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CONHECIMENTO NA PRÁTICA

Doenças psíquicas do trabalho Parceria: TI e Administração


Dados do Ministério da Previdência Social Como a Tecnologia da Informação se
mostram que em 2009 foram concedidos quase traduz em conhecimento e se transforma
10 mil auxílios-doença devido a esses males num poderoso instrumento de gestão Dezembro/2009 Ano 32 - nº 282

(Auto) controle
Como saber se a gestão de sua empresa extrai o melhor de seu
negócio e beneficia também a sociedade? Os métodos de avaliação
de desempenho organizacional podem apontar uma direção

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RAP-282.indb 2 05/01/2010 15:57:27
Carta ao leitor

Feedback estratégico Métodos de avaliação de


desempenho empresarial
rumo a 2010 dão o norte

É pensado e refletido que as organizações discursos ambientais. Não deixando de lado, de


encerrem o mês de dezembro analisando sua per- nenhuma forma, a importância do trabalho efe-
formance ao longo do ano. É natural também que tivo para a preservação do meio ambiente
os números, os gráficos e as estatísticas tomem E para sê-lo, ao utilizar-se dos métodos de
os holofotes por um instante. Afinal, eles são , em avaliação de desempenho empresarial, é preciso
parte, o desfecho dos esforços reunidos por todos considerar cenários internos e externos, o posi-
os colaboradores no alcance das metas propostas cionamento do produto, dos concorrentes, dos
a curto, médio e longo prazos. consumidores. Tudo isso, é claro, mantendo o ali-
Por esse motivo, a última edição de 2009 da nhamento com a identidade da organização, ou
Revista do Administrador Profissional coloca em seja, com seus valores, missão, visão e negócio.
pauta os métodos de avaliação de desempenho Ademais, a garantia de que esse processo será
empresarial, ferramentas estratégicas de extrema íntegro e elevado ao seu maior nível de poten-
relevância, haja vista o cenário corporativo atual, cialidade está na atuação de um administrador
pautado na busca incessante por diferenciais profissional à frente de todos os processos. Só
competitivos que possam agregar valor à marca e ele tem competência técnica para aliar questões
promover a boa reputação das empresas. primordiais ao alcance de resultados satisfató-
rios como planejamento, organização, análise e
controle; e para se colocar de forma neutra ao
O grande desafio posicionar-se diante de todos os públicos de inte-
resse das organizações.
está em fazer uso A partir de uma avaliação conduzida por admi-
desses métodos de forma nistradores competentes e desenvolvida de forma
integrada, é possível para as empresas ter maior
construtiva e sólida” conhecimento de seus processos, bem como de
seus diferenciais e fatores de melhoria, ponto
determinante para o sucesso e crescimento de
Diferentemente de um cenário não muito dis- seus negócios.
tante, são hoje diversos os tipos de análise não Comecemos o próximo ano com um feedback
burocráticos e comprovadamente eficientes à estratégico alinhado às expectativas do negócio,
disposição da gestão das organizações. Eles dos colaboradores, do mercado e dos clientes, no
englobam indicadores quantitativos e qualita- rumo certo para a otimização do desempenho
tivos, levam em consideração a velocidade dos empresarial. Feliz 2010!
processos e o dinamismo do mercado.
O grande desafio está em fazer uso desses
métodos de forma construtiva e sólida. Agora,
e daqui para frente, o valor está naquilo que
permanece, se consolida e prolifera, ou, como a
oratória corporativa incorporou já alguns anos,
naquilo que é sustentável.
Observe, à vista disso, que quando falo em sus-
Adm. Walter Sigollo
tentabilidade, tenho em consideração a expressão Presidente do Conselho Regional
em sua maior abrangência, para muito além do de Administração de São Paulo -
verde, muitas vezes enfadonho, dos inflamados CRA-SP

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Editor
Expediente
10 Conhecimento
Especialistas avaliam o cenário
Conselho Regional de Administração de São Paulo das doenças psíquicas do
trabalho no Brasil e apontam
Presidente caminhos para não ser mais
Administrador Walter Sigollo
uma vítima desses transtornos
Diretores
Adm. José Alfredo Machado de Assis
Vice-presidente Administrativo
Adm. Paulo Roberto Segatelli Câmara
Vice-presidente de Relações Externas
Adm. Cid Nardy
Vice-presidente de Planejamento
Adm. Joaquim Carlos Dias
Vice-presidente para Assuntos Acadêmicos
Adm. Teresinha Covas Lisboa
1º Secretário
Adm. Roberta de Carvalho Cardoso
2º Secretário
Adm. Antonio Geraldo Wolff
1º Tesoureiro
Adm. Idalberto Chiavenato
2º Tesoureiro

Conselheiros
Marcio Gonçalves Moreira, Anna Luiza do Amaral Boranga, Carlos
Antonio Monteiro, Alberto Emmanuel de Carvalho Whitaker,

14
Hamilton Luiz Corrêa, Luiz Eduardo Reis de Magalhães, Alexandre
Uriel Ortega Duarte, Milton Luiz Milioni, Luiz Carlos Vendramini Na Prática
Representantes no CFA: Roberto Carvalho Cardoso (efetivo) e Na era da tecnologia,
Mauro Kreuz (suplente) mais do que saber fazer é
Conselho Editorial para RAP 2009/2010 preciso fazer com rapidez,
Coordenadora: Adm. Teresinha Covas Lisboa. Adm. Alexandre Uriel organização, profissionalismo
Ortega Duarte, Adm. Anna Luiza do Amaral Boranga, Adm. Cid e interatividade entre
Nardy, Adm. Hamilton Luiz Corrêa, Adm. Luiz Carlos Vendramini, todos os públicos
Adm. Milton Luiz Milioni, Adm. Paulo Roberto Segatelli Câmara,
Adm. Roberta de Carvalho Cardoso.

Produção
Conselho Regional de Administração de São Paulo
Depto. Marketing e Comunicação

Coordenação Editorial e Gráfica.........Entrelinhas Comunicação Ltda.


Editor-responsável....................................Priscila Pagliuso (MTb 51.108)
Publicidade..................................Publicidade Nominal Representações
Impressão.......................................................Plural Editora e Gráfica Ltda.
Tiragem..............................................................................50.000 exemplares

A RAP é uma publicação mensal do Conselho Regional de


Administração (CRA-SP), sob a responsabilidade do Conselho
Editorial do CRA-SP. As reportagens não refletem necessariamente
a opinião do CRA-SP.

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CEP 01427-001 - Telefone: (11) 3087-3200
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08 Panorama
Confira as facilidades oferecidas pelo
CRA-SP para o pagamento das anuidades

24 Perfil
Acompanhe nesta edição a entrevista com o
Adm. Roberto de Lima, presidente da Vivo S.A.

28 Canal Aberto
Delegacia do CRA-SP de São José do Rio Preto
mantém centro de estudos para administradores

30 Estilo
Encontros entre ex-colegas de sala, além de servir
para matar as saudades, ampliam networking
e se tornam um bom negócio. Há empresas
especializadas na realização desse tipo de evento.

34 Opinião
A ética dentro e fora dos negócios, na visão do
Conselheiro do CRA-SP, Antonio Geraldo Wolff

18 Capa Como as organizações


podem se beneficiar
da aplicação correta
dos mais diferentes
métodos de avaliação
de desempenho
disponíveis hoje
no mercado

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Panorama

O empreendedorismo
na empresa progressista
Mudar de atitude faz toda a diferença
O Espaço Manacá recebeu
os participantes da palestra
realizada no dia 1º de dezembro

Mostrar o que acontece no mundo do empreendedo- tro e fora das organizações: sustentabilidade, meio
rismo nem sempre é tarefa fácil em virtude de seu alto ambiente, responsabilidade social e transparência
dinamismo. Antônio Augusto do Canto Mamede, dire- econômica são alguns dos que ganharão maior impor-
tor-presidente da Thyssenkrupp System Engineering tância com o passar do tempo”, explicou.
e mestre em Administração pela Universidade São Mamede avalia que, até o momento, foi possível admi-
Marcos, encontrou um modo de dizer que é possível nistrar os métodos já conhecidos por características
atender o cliente com soluções ágeis, seguras e inte- inerentes ao setor industrial, como planejamento, con-
gradas, e ainda agregar valor aos recursos humanos trole, compromisso, gestão centralizadora. Mas, com o
das empresas. empreendedorismo, resultados sustentáveis, lucro perene
No dia 1° de dezembro, Mamede apresentou a pales- e clientes fidelizados formou-se o tripé de apoio para o
tra “O Empreendedorismo na Empresa Progressista”, profissional que escolhe esse nicho de atuação.
o case da Thyssenkrupp System Engineering, indústria O administrador ainda propõe uma mudança cul-
de origem alemã que fabrica vários tipos de equipa- tural. Para ele, companheirismo, comprometimento,
mentos para o setor automobilístico no Brasil. A partir honestidade, integridade e respeito precisam sempre
da comparação entre a Era Industrial (Moderna) e o estar “na ordem do dia” e alinhados com os três sinais
Período do Conhecimento (Pós-Moderno), ele traçou vitais: corpo, mente e alma.
alguns pontos que deverão ser seguidos nos próximos Por estar mais ligado à Era do Conhecimento, o
anos a fim de aumentar a produtividade e também a empreendedor deixará mais evidentes itens como
qualidade de vida. a motivação, a iniciativa individual e a criatividade.
Para o professor, os diferenciais progressistas das “Ainda que seja pioneiro e queira mais liberdade de
empresas são imprescindíveis. “Os valores são obti- atuação, três coisas levam o funcionário a ficar na
dos por meio da educação. Podemos citar vários itens empresa: a realização, o reconhecimento e a remune-
que direcionarão nossas vidas, por muito tempo, den- ração”, assevera Mamede.

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PROFISSIONAL
Revista do Conselho Regional de Administração de São Paulo • CRA-SP

Novo Grupo de Excelência do CRA-SP


agrega profissionais de Logística
Um auditório repleto de profissionais e estudan- O coordenador ainda pediu que os profissionais
tes prestigiou o lançamento do Grupo de Excelência envolvidos na Supply Chain (cadeia de suprimentos)
Cadeias Produtivas e Logística Empresarial tenham uma visão mais holística. “Vamos olhar além
(GELOG) do CRA-SP, realizado no dia 3 de dezem- do nosso umbigo. A racionalização de custos e a produ-
bro, no Espaço Manacá. ção de diversas etapas dependem de um olhar global.”
A metodologia de trabalho do grupo será baseada
na apresentação de cases, elaboração, aplicação,
tabulação e divulgação de pesquisas, encontros,
palestras e workshops, entre diversas atividades.

Palestra
Na ocasião, o Adm. João Paulo Lopez (foto abaixo)
falou sobre as tendências de Supply Chain e a logís-
tica empresarial. Edgard Sezefredo Faria, docente
do curso de Logística do SENAC/ Penha, levou sua
turma para participar do evento. “Atuei por quase
30 anos na área e, realmente, a logística cresceu
e se desenvolveu, está mais focada no cliente”,
comentou. “Há um campo vasto para se trabalhar”,

Sob a coordenação de Domingos Corrêa Alves


Neto (foto acima), doutor em Engenharia de
Produção e avaliador do Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP), os
primeiros membros a fazer parte do gr upo se
apresentaram. São eles: Adm. Aristides Forte
Júnior, da Associação Brasileira de Empresas
e Profissionais de Logística (ABEPL), formado
pela FEA/ USP; Adm. João Paulo Lopez, consul-
tor e instr utor na área de Supply Chain, com
MBA em Logística Empresarial pela Fundação
Getúlio Vargas (FGV); Adm. Valdir Esposito,
professor de pós-graduação na FGV; e Adm.
Marcos Antônio Maia de Oliveira, doutorando
pela Escola Politécnica da USP. concluiu. Com ele, concorda o estudante Felipe da
Na abertura, Alves Neto falou sobre a inicia- Silva. “Nem pensei duas vezes na hora de escolher.
tiva do grupo: “Precisamos criar mecanismos A procura é grande por profissionais de Logística.
para que os empresários possam discutir melho- Acho que fiz uma boa escolha”, avaliou Silva.
rias no gerenciamento na cadeia de suprimentos, Ao finalizar, o palestrante aconselhou: “É preciso
desenvolver ações para aumentar a competitivi- ter uma empresa tão integrada que seja capaz de rea-
dade e buscar novos modelos de gestão, entre gir a qualquer mudança com velocidade, mantendo
outras coisas.” o ponto de equilíbrio com máxima rentabilidade.”

RAP-282.indb 7 05/01/2010 15:58:07


Panorama

Conheça as facilidades do
CRA-SP para o pagamento
das anuidades

esclarecimentos concedidos pela contar com a possibilidade de


normativa ajudam na conscienti- parcelamento da dívida em até
zação da importância do registro 10 vezes. “Nosso trabalho é no
para a categoria. sentido de facilitar ao máximo
Para as novas filiações, o pro- os procedimentos internos para
fissional pode contar com os os administradores se mante-
conselhos regionais na utiliza- rem registrados e em dia com o
ção de diversos benefícios para o Conselho, ou seja, em consonân-
pagamento da sua inscrição. cia com as leis”. esclarece Wolff.
Para os recém-formados, o
Benefícios aos CRA-SP oferece ainda um outro
registrados benefício, concedido àqueles que
Como ocorre anualmente, o O CRA-SP já oferece uma série se registrarem em até 60 dias
Conselho Federal de Adminis- de facilidades para os atuais após a data da sua colação de
tração –CFA fixou, por meio registrados, como os descontos grau: redução de 50% no valor
da Normativa nº 378, de 18 de progressivos: 30%, se o paga- da primeira anuidade e isenção
novembro de 2009, valores para mento for feito até o dia 29 de da taxa de inscrição.
as anuidades, multas e taxas janeiro; 20% até dia 26 de feve- A entidade está de portas
relativas ao registro de profis- reiro e 10% até o dia 31 de março. abertas para receber da melhor
sionais na entidade (verifique No caso de o pagamento ser forma os administradores inte-
os valores para pessoa física na realizado com atraso, haverá a ressados e também os que já
tabela ao lado). cobrança de uma multa de 2% e são registrados. “Estamos a
Além disso, segundo o juros de 1% ao mês. postos para atender a todos
Adm. Antonio Wolff, tesou- Hoje em dia, também, os admi- que queiram regularizar sua
reiro do Conselho Regional de nistradores inscritos que estão situação junto ao Conselho”,
Administração de São Paulo, os em débito com a entidade podem finaliza o tesoureiro.

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PROFISSIONAL
Revista do Conselho Regional de Administração de São Paulo • CRA-SP

Valores para pessoa física


Indicações de leitura
Gestão Administrativa
I – ANUIDADES VALOR (R$) e Financeira de
Organizações de Saúde
Registro Profissional – Administrador 237,00
Valdir Ribeiro Borba, Teresinha
Registro Profissional – Tecnólogo 161,00 Covas Lisboa e Wander Marcondes
Moreira Ulhôa
Editora Atlas – 1ª Edição - 2009
II – TAXAS VALOR (R$) Páginas: 258 – Preço: R$ 59,00
a) Registro Profissional 20,00 Participante do Grupo de
b) Carteira de Identidade Profissional 20,00 Excelência em Administração
c) Substituição de Carteira ou Expedição de 2ªvia 20,00 em Saúde do CRA-SP, a Adm. Teresinha Covas
d) Cancelamento de Registro Profissional 83,00
Lisoba lança, em conjunto com Valdir Ribeiro
Borba e Wander Marcondes Moreira, obra que
e) Transferência de Registro Profissional 20,00
foca a gestão em diversos segmentos da área.
f) RRT (Registro de Responsabilidade Técnica) 20,00
Visão sistêmica, gestão de pessoas e de supri-
g) RCA (Registro de Comprovação de Aptidão ou 20,00 mentos, integração, estratégia e planejamento
Registro de Atestado de Capacidade Técnica)
integrado estão entre os temas abordados. Onze
h) Certidões (de Regularidade, RCA, 20,00
coautores também escrevem sobre finanças,
Acervo Técnico e outras)
controle, resultados, custos, avaliação de inves-
i) Visto em Documentos expedidos por outros CRAs 20,00
timentos, entre outros.
j) Remessa de Recurso ao CFA 96,00

III – MULTAS VALOR (R$) Governaça Corporativa


Financeira nas Cooperativas
a) Exercício ilegal da profissão:
de Crédito
a.1) Falta de Registro Profissional no CRA 570,00 Helnon de Oliveira Crúzio
a.2) Não graduado em Administração 1.900,00 FGV Editora – 1ª Edição – 2009
Páginas: 220 – Preço: R$ 22,40
a.3) Falta de pagamento da anuidade devida ao CRA 380,00
b) Sonegação de informações/ 1.900,00 O autor apresenta neste livro
documentos - Embaraço à Fiscalização a organização de uma coo-
perativa de crédito segura e
dá dicas de como capacitar
os dirigentes, conselheiros fiscais e profissionais
contratados. Além de exemplificar a análise de
risco das operações, investimentos, autogestão e
financiamentos, Crúzio ainda detalha um plano de
negócios para quem quiser trabalhar no segmento.

Registro cancelado
O CRA - SP, demonstrando responsabilidade e serieda-
de com a carreira de Administração, torna público o
cancelamento do registro profissional por irregulari-
dades de:
Diego Pereira de Barríos, natural de São Paulo – SP
RG: 41.732.761-4 - CPF: 338.232.688-48
A tabela detalhada Rui de Sá Telles, natural de Mirandópolis – SP
para pessoa jurídica
está disponível em RG: 13. 904.262-3 - CPF: 958.745.268-20
www.crasp.gov.br

Textos de Gislaine Araújo

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Conhecimento

É possível conviver bem


com a pressão ?
Estatísticas brasileiras demonstram que o
ambiente de trabalho é hoje uma preocupante
fonte de transtornos psíquicos e emocionais

por João Novaes As consequências dessas enfer- Diante dessa realidade, o papel
midades chegam a ser tão graves do administrador frente a uma ges-

P
or vezes ainda menospreza- que podem levar à morte, como tão de pessoas responsável torna-se
do ou visto como tabu, o noticiou a imprensa mundial essencial, já que os principais espe-
grupo de doenças classifica- em setembro de 2009, ao divul- cialistas em saúde no trabalho no
das como transtornos psíquicos é gar que nada menos do que 24 País afirmam que esses males podem
uma realidade crescente no merca- funcionários de uma empresa –e precisam– ser combatidos.
do de trabalho. Males como estres- francesa de telecomunicações já As estatísticas brasileiras não
se, depressão, transtornos obses- cometeram suicídio em virtude são nada animadoras: a constata-
sivos-compulsivos (TOCs), entre da pressão exercida pela adoção ção é que o ambiente de trabalho
muitos outros, estão cada vez mais de uma determinada política de tem se tornado um significativo
presentes no cotidiano laboral. mobilidade interna. causador de distúrbios emocionais.

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PROFISSIONAL
Revista do Conselho Regional de Administração de São Paulo • CRA-SP

Total de
e concessões
de auxílio-doença
ílio-doença
2009
(até agosto)
dentári
acidentários
2007 2008 *relacionados diretamente ao
o trabalho
7.691 12.818 9.780 Fonte: Previdência Social

Em abril de 2007, o Ministério da porativo. “Em quase todo o mundo, casos mais graves e frequentes
Previdência Social aperfeiçoou seu a principal preocupação dos gestores dizem respeito ao estresse, que
sistema de registro de doenças de em relação à qualidade de vida de suas por sua vez leva à ansiedade e à
trabalho. A partir daí, os médicos empresas é o combate ao estresse. depressão. As doenças psíqui-
do Instituto Nacional do Seguro Já no Brasil é o estímulo à atividade cas são atualmente as principais
Social (INSS) passaram a ter uma física. Isso está longe de dizer que aqui causas de falta ao trabalho, aci-
regulamentação mais segura para somos menos estressados, mas talvez dentes e presenteísmo. Isso sem
apontar enfermidades no trabalho
e conceder licenças.
Desde então, foi constatado um A saúde
aumento alarmante de ocorrências
relacionadas a doenças psíqui- psíquica ou
cas. Em 2007, ano da mudança de emocional é hoje,
critério, foram concedidos 7.691
benefícios de auxílio-doença sem dúvida, o maior
acidentários (causados comprova- problema de saúde
damente em razão do trabalho),
quantidade que subiu para 12.818 nas empresas”
em 2008. E, até agosto de 2009, Alberto Niituma Ogata, presidente
o benefício já foi concedido 9.780 da Associação Brasileira de Qualidade
vezes. Os casos mais recorrentes de Vida – ABQV (foto)
dessa estatística são causados por
doenças relacionadas ao estresse e
a episódios depressivos (ver quadro denote uma dificuldade maior em se
na página 12). Esses números ainda abordar esse tema”, constatou.
excluem trabalhadores autônomos De acordo com Ogata, focar a
e empregados domésticos. questão das doenças psíquicas
Especialista em Saúde do Trabalho, no ambiente de trabalho envolve
o médico Alberto Niituma Ogata, tratar de fatores relacionados à
presidente da Associação Brasileira carga horária, demanda, organi-
de Qualidade de Vida (ABQV), afirma zação, clima e relacionamentos:
que a prevenção a doenças como “A doença psíquica ou emocional
estresse e depressão ainda estão é hoje, sem dúvida, o maior pro-
longe de ser prioridade no meio cor- blema de saúde nas empresas. Os

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Conhecimento

temporânea. “O trabalho é natural- do Trabalho (Cerest-SP), afirma


mente um agente transformador, que as empresas ainda preferem
um fator de identificação, criati- não enxergar que esses problemas
vidade, bem-estar e, sem dúvida, estão relacionados ao ambiente de
saúde. Chega a auxiliar na supe- trabalho. “A tendência é colocar
ração de problemas emocionais. a culpa no caos urbano. Seja pelo
Entretanto, cada dia mais ele tem estresse do trânsito, violência ou
se tornado um fator patogênico e crises externas. Como se houvesse
desestruturador”, afirma. Segundo um único fator causador de tudo.
Heloani, essa percepção é frequen- Mas sabemos o quanto o trabalha-
temente confundida com o prazer dor é pressionado em seu ambiente
e a excitação causados pelos desa- de trabalho diante das altas exi-
fios cotidianos. “Esse prazer, em gências de metas e produtividade.
um ambiente de trabalho pesado, Políticas mal-empregadas e que
aos poucos vai se tornando um fator recebem termos como “choque de
extremamente estressante”, afirma. gestão” causam arrepios. O ganho
Um dos fatores que mais contri- para as empresas com essas polí-
buem para a degradação psíquica de ticas é de curto prazo, pois elas
um trabalhador é a insegurança em acabam perdendo com a inevitável
relação à estabilidade do emprego. queda de produtividade e a perda
Esse medo afeta principalmente de funcionários, que acarreta altos
Adm. Solange Aliandro, aqueles cujo perfil demonstra uma custos com a previdência social.”
coordenadora do
Grupo de Excelência identificação maior com a empresa.
de Administração
em Saúde do CRA-SP “Esse sentimento é criado geral-
mente por aquele funcionário que Cada dia
está há anos no mesmo emprego.
Após ser despedido, ele perde sua
mais o
falar em ser um custo altíssimo identidade, fica destituído de fun- trabalho se torna
em assistência médica”. ção, status, colegas, rotina. Enfim,
O psicólogo José Roberto Heloani, totalmente nu. Já aquele funcio- um fator patogênico
professor da Unicamp e da Fundação nário que prioriza o dinheiro sofre e desestruturador”
Getúlio Vargas, acredita que essas muito menos, pois futuramente
doenças têm sido provocadas pela poderá encontrar outra ocupação.” José Roberto Heloani, psicólogo e
mudança de visão do papel do Maria Maeno, coordenadora do professor da Unicamp e da Fundação
trabalho para a coletividade con- Centro de Referência em Saúde Getúlio Vargas

Causas principais Ano 2007 2008 2009*

de concessões de Uso de substância psicoativa 268 590 490

auxílio-doença Transtornos neuróticos


relacionados ao estresse 3.171 5.209 3.931
acidentários Reações ao estresse grave
Ao total, são reconhecidas 2.608 3.474 2.204
e transtornos de adaptação
até agora 100 categorias Transtornos de humor (afetivos) 3.918 6.403 4.942
de transtornos psíquicos
Episódios depressivos 3.584 5.117 3.549
Fonte: Previdência Social
* até agosto Depressões recorrentes 216 872 910

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PROFISSIONAL
Revista do Conselho Regional de Administração de São Paulo • CRA-SP

Alguns caminhos namento do trabalho podem ter produtividade e o bem-estar dos cola-
Os especialistas apontam solu- efeitos excepcionais.” boradores. “Faz-se necessário, por
ções que contribuem para amenizar Para a Administradora Solange exemplo, a existência de um progra-
o problema. Uma delas é focar os Aliandro, do Instituto Adolfo Lutz e ma que conscientize o papel de cada
programas de qualidade de vida coordenadora do Grupo de Excelên- funcionário na instituição. É uma
das empresas na produtividade. cia de Administração em Saúde do medida de incentivo emocional.
“Um ambiente de trabalho nocivo CRA, a solução para a diminuição Medidas com esse espírito estimulam
leva a problemas de toda ordem desse problema começa pela admi- muito mais a produtividade do que
médica. A produtividade vai lá para nistração de pessoas. “O nome dado simples premiações financeiras.”
baixo. Portanto, o paradigma tem ao que é tradicionalmente chamado
que ser a produtividade. E o indica- de Recursos Humanos passa uma Iniciativa
dor principal desses problemas se ideia de modernidade. Entretanto, Alberto Ogata, da ABQV, adverte
encontra no presenteísmo”, afirma são poucas as empresas que real- ainda que a gestão de pessoas deve
o psicólogo Heloani. mente investem na proteção de seu se limitar a agir em prol da diminui-
Ele considera essencial que as capital intelectual. Elas precisam ofe- ção de problemas que geram insalu-
empresas adotem uma estratégia recer o mesmo tratamento que é dado bridade psíquica. “Gerenciar a saúde
de comunicação franca e direta. aos clientes para os seus próprios emocional da mesma maneira que a
“É necessário criar um espaço para colaboradores”, afirmou. saúde física é uma atitude individual.
ouvir as pessoas. Dar-lhes a pala- Aliandro lembra que o CRA pro- A empresa não pode obrigar que o
vra com a segurança de que suas move cursos em seus grupos de empregado tome qualquer atitude,
opiniões serão respeitadas e seus excelência que propõem alternativas mas deve oferecer ferramentas. Uma
problemas mantidos em sigilo. para uma gestão de recursos huma- contribuição de um bom gestor é tra-
Pequenas modificações no orde- nos focada no equilíbrio entre a balhar o clima organizacional.”

RAP-282.indb 13 05/01/2010 15:59:07


Na prática

Inclusão digital no
mundo corporativo
Velocidade na tomada de decisões,
vantagens competitivas no mercado,
melhor gestão de negócios, organização
da equipe e constante relacionamento
com clientes. Esses são os principais
benefícios de incluir a tecnologia da
informação no dia-a-dia das empresas
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PROFISSIONAL
Revista do Conselho Regional de Administração de São Paulo • CRA-SP

organização, profissionalismo e dez que o mercado exige. “Essa


interatividade entre funcionários, velocidade é cada vez maior, em
fornecedores, parceiros e clientes. processos cada vez mais com-
É aí que entra a Tecnologia plexos, com muitas variáveis
da Informação (TI), sigla que se a serem analisadas ao mesmo
popularizou nas últimas décadas tempo. Se a empresa não se atu-
para designar atividades, soluções alizar, em poucos meses terá
e recursos em tecnologia. Quando perdido a competitividade e, cer-
esses subsídios são usados para tamente, alguns clientes”, diz.
viabilizar a comunicação, o termo A necessidade de atender a essa
é “Tecnologias da Informação e da demanda levou a uma mudança
Comunicação” (TICs). Seja qual no modelo de gestão. “Hoje, todos
for a sigla, algumas questões se os processos estão baseados em
fazem presentes entre os empre- TI, relacionamento com bancos e
sários: até que ponto vale a pena clientes, pedidos aos fornecedores,
investir em tecnologia? Como controles das horas trabalhadas,
manter os funcionários atualiza- de projetos e a comunicação entre
dos sobre um assunto que nunca os funcionários”, explica.
se esgota? Parcerias com escolas Essa é também a opinião de
técnicas são eficazes? Para res- Fernando José Gonzalez, professor

Se a
empresa
não se atualizar,
em poucos meses
terá perdido a
competitividade
e alguns clientes”
Edson Luiz Pereira, gerente de
parcerias educacionais da IBM Brasil

por Melissa Diniz ponder a essas e outras perguntas,


ouvimos especialistas em gestão,

H
ouve um tempo em que ensino e prática de TI nas empre-
manter a velha receita de sas. Confira suas principais dicas e
família, passada de gera- sugestões sobre o assunto.
Foto: Guilherme Tadeu Dias Diogo

ção em geração, era sinônimo de


sucesso para muitos empresários. Mudança de
Mas, na era da tecnologia, quando perspectiva
se trata do modus operandi de Segundo Edson Luiz Pereira,
empresas que buscam alcan- gerente de parcerias educacionais
çar, manter ou multiplicar seu da IBM Brasil, hoje a TI é funda- José
Jossé Agostinho
Agos
Agos
g tin
t hoh Bai
Ba
Baitello,
te lo,
tel lo
o pr
p
professor
ofe
fesso
fe ss r
sso
daa FEI,
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fazer é preciso fazer com rapidez, negócios, pois proporciona a rapi-

15

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Na prática

do Centro Universitário do Instituto sas de mercado. “Algo que está Ousadia e flexibilidade
Mauá de Tecnologia. “Um dos bene- ganhando corpo hoje em dia são Diante disso, por que alguns
fícios de incorporar a TI às empresas as redes sociais: Orkut, Facebook empresários ainda resistem às
é melhorar a gestão, pois todos os e Twitter, principalmente. Embora mudanças? “O processo estabelece
sistemas passaram a ser integrados. alguns empresários pensem que se o modo de fazer. Empresas que têm
Isso significa uma otimização do tra- trata de brincadeira, esses sites são estrutura de poder e não de organi-
balho e permite atingir mais pessoas, canais de comunicação fantásticos, zação não querem mudar o processo,
aumentando as vendas”, afirma. que permitem obter um excelente pois acreditam que seja sua garantia
Para Fabiano Milani, cofunda- retorno do público sobre produtos de qualidade. Mas se esquecem de
dor da AdaptWorks e membro da e serviços”, avalia Gonzalez. que precisam investir na melhoria
Sociedade Brasileira de Coaching, contínua, caso contrário, acabam
qualquer companhia que queira sendo rapidamente superadas”,
ter uma vantagem competitiva Para ser afirma Cid Nardy, vice-presidente
deve investir em tecnologia.
“Trabalhamos com uma metodolo- competitivo de Planejamento do CRA-SP e coor-
denador dos cursos Tecnológicos
gia em TIC totalmente diferente do é preciso inovação. do Centro Universitário do Instituto
modelo tradicional, somos espe- Mauá de Tecnologia.
cialistas em Scrum, um modo de E para inovar tem Pa ra Na rd y, qu e t a m b ém é
gestão que estimula fortemente a que ter coragem diretor-sócio da Cenários Pesquisas
comunicação entre todos os envol- e Diagnósticos Empresariais, em
vidos no projeto”, diz. e espírito marketing ter flexibilidade é fun-
Outro ponto a ser destacado empreendedor” damental. “Para ser competitivo
é o contato com clientes, tanto é preciso inovação. E para ino-
para questões de relacionamento, Adm. Cid Nardy, coordenador dos cursos var tem que ter coragem e espírito
pedidos, dúvidas e reclamações, Tecnológicos do Centro Universitário do empreendedor, só assim é possível
como para a realização de pesqui- Instituto Mauá de Tecnologia (foto) estabelecer-se no mercado e sobrevi-
ver em momentos de crise”, afirma.
“Na informática, o átomo é o bit,
tudo que você consegue transformar
em bit ocupa menos espaço, ganha
rapidez e, em geral, fica mais barato,
afirma José Agostinho Baitello, pro-
fessor do curso de Gestão Estratégica
da Tecnologia de Informação da
Fundação Educacional Inaciana de
São Paulo – FEI.

Capital humano
Mas não basta investir em TI se
não houver capacitação de pessoas.
Para Gonzalez, a falta de habilidade
nos relacionamentos interpesso-
ais é uma falha tão grave quanto o
uso de recursos obsoletos. “Muitas
empresas dizem que não têm
tempo de investir no funcionário,
Pa a Cid
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Para Cid dNNar
Nardy,
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portanto, cabe a ele se aperfeiçoar.
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cionar ess e ap er feiçoa mento,

16

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PROFISSIONAL
Revista do Conselho Regional de Administração de São Paulo • CRA-SP

oferecendo benefícios a quem real-


mente queira se aprimorar”, diz. Parcerias de sucesso
Aos que pensam que o custo
Uma maneira eficaz de alcançar o a estágios em empresas cadastra-
da modernização é muito alto, o
conhecimento tecnológico é contar das pela Secretaria Municipal de
professor Baitello explica: “Num com o apoio de escolas técnicas, Desenvolvimento Econômico e do
primeiro momento é um investi- empresas especializadas e coaches Trabalho. A formação fica a cargo da
mento, mas os empresários devem (treinadores). A IBM, por exemplo, PRODAM (Empresa de Tecnologia
investe em programas que possi- da Informação e Comunicação do
pensar que, a longo prazo, vão
bilitam o acesso aos produtos mais Município de São Paulo), com o apoio
economizar, pois, à medida que atualizados para instituições de de empresas de tecnologia.
começam a otimizar o processo, os ensino e pesquisa. “É o caso do IBM “Abrimos uma porta para que essa
benefícios serão muito maiores do Academic Initiatives, através do qual juventude ingresse no mercado
firmamos vários acordos com esco- de trabalho já com uma qualifica-
que os gastos”, avalia.
las e governo para gerar profissionais ção excelente, dada pelos próprios
Para Cid Nardy, levar o conheci- especializados em TI”, diz Pereira. fabricantes, que são os detentores
mento aos funcionários por meio Da iniciativa pública também vêm do conhecimento. Assim, a empresa
de treinamentos e atualizações projetos de sucesso como o Jovem que acolhe este jovem vai ter em
TEC, uma parceria entre o governo seu quadro um funcionário moti-
é tão importante quanto criar as
do Estado e a Prefeitura de São vado e capacitado para trabalhar em
condições para que eles busquem Paulo. Lançado em julho, o programa manutenção e suporte”, afirma João
o conhecimento em cursos de tem o objetivo de formar cinco Octaviano Machado Neto, diretor
formação continuada, especializa- mil estudantes da rede pública de presidente da PRODAM.
ensino médio em TI e encaminhá-los
ções e pós-graduações. “Nenhuma
empresa sabe tudo. Mas é muito
importante ter em seu quadro de
funcionários alguns especialistas
que possam, inclusive, selecionar
as melhores parcerias”, afirma o
vice-presidente de Planejamento
do CRA-SP.
A terceirização dos serviços tec-
nológicos, aliás, é uma tendência
que vem se afirmando ao longo dos
anos. “Pesquisas realizadas pela
Brasscom (Associação Brasileira
de Empresas de Tecnologia da
Informação e Comunicação) apon-
tam que esse movimento continuará
crescente nos próximos cinco anos,
pelo menos”, diz Edson Pereira.

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Capa

Como extrair o melhor


de seu negócio?
A prática de avaliar é essencial para potencializar
os resultados organizacionais
por João Novaes

A
pesar de a Administração De acordo com o Adm. Hamilton
se tratar de uma discipli- Luiz Corrêa, conselheiro do
na relativamente recente, CRA-SP e professor da Faculdade
surgida no fim do século XIX, o de Economia, Administração e
desenvolvimento de suas ideias e Contabilidade da Universidade de
técnicas tem passado por uma ine- São Paulo (FEA-USP), a aplicabi-
gável e constante evolução. Por lidade desses modelos depende
consequência, o gestor necessita, de cinco características básicas:
cada vez mais, se munir de análi- que eles sejam globais (ava-
ses críticas para determinar se o liem todos os aspectos da
desempenho de sua organização empresa); recor-
corresponde aos objetivos e metas ram à uma
traçados inicialmente.
Foi nesse contexto que, desde o
início do século XX, foram criados
diversos métodos e sistemas de
avaliação de desempenho organiza-
cional. No meio empresarial e até
acadêmico, o termo “avaliação de
desempenho organizacional” é tra-
dicionalmente confundido com o
balanço financeiro. Em outros casos,
até pelo uso da palavra desempe-
nho, pensa-se imediatamente em
gestão de recursos humanos.
A diferença é que a denomina-
ção possui um significado muito
mais abrangente, e envolve
praticamente todos os aspec-
tos do universo empresarial. É
também um instrumento de afe-
rição fundamental para o controle
gerencial de qualquer negócio,
além de ser o ponto de partida
para o aperfeiçoamento.

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PROFISSIONAL
Revista do Conselho Regional de Administração de São Paulo • CRA-SP

análise histórica; comparem seu O método mais famoso e Apesar de muito difundido,
objeto de pesquisa com todo o seu aplicado mundialmente é o Corrêa alerta que o BSC é alvo
setor de atuação; e sejam capazes Balanced Scorecard (BSC), criado de críticas no meio acadêmico.
de antecipar problemas. pelos acadêmicos norte-ameri- “Alega-se que ele foca apenas o
Corrêa, que também leciona para canos Robert Kaplan e David interno da empresa, não a olha
Mestrado, Doutorado e MBA em Norton, em 1992. Um de seus pelo ponto de vista histórico
Modelos de Avaliação de Desempenho principais atributos é ser utilizado e nem o setor como um todo.
Organizacional, explica que os méto- como uma metodologia de ges- Porém, por mais críticas que se
dos adotam critérios e possuem tão estratégica. Para seus autores, faça, ele é uma boa ferramenta.
objetivos distintos. “A maior parte o BSC seria o meio pelo qual se A empresa que puder utilizá-
deles é de acesso livre, quem quiser traduz a missão e a estratégia lo deve fazê-lo”, afirma. Fanny
utilizá-los tem liberdade para fazê- das organizações em objetivos rebate essa visão afirmando que,
lo. E, em grande parte, eles não são e medidas. Assim, ele facilita a na prática, os fatores externos
concorrentes, mas complementares. O utilização interna de aspectos são contemplados. “O problema
importante é escolher uma estratégia como comunicação, informação é que quando as pessoas estudam
que melhor se adapte à organização.” e aprendizado. o BSC e tentam implementá-

O problema
é que as
pessoas tentam
implementar o BSC
apenas pelos livros ”
Funny Schwarz, diretora-geral da
Symnetics, especialista em BSC

Fanny Schwarz, lo em suas estratégias, elas o


diretora-geral da Symnetics fazem unicamente pelos livros.
–empresa especializada na Porém, um mapa estratégico
aplicação do sistema–, tem a bem formulado certamente con-
mesma avaliação dos autores e sidera uma análise do ambiente
considera: “O grande desafio desse externo. Não olhar esse cenário
método é saber utilizá-lo frente a é sim uma das maiores falhas
variações e turbulências dos ambien- desse sistema, mas ele só ocorre
tes interno e externo, que ocorrem quando é aplicado apenas do
sem data marcada.” ponto de vista teórico.”
Fanny explica que é muito raro Assim como outros métodos,
uma empresa procurá-los ape- o BSC também possui uma pre-
nas para implementar o BSC. “É miação mundial: o Hall of Fame
bom que seja assim porque não Awards, já conquistado por
podemos enxergá-lo como um empresas como as filiais brasi-
produto. Ele serve como guia e leiras da Volkswagen (2009),
não pode ser tratado de forma HSBC (2008) e a Gerdau
rígida”, defende. Aço-Minas (2006).

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Capa

rente, surgiu um método que, Todos partem dos mesmos


de maneira muito semelhante, é princípios, mas instituem pesos
adotado em mais de cem países. diferentes para os critérios estu-
No Brasil, ele é conhecido como dados. Em sua metodologia, cada
Prêmio Nacional de Qualidade item é detalhadamente men-
(PNQ) e se destaca, acima de surado e recebe um peso. Este
tudo, por ser um modelo de exce- peso varia em cada país (veja
lência de gestão. Organizado no quadro abaixo). Isso principal-
País pela Fundação Nacional de mente devido a fatores culturais,
Qualidade (FNQ), ele foi criado segundo Corrêa: “Sem dúvida
em 1951 no Japão, com o nome de alguma, a distribuição de pesos
tem a ver com a realidade de cada
região. Na Europa, por exemplo,
Na Europa, se dá ao critério “resultado” um
peso bem menor do que nos EUA
se dá ao e no Brasil. Em compensação, é
critério ‘resultado’ ofertado mais valor ao fator da
gestão humana.”
um peso bem Uma das principais qualida-
des do modelo de excelência
menor do que nos do PNQ é que esse método, de
EUA e no Brasil ” acordo com o presidente da FNQ,
Ricardo C. Martins, abrange as
Adm. Hamilton Corrêa, conselheiro do organizações como parte inte-
CRA-SP e professor da FEA-USP (foto) grante da sociedade e do meio
ambiente: “Um exemplo é que
temos desenvolvido programas
Excelência e gestão Deming. Nos EUA, é conhecido para toda a cadeia de fornece-
Outra perspectiva muito conhe- como Malcolm Baldrige– exem- dores de empresas como o da
cida para os sistemas de avaliação plo no qual o modelo brasileiro Petrobras. Se esses fornecedores
de desempenho provém do con- mais se inspirou–, e como não evoluem, inevitavelmente
ceito denominado Administração EFQM Excellence Award na as organizações centrais seguem
de Qualidade Total. Dessa cor- União Europeia. o mesmo caminho. Ao auxiliar-

Pesos

Análise Critérios EUA Europa Brasil

Comparativa Liderança
Informação e Conhecimento
120
90
100
-
110
60
Veja na tabela ao Estratégia e Planos 85 80 60
lado quais são os Pessoas 85 180 90
critérios e pesos Processos 85 140 110
utilizados nos prê- Resultados 450 150 450
mios de qualidade Clientes 85 200 60
nos EUA, na Europa Sociedade - 60 60
e no Brasil
Parcerias e Recursos - 90 -
Total 1000 1000 1000

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PROFISSIONAL
Revista do Conselho Regional de Administração de São Paulo • CRA-SP

O mais belece. E cabe a nós da Fundação papel cada vez mais central nos
avaliarmos se eles estão sendo mapas estratégicos.
importante cumpridos”, explicou. Um dos modelos que mais se
não é ganhar Neste ano, por exemplo, 48
empresas entregaram o relatório
aplicam nessa nova tendência é
o inglês Sigma Sustentabilidade,
prêmio e sim de gestão para concorrer ao prê- criado em 1999, por um con-
mio (a empresa só paga a taxa
melhorar gestão e de inscrição). Entretanto, mais de

competitividade” 60 mil se inscreveram para pre-


miações e metas menores, em
Ricardo C. Martins, presidente da nível estadual. Martins revela
Fundação Nacional da Qualidade (foto) que o objetivo é chegar a 100 mil
em um curto espaço de tempo.
“Os resultados que as peque-
mos a dinamizar essa cadeia, as nas empresas obtêm tomam
empresas começaram a perceber uma dimensão social bem maior
que o mais importante da pro- do que o prêmio, pois se cuida
posta não é ganhar o prêmio. da base da pirâmide. É nessas
Nosso objetivo principal é melho- empresas que os efeitos da apli-
rar a gestão e a competitividade cação dos métodos de avaliação
das organizações brasileiras”, organizacional são mais sentidos,
afirmou Martins. já que as deficiências de gestão
O coordenador do Prêmio são mais perceptíveis”, esclarece
Nacional de Qualidade, Gustavo o presidente da fundação.
Utescher, explica que o modelo
de excelência de gestão da FNQ Sustentabilidade
é baseado em 11 fundamentos O conceito de desenvolvimento
traduzidos em oito critérios. “O sustentável é um elemento cada
prêmio é só um alavancador de vez mais presente nos sistemas
diferentes processos, não é um de avaliação organizacional. No
sistema prescritivo como o BSC, PNQ, seu peso aumentou conside-
pois cabe à organização cumprir ravelmente no decorrer dos anos,
os requisitos que o prêmio esta- enquanto no BSC ele ocupa um

SIGMA
Este conceito integra os três
Desenvolvimento Econômico
vetores da sustentabilidade: Maximização do retorno do capital
o social, o econômico e Lucratividade no longo prazo
o ambiental

Responsabilidade social Gestão Ambiental


Cidadania Preservação de recursos naturais
Geração de emprego Eco-eficiência
Engajamento das partes interessadas SUSTENTABILIDADE Energia renovável

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Capa

Outros sistemas
O pioneiro dos métodos de
avaliação de desempenho organiza-
cional é o Tableau de Bord, criado
no início do século XX. À época,
um grupo de engenheiros franceses
procurava novas formas de melho-
rar a produção. Seu nome é devido
à semelhança funcional com um
painel de navegação. O Tableau de
Bord possui algumas característi-
cas do BSC e reúne um conjunto
de medidas que traduzem a missão
de determinada organização em
objetivos-chave, envolvendo cada
unidade da empresa no processo.
Entretanto, não parte de uma estra-
tégia pré-estabelecida.
Outro método de destaque e
bastante estudado no meio acadê-
Citius aut liqui consect ationsequiae odit, mico é o sueco Skandia Navigator,
qui aperovi ditam, eaquam voluptur reritae
dolendanis volorestrum fugiae excero. que permite identificar os resul-
tados para a empresa graças a
uma estratégia baseada na criação
Gustavo Utescher, coordenador de conhecimento. Seu principal
de premiação e avaliações da
Fundação Nacional da Qualidade. foco é o ser humano, ressaltando
a satisfação dos indivíduos e a
importância do capital intelectual
na aquisição de vantagens com-
sórcio de diversas instituições. sensíveis ao meio ambiente é que petitivas sustentáveis. Há também
Especialista em Sigma, o pro- ocorreu essa preocupação com o Seis Sigma, sem relação com o
fessor Flávio Horneaux Júnior a questão da sustentabilidade, Sigma Sustentabilidade, desenvol-
afirma que o objetivo do sistema com a qual o processo produ- vido na Motorola para melhorar
é garantir a criação de valor às tivo delas já está historicamente processos e minimizar erros atra-
empresas por meio do conceito relacionado”, esclareceu. vés da identificação de falhas. É
Triple Bottom Line, que significa Sua grande diferença em rela- muito usado no setor de indústrias
a comunhão dos aspectos econô- ção aos métodos mais tradicionais de transformação.
micos, sociais e financeiros de é que o enfoque em sustentabili- O Adm. Hamilton Corrêa é tam-
uma organização. dade se sobrepõe ao financeiro e os bém criador de um método que
“À primeira vista, pode pare- stakeholders ganham mais atenção propõe uma abordagem que pre-
cer estranho, mas esse sistema, do que os clientes. “Ele procura tende ser o mais global possível,
ainda pouco conhecido por aqui, identificar cinco tipos de capitais: contemplando todos os aspectos
é muito utilizado por grandes o humano, o financeiro, o social, o internos e externos à empresa.
empresas de varejo como a farma- natural e o da infra-estrutura. É tão Trata-se do MADE-O (Modelo
cêutica Boots, as automobilísticas amplo e complexo que se torna de de Avaliação de Desempenho-
Vauxhall, Land Rover e Jaguar, difícil aplicação. O grande desafio Organizacional). “É um sistema
e por diversas organizações do do gestor é encontrar um meio- flexível que pode ser adaptado a
setor químico. Exatamente pelo termo dentro da cultura da empresa todo tipo de organização e pro-
fato delas pertencerem a setores para conseguir aplicá-lo”, afirma cura estabelecer uma relação

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PROFISSIONAL
Revista do Conselho Regional de Administração de São Paulo • CRA-SP

entre o desempenho da organi- Competência zação e com competência técnica


zação e todas as dimensões que O essencial, adverte Hamilton para implantar modelos desse tipo.
podem afetar e influenciar este Corrêa, é que seja qual for o Isso explica a grande procura por
desempenho”, explica o autor. método escolhido pela empresa, MBAs”, defende Corrêa.
Durante o século XX, outras ele precisa ser gerenciado e O conselheiro do CRA destaca
avaliações surgiram no auxílio ao organizado por administradores que ainda existe uma resistência
aperfeiçoamento organizacional, de formação. “Estes profissio- no meio empresarial com relação
tais como o Método de Martindell, nais são os únicos preparados à introdução de tais métodos nas
Administração por Objetivos, para planejar, organizar, dirigir, organizações. “A palavra ava-
o Áreas-Chave de Resultado, o avaliar e controlar. O olhar do liação causa certo receio desde
Método de Buchele, a Avaliação administrador vai para além da nossos tempos do colégio. Porém,
Global de Desempenho e o Método organização: considera para a ela só vem a auxiliar o gerencia-
de Rummler e Brache. Cada um sociedade, a clientela, o governo, mento. A proposta é não utilizar
com suas qualidades e limitações. os concorrentes e stakeholders.” seus resultados através de um
Cabe ao administrador escolher O conselheiro afirma que a sistema de prêmio e castigo, ou
qual método melhor se aplica às grande dificuldade de aplicação de seja, premiar as áreas que estão
características de sua empresa. As todos esses modelos no passado se saindo bem e penalizar as más
avaliações de desempenho organi- era que especialistas em determi- sucedidas. Ao contrário, é impor-
zacional ainda possuem um longo nadas funções faziam sua gestão. tante dar mais atenção onde se
caminho a trilhar, já que uma ado- “Só após o início da formação de encontra menos eficiência. Essa é
ção equivocada pode tornar seus administradores é que se passou a uma postura que pode promover
resultados irrelevantes ou até mesmo haver pessoas com a compreensão o sentimento de doação por parte
prejudiciais à própria organização. de todas as dimensões da organi- dos colaboradores”, finaliza.

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Perfil

A serviço
da excelência
Lógica e experiência
na medida certa
por Gislaine Araújo

A
perto de mão firme, sorriso discreto e uma cordialidade sincera. O administrador
Roberto Oliveira de Lima, presidente da Vivo S.A. desde 1º de julho de 2005, per-
sonifica o setor dinâmico e o profissional comprometido com seu trabalho. É mem-
bro do Conselho Curador do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações
(CPqD), do Conselho de Administração da Fundação Abrinq, da Associação Brasileira de Te-
lecomunicações (Telebrasil) e da Associação Nacional das Operadoras de Celulares (ACEL),
além de presidir o Instituto Vivo de Responsabilidade Socioambiental. A fala rápida e o
raciocínio lógico atestam o desejo de dar conta de cada um de seus compromissos, que são
inúmeros ao longo da jornada. Absorvido pela demanda que o ofício exige, o executivo não
deixa que o lado humano se perca. Os olhos brilham ao sentir que algo pode ser melhorado
e aplicado na empresa. É a busca pela excelência: ato fundamental para quem está inserido
no setor de serviços. O executivo sabe disso e tem a fórmula: os desafios atuais só serão
concretizados com as perspectivas de futuro. Para isso, a educação surge como primeira
medida a ser tomada. Lidando com números vultosos –3.900 localidades atendidas pela
empresa, 50 milhões de clientes, 11 mil colaboradores próprios–, e lucro líquido acumulado
de R$ 635,949 milhões até o terceiro trimestre de 2009, ele sabe o que pretende. A seguir,
os principais trechos da entrevista concedida em seu escritório.

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PROFISSIONAL
Revista do Conselho Regional de Administração de São Paulo • CRA-SP

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Perfil

RAP: Como foi a sua entrada


O Adm. Roberto
Oliveira de Lima é registrado no Grupo Accor, que, na oca-
no CRA pelo n.º 7078 sião, iniciava atividades no
Brasil?
Oliveira: Na minha formação,
aprendi sobre tesouraria inter-
nacional. E foi como comecei
na organização. Fiquei 17 anos
no Accor, ajudei o grupo a cres-
cer. Quando cheguei havia cerca
de 150 colaboradores. Quando
saí eram quase 18 mil pessoas
e a empresa estava avaliada em
US$ 2 bilhões. Contabilizando,
nesse período fizemos 21 aqui-
sições. Entre elas, a compra de
uma empresa Citibank, realizada
no ano de 1990. O momento da
hotelaria era propício para inves-
timentos.

Revista do Administrador RAP: Continuou estudando Queria algo


Profissional: Como o senhor depois da FGV?
optou pela área de Administração Oliveira: Depois de formado, ligado a
de Empresas?
Roberto Oliveira de Lima: Quan-
em 1978, entrei no Curso de
Especialização em Adminis-
Humanas aliado
do chegou a hora de escolher, tração para Graduados (CEAG) à praticidade.
eu queria algo ligado às Ciências da FGV e me pós-graduei em
Humanas, mas que estivesse aliado Finanças. Trabalhei na Meta- Na Administração
à praticidade. Cheguei a pensar em
Sociologia. Noutro momento, em
lúrgica Barbará, na Saint Gobain
e na Bohr. Quando entrei na
eu percebi que
Economia. Pretendia essa mistura. Rhodia, surgiu uma oportuni- conseguiria isso”
Quando fui ver o curso de Admi- dade de ir para a França. Fui
nistração na Fundação Getúlio com minha esposa e meu filho. RAP: E a chegada na Credicard,
Vargas (FGV), percebi que con- Cursei Planejamento Estratégico u m a e m p re s a d e v a re j o ?
seguiria isso lá. Além da linha n o I n s t i t u t e Su p er i eu r d e s A experiência no Accor ajudou?
humanista, havia matérias inte- Affaires, em Jouy-en-Josas. Vale Oliveira: Po r coi n cid ên cia,
ressantes como Administração ressaltar que a minha experiên- uma das pessoas que estava à
de Materiais e Análise de Inves- cia lá em Santo André (sede da frente da operação do Citibank,
timentos, por exemplo. O inte- empresa no Brasil) foi gratifi- Álvaro de Souza, depois de
ressante foi que eu pude aplicar cante porque, em quase seis anos uma década, me convidou para
o que aprendia ainda enquanto de empresa, passei por quase trabalharmos juntos. Isso foi
estudante, graças a dois estágios: todas as áreas. Voltei em abril de em 1999. Então, eu fui para o
um deles em um órgão público 1981, e ainda fiquei na Rhodia Credicard, onde fiquei por seis
e outro numa empresa privada. um ano e meio. Em outubro de anos como presidente-execu-
Neste último, entrei na área de 1982, o Grupo Accor estava che- tivo. Na ocasião, aumentamos
Sistema de Informação, onde me gando no Brasil, me convidaram n o s s o m a r ket s ha r e e a i n d a
desenvolvi bastante. e eu acabei indo para lá. introduzimos um dos maiores

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IPOs (do inglês Initial Public RAP: Como é lidar com as possam trabalhar bem e se desen-
Offering ou Oferta Pública expectativas de cada elo da volver; os acionistas, retorno do
Inicial, primeira venda de ações cadeia de negócios? Por que são investimento; os investidores, a
de uma organização no mer- diversas, não? transparência na condução dos
cado de capitais). Realmente, Oliveira: Exato. É preciso iden- negócios; os órgãos reguladores
a experiência anterior com o tificar o que cada stakeholder analisam se estão sendo cumpri-
comércio favoreceu bastante o (público de interesse) espera e das as normas estabelecidas; e
meu desempenho. verificar as ações, que são com- a comunidade anseia pelo pro-
pletamente diferentes para cada gresso social.
RAP: De lá, o senhor veio para
a Vivo, certo? E como foi o desa- RAP: Como você acredita que
fio de assumir uma empresa Para ajudar os administradores devem agir
considerada líder no setor de para participar ativamente da
telefonia móvel? mais pessoas, sociedade?
Oliveira: Sim, o caminho foi
esse. Quando o então presi-
os administradores Oliveira: Os administradores
precisam estimular o comporta-
dente Francisco Padinha saiu, precisam estimular mento ético e o respeito, ajudar a
eu fui convidado a assumir. melhorar a qualidade no trabalho
A Portugal Telecom, principal o comportamento e nas ações como um todo, para
acionista da Vivo, tem direito de
escolher o CEO (Chief Executivo
ético e o respeito” que possam beneficiar um número
cada vez maior de pessoas. Eles
Officer ou diretor- executivo), e devem também acreditar em si
assim eu cheguei na empresa. mesmos e implementar processos
Aqui, tivemos uma organização segmento envolvido. Os clientes que promovam a sustentabilidade,
societária, fizemos 14 fusões querem inovações e atendimento o desenvolvimento saudável e pro-
com outras operadoras, comba- de qualidade; os colaboradores porcionem novas oportunidades
temos a clonagem –que era algo desejam um ambiente em que para todos.
que preocupava demais os usuá-
rios de telefonia– e promovemos
diversas outras ações impor-
tantes. Sendo líder é preciso Executivo é o Administrador
estar atento a vários aspectos
do mercado e a sua participa- Destaque de novembro
ção. Lembrando que você é um
só para se defender de todos os Em reconhecimento aos administradores que se
outros. Então, é necessário ter sobressaíram em diversos setores, o Conselho
Regional de Administração de São Paulo criou o
atenção ao market share, à ino-
prêmio “Administrador Destaque”. No mês de
vação, às receitas, ao volume de novembro, foi a vez do Adm. Roberto Oliveira de
negócios, à qualidade. Lima, diretor-presidente da Vivo, receber a home-
nagem na sede da entidade.
RAP: Mas então é mais fácil Lima agradeceu, emocionado, a lembrança per-
conduzir uma empresa quando sonificada na placa entregue pelo presidente
ela é líder? do CRA-SP, Walter Sigollo, e fez questão de
cumprimentar os conselheiros. “São 35 anos de
Oliveira: A questão vai depen-
atividade e percebo que nossos administrado-
der do prisma de leitura, sob qual res se tornam cada vez melhores”. E encerrou:
aspecto a liderança será abordada, “O melhor administrador é aquele formado em
porque ela estabelece padrão, ins- Administração”.
pira admiração e provoca também
a competição.

27

RAP-282.indb 27 05/01/2010 16:03:13


Canal Aberto

Delegacia de
São José do Rio Preto
mantém Centro de Estudos
do Administrador
por Marcos Seabra

A
Delegacia do CRA-SP de Para o diretor-presidente da em Administração de Empresas.
São José do Rio Preto r eg iona l d e São Jo s é d o R io Dentre as atividades promovidas
def iniu a graduação e Preto, a implantação do CEA é pelas faculdades e pela Delegacia
a capacitação dos administra- também uma forma de trazer a de São José do Rio Preto, esses
dores como prioridades. Desde sociedade mais para perto: “O alunos assistem a palestras e
abril de 1989, quando a entidade Centro faz parte de uma estraté- participam de cursos de curta
iniciou suas atividades, o ponto gia de aproximação da Delegacia d u ra ção, m i n i s t ra d o s p o r
central de sua atuação foi traçar –e, portanto, do CRA-SP– com os profissionais”, acrescenta.
e executar uma bem-sucedida alunos de Administração e com
estratégia de aproximação com a sociedade em geral. O objetivo
a vida acadêmica dos estudan- é fazer com que ambos conhe- Delegacia do CRA-SP em
tes de Administração da região çam e participem das atividades
e com as funções exercidas pelas organizadas pela entidade, e,
São José do Rio Preto
centenas de profissionais que tra- ao mesmo tempo, tenham con-
Presidente: Adm. José Carlos Simões
balham nas mais de 100 cidades dições de manter uma relação Endereço: Rua Luiz Antônio
atendidas. “Hoje, a participação contínua conosco.” da Silveira, 89
plena em eventos organizados Simões destaca ainda as ações Cep: 15025-020
pela sociedade civil, especial- implantadas no intuito de fazer Cidade: São José do Rio Preto – SP
mente os ligados às instituições uma ponte entre os que acaba- Tel: (17) 3234-1676
E-mail: siarp@ig.com.br
de ensino, já traduzem o grau do ram de sair da Universidade e os
Site: www.siarp.org.br
nosso comprometimento”, explica contratantes. “Realizamos uma
o diretor-presidente da Delegacia série de atividades de orientação
do CRA-SP de São José do Rio para facilitar o relacionamento
Preto, o Adm. José Carlos Simões. dos recém-formados com os
A implantação do Centro de h e a d hu nt er s qu e at ua m na
Estudos do Administrador (CEA) região. É o primeiro passo para
nas dependências da regional, de agilizar o ingresso no mercado
acordo com Simões, foi determi- de trabalho”, esclarece.
nante para estreitar relações com Além dos cursos que acontecem
os futuros administradores e for- nas dependências da Delegacia,
taleceu o acompanhamento da administradores ligados à enti-
atuação dos que acabaram de se dade participam periodicamente
formar e estão se integrando ao de eventos organizados pelas
mercado de trabalho. “Pensando mais de 28 instituições de ensino
neles, o CEA oferece diversos superior instaladas na região.
cursos, inclusive com valor de “Mais de 4.500 estudantes fre-
extensão universitária”, afirma. quentam os cursos de graduação

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Estilo

É tempo de rever
a turma e explorar
as oportunidades
Os reencontros escolares
que vão além da nostalgia
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PROFISSIONAL
Revista do Conselho Regional de Administração de São Paulo • CRA-SP

ativamente dos encontros e pales- cado, já negociamos trabalho para


tras que a associação de ex-alunos, um ex-aluno que ficou desempre-
a EXPM, promove. “Gosto de par- gado, arrumamos estágio para
ticipar dos encontros das turmas, a filha de uma colega e, sempre
rever os amigos e trocar informa- que precisamos de indicações
ções.” Tiago, inclusive, conseguiu de novos funcionários, trocamos
seu novo trabalho dentro da rede informações”, garante.
de contatos de ex-alunos. “Há O mercado de promoções e even-
alguns meses estava querendo tos já identificou nessas reuniões
mudar de empresa, procurar algo uma ótima oportunidade de negó-
mais dinâmico. Entrei em contato cio. Criada por Maurício Abdalla,
com a entidade, fiquei sabendo que há 18 anos, a empresa Convivium
um amigo estava oferecendo opor- oferece um serviço especializado
tunidades na área de marketing de
shopping centers. A conversa deu
certo e estou trabalhando há um A média de
mês na empresa”, orgulha-se Tiago.
Graduado em Ciências Contábeis alunos que
pela Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo (PUC-SP), encontramos por
Pedro Shimohara não só é assíduo
frequentador, como também ajuda
turma é de 90%
a organizar eventos dessa natu- Maurício Addalla, fundador da empresa
reza, graças à ligação que mantém de promoções e eventos Convivium
até hoje com o centro de ex-alunos
da instituição.
A turma de Ciências Contábeis e Atuárias
da PUC de 1986, em seu 16º encontro, Para essa tarefa, que de uns tem- para grupos de ex-alunos. Ela sai
realizado no ano de 2002 pos para cá se repete todos os a campo em busca dos formandos
anos, é formada uma comissão de e organiza a festa. “O cliente nos
alunos, responsável pela organiza- informa o ano e a universidade
ção do grande encontro, sempre em que estudou, ou nos passa o
por Mariana Fonseca em outubro, mês da formatura da convite de formatura, e aí vamos
turma. “É um networking ótimo atrás de todos os que se formaram
Networking, possibilidade de e a oportunidade para rever ami- naquele ano. A média de alunos
negócios e reencontro com pessoas gos e fortalecer amizades”, avalia que encontramos por turma é de
que fizeram parte da sua história. Shimohara, ainda com as lembran- 90%”, avalia Abdalla. “Comecei
São esses os três principais motivos ças do primeiro encontro da turma, fazendo encontros das turmas de
que levam ex-alunos de diversas em 1986. “Ficamos alguns anos Economia e Administração, e isso
faculdades a se encontrarem depois sem nos reunir, mas voltamos à foi virando uma bola de neve. Já
de formados, em eventos orga- ativa, inclusive realizando fes- organizamos 2.336 eventos para
nizados por eles próprios, pelas tas de gala, como a do nosso 20° 180 mil pessoas”, comenta.
instituições em que estudaram ou aniversário de formados. Foi sim- Com a lista dos ex-alunos em
por empresas especializadas em plesmente emocionante! Alguns mãos, a Convivium traça um per-
reunir turmas inteiras que perde- amigos não se contiveram ao falar fil da turma e sugere um evento
ram o contato ao longo dos anos. e caíram em prantos no palco.” específico, que pode ser um jan-
Tiago Ciamtopone, de 34 anos, Para o contador, o grupo acabou tar, um almoço, um coquetel ou
formado em Administração com sendo uma rede de contatos profis- até uma festa em alto mar. “Com
ênfase em Marketing pela ESPM, sionais interessante: “Conseguimos a experiência que adquirimos,
é um dos estudantes que participa recolocações de colegas no mer- passamos a conhecer as carac-

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Estilo

terísticas dos profissionais e das em 1979, teve a oportunidade de contribuição de pessoas físicas e
escolas. Médicos, por exemplo, rever ex-colegas. “Nossa turma jurídicas, mantém hoje 556 bol-
gostam de passar um fim de sempre quis se encontrar, mas agora sistas – ao longo dos anos, foram
semana em hotel-fazenda com com um convite formal da própria distribuídas mais de 18,8 mil bol-
a família. Advogados preferem faculdade foi diferente, ficou mais sas. Perto de 10% da arrecadação
jantares dançantes. Engenheiros interessante e irrecusável”, conta do Fundo vem da contribuição de
escolhem churrascos com chope. Pedro, que inclusive é pai de uma ex-alunos e empresas: “É um dado
Administradores de empresas têm das atuais alunas de Administração. bastante alto para os padrões
preferência por jantares durante Beatriz Maria Braga, também da brasileiros”, salienta Mazzuca.
a semana, sem familiares, onde turma de 1979, foi outra ex-aluna “Trabalhamos com o formato de
trocam cartões e informações”, que esteve no encontro. Professora contribuição de ex-estudantes
conta Abdalla. Definidos local, de Gestão de Pessoas na institui- para bolsas há muitos anos.”
data e tipo de festa, os ex-alunos ção, ela avalia que, os encontros
são informados sobre o evento e as da sua geração, geram menos
despesas que serão divididas entre possibilidades de business. “Em Nossa turma
eles. “Por isso, temos interesse em contrapartida, são momentos bem
sempre encontrar e reunir o maior especiais, apropriados para rever os sempre quis
número de pessoas”, afirma.
Em novembro, a Convivium aju-
amigos e, claro, fazer networking
para os nossos filhos, por que não? se encontrar. Com
dou a direção da Fundação Getúlio
Vargas de São Paulo (FGV) a reunir
Contatos sociais e profissionais são
sempre importantes!”, atesta.
o convite formal
alunos das primeiras turmas – for- Para a direção da FGV-SP, a pro- da faculdade
mandos de 1969, 1973, 1974 e 1979 ximidade com ex-alunos é uma
em Administração de Empresas experiência sempre muito valiosa. ficou irrecusável”
e Administração Pública. Pedro O diretor Francisco Mazzuca
Kamura estava lá naquele dia. conta que a instituição administra Pedro Kamura, formado em
Formado em Administração Pública o Fundo de Bolsas, e, por meio da Administração Pública em 1979

Gustavo Reis Teixeira, formado


Encontro de ex-alunos na Fundação em 1979 em Administração, é um
Getúlio Vargas em novembro dos contribuintes. “Acho importante
ajudar quem está chegando, prin-
cipalmente porque acredito que a
faculdade forma profissionais capa-
citados para ingressar no mercado
de trabalho.” O filho de Gustavo
cursa a faculdade atualmente. “É um
orgulho ver o meu filho passando
por caminhos que eu já trilhei.”

Modelo norte-americano
As instituições de ensino bra-
sileiras ainda não mantêm uma
relação tão próxima com os
seus ex-alunos como ocorre nos
Estados Unidos. Mas as facul-
dades estão trabalhando para
mudar essa mentalidade, graças
ao entendimento de que o modelo,

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PROFISSIONAL
Revista do Conselho Regional de Administração de São Paulo • CRA-SP

sem dúvida, aproxima mais as 2º Netetwo


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escolas do mercado de trabalho, desseen
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FEA
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gera oportunidades para os atuais


alunos e ainda facilita a obtenção
de investimentos financeiros para
projetos. Uma parceria que forta-
lece a marca da instituição.
Dentro da Escola Superior de
Propaganda e Marketing, em
São Paulo, por exemplo, existe
uma associação de ex-alunos, a
EXPM (Associação de Ex-alunos
da ESPM), uma Organização
da Sociedade Civil de Interesse
Público (OSCIP), que trabalha as
relações com os ex-estudantes
baseada no formato americano.
“Tudo começou em 1998, com um
grupo de alunos que organizava
churrascos para não perder con-
tato com colegas”, explica Eduardo
Mesquita, gestor geral da EXPM.
Com o passar dos anos, e a
adesão cada vez maior aos encon-
Hoje, a Affonso Antonio, a iniciativa teve
origem num trabalho de con-
tros, o grupo procurou o apoio rede conta clusão de curso, que analisou o
da escola e começou a se estru- relacionamento das faculdades
turar. Dentro desse novo estilo com cerca de 3,6 americanas com seus ex-alunos.
de atuação, o atual presidente da
associação, Rogério Oliveira, fez mil cadastrados “Começamos com uma grande
festa de 60 anos da faculdade,
um estudo da cultura dos alunos
americanos para tentar entender
voluntariamente” para cerca de 800 ex-alunos. Hoje,
a rede conta com cerca de 3,6 mil
como isso funcionaria no mer- Adm. Fábio Alessandro Affonso cadastrados voluntariamente,
cado brasileiro. “Pensamos em Antonio, gestor do FEA+ que participam de festas, encon-
um formato de trabalho remune- tros como o networking night,
rado, onde os ex-alunos pagariam unidades da faculdade, descontos palestras, programa de mentoria
uma anuidade. Só que isso foge em empresas de ex-alunos, acesso e ainda ajudam na arrecadação
aos moldes da cultura brasileira, ao banco de empregos e a espa- de recursos para a biblioteca da
principalmente dos estudantes ços de sites como o “Encontre um faculdade”, conta.
de escolas particulares que não Amigo”, para buscar ex-colegas. De acordo com Affonso Antonio,
criam uma relação de dívida com a A Faculdade de Economia, o primeiro sentido imediato para a
instituição, como ocorre lá fora”, Administração e Contabilidade da instituição é o retorno financeiro
analisa Eduardo Mesquita. Universidade de São Paulo (FEA- e a contribuição intelectual que
A solução foi buscar ajuda USP) também mantém o programa esses ex-alunos podem represen-
financeira entre os atuais alunos de relacionamento com o egresso, tar. “Nos Estados Unidos isso é
da instituição, que pagam 1% da o FEA+, que, desde 2005, pro- muito forte. Aqui é mais difícil,
mensalidade para manter a OSCIP. move encontros e convida o não temos ainda essa cultura de
Entre as vantagens oferecidas aos ex-aluno a estar mais presente devolução do que você recebeu,
ex-alunos estão a carteirinha de na universidade. Segundo o ges- especialmente no caso de uma
livre acesso a qualquer uma das tor do FEA+, Fábio Alessandro faculdade pública”, explica.

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Opinião

A ética da
boca para fora
É muito comum encontrar empre- Falar aquilo que pensa e não o a mesma coisa. Aquele que estende
sas preocupadas em avançar que pratica é falta de ética. Ética a mão está praticando um ato de
rapidamente na busca de um padrão é dar exemplo, ser referência, sem bondade. Aquele que não prejudica
mais elevado de governança corpo- que com isso se estabeleça um deliberadamente o seu próximo,
rativa e de responsabilidade social, procedimento hipócrita. Não é mesmo em detrimento do seu bem-
já que, na prática, fica subentendida mais admissível que uma pessoa estar, é uma pessoa ética.
nestes conceitos a existência de uma seja ética enquanto profissional As empresas necessitam vol-
identidade sólida na organização, e, ao mesmo tempo, que adote tar sua atenção e seus esforços a
composta por valores, missão, visão, costumes e princípios totalmente estimular princípios de igualdade,
negócio e um código de conduta. inconvenientes e indefinidos em de cooperação, pelo real interesse
Para início de conversa, esse outras esferas do convívio social. na troca de saberes dentro do
código, que objetiva determinar os ambiente de trabalho. E os indi-
comportamentos aceitáveis dentro víduos precisam ter firmeza de
do ambiente de trabalho, não pode Ser ético é portar-se dessa maneira, de cri-
ser intitulado de ético. No máximo, ticar, se for o caso, de lutar pelo
ele é um documento que aponta comprar e que é correto, e praticar o certo.
ações adequadas àquele local, um
indicador do que é ou não permi-
pagar. Cumprir E há quem defenda que os con-
ceitos de certo e errado sofram
tido fazer dentro da corporação. o prometido. transformações de acordo com o
Cada setor da sociedade tem o tempo e a situação, mas não deve-
seu guia de comportamento. Seja no Não mentir” ria ser assim. As pessoas tendem
pilar das instituições mais tradicio- a interpretar as situações de modo
nais –família, igreja e escola– como demasiadamente flexível.
na transgressão do controle imposto Lamentavelmente, o que se vê é Ser ético é comprar e pagar. É
pelas leis: até entre criminosos existe que, nos tempos modernos, as pes- emprestar e devolver, pedir só
código de conduta. A ética encon- soas deixaram de ter a ética como quando se tem real necessidade,
tra-se num nível mais subjetivo, parceira de suas atitudes. Nos lugares ajudar, compartilhar, honrar a
intrínseco ao indivíduo. Isso quer por onde andamos e nos nichos em palavra, cumprir o prometido, não
dizer que é possível agir de acordo que convivemos, nas leituras ou noti- mentir, não pactuar com o erro.
com os “bons costumes” de uma ciários. São incontáveis os exemplos É, acima de tudo, ter coragem de
empresa e ainda assim ser antiético. de pessoas que estão mais voltadas praticar esses preceitos. Isso é ser
Para fazer cumprir determina- para si próprias e que desejam levar ético, sem ser da boca para fora.
das regras ou metas impostas vantagem em tudo, a qualquer preço,
pelas organizações, por vezes, a sem lamentar o prejuízo alheio.
competitividade, a ambição e a indi- Em outro ponto, a ética e a frater- Adm. Antonio
vidualidade extrapolam questões nidade estão bastante interligadas. Geraldo Wolff
éticas, do agir pautado pela coopera- São duas práticas que muito se iden- CRA-SP 12.784
ção ou pelo altruísmo, por exemplo. tificam. Isso não quer dizer que são 1º Tesoureiro da entidade.

Colab orações para est a s e ção p odem s er env iada s para o e-ma il marketing@crasp.gov.br - Os tex tos devem conter
no máx imo 3.0 0 0 caracteres (com espaço), nome completo do autor, foto em alt a resolução e o regist ro no CRA-SP.

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