• Depois de analisar os parâmetros para definir o tipo de pavimento,
sua equipe concluiu que o mais adequado para essa obra é o pavimento flexível. • Esse tipo de pavimento possui em sua camada superficial uma capa de rolamento, mais conhecida como revestimento, constituído por uma mistura asfáltica. • Para continuar o projeto, você deverá definir as características do revestimento asfáltico que será aplicado, como a espessura e a composição da mistura. • Quais os parâmetros que devem ser considerados na definição da espessura da camada de revestimento? Como determinar a composição da mistura asfáltica? Quais ensaios devem ser realizados? Revestimentos • Revestimento ou capa de rolamento é a camada que tem a função de receber diretamente os esforços provenientes do tráfego e transmiti-los às camadas inferiores, deve proporcionar uma superfície de rolamento confortável e segura para o tráfego e impermeabilizar o pavimento, protegendo a estrutura das intempéries (YODER; WITCZAK, 1975). • A seleção do tipo de revestimento deve considerar as características da região onde será executado o pavimento, como relevo e clima, assim como o tráfego (volume por tipo de veículos). • Segundo Abeda (2016), no Brasil, mais de 90% das vias foram pavimentadas com revestimento asfáltico na camada de rolamento. • O revestimento asfáltico é composto por uma mistura asfáltica, também denominado de mistura betuminosa ou de concreto asfáltico e até de massa asfáltica. • Fora do meio técnico, o revestimento é chamado de “asfalto”. • No Brasil, a mistura asfáltica mais empregada nos revestimentos dos pavimentos das vias, de tráfego médio a alto, é o concreto asfáltico (CA), de acordo com a norma 031 ES (DNIT, 2006), mais conhecido por CBUQ, concreto betuminoso usinado a quente. • O CA é uma mistura composta de agregados bem graduados, asfalto, material de enchimento (fíler), produzida a quente, em usina apropriada, devendo, também, ser espalhada e compactada a quente. • Em rodovias de baixo volume de tráfego, o tratamento superficial (TS) conforme norma 146 ES (DNIT, 2012a), norma 147 ES (DNIT, 2012b), norma 148 ES (DNIT, 2012c), foi muito utilizado em alguns estados, é um revestimento de pequena espessura, executado por espalhamento sucessivo de emulsão asfáltica e agregados, seguido de compactação. • Somente após o desenvolvimento de asfaltos modificados é que algumas misturas especiais começaram a ser aplicadas nos pavimentos brasileiros: stone matrix asphalt (SMA) - norma ET-DE-P00/031 (DER/SP, 2007), gap-graded - norma 112 ES (DNIT, 2009), microrrevestimento asfáltico - norma 035 ES (DNIT, 2005) e camada porosa de atrito (CPA) - norma 396 ES (DNER, 1999a). • De acordo com a disponibilidade dos materiais em cada região do país, outros tipos de misturas também podem ser adotados: pré- misturado a quente (PMQ) para camada porosa de atrito (CPA) - norma 396 ES (DNER, 1999b), areia-asfalto (AA) - norma 032 ES (DNIT, 2004) e pré-misturado a frio (PMF) - norma 153 ES (DNIT, 2010). • Areia asfalto é um mistura pouco utilizada, sendo empregada em locais onde existe escassez de agregados para mistura mais nobres. • O PMF é mais empregado em serviços de manutenção, como tapa- buracos e remendos. • Vale lembrar que cada tipo de mistura asfáltica apresenta características específicas de materiais, produção e aplicação, que devem ser atendidas de acordo com suas especificações e normas, sendo fundamental o controle tecnológico rigoroso em todas as etapas, desde a produção da massa em usina, como na construção da camada do revestimento. Espessura do revestimento asfáltico • Segundo Souza (1981), o Método de Projeto de Pavimentos Flexíveis do DNER fixa a espessura mínima de revestimento asfáltico que deve ser adotada com o objetivo de proteger a camada de base dos esforços impostos pelo tráfego, assim como evitar a ruptura do próprio revestimento por esforços repetidos de tração na flexão. • A Tabela 2.1 apresenta as espessuras mínimas recomendadas pelo DNER, em função do tráfego, representado pelo número “N” durante o período de projeto escolhido (SOUZA, 1981). Parâmetros de tráfego e coeficientes estruturais • Um dos principais fatores que influencia no dimensionamento da estrutura do pavimento é o tráfego. • As cargas que solicitam o pavimento durante a sua vida em serviço (vida útil) são representadas pela passagem das rodas dos veículos sobre a estrutura. • O tráfego que irá solicitar pavimento é representado pelo número “N”, número de operações dos eixos dos veículos, equivalente às solicitações do eixo padrão de 8,2 t durante o período de projeto. • Vale lembrar que, para definir o “N”, é preciso obter o volume por tipo de veículos, considerando as cargas por eixo, assim como o número de eixos correspondentes a cada tipo de veículo, conforme recomendado pelo manual de estudos de tráfego do DNIT (2006). • Se as cargas por eixo e o número de eixos não forem considerados, a previsão da solicitação do tráfego será provavelmente imprecisa, podendo causar ruptura do pavimento antes do final da sua vida útil, pois não é possível simular o efeito do tráfego sobre a estrutura do pavimento (DNIT, 2006). • Outro fator que influencia no dimensionamento da estrutura do pavimento é a resistência dos materiais que serão empregados em suas camadas, pois cada material apresenta resistência diferente. • Com base nos resultados da pista experimental da AASHO (PAVEMENT INTERACTIVE, 2017), o Corpo de Engenheiros do Exército Americano, USACE (United States Army Corpy of Engineers) definiu os valores de coeficientes estruturais, k, considerando o material granular como padrão, adotando k = 1,0. • Os diferentes materiais constitutivos do pavimento foram comparados com o material padrão, sendo definidos coeficientes de equivalência estruturais apresentados na Tabela 2.2. Misturas asfálticas e ensaios aplicados • Mistura asfáltica, também chamada de mistura betuminosa, de concreto asfáltico ou até mesmo de massa asfáltica, é composta da mistura de agregados e de asfalto. • Geralmente é utilizada na camada superficial de pavimentos rodoviários e aeroportuários (ODA, 2018a). • Segundo o NCHRP (2011), uma mistura asfáltica quando aplicada em camada superficial do pavimento (revestimento ou capa) deve apresentar as seguintes propriedades: • Resistência à deformação permanente (em temperaturas elevadas): a mistura não deve deformar ou ser deslocada quando submetida às cargas de tráfego. • Resistência à fadiga: a mistura não deve trincar quando submetida a cargas repetidas de tráfego num determinado período de tempo. • Resistência a trincas térmicas (a baixa temperatura): a mistura não deve trincar quando submetida a temperaturas baixas; esta propriedade é mais comum em regiões de clima frio. • Durabilidade: a mistura deve conter asfalto suficiente para garantir uma adequada espessura da película asfáltica em torno das partículas de agregados. A mistura compactada não deve ter vazios muito elevados, pois isso acelera o processo de envelhecimento. • Para produzir misturas asfálticas que atendam a essas propriedades, é fundamental utilizar um método de dosagem, que possibilite a seleção e avaliação de materiais (individualmente e também da mistura de materiais), assim como a definição das proporções de cada material. • A metodologia empregada para definir a quantidade de asfalto da mistura asfáltica engloba alguns ensaios essenciais para a dosagem da mistura asfáltica. • Agregados: granulometria; resistência ao desgaste por abrasão Los Angeles ME 383 (DNER, 1998a); densidades real e aparente e absorção ME 081 (DNER, 1998b); adesividade a produtos asfálticos (NBR 12583 (ABNT, 2017a) e NBR 12584 (ABNT, 2017b)). • Asfalto: viscosidade Saybolt Furol para asfaltos puros (NBR 14950 (ABNT, 2003)), viscosidade Brookfield para asfaltos modificados (NBR 15184 (ABNT, 2004)). Dosagem de mistura asfáltica • O projeto de dosagem tem como objetivo determinar a combinação de agregados minerais e asfalto de forma a produzir uma mistura asfáltica para ser aplicada em camadas de pavimentos flexíveis com as seguintes características (ASPHALT INSTITUTE, 2011): • Teor de asfalto adequado para garantir a durabilidade do pavimento. • Estabilidade da mistura para atender as solicitações de trafego sem se deformar. • Quantidade de vazios suficiente na mistura compactada para que a compactação final seja executada pelas cargas de tráfego e também pelo aumento de temperatura do pavimento, mas sem ocorrer exsudação ou perda de estabilidade. • Um volume máximo de vazios para evitar a “infiltração” de ar e de umidade na mistura. • Trabalhabilidade suficiente para permitir aplicação adequada da mistura, sem que ocorra segregação ou perda de estabilidade e de qualidade. • Textura do agregado adequada para que o pavimento apresente atrito (resistência à derrapagem) suficiente em condições climáticas desfavoráveis. Dosagem Marshall • O método de dosagem Marshall foi desenvolvido na década de 30, pelo engenheiro Bruce Marshall e tinha como objetivo determinar a quantidade ótima de asfalto para misturas asfálticas preparadas a quente para fins de pavimentação rodoviária. • O método foi adotado, durante a Segunda Guerra Mundial, pelo Corpo de Engenheiros do Exército Americano, USACE (United States Army Corpy of Engineers) para fins de dosagem e controle de qualidade de misturas asfálticas, preparadas a quente, para pavimentação de pistas de aeroportos militares. • Os resultados desses testes permitiram associar o desempenho dos pavimentos a determinados valores da estabilidade e da fluência Marshall, criando um novo critério para a avaliação das misturas asfálticas, em que a estabilidade da mistura asfáltica corresponde à medida da capacidade de suportar os carregamentos oriundos do tráfego sem sofrer deformações plásticas (permanentes e irreversíveis). • A compactação Marshall emprega um soquete com uma carga de 4,54 kgf e corpos de prova de 100 mm de diâmetro (NHCRP, 2011). • No Brasil, a norma ME 43 (DNER, 1995) recomenda que sejam aplicados 50 golpes para pressão de pneu até 7 kgf/cm² (tráfego leve a médio) e 75 golpes para pressão de 7 kgf/ cm² a 14 kgf/cm² (tráfego pesado). • Os parâmetros considerados na metodologia Marshall para determinar o teor de projeto (“teor ótimo”) de asfalto são: • Estabilidade, E: é a carga (kgf) sob a qual o CP rompe quando submetido à compressão diametral, ou seja, é resistência máxima do corpo de prova à compressão diametral. • Fluência, F: deformação total apresentada pelo CP de mistura asfáltica, desde a aplicação da carga inicial até a aplicação da carga máxima, expressa em décimos de milímetros ou centésimos de polegada. • Densidade máxima possível, d: garantir máxima estabilidade. • Volume de vazios, Vv: garantir que não ocorra oxidação (envelhecimento) da massa asfáltica pela ação da água e/ou ar, e que também não ocorra exsudação (excesso de asfalto). • Relação betume vazios, RBV: garantir que exista asfalto suficiente e que não ocorra exsudação. • Para determinar o teor de asfalto das misturas asfálticas por meio da metodologia Marshall, devem ser seguidas as normas: ME 43 (DNER, 1995) e NBR 15785 (ABNT, 2010). Roteiro de dosagem Marshall a) Seleção da Granulometria • O objetivo da seleção da granulometria é determinar as proporções de cada material, de forma que a mistura desses agregados proporcione uma curva granulométrica que atenda à faixa especificada, incluindo as tolerâncias e considerando que os materiais, individualmente, não satisfazem à especificação da mistura selecionada. • A seleção da granulometria da mistura de agregados pode ser feita aplicando um dos diversos métodos analíticos ou gráficos existentes, sendo que o mais comum é o “método das tentativas”, que consiste em determinar por meio de tentativa a quantidade de cada material de forma que a combinação atenda aos limites da especificação selecionada, de acordo com a seguinte equação: b) Determinação do teor de asfalto provável • Após a definição da curva granulométrica da mistura de agregados, deve-se determinar os teores de asfalto tentativos em torno de um teor provável, que podem ser determinados empregando o método da superfície específica dos agregados, desenvolvido por Duriez. • A superfície específica é inversamente proporcional ao diâmetro do agregado: quanto mais fino, maior será a superfície específica e maior o consumo de ligante. • No entanto, o consumo cresce em diferentes proporções, pois a espessura do filme asfáltico diminui com o diâmetro do agregado. • No Brasil, emprega-se a fórmula de Voigt, adaptação de Duriez, em função das peneiras correspondentes às especificações brasileiras, dada pela equação (ODA, 2018b): c) Determinação das temperaturas de mistura e compactação • Vale ressaltar que o principal parâmetro responsável pela qualidade do revestimento composto por uma mistura asfáltica a quente é a temperatura. • É fundamental a aplicação das temperaturas adequadas para a produção, aplicação e compactação de misturas asfálticas a quente para que o pavimento seja executado da forma possível que atenda às solicitações de tráfego durante toda sua vida útil. • A propriedade utilizada para caracterizar o comportamento dos asfaltos a altas temperaturas é a viscosidade, definida como a relação entre a tensão de cisalhamento aplicada e a taxa de deformação obtida. • No caso de misturas com asfaltos não modificados, os valores recomendados a partir do ensaio executado com equipamento Saybolt-Furol são aqueles correspondentes a viscosidade de 75 a 95 sSF para mistura e de 125 a 155 sSF para compactação e de 170 20 ± cP para a mistura, e de 280 30 ± cP para a compactação quando executado ensaio com equipamento Brookfield. • No caso de asfaltos modificados, os intervalos de temperaturas devem ser fornecidos pelo fabricante do produto, uma vez que geralmente não é informada a composição do produto e, dependendo do aditivo, as temperaturas devem ser mais elevadas. • d) Determinação do teor “ótimo” de asfalto Após a desmoldagem, os CPs (já frios) devem ser numerados e devem ser determinadas suas dimensões (altura e diâmetro). • Em seguida, os CPs devem ser pesados ao ar (seco) e imersos em um recipiente com água para determinação de sua densidade, d, empregando a seguinte equação. • Antes de ser submetido ao ensaio de compressão diametral, o CP deve ser colocado em banho-maria a 60ºC, por 40 minutos. • Em seguida, os CPs devem ser levados à prensa Marshall, sendo aplicada uma carga contínua de compressão diametral, a uma velocidade média de 2” (50,8 mm) por minuto, até o seu rompimento. • A carga máxima aplicada que provoca o rompimento do CP representa o valor da estabilidade Marshall (em kgf). • A deformação sofrida pelo CP até o momento da ruptura (deformação máxima) é a fluência, definida em 0,01” (centésimo de polegada) ou 0,1 mm (décimo de milímetro). • Em seguida devem ser determinados os outros parâmetros volumétricos dos CPs (ODA, 2018b). • Densidade máxima teórica, D, para cada teor de asfalto: • Volume de vazios (Vv ) para cada teor de asfalto: • A determinação do teor de projeto (“ótimo”) de asfalto pode ser feita de diversas formas. • Uma das formas é utilizando os parâmetros volumétricos e mecânicos, onde devem ser elaborados gráficos do teor de asfalto versus os parâmetros: E, F, d, Vv e RBV, onde o teor ótimo de asfalto é
possível. • No entanto, no Brasil, atualmente, se utiliza apenas o volume de vazios para determinar o teor ótimo de asfalto.