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A VARIEDADE DA LÍNGUA BRASILEIRA ENTRE SUAS REGIÕES

Rodrigo Reis Pereira de Santana


Discente do Instituto Federal da Bahia- IFBA; turma 712
Kênia Vitória Figueiredo Ramos
Discente do Instituto Federal da Bahia- IFBA; turma 712

“Ninguém comete erros ao falar sua própria língua materna,


assim como ninguém comete erros ao andar ou ao respirar. Só se
erra naquilo que é aprendido, naquilo que constitui um saber
secundário, obtido por meio de treinamento, prática e memorização. [...]”
(BAGNO, 2007, p.113)

RESUMO

Este artigo tem como objetivo principal falar sobre as diferentes variações linguísticas
brasileiras entre seus territórios e regiões, causada por fatores geográficos, relatando
os motivos que levaram o Brasil a ter tantas variedades da língua e analisar a
diversidade dos sotaques brasileiros. Pode-se dizer assim, que a escolha desse tema
é justificada pelo fato de ele ser muito importante para entender que assim como
qualquer outra coisa, a língua é viva e possui diferenças entre si, mostrando que além
de letras ou palavras o idioma possui uma marca na cultura e na história de uma
nação, pois o mesmo sempre esteve presente na vida da sociedade.

Palavras-chave: Variação linguística. Diatópica. Sociolinguística. Preconceito


linguístico.

1 INTRODUÇÃO

O idioma oficial do Brasil é o português, o que significa que a maior parte da


população domina e fala essa língua, porém ao fazer uma análise maior, percebe-se
que os brasileiros falam de formas e jeitos diferentes ao ponto de algumas pessoas
desejarem um intérprete ou uma legenda para entender o que as outras estão falando.
Essa diferenciação no modo de se falar a mesma língua é conhecido como variação
linguística, ocasionada por fatores históricos, sociais, geográficos e muito outros e a
depender do fator criador, elas podem ser divididas em diferentes tipos
sociolinguísticos, que são conhecidos como variação diastrática, diacrônica, diatópica,
diafásica e diamésica, porém neste presente artigo, que possui como objetivo mostrar

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as diferenças e explicar o porquê do modo diferente de falar em cada região, relatará
apenas a variação diatópica que é a variação causada pelo fator geográfico. É
importante ressaltar antes da leitura, que nunca se deve pensar que uma forma de se
falar é melhor que outra, segundo Jacyra Mota professora da Universidade Federal da
Bahia (UFBA) “Não existe o falar certo ou o falar errado, todas as variantes deveriam
ter o mesmo prestígio, e a mesma aceitação”.

2 A VARIAÇÃO DIATÓPICA

A variação linguística é um fenômeno natural em todas as línguas do mundo,


não existe uma língua sem variação e como dito antes ela é causada por diversos
fatores e são divididas em várias classes, sendo a variação diatópica uma delas. Essa
variação está relacionada à localidade onde mora o falante, ou seja, está intimamente
ligada à influência geográfica e cultural dos diferentes lugares. O Brasil por ser um
país enorme, tanto em área territorial quanto em diversidade cultural, devido às
grandes misturas de etnias que aqui existem, possui uma enorme quantidade de
dialetos, ou seja, um país que abrange uma variedade linguística muito grande sendo
a diatópica um dos grandes fatores para diversidade de falares, essa é a grande razão
para diferentes regiões brasileiras terem diversos sotaques, em outras palavras, por
falarem distintamente. É como dizem os autores Mussalin & Bentes, 2006, p.34 “A
variação geográfica ou diatópica está relacionada às diferenças linguísticas
distribuídas no espaço físico, observáveis entre falantes de origem geográficas
distintas”.
Cada região, estado ou cidade brasileira possui seu próprio modo de falar, as
diferenças são incontáveis, muitas delas começaram no processo da colonização do
Brasil, ou até mesmo antes, como em alguns casos em que a variação foi trazida pelos
próprios portugueses. Segundo as informações retiradas da reportagem Sotaques do
Brasil(2014), grande parte da população localizada nas regiões ao norte do país, falam
o “E” mais aberto e as da região ao sul falam a vogal de modo mais fechado, outro
exemplo é a troca feita pela maioria dos brasileiros do “E” pelo “I” com exceção dos
gaúchos e das pessoas do interior de São Paulo e Mato Grosso que destacam
bastante o “E” em seu sotaque, outra variação muito comum em bastantes regiões é

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a exclusão da vogal “I” quando está com outra vogal, ou a adição da mesma em
palavras que ela não está presente, fator comum no dialeto baiano.
Além dessas diferenças, pode-se encontrar outras nos diversos sotaques, pois
neles não mudam apenas as pronúncias das frases, mas também o ritmo e o modo
nas quais são faladas. Na região nordeste, por exemplo, as palavras são “cantadas”,
em São Paulo as letras se multiplicam e ao contrário dos paulistas, os mineiros as
cortam ou até mesmo as juntam. Outra variação diatópica muito comum na língua
portuguesa é a utilização de vários nomes, para se referir a um único objeto. Um
exemplo é o sacolé, um tipo de sorvete feito de água e sumo de fruta, que é conhecido
por diversos tipos de nome, como geladinho, juju, saquinho, dindim e muitos outros
dependendo da região do falante.

2.1 ENTREVISTA

Para maior análise sobre as diferentes variantes da língua entre as regiões


brasileiras e para enriquecer esse artigo foram feitas duas entrevistas com pessoas
de lugares de origem muito distantes, que possuem culturas e sotaques bastante
diferentes. Devido a época de pandemia, na qual esse artigo foi elaborado, não foi
possível realizar a conversação presencialmente, por conta disso foi realizada
remotamente por meio de mensagens e áudios de WhatsApp.

2.1.1 PRIMEIRO ENTREVISTADO

Maurício Jesus Oliveira, professor de artes no IFBA, nascido em Salvador, capital da


Bahia e mora atualmente na cidade de Barreiras, capital do Oeste baiano.

Pesquisador — Você já sofreu preconceito por falar com o seu sotaque? e achou que
era uma forma "errada"?
Maurício — Já fui imitado, usaram como um preconceito recreativo, mas seguido de
"admiração"

Pesquisador — Quais as principais diferenças na forma de falar você sentiu ao se


mudar de sua cidade natal?

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Maurício — Algumas palavras bastante locais eu não uso, como, moço. Mas não
percebo a diferença entre o sotaque de Salvador com o do pessoal de Barreiras-BA;
mas sei que existe muita diferença pois todo lugar que eu chego, mesmo sem abrir a
boca as pessoas me perguntam se eu sou de Salvador. Acredito que existe uma
marca corporal, corporeidade, identidade que me denúncia. Vou fazer uma
investigação sobre este tema.

Pesquisador — Fale uma expressão ou gíria que é usada na região onde você morava
e o seu significado.
Maurício — A galera brocou, significa que o grupo desenvolveu um trabalho ou ação
espetacular de excelência. Não vou comer reggae que é o mesmo que dizer: não vou
me deixar intimidar por ninguém que queira me enfrentar…

Pesquisador — Fale: leite quente que dar dor de dente na gente (por áudio)
Maurício — Leiti quenti qui dá dô di denti na genti. (Áudio Digitalizado)

2.1.2 SEGUNDO ENTREVISTADO

Marlouve Pozzebon Roversi, confeiteira e empresária no ramo de alimentos, nascida


na cidade de Caíbi em Santa Catarina e mora atualmente na cidade de Barreiras na
Bahia.

Pesquisador — Você já sofreu preconceito por falar com o seu sotaque? e achou que
era uma forma "errada"?
Marlouve — Não, as pessoas admiram minha cultura.

Pesquisador — Quais as principais diferenças na forma de falar você sentiu ao se


mudar de sua cidade natal?
Marlouve — As diferenças estão nos sotaques de falar, e pronúncias em palavras
totalmente diferentes do costume.

Pesquisador — Fale uma expressão ou gíria que é usada na região onde você morava
e o seu significado.

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Marlouve — Barbaridade é uma expressão de surpresa ou espanto. Guri significa
menino e guria significa menina. Capaz significa imagina.
Pesquisador — Fale: leite quente que dar dor de dente na gente (por áudio)
Marlouve — Leitê quentê que dá dor de dentê na gentê (Áudio Digitalizado)

2.2 ANÁLISE DA ENTREVISTA

Com base nessas entrevistas observamos as diferenças existentes entre os


dialetos, expressões e as formas de se falar entre os brasileiros, o primeiro
entrevistado, possui um sotaque que troca a vogal “E”, pela “I”, e muitas vez retira o
“R” ao final das frases, ao contrário da segunda entrevistada que destaca bastante o
“R” e o “E” fechado. O grande motivo para as pessoas falarem assim se deve ao fato,
de acordo com Jacyra Mota, “De as crianças começarem a ouvir a família falar com
as vogais abertas ou fechadas, e aprendem assim.”, ou seja, o sotaque vem de
“berço”. E como observado pelos entrevistados, as diferenças estão nas pronúncias,
das palavras e em expressões utilizadas no local. Deve-se ressaltar mais uma vez
que apesar de todas essas diferenças, nenhuma forma de falar é certa ou errada,
portanto, existe uma norma padrão, que é aquilo que a gramática diz estar correta ao
escrever redações, ou documentos formais, isto é, deve-se falar da forma como
quiser, contanto, que escreva corretamente. É como diz o professor e gramático Celso
Cunha:

"Todas as variedades linguísticas são estruturadas e correspondem a


sistemas e subsistemas adequados às necessidades de seus usuários. Mas
o fato de estar a língua fortemente ligada à estrutura social e aos sistemas de
valores da sociedade conduz a uma avaliação distinta das características das
suas diversas modalidades regionais, sociais e estilísticas. A língua padrão,
por exemplo, embora seja uma entre as muitas variedades de um idioma, é
sempre a mais prestigiosa, porque atua como modelo, como norma, como
ideal linguístico de uma comunidade. Do valor normativo decorre a sua
função coercitiva sobre as outras variedades, com o que se torna uma
ponderável força contrária à variação.”
(CUNHA, 2001)

Outro fator importante, que não se pode deixar de lado, é o fato de que ambos
os entrevistados moram atualmente na cidade de Barreiras-Bahia, o que significa que
existem locais, como grandes cidades e capitais em que podem-se encontrar uma
diversidade muito grande de dialetos dentro de suas fronteiras, pois nelas existem

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pessoas de diversos lugares. Segundo a Dra. Solange Salete Tacolini Zorzo,
professora de Língua Portuguesa do IFBA, pode-se nomear esses locais como,
caldeirões linguísticos, isto é, um aglomerado de sotaques em uma cidade.

2.3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante das observações feitas das pesquisas e entrevistas, é possível analisar que a
variação linguística diatópica, caracterizada principalmente pelas diferenças no modo
de falar entre as regiões do Brasil, é algo natural em todo os idiomas, pois não existe
uma linguagem sem variedade, e apesar da diversidade da língua, nenhuma variação
deve ser menosprezada, até porque, apesar das diferenças elas fazem parte da
cultura e das raízes de um povo, é essencial na comunicação da sociedade e sempre
estará em constante evolução, juntamente com a população.

“Nenhuma língua permanece a mesma em todo o seu domínio e, ainda num


só local, apresenta um sem-número de diferenciações. […] Mas essas
variedades de ordem geográfica, de ordem social e até individual, pois cada
um procura utilizar o sistema idiomático da forma que melhor lhe exprime o
gosto e o pensamento, não prejudicam a unidade superior da língua, nem a
consciência que têm os que a falam diversamente de se servirem de um
mesmo instrumento de comunicação, de manifestação e de emoção.”
(CUNHA, 1964)

3 CONCLUSÃO

O presente artigo permite concluir, através de exemplos, entrevistas e pesquisas que


a variação diatópica, é um fenômeno natural que ocorre devido aos diferentes modos
de se falar em cada região, por conta da diversidade de tradições e culturas que
abrangem o grande terreno brasileiro e que influencia diretamente os falantes da
língua, fazendo com que cada lugar exista um dialeto ou um sotaque único. Portanto,
percebe-se que apesar de tantas variações, e de nenhuma estar errada, ainda existe
muito discriminação, envolvendo as diferentes formas de se falar entre a população
brasileira, como pode-se observar nas entrevistas feitas, na qual, o professor Maurício
diz ter sofrido preconceito, pelo seu modo de falar, em relação a resposta da
empresária Marlouve, em que relata que admiram seu sotaque, chega-se à conclusão

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que, grande parte dos brasileiros, consideram melhor e mais prestigioso um sotaque
das regiões ao sul e ao centro do país, gerando assim um preconceito aos outros
dialetos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

PEREZ, Luana Castro Alves. "Atlas Linguístico do Brasil"; Brasil Escola.

RIGONATTO, Mariana. "O que é variação linguística? “Brasil Escola.

BAGNO, Marcos. Preconceito Lingüístico: o que é, como se faz? 48. ed. São Paulo:
Edições Loyola, 1999.

CUNHA. Celso. Uma política do idioma. Rio de Janeiro: Livraria São José, 1964.

CUNHA, Celso & CINTRA, Lindley. Nova Gramática do Português Contemporâneo.


Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 3a ed..2001

MUSSALIN & BENTES. Introdução à Linguística: domínios e fronteiras v 1 São Paulo:


Contexto, 2006, p 34.

'SOTAQUES DO BRASIL' desvenda as diferentes formas de falar do brasileiro.


Eugenia Moreyra. local: Paraná. 2014.

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