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ADMINISTRAÇÃO RURAL

Autoria: Rafael Pazeto Alvarenga


Jeniffer de Nadae

UNIASSELVI-PÓS
Programa de Pós-Graduação EAD
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090

Reitor: Prof. Hermínio Kloch

Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol

Coordenador da Pós-Graduação EAD: Prof. Ivan Tesck

Equipe Multidisciplinar da
Pós-Graduação EAD: Prof.ª Bárbara Pricila Franz
Prof.ª Tathyane Lucas Simão
Prof. Ivan Tesck

Revisão de Conteúdo: Omar Inácio Benedetti Santos


Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais
Revisão Pedagógica: Bárbara Pricila Franz

Diagramação e Capa:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Copyright © UNIASSELVI 2017


Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri
UNIASSELVI – Indaial.

630.681
A473a Alvarenga, Rafael Pazeto
Administração rural / Rafael Pazeto Alvarenga; Jeniffer de
Nadae . Indaial : UNIASSELVI, 2017.
157 p. : il.

ISBN 978-85-69910-61-9

1. Administração Rural – Agropecuária – Custos.


I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.

Impresso por:
Rafael Pazeto Alvarenga

Doutor em Engenharia Agrícola pela


Universidade Estadual de Campinas. Mestre em
Engenharia de Produção pela Universidade Estadual
Paulista Júlio de Mesquita Filho, campus de Bauru
e graduação em Administração de Empresas e
Agronegócios pela mesma instituição, campus de
Tupã. É professor universitário em disciplinas com
foco em gestão da produção e pesquisador na
área de agronegócios.

Jeniffer de Nadae

Professora Adjunta da Universidade Federal do Cariri. Dou-


tora em Engenharia de Produção pela Escola Politécnica
da USP, linha de pesquisa Qualidade e Engenharia do Produ-
to (QEP) – 2016, doutorado Sanduíche Université du Québec
à Trois-Rivières. Mestre em Engenharia de Produção pela Facul-
dade de Engenharia de Bauru da Universidade Estadual Paulista
Julio de Mesquita Filho (UNESP/Bauru) no ano de 2010. Possui
graduação em Administração de Empresas e Agronegócios (2008)
pela Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho (UNE-
SP/UD – Tupã/SP). Pertence ao grupo de pesquisa do CNPQ pela
universidade. Tem experiência na área de Administração, Gestão da
Produção, Certificações integradas (ISO 9001, ISO 14001, OHSAS
18001, ISO 16001), Supply Chain Management e Sustentabilidade
com os temas: gestão do conhecimento, comportamento do con-
sumidor, análise mercadológica de feiras livres, estudo dos siste-
mas de gestão de empresas pertencentes a clusters, implantação
integrada de sistemas de gestão (ISO 9001, ISO 14001, OHSAS
18001 e ISO 16001) e sustentabilidade baseada no conceito do
triple bottom line.

Principais publicações dos autores:

ALVARENGA, R. P.; ARRAES, N. A. M. Certificação fairtrade na ca-


feicultura brasileira: análises e perspectivas. Coffee Science, v. 12,
n. 1, p. 124–147, 2017a.

______. Perfil de avaliações de impacto da certificação fairtrade na


cafeicultura. Espacios, v. 38, n. 32, 2017b.
ALVARENGA, R. P.; QUEIRÓZ, T. R.; NADAE, J. Cleaner produc-
tion and environmental aspects of the sugarcane-alcohol segment :
brazilian issues. Espacios, v. 38, n. 1, p. 11, 2017.

______. Risco tóxico e potencial perigo ambiental no ciclo de vida


da produção de milho. Espacios, v. 38, n. 1, p. 12, 2017.

MAIA, M.; VALE, J. W. S. P.; NADAE, J.; CARVALHO, M. M.; MO-


RAES, R. O. Gerentes de projetos em novos negócios: estudo de
múltiplos casos de microcervejarias. RBGP. Revista Brasileira de
Gerenciamento de Projetos, v. 1, p. 2, 2016.

NADAE, J.; CARVALHO, M. M.; VIEIRA, D. R. Analysing the Stag-


es of Knowledge Management in a Brazilian Project Management
Office. The Journal of Modern Project Management, v. 3, p. 70-
79-79, 2015.

NADAE, J.; OLIVEIRA, J. A.; OLIVEIRA, O. J. Um estudo de caso


sobre a adoção dos programas e ferramentas da qualidade em
uma empresa do setor gráfico com certificação ISO 9001. Revis-
ta Eletrônica de Administração (Garça. On-line), v. 9, p. 15-33,
2009.

NADAE, J.; GALDAMEZ, E. V. C.; CARPINETTI, L. C.; SOUZA, F.


B.; OLIVEIRA, O. J. Método para desenvolvimento de práticas
de gestão integrada em clusters industriais. Produção (São
Paulo. Impresso), v. 24, p. 776-786, 2014.

OLIVEIRA, J. A.; NADAE, J.; ALVARENGA, R. P.; OLIVEIRA, O.


J. Responsabilidade Socioambiental em instituições financeiras: di-
ficuldades e perspectivas. Revista Eletrônica de Administração
(Garça. On-line), v. 9, p. 10-19, 2009.

OLIVEIRA, J. A.; NADAE, J.; OLIVEIRA, O. J.; SALGADO, M.


H. Um estudo sobre a utilização de sistemas, programas
e ferramentas da qualidade em empresas do interior
de São Paulo. Produção (São Paulo. Impresso), v. 21,
p. 708-723, 2011.
Sumário

APRESENTAÇÃO.......................................................................7

CAPÍTULO 1
Introdução à Problemática Estudada ..................................9

CAPÍTULO 2
Administração no Contexto do Agronegócio ..................27

CAPÍTULO 3
Consideração de Impactos Ambientais no
Gerenciamento do Agronegócio..........................................67

CAPÍTULO 4
Agronegócio na Prática........................................................83
APRESENTAÇÃO
O agronegócio brasileiro é responsável pela geração de divisas ao país e fonte de
renda para agropecuaristas e trabalhadores rurais. Em um contexto geral, os agentes
que atuam nos campos agropecuários do Brasil são detentores de um conhecimento
técnico forte que ajuda muito nas altas taxas de produção do agronegócio do país.
Falta, muitas vezes, conhecimento gerencial capaz de contribuir para uma atuação
mais eficiente nos mercados que atuam. Para contribuir neste sentido, este livro
aborda sobre gerenciamento rural.

O livro é composto de quatro capítulos. No primeiro capítulo contextualizamos o


amplo cenário que se relaciona ao tema do nosso livro, como por exemplo, definição
de agronegócio e segmentos da produção agropecuária; e sistemas, cadeias e
complexos agroindustriais.

No segundo capítulo abordamos alguns importantes fatores vinculados ao


universo da administração, que nos permitem compreender e aplicar especificamente
na administração rural.

No terceiro capítulo destacamos alguns importantes aspectos associados


ao campo da gestão ambiental no cenário agropecuário e também oferecemos os
exemplos da Avaliação do Ciclo de Vida e da Produção mais Limpa como instrumentos
possíveis de aplicação na gestão ambiental de sistemas agroindustriais.

Já no quarto capítulo, oferecemos exemplos de fatores que devem ser


considerados na gestão de propriedades criadoras de bovinos e produtoras de
grãos, cana-de-açúcar e café. Neste último capítulo daremos um foco especial ao
fator da sustentabilidade socioambiental nos sistemas de produção vinculados a tais
propriedades. Uma vez que existe uma alta demanda pela adequação socioambiental
no setor agropecuário, conhecer suas implicações nestes sistemas de produção
contribui com o aumento de chances de retornos dos negócios gerenciados.

Os autores.
C APÍTULO 1
Introdução à problemática
estudada
A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo, você terá os seguintes
objetivos de aprendizagem:

 Conhecer a definição de agronegócio.

 Explicar quais são os principais fatores associados ao contexto do agronegócio.

 Apontar as diferenças entre sistema agroindustrial, cadeia agroindustrial e


complexo agroindustrial.

 Diferenciar importantes fatores associados ao contexto do agronegócio.


Administração Rural

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Capítulo 1 Introdução à Problemática Estudada

ContextualiZação
Neste capítulo pretendemos introduzir quais são os principais fatores
que possuem relação com a principal temática do nosso livro. Assim, ao final
deste capítulo, você será capaz de identificar e compreender sobre definição
de agronegócio; sistemas agroindustriais; cadeias agroindustriais; complexos
agroindustriais; principais agentes envolvidos no campo dos negócios que
são desenvolvidos em torno do setor agropecuário, assim como relevantes
características envolvidas no setor agropecuário.

Principais CaracterÍsticas Ligadas


ao Campo da Gestão Rural
Para compreender a problemática envolvida no contexto do O setor agropecu-
ário não deve ser
agronegócio, é preciso saber que o setor agropecuário (neste livro é analisado como es-
usado o termo “agropecuário” para designar os setores inerentes à tando independente
agricultura, pecuária, pesca e afins) não deve ser analisado como estando dos demais setores
produtivos.
independente dos demais setores produtivos (ARAÚJO, 2007; BATALHA,
2014; ZYLBERSZTAJN; NEVES, 2000). A própria definição do termo “agronegócio”
carrega o carácter de dependência entre o setor agropecuário, tal como destacam
dois autores vinculados a esta temática no Brasil:

Agronegócio é o conjunto de todas as operações e transações


envolvidas desde a fabricação dos insumos agropecuários,
das operações de produção nas unidades agropecuárias,
até o processamento e distribuição e consumo dos produtos
agropecuários “in natura” ou industrializados (ARAÚJO, 2007,
p. 16).

Agronegócio é a soma de todas as operações de produção


e distribuição de suprimentos agrícolas, as operações de
produção nas unidades agrícolas, do armazenamento e
distribuição dos produtos agrícolas e itens produzidos a partir
deles (BATALHA, 2014, p. 5).

Portanto, está implícito nestas definições o fato das análises a respeito do


setor agropecuário serem feitas mediante junção de outros setores.

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Administração Rural

Os Segmentos da Produção
Agropecuária
A noção de conjunto implícita às operações agropecuárias fica melhor
compreendida a partir de uma visão sistêmica sobre as três dimensões associadas
ao agronegócio, que são:

a) Segmento antes da porteira ou a montante da produção agropecuária.


b) Segmento dentro da porteira ou produção agropecuária propriamente dita.
c) Segmento fora da porteira ou a jusante da produção agropecuária.

Vamos conhecer melhor cada uma dessas dimensões? Então, vamos lá!

a) Segmento antes da porteira

No segmento No segmento antes da porteira são realizadas as operações


antes da porteira vinculadas à produção dos insumos que são necessários à produção
são realizadas as agropecuária em geral, como por exemplo, fertilizantes, defensivos
operações vinculadas
à produção dos agrícolas, ração e material genético, medicamento veterinário,
insumos que sementes, implementos e máquinas agrícolas. Este segmento pode
são necessários
à produção ser dividido em dois subsetores diferentes. Um deles se refere à
agropecuária em disponibilização e produção de insumos para o agronegócio. Já o outro
geral, como por diz respeito à prestação de serviços direcionados para o agronegócio
exemplo, fertilizantes,
defensivos (CALLADO, 2015).
agrícolas, ração e
material genético,
medicamento No Brasil, importantes instituições têm se destacado por apoiar
veterinário, sementes, o setor agropecuário do país a se desenvolver, bem como também
implementos e o agronegócio como um todo, tais quais são alguns exemplos:
máquinas agrícolas.
universidades com faculdades com foco em Ciências Humanas, Exatas
e Ciências Agrárias; grupos de pesquisa (PENSA, GEPAI); institutos de pesquisa
(IAC, Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural e as diversas
ramificações da EMBRAPA com especialidades específicas, como por exemplo,
milho e sorgo, café, meio ambiente, entre outros).

Afora estes, outras instituições também contribuem apoiando o


desenvolvimento da agropecuária do Brasil, como por exemplo, de acordo com
Callado (2015):

a) Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.


b) Secretarias estaduais de agricultura / produção rural.
c) Ministério de Ciência e Tecnologia.

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Capítulo 1 Introdução à Problemática Estudada

b) Segmento dentro da porteira

No segmento dentro da porteira são efetuadas as operações No segmento


dentro da porteira
de produção agropecuária propriamente dita (CALLADO, 2015), por são efetuadas as
exemplo, de acordo com este autor: operações de pro-
dução agropecuária
propriamente dita.
• Atividades pecuárias, como bovinocultura, avicultura,
bubalinocultura, ovinocultura, suinocultura.

• Atividades agrícolas, tais quais as tarefas envolvidas desde o plantio até a


colheita de milho, soja e sorgo.

• Serviços, como turismo rural, suporte técnico / laboratorial, consultoria /


assessoria.

c) Segmento depois da porteira

Já no segmento
Já no segmento depois da porteira são realizadas as operações depois da porteira
de armazenamento, beneficiamento, industrialização e embalagem, são realizadas
por exemplo (ARAÚJO, 2005). Tal como aponta Callado (2015), as operações de
armazenamento,
este segmento se vincula a todas atividades que estão associadas beneficiamento,
à comercialização e distribuição dos produtos agroindustriais até industrialização e
embalagem, por
que cheguem aos consumidores finais. De acordo com este autor, o exemplo.
segmento depois da porteira é subdividido em dois subsetores, que são
logística e canais de comercialização. Tal como salientam os autores (ARAÚJO,
2005; CALLADO, 2015), o processo de comercialização dos produtos associados
ao agronegócio pode ser composto por oito níveis mais frequentes, tais como
mencionados a seguir e tal como descrito abaixo, na Figura 1.

Nível 1: produtores rurais.


Nível 2: intermediários (primários, secundários, terciários etc.).
Nível 3: agroindústrias, concentradores e mercados dos produtores.
Nível 4: representantes, distribuidores e vendedores.
Nível 5: atacadistas, bolsas de mercadorias, governos, centrais de abastecimento
etc.
Nível 6: feiras livres, pontos de venda, supermercados e exportação.
Nível 7: consumidores.
Nível 8: importação.

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Administração Rural

Figura 1 - Fluxo dos produtos através dos diversos níveis de comercialização

Fonte: Adaptado de Araújo (2005 apud CALLADO, 2015).

Visão SistÊmica do Agronegócio


Segundo os autores (ARAÚJO, 2007; BATALHA, 2014; CALLADO, 2015),
compreender os mecanismos de interação destes segmentos através de uma
visão sistêmica do agronegócio permite:

a) Compreensão do funcionamento da atividade agropecuária.


b) Formulação de estratégias corporativas.
c) Melhor precisão para antecipar tendências.

Para compreender de forma ampla todo o contexto vinculado à problemática


aqui estudada, faz-se necessário entender o que são cadeias, complexos e
sistemas agroindustriais. Segundo (BATALHA, 2009; 2014), é muito frequente se
confundir quanto às definições das expressões sistema agroindustrial, complexo
agroindustrial e cadeia agroindustrial.

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Capítulo 1 Introdução à Problemática Estudada

Sistema, Cadeia e Complexo


Agroindustrial
De acordo com Batalha (2014), Sistema Agroindustrial é a soma de atividades
que competem para a produção de produtos agroindustriais. Isso desde a
produção dos insumos (sementes, máquinas agrícolas, adubos) até a chegada do
produto final (massas, queijo, biscoito) ao consumidor. Sistemas Agroindustriais
não estão vinculados, especificamente, a nenhum produto final ou matéria-prima.

Para Farina (1999), Sistemas Agroindustriais são definidos como


agrupamentos de contratos que possibilitam a viabilidade das estratégias de
negócio entre os vários agentes que atuam no agronegócio.

Complexos Agroindustriais, por sua vez, partem de uma matéria-prima


como base, a exemplo: complexo leite, cana, soja. A arquitetura do complexo
agroindustrial é regida pela “explosão” da matéria-prima principal que a originou,
de acordo com os distintos processos comerciais e industriais que ela pode passar
até se transformar nos distintos produtos finais (BATALHA, 2014). Segundo
Zylbersztajn e Neves (2000, p. 9), cadeia de produção pode ser entendida como:

[...] uma sequência de operações que conduzem à produção de


bens. Sua articulação é amplamente influenciada pela fronteira
de possibilidades ditadas pela tecnologia e é definida pelas
estratégias dos agentes que buscam a maximização dos seus
lucros. As relações entre os agentes são de interdependência
ou complementariedade e são determinadas por forças
hierárquicas. Em diferentes níveis de análise a cadeia é um
sistema, mais ou menos capaz de assegurar sua própria
transformação.

Portanto, Cadeia de Produção Agroindustrial está vinculada a um produto


principal final, sendo a cadeia uma parte segmentada do próprio Sistema
Agroindustrial. Em Cadeias Agroindustriais existe uma ênfase das relações
estabelecidas entre indústria de transformação, agropecuária e distribuição
circunscritas ao produto principal da cadeia (FARINA, ZYLBERSTAJN, 1992).

a) Principais características associadas às cadeias agroindustriais

Para Morvan (1988 apud BATALHA, 2014), existem três fatores que estão
vinculados à caracterização de uma cadeia de produção. Para o autor, uma cadeia
de produção pode ser caracterizada como:

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Administração Rural

• Um prosseguimento de operações de transformação que são dissociáveis.


Tais operações podem ser ligadas e separadas entre elas mesmas através
de um encadeamento técnico.

• Um agrupamento de relações financeiras e comerciais. Estas ditam, no


conjunto dos diferentes estados de transformação, fluxos de trocas, que
ocorrem de montante a jusante, entre clientes e fornecedores.

• Um somatório de ações econômicas que asseguram o desenvolvimento das


operações e ditam a valoração dos meios de produção.

A exemplo, Batalha (2014) cita as cadeias de produção da margarina e


do requeijão. Apesar de partir de um mesmo produto (o leite), cada uma possui
operações comerciais, técnicas e logísticas que são distintas e necessárias para a
produção de cada um dos produtos. Portanto, sistema agroindustrial pode ser visto
como formado por complexos agroindustriais. Complexos agroindustriais, por sua
vez, são formados por cadeias de produção Agroindustriais (BATALHA, 2014).

O conhecimento dos principais elementos constituintes das Cadeias


Agroindustriais pode contribuir para o melhor entendimento de seu funcionamento.
Entre tais elementos, citam-se seus principais macrossegmentos, seus principais
elos e seus principais mercados. De acordo com Batalha (2014), uma cadeia de
produção agroindustrial pode ser segmentada, de jusante a montante, em três
macrossegmentos, que são:

• Produção de matéria-prima: agrega às empresas que oferecem matérias-


primas iniciais para outras empresas darem continuidade ao processo de
produção do produto final (agricultura, pesca, pecuária, piscicultura etc.)

• Industrialização: diz respeito às empresas que transformam matérias-primas


em produtos finais, que possuem como destino o mercado consumidor.
Por consumidor entende-se tanto unidades familiares como também uma
agroindústria, por exemplo.

• Comercialização: está relacionada às empresas que mantêm contato com


o cliente estabelecido no elo final da cadeia de produção. Estão a cargo
somente da logística de distribuição, tornando possíveis o comércio dos
produtos finais e também o consumo. Como exemplo, citam-se restaurantes,
supermercados e padarias.

Geralmente, cadeias de produção agroindustriais possuem sete principais


elos, que são, de acordo com Batalha (2014), produtores, processadores,
atacadistas, distribuidores, prestadores de serviço, varejistas e consumidores.

16
Capítulo 1 Introdução à Problemática Estudada

Para o autor, envolvidos nestes elos existem quatro tipos de mercados muito
distintos, que são os mercados mantidos entre produtores e indústrias de
insumos; produtores e agroindústria; agroindústria e distribuidores; distribuidores
e consumidores. Para exemplificar, apresentamos a Figura 2, que representa um
modelo de duas cadeias industriais envolvidas no processo de produção de três
produtos, tal como mencionada por Batalha (1995; 2014).

Figura 2 – Exemplo de duas cadeias de produção agroindustriais


quaisquer envolvidas na produção de três produtos quaisquer

Fonte: Adaptado de Batalha (1995; 2014).

Por este exemplo, em que as operações explanadas na figura podem ser,


do ponto de vista conceitual, de origens técnica, comercial ou logística, outros
fatores ficam claros no que diz respeito às Cadeias de Produção. Um ponto é
que o mesmo produto pode estar vinculado a mais de uma cadeia. Outro fato
é que nem sempre há linearidade nas cadeias agroindustriais. No exemplo, a
operação sete pode ser seguida das operações nove e doze ou da operação dez,
que originam, respectivamente, os produtos um e dois. Outro ponto é que a lógica
de encadeamento das Cadeias Agroindustriais, tal como afirmado, sempre ocorre
de jusante a montante (BATALHA, 2014).

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Administração Rural

Neste contexto, de acordo com Batalha (2014), a articulação entre os


agentes da cadeia ocorre basicamente por duas vias, independentemente do grau
de competitividade entre os agentes. Uma delas é via articulação horizontal,
que busca identificar as organizações de representação dos agentes que
podem cumprir um papel fundamental no estabelecimento de ações articuladas
de interesse comum. A outra é via articulação vertical, onde empresas
processadoras podem individualmente coordenar estruturas de governança.

• Estrutura de governança nas cadeias agroindustriais

Um dos principais De acordo com vários autores especialistas nesta temática


desafios envolvidos (ARAÚJO, 2007; BATALHA, 1995; 2014; SILVA, 1995; CALLADO, 2015;
no campo FARINA, 1999; SYLBERSZTAJN; FARINA, 2001; ZYLBERSZTAJN;
das cadeias
agroindustriais reside NEVES, 2000), um dos principais desafios envolvidos no campo das
justamente no âmbito cadeias agroindustriais reside justamente no âmbito do gerenciamento
do gerenciamento
das estruturas das estruturas de governança de cadeias agroindustriais. De acordo
de governança com Araújo (2007), a coordenação de uma cadeia produtiva, também
de cadeias denominada “estrutura de governança”, diz respeito à estrutura
agroindustriais.
dominante na cadeia. Tal estrutura é dominante porque é ela que
orienta e interfere em todo o processo produtivo e comercial. Tal dominação
pode ocorrer de maneira frágil ou intensa, podendo determinar desde o modo
de produção até o de comercialização dos produtos. De acordo com os autores
(ARAÚJO, 2007; ZYLBERSZTAJN; NEVES, 2000), existem dez principais
estruturas de coordenação em uma cadeia de produção agroindustrial, que são:

– Mercados.
– Agências de estatística.
– Mercados futuros.
– Agências e programas governamentais.
– Firmas individuais.
– Tradings.
– Cooperativas.
– Integrações.
– Joint ventures.
– Tecnologia.

Dada a existência de uma imensidade de fluxos de produtos e de informações


no decorrer das cadeias agroindustriais, recomenda-se analisá-las com base
em um foco sistêmico baseado na noção de Commodity System Approach. A
abordagem sistêmica reconhece e enfatiza a interdependência dos componentes
do sistema (BATALHA, 2009; 2014). Existem cinco aspectos muito associados
à aplicação da abordagem sistêmica no estudo das cadeias agroindustriais que
devem ser levados em consideração, que são, tal como os autores Batalha (2014)
e Souza-Filho (2009) enfatizam:

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Capítulo 1 Introdução à Problemática Estudada

– Coordenação dentro da cadeia, inerente à própria definição de uma estrutura


de coordenação/governança adequada.

– Orientação pela demanda, já que as condições de demanda (quantidade,


qualidade, preço etc.) em um macrossegmento da cadeia agroindustrial
geram informações e condicionantes que determinam as características dos
fluxos de produtos e serviços no macrossegmento a montante deste primeiro.

– Verticalidade, já que a dinâmica de funcionamento de um macrossegmento


da cadeia agroindustrial, nos seus aspectos tecnológicos, comerciais, sociais,
logísticos etc., é frequentemente influenciada pelas condições estabelecidas
em outro macrossegmento, em que são encontrados a montante ou a jusante
deste primeiro.

– Alavancagem, já que a análise sistêmica busca identificar pontos-chave


na sequência produção-distribuição-consumo onde ações podem ajudar a
melhorar a eficiência de um grande número de participantes da cadeia de
uma só vez.

– Competitividade entre os canais, já que um sistema pode envolver O enfoque sistêmico


mais que um canal de suprimento ou distribuição (por exemplo, em cadeias agroin-
dustriais ajuda na
exportação e mercado doméstico), restando à análise sistêmica compreensão dos fa-
buscar entender os mecanismos de competição entre os canais e tores associados aos
Sistemas Agroindus-
examinar como alguns canais podem ser criados para melhorar o triais, como por exem-
desempenho econômico do sistema estudado. plo, oferecimento de
arcabouço teórico
para compreensão da
Nesse contexto, o enfoque sistêmico em cadeias agroindustriais forma como os siste-
ajuda na compreensão dos fatores associados aos Sistemas mas agroindustriais
funcionam e sugestão
Agroindustriais, como por exemplo, oferecimento de arcabouço das variáveis que
teórico para compreensão da forma como os sistemas agroindustriais afetam o desempe-
funcionam e sugestão das variáveis que afetam o desempenho dos nho dos Sistemas
Agroindustriais.
Sistemas Agroindustriais (BATALHA, 2009; 2014).

b) Principais elementos associados aos sistemas agroindustriais

A compreensão da abrangência dos Sistemas Agroindustriais passa,


necessariamente, pelo conhecimento dos principais elementos que os constituem,
como por exemplo, atores envolvidos e a interferência dos ambientes institucional
e organizacional (ZYLBERSZTAJN, 2005). Para isso, a Figura 3 apresenta um
modelo de Sistema Agroindustrial.

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Administração Rural

Figura 3 - Modelo de Sistema Agroindustrial

Fonte: Adaptado de Zylbersztajn (2005).

O Sistema
Agroindustrial é Para os autores Zylbersztajn (2005) e Zylbersztajn e Neves
composto por seis (2000), o Sistema Agroindustrial é composto por seis atores, que são:
atores.

• Produção agropecuária.
• Atacado.
• Varejo.
• Indústria de insumos.
• Consumidores.
• Indústria distribuidora.

Estes atores agem influenciados por dois ambientes distintos: institucional


e organizacional. Tais ambientes não são neutros nos Sistemas Agroindustriais.
O ambiente institucional é o que “detém as regras do jogo”. É no ambiente
institucional que se formam a integração social e econômica envolvidas no
Sistema Agroindustrial. São pertinentes a este ambiente os sistemas legais, as
tradições e os costumes, as políticas públicas, monetárias, fiscais, tributárias,
comerciais, por exemplo. Já o ambiente organizacional oferece suporte ao Sistema
Agroindustrial. Contribui para que o mesmo funcione pela provisão de bens e
serviços. Fazem parte deste ambiente: empresas, universidades, cooperativas e
associações de produtores, por exemplo (FARINA, 1999; ZYLBERSZTAJN, 2005;
ZYLBERSZTAJN; NEVES, 2000).

Envolvidos nestes dois ambientes, os atores do Sistema Agroindustrial


mantêm relações internas de cooperação e conflito. Tais relações ocorrem por
meio de transações diversas, por exemplo, via mercado spot, via contratos e

20
Capítulo 1 Introdução à Problemática Estudada

via integração. Nos Sistemas Agroindustriais, os tipos de relacionamentos, bem


como os tipos das transações, estão muito relacionados ao comportamento dos
seus agentes e também aos atributos das transações (ZYLBERSZTAJN, 2005;
ZYLBERSZTAJN; NEVES, 2000).

No Sistema Agroindustrial, dois aspectos devem ser levados em consideração


para se analisar o comportamento dos seus agentes. Um deles é a questão da
racionalidade limitada dos agentes que estão inseridos no Sistema Agroindustrial.
Isso porque estão envolvidos em um ambiente complexo e não possuem poder de
acesso a todas as informações necessárias para decisões mais eficientes. O outro
está vinculado ao oportunismo dos agentes frente a possíveis oportunidades de
negócio confrontadas com os acordos previamente firmados. Entre as principais
razões apontadas para que não haja quebra de contratos, por exemplo, estão a
garantia legal, manutenção da reputação e permanência de atitudes baseadas em
princípios éticos (ZYLBERSZTAJN, 2005; ZYLBERSZTAJN; NEVES, 2000).

• Transações nos sistemas agroindustriais

As transações no Sistema Agroindustrial estão vinculadas a As transações no


Sistema Agroindus-
três principais tipos de atributos: incertezas, frequências (número trial estão vinculadas
de vezes que os agentes realizam transações), especificidade dos a três principais tipos
de atributos.
ativos. Basicamente, os ativos podem ser específicos de seis formas
diferentes, tendo, assim, os seguintes tipos de especificidades: marca, humana,
física, dedicada, geográfica e temporal (FARINA, 1999; ZYLBERSZTAJN, 2005;
ZYLBERSZTAJN; NEVES, 2000).

No contexto dos Sistemas Agroindustriais, geralmente as No contexto dos


especificidades temporal e geográfica são as principais. Comumente, Sistemas Agroindus-
quando há baixa especificidade dos ativos, as transações ocorrem via triais, geralmente
as especificidades
mercado spot e quanto há alta especificidade as transações ocorrem temporal e geográfica
via contratos, híbrida ou hierárquica, por exemplo (ZYLBERSZTAJN, são as principais.
2005; ZYLBERSZTAJN; NEVES, 2000).

Nas transações efetuadas nos Sistemas Agroindustriais podem ocorrer


diferentes custos de transações. Tais custos possuem relação direta com o
tipo de relacionamento que é estabelecido entre os agentes e também com os
atributos das transações. Isso implica a necessidade de sistemas eficientes de
governanças e comercialização nos Sistemas Agroindustriais (ZYLBERSZTAJN,
2005; ZYLBERSZTAJN; NEVES, 2000).

A forma de governança eficiente advém do conjunto entre as características das


transações e os pressupostos comportamentais dos agentes. Na medida em que se
aumenta a especificidade dos ativos, o mercado convencional acaba não sendo mais

21
Administração Rural

a melhor opção. Assim, é necessário um controle maior. Para isso, frequentemente


as alternativas residem na opção pela integração vertical e também pela estruturação
de contratos que asseguram pontos mais específicos estabelecidos entre os agentes
envolvidos. Neste cenário, é necessário se conhecer, em detalhes, as características
das transações e organizá-las para se obter economia nos custos de transação.
Para se elaborar contratos eficientes, é essencial que se conheça a natureza das
transações (ZYLBERSZTAJN; NEVES, 2000).

Para aprofundamento nos estudos sobre Sistemas


Agroindustriais, sugerimos a leitura dos seguintes artigos:

FARINA, E. M. M. Q. Competitividade e coordenação de


sistemas agroindustriais: um ensaio conceitual. Gestão e Produção,
v. 6, n. 3, p. 147–161, 1999. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/
gp/v6n3/a02v6n3.pdf>. Acesso em: 3 jun. 2017.

ZYLBERSZTAJN, D. Papel dos contratos na coordenação


agroindustrial: um olhar além dos mercados. Revista de Economia
e Sociologia Rural, v. 43, n. 3, p. 385-420, 2005. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/resr/v43n3/27739.pdf>. Acesso em: 3 jun.
2017.

• Categorias de sistemas agroindustriais

Diante deste Diante deste contexto, dada a vastidão de abrangência do


contexto, dada setor agropecuário, os principais autores do Brasil (ARAÚJO, 2007;
a vastidão de
abrangência do BATALHA, 2014; CALLADO, 2015; FARINA, 1999; QUEIROZ; ZUIN,
setor agropecuário, 2006; ZYLBERSZTAJN; NEVES, 2000), que atuam com agronegócio,
os principais autores
do Brasil, que atuam afirmam que os SAG (Sistemas Agroindustriais) são divididos em
com agronegócio, duas distintas categorias. Uma delas é denominada de Sistema
afirmam que os Agroindustrial Alimentar, que está vinculada às operações e aos
SAG (Sistemas
Agroindustriais) são processos associados à produção alimentar. A outra categoria é
divididos em duas denominada Sistema Agroindustrial não Alimentar, que está
distintas categorias.
associada às operações e processos ligados à produção de bens
derivados da produção agropecuária, mas que não se destinam à alimentação,
como por exemplo, têxtil, papel e celulose, couros, fumos, madeiramento
para construção civil, entre outros. Tanto um tipo quanto outro de Sistemas
Agroindustriais são amparados pelas chamadas “Indústrias de Apoio”, tal como
exemplos salientados por Batalha (2014): transporte, combustível e mecânica.

22
Capítulo 1 Introdução à Problemática Estudada

Tal como este capítulo deixa claro, o setor agropecuário não pode O setor agropecu-
ser analisado de modo independente. Existem fluxos de produtos, ário não pode ser
serviços, operações e informações no decorrer das cadeias e sistemas analisado de modo
independente.
agroindustriais que devem ser conhecidos e gerenciados para que haja
maior eficiência nas transações efetuadas entre os agentes que os compõem.
Portanto, é o trabalho em sinergia entre os agentes envolvidos no decorrer das
cadeias e dos sistemas agroindustriais que pode contribuir de maneira decisiva
para a alavancagem do setor agropecuário, e também dos outros setores que
estão vinculados a este setor.

Para aprofundar os estudos sobre os tópicos discutidos neste


capítulo, sugerimos a leitura dos seguintes livros:

BATALHA, M. O. Gestão agroindustrial 1. 3. ed. São Paulo:


Atlas, 2014.

ZYLBERSZTAJN, D.; NEVES, M. F. Economia e gestão dos


negócios agroalimentares. São Paulo: Pioneira, 2000.

ARAÚJO, M. J. Fundamentos de agronegócios. 2. ed. São


Paulo: Atlas, 2007.

CALLADO, A. A. C. Agronegócio. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2015.

Atividades de Estudos:

1) O que é agronegócio?
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

2) O que é uma cadeia de produção?


____________________________________________________
____________________________________________________

23
Administração Rural

____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

3) O que são Sistemas Agroindustriais?


____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

4) O que são Complexos Agroindustriais?


____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

5) Quais são os ambientes envolvidos nos Sistemas


Agroindustriais e como são compostos?
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

Algumas ConsideraçÕes
Neste momento de encerramento do nosso primeiro capítulo, esperamos que
você tenha compreendido os seguintes aspectos vinculados ao agronegócio para
conseguirmos dar prosseguimento aos nossos estudos:

As decisões tomadas no decorrer dos sistemas de produção agropecuário


devem levar em consideração que este setor não está isolado dos demais setores
produtivos.

24
Capítulo 1 Introdução à Problemática Estudada

Existe diferença entre Sistema Agroindustrial, Cadeia Agroindustrial e


Complexo Agroindustrial: Sistema agroindustrial pode ser visto como formado por
complexos agroindustriais. Complexos agroindustriais, por sua vez, são formados
por cadeias de produção agroindustriais.

A sinergia entre os agentes das cadeias agroindustriais pode contribuir para


a melhoria das eficiências específicas.

ReFerÊncias
ARAÚJO, M. J. Fundamentos do gronegócio. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2005.

______. Fundamentos de gronegócios. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2007.

BATALHA, M. O. As cadeias de produção agroindustriais: uma perspectiva para


o estudo das inovações tecnológicas. Revista de Administração, v. 30, n. 4, p.
43–50, 1995.

______. Gestão agroindustrial. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2009.

______. Gestão agroindustrial 1. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2014.

BATALHA, M. O.; SILVA, A. L. da. Marketing & agribusiness: um enfoque


estratégico. Revista de Administração de Empresas, v. 35, n. 5, p. 30–39,
1995.

BATALHA, M. O.; SOUZA-FILHO, H. M. Agronegócio no Mercosul: uma


agenda para desenvolvimento. São Paulo: Atlas, 2009.

CALLADO, A. A. C. Agronegócio. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2015.

FARINA, E. M. M. Q. Competitividade e coordenação de sistemas agroindustriais:


um ensaio conceitual. Gestão e Produção, v. 6, n. 3, p. 147–161, 1999.

FARINA, E. M. M. Q.; ZYLBERSTAJN, D. Organização das cadeias


agroindustriais de alimentos. In: ENCONTRO NACIONAL DE ECONOMIA, 20,
1992, Campos de Jordão. Anais... São Paulo: 1992. p. 189-207.

QUEIROZ, T. R.; ZUIN, L. F. S. Agronegócios – gestão e inovação. 1. ed. São


Paulo: Saraiva, 2006.

25
Administração Rural

SYLBERSZTAJN, D.; FARINA, E. M. M. Q. Projeto: diagnóstico sobre o sistema


agroindustrial de cafés especiais e qualidade superior do estado de Minas
Gerais. São Paulo: Universidade de São Paulo (PENSA) / SEBRAE, 2001.

ZYLBERSZTAJN, D. Papel dos contratos na coordenação agroindustrial: um


olhar além dos mercados. Revista de Economia e Sociologia Rural, v. 43, n. 3,
p. 385-420, 2005.

ZYLBERSZTAJN, D.; NEVES, M. F. Economia e gestão dos negócios


agroalimentares. São Paulo: Pioneira, 2000.

26
C APÍTULO 2
Administração no Contexto do
Agronegócio
A parti da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes
objetivos de aprendizagem:

 Descrever quais são os principais fatores associados ao campo da


administração, bem como suas principais teorias e evolução no decorrer do
tempo.

 Explicar como o planejamento estratégico pode contribuir para o sucesso das


organizações gerenciadas.

 Conhecer quais são as características que devem ser levadas em consideração


ao se efetuar o gerenciamento e planejamento de propriedades rurais.

 Elaborar um planejamento estratégico no contexto do segmento agropecuário.

 Propor alternativas para gerenciamento de propriedades rurais considerando


as principais especificidades presentes no semento agropecuário.
Administração Rural

28
Capítulo 2 Administração no Contexto do Agronegócio

ContextualiZação
Neste capítulo daremos destaque para dois pontos essenciais no universo
da Administração. O primeiro diz respeito às principais teorias e enfoques da
administração e que acabam por oferecer subsídios na gestão rural, tais quais:
Escola Clássica, Enfoque Comportamental, Enfoque Sistêmico, Enfoque da
Qualidade e Modelo Japonês de Administração. Já o segundo ponto é vinculado
ao primeiro, uma vez que abordamos sobre planejamento e empreendedorismo,
dando destaque para: processo de planejamento estratégico e principais fatores a
serem considerados no planejamento de propriedades rurais.

Entendendo o Ambiente da Gestão


O conceito de administração é muito similar entre diversos autores O conceito de
da área. As proximidades das definições ocorrem da seguinte forma, tal administração é
muito similar entre
como o levantamento feito por Chiavenato (2011, p. 4): diversos autores da
área.
O processo de alcançar objetivos pelo trabalho com
e por intermédio de pessoas e outros recursos organizacionais
(Definição de Samuel C. Certo);
O ato de trabalhar com e por intermédio de outras pessoas
para realizar os objetivos da organização, bem como de
seus membros (Definição de Patrick J. Montana e Bruce H.
Charnov);
O processo de planejar, organizar, liderar e controlar o
trabalho dos membros da organização e utilizar todos os
recursos organizacionais disponíveis para alcançar objetivos
organizacionais definidos (Definição de James A. F. Stoner, R.
Edward Freeman e Daniel A. Gilbert);
O alcance de objetivos organizacionais de maneira eficaz e
eficiente graças ao planejamento, à organização, à liderança e
ao controle dos recursos organizacionais (Definição de Richard
L. Daft);
O processo de planejar, organizar, liderar e controlar o uso de
recursos para alcançar objetivos de desempenho (Definição de
John R. Schermerhorn).

Portanto, tal como enfatizado pelas definições apresentadas, as principais


similaridades envolvendo o conceito de administração envolvem pessoas
trabalhando e sendo guiadas pelo alcance de objetivos predefinidos, de modo
organizado e planejado.

29
Administração Rural

a) Teorias administrativas

Desde o início dos estudos associados a esta temática, diversas


A Escola Clássica
da Administração é teorias contribuíram para o avanço da administração. A Escola Clássica
a grande propulsora da Administração é a grande propulsora dos estudos no campo da
dos estudos administração. Tal como ilustrado pela figura a seguir, e de acordo
no campo da
administração. com Maximiano (2000), esta escola tem como base quatro principais
profissionais: Frederick Taylor, Henry Ford, Henri Fayol e Max Weber,
cada um deles com suas ênfases específicas.

Figura 4 - Principais formadores da Escola Clássica da Administração

Fonte: Adaptado de Maximiano (2000).

Existem muitas Existem muitas teorias envolvendo os estudos em Administração,


teorias envolvendo tal como demonstrado pelo quadro a seguir:
os estudos em
Administração, tal
como demonstrado
pelo quadro a seguir.

30
Capítulo 2 Administração no Contexto do Agronegócio

Quadro 1 - Principais Teorias Administrativas: Principais Ênfases e Enfoques

Teorias administrativas Principal ênfase Principais enfoques

Administração Científica Nas tarefas Racionalização do trabalho no nível operacional.

Teoria Clássica Organização formal.

Princípios gerais da administração, funções do


Teoria Neoclássica
administrador.
Na estrutura Organização formal burocrática, racionalidade
Teoria da Burocracia
organizacional.
Múltipla abordagem em: organização formal e
Teoria Estruturalista informal; análise intraorganizacional e interorga-
nizacional.
Teoria das Relações Organização formal. Motivação, liderança, comu-
Humanas nicações e dinâmica de grupo.
Estilos de Administração. Teoria das decisões,
Teoria do Comportamento
integração dos objetivos organizacionais e
Organizacional Nas pessoas
individuais.
Teoria do Desenvolvimento Mudança organizacional planejada, abordagem
Organizacional de sistema aberto.
Análise intraorganizacional e análise ambiental.
Teoria Estruturalista
Abordagem de sistema aberto.
No ambiente
Análise ambiental (imperativo ambiental). Abor-
Teoria da Contingência
dagem de sistema aberto.
Administração da tecnologia (imperativo tecno-
Teoria da Contingência Na tecnologia
lógico).
Novas abordagens na Na competitivi- Caos e complexidade. Aprendizagem organiza-
Administração dade cional. Capital intelectual.
Fonte: Adaptado de Chiavenato (2011).

Tal como afirma Maximiano (2000), existem muitos pensamentos básicos


envolvendo as diferentes vertentes estudadas em Administração. Muitos possuem
relação entre si, sendo que alguns contribuíram para o surgimento de fortes
correntes administrativas, tal como mostra a figura a seguir.

31
Administração Rural

Figura 5 – Principais ideias envolvendo o campo dos


estudos em Administração: evolução e interligação

Fonte: Adaptado de Maximiano (2000).

Assim, diante desta figura, afirma-se que as principais características dos


principais enfoques mencionados são, tal como mencionado pelo autor:

• Enfoque comportamental: tem como principais áreas de interesse


os seguintes aspectos associados ao comportamento e às diferenças
individuais: percepção, personalidade, competências (conhecimentos;
aptidões e habilidades; atitudes, interesses e valores), estilos em relação à
liderança e à motivação. No que diz respeito ao comportamento coletivo e
aos processos interpessoais, foca principalmente nos seguintes aspectos:
cultura organizacional, clima organizacional, grupos informais, processo de
comunicação, de liderança e de motivação (MAXIMIANO, 2000).

• Enfoque sistêmico: suas principais bases consideram que a organização é um


sistema composto por partes técnicas e sociais; sistemas influenciam-se de forma
mútua; existe um ambiente que cerca a organização; o papel da administração é
zelar pelo desempenho global do sistema (MAXIMIANO, 2000).

• Enfoque da qualidade: o enfoque da qualidade possui três principais eras com


características muito peculiares. A primeira é a era da inspeção, em que produtos são

32
Capítulo 2 Administração no Contexto do Agronegócio

verificados um a um; cliente participa da inspeção; inspeção encontra defeitos, mas


não produz qualidade. A segunda é a era do controle estatístico, em que produtos
são verificados por amostragem; departamento especializado faz controle da
qualidade; ênfase na localização de defeitos. Já a terceira é a era da qualidade total,
tendo como foco o processo produtivo controlado; toda a empresa é responsável
pela qualidade; ênfase na prevenção de defeitos; qualidade assegurada com base
em sistema de administração da qualidade (MAXIMIANO, 2000).

• Modelo japonês de administração: de forma geral, pode se afirmar que as


bases do modelo japonês de administração derivam do próprio Sistema Toyota
de produção. Este, por sua vez, sofre forte influência do Sistema Ford de
produção, da Administração Científica, do modelo de Qualidade Total e das
próprias bases culturais do Japão (MAXIMIANO, 2000).

Para aprofundamento nos estudos sobre teorias e enfoques da


administração, sugerimos a leitura dos seguintes livros:

CHIAVENATO, I. Administração: teoria, processo e prática. 4.


ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011.

MAXIMIANO, A. C. A. Introdução à administração. 5. ed. São


Paulo: Atlas, 2000.

De forma geral,
b) Funções básicas da administração a maioria das
correntes esbarram
De forma geral, a maioria das correntes esbarram em quatro em quatro funções
básicas para as
funções básicas para as ações que envolvem o gerenciamento. Estas ações que envolvem
funções são: o gerenciamento.

• Planejamento, que está associado ao próprio planejamento das ações


necessárias para se atingir os objetivos que são alvo de serem realizados.

• Organização, que está vinculada à estruturação de todos os recursos


(recursos humanos, equipamentos, capital etc.), que serão demandados
para concretizar as ações envolvidas no planejamento.

• Direção, que diz respeito ao processo de gerenciamento de todos os


processos e etapas planejadas.

33
Administração Rural

• Controle, que é relacionado ao acompanhamento do andamento do


planejamento, identificando procedimentos errôneos para evitar repetições.
Ao controle compete prever acontecimentos não desejados, tal como
salientado por Ribeiro (2006).

Neste sentido, uma vez que todas as etapas passam, necessariamente,


pelo próprio planejamento, daremos ênfase agora a um dos mais importantes
componentes do campo da Administração: o processo de planejamento
estratégico. A partir da menção dos principais aspectos envolvendo o planejamento
estratégico, oferecemos uma contextualização mais aproximada ao caso do
planejamento no ambiente do agronegócio.

Processo de PlaneJamento
EstratÉgico
Falhas ligadas O planejamento estratégico é uma das principais necessidades
ao planejamento
estratégico são ligadas ao campo da gestão de qualquer empreendimento. Falhas
apontadas por ligadas ao planejamento estratégico são apontadas por especialistas
especialistas como (BATALHA, 2014; CHIAVENATO, 2006, 2011; DORNELAS, 2008;
sendo as principais
causas de sérios ZYLBERSZTAJN; NEVES, 2000) como sendo as principais causas de
problemas nas sérios problemas nas organizações. O planejamento estratégico possui
organizações.
muitos aspectos que são essenciais, dentre os quais se destacam
(CHIAVENATO, 2011):

a) É projetado no longo prazo.


b) Envolve a empresa como um todo.
c) Está voltado para as relações entre a empresa e seu ambiente de tarefa.

No Brasil, mais de No Brasil, mais de 50% das falências são ocasionadas por
50% das falências problemas como falta de planejamento estratégico ou erros em sua
são ocasionadas
por problemas elaboração, implantação ou gestão. O planejamento estratégico possui
como falta de vários elementos e características. Os principais estão vinculados
planejamento ao próprio processo de planejamento estratégico. Para exemplificar
estratégico ou erros
em sua elaboração, a relação entre os seus elementos, as figuras a seguir apresentam
implantação ou exemplificações que se complementam, com base nos autores
gestão.
Chiavenato (2011) e Dornelas (2008):

34
Capítulo 2 Administração no Contexto do Agronegócio

Figura 6 – Etapas do Planejamento Estratégico

Fonte: Adaptado de Chiavenato (2011).

Figura 7 – Processo de Planejamento Estratégico

Fonte: Adaptado de Dornelas (2008).

Portanto, tal como salientado pelas duas últimas figuras, o processo de


planejamento estratégico passa, necessariamente, pela definição de objetivos e
pelas análises dos ambientes externo e interno, que são essenciais no processo
de planejamento estratégico. Todo o trabalho desempenhado nesta tarefa não deve
ser visto como estático, já que frequentemente são necessárias as revisões sobre
decisões previamente tomadas. A seguir, tendo como base a Figura 7, abordaremos
em detalhes cada uma das etapas do processo de planejamento estratégico.

35
Administração Rural

a) Missão, visão e valores organizacionais

A primeira etapa condizente ao planejamento estratégico é a definição da missão,


da visão e dos valores e princípios do negócio. Tais definições são fundamentais para
qualquer organização, pois servem como referência sobre o sentido da organização,
como aspirações futuras e métodos de trabalho, por exemplo.
A missão da
organização deve
expressar o seu A missão da organização deve expressar o seu “sentido de ser”, o
“sentido de ser”, “porquê” da sua existência, o que a empresa faz (DORNELAS, 2008).
o “porquê” da sua
existência, o que a Para exemplificar, oferecemos declarações de missão das seguintes
empresa faz. instituições: Disney, Banco do Brasil e Ford.

• Disney: “alegrar as pessoas”.

• Banco do Brasil: “a missão do Banco do Brasil é ser um banco rentável e


competitivo, atuando com espírito público em cada uma de suas ações, junto
a clientes, acionistas e toda sociedade”.

• Ford: “somos uma família global e diversificada, com um legado histórico do


qual nos orgulhamos e estamos verdadeiramente comprometidos em oferecer
produtos e serviços excepcionais, que melhorem a vida das pessoas”.

Já a visão expressa Já a visão expressa às aspirações futuras, o lugar em que a


às aspirações organização deseja chegar, a direção que a empresa pretende seguir
futuras, o lugar em (DORNELAS, 2008). No mesmo sentido, são oferecidos exemplos das
que a organização
deseja chegar, mesmas instituições.
a direção que a
empresa pretende
seguir • Disney: “criar um mundo onde todos possam se sentir crianças”.

• Banco do Brasil: “nossa visão é a de ser o banco mais confiável e relevante


para a vida dos clientes, funcionários e para o desenvolvimento do Brasil”.

• Ford: “ser a empresa líder mundial na avaliação do consumidor em produtos


e serviços automotivos”.

36
Capítulo 2 Administração no Contexto do Agronegócio

Já os princípios e valores afirmam sobre sua base de crença. Já os princípios e


Geralmente, a declaração de princípios e valores deixa claro sobre valores afirmam
sobre sua base de
quais condições e termos a empresa atua, tal como exemplos das crença
declarações da Disney e do Banco do Brasil.

• Disney: “não ao ceticismo; criatividade, sonhos e imaginação; atenção


fanática aos detalhes; preservação e controle da magia Disney”.

• Banco do Brasil: “espírito público: consideramos simultaneamente o todo e a


parte em cada uma de nossas ações para dimensionar riscos, gerar resultados
e criar valor; Ética: é inspiração e condição de nosso comportamento pessoal e
institucional; Potencial humano: acreditamos no potencial de todas as pessoas
e na capacidade de um se realizar e contribuir para a evolução da sociedade;
Eficiência: otimizamos permanentemente os recursos disponíveis para a criação
de valor para todos os públicos de relacionamento; Inovação: cultivamos uma
cultura de inovação como garantia de nossa perenidade; Visão do cliente:
conhecemos os nossos clientes, as suas necessidades e expectativas
e proporcionamos experiências legítimas que promovem relações de Algumas empresas,
em vez de declara-
longo prazo e que reforçam a confiança na nossa marca”. rem publicamente
seus valores e
princípios, optam
Algumas empresas, em vez de declararem publicamente seus por uma declaração
valores e princípios, optam por uma declaração da sua política da sua política de
de qualidade, visando atingir diretamente os interesses dos seus qualidade, visando
atingir diretamente
consumidores. Tal é o caso, por exemplo, da Ford, como exemplificado os interesses dos
a seguir: seus consumidores.

• Ford: “atingir continuamente resultados consistentemente melhores em


termos de satisfação do consumidor com nossos produtos e
serviços. Processos e pessoas têm sido e sempre serão a chave Definidas as
declarações de
para conseguirmos estes resultados”. missão, visão e
valores, uma tarefa
posterior fundamental
b) Análise dos ambientes interno e externo no processo de
planejamento
Definidas as declarações de missão, visão e valores, uma tarefa estratégico é
a análise dos
posterior fundamental no processo de planejamento estratégico é ambientes interno
a análise dos ambientes interno e externo da organização, também e externo da
organização, também
conhecida como análise de SWOT. Na análise interna são feitas as conhecida como
análise de SWOT.

37
Administração Rural

ponderações sobre os pontos fortes e os pontos fracos circunscritos ao universo


do controle da própria empresa. Para exemplificar uma forma básica de análise
dos pontos fortes e fracos, o quadro a seguir monstra um checklist
A análise do que pode ser útil neste tipo de análise. De acordo com o quadro, a
ambiente interno é
feita com base em análise do ambiente interno é feita com base em fatores que estão
fatores que estão completamente ao controle da organização, em áreas diversas, tais
completamente
ao controle da como produção, marketing, finanças e produção, por exemplo. Para
organização, em cada uma destas, são elencados elementos cujas interferências podem
áreas diversas, tais impactar positiva ou negativamente o desempenho do negócio.
como produção,
marketing, finanças
e produção, por
exemplo.

Quadro 2 – Checklist de pontos fortes e fracos

38
Capítulo 2 Administração no Contexto do Agronegócio

Fonte: Adaptado de Kotler (1998 apud DORNELAS, 2008).

Já a análise externa é feita tendo como base critérios que não


Já a análise externa
são controláveis pela organização. Entre alguns exemplos, estão é feita tendo como
acontecimentos nos contextos social, político e macroeconômico, que base critérios que
podem afetar de alguma forma o desempenho da empresa, mas que não são controláveis
pela organização.
não tem poder de diminuir ou aumentar seus efeitos sobre o andamento
dos seus negócios. Para exemplificar, o quadro a seguir mostra alguns casos de
fatores associados à análise do ambiente externo.

Quadro 3 – Bases para análises do ambiente externo

Cenário Oportunidades Ameaças

1- 1-
Político legal
2- 2-
1- 1-
Tecnológico
2- 2-
1- 1-
Sociocultural
2- 2-
1- 1-
Econômico
2- 2-
1- 1-
Demográfico
2- 2-

39
Administração Rural

1- 1-
Empresarial
2- 2-
1- 1-
Ambiental
2- 2-
1- 1-
Outros
2- 2-
Fonte: Adaptado de Dornelas (2008).

Tão importante quanto fazer esta análise interna e externa, é desenvolver


uma análise criteriosa sobre os principais competidores do negócio, a fim de
melhorar a sua performance no mercado. Para isso, a quadro a seguir oferece
uma base de apoio.

Quadro 4 – Base para análise dos principais concorrentes do negócio

Seus Diferenciais do Diferenciais do Diferenciais do


Atributos
diferenciais competidos A competidos B competidos C

Produtos / serviço
Participação de mercado em
vendas
Canais de venda utilizados
Qualidade
Preço
Localização
Publicidade
Performance
Tempo de entrega
Métodos de distribuição
Garantias
Capacidade de produção e
atendimento da demanda
Funcionários
Métodos gerenciais
Métodos de produção

40
Capítulo 2 Administração no Contexto do Agronegócio

Saúde financeira
Posicionamento estratégico
Flexibilidade
Tecnologia
Pesquisa e desenvolvimento
Vantagens competitivas
Pontos fortes
Pontos fracos

Fonte: Adaptado de Dornelas (2008).

c) Definição de objetivos e metas

Derivadas das análises feitas nos ambientes interno e externo, estão as


definições dos objetivos, das metas e das estratégias da organização. De acordo
com Dornelas (2008), os objetivos e metas:

• São o referencial do planejamento estratégico.


• Ajudam a indicar o que a empresa busca atingir.
• Devem ser mencionados de maneira transparente para que permita
comparações, medições e avaliações.

Os objetivos indicam os desejos organizacionais em nível macro, as


intenções gerais da organização, bem como o caminho pelo qual a organização
deve percorrer para conquistar o que procura. Os objetivos são estabelecidos
com frases e palavras, bem como devem explanar resultados amplos que definam
o compromisso da empresa em atingi-los. Além disso, os objetivos devem ser
ambiciosos e expressando necessidades de esforços que superem a normalidade
e sirvam para que a empresa os tenha como ponto de superação. Se assim não
for, os objetivos não contribuirão para motivar os colaboradores da organização.
As metas, por sua vez, são as ações específicas, medíveis, atingíveis, relevantes
e temporais que devem ser tomadas para que se atinjam os objetivos
Um único objetivo
estabelecidos. Dessa forma, um único objetivo pode ter mais de uma pode ter mais de
meta específica (DORNELAS, 2008). Com base neste autor, exemplos uma meta específica.
de objetivos são:

• Conseguir a liderança de mercado.


• Ser a empresa que oferece os menores preços.
• Conquistar o retorno sobre o investimento em 30 meses.
• Conquistar o ponto de equilíbrio em julho de 2018.

41
Administração Rural

d) Definição das estratégias

Existem diversos No que diz respeito ao delineamento das estratégias, geralmente


exemplos de as mesmas estão vinculadas diretamente ao mercado em que a
estratégias.
empresa atua. Existem diversos exemplos de estratégias. As mais
comuns, tal como salienta Dornelas (2008), são direcionadas para penetração de
mercado; manutenção de mercado; expansão de mercado; diversificação.

e) Planos de ações e feedback

Vale ressaltar que uma das etapas essenciais do processo de planejamento


estratégico é a própria implantação dos planos de ações desenvolvidos. Em todo
o processo deve-se dar atenção especial para as pessoas que estão envolvidas
nas tarefas associadas, desde a elaboração até a implantação de cada ação. As
pessoas envolvidas devem estar cientes sobre as implicações de suas funções.
Para isso é necessário que haja sintonia e sinergia entre os profissionais das
mais diversas áreas da empresa. É preciso deixar claro que cada ação tem como
objetivo impactar positivamente o desempenho geral da organização, e não
somente de um departamento funcional em específico.

Diante disso, é de suma importância que todo o processo


Os feedbacks entre
as partes envolvidas de planejamento estratégico seja organizado e gerenciado.
são tão importantes. Sobre todas as etapas são necessários acompanhamentos e
monitoramentos constantes. Uma das formas mais eficientes para
isso é o estabelecimento de rotineiros feedbacks entre todos os envolvidos
nas implantações das diretrizes e ações. Feedbacks entre líderes e liderados
contribuem para a diminuição das chances de repetição de possíveis insucessos
e também otimizam as possibilidades de acertos mais precisos. Em algumas
ocasiões, decisões sobre o planejamento estratégico podem incidir sobre
alterações significativas em planos anteriormente formatados. Por este motivo, os
feedbacks entre as partes envolvidas são tão importantes.

Assim como demais peculiaridades inerentes às organizações, o


planejamento estratégico deve ser algo “vivo” nas organizações, ou seja, uma
vez feito, o mesmo deve ser sempre alimentado com base nas informações
coletadas dos membros envolvidos e também em possíveis alterações estruturais
nas organizações, bem como mudanças no ambiente externo que podem
afetar de modo positivo ou negativo o desempenho das empresas. Caso seja
bem desenvolvido, implantado, monitorado e gerenciado, o planejamento
estratégico pode ajudar significativamente para o sucesso das organizações.
Consequentemente, o planejamento estratégico também contribui para que haja
menos chances de insucesso de organizações, sobretudo as que estão iniciando
suas atividades.

42
Capítulo 2 Administração no Contexto do Agronegócio

PlaneJamento no Contexto da
Gestão Rural
Dada a importância do planejamento na gestão das propriedades rurais,
abordamos aqui alguns pontos que consideramos como de suma importância
para elaboração do planejamento de propriedades rurais. Para isso, neste tópico,
daremos destaque para fatores que impactam o gerenciamento tanto de grandes
quanto de pequenas propriedades.

No Brasil, a maioria dos estabelecimentos agropecuários são


A maioria dos
pertencentes a pequenos proprietários cujos perfis se enquadram no estabelecimentos
grupo dos agricultores familiares. De acordo com Lei nº 11.326, de agropecuários são
24 de julho de 2006 (BRASIL, 2006), que define agricultura familiar, é pertencentes a
considerado como agricultor familiar no Brasil o produtor que: i) não pequenos proprietá-
rios cujos perfis se
possui área maior que quatro módulos fiscais; ii) emprega de forma enquadram no grupo
predominante trabalho próprio ou familiar em sua propriedade, bem dos agricultores
como renda predominante oriunda das atividades desenvolvidas na familiares.
propriedade; iii) dirige sua propriedade (ALVARENGA; ARRAES, 2017).

Com base em dados do Censo Agropecuário feito em 1996, Nantes e


Scarpelli (2014) mencionam que aproximadamente 65% dos agropecuaristas
do Brasil eram proprietários de estabelecimentos com até 20 hectares, tal como
ilustra a figura a seguir. O perfil da extrema maioria destes proprietários está
relacionado à baixa adesão de tecnologia no campo, bem como à mão de obra e a
renda é predominantemente familiar e provinda da atividade no campo. Neste tipo
de propriedade, o proprietário gere atividades estabelecidas desde a produção
até a comercialização dos produtos agropecuários (NANTES; SCARPELLI, 2014).

Figura 8 – Quantidade de estabelecimentos rurais no Brasil em 1996

Fonte: Adaptado de Nantes e Scarpelli (2014).

43
Administração Rural

Para nos aprofundarmos neste universo, abordaremos agora importantes


fatores que devem ser levados em consideração no planejamento das mais
comuns propriedades rurais do Brasil. Para tanto, abordamos fatores mais
associados às pequenas e às grandes propriedades, bem como elementos que
devem ser considerados no planejamento de ambos os tipos.

a) Consideração de fatores no contexto geral do planejamento rural


Por mais que
haja diferenças
entre os portes Por mais que haja diferenças entre os portes das propriedades
das propriedades rurais, existem alguns fatores que são comuns na consideração do
rurais, existem
alguns fatores que desenvolvimento de seus planejamentos. Tais fatores estão vinculados
são comuns na à/ao: especificidades da produção agropecuária, capacitação técnica
consideração do
desenvolvimento de e gerencial, possibilidade de agregação de valor aos produtos,
seus planejamentos. informação constante, mitigação dos impactos ambientais.

• Especificidades da produção agropecuária

Tal como afirma Araújo (2007), existem três principais


Existem três
principais especificidades associadas à produção agropecuária, que são:
especificidades sazonalidade da produção, influência de fatores biológicos e
associadas
à produção perecibilidade rápida dos produtos agropecuários. A produção
agropecuária, que agropecuária é completamente dependente das condições climáticas,
são: sazonalidade da que não são idênticas em todas as regiões produtoras. As condições
produção, influência
de fatores biológicos climáticas implicam diretamente sobre o que se pode produzir e sobre
e perecibilidade a quantidade do que será produzido. As condições climáticas afetam
rápida dos produtos
agropecuários. também a comercialização dos produtos agropecuários, uma vez que
não existe muita variação no decorrer do ano sobre as quantidades
demandadas, que são relativamente constantes. Dessa forma, em função
da sazonalidade da produção, frequentemente ocorrem algumas situações
especificamente vinculadas aos mercados agrícolas, que são, por exemplo,
variação de preço (épocas de safras com preços mais baixos e preços mais altos
em situação inversa), necessidade de infraestrutura para estoque e conservação
dos produtos agropecuários, épocas que se utilizam mais os insumos de produção
e fatores de produção (mão de obra, equipamentos, agroquímicos, por exemplo),
características específicas de transformação e processamento de matéria-prima
(ARAÚJO, 2007).

No que diz respeito à influência de fatores biológicos, estes também podem


causar implicações em todos os ciclos envolvendo a produção agropecuária.
Isso porque os produtos agropecuários são propícios para o ataque de pragas
e doenças que causam diminuição nas quantidades produzidas e também na
qualidade dos produtos ofertados. Frequentemente, em lavouras tradicionais
não orgânicas, o combate às pragas e às doenças é feito com base na aplicação

44
Capítulo 2 Administração no Contexto do Agronegócio

do uso de agrotóxicos. A administração destes produtos implica diretamente os


seguintes fatores: aumento dos custos de produção, aumento dos riscos para o
meio ambiente e para a saúde dos trabalhadores, possibilidade de ocorrência
de resíduos tóxicos nos produtos que são consumidos à mesa pelo consumidor
(ARAÚJO, 2007).

O terceiro fator, que se vincula à perecibilidade rápida dos produtos, causa


implicações tanto no planejamento da quantidade a ser produzida quanto na
quantidade que poderá ser comercializada. A vida útil dos produtos agropecuários
é rápida. Em função disso, necessitam ser consumidos ou processados em
um tempo muito curto para que consigam manter suas características. Neste
aspecto, tão importante quanto produzir em quantidades satisfatórias é ter canais
de comercialização já definidos capazes de absorver a produção sem que haja
perda dos produtos por causa de excesso de tempo em estoque ou também
desvantagem na negociação associada a alta oferta (ARAÚJO, 2007).

• Capacitação técnica e gerencial

O segmento agropecuário dentro da porteira passou O segmento agro-


por transformações no decorrer dos anos que deixaram sua pecuário dentro da
porteira passou por
operacionalização e gerenciamento tão exigente quanto organizações transformações no
formais. A adoção de novas tecnologias nos campos contribuiu para decorrer dos anos
que o Brasil atingisse patamares de excelência no cenário de produção que deixaram sua
operacionalização e
agropecuária mundial. Os avanços ocorreram em etapas que estão gerenciamento tão
circunscritas desde a produção até a comercialização. Neste contexto, exigente quanto or-
ganizações formais.
é importante que os agentes envolvidos no gerenciamento rural estejam
a par das tecnologias e inovações tecnológicas que estão associadas aos seus
negócios. Quase sempre as adoções de novas tecnologias nos campos brasileiros
acarretam redução nos custos de produção e também maior retorno financeiro,
tão importante quanto é a capacitação gerencial, e não apenas técnica, dos
envolvidos na administração rural. No Brasil, proprietários rurais, muitas vezes,
dominam as técnicas que vão desde o plantio/cria até a colheita da matéria-prima
produzida. Muitos agropecuaristas, contudo, não gerenciam suas propriedades tal
como um negócio. Portanto, a capacitação gerencial de muitos agropecuaristas é
ainda um gargalo para o agronegócio nacional.

• Informação constante

O principal fator implicante aqui é o uso da informação para tomada de


decisões, sejam elas associadas desde a produção até a venda dos produtos. No
Brasil, importantes meios podem ser considerados como importantes fontes de
informação para o segmento agropecuário, sendo algumas principais:

45
Administração Rural

i) Feiras e exposições agropecuárias.


ii) Revistas especializadas no setor.
iii) Instituições de pesquisa (Embrapa, Emater, IAC etc.).
iv) Associações de produtores.
v) Universidades com faculdades de Ciências Agrárias e Ciências Sociais
Aplicadas com foco em estudo do agronegócio.
vi) Secretarias de Agricultura.

• Mitigação dos impactos ambientais

Existe uma forte Talvez aqui esteja um dos principais pontos a ser considerado no
demanda mundial gerenciamento que envolve o contexto agropecuário. Isso porque existe
pela redução de
impactos ambientais uma forte demanda mundial pela redução de impactos ambientais no
no decorrer dos decorrer dos sistemas produtivos, sendo o setor agropecuário um dos
sistemas produtivos,
sendo o setor que mais contribui para tal. Neste setor são gerados impactos sobre
agropecuário um dos recursos naturais, tais como água e solo, por exemplo. Além disso,
que mais contribui uma vez que este setor atua, necessariamente, com a produção
para tal.
alimentar, a segurança alimentar também possui relações diretas
com a necessidade de redução de impactos ambientais ocasionados pelos
processos agrícolas. Neste aspecto em específico, resíduos de agrotóxicos nos
alimentos estão entre as maiores preocupações de grupos de consumidores e
entidades públicas e privadas. Para oferecer melhor entendimento acerca desta
problemática, apresentaremos mais adiante em nosso livro o caso do uso de
agrotóxicos no Brasil e também um exemplo de um estudo nosso que quantificou
o consumo de agrotóxicos no decorrer do ciclo de vida da produção de milho.

b) Consideração de fatores no planejamento de grandes propriedades

Para grandes propriedades, aspectos muito comuns que devem estar


presentes no seu planejamento dizem respeito à/ao:

• Contratação de mão de obra

Sobre este quesito, dois fatores se correlacionam de forma muito importante.


Um está relacionado ao ciclo da produção agropecuária e o outro à carência de
mão de obra capacitada para operar equipamentos agropecuários que possuem
tecnologias de última geração. Existem culturas que possuem grandes diferenças
na quantidade de mão de obra empregada nos seus distintos ciclos. São os
casos específicos de culturas que necessitam empregar grande quantidade de
trabalhadores braçais em épocas de plantio e colheita, principalmente. Entre
alguns casos podem ser citados, por exemplo, colheita de café e cana-de-açúcar
em áreas que não suportam a operacionalização de colheitadeiras mecanizadas,

46
Capítulo 2 Administração no Contexto do Agronegócio

plantio de cana-de-açúcar, colheita de feijão e frutas diversas. Neste quesito há


dois pontos fundamentais. O primeiro é estar amparado por contratações legais,
adequadas às leis trabalhistas. O segundo é efetuar um planejamento adequado
sobre a quantidade correta de mão de obra a ser empregada, de modo que não
haja nem desperdício de dinheiro com contratações desnecessárias nem perdas
(colheitas não feitas, mudas não plantadas em épocas corretas) e sobrecarga de
trabalho aos colaboradores empregados.

• Tecnologia

No que diz respeito ao emprego de tecnologia no campo, muitas regiões


do Brasil estão enfrentando dificuldades para encontrar mão de obra qualificada
para operar equipamentos no campo. São os casos, por exemplo, das grandes
propriedades produtoras de grãos e também das usinas de açúcar e álcool.
Muitas vezes, o problema está além da falta de cursos de capacitação com focos
específicos para os operadores. Isso porque a falta de educação formal de muitos
trabalhadores rurais os impossibilitam de compreender pontos fundamentais para
tal capacitação, tal como é o caso, por exemplo, da própria leitura dos manuais
dos equipamentos.

A adoção de tecnologia nos campos do Brasil tem contribuído muito A adoção de tecno-
para a alavancagem do agronegócio nacional. Tanto os equipamentos logia nos campos
do Brasil tem
e implementos que propiciam o desenvolvimento do plantio direto nos contribuído muito
campos do Brasil, quanto a tecnologia envolvida na agricultura de para a alavancagem
do agronegócio
precisão, são fatores que se destacam positivamente. Da mesma forma, nacional.
destaca-se também o uso de pivôs de irrigação, tal como monstra a
figura a seguir, como exemplos que podem ser mencionados como importantes
para o aumento da produtividade agropecuária no Brasil, sobretudo no que diz
respeito ao aumento da produção de grãos.

Figura 10 – Irrigação com pivô central e área plantada com pivô central

Fonte: Os autores.

47
Administração Rural

Além dos pivôs de irrigação, outra tecnologia que tem contribuído muito para
o avanço do agronegócio do país é o acondicionamento de grãos em silos de
armazenagem diretamente nas próprias fazendas, tal como ilustra a figura a seguir:

Figura 11 – Silo de armazenagem de grãos

Fonte: Os autores.

As principais vantagens destes equipamentos têm sido nas seguintes


direções:

I) Possibilidade de vender a produção em períodos de preços melhores, uma


vez que o produtor não precisa, necessariamente, vender a produção no
pico da colheita, quando preços podem não ser tão atrativos, já que existe
excesso de produto no mercado.

II) Possibilidade de estocar a produção em condições adequadas na própria


propriedade, diminuindo também as chances de a mercadoria obter umidade,
que implica diminuição do valor pago pelo grão.

III) Possibilidade de saber, ainda na propriedade, a quantidade produzida, já


que a maioria das propriedades que possuem silos instalados trabalham
também com balanças acopladas. Isso permite tanto um maior controle aos
proprietários sobre suas produções como também diminuem as chances de
distorções caso a mercadoria seja quantificada em balanças que estão em
outras localidades, tal como é o caso de balanças dos próprios compradores,
de cooperativas ou de galpões terceirizados de armazenagem, por exemplo.

• Conhecimento da operacionalização das diferentes formas de


comercialização

Tão importante quanto produzir com eficiência, é comercializar utilizando


as possibilidades associadas aos mercados de produtos agrícolas. Dentre as

48
Capítulo 2 Administração no Contexto do Agronegócio

principais alternativas de comercialização de produtos agroindustriais, Dentre as principais


podem ser citados os seguintes tipos: mercado spot, mercado a termo, alternativas de
comercialização de
mercado de futuros e contratos de longo prazo. produtos agroindus-
triais, podem ser
citados os seguintes
I) Mercado spot: neste mercado, as transações comerciais ocorrem tipos: mercado spot,
em um único momento e as relações e processos de comércio são mercado a termo,
esporádicas, tais como aquelas que ocorrem em supermercados, mercado de futuros
e contratos de longo
por exemplo. Nestas relações de mercado, é fácil identificar que não prazo.
existe obrigação de uma relação de comércio futura de nenhuma das
partes envolvidas na operação. No mercado spot de produtos agroindustriais
não existe certeza sobre os preços praticados, já que os preços oscilam com
frequência (AZEVEDO, 2014).

II) Mercado a termo: neste mercado, os agentes envolvidos nas transações


estabelecem contratos onde há acordos sobre certos fatores futuros
envolvidos nas transações. Assim, os vendedores e compradores podem
estabelecer os seguintes exemplos de acordos preestabelecidos, como por
exemplo: meio de transporte (caminhão, trem, navio, por exemplo) a ser
utilizado para escoar a mercadoria, forma de pagamento, localidade e data
da entrega da mercadoria (AZEVEDO, 2014).

III) Mercado de futuros: aqui os contratos especificam apenas fatores vinculados


ao prazo e local de entrega da mercadoria; produto comercializado (soja,
milho, por exemplo). O mercado de futuros é um tipo de mercado que possui
custos que são relativamente baixos por causa da padronização envolvida
nas transações (AZEVEDO, 2014).

IV) Contratos de longo prazo: são contratos que objetivam garantir maior
estabilidade nas transações através de garantias preestabelecidas que
são condizentes tanto ao tempo como à forma de demanda do produto. No
caso dos produtos agroindustriais, tanto contratos de franquias, integrações
verticais e joint ventures podem ser citados como exemplos de contratos de
longo prazo (AZEVEDO, 2014).

Para aprofundamentos nestes tipos de comercialização, ler


artigo:

AZEVEDO, P. F. de. Comercialização de produtos


agroindustriais. In: BATALHA, M. O. (Ed.). Gestão Agroindustrial 1.
3. ed. São Paulo: Atlas, 2014. p. 63-112.

49
Administração Rural

c) Consideração de fatores no planejamento de pequenas propriedades

No que diz respeito às pequenas propriedades, os seguintes fatores são


mais comuns na consideração da elaboração do planejamento:

• Tecnologia e produção apropriada

Isso porque Para pequenas propriedades, este é um importante aspecto


muitos pequenos a ser levado em consideração. Isso porque muitos pequenos
agricultores agricultores brasileiros gerenciam e operam suas propriedades
brasileiros gerenciam
e operam suas usando equipamentos e implementos que são mais condizentes para
propriedades usando grandes propriedades. Neste mesmo sentido, tão importante quanto
equipamentos e
implementos que são utilizar equipamentos e implementos condizentes com as condições
mais condizentes da propriedade, é não depender de apenas um tipo de cultura para
para grandes gerar receitas para as propriedades. É muito comum encontrar no
propriedades.
Brasil pequenos agropecuaristas produzindo suas culturas nos moldes
de grandes produtores, que ganham por escala de produção. Para pequenas
propriedades, é importante que haja diversificação da produção, bem como
também maior proximidade com mercados consumidores e diversificação da
produção. O concílio de diversas culturas e criações tem sido uma das principais
alternativas que acarretam em rendas superiores para pequenos agropecuaristas.

• Atenção quanto às opções de crédito disponíveis

No Brasil, uma das principais instituições financeiras que oferecem crédito


para agropecuária é o Banco do Brasil. Existem linhas específicas para pequenos
produtores nas seguintes linhas de financiamento: custeio, investimento,
comercialização e capital de giro.

• Vínculo a cooperativas e associações

Uma das estratégias Uma das estratégias que pode ser utilizada por pequenos
que pode ser utilizada produtores é o seu vínculo a associações ou cooperativas de
por pequenos produtores. As principais vantagens deste tipo de vínculo ocorrem
produtores é o seu
vínculo a associações em duas importantes direções. A primeira está associada à aquisição
ou cooperativas de de insumos necessários para produção dos produtos agropecuários.
produtores.
Estando vinculados a cooperativas e associações, abrem-se para
possibilidades de comprar insumos em maiores quantidades por preços menores
do que se fossem comprados individualmente. Já a outra principal vantagem está
atrelada à comercialização. Em conjunto, os pequenos produtores conseguem
atingir mercados que não conseguiriam se estivessem atuando sozinhos,
justamente pelo fato de venderem em maiores quantidades.

50
Capítulo 2 Administração no Contexto do Agronegócio

• Aproximação dos mercados consumidores: selos de certificação

Outra estratégia diz respeito à adequação das produções aos variados tipos
de certificação existentes. Há uma demanda muito forte por produção sustentável
e existe uma quantidade significativa de certificações que atuam nestes mercados.
Para aprofundar nesta temática, ofereceremos como exemplificação, no Capítulo
4 do nosso livro, o caso das certificações socioambientais no setor cafeeiro.

• Sucessão familiar

A sucessão familiar da propriedade rural deve ser um fator Um dos pontos cen-
presente no processo de planejamento estratégico. Isso porque um dos trais envolvidos no
processo de plane-
pontos centrais envolvidos no processo de planejamento estratégico jamento estratégico
está envolvido com o horizonte temporal e muitas propriedades rurais está envolvido com o
horizonte temporal e
familiares do Brasil não estão tendo com quem deixar a continuidade da muitas propriedades
produção agropecuária familiar. Nestas propriedades, atuar no campo rurais familiares do
para os filhos dos proprietários não é uma opção frente outras formas de Brasil não estão ten-
do com quem deixar
vida longe da produção agropecuária. A principal alternativa para atrair a continuidade da
a retenção dos filhos dos proprietários agropecuários na continuidade produção agropecu-
ária familiar.
do negócio familiar é oferecer opções de vida no campo que tenham as
comodidades básicas encontradas nos centros urbanos (tais como residências
confortáveis com instalações elétricas, internet, energia elétrica, estradas
conservadas) e, sobretudo, que os retornos econômicos obtidos das atividades
do campo sejam tão vantajosos quanto outras opções fora dele. Para tanto, um
caminho seguro é adotar atitude empreendedora e gerir a propriedade rural tal
como uma organização convencional. Para continuar oferecendo subsídios neste
sentido, abordamos agora sobre um ponto fundamental no gerenciamento de
qualquer negócio: empreendedorismo.

Empreendedorismo No Contexto Da
Gestão Rural
Pensar e gerir a
Desenvolver o empreendedorismo entre os agricultores brasileiros propriedade tal como
está entre algumas das principais necessidades do país. Pensar e gerir um negócio é a
forma mais indicada
a propriedade tal como um negócio é a forma mais indicada para o para o sucesso das
sucesso das propriedades rurais brasileiras. propriedades rurais
brasileiras.

Tal como afirma Dornelas (2008), empreendedores de sucesso possuem


algumas características em comum, sendo as principais:

51
Administração Rural

a) São visionários.
b) Sabem tomar decisões.
c) Sabem explorar ao máximo as oportunidades.
d) São determinados e dinâmicos.
e) São dedicados.
f) São otimistas.
g) São apaixonados pelo que fazem.
h) São independentes e motivados por construir o próprio destino.
i) São líderes e formadores de equipes.
j) Possuem um bom networking.
k) São ótimos planejadores.
l) Possuem conhecimento sobre o negócio.
m) Assumem riscos calculados.
n) Criam valor para a sociedade.

À frente de um negócio, é importante que se busque reunir o máximo das


características mencionadas para evitar o fracasso no negócio em andamento ou
ainda em planejamento. No Brasil, grande quantidade de empresas não consegue
dar continuidade aos seus negócios. Baseado em pesquisa do SEBRAE, em
dados das empresas que foram abertas nos cinco anos compreendidos entre
1997 e 2001, Dornelas (2008) afirma, tal como ilustrado pela Figura 12, que no
quinto ano aproximadamente o dobro de pequenas empresas são encerradas
quando comparado com o primeiro ano de vida. Tal como afirma o autor, esta é a
taxa de empresas que permanecem em atividade entre o primeiro e quinto ano,
respectivamente: 69%, 63%, 51%, 47%, 40%.

Figura 12 – Percentual de pequenas empresas encerradas e em


atividade no Brasil nos primeiros cinco anos: base entre 1997 a 2001

Fonte: Adaptado de Dornelas (2008).

52
Capítulo 2 Administração no Contexto do Agronegócio

As causas de insucesso são inúmeras e similares entre as diversas A extrema maioria


localidades. Tal como ilustra a Figura 13, baseada em pesquisa feita das causas primárias
nos Estados Unidos, Dornelas (2008) afirma que a extrema maioria das do fracasso de
start-ups daquele
causas primárias do fracasso de start-ups daquele país tem motivo em país tem motivo em
fatores associados a deficiências no gerenciamento. A Figura 13 mostra fatores associados
a deficiências no
os seguintes percentuais que foram apontados como causas de fracasso gerenciamento.
das empresas citadas: incompetência gerencial (45%), inexperiência no
ramo (9%), inexperiência em gerenciar (18%) e expertise desbalanceada (20%).

Figura 13 – causas de fracasso de start-ups americanas

Fonte: Adaptado de Dornelas (2008).

Geralmente existem algumas etapas básicas implícitas desde os primeiros


levantamentos sobre o negócio. Segundo Dornelas (2008), são quatro as etapas
muito bem identificadas, implícitas no processo empreendedor:

a) Identificar e avaliar a oportunidade.


b) Desenvolver o plano de negócios.
c) Determinar e captar os recursos necessários.
d) Gerenciar a empresa criada.

Entre estas quatro etapas do processo empreendedor, o Plano de Negócios


é apontado por especialistas (CHIAVENATO, 2006; DORNELAS, 2008) como a
etapa capaz de deixar estruturado de forma clara e sucinta todo o planejamento
da empresa a ser criada e também de empresas já em andamento. Dada sua
importância, daremos destaque as suas principais características.

53
Administração Rural

a) Plano de negócios

O desenvolvimento O desenvolvimento do Plano de Negócios deve reunir as principais


do Plano de
Negócios deve informações sobre a empresa. De forma sucinta, sua elaboração passa,
reunir as principais necessariamente, pela resposta a questões que estão vinculadas a
informações sobre a
empresa. nove pontos principais. Segundo Chiavenato (2006), estas são:

1- Ramo de atividade: Por que escolheu o negócio?

2- Mercado consumidor: Quem são os clientes? O que tem valor para os


clientes?

3- Mercado fornecedor: Quem são os fornecedores de insumos e serviços?

4- Mercado concorrente: Quem são os seus concorrentes?

5- Produtos/serviços a serem ofertados: Quais são as características dos


produtos/serviços? Quais são os seus usos menos evidentes? Quais são as
suas vantagens e desvantagens diante dos concorrentes? Como vai criar
valor para o cliente por meio dos produtos/serviços?

6- Localização: Quais são os critérios para a avaliação do local ou do “ponto” do


seu negócio? Qual é a importância da localização para o seu negócio?

7- Processo operacional: Como sua empresa vai operar etapa por etapa? Como
será fabricado e vendido? Qual trabalho será feito? Quem fará o trabalho?
Qual material e equipamento será utilizado? Quem tem conhecimento e
experiência no setor? Como fazem os concorrentes?

8- Previsão de produção, de vendas ou de serviços: Qual é a necessidade e a


procura do mercado? Qual é a sua provável capacidade de produção? Qual é
a disponibilidade de matérias-primas e de insumos básicos? Qual é o volume
de produção/vendas/serviços que você planeja para o seu negócio?

9- Análise financeira: Qual é a estimativa da receita da empresa? Qual é o


capital inicial necessário? Quais são os gastos com materiais? Quais são os
gastos com pessoal de produção? Quais são os gastos gerais de produção?
Quais são as despesas administrativas? Quais são as despesas de vendas?
Qual é a margem de lucro desejada?

O oferecimento de respostas a estas indagações pode ter como auxílio


um processo básico para a própria elaboração do Plano de Negócios, tal como
ilustrado pela figura a seguir.

54
Capítulo 2 Administração no Contexto do Agronegócio

Figura 14 – Processos para elaboração de um plano de negócios

Fonte: Adaptado de Chiavenato (2006).

Neste contexto, uma vez que, tanto o desenvolvimento de um negócio


associado ao mercado agropecuário, como o próprio desenvolvimento de um
Plano de Negócios, passa pela necessidade de se conhecer as características
básicas dos mercados existentes no contexto estudado, daremos ênfase
agora à caracterização básica dos mercados agropecuários. No Brasil, autores
(AZEVEDO, 2014; NEVES, 2000; SILVA; BATALHA, 2014) têm focado esforços
em compreender os mercados envolvidos nos Sistemas Agroindustriais.

Para aprofundamento nos estudos sobre empreendedorismo,


sugerimos a leitura dos seguintes livros:

CHIAVENATO, I. Empreendedorismo: dando asas ao espírito


empreendedor. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2006.

DORNELAS, J. C. Empreendedorismo: transformando ideias


em negócios. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008.

55
Administração Rural

Principais EstratÉgias e Mercados


no Contexto do Agronegócio
Entre as etapas mais importantes envolvidas no processo de planejamento
estratégico é a própria formulação da estratégica mais adequada. De acordo
com Silva e Batalha (2014), existem algumas opções estratégicas para firmas
agroindustriais que se destacam, que são:

a) Especialização.
b) Integração vertical.
c) Diversificação.
d) Inovação.
e) Fusões e aquisições.

Nos sistemas A consideração destas formas de estratégias passa também


agroindustriais, pela própria consideração dos distintos mercados existentes no
a maioria das
transações decorrer dos sistemas agroindustriais e pelos dois tipos de compras
envolvidas ocorrem (individuais e industriais) existentes ao longo do mesmo. Nos sistemas
entre empresas.
agroindustriais, a maioria das transações envolvidas ocorrem entre
empresas. Uma das estratégias mais utilizadas para conhecer quais empresas
são mais adequadas para se manter relações de negócio é a segmentação de
mercado (NEVES, 2000).

No Sistema Para um processo de segmentação eficaz, os segmentos devem


Agroindustrial,
o processo de ser passíveis de mensuração, ter tamanhos suficientes para que
segmentação de compensem a execução de uma ação mais focada da empresa, se
mercado passa, comportar efetivamente de maneira semelhante e ser possível de ser
necessariamente,
pelo agrupamento de atingido pela empresa. Neste contexto, no Sistema Agroindustrial,
indivíduos e também o processo de segmentação de mercado passa, necessariamente,
empresas
pelo agrupamento de indivíduos e também empresas (NEVES, 2000).
Conforme afirma Neves (2000), o agrupamento ocorre através das bases para
segmentação de mercado, que são baseadas nas seguintes quatro características,
quando o foco é o indivíduo:

a) Geográficas (região, tamanho do município, concentração da população).


b) Demográficas (idade, sexo, crescimento populacional, religião).
c) Psicográficas (classe social, estilo de vida e personalidade).
d) Comportamentais (que estão baseadas em seu conhecimento e atitude
em relação ao produto – condição do usuário – já usou, se não conhece – taxa de
uso, grau de lealdade).

56
Capítulo 2 Administração no Contexto do Agronegócio

De acordo com Neves (2000), basicamente, a sequência envolvida entre


identificar as variáveis e posicionar o produto no mercado é composta por seis
etapas, inseridas em três fases, tal como mostra a figura a seguir.

Figura 15 – Sequência para caracterização dos grupos a serem segmentados

Fonte: Adaptado de Neves (2000).

No caso dos mercados industriais, o processo envolvido é idêntico, mas as


variáveis são ligeiramente distintas. Em vez de se basear em quatro variáveis, tal
como é o caso dos mercados individuais, as variáveis envolvidas na segmentação
dos mercados industriais são cinco, a saber, de acordo com Neves (2000):

1- Demográficas: tipo de indústria (conjunto de organizações que atua em


determinado mercado), localização geográfica e tamanho das empresas
dentro das indústrias.

2- Operacionais: capacidade financeira do comprador; grau de uso da tecnologia


que é utilizada, avaliando se é usuário ou não.

3- Abordagens de compra: quais são os critérios, as políticas, as quantidades,


como são os relacionamentos entre os agentes.

4- Fatores situacionais: pedidos para tamanhos e utilidades específicas; pedidos


de urgência.

5- Características pessoais: proximidade entre vendedor e comprador, risco e


lealdade envolvido.

57
Administração Rural

Dentre as etapas mais Neste contexto, dentre as etapas mais importantes para se
importantes para se conseguir/manter em um determinado mercado agroindustrial diz
conseguir/manter
em um determinado respeito à diferenciação de produtos e serviços. A diferenciação é
mercado agroindustrial uma estratégia mercadológica que pode ser atingida de quatro formas
diz respeito à
diferenciação de distintas, tal como afirma Neves (2000):
produtos e serviços.

1- Diferenciação do produto, como aparência visual, origem, sanidade,


qualidade, sabor, teor de ingredientes, desempenho, durabilidade, estilo.

2- Serviços oferecidos, como por exemplo, por meio de regularidade de entrega,


qualidade da equipe técnica, serviços de manutenção.

3- Atendimento, como por exemplo, em uma relação mais próxima com o cliente
industrial; reputação da empresa.

4- Marca, que representa a imagem da organização no mercado que atua.

Outro ponto importantíssimo para o entendimento a ser levado


Existem quatro
enfoques de mercado em consideração no gerenciamento de marketing dos sistemas
presentes em uma agroindustriais é entender os diferentes tipos de mercados existentes
cadeia agroindustrial,
que são: marketing no decorrer das cadeias agroindustriais. De acordo com autores (SILVA;
alimentar, marketing BATALHA, 2014), existem quatro enfoques de mercado presentes em
agroindustrial, uma cadeia agroindustrial, que são: marketing alimentar, marketing
marketing agrícola e
marketing rural. agroindustrial, marketing agrícola e marketing rural, tais quais estão
ilustrados na figura que segue.

Figura 16 – Distintos enfoques de marketing no contexto do agronegócio

Fonte: Adaptado de Silva e Batalha (2014).

58
Capítulo 2 Administração no Contexto do Agronegócio

Para elucidar as diferenças de cada um destes enfoques, destacamos as


características de cada um deles.

a) Marketing alimentar
O marketing alimen-
O marketing alimentar fica localizado no nível do consumidor tar fica localizado no
nível do consumidor
final. É representado, principalmente, pela venda do comércio varejista final.
ao consumidor final. Tem como característica um grande número de
consumidores e um número restrito de distribuidores. O estudo do marketing
alimentar não se diferencia muito do marketing que é operacionalizado em
outros produtos de consumo de massa que são comercializados pela grande
distribuição. Em nível do marketing alimentar existem quatro estratégias que mais
são praticadas pelas empresas agroindustriais: diferenciação; diversificação;
proliferação de marcas e pseudodiferenciação (BATALHA; SILVA, 1995; SILVA;
BATALHA, 2014).

Basicamente, o marketing alimentar é dividido entre marketing da distribuição


e marketing do produto. O marketing da distribuição diz respeito à posição do
próprio estabelecimento e vendas perante as necessidades do consumidor, já
que o consumidor pode optar pela escolha de determinado estabelecimento de
vendas, ou também outro tipo de distribuição, por meio da avaliação da imagem
que os pontos de venda possuem, mediante o conjunto de critérios que são
condicionantes para sua escolha (BATALHA; SILVA, 1995). Já o marketing do
produto tem como objetivo destacar o produto para o consumidor propriamente
dito. Assim, suas bases de diferenciação frequentemente estão presas ao
destaque dos diferenciais tecnológicos, em qualidade percebida pelo consumidor
ou em investimento no desenvolvimento da própria marca, por exemplo
(BATALHA; SILVA, 1995; SILVA; BATALHA, 2014).

É óbvio que as possibilidades de diferenciação do produto são diretamente


proporcionais aos seus próprios atributos. Assim, as chances de diferenciação são
tão grandes quanto forem as próprias características que diferenciam o produto.
Para produtos alimentares (que não são fáceis de serem diferenciados em relação
aos seus aspectos técnicos – carnes e frutas, por exemplo), é comum que a
diferenciação seja através de “pseudodiferenciação”. Neste caso, a diferenciação
ocorre através do próprio desenvolvimento da marca do produto, dando-se
destaque para atributos que chamem a atenção para a qualidade implícita no
produto (BATALHA; SILVA, 1995).

Consumidores podem perceber a qualidade implícita no produto alimentar


mediante os seguintes critérios, que podem ser tanto subjetivas ou objetivas
(BATALHA, 1995):

59
Administração Rural

1- Facilidade de acesso.
2- Características nutritivas.
3- Características organolépticas (textura, sabor, odor, cor).
4- Características socioeconômicas (localidade onde o alimento é consumido
e posição social do alimento).
5- Características de utilização (facilidade de manipulação).

b) Marketing agroindustrial

Quanto ao marketing agroindustrial, situa-se entre os


Marketing
agroindustrial, macrossegmentos “industrialização” e “distribuição” e também entre
situa-se entre os os diversos segmentos de produção. De forma geral, o marketing
macrossegmentos
“industrialização” agroindustrial apresenta as seguintes características: possui número
e “distribuição” e restrito de vendedores e/ou compradores; existe a possibilidade de
também entre os formação de parcerias entre compradores e vendedores, sendo a
diversos segmentos
de produção. demanda derivada e os mercados heterogêneos (SILVA; BATALHA,
2014).

c) Marketing agrícola

O marketing agrícola se localiza entre a agroindústria e a


O marketing agrícola
se localiza entre a agricultura. Entre suas principais características, destacam-se:
agroindústria e a grande quantidade de produtores (que são os vendedores) e pouca
agricultura. quantidade de compradores; é o mercado que mais tem similaridade
com uma situação de concorrência pura e perfeita. Em decorrência, seus
principais problemas são resultados das próprias forças oligopsônicas (poucos
compradores perante muitos vendedores), que agem neste mercado (BATALHA;
SILVA, 1995). Em contrapartida, a organização dos produtores em cooperativas
acaba sendo uma alternativa. Uma comprando e vendendo por meio de
cooperativas, os produtores frequentemente conseguem aumentar as chances de
agregar valor ao produto e também aumentar seu poder de barganha perante os
poucos compradores que existem no seu mercado. Em determinados casos, há
possibilidade de se atingir tanto o setor de distribuição quanto os consumidores
de forma direta (SILVA; BATALHA, 2014).

d) Marketing rural

Diferentemente do Diferentemente do marketing agrícola, o marketing rural é aquele


marketing agrícola, situado entre os produtores rurais e os produtores de insumos. Trata-
o marketing rural é se de um mercado que é heterogêneo, onde operam produtores
aquele situado entre
os produtores rurais familiares, patronais e cooperativas (BATALHA; SILVA, 1995; SILVA;
e os produtores de BATALHA, 2014). Neste mercado, as estratégias podem ser muito
insumos.
variadas nos seguintes sentidos: porte da empresa fornecedora,

60
Capítulo 2 Administração no Contexto do Agronegócio

periodicidade e valor das compras, porte do comprador. Em um contexto


Apesar da existên-
amplo, o mercado de insumos agropecuários tem forte dominância de cia de diferentes
empresas multinacionais, que geralmente são muito bem organizadas vertentes associadas
em forma de lobby, contribuindo para que seu poder seja aumentado ao campo do geren-
ciamento, notamos
tanto perante os produtores rurais como também perante instituições aqui que o processo
governamentais (BATALHA; SILVA, 1995). de planejamento es-
tratégico é um ponto
em comum que pode
Portanto, apesar da existência de diferentes vertentes associadas definir o sucesso de
ao campo do gerenciamento, notamos aqui que o processo de qualquer empreen-
dimento, sobretudo
planejamento estratégico é um ponto em comum que pode definir o aqueles vinculados a
sucesso de qualquer empreendimento, sobretudo aqueles vinculados a algum elo de alguma
cadeia de produção.
algum elo de alguma cadeia de produção. No que tange à atuação dos
agentes envolvidos nas cadeias agropecuárias, é importante que se levem em
consideração os fatores que aqui elencamos como forma de se evitar problemas
associados ao andamento do negócio, bem como também otimizar as chances de
sucesso do mesmo.

Para aprofundar conhecimentos sobre marketing agrícola,


agroindustrial, rural e alimentar, sugerimos a leitura dos seguintes
materiais:

BATALHA, M. O.; SILVA, A. L. Marketing & agribusiness : um


enfoque estratégico. Revista de Administração de Empresas, v.
35, n. 5, p. 30–39, 1995. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/
rae/v35n5/a05v35n5.pdf>.

SILVA, A. L.; BATALHA, M. O. Marketing estratégico aplicado ao


agronegócio. In: BATALHA, M. O. (Ed.). Gestão Agroindustrial 1. 3.
ed. São Paulo: Atlas, 2014. p. 113–183.

Atividades de Estudos:

1) Qual é a importância do planejamento estratégico para as


organizações?
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

61
Administração Rural

____________________________________________________
____________________________________________________

2) Quais são as principais informações que devem ser inseridas


em um Plano de Negócios?
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

3) De que forma o uso de tecnologia e produção apropriada deve


afetar o planejamento de um empreendimento rural?
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

4) Descreva quais são as principais características do:

a) Marketing rural:
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

b) Marketing agrícola:
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

c) Marketing agroindustrial:
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

62
Capítulo 2 Administração no Contexto do Agronegócio

____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

d) Marketing alimentar:
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

5) Tendo como base os quadros 2, 3 e 4 do presente livro,


descreva quais são os seguintes possíveis aspectos associados
a um negócio a ser implantado por você, cujo mercado principal
seja voltado para algum dos enfoques apresentados pela Figura
16:

a) Checklist de pontos fortes e fracos:


____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

b) Análise da concorrência:
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

c) Análise do ambiente externo.


____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

63
Administração Rural

Algumas ConsideraçÕes
Neste momento, esperamos que os seguintes fatores tenham ficado muito
bem esclarecidos para você, leitor:

• Que existem diversas abordagens no campo da administração.


• Que a causa de insucesso de muitas organizações são as deficiências no
gerenciamento e falta de planejamento.
• Que o os empreendedores devem possuir um conjunto de características
para aumentar suas chances de êxito.
• Que o Planejamento Estratégico é uma das alternativas mais indicadas para
se definir a estruturação de um negócio.
• Que o Plano de Negócios é um dos principais guias para se documentar o
negócio a ser implantado.
• Que o planejamento no contexto do segmento agropecuário deve considerar,
necessariamente, suas especificidades, tais como aquelas associadas às
condições climáticas, porte da propriedade e sazonalidade da produção, por
exemplo.
• Que o Plano de Negócios é um dos principais guias para se documentar o
negócio a ser implantado.
• Que existem diferentes tipos de mercados no contexto dos sistemas
agroindustriais, tendo cada um suas características próprias, que devem ser
levadas em consideração tanto no gerenciamento quanto no planejamento
dos elos das cadeias agroindustriais.

ReFerÊncias
ALVARENGA, R. P.; ARRAES, N. A. M. Certificação fairtrade na cafeicultura
brasileira: análises e perspectivas. Coffee Science, v. 12, n. 1, p. 124–147, 2017.

ARAÚJO, M. J. Fundamentos de agronegócios. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2007.

AZEVEDO, P. F. Comercialização de produtos agroindustriais. In: BATALHA, M.


O. (Ed.). Gestão Agroindustrial 1. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2014. p. 63-112.

BATALHA, M. O. Gestão Agroindustrial 1. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2014.

BATALHA, M. O.; SILVA, A. L. Marketing & agribusiness: um enfoque estratégico.


Revista de Administração de Empresas, v. 35, n. 5, p. 30-39, 1995.

64
Capítulo 2 Administração no Contexto do Agronegócio

BRASIL. Lei nº 11326, de 24 de julho de 2006. Estabelece as diretrizes para


a formulação da Política Nacional da Agricultura Familiar e Empreendimentos
Familiares Rurais. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-
2006/2006/lei/l11326.htm>. Acesso em: 15 jan. 2016.

CHIAVENATO, I. Empreendedorismo: dando asas ao espírito empreendedor. 2.


ed. São Paulo: Saraiva, 2006.

______. Administração: teoria, processo e prática. 4. ed. Rio de Janeiro:


Elsevier, 2011.

DORNELAS, J. C. Empreendedorismo: transformando ideias em negócios. 3.


ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008.

MAXIMIANO, A. C. A. Introdução à administração. 5. ed. São Paulo: Atlas,


2000.

NANTES, J. F. D.; SCARPELLI, M. Elementos de gestão na produção rural. In:


BATALHA, M. O. (Ed.). Gestão Agroindustrial 1. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2014.
p. 629-664.

NEVES, M. F. Marketing no agribusiness. In: ZYLBERSZTAJN, D.; NEVES, M.


F. (Eds.). Economia e gestão dos negócios agroalimentares. São Paulo:
Pioneira, 2000. p. 109-136.

RIBEIRO, A. D. L. Teorias da administração. São Paulo: Saraiva, 2006.

SILVA, A. L. da; BATALHA, M. O. Marketing estratégico aplicado ao agronegócio.


In: BATALHA, M. O. (Ed.). Gestão agroindustrial 1. 3. ed. São Paulo: Atlas,
2014. p. 113-183.

ZYLBERSZTAJN, D.; NEVES, M. F. Economia e gestão dos negócios


agroalimentares. São Paulo: Pioneira, 2000.

65
Administração Rural

66
C APÍTULO 3
Consideração de Impactos
Ambientais no Gerenciamento do
Agronegócio

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

 Conhecer a “Avaliação do Ciclo de Vida” e a “Produção mais Limpa” como


estratégias para mitigação de impactos ambientais nos sistemas de produção.

 Explicar como os sistemas agropecuários podem impactar negativamente os


campos dos pilares da sustentabilidade.

 Apontar quais são importantes fatores socioambientais que estão associados


aos sistemas de produção agrícola.

 Escolher as alternativas que visem à mitigação de impactos vinculados aos


sistemas de produção agropecuário.

 Demonstrar como técnicas de gestão ambiental podem ajudar no gerenciamento


das cadeias agroindustriais.
Administração Rural

68
Consideração de Impactos Ambientais no
Capítulo 3
Gerenciamento do Agronegócio

ContextualiZação
Neste capítulo, daremos destaque para as principais implicações que estão
vinculadas ao campo da sustentabilidade na temática do agronegócio. Além de
oferecermos exemplos de alguns dos principais impactos ocasionados pelos
sistemas de produção agropecuários, também apresentaremos duas importantes
técnicas de gestão ambiental que frequentemente têm sido utilizadas para gerir a
mitigação de impactos.

Problemática Ambiental No
Segmento Agropecuário
Os impasses ambientais da agropecuária podem contribuir para a
Os impasses
baixa da sustentabilidade do setor agrícola, tanto em escala regional, ambientais da
quanto em escala global. Alterações nos recursos de água e solo, por agropecuária podem
exemplo, associam-se frequentemente aos impactos regionais. No que contribuir para a
baixa da sustentabili-
tange aos exemplos de como o setor agropecuário pode ocasionar dade do setor agríco-
impactos para escala global, cita-se sua participação para a geração la, tanto em escala
regional, quanto em
dos gases causadores do efeito estufa, como exemplo citamos o escala global.
metano eliminado pela fermentação entérica do gado.

Para o entendimento da problemática ambiental, e até da socioeconomia


relacionada à agropecuária, toma-se como exemplo uma possível elevação da
demanda por carnes em um contexto amplo e duradouro, baseado em Knudsen
et al. (2006). Em resposta a esta demanda, surge a necessidade de se elevar a
criação de gado, que traz como consequência da necessidade de se aumentar a
disponibilidade de terras destinadas às pastagens. Tanto uma maior quantidade
de pastagens e de animais pastando nestas terras, como também o comércio
de alimentos (que fica mais acirrado), remetem a impactos ambientais e
socioeconômicos do sistema de produção alimentar. Exemplos destes impactos
são melhores exemplificados pela Figura 17.

69
Administração Rural

Figura 17 – Ilustração da problemática ambiental relacionada ao setor agrícola

Fonte: Adaptado de Knudsen et al. (2006).

Pela análise da Figura 17, nota-se que o desmatamento do terreno para ser
utilizado como pastagem pode, por exemplo, acarretar em aquecimento global,
redução da biodiversidade, erosão e perda dos recursos de produção do solo.
Ao se analisar o caso do avanço da pecuária no Brasil, por exemplo, é possível

70
Consideração de Impactos Ambientais no
Capítulo 3
Gerenciamento do Agronegócio

perceber que o desmatamento para formação de novas áreas de


O desmatamento
pastagens é uma das maiores fontes emissoras de gases do efeito do terreno para
estufa, sobretudo os ocorridos na região Amazônica, cuja expansão ser utilizado como
pastagem pode, por
da pecuária entre os anos de 2003 e 2008 foi responsável por 75% do exemplo, acarretar
desflorestamento do bioma desta região. em aquecimento
global, redução
da biodiversidade,
Neste sentido, pela exposição da Figura 17, fica evidente que além erosão e perda dos
do surgimento dos impactos ambientais, emergem também aspectos recursos de produ-
ção do solo.
positivos e negativos do ponto de vista socioeconômico. Uma vez que o
aumento da produção gera mais oferta de alimentos no mercado com preços mais
satisfatórios, pode haver também a marginalização dos pequenos pecuaristas
devido à atuação dos grandes produtores que conseguem ofertar um produto com
preço menor por causa de sua produção em escala lhe proporcionar menores
custos unitários de produção. Portanto, de acordo com Knudsen et al. (2006),
a resposta para a pergunta que fica em aberto na Figura 17 é que pode existir
equidade entre os aspectos apresentados, desde que sejam revistos os meios de
se produzir.

Neste contexto, pode-se afirmar que a agricultura está diante de um


desafio. Estimativas indicam que o planeta poderá contar com nove bilhões
de habitantes até metade deste século, sendo necessário aproximadamente
o dobro da produção de alimentos de hoje para suprir esta futura demanda. O
desafio, então, é o contínuo aumento da produção amparada pela manutenção
e melhoria da qualidade da água, do solo e da conservação da biodiversidade.
Portanto, o caminho para a agricultura está na sintonia da produtividade com a
sustentabilidade (GAZONNI, 2011).

Para que tal sintonia seja eficiente, um dos mecanismos viáveis, é Fatores-chave
a utilização de indicadores de desempenho voltados à agricultura. De que podem ser
considerados como
acordo com o autor, um comitê governamental australiano identificou indicadores para
fatores-chave que podem ser considerados como indicadores para uma uma agricultura
sustentável.
agricultura sustentável, sendo: viabilidade das propriedades agrícolas
manterem balanço financeiro positivo a longo prazo, competência gerencial,
qualidade da água e do solo e também a consideração de aspectos ambientais
como base para aperfeiçoar uma decisão relacionada ao campo nacional e ao
campo regional.

Dessa forma, a relevância destes indicadores e a necessidade da


sustentabilidade do agronegócio reflete no comércio internacional de produtos
agrícolas, fazendo com que a adoção de barreiras comerciais estabelecidas com
base em exigências agroquímicas e fitossanitárias corrobore para isso. Cita-se,
como exemplo destas barreiras, a proibição do comércio de produtos agrícolas
que tenham sido produzidos com algum agrotóxico composto por qualquer tipo

71
Administração Rural

de ingrediente ativo considerado como propício a causar risco severo à saúde


humana ou ao meio ambiente.

TÉcnicas de Gestão Ambiental


Dois dos principais A literatura apresenta algumas ferramentas e técnicas que podem
exemplos que
auxiliam na gestão contribuir para a melhoria da gestão da sustentabilidade agrícola.
sustentável agrícola, No intuito de contribuir neste sentido, oferecemos dois dos principais
tais quais: Avaliação exemplos que auxiliam na gestão sustentável agrícola, tais quais:
do ciclo de vida e
Produção mais limpa. Avaliação do ciclo de vida e Produção mais limpa.

a) Avaliação do ciclo de vida

O conceito de Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) surgiu no início dos anos


1960 associado às preocupações a respeito das limitações das matérias-primas
e dos recursos energéticos no cenário mundial. Neste período, ainda não havia
uma estruturação completa sobre como se desenvolver uma ACV. O interesse
neste tipo de estudo foi ganhando mais força por volta de 1975 até início dos
anos 1980, no decorrer da crise do petróleo e no constante aumento do interesse
sobre os impactos ao meio ambiente por parte dos setores públicos e privados,
contribuindo para a ACV emergir como uma técnica de gestão ambiental propícia
para analisar problemas ambientais (ALVARENGA, 2012).

ACV é uma técnica Em sua forma completa, a ACV é uma técnica de Gestão
de Gestão Ambiental
que avalia o produto Ambiental que avalia o produto ou processo ao longo de seu ciclo de
ou processo ao longo vida, parcial ou total. Ela considera os impactos gerados desde o início
de seu ciclo de vida, do processo produtivo até sua disposição final, tanto que também é
parcial ou total.
conhecida como uma técnica propícia a avaliar a geração de impactos
ambientais do “berço ao túmulo”, sendo o berço uma alusão ao local de origem
dos insumos primários mediante a extração dos recursos naturais e o túmulo
uma representação da disposição final dos resíduos que não são reciclados
(ALVARENGA; RENOFIO; ARAÚJO, 2013).

Um estudo de ACV é dividido em quatro fases que são completamente


relacionadas e dependentes umas das outras, sendo estas: Definição do Objetivo
e Escopo; Análise de Inventário; Avaliação de Impactos; e Interpretação do Ciclo de
Vida. Logo, estão inseridos nestas fases todos os processos relacionados desde
a elaboração do objetivo que se pretende dar à referida ACV até a interpretação
sobre como os potenciais impactos ambientais resultantes do ciclo de vida do
produto analisado acarretam em prejuízos ao meio ambiente, possibilitando,
assim, o surgimento de estratégias mitigadoras destes.

72
Consideração de Impactos Ambientais no
Capítulo 3
Gerenciamento do Agronegócio

Neste sentido, uma ACV pode abranger vários segmentos produtivos, bem
como atender aos diversos objetivos. As aplicações de uma ACV podem ser
subdivididas em duas principais vertentes, a saber: comparação do desempenho
ambiental de produtos que ocupem uma mesma função e identificação de
oportunidades de melhoria de desempenho ambiental. Neste contexto, Curran
(2008) associa a possibilidade de uma ACV contribuir para os seguintes objetivos
(ALVARENGA et al., 2012), entre outros:

• Desenvolver uma avaliação sistemática das consequências ambientais


associadas a um determinado produto.
• Analisar os trade-offs associados a um ou mais produtos e processos
específicos.
• Quantificar lançamentos no ar, água e solo para cada estágio do ciclo de vida
ou processo.
• Avaliar os efeitos humanos e ecológicos do consumo de material e os
lançamentos ambientais para a comunidade local, região ou mundo.
• Ajudar e identificar mudanças significativas nos impactos ambientais entre os
estágios do ciclo de vida e o meio ambiente.
• Compilar um inventário de energia, entrada de materiais e liberações
ambientais.

Diante destas possibilidades e do fato que uma ACV pode ser Em decorrência da
direcionada a diferentes segmentos produtivos, tal como para as atividade agrícola,
existem diversos
atividades agrícolas e agropecuárias, foco deste livro. De acordo com impactos associados
Horne e Grant (2009), em decorrência da atividade agrícola, existem ao uso da terra, às
diversos impactos associados ao uso da terra, às emissões de gases emissões de gases
poluentes e ao uso
poluentes e ao uso da água que podem ser avaliados por meio de da água que podem
uma ACV, fazendo desta uma técnica relevante para ser aplicada na ser avaliados por
meio de uma ACV
agricultura, porém a adoção da ACV no setor agrícola pode ser mais
complexa do que aquelas realizadas no campo industrial.

A agricultura não consome insumos em um sentido linear, tal como ocorre


em vários processos industriais. Devido a isso, muitos dos seus recursos centrais
são derivados de outros sistemas agrícolas, como é o caso das sementes, de
alguns fertilizantes e do solo, por exemplo. Nem todas as categorias de impactos
possuem uma total cobertura em ACVs agrícolas, como é o caso dos incidentes
sobre o uso da terra, que possuem uma cobertura parcial. Sistemas agrícolas
são relativamente abertos e envolvem recursos como terra, biodiversidade, e uma
gama de inter-relações químicas e biológicas, sendo constante a existência de
diferentes modos de produção para um mesmo produto agrícola. É necessário
ser desenvolvida uma metodologia mais específica para a área, que pode ser
alcançada através da interação com demais áreas afins envolvidas de alguma
forma com a atividade (ALVARENGA et al., 2012).

73
Administração Rural

Deste modo, a consideração de aspectos relacionados à perda da


biodiversidade em atividades agrícolas é uma das formas de se complementar
as lacunas existentes na metodologia. Assim, uma das maneiras viáveis de ser
fazer isso é o modelamento de um sistema que considere os impactos que podem
incidir sobre as mais importantes espécies envolvidas com a prática agrícola
(ALVARENGA et al., 2012).

Envolver os amplos Neste sentido, envolver os amplos aspectos que dizem respeito à
aspectos que biodiversidade pode ser considerado como um dos principais desafios
dizem respeito à
biodiversidade pode condizentes com a execução de ACVs de produtos agrícolas, pois
ser considerado diferentes tipos de lavouras podem acarretar em distintos tipos e graus
como um dos
principais desafios de impactos ambientais (ALVARENGA et al., 2012). Toma-se como
condizentes com a exemplo a relação existente entre a biodiversidade e qualidade do
execução de ACVs ecossistema com as perdas ocasionadas para o solo em decorrência
de produtos agrícolas
do uso deste por plantações de trigo, café convencional, café orgânico,
agroflorestas, pastagens de pradaria e floresta tropical, expostos pela Figura 18.

Figura 18 – Relações entre uso da terra por massa e biodiversidade

Fonte: Adaptado de Knudsen e Haldberg (2007).

Numa relação simples, nota-se que quanto maior a qualidade


Portanto, quanto mais
extensiva a utilização do ecossistema requerido, maiores são as perdas do solo por kg de
do solo, maiores são produto demandado, sendo esta relação completamente associada
as perdas e vice-
versa. ao grau de intensidade e extensidade da cultura plantada. Portanto,
quanto mais extensiva a utilização do solo, maiores são as perdas e
vice-versa (ALVARENGA et al., 2012).

74
Consideração de Impactos Ambientais no
Capítulo 3
Gerenciamento do Agronegócio

A ACV tem contribuído para gerar resultados satisfatórios no campo da


agricultura, tal como é o caso dos trabalhos que envolvem comparações entre
diferentes processos e insumos agrícolas (ALVARENGA et al., 2012), mas
dependendo da abrangência do estudo, a coleta de dados pode ser problemática
e a disponibilidade dos dados pode ter grande impacto na precisão dos resultados
finais. Neste sentido, os seguintes fatores podem limitar a consecução de uma
ACV: elevado consumo de recursos humanos, elevado consumo de tempo, falta
de disponibilidade de alguns dados que podem afetar o resultado final, entre
outros (ALVARENGA; QUEIROZ; NADAE, 2017a).

• Avaliação do ciclo de vida simplificada

No entanto, a depender de algumas variáveis implícitas no objeto Uma ACV simplifi-


de estudo, tais como objetivo pretendido e recursos disponíveis, cada é como uma
variedade menos
algumas destas limitações podem ser transpostas pela adoção de complexa de uma
estudos simplificados de ACVs. Uma ACV simplificada é como uma ACV detalhada,
variedade menos complexa de uma ACV detalhada, conduzida de conduzida de
acordo com guias de
acordo com guias de execução, mas não em total consonância com execução, mas não
os padrões das normas da série ISO relacionadas ao estudo de uma em total consonância
com os padrões das
ACV. Ao se aprofundar nos estudos desta metodologia, constata- normas da série
se que há possibilidade de se trabalhar com três diferentes tipos de ISO relacionadas ao
ACVs simplificadas, sendo estas: qualitativas, quantitativas e também estudo de uma ACV.
semiquantitativas (ALVARENGA; QUEIROZ; RENOFIO, 2012).

A maioria das ACVs simplificadas são concebidas pelo desenvolvimento


de matrizes, onde os principais recursos utilizados no sistema estudado são
analisados sobre diversos aspectos relacionados ao campo ambiental. Pelo
processo de tais matrizes, derivaram-se diversos métodos de condução de
ACVs simplificadas, sendo muitas vezes estes específicos para determinados
segmentos produtivos para certos tipos de materiais consumidos ao longo
do ciclo de vida do produto, bem como para finalidade da avaliação ambiental
(ALVARENGA; QUEIROZ; RENOFIO, 2012).

Geralmente, os principais fatores favoráveis ao desenvolvimento de ACVs


simplificadas são custo e tempo, pois ACVs completas demoram mais para serem
concluídas e também são mais caras. Estes dois principais aspectos são proporcionais
uns aos outros, já que os custos totais de um projeto que envolve uma ACV diminuem
a partir do momento em que há redução do tempo na fase de coleta de dados. O
principal motivo que justifica isso é que a maior parte dos recursos financeiros
requeridos em projetos de ACV são destinados a cobrir gastos relacionados à fase
de coleta de dados, processos geralmente muito demorados. No entanto, estes não
são os únicos pontos favoráveis de uma ACV simplificada. Em determinados casos,
trabalhos guiados por métodos simplificados podem servir como apoio na condução

75
Administração Rural

de ACVs completas, pois dados qualitativos e semiquantitativos podem servir como


complemento para a realização de ACVs mais amplas e resultar em um estudo mais
abrangente (ALVARENGA; QUEIROZ; RENOFIO, 2012).

Tais fatos contribuem para que ACVs simplificadas possam oferecer


respostas mais rápidas e diretas sobre quais são os insumos envolvidos em
determinados ciclos produtivos que mais causam potenciais impactos ambientais
(ALVARENGA; QUEIROZ; RENOFIO, 2012). Matrizes utilizadas para avaliações
qualitativas e semiquantitativas são menos complexas do que as ACVs
tradicionais, facilitando a comunicação dos resultados, bem como o entendimento
das análises por indivíduos que estejam envolvidos com o sistema, mas que
não possuem conhecimentos consistentes sobre ferramentas de avaliação de
impactos ambientais (ALVARENGA; QUEIROZ; RENOFIO, 2012; JACOVELLI;
FIGUEIREDO, 2003).

Neste contexto, para exemplificar com mais clareza, no Capítulo 4


ofereceremos um exemplo prático de adequação de uma ACV simplificada
aplicada no contexto agrícola do Brasil.

Para aprofundar conhecimentos sobre o desenvolvimento


de ACVs no segmento agrícola, sugerimos a leitura dos seguintes
materiais:

OMETTO, A. R. Avaliação do ciclo de vida do álcool


etílico hidratado combustível pelos métodos EDIP, Exergia e
Emergia. 2005. 200 f. Tese (Doutorado em Engenharia Hidráulica
e Saneamento), Universidade de São Paulo, 2005. Disponível em:
<http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/18/18138/tde-10072008-
151015/pt-br.php>. Acesso em: 10 jun. 2017.

CLAUDINO, E. S.; TALAMINI, E. Análise do ciclo de vida


(ACV) aplicada ao agronegócio – uma revisão de literatura. Revista
de Engenharia Agrícola e Ambiental, v. 17, n. 1, p. 77-85, 2013.
Disponível em: <http://www.agriambi.com.br/revista/v17n01/
v17n01a11.pdf>. Acesso em: 10 jun. 2017.

RUVIARO, C. F. et al. Life cycle assessment in Brazilian


agriculture facing worldwide trends. Journal of Cleaner Production,
v. 28, p. 9-24, 2012.

76
Consideração de Impactos Ambientais no
Capítulo 3
Gerenciamento do Agronegócio

b) Produção Mais Limpa

Produção Mais Limpa é uma estratégia ambiental preventiva aplicada


a processos, produtos e serviços para minimizar os impactos sobre o meio
ambiente. É uma abordagem de proteção ambiental ampla que considera todas
as fases do processo de manufatura ou ciclo de vida do produto, com o objetivo
de prevenir e minimizar os riscos para os seres humanos e o ambiente, em curto
e longo prazo. É uma abordagem que requer ações para conservar energia e
matéria-prima, eliminar sustâncias tóxicas e reduzir os desperdícios e a poluição
resultantes dos produtos e dos processos produtivos (ALVARENGA; QUEIROZ,
2009; ALVARENGA; QUEIROZ; NADAE, 2017b).

A Produção Mais Limpa estabelece uma hierarquia de prioridades de acordo


com a seguinte sequência: prevenção, redução, reuso e reciclagem, tratamento
com recuperação de materiais e energia, tratamento e disposição final. É uma
abordagem que requer ações para conservar energia e matéria-prima, eliminar
sustâncias tóxicas e reduzir os desperdícios e a poluição resultantes dos produtos
e dos processos produtivos. A indústria sucroalcooleira, tanto no setor agrícola
quanto no setor industrial, pode reduzir seus problemas ambientais mediante
Produção Mais Limpa (ALVARENGA; QUEIROZ, 2009; ALVARENGA; QUEIROZ;
NADAE, 2017b).

A Produção Mais Limpa pode ser aplicada a produtos, processos e O modelo de gestão
serviços. O modelo de gestão ambiental Produção Mais Limpa aumenta ambiental Produção
a eficiência ambiental e reduz os riscos ao homem e ao meio ambiente. Mais Limpa aumenta
a eficiência ambien-
Dessa forma, a Produção Mais Limpa é aplicada em processos tal e reduz os riscos
produtivos na conservação de matérias-primas, água e energia, na ao homem e ao meio
eliminação de toxidade de matérias-primas e resíduos (ALVARENGA; ambiente.
QUEIROZ, 2009).

Em produtos, sua aplicação possui o intuito de reduzir os impactos negativos


dos produtos ao longo do seu ciclo de vida, desde a extração de matérias-primas
até sua disposição final (ALVARENGA; QUEIROZ, 2009). Em serviços sua
implantação é na forma de incorporar questões ambientais no planejamento e
execução dos serviços. De acordo com Barbieri (2011), a Produção Mais Limpa
estabelece uma hierarquia de prioridades de acordo com a seguinte sequência:
prevenção, redução, reuso e reciclagem, tratamento com recuperação de
materiais e energia, tratamento e disposição final. Essa hierarquia apontada por
Barbieri (2011) pode ser simplificada de acordo com a Figura 19.

77
Administração Rural

Figura 19 – Níveis de intervenção da Produção Mais Limpa

Fonte: Adaptado de Barbieri (2011).

Tal figura apresenta três níveis de Produção Mais Limpa. As de nível 1


são caracterizadas como de prioridade máxima, possuem o objetivo de reduzir
emissões e resíduos na fonte e envolvem modificações em produtos e processos.
No nível 2 estão as emissões e os resíduos que continuam sendo gerados. Já
o nível 3 ocorre quando a emissão ou o resíduo não tem como ser aproveitado
pela unidade produtiva que o gerou, sendo nesse caso a reciclagem externa
a alternativa, vendendo ou doando os resíduos para quem possa utilizá-los
(ALVARENGA; QUEIROZ, 2009).

Neste sentido e com o objetivo de oferecermos um cunho prático de


aplicabilidade desta técnica no contexto agrícola, apresentaremos na segunda
parte do livro, no Capítulo 4, exemplos de como a Produção Mais Limpa pode ser
trabalhada em uma importante cadeia de produção agrícola do Brasil: cana-de-
açúcar.

Para aprofundamento no assunto abordado neste capítulo,


sugerimos a leitura do seguinte livro:

BARBIERI, J. C. Gestão ambiental empresarial: conceitos,


modelos instrumentos. 3. ed. São Paulo: Savaiva, 2011.

78
Consideração de Impactos Ambientais no
Capítulo 3
Gerenciamento do Agronegócio

Atividades de Estudos:

1) Mencione três impactos ambientais ocasionados por sistemas


agrícolas.
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
___________________________________________________

2) O que é e para que serve a Avaliação do Ciclo de Vida (ACV)?


____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
___________________________________________________

3) O que é e para que serve a Produção Mais Limpa?


____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
___________________________________________________

Algumas ConsideraçÕes
Ao terminarmos este capítulo, esperamos que você tenha entendido os
relevantes fatores aqui discutidos, por exemplo:

• Que a agropecuária é responsável pela geração de impactos ambientais que


devem ser reduzidos visando à melhoria das condições de vida e produção.
• Que a técnica Avaliação do Ciclo de Vida pode oferecer resultados que
podem contribuir para o gerenciamento da sustentabilidade nos sistemas de
produção agroindustrial.

79
Administração Rural

• Que a adoção da Produção Mais Limpa pode ser uma opção para mitigação
de impactos ambientais vinculados aos sistemas agroindustriais.

ReFerÊncias
ALVARENGA, R. P. et al. Avaliação do ciclo de vida na agricultura: um
levantamento bibliográfico envolvendo publicações nacionais e internacionais.
XIX Simpósio de Engenharia de Produção. Anais...Bauru: SIMPEP, 2012.

ALVARENGA, R. P. Subsídios para avaliação do ciclo de vida de modo


simplificada da produção agrícola de milho, por meio de um estudo
de caso. 2012. 162 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção),
Universidade Estadual Paulista, 2012.

ALVARENGA, R. P.; QUEIROZ, T. R. Produção Mais Limpa e aspectos


ambientais na indústria sucroalcooleira. 2 International Workshop Advances in
cleaner production. Anais... São Paulo, 2009.

ALVARENGA, R. P.; QUEIROZ, T. R.; NADAE, J. de. Risco tóxico e potencial


perigo ambiental no ciclo de vida da produção de milho. Espacios, v. 38, n. 1, p.
12, 2017a.

ALVARENGA, R. P.; QUEIRÓZ, T. R.; NADAE, J. de. Cleaner production and


environmental aspects of the sugarcane-alcohol segment : brazilian issues.
Espacios, v. 38, n. 1, p. 11, 2017b.

ALVARENGA, R. P.; QUEIROZ, T. R.; RENOFIO, A. Avaliação do ciclo de vida


simplificada: um levantamento bibliográfico sobre as mais recentes publicações
nacionais e internacionais. XXXII Encontro Nacional de Engenharia de Produção.
Anais... Bento Gonçalves: ENEGEP, 2012.

ALVARENGA, R. P.; RENOFIO, A.; ARAÚJO, A. T. de. Avaliação da


periculosidade ambiental da produção de milho por meio de um estudo qualitativo
de Avaliação do Ciclo de Vida (ACV): um estudo de caso. XXXIII Encontro
Nacional de Engenharia de Produção. Anais... Salvador: 2013.

BARBIERI, J. C. Gestão ambiental empresarial: conceitos, modelos


instrumentos. 3. ed. São Paulo: Savaiva, 2011.

CURRAN, M. A. Life Cycle Assessment. In: JORGENSEN, S. E.; FATH, B.D.


Human Ecology. v. 3, p. 2168-2174, 2008.

80
Consideração de Impactos Ambientais no
Capítulo 3
Gerenciamento do Agronegócio

GAZONNI, D. L. Os desafios dos cientistas agrícolas. Revista Agroanalysis.


2011. Disponível em: <http://agroanalysis.com.br/index.php/3/2011/conteudo-
especial/caderno-de-ciencias-agrarias-especial-ciencias-agrarias>. Acesso em: 5
jun. 2017.

HORNE, R.; GRANT, T. Life Cycle Assessment and agriculture: challenges


and prospects. In: HORNE, R.; GRANT, T, VERGHESE, K. (Ed.). Life Cycle
Assessment: principles, practice and prospects. Melbourne: CSIRO, 2009. pp.
107-124.

IPAM – Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia. 2009. Disponível em:


<http://www.inpe.br/noticias/arquivos/pdf/Resumo_Principais_Conclusoes_
emissoes_da_pecuaria_vfinalJean.pdf>. Acesso em: 5 jun. 2017.

JACOVELLI, S. J.; FIGUEIREDO, P. J. M. Avaliação de ciclo de vida simplificada


aplicada a evolução de tornos. XXIII Encontro Nacional de Engenharia de
Produção. Anais... Ouro Preto: ENEGEP, 2003.

KNUDSEN, M. T. et al. Global trends in agriculture and food systems. In:


HALDBERG, N.; ALROE, H. F; KNUDSEN, M. T; KRISTENSEN, E. S. (Ed.).
Global Development of Organic Agriculture: Challenges and Prospects.
Walllingford: CABI, 2006. pp.1-48.

KNUDSEN, M. T.; HALBERG, N. How to include on-farm biodiversity in LCA


in food? In: Contribution to the LCA Food Conference, 25-26 abril de 2007,
Gothenburg. Anais… Golthenburg, 2007. Disponível em: <http://orgprints.
org/18411/1/18411.pdf>. Acesso em: 5 jun. 2017.

81
Administração Rural

82
C APÍTULO 4
Agronegócio na Prática
A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes
objetivos de aprendizagem:

 Identificar gargalos no gerenciamento de sistemas de produção agropecuário.

 Conhecer o cenário de uso de terras no Brasil, conhecer o panorama de


produção de importantes culturas do Brasil.

 Explicar como estratégias de Responsabilidade Social Corporativa têm sido


utilizadas por agentes das cadeias agroindustrial.

 Definir opções para mitigação de impactos sociais e ambientais associados às


cadeias de produção agroindustrial estudadas.

 Analisar e diagnosticar importantes fatores críticos para o sucesso do


gerenciamento no contexto do agronegócio.
Administração Rural

84
Capítulo 4 Agronegócio na Prática

ContextualiZação
De agora em diante, apresentamos a você, pós-graduando, exemplos de
aplicabilidade de gerenciamento no contexto rural. Muitos dos exemplos que
destacamos são frutos de nossas pesquisas já publicadas em revistas científicas
e também de nossos projetos de mestrado e doutorado.

Neste contexto, os casos de aplicação de gestão aqui apresentados


passam por quatro das mais importantes cadeias de produção do agronegócio
do Brasil: milho, cana-de-açúcar, bovinos e café. Para cada uma destas cadeias,
oferecemos: a) posicionamento de produção no Brasil, regiões e estados; b)
apontamentos sobre quais são os principais fatores críticos para o sucesso da
gestão em cada cadeia em específico. Além disso, destacamos em cada uma
destas cadeias, exemplos de gargalos nos campos ambiental e social que podem
impactar seus respectivos desempenhos e continuidade dos negócios atrelados
a elas. Entendemos que é de suma importância fazer o entrelaçamento com
estes aspectos da sustentabilidade, sobretudo porque os cenários dos distintos
mercados demandam pela mitigação dos impactos negativos ambientais,
econômicos e sociais vinculados às cadeias de produção. Uma vez que estas
demandas podem alterar os padrões dos mecanismos de mercado, os gestores
associados ao agronegócio devem guiar suas ações para o rumo das exigências
estabelecidas. A você, pós-graduando, desejamos uma boa apreciação desta
segunda etapa do nosso trabalho.

Uso de Terras no Brasil e


Sustentabilidade
A tecnologia e a forma de se cultivar em escala mudaram o perfil
A tecnologia e a
agrícola mundial, fazendo com que o uso da terra pela agricultura fosse forma de se cultivar
ampliado. O aumento de hectares plantados nos últimos anos está em escala mudaram
associado ao crescimento da demanda por produtos agrícolas. Este, o perfil agrícola
mundial,
por sua vez, é propulsionado por elevação do número de habitantes
no planeta, aumento do poder de compra de muitas economias asiáticas e maior
interesse por lavouras destinadas para fins não alimentares, tal como é o caso
dos biocombustíveis (ALVARENGA, 2012).

Knudsen et al. (2006), após pesquisarem em banco de dados da Food and


Agriculture Organization (FAO), relacionam o avanço da produção agrícola à
expansão de 170 milhões de hectares, entre terras aráveis e terras cobertas com

85
Administração Rural

culturas permanentes, bem como a adição de 190 milhões de hectares irrigados


entre os anos de 1950 e 2000. Ainda, enfatizam a contribuição da incorporação
de sistemas agrícolas mistos, tal como é o caso da combinação de lavouras com
pastagens.

No Brasil, vegetação florestal e pastagens são os tipos


No Brasil, vegetação
florestal e pastagens predominantes de cobertura e uso da terra no país. Até 2014 (IBGE,
são os tipos 2016), por exemplo, o Brasil possuía 3.175.597 km2 de suas terras
predominantes de cobertas com vegetação florestal, 1.600.238 km2 com pastagem natural
cobertura e uso da
terra no país. e 998.944 km2 com pastagem com manejo. Até aquele ano, tal como
enfatizado pela Tabela 1, o país tinha 558.549 km2 de suas terras
especificamente sendo utilizadas para fins agrícolas.

Tabela 1 – Forma de cobertura e uso da terra no Brasil em 2014


Forma de cobertura / uso de terra no país Área (km 2) %
Vegetação florestal 3.175.597 38,53%
Pastagem natural 1.600.238 19,42%
Pastagem com manejo 998.944 12,12%
Mosaico de área agrícola com remanescentes florestais 792.933 9,62%
Área agrícola 558.549 6,78%
Mosaico de vegetação florestal com atividade agrícola 453.560 5,50%
Mosaico de área agrícola com remanescentes campestres 396.863 4,82%
Vegetação campestre 88.320 1,07%
Silvicultura 85.972 1,04%
Área úmida 42.440 0,51%
Área artificial 42.437 0,51%
Áreas descobertas 5.844 0,07%
Total 8.241.697 100,00%
Fonte: Adaptado de IBGE (2016).

A terra no Brasil Portanto, em um contexto mais específico, pode-se afirmar, tal


não é usada pela como ilustra a figura a seguir, que cerca de 70% da área do país é
pecuária de forma ocupada por vegetação florestal (quase 40%), pastagem natural (quase
otimizada.
20%) e pastagem com manejo (quase 12%). Assim como mostrado na
Tabela 1, o Brasil possui aproximadamente 7% de suas terras sendo utilizadas
especificamente para agricultura. Neste contexto, diante de uma realidade em
que cerca de 32% das terras brasileiras são ocupadas por pastagens, a terra no
Brasil não é usada pela pecuária de forma otimizada.

86
Capítulo 4 Agronegócio na Prática

Fonte: Adaptado de IBGE (2016).

Para conhecimento mais aprofundado sobre uso de terras no


Brasil, leia o seguinte material:

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Mudanças


na cobertura e uso da terra no Brasil: 2000 – 2010 – 2012 –
2014. 2016. Disponível em: <ftp://geoftp.ibge.gov.br/informacoes_
ambientais/cobertura_e_uso_da_terra/mudancas/documentos/
mudancas_de_cobertura_e_uso_da_terra_2000_2010_2012_2014.
pdf>. Acesso em: 7 jun. 2017.

No Brasil predomina a criação bovina extensiva, sendo esta a razão do


setor, não só demandar imensas áreas como também utilizar de pastagens
naturais, condições estas que contribuem para a má distribuição de terra no país
(ALVARENGA; RENOFIO; QUEIROZ, 2010).

BoVinos
Neste tópico daremos destaque a aspectos importantes vinculados à cadeia
produtiva bovina no Brasil, tais quais: eficiência produtiva, cenário da criação de
gado no Brasil, gargalos ambientais no setor de couro e fatores críticos para o
gerenciamento de propriedades criadoras de bovinos do país.

87
Administração Rural

a) Necessidade de melhorar eficiência na criação de bovinos no Brasil

A sustentabilidade no setor agropecuário passa, necessariamente,


No que diz respeito
à otimização das pela adoção de medidas que visem tanto otimizar a área utilizada
pastagens, é por pastagens como também reduzir alguns dos impactos negativos
preciso que seja ambientais ocasionados por este setor (ALVARENGA; RENOFIO;
revertido o quadro
de aproveitamento QUEIROZ, 2010; RENOFIO et al., 2011). No que diz respeito à
do uso da terra para otimização das pastagens, é preciso que seja revertido o quadro de
pastagens no país.
aproveitamento do uso da terra para pastagens no país. Uma das
formas de otimização é a própria alternância da utilização das pastagens naturais
por áreas de pasto trabalhadas sobre constantes técnicas de manejo, tal como o
piqueteamento de pastagens, por exemplo.

No Brasil, a média de aproveitamento da agropecuária é de aproximadamente


uma cabeça por hectare. Caso o Brasil atinja a produtividade média do estado de
São Paulo, por exemplo, o país poderia ter disponível cerca de 50 a 70 milhões
de hectares (JANK, 2007), que poderiam ser utilizados para outros fins, como
agricultura, por exemplo. Neste estado, conforme salienta Jank (2007), a média
de aproveitamento das pastagens é de 1,4 cabeças por hectare. Neste contexto,
é necessário o manejo visando à otimização do setor em todas as localidades
produtoras do Brasil. A exemplo, um bom guia para tal melhoramento é explorar
o caso da agropecuária paulista, cuja média de produtividade chega a ser 71%
melhor que a nacional (ALVARENGA; RENOFIO; QUEIROZ, 2010; JANK, 2007;
RENOFIO et al., 2011).

Tal como mostrado na figura a seguir, no decorrer dos anos, a otimização da


área de pastagens no estado de São Paulo vem sendo gradualmente positiva.
Neste estado, a otimização das áreas de pastagens possibilitou o uso da terra
para outras culturas, como a cana-de-açúcar (ALVARENGA; QUEIROZ, 2008),
que constantemente avança pelo território paulista em função de atrativos como
terra propícia para cultura, bem como indústrias de base próximas às usinas de
açúcar e álcool, que acabam contribuindo para a redução dos custos de produção.

88
Capítulo 4 Agronegócio na Prática

Figura 20 – Total de bovinos e pastagens no estado


de São Paulo entre 2001 e 2006

Fonte: Adaptado de Jank (2007).

Para conhecimento mais aprofundado sobre otimização do uso


de terras no Brasil e uso de terra pela agricultura e pecuária, leia o
seguinte material:

JANK, M. S. A velha cana-de-açúcar. Revista Opiniões, v.


3, n. 4, p. 12-13, 2007. Disponível em: <http://sucroenergetico.
revistaopinioes.com.br/revista/detalhes/3-velha-cana-de-acucar/>.
Acesso em: 7 jun. 2017.

Para melhorar a eficácia e produtividade do setor, o manejo de pastagens


naturais, que ocupa cerca de 20% da terra do país (Tabela 1), necessita de alguns
cuidados especiais. Estes são exemplos de atenções requeridas:

• Equilibrar a quantidade de gado bovino com a forrageira disponível na


pastagem.

• Compor a pastagem com animais cujas espécies sejam adequadas ao solo e


clima local.

• Realizar sistema de rotação dos animais no pasto com o intuito de tornar o


manejo eficaz e assim primar pela manutenção da pastagem natural.

• Disponibilizar os animais no pasto de acordo com a capacidade deste.

89
Administração Rural

A otimização das áreas de pastagens, bem como o manejo


A formação de
pastagens destinada adequado do rebanho pode contribuir para a redução de diversos
à criação de gado impactos ambientais e sociais vinculados ao setor. Manter atenção
deve ser tão sobre os problemas ambientais e sociais vinculados à agropecuária
importante quanto
o tratamento que é do Brasil é de suma importância. A formação de pastagens destinada
feito no solo para à criação de gado deve ser tão importante quanto o tratamento que
a ocupação das é feito no solo para a ocupação das lavouras agrícolas. A criação
lavouras agrícolas.
de gado brasileiro tem ocupado grandes porções de matas nativas,
como cerrados e floresta amazônica, nas regiões Centro-Oeste e Norte do país.
Dispensar atenção para a eficiência da agropecuária nestas regiões é de suma
importância para o desenvolvimento do país (ALVARENGA; RENOFIO; QUEIROZ,
2010; RENOFIO et al., 2011).

Para conhecimento mais aprofundado sobre impactos


ocasionados pela criação de gado no Brasil, leia o seguinte material:

CAMPOS, A.; BARROS, C. J.; SAKAMOTO, L.; VIGNES, S.


Conexões Sustentáveis São Paulo – Amazônia: quem se beneficia
com a destruição da Amazônia. ONG Repórter Brasil e Papel Social
Comunicação. 2008. Disponível em: <http://reporterbrasil.org.br/
documentos/conexoes_sustentaveis.pdf>. Acesso em: 7 jun. 2017.

b) Cenário da criação de bovinos no Brasil

Nas regiões Norte


e Centro-Oeste Nas regiões Norte e Centro-Oeste concentram-se a maioria do
concentram-se a rebanho bovino do Brasil. No ano de 2015, por exemplo, tal como
maioria do rebanho apresentado na Tabela 2, o Brasil tinha 215.199.488 cabeças de
bovino do Brasil.
bovinos espalhadas em todos os estados do país e no Distrito Federal
(IBGE, 2017). Naquela ocasião, concentravam-se nas regiões Norte e Centro-
Oeste aproximadamente 35% (aproximadamente 76 milhões de cabeças) do
rebanho bovino do Brasil, tal como monstra a Figura 22.

Tabela 2 – Cabeças de bovinos no Distrito Federal


e nos estados do Brasil em 2015
Localidade Cabeças de bovinos %
Mato Grosso 29.364.042 13,65%
Minas Gerais 23.768.959 11,05%
Goiás 21.887.720 10,17%
Mato Grosso do Sul 21.357.398 9,92%

90
Capítulo 4 Agronegócio na Prática

Pará 20.271.618 9,42%


Rio Grande do Sul 13.737.316 6,38%
Rondônia 13.397.970 6,23%
Bahia 10.758.372 5,00%
São Paulo 10.468.135 4,86%
Paraná 9.314.908 4,33%
Tocantins 8.401.580 3,90%
Maranhão 7.643.128 3,55%
Santa Catarina 4.382.299 2,04%
Acre 2.916.207 1,36%
Ceará 2.516.197 1,17%
Rio de Janeiro 2.351.451 1,09%
Espírito Santo 2.223.531 1,03%
Pernambuco 1.948.357 0,91%
Piauí 1.649.549 0,77%
Amazonas 1.293.325 0,60%
Alagoas 1.255.696 0,58%
Sergipe 1.231.130 0,57%
Paraíba 1.170.803 0,54%
Rio Grande do Norte 918.952 0,43%
Roraima 794.783 0,37%
Distrito Federal 96.576 0,04%
Amapá 79.486 0,04%
Brasil 215.199.488 100,00%
Fonte: Adaptado de IBGE (2017).

Figura 21 – Milhões de cabeças de bovinos nas regiões do Brasil em 2015

Fonte: Adaptado de IBGE (2017).

91
Administração Rural

Neste contexto, e condizente com os dados da Tabela 2, os estados que


são os maiores criadores de gado bovino do Brasil estão expostos na Figura 23.
Conforme indicado nesta figura, os estados de Mato Grosso, Minas Gerais, Goiás,
Mato Grosso do Sul e Pará respondem por quase 55% de todo efetivo bovino
brasileiro.

Figura 22 – Cabeças de bovinos nos principais estados do Brasil em 2015

Fonte: Adaptado de IBGE (2017).

Os estados do Pará, Roraima, Rondônia, Amapá e Mato Grosso integram o


território denominado de Amazônia Legal, assim como as áreas dos estados de
Tocantins e Goiás ao norte do paralelo 13º S, bem como a parcela do estado do
Maranhão localizada a oeste do meridiano 44º W. Nesses locais existe grande
concentração do rebanho bovino brasileiro, sendo que sua ocupação se dá em
áreas de pastagens naturais e também de áreas em que houve desmatamentos
com cabo de aço ou correntes arrastados por pares de máquinas de esteira e
posterior queima não controlada (ALVARENGA; RENOFIO; QUEIROZ, 2010;
RENOFIO et al., 2011).

A lucratividade A lucratividade do pecuarista nessa região frequentemente é


do pecuarista obtida devido ao baixo preço pago na aquisição das terras, mão de
nessa região obra e também pelo fato de já usarem pastagens já formadas.
frequentemente é
obtida devido ao
baixo preço pago na A relação do número de cabeças de gado por habitante, na região
aquisição das terras,
mão de obra e da Amazônia Legal, é de 3,3 (uma relação três vezes maior do que a
também pelo fato demédia do país). O número de abates na região e de reses nela criada
já usarem pastagensrepresenta 41% do total de carne nacional e um terço da carne in
já formadas.
natura exportada pelo Brasil, no ano de 2007 (CAMPOS et al. 2008;
ALVARENGA; RENOFIO; QUEIROZ, 2010).

92
Capítulo 4 Agronegócio na Prática

De acordo com Bustamante et al. (2009), a maior fonte de geração de gases


do enfeito estufa da pecuária bovina advém do desmatamento para formação de
áreas novas de pastagem, particularmente ocorridos na região Amazônica. No
período de 2003 e 2008, Bustamente et al. (2009) constataram que:

• No bioma amazônico, 75% do desmatamento ocorrido foi devido à expansão


da pecuária.
• No cerrado, a pecuária foi responsável, no período, por 56% do
desmatamento.
• Além do desmatamento, a fermentação entérica do gado e o manejo
através da queima de antigas pastagens e da própria madeira advinda
do desmatamento, constituem as principais fontes de emissão de gases
poluentes.
• Por ser responsável por aproximadamente 50% dos gases causadores do
efeito estufa, o setor da pecuária tem responsabilidade de contribuir, e muito,
para mitigação do efeito estufa.

De acordo com Bustamante et al. (2009), é possível que haja É possível que haja
mitigação de tais impactos negativos. Para isso, é necessária sinergia mitigação de tais
impactos negativos.
entre os setores públicos e privados para que ocorra essa redução.
Para os autores, as seguintes medidas devem ser tomadas:

• Redução do desmatamento.
• Eliminação do fogo no manejo das pastagens.
• Recuperação de pastagens e solos degradados.
• Regeneração de floresta secundária.
• Redução da fermentação entérica por meio da melhoria da dieta dos animais.
• Integração da lavoura com a pecuária de corte.
• Investimento em tecnologia e qualidade na formação e manejo de pastagens.
• Redução da expectativa de impunidade nas práticas de ocupação de terras
públicas e nos crimes e nas infrações ambientais.
• Zoneamento com base em parâmetros territoriais e biofísicos para a
implantação de frigoríficos.
• Acompanhamento por meio do sensoriamento das pastagens com o intuito de
avaliar a ocupação das terras com pastagem, a produtividade e a ocupação
do gado.

Neste contexto, tão importante quanto conhecer o cenário e os impactos


associados ao contexto macro da produção de gado no Brasil, faz-se necessário
também ter conhecimento sobre os impactos gerados por uma relevante cadeia
de produção adjacente à produção agropecuária do Brasil: a cadeia de produção
de couro do Brasil.

93
Administração Rural

c) Gargalos ambientais do setor de couro

Um dos principais entraves na cadeia de produção de couro do Brasil é a


geração de resíduos. Nos processos necessários para se produzir o couro bovino
são utilizadas inúmeras substâncias químicas que resultam em resíduos nocivos
ao meio ambiente, tal como é o caso, por exemplo, da disposição de metais
pesados ao solo e ao lençol freático.

São raras as curtidoras que possuem políticas eficientes de


São raras as
curtidoras que gestão de resíduos, sendo os mesmos lançados in natura ao meio
possuem políticas ambiente, degradando os recursos naturais. Nas maiores empresas
eficientes de
gestão de resíduos, do setor, os processos de curtimento são verdadeiras “caixas pretas”,
sendo os mesmos não se fornecendo nem quais produtos nem respectivas quantidades
lançados in natura empregadas, sob a alegação de “segredo industrial” (ALVARENGA;
ao meio ambiente,
degradando os RENOFIO; QUEIROZ, 2010; RENOFIO et al., 2011).
recursos naturais.
Nas maiores
empresas do setor, Os resíduos gerados nos curtumes podem ser classificados em
os processos de três tipos, a saber: os curtidos, os não curtidos e outros resíduos. Aparas
curtimento são caleadas e não caleadas e carcaças são exemplos de resíduos não
verdadeiras “caixas
pretas”, não se curtidos. Serragem cromada, aparas curtidas, pó da lixadeira e aparas
fornecendo nem de couro semiacabado e acabado, constituem exemplos dos resíduos
quais produtos
nem respectivas já curtidos. O cromo e os resíduos da pintura são enquadrados como
quantidades pertencentes à categoria outros resíduos. Caso não haja o destino e o
empregadas, sob tratamento correto, todos os três causam prejuízos ambientais, sendo
a alegação de
“segredo industrial o cromo o mais nocivo (ALVARENGA; RENOFIO; QUEIROZ, 2010;
RENOFIO et al., 2011).

Concentrações elevadas de cromo no lençol freático e no solo oferecem


grande risco à saúde, ao equilíbrio ambiental e é de difícil tratamento e/ou
remediação (ALVARENGA; RENOFIO; QUEIROZ, 2010).

Entretanto, não se devem sobrestar as ações requeridas nas etapas da


primeira fase da cadeia, uma vez que a constante expansão da pecuária na
Amazônica Legal é responsável por uma série de problemas, tanto ambientais
quanto sociais. Além do desmatamento, existe também o problema da exploração
da mão de obra local. Outras vezes, expulsa desses territórios populações
tradicionais e escraviza trabalhadores em atividades como desmatamento para
formação de pastagem, não oferecem equipamento de proteção individual (EPI)
para os trabalhadores e pastoreio do gado. Em seis fazendas autuadas por
trabalho escravo, localizadas no município São Felix do Xingu, cinco tem como
atividade direta a pecuária extensiva de corte (CAMPOS et al. 2008; ALVARENGA;
RENOFIO; QUEIROZ, 2010).

94
Capítulo 4 Agronegócio na Prática

É possível mitigar os danos ambientais provocados pela pecuária É possível mitigar


bovina. Para tanto, é necessário reduzir a fermentação entérica do os danos ambien-
tais provocados
gado, o desmatamento de áreas protegidas ou não para formação pela pecuária
de novas pastagens, os resíduos de frigoríficos e curtumes. Essas bovina. Para tanto,
é necessário reduzir
medidas aliadas a um eficiente sistema de fiscalização e de gestão a fermentação
podem contribuir para a sustentabilidade da cadeia, condição requerida entérica do gado, o
por parcela do mercado internacional atenta às condições brasileira de desmatamento de
áreas protegidas ou
produção (ALVARENGA; RENOFIO; QUEIROZ, 2010; RENOFIO et al., não para formação
2011). de novas pastagens,
os resíduos de frigo-
ríficos e curtumes.
d) Fatores críticos no gerenciamento de propriedades rurais
produtoras de bovinos

Na abordagem deste tópico, convidamos Jonathas Alfredo Zakir Pereira para


nos oferecer seu posicionamento sobre os fatores críticos que estão vinculados
ao gerenciamento de propriedades rurais que criam bovinos. Jonathas é, além de
pecuarista, também administrador e especialista em agronegócios.

FATORES CRÍTICOS NO GERENCIAMENTO


DE PROPRIEDADES RURAIS CRIADORAS DE
BOVINOS: A POSIÇAO DE UM PRODUTOR

Por Jonathas A. Zakir Pereira

Por fatores críticos associados ao gerenciamento da


bovinocultura pode-se entender aqueles sinais que acarretam
atrasos no crescimento da empresa rural, seja ela familiar
ou corporativista. Como em toda atividade econômica, na
bovinocultura existem diversos entraves que se apresentam como
âncoras em seus processos, sejam eles no processo produtivo
principal do empreendimento ou nas atividades ligadas à gestão
de todo o sistema. Neste ambiente é importante diferenciar a
bovinocultura de corte e de leite, e passar brevemente pelas
diversas realidades, divididas pelo tamanho da propriedade,
pequeno, médio e grande, ou pela forma como o processo
produtivo é gerenciado.

No gerenciamento de propriedades produtoras de bovinos,


quase sempre, os seguintes fatores devem ser levados em
consideração ao se traçar planos de gerenciamento:

a) Variedades de clima e relevo.


b) Acontecimentos na geopolítica que podem impactar o mercado.

95
Administração Rural

c) Aptidão do gestor/proprietário para a atividade.


d) Conhecimentos do gestor/proprietário sobre as distintas
características encontradas nos variados tipos de
empreendimentos rurais, como por exemplo: pequenos sítios
que a família reside, grande fazenda recebida como herança
sem pessoas residindo no local, média propriedade gerenciada
pela família, propriedades que a bovinocultura é responsável
por diferentes proporções na renda familiar, grandes empresas
agropecuárias automatizadas e profissionalizadas (existem
pequenas propriedades que intensificam de tal forma seu
modo de produzir que requerem gerenciamento profissional,
outras grandes propriedades que sequer apresentam o
mínimo de gestão empresarial).

O fato é que cada uma tem suas dificuldades. De um modo


geral, o produtor rural é tomador de preço, sempre. Não pode exigir
o preço que lhe convém ou que lhe dará o maior lucro, mesmo se
o mercado não estiver correspondendo com a realidade dentro da
porteira. Então, um primeiro fator crítico é a vulnerabilidade dos
preços. Isso porque o gestor acaba sendo obrigado a vender seu
produto final pelo preço que lhe oferecem, respeitando os preços
oferecidos pelo mercado. Isso dificulta outros pontos, como o
investimento a médio e longo prazo na propriedade, o custeio
de acordo com a realidade produtiva, planejamento da área
financeira, entre outros.

Se ao produtor rural fosse permitido fazer a precificação


do seu produto final, seja leite, carne ou animais de reposição,
seria mais fácil e acessível pensar nos fatores citados acima.
O planejamento das suas ações de investimento em estrutura,
genética, recursos humanos, nutrição animal e sanidade do
rebanho poderiam tomar uma forma mais consistente. Em
propriedades de médio porte, por exemplo, o produtor vê-se
obrigado a limitar seus gastos de acordo com a proporção da
renda bruta.

Outro fator crítico diz respeito à instabilidade dos preços dos


variados insumos. De maneira genérica, os principais insumos
para bovinocultura, tanto extensiva quanto intensiva, são:

a) Suplementos alimentares (ração, sal mineral, suplementos


ricos em proteína).
b) Mão de obra.
c) Fertilizantes.
d) Medicamentos.
e) Defensivos agrícolas.
f) Combustível.
g) Material para construção e manutenção em geral de cercas e
currais, por exemplo.

96
Capítulo 4 Agronegócio na Prática

h) Insumos para equipamentos e peças de reposição.

A maioria dos preços desses produtos sofre influência de


diversos fatores, que não apenas localizados à realidade do
país produtor, como por exemplo: o preço do petróleo, a cotação
do dólar, as taxas de juros, as recentes crises econômicas em
diferentes países do mundo. Neste ambiente, o produtor é
praticamente obrigado a pagar o que lhe é imputado. Exceto
em raríssimas situações, o produtor consegue pagar valor
mais condizente. Uma estratégia para isso são as compras
antecipadas em caso de produtos sazonais ou coletivas, em
caso de cooperativas ou associações. Mas estas não são
constantes nem comuns entre a maioria dos produtores do país.

Outro fator crítico diz respeito ao acesso às linhas de crédito,


que são demasiadamente difíceis de se conseguir. Embora
existam linhas de financiamento da produção para diversas
realidades (tal como para produtores familiares, médios produtores
ou grandes corporações), o acesso a esse dinheiro é oneroso
do ponto de vista administrativo. A burocracia dificultosa e lenta
no Brasil, os processos inadequados e a grande quantidade de
projetos a serem analisados tornam quase impossível de se obter
algum tipo de apoio financeiro. Diferentemente do que ocorre na
produção agrícola, a produção bovina não possui um período de
safra bem definido. Sobretudo no que diz respeito às práticas
dos confinamentos e o desenvolvimento tecnológico aplicado no
campo, que acabam interferindo no prazo para pagamento do
empréstimo, que pode ser elástico.

Em todo sistema de produção, um fator determinante é


a aplicação de tecnologia de ponta. Para a bovinocultura não
podia ser diferente. Embora estejam mais difundidas atualmente,
essas ferramentas não chegaram à maioria das propriedades,
como são os exemplos: inseminação artificial, controle biológico
de pragas, misturadores de ração hiperprecisos, maquinário de
agricultura de precisão, softwares de gestão. As ferramentas
mais desenvolvidas tecnologicamente esbarram em problemas
básicos. Tal é o caso, por exemplo, da tentativa que houve
de se implementar os softwares para a gestão do rebanho.
O sinal de internet fraco ou oneroso nas propriedades rurais
implicava no insucesso. Além do mais, muitos produtores
analisam investimentos similares como algo supérfluo, sem
muita importância para sua produção. Em relação às demais
tecnologias, o custo de uso do capital nelas empatado inviabiliza
sua utilização, quando se leva em consideração fatores como:
o prazo do retorno do investimento, que costuma ser de médio
e longo prazo; os custos envolvidos na implementação no
empreendimento, como treinamento de pessoal, readequação
das pastagens e estruturas físicas, por exemplo.

97
Administração Rural

Qualificação de mão de obra em todos os setores da


economia é determinante para o sucesso do empreendimento.
Não seria diferente para a produção rural, que é repleta de
pessoas de bom coração, mas que aprenderam o que sabem na
prática, no dia a dia do trabalho no campo, geralmente com seus
pais e avós. Não se deve desmerecer, de forma alguma, esse tipo
de conhecimento. Aliás, é o conhecimento destes profissionais
que mantém a maioria das propriedades rurais em atividade.
No entanto, de forma geral, muitos produtores não buscam
conhecimentos que os possibilitem melhorar a gestão e produção
do seu negócio. Isso contribui para a dificuldade apontada no
quesito anterior que tratou da aplicação da tecnologia de ponta.

Motivar os trabalhadores rurais a permanecer no campo e a


terem qualidade de vida e de trabalho para si e suas famílias é um
desafio enfrentado desde os primórdios do período de êxodo rural
e parece que não será dirimido tão cedo. Aptidão para o trabalho
no campo, levando em consideração a história, costumes, gostos
e virtudes, é algo a se considerar no que tange à gestão da
bovinocultura. Muitos empreendedores de sucesso demoraram
muitos e longos anos para produzir rebanhos, sobretudo no campo
da genética leiteira ou de corte, debaixo de situações drásticas e
condições adversas. As gerações mais novas talvez não tenham
similaridades neste sentido por causa de diferenças encontradas
entre suas gerações antecedentes. Entre os exemplos, podem ser
citadas as diferenças nos próprios valores a que se dão atenção
e que impactam diretamente no modo com que foi desenvolvida a
pecuária no Brasil.

Uma vez que as gerações mais novas de pecuaristas não


possuem capacidade de resiliência ou persistência nas atividades,
acabam não conseguindo permanecer na bovinocultura por muito
tempo. Muitos herdeiros, ao se depararem com planilhas negativas
e condições difíceis, migram a atividade produtiva do gado para
outro produto. Outra alternativa tem sido o arrendamento ou
venda das terras para usinas de cana-de-açúcar ou para outros
produtores rurais. Esse fator modifica o espaço rural e as relações
de trabalho. Modifica também o meio ambiente, que cada dia mais
sofre com o chamado fenômeno do “deserto verde”, acarretado
pela monocultura e práticas agrícolas defasadas e prejudiciais.

Não se pode deixar de lado a questão insegurança, seja ela


física, financeira ou de propriedade. Muitos produtores rurais se
deparam perante ameaças pelos constantes assaltos e roubos
que acontecem de forma mais frequentes nas propriedades
rurais. Nos campos do Brasil, tem sido muito comum encontrar
casos de assaltos e roubos aos bens das casas rurais, bem
como também de assaltos e roubos de implementos agrícolas,

98
Capítulo 4 Agronegócio na Prática

produção agrícola e animais. A descapitalização também é


motivo de insegurança para a maioria dos produtores. Quando
precisam realizar um aporte maior de capital no empreendimento
ou usá-lo para gastos pessoais, precisam vender animais, seja a
circunstância encontrada no mercado propícia ou não. Invasões
em propriedades por parte de movimentos sociais que não levam
em consideração, muitas vezes, a situação de produtividade da
empresa rural ou da legalidade da propriedade das terras em que
se encontram, também é fonte de incerteza sobre o futuro.

O mercado que engloba a bovinocultura, por vezes, pode


ser muito especulativo. Com compradores de animais ou de seus
produtos muito afinados entre si, gerando incertezas quanto à
capacidade de garantias, quanto à venda ou de confiança entre
os agentes da mesma cadeia produtiva. Há em alguns casos um
verdadeiro lobby de compradores que desejam usufruir desses
relacionamentos e que prejudicam as transações, tornando um
mercado que poderia ser competitivo em uma engrenagem que
gira com bastante dificuldade.

Fonte: PEREIRA, J. A. Z. P. Fatores críticos no gerenciamento de


propriedades rurais produtoras de bovinos: a posição de um produtor.
Texto concedido para composição de capítulo. Junho de 2017.

Pelos apontamentos destacados por Jonathas, fica claro que diversos


aspectos podem afetar o gerenciamento em propriedades rurais criadoras
de bovinos, sendo os mais comuns: aspectos de ordem técnica (como uso de
tecnologia), financeira (custos dos insumos que não acompanham o preço de
venda), humana (falta de mão de obra qualificada e desinteresse/despreparo
das gerações futuras para assumirem as propriedades dos seus pais) e político-
econômica (flutuações de câmbio e crises diversas).

MilHo
Aqui, abordamos a produção de milho no Brasil, destacando os seguintes
pontos: cenário da produção de milho no Brasil, apontamentos sobre milho
transgênico no Brasil e também um panorama sobre o risco tóxico e perigo
ambiental presente no ciclo de vida da produção de milho. A cultura do milho
possui muitas similaridades de processos com outras importantes culturas que
abastecem o mercado de grãos do Brasil e do mundo, tais como soja, sorgo e
trigo, por exemplo. Assim, o conhecimento sobre alguns dos principais tópicos

99
Administração Rural

que abordamos aqui também pode oferecer subsídios para se compreender o


funcionamento destas culturas que possuem similaridades de processos. Dentre
estes, existem os próprios fatores críticos que estão vinculados ao gerenciamento
de propriedades produtoras de grãos e o caso do consumo de agrotóxico.

a) Cenário do milho no Brasil

A cultura do milho é A cultura do milho é uma das que mais ocupam as terras agrícolas
uma das que mais do Brasil e é uma das principais fontes de renda para pequenos,
ocupam as terras médios e grandes agricultores brasileiros. Em seu sistema de cultivo, há
agrícolas do Brasil e
é uma das principais basicamente dois métodos de trabalho utilizados no Brasil, que são: plantio
fontes de renda para direto e plantio convencional. Enquanto o plantio direto é mais presente
pequenos, médios e
grandes agricultores nas grandes propriedades agrícolas, o método do plantio convencional é
brasileiros. mais restrito aos pequenos agricultores (ALVARENGA, 2012).

No Brasil, cerca de 80% do milho produzido no país possui como destino o


mercado de ração animal. Quanto ao consumo humano, o milho é transformado
em diversos produtos, como por exemplo: farinha, amido, xarope de glicose, flocos
para cereais matinais, óleo, margarina, entre outros produtos (ALVARENGA, 2012).

O Brasil é o terceiro maior produtor de milho do mundo. Estados Unidos e


China ocupam o primeiro e segundo lugar, respectivamente (USDA, 2016). Alguns
dos principais fatores contribuem para os Estados Unidos ocuparem a primeira
posição, entre eles: i) o alto uso de tecnologia; ii) a constante demanda por etanol
produzido de milho naquele país; iii) sua alta produtividade por hectare. Ao se
comparar, por exemplo, na Tabela 3, os dados de safras dos dois principais países
produtores de milho da América Latina e os dados dos Estados Unidos no que
tange à área plantada, produção e produtividade por hectare, confirma-se que o
país tem uma eficiência de produção muito aquém dos dois países comparados
(ALVARENGA, 2012).

Tabela 3 – Comparativo de produção de milho entre


Estados Unidos, Argentina e Brasil
Países
Estados Unidos Brasil Argentina
produtores
Área (mil Produção Produt. Produção Produt. Produção Produt.
Safra Área Área
ha) (mil ton.) (kg/ha) (mil ton.) (kg/ha) (mil ton.) (kg/ha)
2004/05 29.798 299.914 10.065 12.208 35.007 2.867 3.400 20.500 6.029
2006/07 28.586 267.503 9.358 14.000 51.078 3.648 3.580 21.800 6.089
2008/09 31.825 307.386 9.659 14.143 50.971 3.604 3.500 19.000 5.429
Fonte: Adaptado de Alvarenga (2012), mediante dados de Agrianual 2010 (2010).

100
Capítulo 4 Agronegócio na Prática

Um dos principais fatores que justificam a alta produtividade de milho do


Brasil é a ampla disponibilidade de terras destinada à cultura do milho. Grande
parte da produção do milho brasileiro provém de produtores que ainda operam
suas propriedades mediante processos semelhantes aos de subsistência. Nestes
sistemas produtivos, a baixa produtividade por hectare ocorre em circunstância
da falta de conhecimento e de adoção de novas tecnologias, principalmente por
pequenos e médios agricultores. Assim, o desenvolvimento destes agricultores
pode alavancar as chances de a cadeia produtiva do milho ser mais eficiente
mediante uma atenção voltada ao conhecimento sobre os seguintes aspectos:
manuseio de máquinas e implementos agrícolas, práticas culturais, gestão
ambiental e funcionamento do mercado em que atuam). Outros fatores que
podem ser listados, de acordo com Companhia Nacional de Abastecimento estão
associados ao incremento de tecnologia no campo, tais como: utilização de
sementes de qualidade, acompanhamento da cultura por profissional qualificado
(ALVARENGA, 2012).

Apesar de tais necessidades, o mercado de grãos brasileiro Cerca de 80%


apresenta um forte potencial. Cerca de 80% da produção de grãos da produção de
grãos brasileiros é
brasileiros é representado pelas colheitas da soja e do milho. Contudo, representado pelas
a maior parte do milho produzido no Brasil é consumido internamente e colheitas da soja e
o volume de milho exportado é baixo, quando comparado à quantidade do milho.
produzida. Devido a isso, o volume importado também é baixo.

Apesar de uma relativa baixa eficiência produtiva comparada com O cenário para o
os Estados Unidos e Argentina, o cenário para o Brasil é promissor no Brasil é promissor
que diz respeito à melhoria da sua eficiência de produção. Tal como no que diz respei-
to à melhoria da
confirmado pela figura a seguir, tem ocorrido no Brasil no decorrer dos sua eficiência de
últimos anos não apenas um aumento da área plantada, mas também produção.
da produtividade média por hectare.

Figura 23 – Área plantada e produtividade média


de milho no Brasil entre 2003 e 2015

Fonte: Adaptado de IBGE (2017).

101
Administração Rural

No Brasil, a região Centro-Oeste é a maior produtora de milho do país,


tal como enfatizado pela figura a seguir. Na safra de 2015, por exemplo, foram
produzidas no país aproximadamente 85 milhões de toneladas de milho. Destas,
48% foram produzidas na região Centro-oeste, 29% na região Sul, 14% na região
Sudeste, 7% na região Nordeste e 3% na região Norte.

Figura 24 – Produção de milho nas regiões do


Brasil em 2015: milhões de toneladas

Fonte: Adaptado de IBGE (2017).

Assim como ocorrem diferenças entre a eficiência produtiva entre o Brasil


e outros importantes países produtores, também se presenciam diferenças
significativas neste quesito entre as regiões brasileiras, bem como também entre
o Distrito Federal e os estados do Brasil. A Tabela 4 e a Figura 25 mostram estas
discrepâncias.

Tabela 4 – Área plantada, produção e produtividade por hectare


de milho nas regiões do Brasil na safra de 2015

Toneladas Toneladas
Localidade Hectares plantados
produzidas por hectare
Norte 622.359 2.314.968 3,72
Nordeste 2.687.968 5.865.820 2,18
Sudeste 2.110.908 11.564.629 5,48
Sul 3.698.680 24.417.444 6,60
Centro-Oeste 6.726.602 41.121.795 6,11
Brasil 15.846.517 85.284.656 5,38
Fonte: Adaptado de IBGE (2017).

102
Capítulo 4 Agronegócio na Prática

Figura 25 – Toneladas de milho por hectare no Distrito


Federal e todos os estados do Brasil em 2015

Fonte: Adaptado de IBGE (2017).

Um dos principais motivos que justificam estas disparidades está vinculado


aos seguintes aspectos, presentes em muitas propriedades localizadas nas
principais regiões produtoras de milho do Brasil:

• Alta adoção de tecnologia no campo (pivôs de irrigação, máquinas agrícolas


modernas, gerenciamento profissional das propriedades agrícolas, adoção
do plantio direto).
• Grandes áreas plantadas. Duas colheitas
• Duas colheitas anuais, com poucas diferenças de produtividade anuais, com poucas
entre uma e outra. diferenças de produ-
tividade entre uma
• Lavouras sendo acompanhadas constantemente por agrônomos e e outra.
técnicos agrícolas.
• Forte presença de importantes institutos de pesquisa desenvolvendo
tecnologias específicas para a cultura, tal como é o caso, por exemplo, da
Embrapa Milho e Sorgo e também das diversas universidades do Brasil com
foco em Ciências Agrárias, Sociais e Exatas.

No que tange às participações estaduais na produção de milho no Brasil,


Mato Grosso, Paraná e Mato Grosso do Sul, Goiás e Minas Gerais são,
respectivamente, os cinco maiores produtores de milho do Brasil, tal como
confirmado pela Tabela 5.

103
Administração Rural

Tabela 5 – Panorama da produção de milho no Distrito


Federal e nos estados brasileiros na safra de 2015

% da produ- Toneladas
Localidade Hectares plantados Toneladas produzidas
ção do país por hectare

Mato Grosso 3.570.606 21.353.295 25,04% 5,98


Paraná 2.439.400 15.777.409 18,50% 6,47
Mato Grosso do
1.681.672 9.727.809 11,41% 5,78
Sul
Goiás 1.409.102 9.512.503 11,15% 6,75
Minas Gerais 1.281.452 6.839.297 8,02% 5,34
Rio Grande do Sul 854.793 5.563.555 6,52% 6,51
São Paulo 808.374 4.688.951 5,50% 5,8
Santa Catarina 404.487 3.076.480 3,61% 7,61
Bahia 814.311 2.683.111 3,15% 3,29
Maranhão 456.746 1.397.831 1,64% 3,06
Piauí 409.277 1.101.439 1,29% 2,69
Rondônia 175.952 787.093 0,92% 4,47
Pará 228.871 759.662 0,89% 3,32
Tocantins 162.078 639.736 0,75% 3,95
Distrito Federal 65.222 528.188 0,62% 8,1
Sergipe 175.135 495.729 0,58% 2,83
Ceará 495.927 130.887 0,15% 0,26
Acre 41.876 94.483 0,11% 2,26
Espírito Santo 18.642 30.147 0,04% 1,62
Pernambuco 194.147 25.867 0,03% 0,13
Amazonas 6.604 16.816 0,02% 2,55
Alagoas 34.224 15.800 0,02% 0,46
Roraima 5.221 15.528 0,02% 2,97
Paraíba 65.286 10.934 0,01% 0,17
Rio de Janeiro 2.440 6.234 0,01% 2,55
Rio Grande do
42.915 4.222 0,01% 0,1
Norte
Amapá 1.757 1.650 0,00% 0,94
Brasil 15.846.517 85.284.656 100,00% 5,38
Fonte: Adaptado de IBGE (2017).

104
Capítulo 4 Agronegócio na Prática

Assim como enfatizado na Tabela 5 e na Figura 26, apenas o Apenas cinco


estado do Mato Grosso produz aproximadamente 25% do milho do estados brasileiros
produzem cerca de
Brasil. Em um sentido mais agregado, apenas cinco estados brasileiros 75% do milho do
produzem cerca de 75% do milho do país, tal como demonstra a figura país.
a seguir.

Figura 26 – Produção de milho nos principais estados


do Brasil em 2015: milhões de toneladas

Fonte: Adaptado de IBGE (2017).

No Brasil, um fator que também tem contribuído para o aumento da produção


e eficiência produtiva é a adoção de sementes transgênicas no campo.

b) Milho transgênico no Brasil

A questão da liberação do cultivo da semente de milho transgênica no Brasil


foi discutida por entidades competentes por mais de dez anos, tendo sido aprovado
no ano de 2008. No entanto, apesar do relativo recente aval para comercialização
da semente transgênica, nota-se uma tendência para a permanência do plantio
com este tipo de semente nos campos brasileiros (ALVARENGA, 2012).

O fator mais importante que motiva a troca da semente convencional O fator mais impor-
tante que motiva a
pela transgênica é o econômico. As perdas de produtividade da cultura troca da semente
do milho em decorrência de insetos tidos como pragas para a cultura convencional pela
do milho são de quase 20%, fazendo com que o agronegócio do milho transgênica é o
econômico.
deixe de ganhar aproximadamente dois bilhões de reais anualmente
(WAQUIL; VILLELA, 2004). De acordo com Embrapa (2008), gasta-se em torno de
23 milhões de dólares anualmente nas aplicações de inseticidas e no tratamento
de sementes para se conter as principais pragas da cultura do milho, fazendo das

105
Administração Rural

variedades de sementes de milho transgênico tolerantes a insetos e herbicidas


uma forma viável de se conter estes prejuízos econômicos.

Algumas consequências são possíveis de acontecer devido ao uso de


sementes de milho transgênicas. Uma destas é o fluxo de genes dos organismos
modificados para as variedades locais não modificadas (PIÑEYRO-NELSON
et al., 2009). Outra é o risco à segurança alimentar, pois pode ser que surjam
efeitos colaterais naqueles indivíduos que consumirem alimentos constituídos de
compostos transgênicos. Além destes, há possibilidade de ocorrer resistência das
plantas daninhas aos herbicidas e também resistência dos insetos aos inseticidas,
criando um círculo vicioso de necessidade de agrotóxicos cada vez mais fortes
(EMBRAPA, 2008).

Neste sentido, as pesquisas envolvendo sementes de milho transgênicas


apontam para caminhos diversos. Embrapa (2008) afirma que no decorrer
de dezesseis anos do comércio agrícola de produtos transgênicos não foram
observadas consequências relevantes para a saúde humana nem para o meio
ambiente. No caso da adoção da semente de milho transgênica nos campos
do Brasil, as chances de ocorrer efeitos ambientais por fluxo gênico são raras,
pois não existem no país plantas nativas passíveis de serem cruzadas com as
variedades de milho.

No entanto, ao se observar o panorama da plantação de sementes


transgênicas de milho em outros países, as pesquisas direcionam a necessidade
de mais estudos sobre as consequências que este tipo de cultura pode causar.
Segundo Binemelis (2008), a lavoura de milho transgênico em uma região da
Espanha contribuiu para a queda da produção de milho orgânico, o que indica a
inviabilidade de coexistir estas duas distintas lavouras.

No México, em lavoura experimental destinada à pesquisa, Piñeyro-Nelson


et al. (2009) descobriram contaminação de uma variedade de milho comum
da região pelos transgênicos. Neste país, apesar da produção comercial do
milho transgênico ainda não ter sido liberada, as pesquisas na área se tornam
relevantes, pois existem muitas variedades de milho que, se contaminadas,
podem comprometer a diversidade genética dos milhos existentes (ACEVEDO et
al., 2011), já que não existem formas de se parar o fluxo de genes para as plantas
nativas da região (DALTON, 2009).

No caso brasileiro, apesar das considerações de Embrapa (2008) sobre a


situação dos fluxos gênicos, o trabalho de Ferment et al. (2009) indica relevantes
considerações sobre a cultura de milho transgênico nos campos nacionais, sendo
as principais:

106
Capítulo 4 Agronegócio na Prática

• O milho transgênico pode comprometer outras variedades,


Falta ainda estabe-
pois barreiras destinadas a conter movimento de sementes ou lecer regras legais
polinização não são efetivas completamente. para responsabili-
• Falta ainda estabelecer regras legais para responsabilização e zação e compen-
sação de eventuais
compensação de eventuais danos causados por lavouras de milho danos causados por
transgênicos em outras variedades. lavouras de milho
• A norma divulgada pela Comissão Técnica Nacional de transgênicos em
outras variedades.
Biossegurança (CTNBio) sobre a situação do milho transgênico
não é completa e não garante a possibilidade de coexistência de variedades
de milho transgênicos e convencionais.

Contudo, mesmo diante destas questões ainda em aberto, verifica-se que o


plantio de milho transgênico no Brasil já é realizado em suas principais regiões
produtoras em proporções consideráveis. Na safra 2009/10, por exemplo, 25%
do milho do Brasil foi plantado com semente transgênica. Naquela safra, as
seguintes proporções foram plantadas com sementes transgênicas nas regiões
do Brasil: Centro-oeste, 50%; Sul, 37%; Sudeste, 31%; Nordeste, 5%; Norte, 1%
(AGRIANUAL, 2010).

c) Agrotóxicos na agricultura do Brasil

Assim como o caso da ampliação do uso da terra pela agricultura e


agropecuária, os insumos químicos também contribuíram para o aumento Contudo, o mau
da produção. Tal como afirma Borges Filho (2004), a intensificação do uso de agrotóxicos
acarretou problemas
uso de agrotóxicos contribuiu para a maior produtividade, tal como é ambientais decor-
o caso das monoculturas dos trópicos, por exemplo. Contudo, o mau rentes da atividade
uso de agrotóxicos acarretou problemas ambientais decorrentes da agrícola.
atividade agrícola. Além das contaminações da água, do solo e dos alimentos que
o uso indiscriminado de agrotóxicos pode causar, há ainda a possibilidade das
pragas agrícolas combatidas se tornarem resistentes aos produtos, fazendo com
que haja desequilíbrio da cadeia de predadores e presas, pois os agrotóxicos são
mais nocivos aos inimigos naturais das pragas que se pretendem eliminar do que
aos próprios insetos, fungos e ervas daninhas presentes nas lavouras.

• Problemas tóxicos e ambientais associados ao uso de agrotóxicos


no Brasil

No Brasil, os problemas ambientais e tóxicos associados aos agrotóxicos


requerem especial atenção. O país é o maior consumidor destes O país é o maior
insumos no planeta (ABRASCO, 2012; COSTA; NOMURA, 2016) consumidor
e também o país que mais utiliza agrotóxicos proibidos em outros destes insumos no
planeta e também
países (ABRASCO, 2012). A maior parte dos agrotóxicos utilizados o país que mais
na agricultura brasileira são consumidos nas culturas de soja (32,6%), utiliza agrotóxicos
milho (12%), citros (10%), cana (7,6%) e café (7%), respectivamente proibidos em outros
países.
(SPADOTTO et al., 2004).

107
Administração Rural

Agrotóxicos causam sérios problemas ambientais na agricultura (TILMAN


et al., 2002). Entre os mais comuns estão: degradação da matéria orgânica e
eutrofização de solos (MORENO-MATEOS et al., 2015), de águas superficiais e
de águas subterrâneas, bem como redução da biodiversidade e da qualidade do
solo (TILMAN et al., 2002) e dá água (PIMENTEL et al., 2004; TILMAN et al., 2002;
WATTS et al., 2015). No Brasil, pesquisas já comprovaram danos ambientais que
foram causados por agrotóxicos, tais quais: contaminação de solo e água em área
agrícola do cerrado do país (SOARES; PORTO, 2007); contaminação de água
subterrânea e superficial propícia para consumo humano (VEIGA et al., 2006);
morte de plantas urbanas devido à pulverização agrícola (PIGNATI; MACHADO;
CABRAL, 2007); redução de polinização por abelhas (PACÍFICO-DA-SILVA;
MELO; SOTO-BLANCO, 2016), bem como também envenenamento (ROSSI et
al., 2013) e morte de abelhas (LIMA; ROCHA, 2012).

Os agrotóxicos Os agrotóxicos de uso agrícola também estão entre os insumos


de uso agrícola que mais causam intoxicação humana no Brasil (BOCHNER, 2007).
também estão
entre os insumos Pesquisas que foram desenvolvidas com trabalhadores rurais
que mais causam mencionam os seguintes casos de malefícios causados à saúde por
intoxicação humana agrotóxicos: doenças crônicas, problemas auditivos e na qualidade
no Brasil.
de, problemas reprodutivos, ardência nos olhos, tonturas, cefaleia
e náuseas e morte. Entre os trabalhadores rurais existe uma série de motivos
que contribuem para suas intoxicações, como por exemplo: não utilização de
Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), manuseio prolongado do agrotóxico
e falta de informação sobre a maneira correta de aplicar e manusear o insumo
tóxico (FARIA; FASSA; FACCHIN, 2007). Para maiores esclarecimentos neste
sentido, a Tabela 6 mostra exemplos de casos de intoxicação por agrotóxicos no
Brasil que ocorreram no ano de 2007.

Tabela 6 – Quantidade de casos de intoxicação por


agrotóxicos registrados no Brasil no ano de 2007
Agrotóxico uso
Causa da intoxicação Uso doméstico Produto veterinário Raticidas
agrícola
Acidente individual 1271 2205 618 1528
Acidente coletivo 85 66 20 43
Acidente ambiental 16 8 4 3
Ocupacional 1557 120 69 12
Ingestão de alimentos 9 1 2 0
Tentativa de suicídio 2443 754 392 2560
Tentativa de aborto 9 4 1 14
Violência / homicídio 36 7 1 35
Uso indevido 30 95 49 7
Outra 96 113 38 29

108
Capítulo 4 Agronegócio na Prática

Ignorada 138 60 24 140


Total 5690 3433 1218 4371
Fonte: Adaptado de Ministério da Saúde (2009).

Ao se analisar a situação geral dos casos de intoxicação por agrotóxicos,


averígua-se que quase quinze mil casos de intoxicação por agrotóxicos foram
registrados no Brasil no ano de 2007. Afora os casos de tentativa de suicídio,
constatam-se as maiores ocorrências de intoxicação por acidentes individuais em
todas as categorias, além de uma maior ocorrência de acidentes de trabalho na
categoria dos agrotóxicos de uso agrícola.

• Cenário das vendas de agrotóxicos no Brasil

Tendo-se como base dados de vendas de um importante instituto Tal como enfatizado
na Figura 27, que
ambiental brasileiro, (IBAMA, 2017), pode-se ter um posicionamento mostra a quantida-
sobre o próprio aumento do consumo destes produtos no país ao longo de de agrotóxico
dos anos, como também sobre quais são as regiões e os estados vendida no Brasil
entre 2000 e 2017
brasileiros que mais utilizam agrotóxicos. Tal como enfatizado na Figura (milhares de tonela-
27, que mostra a quantidade de agrotóxico vendida no Brasil entre 2000 e das de ingrediente
2017 (milhares de toneladas de ingrediente ativo), elevou-se em mais de ativo), elevou-se
em mais de três
três vezes o consumo de agrotóxico no Brasil entre o período destacado. vezes o consumo de
Dos dados explanados nesta figura, faz-se exceção para os dados das agrotóxico no Brasil
vendas dos anos de 2007 e 2008. De acordo com o IBAMA (2017), os entre o período
destacado.
dados destes dois anos não foram sistematizados pelo instituto.

Figura 27 – Venda de agrotóxico no Brasil entre 2000 e


2014: milhares de toneladas de ingrediente ativo

Fonte: Adaptado de IBAMA (2017).

109
Administração Rural

No Brasil, a região que mais faz uso de agrotóxico é a Centro-oeste, seguida


pelas regiões Sul, Sudeste, Nordeste e Norte, respectivamente. Com base em
dados de 2014, a Figura 28 mostra a quantidade de agrotóxico vendida no Brasil
nas cinco regiões brasileiras. De acordo com tal figura, foram vendidos naquele
ano as seguintes quantidades (milhares de toneladas de ingrediente ativo) de
agrotóxico nas regiões brasileiras: Norte, 17,44 (3% do Brasil); Centro-oeste,
166,18 (33% do Brasil); Nordeste, 50,20 (10% do Brasil); Sudeste, 110,82 (22%
do Brasil); Sul, 127 (25% do Brasil). De acordo com IBAMA (2017), das vendas
realizadas em 2014, quase 37 mil toneladas (7%) não foram possíveis de se
determinar a localidade vendida porque as empresas detentoras dos registros,
responsáveis por repassar os dados para o Instituto, não conheciam com exatidão
a distribuição no território das vendas, por ser uma tarefa executada por terceiros.

Figura 28 – Agrotóxicos vendidos nas regiões brasileiras em


2014: milhares de toneladas de ingrediente ativo

*Quantidade comercializada sem certeza da localidade que foi vendida.


Fonte: Adaptado de IBAMA (2017).

No Brasil, um estado do Centro-oeste e três estados do eixo


Em um contexto
mais amplo, estes sudeste-sul são os líderes em uso de agrotóxico no país. Em 2014,
quatro estados, por exemplo, foram vendidos em Mato Grosso 91.290,46 toneladas
mais os estados
de Goiás, Minas (ingredientes ativos) de agrotóxicos. Naquele ano, foram vendidos
Gerais, Mato Grosso quase 20% do agrotóxico do país somente para este estado. Já São
do Sul e Bahia Paulo, Rio Grande do Sul e Paraná são os estados que ocupam o
consumiram, em
2014, cerca de segundo, terceiro e quarto lugar, respectivamente, no ranking das
82% (416.525,30 vendas de agrotóxicos no país. Tal como enfatizado pela Figura
toneladas de
ingrediente ativo) do 29, somente para estes quatro estados, Mato Grosso, São Paulo,
agrotóxico vendido Rio Grande do Sul e Paraná, foram vendidos cerca de 55% de todo
no Brasil. agrotóxico do país em 2014. Em um contexto mais amplo, estes
quatro estados, mais os estados de Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso

110
Capítulo 4 Agronegócio na Prática

do Sul e Bahia consumiram, em 2014, cerca de 82% (416.525,30 toneladas de


ingrediente ativo) do agrotóxico vendido no Brasil.

Figura 29 – Agrotóxicos vendidos nos principais estados do Brasil


em 2014: milhares de toneladas de ingrediente ativo

*Quantidade comercializada sem certeza da localidade que foi vendida


Fonte: Adaptado de IBAMA (2017).

• Classificação dos agrotóxicos no Brasil

No Brasil, os agrotóxicos são classificados em quatro categorias


que os relacionam aos seus potenciais de causarem perigos ambientais No Brasil, os agrotó-
xicos são classifi-
e riscos de toxicidade. Os Potenciais de Periculosidade Ambiental (PPP) cados em quatro
dos agrotóxicos são avaliados e classificados pelo Instituto Brasileiro categorias que os
relacionam aos
do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (IBAMA) nas seguintes seus potenciais de
classes: I - produto altamente perigoso; II - produto muito perigoso; causarem perigos
III - produto perigoso; IV - produto pouco perigoso (IBAMA, 1996). A ambientais e riscos
de toxicidade.
classificação do PPP ocorre por meio dos seguintes parâmetros:
toxicidade a organismos não alvos do insumo (organismos do solo, organismos
aquáticos, aves, abelhas, mamíferos); transporte (solubilidade, mobilidade e
absorção); persistência (hidrólise, fotólise e biodegradabilidade); bioacumulação;
potencial teratogênico, mutagênico e carcinogênico (IBAMA, 1996; ZERBETTO,
2009).

Já potenciais dos agrotóxicos para causar riscos de toxicidade são avaliados


e classificados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) nas
seguintes classes: I - produto extremamente tóxico; II - produto altamente tóxico;
III - produto moderadamente tóxico; IV - produto pouco tóxico. Os parâmetros para
classificação da toxicidade dos agrotóxicos estão associados às concentrações

111
Administração Rural

(quilograma ou litro) dos agrotóxicos capazes de provocar corrosão, ulceração


e opacidade na córnea. A forma de aplicação dos agrotóxicos também é levada
em consideração como parâmetro para classificação. É considerado como
mais propenso a causar problemas devido à toxicidade os produtos aplicados
da seguinte forma, respectivamente: i) fumigação de ambientes fechados para
tratamento de grãos; ii) pulverização de partes aéreas de culturas altas por via
terrestre; iii) pulverização de partes de culturas altas por avião; iv) pulverização
de culturas baixas; v) tratamento de solo (SECRETARIA DE VIGILÂNCIA
SANITÁRIA, 1992).

Segundo Londres (2011), a toxidade dos agrotóxicos é determinada por meio


de estudos laboratoriais com exposição inalatória, oral e dérmica para identificar
a Concentração Letal (CL) e Dose Letal (DL) capaz de matar 50% dos animais
utilizados nos testes laboratoriais. Dessa forma, a toxidade é indicada em termos
do valor da Dose Letal 50% (DL50), representada por miligramas do produto,
testado por peso vivo do animal, preciso para matar a metade dos animais
utilizados nos testes (CORDEIRO, 2003).

Para as análises indicativas por via oral, por exemplo, produtos sólidos são
classificados na Classe I quando a DL50 é ≤ 0,005 grama/kg de peso do animal.
Na Classe II, quando DL50 é > 0,005 até 0,05 grama/kg. Na Classe III, DL50 >
0,05 a 0,5 gramas/kg. Já na Classe IV, DL50 > 0,5 gramas/kg. Portanto, após
feitos os testes, a classe toxicológica do produto será determinada pela mais
tóxica que surgir em um dos estudos agudos (LONDRES, 2011).

No intuito de simplificar a compreensão das classificações de periculosidade


ambiental e de risco tóxico, a quadro a seguir enfatiza em detalhes as respectivas
classificações.

Quadro 5 – Classificação toxicológica e de periculosidade ambiental

Classes Classificação de periculosidade ambiental1 Classificação toxicológica2

Classe I Produto altamente perigoso Extremamente tóxico


Classe II Produto muito perigoso Muito tóxico
Classe III Produto medianamente perigoso Moderadamente tóxico
Classe IV Produto pouco perigoso Pouco tóxico
Fonte: 1IBAMA (1996) e 2secretaria de Vigilância Sanitária (1992).

112
Capítulo 4 Agronegócio na Prática

No Brasil, todos os agrotóxicos comercializados apresentam em


No Brasil, todos
suas bulas e em seus rótulos, além da concentração do ingrediente os agrotóxicos
ativo do agrotóxico, os graus de periculosidade ambiental e toxicológica comercializados
do agrotóxico. Assim, como forma de exemplificar a associação de cada apresentam em
suas bulas e em
ingrediente ativo ao seu respectivo grau de periculosidade ambiental e seus rótulos, além
toxicológica, bem como a concentração de cada um no volume total do da concentração do
ingrediente ativo do
agrotóxico comercializado, o Quadro 6 (ANDREI, 2013; MINISTÉRIO agrotóxico, os graus
DA AGRICULTURA, 2015) enfatiza a relação de alguns agrotóxicos de periculosidade
pelos seus elementos ativos (e não pelo nome comercial), função, ambiental e
toxicológica do
classe de risco de toxicidade, classe de periculosidade ambiental e agrotóxico.
concentração em gramas por litro.

Quadro 6 – Características dos ingredientes ativos de agrotóxicos


Classe de Classe de periculosi- Concentração
Ingrediente Ativo Função do insumo
toxicidade dade Ambiental (g/l)
Atrazina Herbicida III III 500
Atrazina + S-Meto-
Herbicida II II 370 + 290
lacloro
Azoxistrobina +
Fungicida III II 200 + 80
Ciproconazol
Carfentrazona-etílica Herbicida II II 400
Chlorantraniciprole Inseticida III II 200
Clorpirifós Inseticida I I 480
Espinosade Inseticida III III 480
Éster metílico de
Adjuvante IV IV 720
óleo de soja
Fenpropatrina Inseticida I II 300
Glifosato Inseticida III II 480
Imidacloprido +
Inseticida II II 150+450
Tiodicarbe
Lufenurom Inseticida IV II 50
Metomil Inseticida I III 215
Inseticida / acarici-
Óleo mineral IV III 760
da / adjuvante
Óleo mineral Adjuvante IV III 428
Óxido de fembuta-
Acaricida I II 500
tina
Permetrina Inseticida II I 384
Tebuconazol Fungicida III II 200

113
Administração Rural

Tembotriona Herbicida III III 420


Tiametoxam+Lamb-
Inseticida I II 141+106
da Cialotrina
Tiodicarbe Inseticida II III 800 g / kg
Fonte: Adaptado de Sistema de Agrotóxicos Fitossanitários –
AGROFIT (2011) e Ministério da Agricultura (2015).

A partir da tabela acima, o produtor envolvido com o consumo de agrotóxicos


pode utilizar de tais dados para decisões envolvendo os riscos de periculosidade
ambiental e riscos de toxicidade nos sistemas que estão associados aos sistemas
de produção agrícola. Assim, no intuito de exemplificar como isso pode ocorrer,
apresenta-se a seguir o caso de uma avaliação do ciclo de vida simplificada
que foi desenvolvida levando-se em consideração a produção da semente e a
produção do grão de milho.

Para conhecimento mais aprofundado sobre agrotóxicos no


Brasil, acesse os seguintes materiais:

1 - ALVARENGA, R. P.; QUEIROZ, R. T.; NADAE, J. Risco tóxico


e potencial perigo ambiental no ciclo de vida da produção de milho.
Espacios, v. 38, n. 1, p. 12,2017. Disponível em: <https://www.
researchgate.net/publication/312503117_Risco_toxico_e_potencial_
perigo_ambiental_no_ciclo_de_vida_da_producao_de_milho>.
Acesso em: 7 jun. 2017.

2 – ABRASCO – ASSOCIÇÃO BRASILEIRA DE SAÚDE


COLETIVA (2012). Dossiê ABRASCO – um alerta sobre os impactos
dos agrotóxicos na saúde. Parte 1 - agrotóxicos, segurança alimentar
e nutricional e saúde. Rio de Janeiro: ABRASCO. Disponível
em: <http://www.abrasco.org.br/dossieagrotoxicos/wp-content/
uploads/2013/10/DossieAbrasco_2015_web.pdf>. Acesso em: 7 jun.
2017.

3 - BOCHNER, R. (2007). Sistema Nacional de Informações


Tóxico-Farmacológicas SINITOX e as intoxicações humanas por
agrotóxicos no Brasil. Ciência e Saúde Coletiva, v. 12, n. 1, p. 73-
89, 2007. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/csc/v12n1/08.
pdf>. Acesso em: 7 jun. 2017.

114
Capítulo 4 Agronegócio na Prática

4 - LIMA, M. C. DE; ROCHA, S. A. (2012). Efeitos dos


agrotóxicos sobre as abelhas silvestres no Brasil: proposta
metodológica de acompanhamento. Brasília: IBAMA. Disponível
em: <http://www.semabelhasemalimento.com.br/wp-content/
uploads/2015/02/efeitos_agrotoxicos_abelhas_silvestres_brasil.pdf>.
Acesso em: 7 jun. 2017.

5 - MARTINS, M. K. S.; CERQUEIRA, G. S.; SAMPAIO, A. M.


A.; LOPES, A. A.; FREITAS, R. M. (2012). Exposição ocupacional
aos agrotóxicos: um estudo transversal. Revinter Revista de
Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 3, p. 6–27.
Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/csc/v12n1/11.pdf>. Acesso
em: 7 jun. 2017.

6 - NEVES, P. D. M.; BELLINI, M. (2013). Intoxicações por


agrotóxicos na mesorregião norte central paranaense, Brasil – 2002
a 2011. Ciência e Saúde Coletiva, v. 18, n. 11, p. 3147–3156.
Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/csc/v18n11/05.pdf>. Acesso
em: 7 jun. 2017.

7 - PIGNATI, W. A.; MACHADO, J. M. H.; CABRAL, J. F. (2007).


Acidente rural ampliado: o caso das “chuvas” de agrotóxicos sobre a
cidade de Lucas do Rio Verde - MT Major rural accident. Ciência e
Saúde Coletiva, v. 12, n. 1, p. 105-114. Disponível em: <http://www.
scielo.br/pdf/csc/v12n1/10.pdf>. Acesso em: 7 jun. 2017.

8 - SPADOTTO, C. A.; GOMES, M. A. F.; LUCHINI, L. C.;


ANDRÉA, M. M. (2004). Monitoramento do risco ambiental de
agrotóxicos: princípios e recomendações. Documentos - Embrapa
Meio Ambiente, v. 42, n. Dezembro, p. 1-29. Disponível em: <http://
www.cnpma.embrapa.br/download/documentos_42.pdf>. Acesso
em: 7 jun. 2017.

d) Risco tóxico e perigo ambiental associado ao ciclo de vida da


produção de milho

Esta seção descreve resumidamente o principal escopo e os principais


resultados de uma pesquisa (ALVARENGA; QUEIROZ; NADAE, 2017a) que
desenvolvemos a respeito do consumo de agrotóxicos na cultura do milho.

115
Administração Rural

Para acessar a pesquisa completa, veja o artigo:

ALVARENGA, R.P.; QUEIROZ, R.T.; NADAE, J. Risco tóxico e


potencial perigo ambiental no ciclo de vida da produção de milho.
Espacios, v. 38, n. 1, p. 12, 2017. Disponível em: <https://www.
researchgate.net/publication/312503117_Risco_toxico_e_potencial_
perigo_ambiental_no_ciclo_de_vida_da_producao_de_milho>.
Acesso em: 7 jun. 2017.

Nesta pesquisa, utilizamos como técnica uma Avaliação do Ciclo de Vida,


estudada na primeira parte deste livro. No desenvolvimento da referida pesquisa,
tivemos como guia de execução e motivação para o trabalho, responder a algumas
perguntas, entre as quais destacamos duas aqui:

• Quais são os tipos de agrotóxicos consumidos no ciclo de vida da produção


de milho que mais possuem chances de causarem problemas por toxicidade
e perigo ambiental?
• Quais são as etapas do ciclo de vida que mais possuem potencialidade para
causar perigo ambiental e riscos de intoxicação?

Na pesquisa, levamos em consideração tanto os estágios da produção da


semente do milho quanto os estágios da produção do grão do milho, tal como
enfatizado pela figura que segue.

Figura 30 – Estágios do ciclo de vida do milho grão (simplificado)

Fonte: Adaptado de Alvarenga, Queiroz e Nadae (2017a).

Dos dois estágios destacados, foram avaliadas nove etapas pertinentes aos
dois sistemas de produção, tal como enfatizado pela figura a seguir.

116
Capítulo 4 Agronegócio na Prática

Figura 31 – Etapas avaliadas no ciclo de vida

Fonte: Adaptado de Alvarenga, Queiroz e Nadae (2017a).

Ao se considerar o ciclo avaliado, foram usados seis tipos de


Ao se considerar o
agrotóxicos, tal como enfatizado pela Figura 32, as seguintes quantidades ciclo avaliado, foram
de cada tipo de agrotóxico: dois tipos de adjuvante, um tipo de acaricida, usados seis tipos de
agrotóxicos.
quatro tipos de fungicida, sete tipos de herbicida, treze tipos de inseticida
e um produto com tripla função (inseticida, acaricida e adjuvante).

Figura 32 – Quantidade de cada tipo de agrotóxico consumido


no ciclo de vida da produção de vida avaliada

Fonte: Adaptado de Alvarenga, Queiroz e Nadae (2017a).

No ciclo de vida, apesar de herbicidas e inseticidas terem sido


Foram os herbicidas
os agrotóxicos mais nocivos em ambos os casos, foram os herbicidas os mais usados.
os mais usados. Tal como mostra a Figura 33, as concentrações por
unidade funcional de cada tipo de agrotóxico utilizado no ciclo de vida avaliado
foram: tripla função, 69,39; acaricida, 42,77; adjuvante, 164,73; fungicida, 15,51;
herbicida, 403,06; inseticida, 42,85.

117
Administração Rural

Figura 33 – Concentração (gramas por unidade funcional) de cada tipo de


agrotóxico consumido no ciclo de vida da produção de milho avaliado

Fonte: Adaptado de Alvarenga, Queiroz e Nadae (2017a).

A extrema maioria Deste estudo, os principais resultados e conclusões são, tal como
dos agrotóxicos enfatizado pelos autores (ALVARENGA; QUEIROZ; NADAE, 2017a):
(99,5%) que foram
consumidos no ciclo
de vida avaliado • A extrema maioria dos agrotóxicos (99,5%) que foram consumidos
possuem potencial no ciclo de vida avaliado possuem potencial para causar muito e
para causar muito
e moderado perigo moderado perigo ambiental.
ambiental. • No que diz respeito ao risco de toxicidade, apenas 30% dos
agrotóxicos que foram consumidos representam baixo risco (classe)
Apenas 30% dos de toxicidade.
agrotóxicos que • Tal como destacado na pesquisa, inseticidas e herbicidas são
foram consumidos
representam baixo os agrotóxicos que oferecem mais risco de intoxicação e perigo
risco (classe) de ambiental. Logo, estes insumos devem ser manuseados com maior
toxicidade. cuidado.

O Brasil, como e) Fatores críticos no gerenciamento de propriedades rurais


um dos principais produtoras de grãos
produtores de
grãos (como soja,
milho e trigo, por O Brasil, como um dos principais produtores de grãos (como soja,
exemplo) do mundo, milho e trigo, por exemplo) do mundo, enfrenta algumas dificuldades
enfrenta algumas
dificuldades que implicam o gerenciamento de suas propriedades rurais em
que implicam o sentidos diversos, sendo os principais relacionados à/ao: mão de obra,
gerenciamento de mercado e produção.
suas propriedades
rurais em sentidos
diversos, sendo Para propriedades produtoras de grãos, o fator mão de obra pode
os principais
relacionados à/ ser considerado crítico no gerenciamento de suas atividades. Sobretudo
ao: mão de para grandes áreas, localizadas em regiões como Centro-oeste, Norte
obra, mercado e e Nordeste. Tal comentamos na primeira etapa do nosso livro, o baixo
produção.
nível de escolaridade de trabalhadores contratados para trabalhar

118
Capítulo 4 Agronegócio na Prática

no campo implica dificuldade para acompanhar o desenvolvimento


O baixo nível de
tecnológico do setor. Muitas grandes propriedades produtoras de grãos escolaridade de
do Brasil estão equipadas com máquinas e implementos agrícolas de trabalhadores
contratados para
última geração, tais como exemplificadas pela Figura 34. Conseguir trabalhar no campo
mão de obra capaz de operar tais equipamentos é uma dificuldade implica dificuldade
que produtores estão enfrentando nos campos do Brasil. Não é raro para acompanhar
o desenvolvimento
encontrar em tais propriedades processos e equipamentos parados ou tecnológico do setor.
atrasados por falta de mão de obra capaz de operar os equipamentos.

Figura 34 – Máquinas, implementos e equipamentos


usados na produção de grãos

Fonte: Os autores.

Outro fator associado à mão de obra nestas propriedades está associado


à distância entre as propriedades rurais e os centros urbanos. Como muitos
trabalhadores contratados vivem nas cidades, produtores rurais se deparam com
duas principais situações típicas: providenciar transporte desde as áreas urbanas
até o campo ou disponibilizar moradia para tais trabalhadores nas próprias
propriedades rurais. Em ambos os casos, além das próprias implicações nos
custos de produção que estas providências ocasionam, há muitas situações em
que trabalhadores faltam ao trabalho por optarem por permanecer nas cidades.

No que diz respeito ao mercado, a principal dificuldade enfrentada No que diz respeito
ao mercado, a
diz respeito à incerteza do preço de comercialização no momento principal dificuldade
da colheita, já que se trata de commodities agrícolas. Neste sentido, enfrentada diz
sobretudo para grandes produtores, a principal indicação recai sobre respeito à incerteza
do preço de
a necessidade do domínio das diferentes formas de comercialização, comercialização
nos distintos mercados, tal como os que foram estudados na primeira no momento da
colheita.
etapa do nosso livro. Para pequenos produtores, o conselho vai além,

119
Administração Rural

pois tanto a diversificação da produção como a tentativa de agregar valor aos


produtos já dentro da porteira com uma aproximação dos consumidores finais são
alternativas mais seguras sugeridas.

Produtores Já em relação à produção, tanto fatores de mercado quanto as


praticamente
ficam sujeitos à próprias características específicas necessárias para se produzir implicam
dependência de maiores atenções. No Brasil é muito comum que produtores de grãos
uma adequada tenham como parâmetro para o plantio da safra os índices de preços
incidência de chuvas
para sua cultura. da safra imediatamente anterior à safra que será plantada. Se o preço
da soja, por exemplo, ofereceu bons retornos na safra 2017, é certo que
muitos produtores plantarão soja na safra seguinte em detrimento de outras opções.
Logo, tal como frequentemente ocorre e inserido neste exemplo, na safra 2018 os
preços podem não ser tão atrativos por causa do excesso de oferta do produto no
mercado. Já no que diz respeito às condições específicas, os fatores climáticos são
os principais que afetam o gerenciamento da produção. Tais fatores são praticamente
imprevisíveis a médio e longo prazos. Então, produtores praticamente ficam sujeitos
à dependência de uma adequada incidência de chuvas para sua cultura. Da mesma
forma, são também dependentes para fatores adversos que podem repercutir
em perdas significativas de sua produção, como é o caso de geadas, excesso
de chuvas e períodos secos prolongados, por exemplo. Nesse sentido, entre as
alternativas para se evitar problemas vinculados a erros de previsão de demanda,
bem como problemas climáticos que podem afetar a produção, podem ser citadas,
respectivamente: acompanhamento constante das previsões de oferta e demanda
por institutos especializados (Instituto de Economia Agrícola, Embrapa, Secretarias
de Agricultura etc.) e a contratação de seguros agrícolas específicos.

CaFÉ
Neste momento, destacamos outra importante cultura do agronegócio
brasileiro, o café. Esta é uma cultura que vem sofrendo profundas transformações
no decorrer dos anos, sobretudo de ordem gerencial pelos cafeicultores que têm
buscado cada vez mais se diferenciarem no mercado. Sobre tal cultura, oferecemos
aqui: o panorama da cafeicultura no agronegócio brasileiro, o caso de como as
políticas de Responsabilidade Social Corporativa têm impactado a estrutura de
produção e mercado da cafeicultura, sobretudo através dos selos de certificação
socioambiental. Por fim, abordamos alguns fatores que podem ser considerados
como críticos no gerenciamento de propriedades rurais produtoras de café.

a) Cafeicultura no Brasil

A cafeicultura está presente em diversos países. Brasil e Vietnã são os


maiores produtores mundiais. Juntos, estes dois países produzem metade do
café consumido no mundo. Aproximadamente 36% do café ofertado no mundo

120
Capítulo 4 Agronegócio na Prática

tem origem brasileira, enquanto aproximadamente 15% tem origem vietnamita. O


café é cultivado em sessenta países (CHAGAS et al., 2009). Alguns países que
se destacam na produção deste produto são: Índia, Peru, Guatemala, A cafeicultura
Uganda, Burundi, Indonésia, Colômbia, Nicarágua, Etiópia, Nicarágua, está presente em
Honduras e México, por exemplo (BLISKA; VEGRO, 2011). diversos países.
Brasil e Vietnã
são os maiores
A participação do café na economia nacional sempre foi relevante produtores
e por muito tempo este produto foi o mais significativo nas exportações mundiais.
brasileiras. Apesar de atualmente o país possuir mais oferta de
outras commodities agrícolas, o café ainda é um importante gerador de divisas
econômicas e continua mantendo sua relevância sobre o ponto de vista social.
No Brasil, o café se destaca tanto pelo lado da produção como também pelo lado
do consumo, já que, além de ser o maior produtor mundial, o país também é o
segundo consumidor global deste produto, sendo os Estados Unidos o principal
consumidor mundial.

No cenário da cafeicultura, a diversificação das fontes de divisas que


ocorreram no Brasil e no México ajudaram a economia destes países a não
dependerem exclusivamente da comercialização do café. Contudo, o inverso
desta situação ocorre em países como Uganda, Etiópia, Burundi, Guatemala e
Nicarágua, onde as respectivas economias nacionais são dependentes das
vulnerabilidades das flutuações dos preços do café no mercado internacional
(BLISKA; VEGRO, 2011).

No Brasil, cerca de dois mil municípios (BLISKA et al., 2011) distribuídos


entre o Distrito Federal e os estados de Rondônia, Acre, Amazonas, Pará,
Ceará, Pernambuco, Bahia, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São
Paulo, Paraná, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Goiás (IBGE, 2017) abrigam
aproximadamente 370 mil propriedades produtoras de café (BLISKA et al., 2011).
Apesar desta distribuição da cafeicultura no país, nem todas as regiões brasileiras
se destacam na produção cafeeira.

A região Sudeste é a maior produtora. Três dos estados desta A região Sudeste é
região, Minas Gerais, Espírito Santo e São Paulo, são os maiores a maior produtora.
Três dos estados
produtores do país, respectivamente. Apenas Minas Gerais é desta região, Minas
responsável por cerca de 52% do café nacional. Juntos, estes três Gerais, Espírito
estados mais os estados da Bahia, Paraná, Rondônia e Goiás são Santo e São Paulo,
são os maiores
responsáveis por quase 99% de todo o café brasileiro, tal como pode produtores do país,
ser observado pelo Quadro 7, que reflete dados da Pesquisa Agrícola respectivamente.
Municipal, realizada pelo IBGE.

121
Administração Rural

Quadro 7 – Toneladas e percentual de café arábica e


canephora produzidos no Brasil na safra de 2012
Tipo de café
Arábica Canephora Total Arábica e Canephora

Grãos Grãos Percentual Grãos Percentual


Localidade Percentual Percentual
produzidos produzidos produzido produzidos acumulado

Minas
1.578.355 69,26 17.986 2,37 1.596.341 52,55 52,55
Gerais
Espírito
183.310 8,04 588.739 77,59 772.049 25,42 77,97
Santo

São Paulo 275.183 12,08 - 0 275.183 9,06 87,03

Bahia 94.449 4,14 47.453 6,25 141.902 4,67 91,7

Paraná 104.966 4,61 - 0 104.966 3,46 95,16

Rondônia - 0 85.444 11,26 85.444 2,81 97,97

Goiás 19.048 0,84 550 0,07 19.598 0,65 98,62

Rio de
15.732 0,69 - 0 15.732 0,52 99,13
Janeiro

Pará - 0 10.011 1,32 10.011 0,33 99,46

Mato
150 0,01 6.430 0,85 6.580 0,22 99,68
Grosso
Demais
7.545 0,33 2.183 0,29 9.728 0,32 100
estados

Brasil 2.278.738 100 758.796 100 3.037.534 100 -

Fonte: Adaptado de IBGE - Produção Agrícola Municipal (2017).

Quase 70% de todo café arábica produzido provém de Minas Gerais,


enquanto aproximadamente 77% do total de café canephora é originário do
Espírito Santo. Segundo Bliska et al. (2005), apenas estas duas espécies de café
possuem relevância econômica no mercado de cafés, sendo que o café canephora
é o mais usado na indústria de solubilização e o café arábica mais apropriado
para o uso na torra e moagem.

122
Capítulo 4 Agronegócio na Prática

No âmbito do progresso do setor, a cafeicultura brasileira acompanhou o


desenvolvimento tecnológico. Tanto a qualidade quanto a quantidade do produto
final são afetados positivamente por fatores como, por exemplo, o uso de irrigação,
colheita mecanizada em determinadas áreas, maior densidade de plantas por
área (BLISKA et al., 2009, 2011). Contudo, a cafeicultura brasileira demanda forte
trabalho intensivo (BLISKA et al., 2011). Apesar do avanço que ocorreu no setor,
a colheita manual do café ainda é fortemente empregada, contribuindo para que
aproximadamente 50% dos custos de produção do café sejam advindos desta
etapa (BLISKA et al., 2011).

A diversidade de fatores culturais, sociais e ambientais, como por exemplo,


topografia, latitude, solo e índices pluviométricos, contribui para que o café
produzido nas diferentes regiões brasileiras apresente disparidade entre os tipos
de cafés produzidos e também diferenças nos sistemas de produção empregado
e na própria competitividade de cada sistema de produção (BLISKA et al., 2009,
2011).

No que tange ao tamanho das propriedades cafeicultoras, por exemplo, o


cenário brasileiro é muito próximo ao cenário de outros países produtores. No
Brasil, de acordo com o IBGE, 81% das propriedades de café são de agricultores
familiares que empregam 1,8 milhões de trabalhadores. Em termos de área, 44%
das terras destinadas aos cafezais são destes agricultores, que são responsáveis
por 38% do café brasileiro.

A produção de cafés
Devido a esta representatividade da agricultura familiar na de boa qualidade,
cafeicultura, pontos específicos deste tipo de agricultura devem ser que atendam
levados em consideração no momento de se tecer as estratégias com exigências do
mercado consumidor,
foco no desenvolvimento da cadeia produtiva do café. A produção bem como o
de cafés de boa qualidade, que atendam exigências do mercado aprimoramento
técnico e
consumidor, bem como o aprimoramento técnico e administrativo das administrativo
propriedades são alguns dos principais fatores a serem destacados das propriedades
ao se implantar estratégias visando à continuidade da cafeicultura são alguns dos
principais fatores a
nacional, direcionadas tanto aos agricultores familiares como também serem destacados
aos não familiares (BLISKA et al., 2009). Outro fator importante que ao se implantar
estratégias visando
vale ser destacado neste sentido é o foco no mercado de produtos à continuidade da
diferenciados, em especial, no mercado de cafés especiais. cafeicultura nacional,

A produção de cafés diferenciados pode aumentar a competitividade do café


brasileiro neste mercado, que tem como principal vantagem ao cafeicultor um
melhor preço de venda.

123
Administração Rural

Quais tipos de café podem ser considerados diferenciados ao


ponto de serem denominados pelo mercado como “cafés especiais”?

O conceito envolvendo a denominação sobre o que é um café especial não é


muito preciso (CHAGAS et al., 2009; VIANA, 2013) e autores diversos apresentam
definições distintas e complementares.

Para os autores Sylbersztajn e Farina (2001), o conceito do que é um café


especial está relacionado aos atributos sensoriais do consumidor mediante o
sentimento de prazer associado ao consumo de café. Já para os autores Donnet,
Weatherspoon e Hoehn (2007), cafés especiais são aqueles feitos dos grãos de
qualidades superiores e que são torrados e apreciados mediante procedimentos
capazes de elevar ao máximo as potencialidades do café. Estes autores também
afirmam que o café especial é a revitalização da arte de cultivar, torrar, preparar
e apreciar uma bebida de aroma e sabores superiores. O especialista Rhinehart
(2009), membro da Specialy Coffee Association of America, menciona a definição
de cafés especiais desta associação e enfatiza que cafés especiais são definidos
pela qualidade implícita no produto e também pela qualidade de vida que o café
pode oferecer a todos os envolvidos no seu cultivo, preparo e degustação. Para
esta associação, é tido como café especial o café que contribui para a agregação
de valor às vidas e meios de subsistência de todos os envolvidos.

Mediante conceitos diversos, a compreensão sobre o que vem a ser um


café especial pode ser obtida ao se entender quais são os principais aspectos
que diferenciam os cafés convencionais dos cafés especiais. Para Chagas et al.
(2009), tais aspectos estão associados às condições às quais foram produzidos
os grãos e também aos fatores que condicionam a melhora da qualidade da
bebida, que estão quase sempre associados aos aspectos presentes
Os cafés especiais
se diferenciam dos desde a etapa dos tratos culturais até a pós-colheita do grão, bem
convencionais porque como também relacionado com a variedade e origem do café.
apresentam uma série
de características,
sendo as principais: Assim, os cafés especiais se diferenciam dos convencionais
qualidade superior porque apresentam uma série de características, sendo as principais:
dos grãos, qualidade superior dos grãos, emprego de técnica diferenciada de
emprego de técnica
diferenciada de colheita, origem do café, história, e variedades raras e escassas, por
colheita, origem exemplo. Além dessas particularidades associadas até a etapa de
do café, história, e
variedades raras produção do grão, merece também destaque alterações feitas na etapa
e escassas, por industrial, tais como a descafeinização e a adição de aromatizadores,
exemplo. bem como também o emprego de técnicas diferenciadas da etapa de

124
Capítulo 4 Agronegócio na Prática

preparação da bebida. Outra forma de distinção é pela sustentabilidade social,


ambiental e econômica implícita na fase produtiva, que visa maior equilíbrio entre
os elos da cadeia produtiva (SYLBERSZTAJN; FARINA, 2001). Em certos tipos
de cafés especiais, tais aspectos podem estar presentes de forma isolada ou em
conjunto, conquanto que tenha o principal requisito: qualidade.

No Brasil, até pouco tempo, não havia uma tradição consolidada No Brasil, até
pouco tempo, não
em se produzir cafés especiais. A produção de cafés especiais não era havia uma tradição
prioritária, principalmente devido à política de intervenção no mercado consolidada em
de café, que vigorou até 1989 e teve como foco o aumento do volume se produzir cafés
especiais.
das sacas exportadas para que fosse elevado o valor das exportações
do agronegócio nacional. Até este período, praticamente não se distinguia nas
exportações um café de qualidade do café de menor qualidade, pois todo o volume
era comercializado como commoditiy. Consequentemente, os cafés de qualidade
superior eram misturados com os de qualidade inferior (SOUZA; SAES; OTANI,
2002). Tais fatos contribuíram para que o país se despontasse como um ícone
de produtividade de café commodity e não fosse tão representativo ofertando o
produto para o mercado de cafés especiais.

Atualmente, a participação dos cafés especiais no mercado mundial tem um


crescimento de 15% ao ano, enquanto que o crescimento do café commodity é
de 2% (EMBRAPA CAFÉ, 2014). Há cerca de oito anos, essa relação era de 12%
e 1,5%, respectivamente (MOREIRA; FERNANDES; VIAN, 2011). Os principais
fatores que explicam esta desproporção é o crescente desejo do consumidor por
produtos produzidos por meios sustentáveis, a melhor qualidade destes cafés em
comparação aos convencionais, o melhor preço pago ao cafeicultor (CHAGAS et
al., 2009) e também o fato de que o mercado de café convencional praticamente
já se encontra estabilizado e sem espaço para alterações significativas. De acordo
com a entidade Brazil Speciaty Coffee Association (2016), o preço de venda dos
cafés especiais é maior do que o preço de venda dos cafés convencionais numa
ordem de 30% a 40%, sendo também existentes casos em que essa diferença
pode ser maior que 100%.

Aproveitar esta oportunidade de mercado pode contribuir para a melhoria


da competitividade da cafeicultura brasileira e para o crescimento do sistema
agroindustrial do café (BLISKA et al., 2009). Neste sentido, uma das alternativas
mais seguras para se conquistar solidez no mercado de cafés especiais é ofertar
um café que tenha a qualidade como o principal pré-requisito de diferenciação,
mas que também seja diferenciado por carregar consigo selos que ofereçam
credibilidade quanto à denominação de origem do produto e também quanto às
formas de produção baseadas em critérios de responsabilidade social e ambiental
(BLISKA et al., 2009; SOUZA; SAES; OTANI, 2002). Dado que os mecanismos
para esta diferenciação estão ligados também às ações de Responsabilidade
Social Corporativa (RSC), a seção seguinte aborda sobre o contexto dos
programas socioambientais presentes na cafeicultura que estão ligados à RSC.

125
Administração Rural

b) Responsabilidade social corporativa na cafeicultura

Para contextualizar RSC e os programas socioambientais presentes


na cafeicultura, esta seção primeiramente apresenta quais são as principais
implicações que contribuem para o entendimento da própria RSC, tais quais:
definição de RSC, interesses envolvidos e seus aspectos positivos e negativos,
de acordo com bibliografia consultada. Após este posicionamento, a seção é
subdivida em uma subseção específica que trata sobre a RSC na cafeicultura.

A definição de RSC mais difundida pela literatura é aquela que


A definição de RSC
mais difundida pela envolve seu papel no relacionamento entre os cidadãos, os governos
literatura é aquela que dos países e as corporações globais. Ao se centrar nas explicações que
envolve seu papel
no relacionamento envolvem a RSC em um ambiente mais localizado, a definição de RSC
entre os cidadãos, os foca no relacionamento estabelecido entre a empresa e a sociedade onde
governos dos países a mesma está instalada ou pratica suas atividades de negócio. Outros
e as corporações
globais. tipos de definição de RSC se inclinam sobre o relacionamento mais direto
entre a empresa e seus stakeholders (GROWTHER; ARAS, 2008).

Autores como Davis e Blomstrom (1971), Gavin e Maynard (1975) e Purcell


(1974) estão na linha dos que afirmam que a função da RSC possui um caráter
mais altruísta. Para Gavin e Maynard (1975), RSC é a junção das práticas das
empresas no combate aos problemas causados pela pobreza e pelo consumismo
mundial, bem como seu engajamento em defesa da ecologia, dos direitos civis e
do bem-estar físico e psicológico dos trabalhadores. Davis e Blomstrom (1971)
afirmam que RSC é a forma das organizações avaliarem a repercussão de suas
decisões e ações no sistema social global, frente às demandas da sociedade por
posturas éticas das empresas.

Já Purcell (1974) afirma que RSC é uma ação voluntária por parte dos
gestores organizacionais em basearem suas decisões em causas de cunho
moral e voltadas aos problemas sociais que de uma forma ou de outra estão
ligados às atividades das empresas. Segundo o autor, devem ser consideradas
as necessidades de todos os agentes envolvidos no campo de atuação da
empresa, objetivando-se não apenas o lucro como resultado das operações das
corporações, mas também o bem-estar de tais agentes quando em situações
adversas às obrigações legais ou outros tipos de pressões por parte de outras
entidades. A RSC pode também ser definida como as expectativas da sociedade
sobre as organizações em dado período de tempo no que diz
Outros autores
afirmam que o papel respeito ao comportamento ético, econômico, legal e filantrópico das
da organização não organizações.
é de ficar engajada
em atitudes visando
o bem-estar coletivo, Avesso a esta abordagem, outros autores afirmam que o papel
sendo o lucro o da organização não é de ficar engajada em atitudes visando o bem-
principal fim da
empresa. estar coletivo, sendo o lucro o principal fim da empresa. De acordo com

126
Capítulo 4 Agronegócio na Prática

Growther e Aras (2008), o interesse de se levar em consideração o papel social


das organizações em seus negócios nem sempre é aceito. Na área comercial,
as empresas e seus gestores são pressionados pela opinião pública para que
exerçam funções cada vez mais ativas no sentido de contribuir para o bem-estar
social. Contudo, este não é o intuido da organização. Segundo estes autores, não
há motivos para os acionistas se empenharem em causas sociais, porque além
de ações neste sentido não lhes trazerem retornos econômicos, ainda contribuem
para a redução dos dividendos da organização para o seu mau desempenho no
mercado de ações e para a perda de competitividade.

Existem estudos que indicam que a única responsabilidade das empresas


é visar ao aumento do retorno econômico mediante o destino dos seus recursos
em atividades desenvolvidas em um ambiente amparado pelas regras legais do
negócio da empresa, tal qual um ambiente de concorrência livre, sem fraudes e
sem enganos. Carroll e Shabana (2010), por exemplo, listam alguns apontamentos
ao afirmarem que a responsabilidade de uma organização é maximizar os lucros
dos seus donos ou acionistas e que os esforços feitos no sentido do campo social
devem ser direcionados para a área de negócio da empresa. As organizações não
têm como objetivo ações de cunho social e nem estão preparadas para agirem
neste caminho. As organizações também já possuem poderes suficientes, não
sendo necessárias ações voltadas à área social. Além disso, os investimentos
de esforços feitos em RSC podem afetar negativamente a competitividade da
organização (CARROLL; SHABANA, 2010).

Apesar de alguns argumentos contrários, a adoção à RSC é Apesar de alguns


crescente. As críticas favoráveis à RSC são baseadas na crença de argumentos
que manter projetos de RSC nas organizações é uma estratégia de contrários, a adoção
à RSC é crescente.
interesse da empresa porque existe demanda da sociedade para que
as organizações tenham políticas de responsabilidade social e que as mesmas
sejam responsáveis pelas suas atividades que podem causar impactos. O ponto
de vista de que manter uma postura de proatividade é melhor para o desempenho
da organização do que apenas ter um comportamento reativo diante de situações
adversas, também é uma justificativa para se optar pela RSC. Outra razão para se
engajar à RSC está ligada à regulamentação governamental, pois estar acima das
obrigatoriedades legais pode reduzir custos e transtornos de modificações legais
repentinas. Os investimentos feitos em RSC são também do próprio interesse
da organização, pois possibilita melhores chances futuras se a organização se
resguardar mediante a implantação da RSC (CARROLL; SHABANA, 2010), caso
surja algum problema que possa “manchar” a imagem da companhia.

Segundo Growther e Aras (2008), programas de RSC são baseados nos


princípios da responsabilidade, transparência e da sustentabilidade.

127
Administração Rural

O princípio da responsabilidade está fundamentado pela


O princípio da
responsabilidade necessidade de a organização reconhecer que suas ações podem
está fundamentado causar impactos no ambiente externo e assumir responsabilidades
pela necessidade pelos possíveis impactos ambientais e sociais que possam ser
de a organização
reconhecer que suas causados. Também é necessário que a organização relate, mediante
ações podem causar relatórios disponibilizados a todos seus stakeholders, quais foram
impactos no ambiente
externo e assumir os impactos que a organização gerou, como os agentes externos à
responsabilidades organização foram impactados e quais foram as medidas tomadas para
pelos possíveis mitigar os impactos gerados. No princípio da responsabilidade, está
impactos ambientais
e sociais que possam implícito que a organização deve reconhecer que seus stakeholders
ser causados. externos também podem influenciar as decisões tomadas pela
organização (GROWTHER; ARAS, 2008).

De acordo com Slop (2008), transparência pode ser traduzida como a


abertura e comunicação sobre os assuntos que são importantes para os que são
impactados pelas organizações. No princípio da transparência está implícita a
necessidade de todas as informações presentes nos relatórios serem verídicas,
bem como de fácil acesso a todos os stakeholders externos da organização,
de modo que a informação possa ser útil como meio para tomada de decisão
(GROWTHER; ARAS, 2008). Um dos principais objetivos da transparência é
melhorar a confiança e credibilidade da organização frente aos seus principais
stakeholders, uma vez que a percepção destes a respeito da reputação da
empresa pode afetar o desempenho da organização (JIEYI, 2009; SLOP, 2008).

No princípio da sustentabilidade, as principais implicações dizem respeito


à tentativa de as organizações informarem à sociedade que seus lucros são
advindos de ações baseadas no respeito às causas ambientais e sociais
pertinentes aos seus negócios.

As pressões existentes sobre as corporações para que elas estejam alinhadas


com as demandas sociais e ambientais não dizem respeito somente à fase de
produção no ambiente fabril, mas a sua responsabilidade pelos impactos gerados
ao longo da cadeia produtiva da qual elas fazem parte. Corporações do segmento
alimentar, por exemplo, são cobradas e possuem responsabilidades pelos
impactos ambientais e sociais gerados na fase agrícola em que foram produzidos
os seus insumos. Condições de trabalho escravo e impactos ambientais causados
na fase de produção de algodão e café, por exemplo, podem contribuir para a
perda de valor de imagem de corporações dos segmentos têxteis e alimentares
que adquirem insumos sobre tais circunstâncias. Para evitar prejuízo por uma
repercussão negativa associada à insustentabilidade, os programas de RSC
acabam tendo como destino diversos setores, como o cafeeiro, por exemplo,
que possui nas normas de certificações um dos principais instrumentos para
aplicabilidade da RSC.

128
Capítulo 4 Agronegócio na Prática

• RSC na cafeicultura: as quatro principais certificações


socioambientais

No segmento agrícola, a utilização de normas podem ser No segmento


consideradas relevantes porque elas são tidas como mecanismos agrícola, a utilização
regulatórios, principalmente em países que ainda estão em processo de de normas podem
ser consideradas
desenvolvimento e cujas estruturas legislativas são muitas vezes fracas relevantes porque
(MCEWAN; BEK, 2009; VOGEL, 2010). Neste ambiente, as certificações elas são tidas
podem ser vistas como instrumentos úteis para operacionalizar ações como mecanismos
regulatórios,
de RSC. Em um contexto global, onde ainda existem sistemas de principalmente em
produção estabelecidos em países cujas leis voltadas aos campos países que ainda
sociais e ambientais são fracas, não cumpridas ou até mesmo estão em processo
de desenvolvimento
inexistentes perante a demanda social, as normas se tornaram formas e cujas estruturas
reconhecidas de controlar, coordenar e guiar comportamentos voltados legislativas são
às adequações organizacionais para os campos sociais e ambientais muitas vezes fracas.
(POETZ; HAAS; BALZAROVA, 2013).

A inclinação das ações de RSC para o setor agrícola se deve ao fato A demanda por selos
de certificações
de que a produção agrícola lida diretamente com a produção de alimentos. socioambientais
Alguns tópicos merecem atenção no que diz respeito à produção alimentar, existe por parte de
tal como é o caso da segurança do alimento, por exemplo. Outros estão setores diversos, tais
como: Organizações
associados aos impactos socioambientais dos sistemas de produção e não Governamentais
consumo, como os casos de degradação ambiental e exploração da mão (ONGs), instituições
de obra, bem como também os casos de problemas socioeconômicos financeiras,
governos, empresas
derivados destes sistemas. Na tentativa de mitigar tais problemas, e consumidores.
os programas de RSC atuam como mecanismos de adequação às
obrigatoriedades sociais e ambientais para se produzir os alimentos e contribuem
para proporcionar continuidade do negócio mediante o oferecimento de credibilidade
à atividade praticada (POETZ; HAAS; BALZAROVA, 2013).

De acordo com Iseal Alliance (2013), a demanda por selos de certificações


socioambientais existe por parte de setores diversos, tais como: Organizações
não Governamentais (ONGs), instituições financeiras, governos, empresas e
consumidores.

Para se aprofundar neste quesito, veja a publicação:

ISEAL ALLIANCE. Para produzir e consumir com


responsabilidade no Brasil: status e tendências dos sistemas de
certificação de sustentabilidade. 2013. Disponível em: <https://www.
isealalliance.org/sites/default/files/Para-produzir-e-consumir-com-
responsabilidade-no-Brasil-Dec-13.pdf>. Acesso em: 20 jun. 2017.

129
Administração Rural

O interesse por estas certificações está diretamente ligado às políticas de


Responsabilidade Social Corporativa (RSC) nas organizações porque aspectos
éticos, sociais e ambientais associados às empresas podem fazer parte dos
critérios de compra dos consumidores. Uma reputação ruim neste sentido pode
afetar os resultados financeiros de organizações por meio de boicotes
Na cafeicultura, dos consumidores, por exemplo (CASTALDO et al., 2008). Então, frente
os programas
de certificações aos objetivos das políticas de RSC, os selos socioambientais podem ser
socioambientais úteis para as organizações porque oferecem, por exemplo, segurança
são alternativas
que buscam a na aquisição de insumos produzidos por fornecedores certificados, já
comprovação que se diminui a possibilidade de a imagem organizacional estar presa
do vínculo com a práticas negativas a montante de seu controle.
estratégias de RSC.
Existem, neste setor,
quatro certificações Na cafeicultura, os programas de certificações socioambientais
que são mais
utilizadas: Rainforest são alternativas que buscam a comprovação do vínculo com
Aliance, Orgânica, estratégias de RSC. Existem, neste setor, quatro certificações que são
UTz e Fairtrade. mais utilizadas: Rainforest Aliance, Orgânica, UTz e Fairtrade.

Para conhecimento mais aprofundado destas certificações no


Brasil, acesse os seguintes artigos:

1 - ALVARENGA, R. P.; ARRAES, N. A. M. Certificação fairtrade


na cafeicultura brasileira: análises e perspectivas. Coffee Science, v.
12, n. 1, p. 124-147, 2017. Disponível em: <https://www.researchgate.
net/publication/315716051_Certificacao_fairtrade_na_cafeicultura_
brasileira_analises_e_perspectivas>. Acesso em: 9 jun. 2017.

2 - GOMES, F. A. et al. Características da certificação na


cafeicultura brasileira. 53º Congresso da SOBER (Sociedade
Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural). Anais...
João Pessoa: 2015. Disponível em: <http://icongresso.itarget.com.br/
tra/arquivos/ser.5/1/5670.pdf>. Acesso em: 9 jun. 2017.

3 - MELO, M. F. S. et al. Certificação sustentável para café :


revisão sistemática da literatura e lacunas de pesquisa. Espacios,
v. 38, n. 17, p. 31, 2017. Disponível em: <http://www.revistaespacios.
com/a17v38n17/a17v38n17p31.pdf>. Acesso em: 9 jun. 2017.

4 - MOREIRA, C. F.; FERNANDES, E. A. de N.; VIAN, C.


E. de F. Características da certificação na cafeicultura brasileira.
Organizações Rurais & Agroindustriais, v. 13, n. 3, p. 344–351,
2011. Disponível em: <http://revista.dae.ufla.br/index.php/ora/article/
view/429/328>. Acesso em: 9 jun. 2017.

130
Capítulo 4 Agronegócio na Prática

Estas certificações possuem em comum a bandeira da Estas certificações


possuem em
sustentabilidade presente ainda na fase agrícola. É comum na comum a bandeira
cafeicultura encontrar mais de um único selo certificando um sistema de da sustentabilidade
produção, já que as especificações de cada uma destas certificações presente ainda na
fase agrícola.
podem ser complementares em muitos aspectos. O principal fator
que motiva os cafeicultores a terem mais de uma certificação é a ampliação
das chances de conquista dos mercados específicos de cada um destes selos.
O entendimento sobre as diferenciações entre estas principais certificações já é
bastante difundido pela literatura. Autores como Elder, Zerriffi e Le Billon (2013),
Kilian et al. (2004, 2006) e Moreira, Fernandes e Vian (2011) apresentam suas
contribuições no sentido de entender quais são as principais peculiaridades delas.

1) Certificação orgânica

Os aspectos da certificação orgânica estão diretamente vinculados aos


principais objetivos da agricultura orgânica. Segundo Kilian et al. (2004), o
objetivo da agricultura orgânica é conseguir melhorar a qualidade dos aspectos
agrícolas e ambientais mediante o respeito à capacidade de suporte do solo,
fauna e flora local. O principal fator que diferencia a agricultura orgânica da
agricultura convencional é o respeito e a proteção ao meio ambiente em que a
agricultura é desenvolvida. Este respeito e esta proteção são atingidos pelo não
uso de agroquímicos na lavoura, mas pelo uso de técnicas de cultivo que utilizam
os próprios recursos da biodiversidade para produzir e controlar as doenças que
frequentemente atingem os campos agrícolas.

Para que a produção do café possa ser certificada como orgânica, o solo
onde o café é cultivado não pode receber os agroquímicos proibidos pela
certificadora, tais como fungicidas, pesticidas, fertilizantes sintéticos e reguladores
de crescimento, por um período de pelo menos três anos (KILIAN et al., 2006). No
decorrer deste período, também há um acompanhamento da certificadora antes
da efetiva certificação (MOREIRA; FERNANDES; VIAN, 2011). Os cafeicultores e
os processadores do café também devem manter arquivada a relação de todos os
produtos que foram utilizados no decorrer do ciclo de vida do produto, bem como
o detalhamento dos processos que foram empregados (KILIAN et al., 2004, 2006).

2) Certificação Rainforest Alliance

A Rainforest Alliance é uma certificação que tem como principal foco a


conservação da vida selvagem e o bem-estar dos trabalhadores (KILIAN et al.,
2004), concomitante à produção de commodities agrícolas nos países tropicais
(MOREIRA; FERNANDES; VIAN, 2011). É uma certificação que tem o café como
o principal produto certificado (MOREIRA; FERNANDES; VIAN, 2011). Por esta
certificação é possível o uso de certos agroquímicos, desde que de maneira

131
Administração Rural

controlada, tal como diretrizes da certificadora (KILIAN et al., 2004). As ressalvas


quanto ao uso de agroquímicos estão relacionadas à proibição de produtos muito
tóxicos e ao menor uso de agrotóxicos que são permitidos. Para se obter esta
certificação, deve ser cumprida uma série de critérios, tais como alguns exemplos:
proibição da caça de animais silvestres, proibição de que sejam descartadas
águas residuais sem devido tratamento nos corpos d’agua e manutenção de um
programa voltado à conservação do ecossistema (MOREIRA; FERNANDES;
VIAN, 2011).

No campo social, os trabalhadores de propriedades certificadas pela


Rainforest Alliance possuem como principais benefícios um ambiente de trabalho
mais seguro, limpo e adequado no que diz respeito às legalidades trabalhistas.
Propriedades rurais de todos os tamanhos podem aderir a esta certificação, e
as vantagens almejadas para os proprietários estão ligadas à melhoria da
eficiência de suas propriedades por meio da redução dos custos com insumos
e adoção de ações visando a melhorias dos processos gerenciais. Além disso,
eles têm também contratos estáveis, opções de créditos favoráveis, publicidade,
assistência técnica e mercado especial para seus produtos.

3) Certificação UTz

As principais abordagens da certificação UTz recaem sobre os campos


econômicos, gerenciais, ambientais e sociais. No que tange às coberturas sociais,
as principais devem ser voltadas para a saúde e educação dos trabalhadores
e de seus familiares, bem como garantia de que as condições de trabalho dos
trabalhadores estão em sintonia com as leis nacionais (KILIAN et al., 2004).
Como por exemplo, cita-se a necessidade dos trabalhadores serem cobertos por
assistência médica e também que eles sempre usem equipamento de proteção
individual (EPI) nas atividades que exigem maior segurança, tal como é o caso
das aplicações de agroquímicos, por exemplo (MOREIRA; FERNANDES; VIAN,
2011).

A certificação UTz tem o intuito de melhorar a situação econômica através


da melhoria das práticas gerenciais. No campo ambiental, tem como meta a
minimização da erosão, poluição do solo e uso de energia não renovável (KILIAN
et al., 2004). Esta certificação permite a utilização de certos agroquímicos, sendo
proibidos aqueles que não são permitidos nos Estados Unidos, Japão e países
da União Europeia. A utilização de defensivos agrícolas alternativos e o manejo
integrado de pragas é estimulado por esta certificação. Para manter o controle
sobre os insumos utilizados, esta certificação enfatiza sobre a rastreabilidade
do produto e sobre o monitoramento dos insumos empregados ao longo dos
processos produtivos (MOREIRA; FERNANDES; VIAN, 2011).

132
Capítulo 4 Agronegócio na Prática

4) Certificação Fairtrade

Quanto à certificação Fairtrade, seu principal objetivo é contribuir para a


melhoria das condições de vida de produtores marginalizados localizados em
países ainda em desenvolvimento por meio do comércio dos seus produtos
certificados (ELDER; ZERRIFFI; LE BILLON, 2013). As origens e princípios
deste selo estão vinculados ao movimento do Comércio Justo. Tal movimento
nasceu com o intuito de oferecer aos pequenos produtores maiores chances de
retornos sobre os produtos por eles produzidos mediante a criação de formas de
venda direta ou quase direta aos consumidores finais. A redução da quantidade
de agentes atravessadores ao longo das cadeias produtivas é uma estratégia
que é praticada visando ao aumento da rentabilidade dos pequenos produtores.
Outra estratégia disseminada é o senso de “pagamento justo” pelo produto que é
repassado ao consumidor final. Está implícito neste termo que o preço cobrado é
justo ao ponto de pelo menos conseguir cobrir os custos de produção e também
proporcionar meios para que o produtor tenha uma rentabilidade viável para a
manutenção da sua atividade produtiva e acesso a melhorias de qualidade de
vida (ALVARENGA; ARRAES, 2017a).

O selo fairtrade certifica dezoito produtos, tais como frutas frescas, arroz,
quinoa, chá, vinho, cacau e café, por exemplo (FAIRTRADE INTERNATIONAL,
2014). É uma certificação que é destinada a pequenos produtores organizados
em cooperativas ou associações. Em alguns casos, é permitido que produtores
maiores se vinculem às associações de produtores. No caso da cafeicultura,
as organizações e cooperativas devem ser compostas por pelo menos 51% de
pequenos produtores (ALVARENGA; ARRAES, 2017a).

Para conseguir a certificação fairtrade, os produtores devem se adequar


a uma série de critérios voltados aos pilares da sustentabilidade (ELDER;
ZERRIFFI; LE BILLON, 2013). No caso da cafeicultura, o café certificado como
fairtrade pode ser cultivado tanto pela maneira orgânica quanto convencional.
No campo ambiental, existem restrições sobre o uso de certos agroquímicos nas
lavouras. Existem também singelas ações direcionadas para a proteção do solo e
da biodiversidade local. No campo social, tem ações em benefício da comunidade
local e dos trabalhadores, bem como de empoderamento dos produtores. No
entanto, um dos principais atrativos desta certificação é o pagamento de um preço
mínimo ao produtor e um preço prêmio que é destinado às cooperativas.

Para proporcionar um melhor entendimento sobre estas quatro certificações,


o Quadro 8, que foi elaborado com base em pesquisa (GOMES et al., 2015) sobre
as características das diversas certificações na cafeicultura do Brasil, apresenta
uma visão geral a respeito dos principais fatores associados às certificações
Rainforest Aliance, UTz, Fairtrade e Orgânica.

133
Administração Rural

Quadro 8 – Comparativo entre fatores das certificações


Rainforest, UTz, Fairtrade e Orgânica na cafeicultura

Certificações
Fatores de com-
paração
Rainforest UTz Fairtrade Orgânica

Certificadora
Imaflora Imaflora FLO Cert IBD e Imaflora
responsável
Rastreabilidade e
Enfoque da Sustent. e Estrutura Estrutura Sustentab. e
estrutura organiz e
certificação Social Sócioec. estrutura social
social
Critérios críticos e
Tipo de critérios Não descrito Pontuação Não descrito
não críticos

Cumprimento 100% dos


80% dos critérios Não descrito Obrigatório
geral critérios

3 auditorias míni-
Auditorias Obrigatório Obrigatório Obrigatório
mas (ao ano)
Programa de
conservação,
de identificação, Obrigatório Não descrito Necessário Obrigatório
proteção dos
ecossistemas
Conservação ou
recuperação dos 30% da área total Não descrito Necessário Obrigatório
ecossistemas
Uso restritivo
e/ou exclusão
Obrigatório Não necessário Obrigatório Obrigatório
de defensivos
agrícolas
Período de
implantação do 10 anos Não descrito Não descrito 2 anos
plano
Tratamento de
Obrigatório Não descrito Necessário Obrigatório
água residual
Respeitar o Có-
digo Trabalhista Obrigatório Obrigatório Obrigatório Obrigatório
vigente
Treinamento
Necessário Necessário Obrigatório Não descrito
contínuo

134
Capítulo 4 Agronegócio na Prática

Possui monitora-
mento da quali- Não descrito Não descrito Não descrito Não descrito
dade do café
Possui rastreabi-
Sim Sim Não descrito Sim
lidade do café

Fonte: Adaptado de Gomes et al. (2015).

Dentre estas quatro certificações, fairtrade tem atraído a demanda dos


grupos de cafeicultores do Brasil. O Brasil já se destaca perante outros países
produtores fairtrade. O país possui 44 organizações produtoras de frutas frescas,
mel, castanha, suco e café. Até 2013, o país era o sétimo com mais organizações
fairtrade no mundo. Tal como enfatizado pela Figura 35, até 2013 o Brasil
ocupava, juntamente com Honduras, a sexta posição em relação aos países que
mais possuíam organizações de cafeicultores fairtrade no mundo (ALVARENGA;
ARRAES, 2017b).

Figura 35 – Organizações de produtores de café no mundo em 2014

Fonte: Adaptado de Alvarenga e Arraes (2017b).

Atualmente o Brasil possui 28 cooperativas de cafeicultores Um dos fatores que


produzindo café certificado fairtrade em cinco estados do país. Destas, contribuem para
28 produzem café em cinco estados: Minas Gerais (60% de todas esta certificação
na cafeicultura do
cooperativas estão em Minas Gerais), Rondônia, Paraná, Espírito Brasil está vinculado
Santo e São Paulo. Tal como apresentado na Figura 36, a certificação ao perfil agrário da
cafeicultura do país.
faitrade está presente na cafeicultura do Brasil desde 1998, tendo No país, cerca de
sido a partir de 2009 que houve um crescimento mais acentuado, já 85% dos cafeicul-
que 50% das cooperativas de café do Brasil foram certificadas entre tores do Brasil são
familiares.
2009 e 2015. Um dos fatores que contribuem para esta certificação

135
Administração Rural

na cafeicultura do Brasil está vinculado ao perfil agrário da cafeicultura do país


(ALVARENGA; ARRAES, 2017a). No país, cerca de 85% dos cafeicultores do
Brasil são familiares. Destes cafeicultores, 80% possuem menos de 20 hectares.
Cafeicultores familiares brasileiros produzem aproximadamente 38% do café do
país (BRITO, 2013).

Figura 36 – Evolução da certificação fairtrade na cafeicultura


do Brasil entre os anos de 2008 e 2015

Fonte: Adaptado de Alvarenga e Arraes (2017a).

Para conhecimento mais aprofundado sobre a certificação


fairtrade na cafeicultura do Brasil, acesse o seguinte artigo:

ALVARENGA, R. P.; ARRAES, N. A. M. Certificação fairtrade na


cafeicultura brasileira: análises e perspectivas. Coffee Science, v.
12, n. 1, p. 124-147, 2017. Disponível em: <https://www.researchgate.
net/publication/315716051_Certificacao_fairtrade_na_cafeicultura_
brasileira_analises_e_perspectivas>. Acesso em: 9 jun. 2017.

c) Fatores críticos no gerenciamento de propriedades rurais produtoras


de café

No Brasil, estudos de autores (BLISKA et al., 2007a, 2007b) contribuem


por oferecer exemplos de alguns outros fatores críticos que podem impactar o
gerenciamento de propriedades rurais produtoras de café. Entre os exemplos

136
Capítulo 4 Agronegócio na Prática

explorados, daremos destaque aqui para: fatores climáticos, formas de cultivo de


café, proliferação de pragas e doenças, colheita, bem como pós-colheita.

No que diz respeito ao clima, os principais fatores críticos estão vinculados:


a temperaturas baixas e temperaturas elevadas, que podem causar morte das
flores e diminuição na qualidade e na produtividade do café; à falta de água ou
distribuição não adequada de água ao longo do ciclo, que pode impactar na
redução do florescimento e consequente redução da produtividade e qualidade
do café; à altitude elevada, como ventos frios que são prejudiciais, podendo
causar queda na produção e maior incidência de doenças; à altitude baixa, com
repercussão associada devido ao calor, déficit de água e maior incidência de
doenças, como o bicho mineiro, podendo implicar em queda de produção (BLISKA
et al., 2007a).

Entre as formas de plantio do café, duas têm se destacado com muita


frequência: cultivo convencional e cultivo orgânico. No cultivo convencional pode
ocorrer erosão e afogamento de muda. As principais implicações podem repercutir
em: aumento dos custos de produção por causa de necessidade de replantio,
assoreamento de rios, redução da capacidade de produção do solo. No cultivo
orgânico, há uma menor produtividade e existe dificuldade em se controlar pragas
e doenças. Neste sistema, o alto custo de produção reflete em um custo elevado
do café no mercado (BLISKA et al., 2007a).

Afora os fatores climáticos e as diferentes formas de cultivo, há também as


implicações associadas à proliferação de pragas e doenças nos cafezais. Tal
como ilustra o Quadro 9, cuidados para se evitar este tipo de problema, já que há
repercussões diretamente sobre a qualidade e produtividade do café.

Quadro 9 – Fatores críticos associados às doenças e pragas nos cafezais

Fatores críticos associados às doenças e às pragas Principais implicações

Ferrugem, antracnose; phoma; mancha-aureola-


Doenças Baixa qualidade e produtividade.
da; cercóspora; coletotrichum.
Bicho mineiro; broca do café; cochonilhas; ácaros
(quando nível de ataque for alto); mosca, cochoni-
Pragas Baixa qualidade e produtividade.
lha da raiz e lagartas (quando nível de ataque for
muito alto).
Menor produtividade das culti-
Pragas Nematoides. vações não enxertadas; custo
extra com mudas enxertadas.
Fonte: Adaptado de Bliska et al. (2007b).

137
Administração Rural

Na cafeicultura existem diferentes formas de se colher o café, sendo


as principais: derriça no chão, derriça no pano, colheita a dedo e colheita
mecânica. Cada uma dessas requer diferentes tipos de cuidados para se evitar,
principalmente e de acordo com o Quadro 10: custos elevados e perdas de
qualidade do café.

Quadro 10 – Fatores críticos associados às diferentes formas de


colheita: derriça no chão, no pano, a dedo e colheita mecânica

Fatores críticos associados aos tipos de colheita Principais implicações

Mistura com impurezas; frutos contaminados do


Derriça no
chão e frutos com diferentes graus de maturação Redução da qualidade.
chão
(maduros, verdes, secos e passas).
Derriça no
Custo; mistura de frutos (verdes e passas). Redução da qualidade.
pano
Colheita a
Maior necessidade de mão de obra. Custo mais elevado.
dedo
Colheita Redução da qualidade; inviável
Preço; maior incidência de frutos verdes.
mecânica para pequena propriedade.

Fonte: Adaptado de Bliska et al. (2007b).


Após a colheita,
os processos
efetuados devem
ser devidamente Após a colheita, os processos efetuados devem ser devidamente
gerenciados para se gerenciados para se evitar problemas na qualidade do café e
evitar problemas na
qualidade do café e contaminação dos recursos hídricos, principalmente, tal como exemplo
contaminação dos enfatizado no Quadro 11, dos principais fatores críticos associados na
recursos hídricos, etapa de pós-colheita.
principalmente

Quadro 11 – Fatores críticos associados na etapa de pós-colheita

Fatores críticos associados ao pós-colheita Principais implicações

Processamento via seca (café natural); impurezas;


mistura de grãos; espessura da camada de grãos e Menor qualidade.
sua movimentação.
Processamento via semiúmida (café cereja des-
cascado); espessura da camada de grãos e sua Menor qualidade.
movimentação.
Processamento via úmida (café despolpado; desmu- Menor qualidade; contaminação de recur-
cilado): tempo de fermentação. sos hídricos.

Fonte: Adaptado de Bliska et al. (2007b).

138
Capítulo 4 Agronegócio na Prática

Além destes fatores, há também os associados ao gerenciamento dos


recursos humanos nas lavouras de café do Brasil. Tal como mencionamos, o Brasil
é o principal produtor de café do mundo. Por causa da sua representatividade
produtiva, muitos agentes vinculados aos diversos elos da cadeia de produção
do café têm acompanhado de perto como o país vem lidando com os impactos
ambientais e sociais gerados pela cafeicultura. Tanto que no ano de 2016 uma
Organização não Governamental reconhecida internacionalmente lançou um
relatório (DANWATCH, 2016) enfatizando a existência de problemas por uso de
mão de obra infantil, trabalhadores atuando de maneira ilegal e sendo mal pagos.
Problemas desta natureza devem ser evitados. Além das implicações legais aos
cafeicultores que atuam com mão de obra ilegal e, sobretudo os prejuízos aos
trabalhadores, a imagem do agronegócio brasileiro é afetada negativamente nos
mercados que atingem.

Cana-de-AçÚcar
A última cultura que abordaremos é a cana-de-açúcar. Uma vez que no
Capítulo 3 destacamos o exemplo da Produção Mais Limpa como estratégia com
foco no gerenciamento ambiental, aqui mostraremos como medidas de Produção
Mais Limpa podem ser adotadas no setor sucroalcooleiro. Além disso, também
apresentaremos quais são os principais fatores críticos que estão vinculados ao
gerenciamento de propriedades rurais produtoras de cana.

a) Exemplos de aplicabilidade da Produção Mais Limpa no setor


sucroalcooleiro

O Brasil é o maior produtor de cana-de-açúcar do mundo, atingindo O Brasil é o maior


mais de 590 milhões de toneladas de cana-de-açúcar por ano (safra produtor de cana-
2012/2013). O país também é o primeiro produtor mundial de açúcar, -de-açúcar do mun-
do, atingindo mais
responsável por 25% da produção mundial e 50% das exportações de 590 milhões de
mundiais e o 2º Produtor Mundial de Etanol, sendo responsável por 20% toneladas de cana-
-de-açúcar por ano
da produção mundial e 20% das exportações mundiais (UNICA, 2013). (safra 2012/2013).
Esse setor tem um PIB setorial de US$ 48 bilhões, com exportações no
montante de US$ 15 bilhões. Além disso, destaca-se pela sua relevância como
biocombustível, abastecendo uma frota de veículos que já ultrapassa 20 milhões.

Apesar de tal posição, existem no setor desafios sociais e Existem no setor


ambientais que devem ser superados no decorrer dos seus setores. O desafios sociais
e ambientais que
setor sucroalcooleiro envolve o setor agrícola, com aspectos ligados às devem ser supera-
atividades desenvolvidas na área em que a cultura da cana-de-açúcar dos no decorrer dos
seus setores.

139
Administração Rural

ocupa, e o setor industrial, com os aspectos associados à fábrica de açúcar e à


destilaria de álcool (ALVARENGA; QUEIROZ; NADAE, 2017b).

Alguns dos principais impactos negativos na área agrícola são: redução da


biodiversidade; geração excessiva de resíduos (bagaço); contaminação das águas
superficiais e do solo; compactação do solo por conta do tráfego de máquinas;
assoreamento; fuligem e gases de efeito estufa (ALVARENGA; QUEIROZ;
NADAE, 2017b).

Um dos pontos mais críticos e discutidos a respeito dos impactos negativos


da cana-de-açúcar é a queima da sua palha e as consequentes emissões de gás
carbônico (CO2) emitidos na atmosfera. O gás carbônico é absorvido pela cana
durante o crescimento da planta (OMETTO, 2005) e é liberado à atmosfera em
poucos minutos quando a palha da cana é queimada para que posteriormente
haja o corte da cana.

Além do CO2, também existem impactos em decorrência do ozônio, que é um


gás poluente que não se dissipa facilmente em baixa altitude e pode ser danoso
em sentidos diversos, como por exemplo, ao crescimento e desenvolvimento de
plantas (AZANIA; AZANIA, 2014).

Como subproduto da queimada tem-se a fuligem da cana-de-açúcar,


podendo provocar danos pela sujeira e doenças respiratórias. Há constatação
de que existe a presença de Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos (PHAs),
composto cancerígeno, no sangue da maioria dos cortadores de cana-de-açúcar
(LANGOWSKI, 2013) como também nas imediações de canaviais que sofreram
queima de suas palhas (ARBEX et al., 2014; ASSUNÇÃO et al., 2014).

Para sanar
os problemas Para sanar os problemas decorrentes das queimadas no Brasil,
decorrentes das a Lei Estadual nº 11.241 proíbe, gradativamente, a queima da palha
queimadas no Brasil, da cana. Até o ano 2021, não será permitido fazer queimada em
a Lei Estadual nº
11.241 proíbe, nenhuma área que comporte o uso de colheitadeiras mecânicas. Já
gradativamente, a nas áreas com declividade superior a 12%, onde não é possível o corte
queima da palha da mecanizado, mas somente o corte manual, as queimadas serão ilegais
cana.
até o ano 2031 (ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DE SÃO PAULO, 2002).
Com o fim das queimadas pode haver redução dos empregos gerados com o
corte manual.

É preciso considerar também os gases provenientes da utilização de


combustíveis fósseis, que são oriundos da utilização de máquinas como tratores,
caminhões e colheitadeiras utilizados no setor (OMETTO; ZWICKY; ROMA,
2009). Os gases mais nocivos ao meio ambiente são monóxido de carbono,
dióxido de carbono, óxido de nitrogênio, dióxido de enxofre e material particulado
(CARVALHO et al., 2015; MOITINHO et al., 2013).

140
Capítulo 4 Agronegócio na Prática

Em relação à produção industrial, os principais impactos ocorrem em


decorrência do alto consumo de água para processamento da cana e da geração
de vinhaça e torta de filtro.

A vinhaça é originária em maior grau a partir da fermentação


da cana no processo de fabricação do álcool e em menor como
subproduto da fabricação de açúcar. Já a torta de filtro é um resíduo
composto da mistura do lodo de decantação, que é originário a partir
do processo de clarificação do açúcar e do bagaço moído.

A vinhaça é um subproduto que pode ser usado como forma de Produção


Mais Limpa pela indústria sucroalcooleira. Ela é rica em matéria orgânica como
potássio, cálcio e enxofre (JENA; POGGI, 2013). Sua produção pode variar entre
10 e 15 litros para cada litro de álcool produzido. Seu destino tem como fim a
fertirrigação (irrigação do solo com a vinhaça). Caso haja dosagem excessiva,
este subproduto pode trazer impactos negativos ao meio ambiente, como a
contaminação do solo e da manta freática (CHRISTOFOLETTI et al., 2013) em
decorrência da vinhaça ser composta por amônia, ferro, magnésio, alumínio,
cloreto e matéria orgânica (CHRISTOFOLETTI et al., 2013; PIACENTE, 2005;
SILVA; GRIEBELER; BORGES, 2007).

Em terrenos muito arenosos o solo absorve um metro de vinhaça a cada 4


dias, e em terrenos mais compactados a cada 8 dias. Isso é um risco alto, uma
vez que depois de constatada a contaminação, as possibilidades de reversão são
pequenas (CHRISTOFOLETTI et al., 2013; PIACENTE, 2005).

O subproduto torta de filtro é um composto rico em proteína. Sua utilização


ocorre tanto na irrigação do solo preparado para o plantio da cana-de-açúcar
como também no lançamento direto na vala onde a muda da cana será plantada
(GONZÁLEZ et al., 2014). Para cada tonelada de cana, obtém-se uma média de
35 kg deste subproduto (PIACENTE, 2005).

A adoção de substitutos químicos, como a torta e a vinhaça, pode diminuir


os custos em torno de US$ 60 por hectare (UDOP, 2015). No entanto, da mesma
forma que a vinhaça, a torta também pode acarretar sérios danos à manta freática
e ao solo, caso não administrado e armazenado corretamente. Seu depósito
não pode ser diretamente ao solo, mas sim sobre alguma proteção, como lonas
plásticas, por exemplo (PIACENTE, 2005).

Assim, de maneira abrangente, nota-se que o setor sucroalcooleiro é muito


dependente de recursos naturais, principalmente água e solo (DAVIS et al., 2013;

141
Administração Rural

HISCOX et al., 2015; SILVA-OLAYA et al., 2013; SOUZA; SEABRA, 2014). A parte
agrícola apresenta aspectos e características ligados diretamente ao processo
de ocupação territorial e a utilização excessiva de recursos naturais como água
e solo. Já a divisão industrial apresenta seus aspectos mais ligados com os
processos de transformações da matéria-prima, que também são responsáveis
pela geração de diversas externalidades negativas.

Neste contexto, a adoção de Produção Mais Limpa neste setor pode contribuir
de diversas formas, tal como mostram os Quadros 12 e 13, que tiveram como
base de desenvolvimento estudos publicados a respeito do tema (ALVARENGA;
QUEIROZ; NADAE, 2017b; ALVARENGA; QUEIROZ, 2009; CETESB, 2002).

Quadro 12 – Exemplos de formas de adoção de Produção Mais


Limpa no segmento sucroalcooleiro: água e melaço rejeitados
Exemplos de medidas de P + L
Rejeito
Redução Reuso / Reciclagem
Eliminação das queimadas para despalha Reciclagem no processo de embe-
reduz a concentração de terra e pedregulhos, bição (permite recuperação de parte
Água de lavagem da cana

podendo haver dispensa da lavagem. da sacarose diluída).


Reciclagem no processo de lava-
gem (necessário tratamento para
Lavagem em mesas separadas onde ocorre
remoção de sólidos grosseiros e
o desfribrilamento (evita perda de bagacilho
resíduos sedimentáveis, e eventual-
aderido).
mente para remoção de substâncias
orgânicas solúvei
Remoção a seco de parte das impureza.
Reciclagem da água no próprio pro-
Redução perda do xarope.
Água dos condensadores barométricos e água

cesso (cuidado com teor de açúcar).


Reciclagem no processo, mas em
Redução da velocidade do fluxo.
condensada nos evaporadores

outra etapa, como:


Redução da temperatura da água de conden-
Embebição da cana.
sação.
Lavagem do mel após cristalização
Recuperação do xarope.
do açúcar.
Uso de obstáculos que diminuam o arraste
Geração de vapor.
(separadores e recuperadores de arraste).
Aumento da altura dos evaporadores. Lavagem filtros.
Preparo de solução para calagem
(na clarificação).
Praticamente todo usado na produção do Produção de álcool.
Mela-
ço

álcool. Fabricação de levedura


Fonte: Adaptado de Alvarenga e Queiroz (2009); Alvarenga,
Queiroz e Nadae (2017b) e CETESB (2002).

142
Capítulo 4 Agronegócio na Prática

Quadro 13 – Exemplos de formas de adoção de Produção Mais Limpa no


segmento sucroalcooleiro: bagaço, torta, vinhaça e água das dornas rejeitados

Rejeito Forma de reuso / reciclagem

Cogeração energia elétrica; composto para adubação; produção de ração,


Bagaço
aglomerados e celulose.

Torta Uso como condicionador do solo, produção de ração animal.

Vinhaça Uso como fertilizante.

Água de lavagem
Uso como fertilizante.
das dornas

Melaço Produção de etanol, fabricação de levedura.

Ponta de cana Alimentação animal.

Torta Uso como condicionador do solo, produção de ração animal.

Fonte: Adaptado de Alvarenga e Queiroz (2009); Alvarenga,


Queiroz e Nadae (2017b) e CETESB (2002).

Para conhecimento mais aprofundado sobre Produção


Mais Limpa no setor sucroalcooleiro e demais impactos do setor
sucroalcooleiro, acesse os seguintes artigos:

1 - ALVARENGA, R. P.; QUEIROZ, T.; NADAE, J. Cleaner


production and environmental aspects of the sugarcane-alcohol
segment : brazilian issues. Espacios, v. 38, n. 1, p. 11, 2017. Disponível
em: <https://www.researchgate.net/publication/312496700_Cleaner_
production_and_environmental_aspects_of_the_sugarcane-alcohol_
segment_Brazilian_issues>. Acesso em: 9 jun. 2017.

2 - FONTANETTI, C. S.; BUENO, O. C. Cana-de-açúcar e seus


impactos: uma visão acadêmica. Bauru: Canal 6, 2017. Disponível
em: <http://www.cdn.ueg.br/arquivos/cora_coralina/conteudoN/2582/
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143
Administração Rural

b) Fatores críticos associados ao gerenciamento de propriedades rurais


produtoras de cana

No Brasil, o mais
comum é todo No Brasil, o mais comum é todo o processo de produção e
o processo de colheita ficar a cargo das próprias usinas que fabricam açúcar e/ou
produção e colheita álcool. Uma das principais razões para isso está associada aos custos
ficar a cargo das
próprias usinas que de produção, colheita e transporte da cana, principalmente. Sobretudo
fabricam açúcar e/ou para pequenos e médios produtores, tais custos não propiciam retornos
álcool.
econômicos tão vantajosos quando comparado com outras alternativas
para o uso da terra, como seguir para outras culturas ou arrendar a terra para
usinas plantarem a cana.

Para usinas de No ciclo da cana-de-açúcar, os processos de plantio e colheita


açúcar e álcool os
custos são diluídos são os que mais são onerosos financeiramente. Apesar de existir
como integrantes do alternativas de mecanização para o plantio da cana-de-açúcar, a
negócio completo maioria dos canaviais brasileiros são plantados mediante demanda de
da empresa,
diferentemente de alta quantidade de mão de obra braçal. Uma vez que o plantio é feito
pequenos e médios por mudas, a mão de obra empregada é destinada para tarefas como
produtores.
corte, seleção, transporte e plantio das mudas. Para usinas de açúcar e
álcool os custos são diluídos como integrantes do negócio completo da empresa,
diferentemente de pequenos e médios produtores. Como trabalham com grandes
áreas, as usinas possuem:

• Áreas plantadas especificamente para formação de mudas.


• Mão de obra contratada fixa ou terceirizada, que geralmente é amparada
pelo próprio corpo jurídico e de Recursos Humanos da organização.
• Maquinários (tratores, caminhões, rebocadores, carretas, entre outros) próprios
necessários e específicos para transporte e também plantio das mudas.
• Poder para adquirir insumos (combustível, agrotóxicos, fertilizantes) a preços
mais vantajosos porque compram em grandes quantidades.

Outro processo oneroso está vinculado à colheita e transporte da cana


até as usinas. Tal como comentamos, o corte manual para colheita está sendo
substituído pelo mecanizado nos canaviais do Brasil. Esta etapa requer seus
próprios equipamentos (colheitadeiras, transbordos, caminhões, carretas, tratores,
guinchos, entre outros) e mão de obra especializada para operá-los. Após colhida,
a cana deve ser destinada à usina para ser processada em tempo curto (menos de
48 horas) para que não perca suas propriedades. Logo, exige-se muitos recursos
nos processos de colheita, carregamento e transporte até as usinas, que podem
inviabilizar também o investimento na cultura por produtores rurais.

Quando optam por seguir no segmento de produção, produtores geralmente


possuem duas opções. Uma é ser responsável por todos os processos, sendo
mais raro de se encontrar casos assim no Brasil. O caso mais comum envolve os

144
Capítulo 4 Agronegócio na Prática

produtores plantarem a cana por conta própria e a venderem “em pé”. Neste caso,
a usina fica responsável pelos processos envolvidos entre o corte e transporte até
a indústria.

Atividades de Estudos:

1) Quais são as similaridades entre os fatores críticos para


o gerenciamento de propriedades rurais no que diz respeito
especificamente à mão de obra quando comparamos os casos
das propriedades produtoras de grãos e propriedades criadoras
de gado bovino?
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2) Como estratégias de Responsabilidade Social Corporativa


podem afetar as decisões dos produtores rurais?
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3) O Brasil é um importante criador de gado bovino e também


produtor de grãos. O país tem potencial para se destacar ainda
mais se vencer alguns gargalos (ambientais, infraestrutura etc.)
ainda presentes. Quais são os exemplos de gargalos para cada
um destes dois casos?
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4) Quais têm sido as principais vantagens para os produtores de


grãos quando os mesmos optam pelo investimento em silos de
armazenagem?
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____________________________________________________

145
Administração Rural

____________________________________________________
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5) Quais são os principais objetivos dos produtores rurais ao


optarem por certificações socioambientais?
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____________________________________________________

Algumas ConsideraçÕes
Ao fecharmos este capítulo, retomamos importantes assuntos que estudamos
no contexto da aplicabilidade do gerenciamento rural, tendo como exemplos
importantes cadeias agroindustriais e também o caso do uso de agrotóxicos e
exploração de terras no Brasil. Sobre tais aspectos, é válido que os seguintes
tópicos fiquem muito claros para você, pós-graduando:

• Os fatores críticos de sucesso no gerenciamento de propriedades rurais


quase sempre estão associados ao porte da propriedade correlacionados
à aspectos como: Custo de produção. Adequação legal da mão de obra
contratada. Adequação às especificidades de cada sistema de produção.
Necessidades e exigências do mercado.

• O Brasil é um dos mais importantes países no cenário de produção


agropecuária mundial e tem capacidade para se destacar ainda mais, se:
Houver otimização do uso da terra e o consequente aumento da produtividade
por hectare (exemplos da pecuária bovina e do milho); Incremento de
tecnologia propícia às especificidades de cada sistema de produção.

• O Brasil possui gargalos no campo do segmento agropecuário que precisam


ser superados, tal como é o exemplo do uso de agrotóxicos nocivos ao meio
ambiente e à saúde humana nos sistemas de produção agrícola e também
o exemplo da emissão de resíduos por importantes indústrias (couro,
sucroalcooleira, produção agropecuária) do segmento agroindustrial do
Brasil.

146
Capítulo 4 Agronegócio na Prática

• Estratégias de Responsabilidade Social Corporativa adotadas por agentes


das cadeias agroindustriais partem de demandas de consumidores por
segurança alimentar e ausência de impactos ambientais, econômicos e
sociais no decorrer dos sistemas de produção. Neste ponto, afirmamos que:
O uso de ferramentas e técnicas de gestão ambiental e estudos de impacto
têm sido utilizadas para se avaliar a sustentabilidade nos sistemas de
produção; As certificações socioambientais podem servir como mecanismos
que oferecem apoio para se atingir tais objetivos.

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