias coronárias (KUMAR; ABBAS; ASTER,
2016; REISNER, 2016).

3. Hiper-homocisteinemia: pessoas que apresentam níveis sanguíneos eleva-


dos de homocisteína podem desenvolver doença vascular prematura (REISNER,
2016).

4. Níveis elevados de lipoproteína a (Lp(a)): o aumento dos níveis sanguí-


neos dessa proteína está correlacionado com doença arterial coronária e
cerebrovascular, independentemente dos níveis de colesterol total ou de
LDL (REISNER, 2016).

5. Falta de exercícios físicos, estilo de vida estressante e obesidade: estes


são outros fatores que podem aumentar o risco de desenvolvimento de
aterosclerose.
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Fisiopatogenia da aterosclerose
A hipótese mais aceita atualmente para a fisiopatogenia da aterosclerose é
a teoria da resposta a lesões, proposta na década de 1990. Segundo ela, a
aterosclerose é iniciada pela lesão das células endoteliais que revestem as
artérias, o que leva a uma resposta crônica inflamatória e reparativa da parede
arterial. Como você verá a seguir, a interação de lipoproteínas modificadas,
macrófagos derivados de monócitos e linfócitos T com células endoteliais
e células musculares lisas da parede arterial desencadeia a progressão da
lesão (REISNER, 2016; KUMAR; ABBAS; ASTER, 2018).
Com base nessa teoria, o evento inicial da aterosclerose é a lesão do endo-
télio, que pode ser causada por uma série de fatores, incluindo hiperlipidemia,
hipertensão, toxinas da fumaça do cigarro, homocisteinemia, microrganismos,
entre outros. A partir dessa lesão, as células endoteliais se tornam disfuncio-
nais e passam a apresentar maior permeabilidade, facilitando a entrada de
lipídios na túnica íntima, maior adesão e agregação plaquetárias, expressão
de moléculas de adesão e captura de monócitos circulantes (BRASILEIRO
FILHO, 2016).
Observe na Figura 2 os passos que serão descritos a seguir. Quando se
tornam disfuncionais, as células endoteliais expressam a molécula de adesão
celular vascular-1 (VCAM-1, vascular cell adhesion molecule 1) e, com isso,
monócitos se ligam a elas, atravessam e penetram na túnica íntima do vaso
sanguíneo. Na túnica íntima, os monócitos se diferenciam em macrófagos ati-
vados que expressam o receptor de varredura-A (SRA, de scavenger receptor A)
em sua superfície. Esses receptores medeiam a captação de uma forma
modificada de LDL, a LDL oxidada, rica em colesterol. Com o acúmulo maciço
de LDL oxidada, os macrófagos se tornam células espumosas, preenchidas de
colesterol, que formam estrias gordurosas (KIERSZENBAUM, 2016; HAMMER;
MCPHEE, 2016).
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Figura 2. Formação de estria gordurosa numa artéria.


Fonte: Hammer e Mcphee (2016, p. 307).

Esse núcleo do ateroma continua a crescer. Linfócitos T, que chegam à


túnica íntima, liberam citocinas e fatores de crescimento que contribuem para
a ativação de macrófagos e para a migração de células musculares lisas da
camada média para a íntima, onde se proliferam. Essas células musculares
lisas também são capazes de endocitar LDL oxidada e se tornam, assim, células
espumosas, aumentando essa população de células. Além disso, depositam
colágeno e outras moléculas da matriz extracelular, o que contribui tanto para
a formação de uma capa fibrosa que recobre o núcleo ateromatoso quanto
para o crescimento da lesão (KIERSZENBAUM, 2016; HAMMER; MCPHEE, 2016;
BRASILEIRO FILHO, 2016).
Como vimos, as estrias gordurosas são compostas por células espumo-
sas. Por serem minimamente elevadas, essas lesões não estão associadas a
distúrbio significativo do fluxo sanguíneo. Apesar de seu potencial de pro-
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gressão para a formação de placa aterosclerótica, nem todas se tornarão


lesões avançadas (elas podem inclusive ser encontradas durante a infância
ou adolescência). Por outro lado, as placas ateroscleróticas correspondem a
lesões elevadas e focais, geralmente afetando apenas uma parte da parede
arterial. Com a progressão da doença, essas estruturas podem se tornar
amplamente distribuídas e protuberantes a ponto de se projetarem signifi-
cativamente para o lúmen da artéria afetada e obstruir o fluxo sanguíneo.
Além disso, podem sofrer complicações ao se tornarem instáveis, como você
verá a seguir (KUMAR; ABBAS; ASTER, 2018).

Consequências da aterosclerose
As placas ateroscleróticas se desenvolvem lentamente por décadas. À me-
dida que evoluem, essas lesões apresentam aspectos histológicos distintos.
O ateroma simples ou placa mole corresponde a uma elevação fibrosa na
camada íntima, com revestimento endotelial intacto e grande presença de
células espumosas. A placa madura, ou estável, apresenta uma cápsula
fibrosa composta por células musculares lisas, macrófagos, células espu-
mosas, linfócitos e tecido conectivo e um núcleo grumoso. Essas lesões
estão associadas a sintomas relacionados com a isquemia crônica devido a
estreitamento do lúmen vascular. Já as placas vulneráveis, ou instáveis, são
suscetíveis a complicações como erosão, ulceração ou ruptura da cápsula
fibrosa, hemorragia no interior da placa, calcificação e formação de trombo
mural e de aneurisma. Sua instabilidade está relacionada principalmente a
processo inflamatório mais intenso. Nesse processo, ocorre a liberação de
metaloproteases e de citocinas que favorecem a ruptura da placa, o que
contribui para a criação de um ambiente pró-coagulante (KUMAR; ABBAS;
ASTER, 2016; REISNER, 2016; SILVERTHORN, 2017).
Sendo uma anormalidade arterial, é possível que a aterosclerose afete
quase qualquer órgão. Seus principais alvos são as grandes artérias elásticas
(aorta, carótida e ilíaca) e as artérias musculares de grande e médio calibres
(coronárias e poplíteas). Observe na Figura 3 algumas das consequências
clínicas associadas à aterosclerose. As principais complicações incluem
infarto do miocárdio (ataque cardíaco), acidente vascular cerebral, aneurisma
da aorta e doença vascular periférica (gangrena dos membros inferiores)
(KUMAR; ABBAS; ASTER, 2016).
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Figura 3. Consequências da aterosclerose.


Fonte: Silbernagl e Lang (2016, p. 253).

Placas ateroscleróticas estáveis podem comprometer o fluxo sanguíneo


pela obstrução gradual (estenose) do lúmen e, com isso, levar a lesão isquê-
mica. A isquemia é caracterizada pela insuficiência do suprimento de oxigênio
para os tecidos. Diferentes níveis de estenose podem ser observados. Inicial-
mente, o tamanho do lúmen é mantido pelo remodelamento da camada média
vascular. Contudo, esse remodelamento ocorre até um limite e a evolução
contínua da placa acaba por obstruir parcialmente o vaso, comprometendo o
fluxo do sangue. No estágio de estenose crítica, ocorre a isquemia do tecido
afetado em decorrência de oclusão arterial severa (KUMAR; ABBAS; ASTER,
2016; REISNER, 2016).
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Esse quadro pode ser observado nas artérias coronárias, em que o


estreitamento do vaso em mais de 75% causa angina de peito, ou seja,
dor torácica intermitente, que ocorre durante o esforço e desaparece com o repouso.
O infarto do miocárdio clássico ocorre quando há dano hipóxico, pela di-
minuição prolongada da perfusão (por 2 a 4 horas) decorrente da oclusão da
artéria coronária, o que leva a perda permanente da função do miocárdio e a
necrose de coagulação das células miocárdicas.
A redução crônica da perfusão pode levar ainda a oclusão mesentérica e
isquemia intestinal, doença cardíaca isquêmica crônica, encefalopatia isquêmica
e claudicação intermitente (quadro em que a perfusão diminuída das extremi-
dades induz fadiga e dor ao caminhar) (KUMAR; ABBAS; ASTER, 2016; HAMMER;
MCPHEE, 2016; REISNER, 2016).

Como mencionado anteriormente, placas ateroscleróticas instáveis são


suscetíveis a ruptura, a erosão ou a ulceração de sua superfície, que são se-
guidas por trombose vascular parcial ou completa. Isso ocorre porque esses
eventos levam à liberação de constituintes altamente trombogênicos, pre-
sentes na placa, e a consequente formação de trombo pode levar à obstrução
parcial ou total do lúmen vascular. O acidente vascular encefálico isquêmico,
por exemplo, pode ser decorrente da oclusão trombótica de artérias cerebrais.
Placas ateroscleróticas também pode sofrer hemorragia interna causada
pela ruptura da capa fibrosa sobrejacente ou de vasos com paredes finas
presentes em áreas de neovascularização. Essa hemorragia pode contribuir
para a expansão do volume da placa e para o maior estreitamento do vaso.
Por fim, estando enfraquecida pela pressão induzida pela aterosclerose ou
pela atrofia isquêmica da camada média subjacente com perda de tecido
elástico, a parede vascular pode sofrer dilatação por aneurisma e, com isso,
se romper, levando ao sangramento de tecidos adjacentes (HAMMER; MCPHEE,
2016; KUMAR; ABBAS; ASTER, 2016; SILBERNAGL; LANG, 2016).
Neste capítulo, você estudou as características da aterosclerose e os
diferentes fatores de risco, modificáveis ou não, que estão associados ao seu
desenvolvimento e à sua progressão. Além disso, você conheceu a sequência
de eventos necessários para a formação de estrias gordurosas e a sua pro-
gressão para placas ateroscleróticas. Por fim, foram apresentadas algumas
manifestações clínicas decorrentes da doença aterosclerótica. Considerando
que a aterosclerose está associada a altas taxas de morbidade e de morta-
lidade, torna-se evidente a importância não apenas do conhecimento sobre
sua patogênese, mas também da prevenção e do tratamento das condições
clínicas que a predispõem e de seu diagnóstico precoce para que seja reduzida
a incidência das complicações associadas a ela.
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Referências
BRASILEIRO FILHO, G. Bogliolo: patologia geral. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2016.
FALUDI, A. A. et al. Atualização da Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção da
Aterosclerose: 2017. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, v. 109, supl. 2, p. 1-76, 2017.
Disponível em: http://publicacoes.cardiol.br/2014/diretrizes/2017/02_DIRETRIZ_DE_DIS-
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HAMMER, G. D.; MCPHEE, S. J. Fisiopatologia da doença: uma introdução à medicina
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KIERSZENBAUM, A. L. Histologia e biologia celular: uma introdução à patologia. 4. ed.
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KUMAR, V.; ABBAS, A.; ASTER, J. Robbins: patologia básica. 10. ed. Rio de Janeiro: El-
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KUMAR, V.; ABBAS, A.; ASTER, J. Robbins & Cotran patologia: bases patológicas das
doenças. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016.
OLIVEIRA, G. M. M. et al. Estatística cardiovascular: Brasil 2020. Arquivos Brasileiros
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REISNER, H. M. Patologia: uma abordagem por estudos de casos. Porto Alegre: AMGH,
2016. (Lange).
SILBERNAGL, S.; LANG, F. Fisiopatologia: texto e atlas. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016.
SILVERTHORN, D. U. Fisiologia humana: uma abordagem integrada. 7. ed. Porto Alegre:
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TORTORA, G. J.; DERRICKSON, B. Corpo humano: fundamentos de anatomia e fisiologia.
10. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017.
VANPUTTE, C. L.; REGAN, J. L.; RUSSO, A. F. Anatomia e fisiologia de Seeley. 10. ed. Porto
Alegre: AMGH, 2016.
WORLD HEALTH ORGANIZATION. World health statistics 2021: monitoring health for
the SDGs, sustainable development goals. Geneva: World Health Organization, 2021.

Leitura recomendada
LIBBY, P. et al. Atherosclerosis. Nature Reviews Disease Primers, v. 5, n. 1, p. 1-18, 2019.

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