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Notas

3.5. Dimensionamento de pavimentos


A importância de uma rede viária interligando as regiões brasileiras está diretamente relacionada
ao crescimento e ao desenvolvimento econômico do país. O sistema de gestão de pavimentos que
incluem desde o planejamento, a elaboração de projetos incluindo o dimensionamento, a
execução, a conservação e a análise contínua dos pavimentos, é fundamental para garantir a
eficiência e a eficácia do sistema, pois havendo falhas em qualquer parte dele, os custos para a
sociedade podem ser elevados (SANTIAGO, 2015).
O processo de dimensionamento de pavimentos flexíveis consiste em se determinar as espessuras
das camadas de revestimento, base, sub-base e reforço do subleito. As camadas devem ser
projetadas para atender as condições de rolamento, obedecendo aos critérios de segurança e
conforto, a fim de suportar e transmitir de forma distribuída os esforços gerados pelo trafego de
veículos ao subleito, sem que o pavimento sofra deformações consideráveis ou desgaste
excessivo na sua superfície (SENÇO, 2007).
Atualmente existem vários métodos para dimensionamento de pavimentos flexíveis no Brasil e
no mundo, de forma geral podemos classificá-los em empíricos ou mecanístico-empiricos:
 Métodos empíricos
Baseia-se na experiência acumulada pela observação das condições dos pavimentos. Os
parâmetros analisados estão relacionados a variáveis que medem a repetição das condições dos
materiais. O método apresenta uma grande limitação, pois só podem ser reproduzidos de forma
satisfatória em ambientes com características semelhantes de clima, material e carregamento as
do local onde foram feitas as observações.
 Métodos mecanístico-empiricos
Utiliza conhecimentos teóricos (mecanísticos) associados aos conhecimentos empíricos sobre o
comportamento estrutural dos materiais que irão compor as camadas do pavimento. Os
resultados obtidos em laboratório e da análise em campo, determinam a elaboração do projeto
estrutural do pavimento. Trata-se da análise mais completa sobre os critérios a serem
considerados em projetos de rodovias.
Tabela 8 – Resumo Comparativo dos métodos de dimensionamento internacionais.

País EUA Japão Portugal

Método MEPDG TA MACOPAV

Ano de lançamento 2004 1961 1995

Tipo Mecanístico-Empírico Empírico Mecanístico-Empírico

· Tráfego
· Clima · Tráfego · Tráfego
· Capacidade de · Clima · Clima
suporte da fundação · Capacidade de · Capacidade de
· Propriedades suporte CBR da suporte CBR da
Características
mecânicas dos fundação fundação
materiais · Nível de · Propriedades
· Nível de confiabilidade do mecânicas dos
confiabilidade do projeto materiais
projeto

Curva CBR
O país é dividido em
Adaptação ao clima Sim adaptada para todo o
macrorregiões
país

Software Sim Não Sim

Período de
25 anos 10 anos 20 anos
dimensionamento

Não trabalha com


eixo padrão, mas Roda padrão de
Aproximadamente 8,1 t
Eixo padrão adota um espectro de carregamento por eixo para aproximadamente 5 t
(80 kN)
diferentes tipos (49 kN)
de veículos

Fonte: Adaptado de MACOPAV, 1995; SANTIAGO, 2015 e CNT, 2017.

Tabela 10 – Comparativo entre os métodos DNER, COPPE/UFRJ e MeDiNa/DNIT.

Método/Característica DNER COPPE/UFRJ MeDiNa/DNIT

Tipo Empírico Mecanístico-empírico Mecanístico-empírico

Ano de lançamento 1966 1991 2018 (Atual)

· Tráfego (Simplificado: DNER/ Completo: · Tráfego (Número N); · Condições


· Tráfego (Número N); ·
Características Fatores de equivalência de cargas); · climáticas diversas; · Análise
Clima (Considerado o
consideradas para o Considera as influências climáticas; · Suporte elástica das camadas; ·
mesmo para todas as regiões
dimensionamento do pavimento; · Deformação permanente; · Retroanálise; · Relatório completo
do país); · Ensaio de CBR.
Análise de desempenho. da análise.

Programa/Modelagem
Não Sim Sim
computacional

Eixo-padrão adotado 8,2 (ton.) aproximadamente 80,4kN

Fonte: Elaborado pelo autor (baseado em SOUZA, 1981; MOTTA, 1991 e FRANCO; MOTTA, 2018).
METODOLOGIA
O presente trabalho se propôs a analisar e comparar três métodos de dimensionamento de
pavimentos flexíveis utilizados no Brasil, quais sejam (i) Tradicional do DNER, (ii) Resiliência
COPPE/UFRJ e (iii) MeDiNa. Para isso, adotou-se como referência Benevides (2000), no
referido trabalho foi executada uma comparação entre os métodos (i) e (ii). O referido autor
considerou três trechos de rodovias no Ceará, quais sejam: CE-060 (Pajuçara/Pacatuba), CE-040
(Messejana/Aquiraz) e BR-116 (Fortaleza/Pacajus). Benevides (2000) coletou os materiais das
camadas dos referidos trechos que estavam em fase de construção à época (Tabela 11). Os
materiais então coletados foram caracterizados, seus módulos de resiliência foram verificados.
Os referidos trechos foram dimensionados pelo método tradicional do DNER. Em seguida, e a
partir da análise das características físicas dos materiais, Benevides (2000) propôs então
alternativas de estruturas para os pavimentos obtidas pelo método da Resiliência COPPE/UFRJ.
Com o objetivo de se verificar as premissas e a versatilidade do novo Método de
Dimensionamento Nacional, além de propor uma nova perspectiva de análise levando-se em
consideração a influência do trincamento por fadiga sobre as camadas dos pavimentos, a presente
pesquisa realizou o dimensionamento dos trechos de rodovias através do MeDiNa, tendo como
referência as mesmas espessuras das camadas sugeridas por Benevides (2000), obtidas pelo
emprego do método da Resiliência COPPE/UFRJ.
O dimensionamento utilizando o MeDiNa avalia os dois principais defeitos experimentados por
pavimentos brasileiros, o trincamento por fadiga e a deformação permanente. Ressalta-se,
entretanto que as análises propostas no presente trabalho não comtemplam as informações de
deformação permanente para os trechos, pois não foi possível determinar a partir da pesquisa de
Benevides (2000) os coeficientes de regressão para o cálculo do afundamento de trilha de roda,
para os materiais granulares de base e subbase. Contudo essa análise é possível, no MeDiNa a
análise da fadiga é independente da verificação da deformação permanente.
Os trechos de rodovias foram dimensionados considerando dois cenários (i) análise da estrutura
sugerida por Benevides (2000) e (ii) dimensionamento sugerido pelo programa MeDiNa, quando
o critério de fadiga (30% de área trincada máxima) não foi atendido no primeiro cenário. Para
isso os valores dos módulos de resiliência dos materiais asfálticos e granulares, assim como os
coeficientes de regressão para o cálculo de área trincada, obtidos por Benevides (2000), foram
cadastrados na base de dados do MeDiNa e as simulações realizadas. Os resultados encontrados
expressam a porcentagem do trincamento por fadiga ao final do período de projeto.
Como critério para avaliar a viabilidade das alternativas propostas foi considerado o maior
número N equivalente para 30% de área trincada (Nf @ 30%AT) para as alternativas do trecho
da BR-116 (Fortaleza/Pacajus), contudo como as alternativas dos trechos da CE-040
(Messejana/Aquiraz) e CE-060 (Pajuçara/Pacatuba) alcançaram valores de fadiga menores que
30% foram considerados então numero N equivalente para 20% de área trincada (Nf @ 20%AT)
para o trecho da CE-040 e número N equivalente para 10% de área trincada (Nf @ 10%AT) para
o trecho da CE-060 (Pajuçara/Pacatuba).
Os resultados encontrados foram então comparados entre si, possibilitando-se assim a verificação
de quais alternativas de dimensionamento apresentam as melhores escolhas para o
aproveitamento mais eficiente dos materiais de pavimentação diante dos métodos analisados.
Sugestões para trabalhos futuros
- Realizar uma análise baseadas nos custos inerentes as várias soluções propostas pelo MeDiNa.
- Utilizar outros programas computacionais que considerem o desempenho do pavimento ao
longo da sua vida útil através da análise de outras variáveis.
CONCLUSÕES
O presente trabalho teve como principal objetivo comparar e avaliar os impactos na estrutura de
pavimentos pela utilização de diferentes métodos de dimensionamento de pavimentos asfálticos
utilizados no país, quais sejam: (i) Tradicional do DNER, (ii) Resiliência COPPE/UFRJ e (iii)
MeDiNa/DNIT. Para propiciar um maior entendimento dos detalhes das metodologias utilizadas
apresentou-se uma revisão da literatura. Após considerar os resultados obtidos, foi possível
delimitar as seguintes conclusões:
- O método empírico tradicional do DNER, apresenta claras limitações por basear-se
exclusivamente na capacidade de suporte dos materiais granulares construtivos do pavimento.
Limitando-se sua análise ao ensaio de CBR, o que pode ocasionar dimensionamentos imprecisos
levando o pavimento a ruptura precoce ou a determinação das espessuras das camadas muito
além do necessário, pelo superdimensionamento.
- O método da Resiliência COPPE/UFRJ propôs uma nova abordagem baseada na capacidade
resiliente dos materiais através da obtenção dos modelos de comportamento tensão-deformação
dos materiais de pavimentação. O referido método trouxe, portanto uma evolução na área da
pavimentação ao considerar a relação do módulo de resiliência na estrutura do pavimento.
- O MeDiNa impõe uma abordagem mecanístico-empírico para prever o comportamento da
estrutura do pavimento ao longo da sua vida útil, levando-se em consideração uma análise de
desempenho com ênfase nos dois principais defeitos recorrentes nos pavimentos brasileiros, o
trincamento por fadiga e a deformação permanente. O conhecimento sobre essas manifestações
patológicas influenciam diretamente na escolha de materiais de pavimentação mais adequados a
realidade das rodovias no país. A previsão sobre os impactos dessas patologias nos pavimentos
relaciona-se diretamente na construção de vias com maior qualidade que atendem de forma mais
satisfatórias seus usuários.
Por fim, ao comparar os três métodos de dimensionamento de pavimentos asfálticos adotados no
Brasil pôde-se verificar a versatilidade dos métodos mecanístico-empiricos. Os métodos da
Resiliência COPPE/UFRJ e MeDiNa possibilitam examinar o desempenho dos pavimentos pelas
várias alternativas de dimensionamento com nível de confiabilidade de até 95%, entretanto o
novo método de dimensionamento nacional permite uma análise mais próxima da realidade dos
pavimentos brasileiros ao verificar a evolução das principais manifestações patológicas
experimentadas nas vias do país.
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