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POLÍTICAS CIGANAS NO BRASIL

E NA EUROPA
SUBSÍDIOS PARA ENCONTROS E
CONGRESSOS CIGANOS NO BRASIL

[segunda edição revista e ampliada]

Frans Moonen

RECIFE – 2013
Sumário

Apresentação ........................................................................................................ 3
1. Introdução ........................................................................................................ 4
1.1. “Ciganos” ................................................................................................. 4
1.2. A diversidade entre os ciganos .............................................................. 4
1.3. Ciganos ‘verdadeiros’ e ‘outros’ ciganos ............................................... 6
1.4. Clãs ciganos? Nação cigana? ................................................................ 8
1.5. Os fantásticos ‘ reis’ ciganos .................................................................... 8
1.6. ONGs ciganas e seus problemas ............................................................. 9
1.7. Os ciganos no Brasil ................................................................................. 11
2. Políticas ciganas no Brasil .................... .......................................................... 14
2.1. Os ciganos nas Constituições .................................................................. 14
2.2. As Conferências Nacionais de Direitos Humanos ................................... 15
2.3. As Conferências Nacionais de Promoção da Igualdade Racial ............... 16
2.3.1. Educação ....................................................................................... 17
2.3.2. Cultura ........................................................................................... 18
2.3.3. Saúde ............................................................................................. 18
2.3.4. Terra e habitação ........................................................................... 19
2.3.5. Trabalho e renda ............................................................................ 19
2.3.6. Segurança e justiça ....................................................................... 19
2.4. Propostas genéricas: quem fala em nome dos ciganos? ...................... 21
2.5. Vozes ciganas clamando no deserto ................................................... 29
3. Políticas ciganas na Europa ............................................................................. 36
3.1. Educação ................................................................................................ 37
3.2. Cultura .................................................................................................... 42
3.3. Língua ..................................................................................................... 44
3.4. Saúde ..................................................................................................... 46
3.5. Terra e habitação .................................................................................. 47
3.6. Trabalho e renda .................................................................................... 48
3.7. Segurança e justiça ............................................................................... 50
Referências bibliográficas .................................................................................... 54
I – Bibliografia citada ...................................................................................... 54
II – Documentos ............................................................................................. 55

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APRESENTAÇÃO. O capítulo 2 trata principalmente das propostas
ciganas das duas CONAPIRs, apresentadas nos
eixos temáticos (1) Educação, (2) Cultura, (3)
Saude, (4) Terra e habitação, (5) Trabalho e
Renda, (6) Segurança e Justiça.

Desde a Constituição Federal de 1988 alguns Além de propostas que tratam específicamente
documentos oficiais mencionam também os dos ciganos, foram apresentadas também 159
ciganos. Em 1992 o procurador Luciano Mariz propostas genéricas, nas quais os ciganos são
Maia, da Procuradoria da República na Paraíba, a citados como uma espécie de co-adjuvantes.
pedido do então senador Antônio Mariz, solicita ao Todas estas propostas, formuladas sem a
antropólogo Frans Moonen uma pesquisa sobre participação dos ciganos, falam de negros, índios,
violações aos direitos e interesses dos ciganos ciganos, comunidades tradicionais e de terreiro,
sedentarizados em Sousa, no sertão da Paraíba. quilombolas, LGBT, judeus, árabes, palestinos, e
Em 1994 o Ministério Público Federal cria a 6ª até hippies nômades. Se os ciganos assim o
Câmara de Coordenação e Revisão dos Direitos desejarem, algumas delas talvez possam
das Comunidades Indígenas e Minorias, inclusive futuramente ser apresentadas como propostas
das minorias ciganas. específicas.

Em 2000 o cigano Claudio Iovanovitch está No capítulo 3 são apresentados documentos


presente na V Conferência Nacional de Direitos ciganos e governamentais internacionais, que
Humanos, em Brasília, e apresenta propostas e podem subsidiar também audiências, encontros e
moções, de que resultam seis propostas ciganas congressos dos ciganos no Brasil. Na Europa
incluidas no 2º Programa Nacional dos Direitos surgiram organizações ciganas pouco após a II
Humanos (2º PNDH), de 2002. Guerra Mundial e hoje são mais de mil. Em muitos
países a problemática cigana tem sido debatido já
A grande virada veio em 2003 quando foi criada a há anos, por ciganos e não-ciganos.
SEPPIR – Secretaria Especial de Políticas de
Promoção da Igualdade Racial que, embora Usar este capítulo é relativamente simples. Nos
declaradamente criada “com ênfase na população documentos internacionais, muitas vezes basta
negra”, também passou a dedicar alguma atenção apenas modificar um pouco a frase. Por exemplo,
a outras minorias raciais e étnicas, como os a Recomendação 563/69, do Conselho da
ciganos. Desde então, ciganos e organizações Europa, “Recomenda ao Conselho dos Ministros a
ciganas passaram a frequentar eventos e criar ou a melhorar as possibilidades de formação
congressos organizados em Brasília, ou em seus profissional dos ciganos e dos nômades adultos
Estados e Municípios de origem. visando melhorar suas atividades profissionais”.
Se os brasileiros ciganos assim quiserem e
Ciganos estiveram presentes na 1ª CONAPIR – decidirem, bastaria escrever (apenas mais de 40
Conferência Nacional de Promoção da Igualdade anos depois!): “Recomendamos ao Governo
Racial, em 2005, e na 2ª CONAPIR, em 2009. Brasileiro, em especial ao Ministério da Educação,
Estiveram presentes em Grupos de Trabalho a criar ou a melhorar as possibilidades de
(GTs) em Brasília. E com certeza futuramente formação profissional dos ciganos e dos nômades
ainda estarão presentes em outros tantos adultos visando melhorar suas atividades
eventos. profissionais”. Em reuniões estaduais ou
Para as pessoas pouco familiarizadas com a municipais, bastaria recomendar o mesmo à
bibliografia ciganológica, este ensaio inicia com Secretaria de Educação estadual ou municipal. E
uma Introdução que, resumidamente, apresenta depois cobrar os resultados.
algumas partes de livros meus divulgados pela Muitas vezes, em algum documento internacional,
internet de 2000 a 2012. a proposta ou demanda já vem pronta, bem
formulada. Obviamente, nem tudo escrito no
exterior vale também no Brasil. Os problemas dos

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ciganos europeus não são necessáriamente 1. INTRODUÇÃO.
também os dos ciganos brasileiros. E os ciganos
estrangeiros podem pensar de maneira
completamente diferente dos ciganos brasileiros.
1.1. “Ciganos”.
Para maiores informações, veja Moonen, F, 2011
(http://dhnet.org.br/direitos/sos/ciganos/index.html) Não resta dúvida alguma que os ciganos são
e Moonen, F. 2012 (www.amsk.org.br). Ambos os originários da Índia, de onde sairam em
sites divulgam ainda outros ensaios sobre ciganos sucessivas ondas migratórias uns mil anos atrás.
no Brasil. No início do Século 15 migraram também para a
Europa Ocidental, onde quase sempre afirmavam
que sua terra de origem era o “Pequeno Egito”.
Hoje sabemos que esta era então a denominação
de uma região da Grécia, mas que pelos
europeus da época foi confundida com o Egito, na
África. Por causa desta suposta origem egípcia
passaram a ser chamados “egípcios” ou
“egitanos”, ou gypsy (inglês), gitan (francês),
gitano (espanhol), etc. Mas sabemos que alguns
grupos se apresentaram como gregos e
atsinganos, pelo que também ficaram conhecidos
como grecianos (espanhol antigo), tsiganes
(francês), ciganos (português), zingaros (italiano).
Na literatura a seu respeito ainda existem outras
denominações que em nada lembram a suposta
origem egípcia ou grega. Na Holanda e na
Alemanha sua denominação é Zigeuner. Na
França ficaram conhecidos também como
romanichel, manouches ou boémiens. Em vários
países foram confundidos com os tártaros,
mongóis da Sibéria e Ásia Central. Todos estes
termos são denominações genéricas que os
europeus naquele tempo deram a estes
misteriosos e exôticos imigrantes. Não consta
como os ciganos então se auto-identificavam.
1.2. A diversidade entre os ciganos.
Conforme vimos, “cigano” é um termo genérico
inventado na Europa do Século 15, e que ainda
hoje é adotado, apenas por falta de um outro
melhor. Os próprios ciganos, no entanto,
costumam usar autodenominações diferentes.
Hoje, os ciganos e os ciganólogos não-ciganos
costumam distinguir pelo menos três grandes
grupos:
1. Os Rom, ou Roma, que falam a língua romani;
são divididos em vários sub-grupos, com
denominações próprias, como os Kalderash,
Matchuaia, Lovara, Curara e.o.; são
predominantes nos países balcânicos, mas a

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partir do Século 19 migraram também para outros ainda conservam sua cultura e língua tradicional,
países europeus e para as Américas. a quase totalidade dos estudos ciganos trata de
ciganos Rom e praticamente nada se sabe dos
2. Os Sinti, que falam a língua sintó, são mais
outros grupos, Calon e Sinti.
encontrados na Alemanha, Itália e França, onde
também são chamados Manouch. O nomadismo, aparentemente maior entre os
Calon do que entre os Rom, pode ter dificultado
3. Os Calon ou Kalé, que falam a língua caló, os
pesquisas sobre sua língua e seus costumes, mas
“ciganos ibéricos”, que vivem principalmente em
não explica, nem justifica porque foram tão
Portugal e na Espanha, onde são mais
negligenciados pelos ciganólogos. San Roman
conhecidos como Gitanos, mas que no decorrer
(1979), por exemplo, informa que na Espanha
dos tempos se espalharam também por outros
ainda não foram realizadas intensivas pesquisas
países da Europa e foram deportados ou
históricas e antropológicas sobre os ciganos
migraram inclusive para a América do Sul.
Calon, naquele país quase todos há muito tempo
Estes grupos e dezenas de sub-grupos, cujos sedentários. Na França a situação não é diferente:
nomes muitas vezes derivam de antigas segundo Liégeois (1987), o grupo Rom, naquele
profissões (Kalderash = caldeireiros; Ursari = país com apenas alguns milhares de membros, é
domadores de ursos, e.o.) ou procedência praticamente o único estudado, enquanto as
geográfica (Moldovaia, Piemontesi, e.o.), não dezenas de milhares de ciganos Sinti (Manouch) e
apenas têm denominações diferentes, mas Calon são ignoradas, fato que reforça ainda mais
também falam línguas ou dialetos diferentes. a imagem dos ciganos Rom da Europa Oriental
Desde o Século 15III costuma-se atribuir aos como ciganos ‘autênticos’.
ciganos apenas uma única língua, comum a
Este “rom-centrismo”, dos próprios ciganos e dos
todos, a língua romani, parcialmente de origem
ciganólogos, faz Acton falar até de “romólogos”
indiana, embora tenha também inúmeras palavras
que, em lugar de analisarem as diferenças entre
de origem persa, turca, grega, romena e de outros
os grupos ciganos, apresentam um modelo ideal
países por onde passaram. Na realidade, já então
como se os ciganos formassem uma totalidade
os ciganos falavam várias línguas ou dialetos que,
homogênea. Segundo este sociólogo,
apesar de aparentemente terem uma origem em
comum, hoje apresentam profundas variações “A grande falha da literatura sobre ciganos, oficial e
regionais que tornam uma comunicação cigana acadêmica, é a supergeneralização; observadores
internacional na prática impossível. Algo têm sido levados a acreditar que práticas de grupos
semelhante à atual comunicação entre francêses, particulares são universais, com a concomitante
italianos, espanhois, portugueses e brasileiros, sugestão que [os membros de] qualquer grupo que
que todos falam línguas derivadas do Latim: não têm estas práticas não são ‘verdadeiros
muitas palavras podem ser entendidas por todos, ciganos’” (Acton 1974: 3; 1989: 89).
principalmente quando escritas, mas a Ou seja: a cultura rom passa a ser considerada a
comunicação verbal na maioria das vezes é difícil, ‘autêntica’ cultura cigana, a cultura ‘modelo’. E
quando não impossível. Segundo Fraser (1992) quem não falar a língua como eles, quem não
não existe um romani padronizado, único, mas tiver os mesmos costumes e valores ..... , bem,
somente na Europa os ciganos falariam cerca de estes só podem ser ciganos de segunda ou
60 ou mais dialetos diferentes. terceira categoria, ciganos espúrios, inautênticos,
De todos os ciganos, os Rom são os mais quando não falsos ciganos.
estudados e descritos. Isto porque estes ciganos, Queremos aqui deixar bem clara a enorme
e entre eles principalmente os Kalderash e os diferenciação que existe entre os ciganos, mesmo
Lovara - inclusive no Brasil - , costumam entre os ciganos de um determinado país ou
considerar-se a si próprios ‘ciganos autênticos’, região, para que sejam evitadas levianas
‘ciganos nobres’, e classificar os outros apenas generalizações que normalmente são mais
como ‘ciganos espúrios’, de segunda ou terceira prejudicais do que benéficas para as minorias
categoria. Como antropólogos e linguistas tendem ciganas. Nas palavras de Acton:
a estudar de preferência povos “autênticos”, que

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“[Os ciganos] são um povo extremamente desunido Ao chegarem na Europa Ocidental, no início do
e mal-definido, possuindo uma continuidade, em Século 15, os ciganos ainda podiam facilmente
vez de uma comunidade, de cultura. Indivíduos que ser identificados através de sua aparência física,
compartilham a ascendência e a reputação de sendo a característica mais marcante a sua pele
‘cigano’ podem ter quase nada em comum no seu escura. Hoje isto já não é mais possível. Apesar
modo de viver, na cultura visível ou na língua. Os da ideologia da endogamia, casamentos com não-
ciganos provavelmente nunca foram um povo ciganos sempre ocorreram, de modo que em
unido” (Acton 1974: 55). muitos países hoje os ciganos fisicamente não se
Desconhecemos estudos detalhados sobre as distinguem da população gadjé nacional. Ciganos
diferenciações entre ciganos em países ‘racialmente puros’ hoje não existem mais em
específicos (por exemplo, entre Kalderash e Calon canto algum do mundo, e nunca existiram, porque
no Brasil), mas é mais do que provável que em nunca existiu uma ‘raça’ cigana. Impossível,
todos os países existam ciganos ricos e pobres, portanto, identificar os ciganos através de
conservadores e progressistas, analfabetos e características físicas peculiares ou estabelecer
outros com diplomas universitários, politicamente ‘critérios biológicos de ciganidade’.
passivos ou ativos, nômades e sedentários. Classificar como ‘verdadeiros’ ciganos todos
Inclusive no Brasil. aqueles que falam uma língua cigana também não
1.3. Ciganos ‘verdadeiros’ e ‘outros ciganos’. adianta, porque muitos ciganos já não a falam
mais e outros a dominam muito mal. Muitos
Muitos ciganólogos têm observado que os ciganos
autores, de várias partes do mundo, afirmam que
Rom, e entre eles em especial os Lovara e os
mesmo entre si os ciganos costumam falar a
Kalderash, costumam auto-classificar-se como
língua do país em que vivem e que a língua
ciganos “autênticos”, “verdadeiros”, “nobres”,
cigana, na maioria das vezes, costuma ser usada
“aristocratas”, de primeira categoria, sendo todos
apenas ocasionalmente, quando necessário. San
os outros apenas ciganos “espúrios” ou “falsos”
Román, por exemplo, informa que na Espanha,
ciganos.
“excluindo os ciganos nômades, poucos conhecem
Infelizmente, esta atitude discriminatória (dos [a língua] caló, e recorrem a ela principalmente na
próprios ciganos) é assumida também por muitos presença de payos [a palavra espanhola para não-
gadjé (não-ciganos) que realizam estudos ou ciganos] que desejam enganar, e dos quais querem
trabalhos práticos entre os ciganos, ou por distinguir-se. (...) [A língua caló] não é tanto um
legisladores ou membros de organizações meio de comunicação, mas antes um meio para
ciganas e pró-ciganas. Sabendo disto, muitos excluir os payos dos assuntos ciganos. Entre si
ciganos se dizem Rom, ou Kalderash, embora falam espanhol” (San Roman 1979: 171, 191).
sem nunca ter sido.
Características culturais exóticas, visíveis
Mas como se isso não bastasse, os ciganos ainda externamente, também não servem mais para
se discriminam mutuamente também por outro identificar os ciganos, pelo simples fato de que os
motivo: os ciganos sedentários muitas vezes ciganos não têm, e provavelmente nunca tiveram,
olham com desprezo para os ciganos nômades uma cultura única. Um exemplo, entre muitos
que persistem nesta vida “primitiva”, enquanto os outros possíveis, é o vestuário.
nômades acusam os sedentários de terem
Os homens ciganos, ao que tudo indica, nunca
abandonado as tradições e com isto terem
tiveram uma roupa ‘típica’, a não ser às vezes um
deixado de ser ciganos.
imaginário ‘vestuário cigano’, mas apenas no meio
E com isto surgem intermináveis debates, entre os artístico. Por isso, em quase todo mundo os
ciganólogos, sobre quem é cigano autêntico e ciganos usam a mesma roupa dos gadjé do país
quem não é. Debates, por sinal, estéreis, porque em que vivem, a não ser nas ocasiões em que é
definir quem é e quem não é cigano é, de fato, necessário ou útil ser reconhecido como cigano.
uma tarefa impossível porque não existem Este vestuário ‘cigano’ varia de país para país, de
critérios objetivos universalmente aceitos ou acordo com a imagem que a população nacional
aceitáveis. ou local tem dos ‘ciganos’.

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Muitas mulheres ciganas ainda usam longas identificados pelos gadjé como ciganos, não
saias, além de jóias de ouro e prata, mas apresentavam nenhuma das características
inúmeras outras não. Inclusive porque é sempre normalmente atribuídas aos ciganos: viviam em
mais difícil possuir este tipo de joias. Muitas vezes casas, frequentavam lojas, hospitais, cinemas,
mulheres ciganas e não-ciganas que se dedicam como os outros espanhois, dos quais fisicamente
a atividades esotéricas costumam fantasiar-se de em nada se distinguiam; falavam apenas
‘cigana’ conforme os estereótipos existentes na espanhol e não tinham atividades profissionais
região, o que atrai mais clientes. Porque neste especiais, tipicamente “ciganas”. Ou seja:
caso, mais importante do que ser, é parecer nenhuma característica exterior possibilitava a
cigana, de preferência Kalderash. E para parecer identificação destes “ciganos” de Zaragoza, que
uma cigana, somente usando um estereotipado não tinham tradições, valores, ideologias, rituais,
vestuário cigano, nem que seja uma fantasia culinária ou outras características culturais
carnavalesca. Para quem quiser, na internet próprias. Mesmo assim se identificavam e eram
existem sites que vendem roupas e outras coisas identificados como ciganos (citada em Willems
supostamente ciganas. 1995: 7).
Uma das características sempre atribuídas aos Quem é então cigano? Dizer, como faz Acton
ciganos tem sido seu nomadismo, sua vida (1974), que cigano é “toda pessoa que
errante, de modo que muitas vezes ciganos são sinceramente se identifica como tal” não é uma
identificados como nômades, e vice-versa. No definição satisfatória, por ser unilateral, porque a
Reino Unido, para fins legais, os juizes da identidade étnica, da mesma forma como a
Suprema Côrte concluiram em 1967 que cigano identidade nacional, é bilateral e exige também
era “uma pessoa que leva uma vida nômade sem que o grupo étnico, ou a nação, reconhece o
emprego fixo e sem domicílio fixo”. Logo depois, a indivíduo como membro. A questão é bastante
Caravan Sites Act de 1968 definiu ciganos como complexa porque, como lembra Willems (1995),
“pessoas com um modo de vida nômade, “em princípio estão envolvidos quatro partes: os
qualquer que seja sua raça ou origem, excluindo definidos, isto é, os ‘ciganos’, as autoridades
artistas viajantes ou pessoas que trabalham em (Igreja e Estado), os cientistas e o povo”. Cada
circos viajantes” (Fraser 1992). Ambas as uma destas partes pode ter opiniões e definições
definições jurídicas são totalmente errôneas, diferentes sobre quem é ou não é cigano.
porque na Europa, e inclusive no Reino Unido,
Apesar de todas estas dificuldades, baseando-nos
vivem centenas de milhares de nômades que não
na definição antropológica de índio adotada no
são ciganos, não se identificam e nem querem ser
Brasil, definimos aqui cigano como cada
identificados como ciganos. E sabe-se que, por
indivíduo que se considera membro de um
motivos diversos, hoje apenas uma minoria cigana
grupo étnico que se auto-identifica como Rom,
é nômade. Por isso, para alguém ser um
Sinti ou Calon, ou um de seus inúmeros sub-
‘verdadeiro’ cigano, não há porque exigir que ele
grupos, e é por ele reconhecido como
tenha uma vida nômade. Ciganos nômades ainda
membro. O tamanho deste grupo não importa;
existem, mas muitos hoje são semi-nômades ou
pode ser até um grupo pequeno composto de uma
sedentários: os nômades viajam regularmente, os
única família extensa; pode também ser um grupo
semi-nômades (ou semi-sedentários) viajam
composto por milhares de ciganos. Nem importa
somente durante parte do ano e ficam em
se este grupo mantém reais ou supostas tradições
acampamentos fixos ou em casas e apartamentos
ciganas, se ainda fala fluentemente uma língua
durante o resto do tempo; os sedentários
cigana, ou se seus membros têm características
deixaram de viajar por completo ou viajam
físicas supostamente ‘ciganas’.
dificilmente, mas nem por isso deixaram de ser
ciganos. Quanto à suposta autenticidade e aristocracia dos
Kalderash ou Lowara, subscrevemos a afirmação
Um caso talvez raro, mas que certamente não
de Williams (1989) que considera inadmissível a
será o único no mundo, são os ciganos que a
distinção entre ‘verdadeiros’ ciganos, aos quais se
antropóloga Kaprow encontrou em Zaragoza, na
atribui uma origem exótica e riqueza cultural, e ‘os
Espanha. Embora auto-identificados e
outros’, que seriam apenas marginais no mundo

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cigano. Ou seja: não existem ciganos autênticos e de pessoas com território próprio, com um
ciganos espúrios: os Rom, Sinti e Calon possuem governo próprio, às vezes (mas nem sempre) com
inúmeras auto-denominações, falam centenas de língua, cultura, organização social e econômica
linguas ou dialetos, têm os mais variados diferenciadas de outras nações. Em parte alguma
costumes e valores culturais, são diferentes uns do mundo existe uma nação cigana.
dos outros, mas nem por isso são superiores ou Romanesthàn, imaginada por meia dúzia de
inferiores uns aos outros. ciganos europeus, seria uma nação transnacional
e sem território próprio. Algo bem diferente, por
Em comum todos eles têm apenas uma coisa:
exemplo, seria, dentro da República Federativa do
uma longa História de ódio, de perseguição, de
Brasil, imaginar um Reino chamado Mirianesthàn.
discriminação pelos não-ciganos, em todos os
países por onde passaram, desde o seu 1.5. Os fantásticos “reis” ciganos.
aparecimento na Europa Ocidental, no início do
No Século 20 surgem alguns autoproclamados
Século 15.
reis ciganos. Muito conhecida ficou a folclórica
1.4. Clãs ciganos? Nação cigana? dinastia Kwiek (ou Kwieck), que produziu vários
“reis” com alguma fama internacional. Segundo
No Brasil é comum ciganos e não-ciganos falaram
Ficowski:
de “clãs ciganos”. A advogada, cartomante e
putativa ‘rainha cigana’ Mirian Stanescon, por “Cada aspirante ao trono cigano agia não somente
exemplo, em sua cartilha afirma que os ciganos nos seus próprios intereses, mas também para
são divididos em sete clãs: Kalderash, Moldowaia, consolidar e reforçar a posição de seu grupo
Sibiaia, Roraranê, Hitalihiá, Mathiwia e Kalé familiar. (...) Com isto abriam-se para estes
(Stanescon 2007: 8, 13, 35). Não é bem assim. pretensos reis ciganos kalderash muitas
Basta consultar um bom dicionário ou um manual oportunidades para oprimir e explorar seus
de antropologia. O dicionário Novo Aurélio Século súditos, enquanto o aparelho estatal de segurança,
19, por exemplo, informa: em teoria, obtinha a possibilidade de investigar
mais eficazmente a sociedade cigana e controlar
“Clã: S. m. 1. Nas sociedades teutônica e mais facilmente seu comportamento criminal. (...)
escocesa, designação original de tribo constituída O trono cigano tornou-se extremamente lucrativo, e
de famílias de ascendência comum. 2. Antrop. por isso as disputas dinásticas – a luta pelo cetro –
Unidade social formada por indivíduos ligados a um tornaram-se extremamente violentas. Às vezes
ancestral comum por laços de descendência existiam dois reis governando simultâneamente,
demonstráveis ou putativos.....” (1999: 482). um combatendo implacavelmente o outro, dando
entrevistas enganosas e fazendo acusações falsas
Um exemplo de clã é um tal chamado McDonald,
contra seu rival. Alguns até reivindicavam ser os
que se especializou em vender comida pouco
governantes de todos os ciganos da Europa”
saudável. No Maranhão costuma se falar do clã (1990:35).
político Sarney. No Brasil, quando muito pode se
falar do clã cigano Stanescon (Rio de Janeiro), ou Também Yoors, um gadjé belga que, ainda jovem,
do clã cigano Iovanovitch (Curitiba), entre outros conviveu uns dez anos com os ciganos na década
tantos mais. Todos os dicionários e manuais de de 30, escreveu sobre o assunto:
antropologia deixam claro que os ciganos Rom, “O Rei era apenas um chefe fictício com
Sinti ou Calon, Kalderash, Moldowaia ou absolutamente nenhuma autoridade. Sua função,
Mathiwia, não constituem clãs, mas grupos ou se é que tinha alguma, era intermediar entre a
sub-grupos étnicos. polícia local e o Kapo, que era o chefe real da
Também não é verdade que os ciganos comunidade. (...) Para explicar melhor, um cigano
constituem “uma nação dentro de outra nação”, comparou os reis com aqueles homens imponentes
que se vê nas cidades, vestindo uniformes
como afirma Stanescon (2007: 35). Ela deveria
coloridos com galões dourados, parecendo e se
saber que os ciganos nascidos no Brasil –
comportando como generais de exército, mas que
provavelmente a totalidade dos brasileiros ciganos na realidade são apenas porteiros de luxuosos
– são cidadãos brasileiros, e se consideram como hotéis ou cabarés” (Yoors 1987:113-5).
tais. Uma nação é uma unidade política, um grupo

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Apesar de não ter a mínima utilidade para os 1.6. Organizações não governamentais
ciganos brasileiros, não podemos deixar de ciganas e seus problemas.
mencionar pelo menos uma dinastia com utópicas
No Brasil, a primeira ONG cigana foi o Centro de
pretensões “reais” também no Brasil. A revista
Estudos Ciganos, no Rio de Janeiro, criado em
avulsa “Magia Cigana”, de 1992, apresenta um
1987 por um pequeno grupo de ciganos e não-
retrato multicolorido da “família real por herança”
ciganos, e presidido pelo músico cigano Mio
Stanescon, obviamente kalderash, e com
Vacite. Foi extinto em 1993, mas já em 1990 o
pretensões de perpetuar esta sua “realeza”
dissidente Mio Vacite tinha criado a União Cigana
dourada. Segundo a revista:
do Brasil, que existe até hoje. Apesar do nome, é
“No final do século passado, o Rio de Janeiro uma ONG familiar e não representa todos os
recebia um cigano da tribo kalderash chamado ciganos do Brasil. Depois surgiram outras ONGs
Nicolas Stanescon (ou Rhitsa). Ele vinha chefiando ciganas: Associação de Preservação da Cultura
cerca de sessenta famílias e mais tarde, na época Cigana, no Paraná; Associação Brasileira dos
da II Guerra, trouxe outras 35. Respeitado por seu Ciganos no Paraná; Centro de Estudos e Resgate
povo, tornou-se uma espécie de rei – um prestígio da Cultura Cigana, em São Paulo; Coletivo de
que, ao morrer, transferiu à esposa, Yordana. Ciganos Calon do Brasil, em São Paulo; Phralipen
Dessa forma começava uma fase de lideranças Romani – Embaixada Cigana do Brasil,
femininas no clã comandado pelos Stanescon, que
Associação de Apoio e Divulgação da Cultura
perdura até hoje. Com a morte de Yordana,
Cigana de Ribeirão Preto. Recentemente surgiram
considerada uma rainha, o “poder” passou para a
sua filha mais velha, Lhuba Stanescon, que ainda o
a Associação Cigana da Etnia Calon do Distrito
exerce. Mas já tem herdeira certa: a filha mais Federal, a Associação dos Ciganos de
velha, Mirian Stanescon Batuli Siqueira ......... “ . Pernambuco, no Recife, além de outras ONGs
mais.
A “rainha” Lhuba faleceu, e assim sendo a sua
filha Mirian Stanescon, que já se apresentava Como na Europa, quase todas estas ONGs são
como “Princesa Cigana”, passou a ser a do tipo “de uma pessoa” ou “de uma família” só,
autoproclamada “Rainha de todos os ciganos do embora costumem acrescentar, além de parentes,
Brasil”. Só que a cerimônia de coroação ainda não também os nomes de alguns amigos, ciganos ou
ocorreu, e nunca vai ocorrer. Entre os ciganos, não-ciganos. Algumas destas ONGs funcionam
hoje Mirian Stanescon é conhecida como “a basicamente como promotores de eventos
putativa rainha cigana do Brasil”: parece ser, e culturais; outras pretendem ser ONGs políticas,
afirma ser, mas não é, e nunca será. No Brasil, para promover melhorias econômicas, sociais,
falar de “rainhas ciganas” é como falar de cachaça educacionais e outras, além de fazer denúncias e
sem álcool. reclamar direitos. Como na Europa, uma parte
visa apenas obter benefícios, financeiros e outros,
Não há registro de que estes autoproclamados para si e sua família. Os problemas enfrentados
reis e rainhas do clã Stanescon tenham feito algo pelas ONGs ciganas brasileiras são os mesmos
em benefício de ciganos brasileiros, a quase das ONGs ciganas na Europa, citados por vários
totalidade dos quais ignora por completo a autores.
existência desta “realeza” brasileira, que existe
apenas na fantasia da própria “rainha” e de seus a) Fraca identidade cigana. Segundo Barany
familiares. E que, infelizmente, é levada a sério (2002), quanto mais homogêneo o grupo étnico,
pelas autoridades políticas em Brasília. Daqui a maior a possibilidade de seu fortalecimento étnico.
50 anos, algum ciganólogo talvez pergunte: E quanto mais heterogêneo, por causa de
“naquele tempo isto era assunto sério ou apenas diversidade geográfica, cultural, linguística e
piada de mau gosto?” Para os leitores de hoje, a outras, mais fraca será a identidade étnica. Os
resposta deve ser óbvia. ciganos, comprovadamente e há séculos, são
heterogêneos e têm uma identidade étnica fraca,
ou até inexistente. Não somente são odiados
pelos não-ciganos, mas muitas vezes até odeiam-
se mutuamente, conforme provam inúmeros

9
documentos. Inclusive no Brasil. Aqui vale mais falados vários dialetos ciganos diferentes. Não
uma vez lembrar a afirmação de Acton que existe uma ‘língua geral’ cigana/romani.
“[Os ciganos] são um povo extremamente desunido No Brasil, um Rom não entenderá o que está
e mal definido .... Indivíduos que compartilham a falando um Calon, e vice-versa. E um Calon do
ascendência e a reputação de ‘cigano’ podem ter Sul provavelmente não entenderá seu colega
quase nada em comum no seu modo de viver, na Calon do Nordeste. Mas isto não é nenhum
cultura visível ou na língua. Os ciganos problema porque, num eventual encontro
provavelmente nunca foram um povo unido” (1974: nacional, todos os ciganos falam, além de sua
55). língua cigana (quando ainda a falam!), também o
Num povo desunido dificilmente pode-se esperar português.
ONGs nacionais. No caso dos ciganos, inclusive e) Rivalidade e competição. Também entre os
no Brasil, as ONGs, portanto, costumam ser ciganos existe o problema universal de
familiares ou locais, quando muito regionais. rivalidades, ciúmes e competição entre as
Mesmo aquelas ONGs que se dizem “nacionais” lideranças, conforme testemunha o professor
nunca representam todos os ciganos de um país. universitário cigano Hancock:
b) O problema da auto-identificação. Na Europa "Já se disse mais de uma vez que o maior
os grupos ciganos têm inúmeras auto- problema é falta de gente suficientemente educada
identificações, e até em países pequenos podem entre nós para organizar as coisas. Isso não é
existir uma dezena ou mais auto-identificações verdade; existem, sem dúvida, suficientes roma
diferentes. Unir estes grupos em uma organização educados e preocupados para realizar a tarefa. O
só, muitas vezes é impossível. No Brasil o número problema é [que] por alguma razão [somos
de auto-identificações é menor – de um lado os levados] a querer atrapalhar em vez de ajudar
Rom e seus vários sub-grupos como os aqueles de nós que estão progredindo. Como
Kalderash, Lovara, Macwaia, Hohorané e outros, caranguejos dentro de um balde, quando alguém
e do outro lado os Calon (e alguns poucos Sinti). tenta subir para fora, os outros o agarram e puxam
Entre estes grupos podem existir rivalidades e para baixo" (citado em Fonseca 1996: 331).
conflitos quase intransponíveis, chegando alguns O problema se agrava quando entra em jogo a
grupos Rom até a negar a ciganidade dos Calon. competição para a obtenção de recursos
Difícil é imaginar, no Brasil, uma “União Nacional financeiros. Uma faca de dois gumes. É
dos Calon e Rom”. indubitável que existem ciganos ricos, mas em
c) A grande dispersão geográfica dos ciganos, geral eles são pobres, incapazes de
não somente na Europa, mas também no Brasil, autosustentarem ONGs ciganas. Portanto, os
país de tamanho continental. Quanto maior a recursos financeiros devem vir de fora. Conflitos
dispersão geográfica, mais difícil será unir os internos podem surgir (na realidade, sempre
diversos grupos ciganos. No Brasil os ciganos do surgem) quando estas organizações passam a
Sul não conhecem os do Norte e do Nordeste, e receber recursos financeiros de entidades não-
vice-versa. E nem o número dos seus telefones ciganas civis, religiosas ou governamentais.
(celulares) ou emails, se tiverem. Reunir Acusações de apropriação indébita ou de
representantes de todas as áreas e de todos os corrupção serão quase inevitáveis. Inclusive no
grupos, por exemplo num Encontro Nacional, é Brasil.
praticamente impossível, por causa das grandes f) Liderança e organização. As lideranças
distâncias, e consequente alto custo de transporte ciganas sempre foram a nível familial ou grupal e
e hospedagem. nunca tiveram uma organização política a nível
d) Língua e comunicação. A diversidade regional, nacional, e menos ainda internacional.
linguística entre os ciganos é enorme, o que torna Mesmo os folclóricos autoproclamados "reis"
uma efetiva comunicação internacional entre os ciganos, que de vez em quando ainda teimam em
ciganos praticamente impossível. Mesmo a nível aparecer (até no Brasil!) nunca tiveram poder real
nacional, regional e local muitas vezes são algum e só costumam ser levados a sério apenas

10
pelos gadjé (não-ciganos), mas nunca pelos Brasil, nem se depois dos cinco anos voltou para
próprios ciganos. Portugal, algo pouco provável. Ou seja, nada se
sabe do destino dele e de sua família. É possível
Barany informa que na Europa Central o número
que ele nunca tenha chegado ao Brasil, e que
de ONGs ciganas aumentou enormemente após
outros ciganos tenham chegado antes dele.
1989. Um dos motivos deste aumento seria o fato
de os ativistas ciganos não gostarem de dividir A deportação de ciganos portugueses para o
poderes, nem recursos financeiros obtidos de Brasil, ao que tudo indica, só começou mesmo a
fontes externas. Quase todos preferem ocupar um partir de 1686. Dois documentos portugueses
lugar de liderança, e ficar com os recursos obtidos daquele ano informam que os ciganos deviam ser
para si, o que só é possível criar a sua própria degredados para o Maranhão. Mas também
ONG, na qual então passarão a ocupar o cargo de outras capitanias receberam ciganos. Mello
“presidente” ou “diretor”. Barany acresenta que, Moraes Filho (1981) cita dois documentos de
segundo líderes ciganos húngaros, muitas destas 1718, segundo os quais ciganos foram
ONGs que se proclamam “nacionais”, na degredados para Pernambuco e a Bahia.
realidade são ONGs familiares, fundadas apenas Também há registro de ciganos no Ceará e em
por ganância financeira, ou são apenas ONGs Sergipe.
fantasmas (Barany 2002: 206-7).
Em Minas Gerais a presença dos ciganos é
g) Inexistência de programas. As ONGs ciganas registrada desde o início do Século 15III e, como
não costumam apresentar programas de ação. E sempre, são considerados indesejados. Um
mesmo quando existem, em geral são bastante documento de 1723, de Vila Rica (hoje Ouro
vagos e genêricos, como “preservar e divulgar a Preto) informa que “pelo descuido que houve em
cultura cigana”, “promover o bem-estar da alguma das praças da Marinha vieram para estas
comunidade cigana”, “representar os interesses Minas várias famílias de ciganos”, e manda
ciganos” e outros semelhantes. Dificilmente terão prender todos eles e remeter para o Rio de
algo em comum, porque infelizmente existe uma Janeiro, de onde então seriam deportados para
enorme variedade de problemas, aspirações e Angola. Além disto, qualquer cidadão podia
interesses familiares, locais, regionais ou prender ciganos e entregá-los na cadéia mais
nacionais: o que uma família ou grupo, ou os próxima, podendo a pessoa tomar-lhes todos os
ciganos de determinado país podem achar bens, ouro, roupas ou cavalos. E como tudo que é
importante, pode não ter o mínimo interesse para ruim só podia ser de origem cigana, houve quem
os outros, e os problemas de um não precisam suspeitasse que a epidemia de varíola que
ser, e quase nunca são, também os problemas naquele ano grassava em Minas Gerais tinha sido
dos outros. trazido pelos ciganos (Dornas Filho 1948).
1.7. Os ciganos no Brasil. Em 1726 há notícia de ciganos em São Paulo,
quando foram solicitadas medidas contra ciganos
a) A deportação de ciganos calon para o
que apareceram na cidade e que eram
Brasil.
“prejudiciais a este povo porque andavam com
Os primeiros ciganos que desembarcaram no jogos e outras mais perturbações”, pelo que
Brasil foram oriundos de Portugal. Não vieram tiveram que abandonar a cidade dentro de 24
voluntariamente, mas deportados daquele país. horas, sob pena de serem presos. E em 1760 os
Foi o que aconteceu, por exemplo, em 1574 com vereadores de São Paulo deram um prazo de 24
um certo João de Torres que inicialmente foi horas para um bando de ciganos que tinham sido
condenado às galés. Mas, a seu pedido, a pena expulsos de Minas Gerais sairem da cidade
foi mudada para “cinco anos para o Brasil, onde (China 1936).
levará sua mulher e filhos”. Por causa disto João
Ou seja, trata-se da velha política de “mantenha-
de Torres sempre é citado como o primeiro cigano
os em movimento”: Minas Gerais expulsa seus
a entrar no Brasil. Mas não se sabe se ele
ciganos para São Paulo, que os expulsa para o
realmente embarcou, se aguentou a longa viagem
Rio de Janeiro, que os expulsa para o Espírito
marítima, ou se chegou ao seu destino, nem
Santo, que os expulsa para a Bahia, de onde são
aonde desembarcou, nem quanto tempo ficou no

11
expulsos para Minas Gerais, etc. Ou seja, o referência a ciganos, “uma coletividade de
melhor lugar para os ciganos sempre é no bairro, excêntricos”, oriundos de países balcânicos.
no município ou no Estado vizinho; ou então no
Os dados históricos até hoje disponíveis sobre
país vizinho ou num país bem distante.
ciganos no Brasil são poucos, porque, até
China (1936) dedica pouco mais de quarenta recentemente, os historiadores brasileiros nunca
páginas aos ciganos no início do Século 20, deram a mínima importância para a História
tratando Estado por Estado, baseando-se em Cigana. O pior, no entanto, é que, quando existem
notícias de jornais e em informantes. As notícias pesquisas históricas, se trata de dados
invariavelmente parecem ser tiradas das páginas enviesados, distorcidos pela visão etnocêntrica
policiais, nas quais os ciganos são apresentados dos informantes e dos próprios historiadores. Na
como criminosos, ladrões, velhacos etc., e as realidade, os documentos contam mais sobre os
ciganas como “bruxas” e trambiqueiras que preconceitos dos não-ciganos do que sobre a
enganam o povo praticando a quiromancia, História dos Ciganos no Brasil, que continua
roubando etc. praticamente incógnita.
A quase totalidade destas informações Quase todos os brasileiros ignoram, por exemplo,
absolutamente nada acrescenta à ciganologia que já tiveram um Presidente cigano, ou
brasileira, porque apenas repete velhos descendente de ciganos, o Presidente Juscelino
estereótipos e denúncias de indivíduos que Kubitschek, o JK.
tentaram enganar os ciganos mas foram por eles
c) População cigana no Brasil.
enganados, ou por pessoas que nunca tiveram
contato pessoal com ciganos. Não existem dados sobre o número de ciganos no
Brasil atual, nem sobre a sua distribuição
b) A imigração de ciganos rom da Europa do
geográfica. Os censos demográficos brasileiros
Leste.
nada informam sobre ciganos ou indivíduos que
Sem dúvida alguma, já no início do Século 20 são identificados ou se auto-identificam como tais,
viviam também ciganos Rom não somente em e até hoje ninguém se interessou ou foi capaz de
Salvador, como também em Minas Gerais. Dornas saber, nem sequer aproximadamente, quantos
Filho (1948) informa: ciganos vivem num determinado Estado, e menos
ainda no Brasil todo. Dispomos de dados
“Em março de 1909 aparecia em Juiz de Fora uma
horda de ciganos .... apresentando animais demográficos detalhados, bastante confiáveis e
amestrados (ursos, macacos, cães, etc.) O chefe constantemente atualizados sobre quase todos os
do grupo ... interrogado pela polícia, não soube povos indígenas no Brasil, mas nada sabemos
explicar-se em português e nem outra língua sobre a demografia, e a localização, das minorias
conhecida, permitindo as autoridades que ele ciganas Rom, Sinti ou Calon.
exibisse os seus animais no pátio da cadeia”. As fantasias.
Ou seja, com certeza não eram ciganos de Alguns ciganos, há anos, afirmam que existem
origem ibérica, mas de algum país balcânico, e 600.000 ciganos no Brasil, mas sem informar
que até trouxeram na bagagem alguns ursos, como conseguiram contar estes ciganos, nem
animais até então desconhecidos no Brasil. informando nada sobre sua distribuição
Mais adiante Dornas Filho faz referência a geográfica, nem sobre quantos são Rom ou
ciganos oriundos da Sérvia pertencentes às Calon. Outros já falam em um milhão de
famílias Anovich, Ivanovich e Petrovich, alguns brasileiros ciganos. Está claro que o método
membros dos quais aparecem constantemente usado foi o “chutômetro”.
nas crônicas policiais da época. Vários membros A não-cigana Costa Pereira escreveu em 1985:
da família Petrovich foram, em épocas diferentes “Pode-se afirmar que hoje há cerca de 150.000
e por crimes diversos, presos pela polícia de Belo ciganos espalhados por todo o Brasil, nômades ou
Horizonte, como também no Rio de Janeiro. semi-sedentários. Isto sem nos referirmos aos que
Um artigo de jornal de 1936 trata dos ciganos no negam a sua ciganidade, o que triplicaria este
Rio de Janeiro e nele o autor anônimo faz número”. A autora não informa como ela

12
conseguiu contar estes 150.000 ciganos, e menos estimativas sejam baseadas em dados confiáveis
ainda como contou os cerca de 300.000 ciganos fornecidos por cientistas ou instituições de
brasileiros que não mais se identificam como pesquisa daquele país. E no Brasil, até hoje, nem
ciganos, ou seja, ciganos invisíveis, ou do ponto o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
de vista antropológico, ex-ciganos. Em 1990, (IBGE), responsável pelos censos demográficos
informando basear-se em dados da Romani Union oficiais, nem qualquer outra instituição de
de Madrid (mas sem citar a fonte bibliográfica), pesquisa demográfica, nem qualquer organização
afirmou que a população cigana brasileira era de não-governamental, nem cientista algum tem feito
cerca de 800.000 pessoas, mas dois anos depois, um levantamento sistemático e confiável da
com supostos dados da Unesco, sem maiores população cigana. Ainda vai levar muitos anos
explicações (e mais uma vez sem citar qualquer para o Brasil saber quantos ciganos vivem no
fonte bibliográfica), diminuiu este número para país, e em cada Estado.
500.000 (Pereira 1985, 1990, 1992). Três
Em primeiro lugar: como fazer um censo sobre a
publicações da autora, e três números diferentes.
população cigana, se o Governo e o IBGE nem
Mas o melhor demógrafo é o cigano Zarco sequer definiram quem é “cigano”? Usarão
Fernandes. Num e-mail de 6 de maio de 2007, critérios raciais (biológicos), linguísticos ou
enviado para várias pessoas, ele escreve: “Minas culturais, todos inadequados para definir quem é
Gerais desde 2005 possui a 2ª maior população cigano? Nossa própria definição: “cigano é cada
cigana do Brasil”. Ele não informa em que indivíduo que se considera membro de um grupo
Estados ficam a primeira, terceira, quarta etc., e étnico que se auto-identifica como Rom, Sinti ou
continua: “Juiz de Fora = 9.740; sem documentos Calon, ou de um de seus inúmeros sub-grupos, e
= 3.187 (1.048 menores); na zona da Mata = é por ele reconhecido como membro”, é uma
37.763; sem documentos = 6.940 (3.562 definição pouco prática para quem pretende
menores); em Belo Horizonte e região = 385.000; realizar um censo cigano. Em segundo lugar,
sem documentos = 106.000 (16.788 menores); porque nem os próprios ciganos sabem definir
total da população mineira = 432.503”. quem é “cigano”. No Brasil, muitos Rom-
Kalderash, por exemplo, costumam negar a
Conforme se vê, não são números aproximados,
ciganidade dos Calon. Em terceiro lugar, porque
tipo “cerca de x-mil” , mas números exatos:,
muitos ciganos, por causa dos preconceitos e da
9.740, 3.187, 3.562 ,16.788 etc. Logo a seguir
discriminação anticigana, preferem esconder ou
estima a população cigana (brasileira?) em
até negar a sua ciganidade.
1.800.000 pessoas, sendo que 483.300 sem
documentos”. Mas o mais inacreditável ainda está Ainda hoje absolutamente nada sabemos sobre o
por vir: “Votaram nas últimas eleições = 289.141; número de ciganos nômades, semi-nômades e
não votaram = 27.235. Profissões dos ciganos sedentários, Rom, Sinti ou Calon, atualmente
sedentários: 30% comerciantes; 22% profissionais existentes no Brasil, nem sobre sua distribuição
liberais; 19% vendedores e negociantes; 9% geográfica. E provavelmente nunca o saberemos.
esotéricos; 8% professores; 6% outras atividades; Qualquer pessoa, organização ou instituição –
4% artistas; 2% artesões”. Infelizmente, o cigano cigana ou não-cigana – que apresenta dados
Zarco Fernandes em momento algum explica demográficos sobre ciganos no Brasil ou num
como obteve estes dados. Ele apenas informa: determinado Estado, está fantasiando, delirando,
“quem duvidar, que venha ver em Juiz de Fora”. ou mentindo propositalmente.
A realidade.
Todos estes números citados acima, são mera
fantasia, são apenas delírios psicodélicos, porque
nenhum ciganólogo, e nenhuma organização
cigana ou pró-cigana de qualquer parte do Mundo,
e menos ainda a Unesco, tem autoridade alguma
para divulgar estimativas populacionais ciganas
seja de que país for, a não ser que estas

13
2. POLÍTICAS CIGANAS NO BRASIL. das de outros grupos participantes do processo
civilizatório brasileiro.
Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro
os bens de natureza material e imaterial, tomados
2.1. Os ciganos nas Constituições. inividualmente ou em conjunto, portadores de
referência à identidade, à ação, à memória dos
As Constituições Federais sempre ignoraram a diferentes grupos formadores da sociedade
existência dos ciganos. Pelas leis brasileiras de brasileira, nos quais se incluem:
hoje, os Rom, Sinti e Calon – “os assim chamados I – as formas de expressão;
“ciganos” - nem sequer são considerados minorias II – os modos de criar, fazer e viver;
étnicas, e como tais com direitos específicos, III – as criações científicas, artísticas e tecnológicas
reconhecidos em diversas convenções ................
internacionais, várias das quais promulgadas 3º - A lei estabelecerá incentivos para a produção e
também no Brasil. Não existe uma legislação o conhecimento de bens e valores culturais“.
específica para os ciganos como existe, por A Constituição Federal garante aos brasileiros
exemplo, para os índios. No entanto, na ciganos os mesmos direitos de qualquer cidadão
Constituição Federal de 1988 alguns artigos, por não-cigano. Pelo menos em teoria. Na prática,
extensão, dizem respeito também às minorias muitos destes direitos são constantemente
ciganas, entre os quais, por exemplo, os violados, o que se manifesta na existência de
seguintes: estereótipos negativos, preconceitos e várias
Direito à não-discriminação: formas de discriminação das minorias ciganas
pela população nacional. Porém, os ciganos, por
“Art.3º . Constituem objetivos fundamentais da
constituirem minorias étnicas, também têm
República Federativa do Brasil:
direitos especiais, citados em vários documentos
I – construir uma sociedade livre, justa e solidária;
IV – promover o bem de todos, sem preconceitos
internacionais, aprovados e promulgados também
de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer pelo Governo Brasileiro. Desnecessário dizer que
outras formas de discriminação.” também estes direitos especiais são
“Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem constantemente ignorados e violados.
distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos Após 1988 ocorreram algumas mudanças. A
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País Constituição Federal do Brasil de 1988 atribuiu ao
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à Ministério Público Federal também a defesa dos
igualdade, à segurança e à propriedade .... direitos e interesses indígenas (CF, Art. 232),
XLII –a prática do racismo constitui crime
antes atribuição exclusiva da Fundação Nacional
inafiançável e imprescritível, sujeito a pena de
do Índio. Alguns anos depois, a Lei Complementar
reclusão, nos termos da lei. “
75, de 20.05.1993, ampliou ainda mais a ação do
Direito à livre locomoção: MPF ao atribuí-lo também a proteção e defesa
“Art. 5º . Todos são iguais perante a lei, sem dos interesses relativos às comunidades
distinção de qualquer natureza ...... indígenas e minorias étnicas (Art. 6, VII, “c”).
XV – é livre a locomoção no território nacional em Diante disto, em abril de 1994, foi criada a
tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos Câmara de Coordenação e Revisão dos Direitos
termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair das Comunidades Indígenas e Minorias, incluindo-
com seus bens. se nestas também as ‘comunidades negras
isoladas’ (antigos quilombos) e as minorias
Direitos culturais.
ciganas. Ficou conhecida como a 6ª Câmara de
“Art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno Coordenação e Revisão do Ministério Público,
exercício dos direitos culturais e acesso às fontes também chamada a Câmara dos Índios e Minorias
da cultura nacional, apoiará e incentivará a (http://ccr6.pgr.mpf.gov.br). Até hoje ignora-se o
valorização e a difusão das manifestações que a 6ª Câmara fez em favor dos ciganos.
culturais.
1º - O Estado protegerá as manifestações das
culturas populares, indígenas e afro-brasileiras, e

14
2.2. Os ciganos nas Conferências Nacionais de - Os cartórios de registro civil devem ser proibidos
Direitos Humanos. de recusar registros de nascimentos e óbitos de
Rom, Sinti e Calon itinerantes.
Sem qualquer resultado positivo para os ciganos - As empresas estatais devem dar apoio a projetos
foram as Conferências Nacionais de Direitos culturais ciganos, de acordo com a Lei Rouanet.
Humanos, no governo Fernando Henrique Brasília, 26 de maio de 2000
Cardoso anualmente realizadas a partir de 1996.
Na 1ª Conferência de 1996 foi apresentado o A partir de então os ciganos passaram a constar
Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH), também na Enciclopédia Digital Direitos
mas que ainda não cita os ciganos. Humanos, de Natal
[http://dhnet.org.br/direitos/sos/ciganos/index.html]
Em 2000 realizou-se a 5ª Conferência Nacional de
Direitos Humanos, em Brasília, que contou com a Nem tudo foi aproveitado no 2º Programa
presença de um único cigano, Claudio Nacional dos Direitos Humanos, de 2002, e que
Iovanovitch, que participou do Grupo de Trabalho revoga o PNDH anterior, de 1996. Neste 2º
2 sobre “Preconceito, discriminação e exclusão”. PNDH, das 518 propostas, apenas 6 tratam dos
A seguir, a transcrição da proposta nº 6 deste GT ciganos:
e as moções ciganas, conforme apresentadas em 259. Promover e proteger os direitos humanos e
plenário: liberdades fundamentais dos ciganos.
260. Apoiar a realização de estudos e pesquisas
Propostas:
sobre a história, cultura e tradições da comunidade
“6. É necessária a participação ativa do governo
cigana.
para informar a população sobre a particularidade
261. Apoiar projetos educativos que levem em
cultural dos ciganos, para combater as imagens
consideração as necessidades especiais das
anticiganas e para facilitar que os portadores dessa
crianças e adolescentes ciganos, bem como
cultura possam ter acesso à documentação que
estimular a revisão de documentos, dicionários e
certifica sua cidadania”.
livros escolares que contenham estereótipos
Moções das minorias étnicas Rom, Sinti e Calon
depreciativos com respeito aos ciganos.
(ciganos):
262. Apoiar a realização de estudos para a criação
- Os presentes na 5ª Conferência Nacional dos
de cooperativas de trabalho para ciganos.
Direitos Humanos entendem que a inclusão dos
263. Estimular e apoiar as municipalidades das
Rom, Sinti e Calon – os assim chamados ciganos
quais se identifica a presença de comunidades
– como minorias étnicas seja oficialmente
ciganas com vistas ao estabelecimento de áreas de
reconhecida no Programa Nacional de Direitos
acampamento dotadas de infraestrutura e
Humanos.
condições necessárias.
- Elaboração de uma legislação específica para a
264. Sensibilizar as comunidades ciganas para a
promoção da defesa dos direitos e interesses das
necessidade de realizar o registro de nascimento
minorias Rom, Sinti e Calon e aplicação imediata,
dos filhos, assim como apoiar medidas destinadas
por analogia, dos preceitos de promoção e
a garantir o direito ao registro de nascimento
proteção aos índios e comunidades remanescentes
gratuito para as crianças ciganas.
de quilombos, no que couber educação, saúde, etc.
- Como conteúdo mínimo deverão ser O posterior governo Luis Inácio Lula da Silva não
assegurados, para os Rom, Sinti e Calon extingiu por completo as Conferências Nacionais
itinerantes, o direito de ir e vir, e de montar suas de Direitos Humanos (CNDHs), porque a 8ª
barracas e estacionar seus trailers em CNDH realizou-se no início de 2003 (certamente
acampamentos com a devida infra-estrutura (água, já programada no governo anterior). No entanto,
energia elétrica, sanitários, coleta delixo, etc.) deixaram de ser anuais, e não mais iniciativa do
indicados para este fim em todas as cidades com
legislativo, mas agora também do executivo
mais de 50.000 habitantes. Cada acampamento
(Secretaria Especial dos Direitos Humanos da
deverá poder abrigar no mínimo dez barracas ou
Presidência da República).
trailers.
- As barracas e trailers das minorias Rom, Sinti e Em abril de 2008 foi convocada a 11ª CNDH, cuja
Calon devem ser consideradas suas casas e como finalidade era apresentar, em dezembro de 2008,
tais asilos invioláveis. o PNDH III (3º Programa Nacional de Direitos

15
Humanos). No entanto, o texto polêmico do PNDH conta com um representante cigano, indicado pela
III foi divulgado somente no final de 2009 (revisto SEPPIR.
em 2010). Quanto aos ciganos, reproduz apenas,
Os representantes ciganos do CNPIR não
exatamente nas mesmas palavras, as demandas
costumam informar de quantas reuniões
do PNDH II, de 2002.1 Ou seja: nada mudou para
participaram, quais assuntos ciganos foram
os ciganos por causa de CNDHs e PNDHs. São
tratados, nem quais as reivindicações ou
apenas palavras, e nada mais.
propostas que eles próprios apresentaram. Ou
2.3. As Conferências Nacionais de Promoção seja, embora haja alguém representando os
da Igualdade Racial. ciganos no CNPIR, nenhum cigano ou não-cigano
ficou sabendo o que fazem, falam e decidem lá
Após a II Guerra Mundial, os antropólogos lutaram
em Brasília.
para abolir a maldita palavra “raça” dos seus
manuais e de suas publicações. Porque não Em 2005 foi decidido realizar a 1ª Conferência
existem “raças” indígenas (vermelhas), ou de Nacional de Promoção da Igualdade Racial -
matriz africana (preta) ou asiática (amarela), nem CONAPIR. Antes o assunto começou a ser
ariana (branca), nem raça azul, verde ou rosa- discutido em Conferências Estaduais e Municipais
choque. E menos ainda existe uma raça judia ou que contaram com a presença de centenas de
uma raça cigana. Todos pertencemos a uma raça negros. Mas esqueceram de convidar também os
só, a “raça humana”. ciganos que então solicitaram a realização de
uma Audiência Cigana. Esta ocorreu em Brasília,
Infelizmente o governo Lula da Silva preferiu tratar
em junho. As 41 propostas aprovadas nesta
o assunto em termos “raciais” e em março de
Audiência serão na íntegra transcritas na parte
2003 criou a SEPPIR – Secretaria Especial de
2.5.
Políticas de Promoção da Igualdade Racial - que
tem como objetivo primeiro: “Promover a Duas semanas depois realizou-se em Brasília a 1ª
igualdade e a proteção dos direitos de indivíduos Conferência Nacional de Promoção da Igualdade
e grupos raciais e étnicos afetados pela Racial – CONAPIR, cujo relatório final apresenta
discriminação e demais formas de intolerância, 1053 propostas. A quase totalidade, obviamente,
com ênfase na população negra”. As palavras para os negros. Mas propostas específicas para
destacadas em negrito pela própria SEPPIR, já os ciganos foram aprovadas apenas 17, a serem
indicam que seria – como de fato é - uma citadas a seguir nas linhas temáticas. 2
secretaria quase exclusivamente para as pessoas
A 2ª CONAPIR foi realizada em Brasília, em junho
“de raça negra”. Grupos étnicos, como os índios,
de 2009, e apresentou 625 propostas, ou seja,
os ciganos, os judeus, ou os árabes e palestinos,
bem menos do que em 2005. Mais uma vez, a
e que não constituem “raças”, receberiam
quase totalidade trata exclusivamente de negros,
tratamento diferente, desigual, de quinta categoria
ou “afro-brasileiros”, ou “afro-descendentes”,
, como de fato recebem.
agora também chamados “pessoas de matriz
Pouco depois foi criado o CNPIR – Conselho africana”. Apenas 22 propostas tratam
Nacional de Promoção da Igualdade Racial, como especificamente dos ciganos. As 36 propostas
“parte da estrutura básica da SEPPIR”, e que apresentadas por cinco ONGs ciganas foram
vetadas e ignoradas pela SEPPIR, conforme
veremos na parte 2.5. Os brasileiros brancos
1.PNDH 3, p. 216, propostas 259-264. Em sua cartilha,
Stanescon (2007: 10) informa que suas “25 propostas
para melhorar a qualidade de vida (dos ciganos) foram 2.Stanescon (2007: 24-29) informa erroneamente que
aprovadas e consolidadas no Programa Nacional dos na 1ª CONAPIR foram apresentadas e aprovadas 29
Direitos Humanos – PNDH”. Ou a autora mente, ou não propostas, incluindo, naturalmente, as 25 de sua
leu o texto do PNDH 3, ou então em Brasília suposta autoria. Na realidade foram apenas 17, de
esqueceram de mencionar estas 25 propostas no autores diversos, e não as 29 citadas em sua cartilha.
PNDH 3, de 2010, que reproduz apenas as mesmas 6 Por algum motivo, Stanescon não menciona as 41
propostas do PNDH 2, de 2002. Cfr. Brasil/SEDH/MJ. propostas da Audiência Cigana. Cfr. Brasil/SEPPIR.
(2002); Brasil/SEDH/PR. 2010. 2005.

16
euro-descendentes ou amarelos de matriz permanente, em seus territórios ou próximo a
asiática não foram convidados para participar estes, conforme a necessidade de cada
deste evento para apresentar suas reivindicações, comunidade, em condições apropriadas de infra-
e não são citados uma única vez. estrutura, recursos humanos, equipamentos e
materiais.
Além de propostas que tratam específicamente (B02) 91. Promover e criar cursos de alfabetização
dos ciganos, em ambas as CONAPIRs foram diferenciada às crianças e adultos ciganos através
apresentadas também 159 propostas genéricas, de unidades móveis, com programas e
nas quais os ciganos são citados como uma profissionais capacitados para uma alfabetização
espécie de co-adjuvantes. Todas estas propostas, rápida e eficaz, com representatividade nos
formuladas sem a participação dos ciganos, falam conselhos federais, estaduais e municipais de
de negros, índios, ciganos, comunidades defesa dos direitos das minorias étnicas, nos
tradicionais e de terreiro, quilombolas, LGBT, conselhos tutelares, bem como no Conselho
judeus, árabes, palestinos, e até hippies Nacional de Promoção da Igualdade Racial, para
nômades. As propostas genéricas serão orientação, resguardo e garantia dos direitos dos
transcritas a seguir na parte 2.4. povos de etnia cigana.
(B03) 92. Incluir a história da cultura cigana no
2.3.1. Educação. currículo escolar, nos diversos níveis de ensino.
Das 1053 propostas apresentadas na 1ª (B04) 93. Desenvolver campanhas com o objetivo
de incentivar a comunidade cigana a permitir que
CONAPIR, 165 trataram de “Educação”, sendo
as meninas ciganas tenham o mesmo direito que
sete especificamente sobre educação cigana:
os meninos ciganos à alfabetização, cultura e
(A01) 59. Promover campanhas educativas e a educação.
criação de cartilha relacionada à etnia cigana, com (B05) 94. Promover pra as comunidades ciganas a
divulgação em escolas públicas municipais e mesma prerrogativa de direito contida na Lei nº
estaduais; eliminar em materiais didáticos 6.533/78, Artigo 29, que garante a matrícula nas
expressões que apresentem a etnia cigana de escolas públicas àqueles que exercem atividade
maneira difamatória e capacitar professores do itinerante.
ensino fundamental e médio para prevenir (B06) 95. Formar os professores do ensino
discriminações. fundamental e médio para prevenir discriminações
(A02) 86. Estimular os estudos dos costumes dos e garantir a educação escolar diferenciada às
ciganos nas universidades federais e estaduais nos crianças ciganas, respeitando suas crenças,
cursos afins. costumes e tradições.
(A03) 144. Criar uma escola específica que (B07) 96. Iniciar o projeto “Cartão Educação”, para
respeite e valorize a cultura cigana. que as crianças e adolescentes ciganas sejam
(A04) 145. Criar uma escola móvel, itinerante, para matriculadas no máximo em 24 horas nas redes
alfabetização dos ciganos – crianças, adolescentes públicas estaduais e um nicipais, sempre que
e adultos nômades. chegarem com suas famílias em uma nova cidade.
(A05) 146. Promover e criar cursos de (B08) 97. Promover campanhas educativas e
alfabetização diferenciada às crianças ciganas, por elaborar material didático relacionado à etnia
meio de unidades móveis com programas e cigana, para divulgação em escolas públicas
profissionais capacitados para uma alfabetização municipais e estaduais. Eliminar dos materiais
rápida, eficaz e bilíngüe. didáticos expressões que apresentem a etnia
(A06) 152. Estimular a inclusão dos ciganos nos cigana de maneira difamatória.
conselhos de educação.
Apesar de todas estas belas palavras,
(A07) 164. Apoiar os estudos e pesquisas sobre a
história, cultura e tradições da comunidade cigana desconhecemos qualquer resultado, qualquer
– Ciganologia. medida prática tomada pelo Ministério da
Educação para implementar as demandas
Também na 2ª CONAPIR foram apresentadas oito ciganas ou as demandas que mencionam também
reivindicações educacionais específicas, a saber: ciganos. Pelo menos até meados de 2011. No
(B01) 90. Garantir o acesso dos povos de etnia site do MEC – http://portal.mec.gov.br - constam
cigana à educação de qualidade, em todos os temas como “Diversidade étnico racial” e
níveis de ensino, de forma continuada e “Diversidade e inclusão educacional”, mas os

17
ciganos não são citados. Desconhecemos reunião foi realizada no dia 16 de março de 2006,
qualquer programa educacional especificamente com a presença de ciganos (menos de dez) e
para os ciganos, em qualquer lugar do Brasil. Até não-ciganos. Às vezes este GT também é
prova em contrário, para o Ministério da denominado “Grupo de Trabalho Interministerial
Educação, os ciganos continuam não existindo. Culturas Ciganas”. Previsto para funcionar
durante apenas um ano, este prazo foi
2.3.2. Cultura.
prorrogado por mais um ano. O MinC e a SEPPIR
Na 1ª CONAPIR, das 1053 propostas não informam quantas reuniões foram realizadas,
apresentadas, apenas duas tratam de Cultura quem, quais e quantos foram os participantes,
Cigana: ciganos ou não-ciganos. Nem foram divulgados os
(A08) 21. Incluir a cultura cigana no Decreto n.° resultados práticos destes reuniões. Se é que
1.494, de 17/05/1995 (DOU 18/05/1995) que resultados existem.
regulamenta a Lei n.° 8.313, de 23/12/1991, que Segundo: em 2007 foi instituido o Prêmio Culturas
estabelece a sistemática de execução do Programa Ciganas João Torres, que premiou 20 projetos de
Nacional de Apoio à Cultura (Pronac). ciganos ou organizações ciganas com R$
(A09) 59. Desenvolver políticas e projetos de 10.000,00 cada um. Em 2010 foi publicado um
proteção ao patrimônio cultural cigano, edital para o segundo Prêmio Culturas Ciganas,
considerando que seu conhecimento histórico,
desta vez com 30 prêmios de R$ 10.000,00 cada
medicinal, das artes divinatórias e o respeito e
um. Qual trabalho sério um cigano ou uma ONG
preservação da ecologia fazem parte do
conhecimento tradicional da etnia cigana,
cigana pode realizar com apenas dez mil reais,
divulgando seu acúmulo de forma a combater até hoje ninguém conseguiu explicar.
estereótipos e resgatar suas tradições. 2.3.3. Saúde.
No relatório da 2ª CONAPIR, de 2009, consta: Na 1ª CONAPIR, 87 propostas trataram de
(B09) 05. Desenvolver políticas de proteção ao “Saúde”, sendo apenas uma sobre saúde cigana:
patrimônio cultural dos povos de etnia cigana, (A10) 33. Garantir a presença de ginecologista
promovendo ações voltadas para a valorização do mulher nas unidades móveis, para que as mulheres
conhecimento tradicional cigano, em especial a ciganas possam realizar seus exames preventivos
catalogação, o registro de patentes e a divulgação e de pré-natal sem criar constrangimentos dentro
desse patrimônio, com amparo legal no decreto nº de sua comunidade.
1.494, de 17/05/1995 (DOU 18/05/1995),
regulamentado pela Lei nº 8.313, de 23/12/1991 No relatório da 2ª CONAPIR, no tema “saúde”,
(Programa Nacional de Apoio a Cultura). apenas dois artigos são dedicados
(B10) 23. Incluir as artes ciganas nas atividades do exclusivamente aos ciganos:
movimento negro e dos povos indígenas, além de (B11) 22. Articular a implementação de programas
definir o dia 24 de maio como Dia Nacional dos de saúde diferenciados na assistência à etnia
Ciganos”. cigana pelo SUS, priorizando ações na área de
Quem apresentou a proposta 23 não sabia ou medicina preventiva, segurança alimentar,
esqueceu que o Dia Nacional dos Ciganos foi fitoterapia, e DST/AIDS.
criado já em 2006. Quanto a “inclusão das artes (B12) 45. Buscar mecanismos para garantir o
ciganas no movimento negro e dos povos atendimento integral e imediato de saúde dos
indígenas”, ninguém explica como fazer isto. E grupos de ciganos acampados e de passagem,
oferecendo saneamento básico atendimento de
menos ainda se os ciganos, os negros e os índios
saúde através de ações emergenciais dos órgãos
concordaram com este idéia. Promover as artes
públicos”.
ciganas, parece não ter ocorrido a ninguém.
Das ações práticas do Ministério da Saúde, até
As realizações do Ministério da Cultura foram
agora os ciganos (isto é: alguns poucos ciganos)
duas. Primeiro: em 2006 foi instituído o Grupo de
só conhecem um folder “Ciganos no SUS:
Trabalho Culturas Ciganas com a finalidade
equidade em saúde se faz com respeito às
“indicar políticas públicas para as expressões
diferenças” que informa:
culturais dos segmentos ciganos”. A primeira

18
“O Ministério da Saúde recomenda aos serviços de todos os brasileiros ciganos, desde maio de 2008,
saúde: já tivessem recebido o seu cartão saúde; (c) e
- que não condicionem o cuidado e a atenção à ótimo seria se o SUS realmente prestasse bons
apresentação de documentação e endereço, já que serviços para a população brasileira o que, até
muitos ciganos não têm registro civil e nem hoje, infelizmente não ocorre, fato ignorado em
endereço fixo; Brasília, principalmente no Ministério da Saúde,
- que todo integrante do povo cigano seja tratado mas como bem sabem aqueles que precisam ser
com dignidade, procurando respeitar, em todos os atendidos pelo SUS.
aspectos, os valores e as concepções que tem
acerca da saúde. 2.3.4. Terra e habitação.
Agora o SUS vai identificar o Povo Cigano.
O assunto não consta nos eixos temáticos da 1ª
SAÚDE PARA TODOS
SASTIMÔS SAORRENGUE”.
CONAPIR. Nas 72 propostas do eixo temático
“Terra”, da 2ª CONAPIR, os ciganos são
E nada mais. Ou seja, o Ministério da Saúde mencionados apenas nas propostas genéricas.
apenas recomenda, mas não exige. Cada hospital
ou posto de saúde trata os pacientes ciganos 2.3.5. Trabalho e renda.
como quiser e não há nenhuma punição prevista O trabalho cigano foi mencionado na 1ª
para o hospital, médico ou enfermeira que se CONAPIR, mas talvez tenha ficado desapercebido
recusa a atender ciganos. Um “folder” de boas de muitos ciganos porque foi incluido no primeiro
intenções, e nada mais. Resta saber quantos eixo temático “Trabalho e desenvolvimento
médicos, enfermeiras e funcionários de hospitais econômico da população negra”, que apresenta
receberam e leram este pedaço de papel. E 90 propostas. Destas, somente a última trata
quantos, por causa disto, vão atender melhor os especificamente dos ciganos:
ciganos. A resposta, obviamente, todos os
(A11) 90. Garantir aposentadoria aos ciganos e
ciganos já sabem.
ciganas que alcancem a idade necessária e que
Por sinal: o folheto acima citado apenas possam ter os mesmos direitos atualmente
recomenda “que não condicionem o cuidado e a garantidos aos trabalhadores rurais e pelo INSS.
atenção à apresentação de documentação e No relatório da 2ª CONAPIR os ciganos são
endereço”. Em lugar de “atenção”, os ciganos citados apenas genéricamente junto com outras
teriam preferido ler “atendimento” pelo nosso minorias, no último eixo temático intitulado
fabuloso SUS, pelo presidente Lula classificado “Trabalho”.
como um dos melhores do Mundo, pela primeira
vez na História do Brasil! 2.3.6. Segurança e justiça.
No Dia Nacional do Cigano, em 24 de maio de Na 1ª CONAPIR foram apresentadas 113
2008, em cerimônia no Rio de Janeiro, uma propostas tratando de “Direitos Humanos e
funcionária do Ministério da Saúde anunciou que Segurança Pública”, seis das quais tratam
já existia um “Cartão Saúde dos Ciganos”. Mentiu, especificamente de ciganos, e outras seis
porque em março de 2009, outra funcionária genericamente de ciganos e outras minorias. Em
afirmou que já havia um decreto sobre este sua quase totalidade são repetições de demandas
“Cartão Saúde dos Ciganos” – o número do apresentadas em outras linhas temáticas.
Decreto não soube informar – e que no máximo (A12) 33. Promover o mapeamento dos
até o dia 25 de maio o Ministro da Saúde acampamentos ciganos de todo o país. 4
assinaria.3 Outra mentira. Até meados de 2011
nenhum decreto sobre um “Cartão Saúde” foi 4. Um mapeamento preliminar foi realizado em 2009.
assinado. Nenhum cigano recebeu um “Cartão Segundo o IBGE, 290 municípios informaram ter
Saúde Cigano”. acampamentos ciganos e apresenta um mapa com a
Seria bom (a) se este Cartão Saúde dos Ciganos localização destes municípios em 2009. José Ribeiro,
utilizando os dados do IBGE apresenta os nomes
realmente existisse; (b) melhor ainda seria se
destes municípios, em cada Estado. Os dados são
incompletos. Por exemplo, no Rio Grande do Norte não
3. Cfr. vídeo em www.wix.com/Abracipr1/Abracipr1 são mencionados os ciganos de Florânia, e na Paraíba

19
(A13) 34. Fomentar políticas de estabelecimento de (B14) 75. Assegurar o cumprimento dos 29 itens da
áreas de acampamento dotadas de infra-estrutura cartilha para os povos ciganos editada em 2008
e condições necessárias para as comunidades pelo Governo Federal.
ciganas nômades no Brasil. (B15) 76. Sensibilizar as comunidades ciganas
(A14) 35. Garantir às barracas ciganas (Tcherias) o para a necessidade de realizar o registro de
mesmo direito de inviolabilidade estabelecido pela nascimento dos filhos. Assim como apoiar medidas
Constituição Federal de 1988 às casas destinadas a garantir o direito ao registro de
residenciais. nascimento gratuito para a criança cigana.
(A15) 36. Incluir a Etnia cigana em toda e qualquer (B16) 77. Promover campanhas para que os
campanha de saúde, educação, solidariedade, ciganos nascidos no Brasil tomem conhecimento
fraternidade e respeito à diversidade. de sua cidadania brasileira, com os mesmos
(A16) 37. Estimular que estados e municípios direitos e obrigações de todo e qualquer cidadão,
instituam o “Cartão Educação”, documento para aumentando assim sua auto-estima.
viabilizar a matrícula de crianças e adolescentes (B17) 78. Incluir, explicitamente, os povos de etnia
ciganas, com celeridade, nas redes públicas cigana em todas as ações humanitárias ou leis que
estaduais e municipais, sempre que chegarem com beneficiem as comunidades negras, povos
suas famílias a uma nova cidade, sob pena de indígenas e outras comunidades tradicionais.
cominações civis e criminais do diretor da (B18) 79. Buscar articular mecanismos para
instituição de ensino que descumprir tal garantir, judicialmente, a concessão de direito de
determinação. resposta aos povos de etnia cigana, no mesmo
(A17) 38. Elaborar programas de atendimento espaço utilizado pela mídia para veicular
social à população cigana e outros grupos mensagens que desrespeitem, difamem e
nômades, que compreendam orientação e violentem a sua dignidade.
assistência gratuita na área jurídica, psicológica e (B19) 80. Exigir às crianças e aos jovens ciganos
social, facilitando o registro de nascimento e nômades, os mesmos direitos, tratamento, respeito
demais documentações legais. e solidariedade dispensados aos não ciganos.
(B20) 81. Articular junto ao MEC o veto a livros e
Na II CONAPIR o assunto foi tratado mais
materiais didáticos que contenham expressões e
amplamente no eixo temático “Segurança e imagens que apresentem os povos de etnia cigana
Justiça”: de forma negativa.
(B13) 74. Incentivar a participação de (B21) 82. Garantir às barracas ciganas (thieras) o
representantes dos povos de etnia cigana nos mesmo direito de inviolabilidade estabelecida pela
conselhos federal, estaduais e municipais de Constituição Federal de 1988 às casas
defesa dos direitos das minorias étnicas, nos residenciais.
conselhos tutelares, bem como no Conselho (B22) 83. Criar mecanismos para capacitar as
Nacional de Promoção de Igualdade Racial, para entidades dirigidas por ciganos para o
orientação, resguardo e garantia dos direitos do desenvolvimento de projetos auto-sustentáveis do
segmento. ponto de vista econômico, ambiental e cultural,
celebrando termos de parceria que visem à
garantia dos direitos constitucionais dos povos de
etnia cigana em conjunto com o Ministério da
Justiça e a Secretaria Nacional de Direitos
não constam os ciganos do município de Patos. Os Humanos. Garantia dos mesmos direitos de
Estados com maior número de municípios com tratamento às crianças e jovens nômades, como o
acampamentos ciganos (fixos ou temporários? de respeito e a solidariedade dispensados aos não
ciganos Rom ou Calon?) seriam Bahia (51), Minas ciganos.
Gerais (49) e Goiás (35). Não constam informações
sobre vários Estados e sobre o Distrito Federal. Fonte: Os ciganos aguardam pacientemente que tudo
IBGE, Mapeamento de acampamento cigano no Brasil: isto algum dia se torna realidade. Com exceção
pesquisa de Informações Básicas Municipais, MUNIC, da participação de representantes ciganos no
2009. Ribeiro, José, Unidades da Federação e CNPIR e na CNPCT, o resto por enquanto não
municípios com acampamento cigano: microdados da passa de promessas.
Pesquisa de Informações Básicas Municipais,
MUNIC/IBGE, 2009. Ambos os ensaios podem ser
encontrados em www.amsk.org.br.

20
2.4. Propostas genéricas: quem fala em nome e como guardar e usar toda esta parafernália em
dos ciganos? suas viagens.
Nas duas CONAPIRs, além de propostas que E assim poderiam ser citadas outras tantas
tratam específicamente dos ciganos, foram propostas. Nem tudo que é bom para negros,
apresentadas também 159 propostas genéricas índios, comunidades tradicionais e de terreiros,
nas quais os ciganos são citados como uma quilombolas, LGBT, judeus, árabes, palestinos e
espécie de co-adjuvantes. Todas estas propostas hippies nômades também é bom para os ciganos.
falam de negros, índios, ciganos, comunidades
Apesar de tudo, transcrevemos aqui esta longa e
tradicionais e de terreiro, quilombolas, LGBT,
intragável lista de propostas genéricas. Para os
judeus, árabes, palestinos, e até hippies
ciganos, sua leitura pode interessar para saber o
nômades.
que não-ciganos já propuseram, em seu nome,
Algumas propostas são no mínimo curiosas, para mas sem consultá-los sobre se concordavam ou
não usar outros adjetivos. Uma, por exemplo, não com estas propostas. Muitos ciganos não
propõe “Promover cursos de especialização em saberão se é para rir ou para chorar. Outros, com
línguas ciganas”. Para muitos ciganos, ensinar toda razão, ficarão irritados. Mas algumas
sua língua a não-ciganos é um crime! Três outras propostas, com as devidas adaptações,
falam de “manifestações das religiões ciganas”, futuramente talvez possam ser transformadas em
“religiões de matriz cigana” e “expressão religiosa propostas específicas, se os ciganos assim o
cigana”, e há até uma propondo “instituir lei que desejarem.
cria aposentadoria para velhos ..... sacerdotes e
Tema: Educação.
sacerdotisas de comunidades ..... de etnia cigana
....”. Acontece que não existe uma religião 1ª CONAPIR:
genuinamente cigana.5 No mundo todo, os (01) 18. Implementar em todas as instâncias de ensino
ciganos sempre adotaram as religiões dos países a perspectiva racial e de gênero desde a educação
nos quais vivem. Mais outra propõe “ampliar as infantil, assegurando a integridade física e psicológica
políticas afirmativas da igualdade racial para das crianças ..... ciganas, no sentido de prevenir
ciganos(as)”, ou seja, ampliar algo que não existe. práticas racistas, preconceituosas e discriminatórias.
(02) 22. Criar um programa nacional de inclusão digital
No tema Educação propõe-se “criar uma política
para a população ..... cigana, com instalação de
de promoção do incentivo à leitura para
laboratórios de informática nas comunidades.
comunidades ..... ciganas, priorizando excelência (03) 23. Criar uma política de promoção do incentivo à
técnica de infra-estrutura com acervo bibliográfico, leitura para comunidades ..... ciganas, priorizando
videográfico, fotográfico, fonográfico e cartográfico excelência técnica de infra-estrutura com acervo
.....”. Tudo bem, mas parece que o proponente se bibliográfico, videográfico, fotográfico, fonográfico e
esqueceu que neste caso os ciganos sedentários, cartográfico, utilizando referências locais.
em acampamentos fixos, precisariam no mínimo (04) 34. Assegurar o acesso das crianças ..... ciganas
de um pequeno prédio para guardar tudo isto, e ..... à educação infantil, por meio da criação de novas
que os ciganos nômades certamente seriam vagas destinadas a essas populações.
obrigados a comprar um caminhão para (05) 37. Estimular a contratação de professores
transportar este fabuloso ‘acervo’ de um lugar ciganos .....
para outro. Isto sem considerar a questão de onde (06) 46. Promover políticas que viabilizem a
democratização do conhecimento por meio da
construção de currículos que contemplem a
diversidade étnico-racial, objetivando tornar os
5.Cfr. Ries, J. 2007, passim, mas em especial as pp. conteúdos programáticos mais próximos da realidade
337 e segs. Ries apresenta também uma bibliografia dos estudantes das regiões rurais e urbanas, das
complementar sobre o assunto (cfr. Nota 160, p. 338). comunidades ..... ciganas.
Já se tornou anedota o cigano que, ao ser perguntado (07) 51. Tornar obrigatória a inclusão, no currículo
sobre qual era sua religião, respondeu: “Aquela que o escolar, das disciplinas história e literatura dos povos
senhor mais gosta”. Ou então o cigano que respondeu ..... ciganos ..... , conforme peculiaridades de cada
que foi batizado na Igreja Ortodoxa, porque o padre povo.
católico não estava em casa.

21
(08) 76. Estimular, por intermédio de instituições de para a formação de pesquisadores ..... ciganos
fomento, o desenvolvimento de linhas e grupos de .....interessados etnicamente, em nível latu sensu e
pesquisa sobre a temática da diversidade cultural dos strictu sensu, contando inclusive com políticas
..... ciganos. afirmativas de permanência discente deste segmento.
(09) 77. Promover o acesso a bolsas de estudos de (20) 46. Buscar a efetiva incorporação das
iniciação científica para ..... ciganos ....., sem limite de manifestações político-culturais e dos conhecimentos
idade. ..... (dos) ciganos na educação básica e superior como
(10) 159. Considerar no calendário escolar as datas componentes curriculares, priorizando os vivenciadores
comemorativas de ..... ciganos ..... dessas manifestações como formadores, garantindo as
(11). 163. Criar centros de referências bibliográficas e identidades regionais em todas as modalidades de
pesquisa sobre as culturas ..... ciganas ..... ensino.
(21) 54. Articular com diversos agentes processos de
2ª CONAPIR:
formação inicial e continuada para profissionais de
(12) 06. Criar programa de estágio que contemple educação que atuem em escolas ..... (de) ciganos, de
jovens estudantes do ensino médio e universitários que acordo com o que estabelece o Plano Nacional de
possuam conhecimentos das diversas linguagens Implementação das Diretrizes Nacionais para a
artísticas para atuar na rede pública e privada, com Educação das Relações Étnico-raciais .....
oficinas de arte-educação sobre a cultura ..... dos (22) 58. Articular ações para a criação de políticas
povos de etnia cigana ..... , contribuindo também no públicas de educação básica, com inclusão digital, nas
redesenho do programa de educação de jovens e comunidades ..... ciganas .....priorizando as
adultos. comunidades em risco social.
(13) 08. Ampliar o acesso às escolas técnicas, escolas
Tema: Cultura.
familiar e rural que desenvolvam pedagogias voltadas
para as comunidades ..... ciganas, criando novas 1ª CONAPIR:
escolas técnicas e cursos voltados para este público.
(23) 3. Reconhecer a imensa dívida para com.....
(14) 11. Implementar em todas as instâncias de ensino
ciganas(os), assumindo que houve negligência do
a perspectiva étnico-racial e de gênero e orientação
Estado brasileiro para incorporá-los(as) plenamente à
sexual, desde a educação infantil, assegurando a
sociedade nacional o que contribuiu para a formação
integridade física e psicológica das crianças .....
de estereótipos sobre esses grupos.
ciganas ....., no sentido de prevenir práticas racistas,
(24) 7. Desenvolver e ampliar ações afirmativas em
preconceituosas e discriminatórias. Estimular iniciativas
todas as políticas sociais públicas para enfrentar
de aperfeiçoamento curricular com recorte de gênero,
preconceitos e discriminações contra ..... povos
étnico-racial, diversidade sexual e religiosa.
nômades.
(15) 21. Estabelecer políticas de atendimento social,
(25) 17. Fomentar manifestações culturais das
educacional e profissional às mulheres ..... ciganas .....
diferentes culturas que compõem a nação brasileira:
(16) 25. Articular a implantação do programa Escola
..... e povos nômades.
Aberta aos fins de semana, como uma política pública
(26) 19. Garantir critérios, nos editais de contratação de
permanente dos municípios e estados, proporcionando
prestação de serviços, que valorizem e incentivem a
interação entre estudantes, educadores e as famílias
produção das artes e cultura ..... cigana .....
..... ciganas ....., criando uma cultura, na comunidade,
(27) 25. Desenvolver e garantir recursos para projetos
que supere os preconceitos; utilizar as escolas , nos
sociais que resgatem a cultura e privilegiem crianças e
fins de semana, como espaço de difusão e produção
adolescentes e pessoas da terceira idade..... ciganas,
das culturas tradicionais, garantindo um percentual dos
utilizando todas as linguagens de arte e cultura,
recursos oriundos do Fundo de Manutenção e
incluindo ações em penitenciárias e casas de
Desenvolvimento da Educação Básica (FUNDEB) para
recuperação de adolescentes e jovens.
este fim.
(28) 32. Incluir representantes das populações .....
(17) 27. Promover cursos de especialização em línguas
ciganas ..... nas mídias públicas e privadas.
...... ciganas.
(29) 35. Criar leis que assegurem a ampliação da
(18) 34. Buscar mecanismos para equipar as escolas
presença dos ..... ciganos ..... na mídia, combatendo
brasileiras com acervo bibliográfico e audiovisual sobre
estereótipos que os desvalorizem.
a temática étnico racial ...... cigana ..... promovendo a
(30) 37. Disponibilizar espaço nas mídias para
devida capacitação aos atendentes.
divulgação de bens e serviços das comunidades .....
(19) 40. Articular junto aos núcleos ..... ciganos ..... nas
ciganas .....
universidades, junto aos programas de pós-graduação,

22
(31) 46. Adotar políticas para promoção de detentores de cultura e circulação de renda dentro das
preservação e tombamento dos diversos patrimônios comunidades, evitando a desagregação comunitária e
imateriais e materiais da cultura ..... cigana, ..... a partir consequente aumento nos índices de violência.
das informações das comunidades locais, com respeito (44) 08. Implementar políticas de sensibilização social
à sua organização social, visando criar mecanismos de objetivando o respeito aos costumes, crenças e
conscientização da sociedade sobre diversidade étnica tradições dos povos de etnia cigana em filmes,
e racial brasileira. novelas, seriados, documentários e outros, que
(32) 47. Adotar políticas públicas para promoção, garantam, inclusive, o direito de mulheres ciganas .....
resgate e preservação do patrimônio imaterial, material de acessar estabelecimentos públicos em trajes típicos.
das culturas ..... cigana nas suas diversas (45) 12. Implementar projetos de preservação e
manifestações, políticas essas extensivas a todo o divulgação da cultura ..... cigana nos teatros, escolas,
território nacional. praças públicas, museus, lonas e outros espaços
(33) 49. Efetivar políticas de preservação da história e culturais que tenham como público-alvo as crianças, os
cultura das comunidades ..... dos povos ciganos, ..... adolescentes, os jovens, os adultos e a melhor idade,
incluindo na grade curricular matéria de artes – música, garantindo o acesso das comunidades carentes à
desenho, dança, teatro, artesanato e capoeira. iniciação em música, arte e dança, nas vertentes
(34) 57. Divulgar as práticas culturais tradicionais dos clássica, cigana, erudita ou popular.
povos .....ciganos ..... (46) 13. Criar fundos de investimento e destacar
(35) 65. Incentivar, desenvolver e garantir recursos recursos do Plano Plurianual para a promoção e
para políticas afirmativas de inclusão digital propiciando divulgação da história e cultura da população .....
a produção de sites e a produção e gravação de cigana ....., possibilitando a criação, ampliação e
músicas independentes, dando visibilidade e reestruturação de pólos e escolas de artes e músicas,
fortalecendo as identidades ... ciganas ..... feiras culturais, exposições, amostras e espetáculos,
(36) 67. Divulgar festas típicas das etnias e promover festivais, palestras e seminários que valorizem essa
feiras da cultura ..... cigana. cultura.
(37) 68. Promover e incentivar festivais nacionais de (47) 17. Promover cursos de capacitação na
arte ..... cigana nas grandes cidades e nas de médio elaboração de projetos culturais, respeitando as regras
porte, por intermédio do Ministério da Cultura. dos editais e respectivas leis de incentivo a cultura,
(38) 70. Proteger as manifestações culturais da proporcionando maior competitividade na contratação
população .... cigana ..... Incluí-las nas festividades e de propostas, bem como criar programas preparatórios
comemorações que contemplem outras etnias. para a formação de agentes culturais que
(39) 71. Instituir, no calendário festivo oficial brasileiro, proporcionem a vivência das cosmovisões ..... ciganas
as manifestações culturais e religiosas das diversas ..... , valorizando e fomentando as culturas das
etnias que compõem a sociedade nacional, com ênfase comunidades tradicionais em suas diferentes
para as populações ..... ciganas, ..... resgatando a manifestações.
riqueza de suas influências na formação do povo (48) 25. Instituir editais de produção audiovisual com a
brasileiro e incentivando a mobilização dos ativistas. temática ..... cigana .....
(40) 78. Incentivar e divulgar projetos e eventos de
Tema: Saúde.
manifestações das religiões ..... ciganas ....., em rádio,
jornal, televisão, internet e demais veículos de 1ª CONAPIR:
comunicação, a fim de promover uma imagem positiva
(49) 1. Promover a saúde das populações ..... ciganas
destas.
– saneamento, educação, meio ambiente, trabalho,
(41) 89. Ampliar o investimento público em ações de
lazer, cultura, religião, transporte e moradia.
valorização, resgate e difusão de manifestações
(50) 2. Fortalecer e garantir o Sistema Único de Saúde,
culturais ..... ciganas .....
SUS, e o Sistema Único de Assistência Social – SUAS,
(42) 102. Criar centros de convivência para difusão e
promovendo, entre outras ações, aumento
fomento à cultura das diversas etnias, com o
orçamentário e destinando recursos específicos para
estabelecimento imediato dos centros de cultura .....
ações relativas às populações ..... ciganas ....., com
cigana .....
vistas a tornar os serviços públicos de saúde e
2ª CONAPIR: assistência social efetivamente universais para toda a
sociedade e fazer valer o princípio da eqüidade.
(43) 02. Instituir lei que cria aposentadoria para velhos
(51) 11. Garantir o acesso da população ..... cigana a
..... sacerdotes e sacerdotisas de comunidades ..... de
todos os níveis de atenção à saúde – promoção,
etnia cigana, como processo de valorização dos

23
prevenção, tratamento e reabilitação – de acordo com que subsidie estudos e pesquisas, bem como
os princípios e diretrizes do SUS, com ênfase na assegurar o uso de bens materiais e imateriais como
humanização do serviço e dos atendimentos, patrimônio dos povos .....ciganos .....
assegurando transporte adequado e acesso das (63) 62. Fomentar as inter-relações entre o Conselho
comunidades ..... ciganas ..... ao SUS, em seus de Segurança Alimentar e entidades representativas de
diferentes níveis de complexidade, mediante a remanescentes de ..... ciganos .....
ampliação da rede de atenção e do orçamento (64) 68. Promover a formação de agentes de saúde e
destinado a esse programa. saneamento das comunidades ..... de ciganos .....
(52) 12. Desenvolver e fortalecer, no interior do SUS, a (65) 72. Realizar capacitação e qualificação de
atenção à saúde das populações ..... ciganas ....., profissionais de saúde com equipe interdisciplinar
respeitando suas especificidades e particularidades, sobre a prevenção e tratamento de uso e abuso de
sejam das zonas rurais, urbanas ou assentamentos, drogas ilícitas e lícitas para prestar atendimento
garantindo o recorte de gênero. dentro..... dos acampamentos ciganos.
(53) 15. Garantir profissionais qualificados no SUS que (66) 73. Organizar e implementar cursos de formação e
possam trabalhar de forma humanizada a sexualidade capacitação para os(as) profissionais da saúde e
e a saúde reprodutiva da juventude .....cigana ....., assistência social, com enfoque para o atendimento
respeitando a sua orientação sexual. das necessidades e especificidades de saúde e
(54) 16. Garantir o atendimento específico e assistência social da população ..... cigana,
humanizado para idosos(as) ..... ciganos(as) ..... contemplando as questões de orientação sexual.
(55) 18. Garantir centros de referências e contra- (67) 77. Realizar encontros regionais e locais para
referências em unidades de saúde localizadas sensibilizar gestores(as) públicos sobre as questões de
próximas a ..... acampamentos ciganos. gênero, orientação sexual, raça/etnia e idade/geração.
(56) 19. Garantir a atenção básica de saúde a Identificar as ações discriminatórias dos SUS e SUAS
mulheres ..... ciganas, especialmente as portadoras de em relação aos ..... ciganos(as) .....
HIV/Aids, anemia falciforme, diabetes e hipertensão (68) 84. Ampliar linhas de crédito para pesquisa
arterial, do meio urbano, rural, quilombos e aldeias, específica de saúde sobre raça/etnia para estruturar
durante o pré-natal, perinatal e pós-natal, a fim de políticas de promoção à saúde da mulher .....cigana,
evitar a mortalidade materna e infantil, com atenção às incluindo as questões de orientação sexual,
mulheres jovens. assegurando as diretrizes do Programa de Atenção
(57) 28. Estender o programa de planejamento familiar Integral a Saúde da Mulher (PAISM) e as
para as comunidades ..... ciganas ....., dando ênfase à particularidades do quadro de morbidade e mortalidade
paternidade responsável. desses grupos.
(58) 29. Desenvolver ações específicas, seguidas de
2ª CONAPIR:
orientações preventivas e combate à disseminação do
HIV/Aids e hepatite, voltadas às populações ..... (69) 01. Fortalecer a estratégia de saúde da família
ciganas, incluindo a disponibilidade de preservativos através da formação das parteiras tradicionais (dos
para sexo seguro e informação sobre outros métodos povos ...... de etnia cigana .....), respeitando os seus
de barreira, considerando as especificidades de saberes, ampliando a oferta de casas de apoio às
orientação sexual. gestantes e fortalecendo as casas de parto no território
(59) 37. Exigir a inserção e o respeito ao estadual e municipal, garantindo a humanização da
etnoconhecimento dos(as) ..... ciganos(as) ..... Instituir assistência, considerando a vulnerabilidade das
atendimentos diferenciados nessas comunidades, mulheres.
valorizando os conhecimentos tradicionais: de (70) 36. Articular a implementação der programas de
parteiras, remedieiros, raizeiras, pajés e benzedeiras. tratamento a hipertensão arterial, diabetes melitus,
(60) 40. Estimular a participação dos diversos saberes obesidade e dislepidemias, com garantia de medicação
populares ..... ciganos ..... na construção de pesquisas específica em acordo com a tolerância orgânica,
e materiais informativos sobre saúde. assegurando a redução de mortalidade por estas
(61) 41. Criar, fortalecer e ampliar programas e projetos doenças nos povos ..... ciganos.
de segurança alimentar e nutricional, com ênfase às (71) 38. Articular capacitação dos agentes comunitários
experiências das práticas terapêuticas (da população) de saúde, assegurando que estes possam identificar e
cigana ..... trabalhar as medidas preventivas para a redução do
(62) 42. Fortalecer as políticas de patenteamento da agravo das diversas patologias que mais incidem nas
biodiversidade, por meio de catalogação de ervas populações ..... ciganas.
medicinais, para a constituição de um banco de dados

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(72) 44. Buscar garantir nas redes públicas estaduais e (83) 112. Articular iniciativas para equipar os centros de
municipais equipes multidisciplinares, contemplando saúde para o atendimento por envenenamento,
todas as especialidades profissionais da saúde de nível intoxicação, acidentes e doenças de chagas, que tanto
médio ao superior, especializadas em saúde da afetam as populações ..... ciganas.
população ..... cigana.
Tema: Terra e habitação.
(73) 57. Planejar ações que considerem as condições
de saúde e educação alimentar da população ..... 2ª CONAPIR:
cigana com base em levantamento epidemiológico de
(84) 15. Regularizar as áreas fundiárias das ocupações
mórbidade-mortalidade por doenças transmitidas
de comunidades ..... ciganas .... garantindo o direito
geneticamente, doenças degenerativas e por doenças
coletivo do mesmo.
cujo agravo se dá pelas más condições de vida.
(85) 18. (.....) Solicitar ao Ministério do
(74) 58. Buscar a implementação e o fortalecimento do
Desenvolvimento Agrário (MDA) que cumpre o
atendimento através do SUS, em áreas rurais, das
programa de Assistência Técnica específica para ....
principais doenças prevalescentes na população .....
ciganos, assegurando que seja estabelecida política de
cigana, tais como a anemia falciforme, hipertensão
atendimento social, educacional e profissional para as
arterial, diabetes mellitus decorrentes da gravidez,
mulheres ..... ciganas .....
patologias da próstrata, da pele, doenças infecciosas,
(86) 34. Identificar, diagnosticar, agilizar,
parasitárias, degenerativas, desnutrição em geral e
georreferenciar, mapear e garantrir leis federais,
intoxicação por contaminação por agrotóxico e
estaduais e municipais de regularização fundiária nas
colesterol ou dislepdemia.
áreas das comunidades dos povos ..... de etnia cigana
(75) 64. Buscar a implementação da vacina HPV nas
.....
três esferas de governo para beneficiar adolescentes e
(87) 61. Garantir que todos os programas sustentáveis
mulheres ..... ciganas.
de uso e ocupação do solo de projetos desenvolvidas
(76) 75. Buscar formas de garantir às mulheres .....
nas áreas ..... ciganas ..... sejam realizados em todas
ciganas ....., no âmbito do Programa Integral Saúde
as suas fases com a participação das lideranças, que
Mulher, uma assistência em todas as etapas de sua
devem decidir as características da execução dos
vida, sem discriminação.
mesmos, conforme sua cultura, usos, costumes e
(77) 79. Articular a garantia de atendimento e atenção
tradições.
à saúde dos homens ..... ciganos ..... com campanhas
(88) 72. Garantir o acesso, a elaboração e a
permanentes de informação, acesso a exames,
participação em projetos de moradia popular urbana
medicamentos e tratamento de próstata.
aos ..... povos de etnia cigana ..... priorizando as
(78) 81. Articular o desenvolvimento de medidas de
famílias jovens e as mulheres arrimo de família.
promoção de saúde, implementando o Programa
Saúde da Família ..... nos acampamentos ciganos ..... , Tema: Trabalho e renda.
garantindo a referência e contra-referência.
1ª CONAPIR:
(79) 83. Buscar a ampliação do acesso e qualificação
da atenção à saúde para as mulheres ...;.. ciganas ..... (89) 08. Garantir a documentação básica – carteira
durante o pré-natal, puerpério, com doença falciforme e profissional, CPF, carteira de identidade, certidão de
no climatério. nascimento, título de eleitor, entre outros - ..... para
(80) 84. Promover a formação de multiplicadores de pessoas de comunidades ..... ciganas.
saúde para os praticantes das religiões ..... ciganas ..... (90) 10. Criar um fundo de apoio financeiro às
no tocante à sexualidade e demais aspectos vivenciais. comunidades ..... ciganas ..... para a produção
(81) 85. Buscar garantir ações específicas voltadas à sustentável de bens materiais e culturais.
questão da violência urbana e rural que possui na (91) 17. Incluir as populações ..... ciganas ..... em
condição de maiores vítimas os homens jovens ..... programas de capacitação e permanência no emprego.
ciganos ....., reconhecendo a violência como questão (92) 50. Criar linha de crédito e capacitação profissional
de saúde pública intimamente ligada a fatores de e tecnológica continuada para o empreendedorismo ....
ordem racial e orientação sexual. tendo como beneficionária ..... a população cigana .....
(82) 93. (.....) Buscar garantir a presença de (93) 51. Criar linha de crédito específica às
ginecologista do sexo feminino nas unidades móveis de comunidades ..... ciganas ..... e assistência técnica
saúde, para atendimento às mulheres ..... ciganas ..... , para as diversas formas de geração de trabalho e
caso estas prefiram, na realização de seus exames renda, eliminando a exigência de garantias
preventivos ginecológicos e de pré-natal. patrimoniais, fiança ou mesmo a comprovação de um
ano de atividade mediante a formação de uma

25
assessoria fiscalizadora da aplicação dos de etnia cigana ..... , no mercado de trabalho (Poder
investimentos. Público, empresas privadas e movimentos).
(94) 55. Destinar recursos sem contingenciamento para (106) 77. Promover e divulgar feiras de negócios
pesquisas e difusão de tecnologias direcionadas a contemplando produtos da cultura ..... cigana .....
comunidades ..... ciganas ..... (107) 110. Realizar campanhas públicas, através de
(95) 61. Criar indicadores socioeconômicos que todos os meios de comunicação, para assegurar uma
contemplem as peculiaridades culturais e sociais da ampla divulgação das legislações referentes à
população ..... cigana. igualdade racial e promover a sua difusão em
(96) 62. Realizar diagnósticos para identificar perfil ou campanhas conjuntas com centrais sindicais e Poder
vocação econômica das comunidades ..... ciganas ..... Público, visando o combate à informalidade do trabalho
(97) 76. Realizar seminários, conferências, fóruns, das mulheres ...... dos povos de etnia cigana.
congressos e outros eventos com o objetivo de (108) 128. Requerer que todas as pequenas, médias e
promover a igualdade racial, garantindo ampla grandes empresas públicas e privadas e demais
participação da juventude ..... cigana ....., com entidades que contratam créditos e/ou administram
publicação de material didático e pedagógico. recursos públicos, sejam obrigadas a contratar e
(98) 79. Criar programas de capacitação em empresas manter em seu quadro, em todos os níveis
privadas sobre a cultura ..... cigana ....., por meio de hierárquicos, profissionais de origem ..... cigana .....
parcerias com Delegacias Regionais do Trabalho e (109) 130. Garantir a reserva de 30% das vagas para
movimento .... cigano. juventude ..... cigana ..... nos programas destinados à
(99) 83. Capacitar econômica, financeira, gerencial e juventude ..... , que sejam coordenados e executados
tecnologicamente as comunidades ..... ciganas visando pelos governos dos estados .......
ao aprimoramento da (sua) capacidade (110) 145. Garantir a infra-estrutura para os
empreendedora ..... acampamentos de povos de etnia cigana ..... para
(100) 85. Criar banco de serviços de profissionais da comercialização de seus produtos.
população ..... cigana ..... para cadastrá-los em cursos (111) 153. Garantir apoio às instituições ou entidades
de capacitação e formação em diversas áreas, por dirigidas por e para ciganos ..... no desenvolvimento
meio de parcerias com empresas privadas e públicas. de projetos auto-sustentáveis do ponto de vista
(101) 86. Criar banco de dados para catalogar as econômico, ambiental e cultural.
organizações da população ..... cigana ..... ligadas à (112) 154. Criar lei de incentivo às manifestações e
produção de bens e serviços. produções culturais ciganas ..... , estimulando o
desenvolvimento econômico destes segmentos.
2ª CONAPIR:
(113) 159. Criar comitê junto ao Ministério de Trabalho
(102) 08. Desenvolver políticas de capacitação, com representação dos Conselhos Estaduais de
qualificação e especialização profissional continuada Defesa dos Direitos do Negro, para acompanhar as
em saúde, educação, segurança, gestão de negócios, políticas de trabalho e geração de renda para a
empreendedorismo, formação de preços, design de população ..... cigana.
produtos, inclusão digital, agricultura sustentável, etc.
Tema: Segurança e justiça.
associada ao aumento do grau de escolaridade das
populações ..... ciganas .....respeitando a relação de 1ª CONAPIR:
gênero.
(114) 4. Ampliar as políticas afirmativas da igualdade
(103) 09. Elaborar, analisar e acompanhar a
racial para ..... ciganos(as) .....
implantação e implementação de planos, programas e
(115) 5. Incluir representantes, principalmente .....
projetos voltados à formação profissional de
ciganos(as) ..... na Secretaria Especial de Políticas de
populações historicamente discriminadas: ..... povos de
Promoção da Igualdade Racial – Seppir e em
etnia cigana, ..... por meio de parceria com organismos
instâncias governamentais federais que elaboram as
que atuem na formação e capacitação.
políticas públicas.
(104) 11. Garantir uma política de qualificação e
(116) 6. Criar grupo de trabalho para elaborar,
emprego para contratação de jovens negros e
acompanhar e avaliar a implementação de políticas
mulheres negras egressos do sistema prisional e em
públicas para os povos ..... ciganos .....
conflito com a lei, bem como para ..... ciganos ..... nos
(117) 90. Estimular que estados e municípios planejem,
diversos órgãos públicos e nas empresas privadas com
elaborem e implementem programas de capacitação
incentivo fiscal.
contínua, ressaltando o diálogo intergeracional para .....
(105) 27. Garantir parcerias para a criação de projetos
representantes das populações ..... ciganas .....,
visando à qualificação e à inserção das populações .....

26
visando à sua preparação para atuar no cenário da Tema 7. População Indígena.
diversidade racial e étnica da sociedade brasileira,
(125) 31. Garantir políticas de geração de renda para
formando agentes multiplicadores no combate à
as populações ..... ciganas.
discriminação racial.
(118) 105. Garantir uma política de assistência social Tema 8. Juventude Negra.
na perspectiva de eqüidade para os segmentos sujeitos
(126) 63. Criar novas políticas nas instituições para
a graus mais elevados de riscos sociais, como a
reabilitação de jovens ..... ciganos(as), principalmente
população ..... cigana .....
na área de educação e geração de emprego e renda.
(119) 106. Garantir acesso à política de assistência
social eficaz a toda população, em todos os níveis de Tema 9. Mulher Negra.
complexidade, baixa, média e alta, de acordo com o
(127) 1. Considerar o Plano Nacional de Políticas
Sistema Único da Assistência Social – SUAS, em
Públicas para Mulheres, destacando-se os seguintes
especial à população ..... cigana .....
pressupostos, princípios e diretrizes gerais: autonomia
2ª CONAPIR: e igualdade no mundo do trabalho; educação inclusiva,
não sexista, universal e transversal; saúde das
(120) 06. Indenizar, assistir e promover reparação
mulheres, direitos sexuais e reprodutivos;
material para adolescentes/jovens ..... ciganos .....
enfrentamento da violência contra as mulheres, com
mutilados e/ou sequelados, de forma que aconteça
ênfase nas mulheres ..... ciganas.
reparação a estas famílias que tiveram seus membros
(128) 2. Propor, implementar e monitorar políticas para
exterminados pela ação da polícia e dos grupos de
valorização das mulheres ..... ciganas.
extermínio, contando com apoio das instituições sociais
(129) 4. Reconhecer a especificidade cultural e social
ligadas ao segmento para apoiar as famílias
das mulheres ..... ciganas e seu direito de inserção
fragilizadas e a vítima.
plena na sociedade nacional, com o respeito às
(121) 16. Criar e ampliar projetos sociais destinados às
diferenças e tradições milenares de cada povo.
pessoas privadas de liberdade, com prestação de
(130) 10. Promover a melhoria da qualidade de vida
contas para a sociedade civil, respeitando sua
das mulheres ..... ciganas .....
especificidade étnico-racial, com ênfase nas
(131) 13. Garantir e monitorar a implementação de
populações ..... ciganas ....., na realização de trabalhos
políticas públicas diferenciadas para crianças e jovens,
profissionalizante, cultural, esportivo, educacional e
mulheres, ..... ciganas .....
religioso.
(132) 22. Estimular o preenchimento adequado de
(122) 141. Articular, de forma enérgica, a
formulários de órgãos públicos, com recorte de gênero
implementação de medidas que visem impedir casos
e faixa etária, garantindo dados desagregados para
de violência policial e de execuções sumárias e
mulheres ..... ciganas .....
extrajudiciais, violência policial com invasões em
(133) 28. Criar linhas de crédito e democratizar o seu
acampamentos ciganos ......
acesso como incentivo às mulheres ..... ciganas na
Nas duas CONAPIRS foram ainda apresentadas criação e manutenção de micro-empresas.
diversas outras propostas genéricas, não citadas (134) 33. Estimular a profissionalização das mulheres
acima nos eixos temáticos Educação, Cultura, ..... ciganas, mediante a garantia de acesso às linhas
Saúde, Terra e Habitação, Trabalho e Renda e de crédito, à previdência rural, aos programas de
Segurança e Justiça, porque foram tratados em reforma agrária, urbana e de titularidade de terras.
eixos temáticos com outras denominações. (135) 34. Promover e garantir políticas públicas de
formação e qualificação profissional para pessoas
Tema 6. Brasil Quilombola. provenientes de comunidades carentes, em especial
(123) 29. Garantir e viabilizar à população ..... cigana para as mulheres ..... ciganas.
..... , em especial às mulheres, acesso com menos (136) 41. Intensificar políticas que valorizem a imagem
burocracia a créditos específicos e à assistência das mulheres ..... ciganas nos meios de comunicação,
técnica para as diversas formas de geração de trabalho visando à superação de antigos estereótipos e à
e renda. valorização de seus papéis como agentes e
(124) 52. Promover políticas de educação ambiental participativas na sociedade.
com recorte étnico-racial nas comunidades ..... ciganas (137) 50. Produzir e sistematizar dados, indicadores e
..... informações relativos à seguridade social, à saúde e à
educação que possibilitem o mapeamento da condição

27
socioeconômica e a identificação das especificidades na orientação sexual, na faixa etária e nas pessoas
da realidade de mulheres ..... ciganas ..... com deficiências, de acordo com a legislação vigente.
(138) 55. Implementar projetos de intervenções sobre (151) 9. Incentivar os segmentos ..... ciganos a
os agravos à saúde das mulheres ..... ciganas participarem dos diversos conselhos de políticas
residentes no campo e na cidade. públicas.
(139) 56. Realizar cursos de capacitação para
2º CONAPIR:
profissionais de saúde relativos à identificação de
Tema: Controle Social.
patologias prevalecentes entre mulheres ..... ciganas
....e ao respeito à orientação sexual das pacientes. (152) 07. Buscar mecanismos para mapear os
(140) 64. Elaborar e distribuir material técnico e acampamentos dos povos de etnia cigana.
educativo sobre a atenção à saúde das mulheres ..... (153) 09. Fortalecer as políticas públicas a partir da
ciganas ..... identificação e divulgação do índice de
(141) 70. Garantir a notificação de casos de violência desenvolvimento humano (IDH) da população .....
sexual contra as mulheres ..... ciganas. cigana.
(142) 82. Fornecer incentivos à comunidade cigana (154) 10. Formação de lideranças e responsáveis por
setores de políticas públicas para qualificação em
para permitir às mulheres ciganas terem os mesmos
concorrência de projetos, financiamentos e
direitos de alfabetização, cultura e educação dos
implementação de políticas públicas como cultura,
ciganos.
educação, saúde, etc, e criar projetos a partir do
Tema 10. Religiões de matriz africana. diálogo junto às ..... etnias ciganas ..... levantando,
assim, suas necessidades e formas de realização.
(143) 107. Garantir a inclusão dos campos religiões de (155) 17. Garantir a inclusão da população ..... cigana
matriz ..... cigana no quesito referente às religiões no em toda e qualquer campamnha de saúde, educação,
censo demográfico (IBGE). trabalho, lazer, esporte e cultura.
(144) 108. Garantir um espaço para o direito da (156) 19. Fortalecer o controle social através da
expressão religiosa cigana. qualificação dos movimentos sociais ..... ciganos,
Tema 11. Política Internacional. estimulando a representação nas instâncias
governamentais, e com a criação de comitês de
(145) 1. Desenvolver políticas públicas que combatam monitoramento/avaliação dos serviços públicos
toda e qualquer forma de discriminação cultural, tais prestados aos cidadãos.
como contra as culturas ..... cigana ..... Tema: Política Internacional.
(146) 3. Comprometer-se com políticas públicas de
promoção de igualdade que incluam os ..... ciganos (157) 21. Realizar uma pesquisa sócio-econômica
..... na mídia nacional. sobre ..... os povos de etnia cigana residentes no Brasil
(147) 4. Garantir e fomentar as manifestações das para verificar o quantitativo populacional e a qualidade
diferentes culturas que compõem a nação brasileira e a do acesso aos direitos econômicos, sociais e culturais,
maior aproximação entre elas, incluindo os povos através do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
nômades. (IBGE), Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(148) 22. Implantar a decisão da Reunião Internacional (IPEA) e Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD).
de Estocolmo do ano 2000, subscrita pelo Brasil por
intermédio do Ministro José Gregory, sobre o ensino Tema: Política Nacional.
sobre o holocausto nas escolas e universidades,
(158) 17. Criar programa governamental para ......
estendendo essa decisão ao ensino da inquisição e
assegurar infraestrutura para os acampamentos de
perseguição aos povos ..... cigano ..... povos ciganos ..... quando estiverem migrando para a
Tema 12. Fortalecimento das Organizações Anti- comercialização de suas produções.
racismo. (159) 19. Criação de museus multiétnicos que
permitam maior visibilidade à história e cultura .....
(149) 4. Criar um fundo específico para o cigana, prestando orientação e apoio às organizações
fortalecimento social, econômico e político das sociais desses segmentos.
populações ..... ciganas .....
(150) 8. Garantir maior presença das organizações A leitura das propostas genéricas acima evidencia
reconhecidamente sociais tais como: ..... ciganas ..... que foram elaboradas por não-ciganos, sem
nos conselhos da sociedade civil e do Estado ..... dúvida com as melhores intenções possíveis, mas
considerando-se a ênfase ..... na dimensão de gênero, sem a participação dos ciganos, sem o seu
conhecimento e consentimento. Os ciganos, com

28
certeza, considerarão algumas destas propostas e de outra natureza responsáveis pelas políticas e
absurdas, outras risíveis, e mais outras inuteis por programas que lhes sejam concernentes.
não se aplicarem à realidade cigana. E isto A seguir veremos que os ciganos presentes ou
levanta a questão: quem fala em nome dos barrados nas duas CONAPIRs protestaram contra
ciganos? Ou, melhor: quem pode falar em nome a atitude da SEPPIR e das autoridades em geral,
dos ciganos? que não lhes permitiram expressar as suas
Obviamente, qualquer pessoa pode opinar como opiniões, ou então simplesmente as ignoraram. E
quiser sobre questões ciganas e expressar suas menos ainda atenderam as suas reivindicações,
opiniões verbalmente ou por escrito. Quem não embora alguns poucos ciganos privilegiados
concordar, que se manifeste. Mas outra coisa tenham recebido permissão para estarem
completamente diferente é um não-cigano falar fisicamente presentes, ao que tudo indica apenas
em nome dos ciganos, apresentar-se como se para manter a aparência de um evento
fosse alguém representando os ciganos. Ou democrático onde todas as minorias raciais e
apresentar em eventos oficiais propostas étnicas teriam o direito de falar e de ser ouvido. O
“ciganas”, ou incluir os ciganos em propostas que que não foi o caso com os ciganos. No Brasil,
tratam de outras minorias. Como aconteceu nas quem costuma falar em nome dos ciganos são os
duas CONAPIRs. não-ciganos. Mas só quem pode falar em nome
dos ciganos, são os próprios ciganos e suas
Enquanto isto, quase todas as propostas organizações.
apresentadas por ciganos e ONGs ciganas foram
ignoradas. Os não-ciganos preferiram ainda 2.5. Vozes ciganas clamando no deserto.
ignorar também a Declaração do Povo Rom das Da Audiência Cigana, realizada em Brasília em
Américas (2002): “Exigir dos Estados e Governos junho de 2005, participaram cerca de 50 pessoas,
do continente americano que consultem mas apenas parte das quais ciganos(as),
adequadamente ao povo cigano antes da provavelmente nem sequer a metade. As 41
elaboração dos Planos de Desenvolvimento, com propostas apresentadas na Audiência, e
a finalidade de trazer propostas, especialmente as encaminhadas à 1ª CONAPIR, foram:
que afetem suas vidas, cultura, identidade e
necessidades fundamentais .....”. Ou então a 1. Desenvolvimento de políticas de proteção ao
Declaração do Povo Rom (Ciganos) aos Povos, patrimônio cultural, biológico e conhecimento
Governos e Estados das Américas (2000): “Exigir tradicional da etnia cigana, em especial às ações
o acesso de representantes do povo cigano às que tenham como objetivo a catalogação, o registro
diferentes instâncias de participação criadas pelas de patentes e a divulgação desse patrimônio.
2. Proteção das manifestações culturais da etnia
instituições governamentais e poderes públicos”.
cigana e inclusão destas nas festividades e
Talvez sejam documentos de difícil consulta, mas comemorações que contemplem outras etnias.
o que não é o caso da Convenção 169 da OIT, de 3. Mapeamento dos acampamentos e tombamento
1989, que recomenda: dos sítios e documentos detentores de
reminiscências históricas juntamente com a
Parte I - Política Geral. realização de um censo da população cigana do
Art. 6. Brasil.
Ao aplicar as disposições da presente Convenção, 4. Proteção ao conhecimento tradicional dos rituais
os governos deverão: de fitoterapia, artes divinatórias, o respeito à
a) consultar os povos interessados, mediante natureza e a preservação da ecologia desenvolvida
procedimentos apropriados e, particularmente, pela etnia cigana.
através de suas instituições representativas, cada 5. Implantação de programas de saúde
vez que sejam previstas medidas legislativas ou diferenciados na assistência à etnia cigana pelo
administrativas suscetíveis de afetá-los SUS, priorizando ações na área de medicina
diretamente. preventiva, segurança alimentar, fitoterapia,
b) estabelecer os meios através dos quais os DST/AIDS.
povos interessados possam participar livremente 6. Incentivo à participação de representantes
..... em todos os níveis, na adoção de decisões em ciganos nos conselhos federais, estaduais e
instituições efetivas ou organismos administrativos

29
municipais de defesa dos direitos das minorias 19. Prevenção e combate à intolerância religiosa e
étnicas, nos conselhos tutelares, bem como no discriminação, no que diz respeito às religiões
Conselho Nacional de Promoção da Igualdade minoritárias, cultos afro-brasileiros, tradições
Racial, para orientação, resguardo e garantia dos religiosas orientais, ocidentais, encantarias e
direitos da etnia cigana. outras, fomentando o respeito à Constituição
7. Criação de uma comissão paritária permanente Federal, que garante a liberdade de crença e culto.
para o diálogo inter-religioso entre a Sociedade 20. Acréscimo da cultura cigana ao Decreto nº
Civil, os entes públicos e as tradições religiosas. 1.494, de 17/05/1995 (DOU 18/05/1995) que
8. Criação de um Conselho Inter-Religioso, em regulamenta a Lei nº 8.313, de 23/12/1991, que
nível nacional, estadual e municipal, para a estabelece a sistemática de execução do Programa
promoção de campanhas periódicas, estratégias Nacional de Apoio à Cultura (PRONAC).
para a construção da inter-religiosidade, bem como 21. Implantação dos dispositivos da Declaração
para recebimento de denúncias de intolerância. sobre a eliminação de todas as formas de
9. Apoio ao fortalecimento às entidades e preconceito, intolerância e discriminação fundadas
instituições dirigidas por e para ciganos no em religiões ou crenças, adotadas pela Assembléia
desempenho de suas atividades, nos projetos auto- Geral das Nações Unidas em 25 de novembro de
sustentáveis do ponto de vista econômico, 1981, e divulgação de informações sobre as
ambiental e cultural, e apoio à criação de tradições religiosas e seus direitos, principalmente
cooperativas e outras formas de geração de renda, nos meios de comunicação e escolar.
garantindo os direitos constitucionais da etnia 22. Inclusão no currículo dos ensinos fundamental
cigana. e médio, do tema transversal “História, Cultura e
10. Apoio e fortalecimento do Centro de Referência Filosofia das Religiões no Brasil” e apoio aos
à Discriminação Religiosa (CRDR) no desempenho estudos e pesquisas sobre a história, cultura e
de suas atividades, garantindo os direitos tradições da comunidade cigana (Ciganologia).
constitucionais da diversidade religiosa no Estado 23. Promoção de campanhas educativas e criação
do Rio de Janeiro. de cartilha, vídeos, CD´s relacionados à etnia
11. Garantia, através de projetos de lei, à mulher cigana, divulgação em escolas públicas municipais
cigana no uso tradicional dos trajes típicos, livre e estaduais, eliminação de materiais didáticos de
acesso a todo e qualquer estabelecimento. expressões que apresentem a etnia cigana de
12. Incentivos à comunidade cigana para permitir maneira difamatória, e capacitação dos professores
às mulheres ciganas terem os mesmos direitos de do ensino fundamental e médio para prevenir
alfabetização, cultura e educação dos ciganos. discriminações e criação de conhecimento.
13. Garantir às barracas ciganas (Tcheras) o 24. Proibição de veiculação, nos diferentes meios
mesmo direito de inviolabilidade estabelecido pela de comunicação, de propaganda e mensagens
Constituição Federal de 1988 às casas racistas, preconceituosas, xenófobas,
residenciais. discriminatórias, difamatórias, que incitem ódio
14. Inclusão da etnia cigana em toda e qualquer contra os valores e doutrinas religiosas ou reforcem
campanha de saúde, educação, solidariedade, preconceitos de qualquer ordem.
fraternidade e respeito ás diversidades. 25. Desenvolvimento de campanhas públicas de
15. Garantia às crianças e jovens ciganos nômades combate à discriminação religiosa e de valorização
os mesmos direitos, tratamento, respeito e da pluralidade religiosa no Brasil.
solidariedade dispensados aos não ciganos. 26. Implantação da Convenção Internacional nº 111
16. Apoio às municipalidades no estabelecimento da Organização Internacional do Trabalho — OIT,
de áreas de acampamento dotadas de infra- sobre a eliminação de todas as formas de
estrutura e condições necessárias para as discriminação racial e relativa à discriminação em
comunidades ciganas nômades. matéria de emprego e ocupação.
17. Orientação e assistência gratuita na área 27. Implantação da Resolução nº 1 da ONU,
jurídica, psicológica e assistência social à etnia adotada pela 43ª Sessão (agosto de 19941),
cigana, facilitando o registro de nascimento e subcomissão para a Prevenção da Discriminação e
demais documentações legais. Proteção das Minorias.
18. Garantia à etnia cigana do direito de professar 28.Implantação do Artigo 40 do Encontro de
e praticar a sua religião, possuir e utilizar objetos Copenhagem/Junho 1990, da Conferência sobre a
sagrados religiosos e ministrar ensino religioso em dimensão humana, da Conferência de Segurança e
sua língua materna. Cooperação na Europa (CSCE); a Recomendação

30
Referente à solução dos problemas específicos dos Santa Sara Kali (Padroeira Universal do Povo
ROM, incluída no relatório da Reunião dos Cigano).
Especialistas das Minorias Nacionais da CSCE, de 40. Promover e criar cursos de alfabetização
julho de 1991. diferenciada às crianças e adultos ciganos através
29. Respeito aos Princípios Políticos de Durban: de unidades móveis com programas e profissionais
resgatar a dívida para com a minoria étnica cigana, capacitados para uma alfabetização rápida e eficaz
por ter se omitido no que diz respeito aos bilíngüe.
estereótipos forjados sobre esses grupos no interior 41. Garantir a inclusão do povo cigano a toda e
da Sociedade Civil, bem como pelos poucos qualquer campanha de saúde, educação,
esforços para incorporar plenamente à Sociedade solidariedade, fraternidade e respeito às
Brasileira as populações descendentes deste diversidades.
grupo.
Fundação Santa Sara Kali
30. O projeto do “cartão educação” para que as
(Mirian Stanescon Batuli de Siqueira)
crianças e adolescentes sejam matriculados em no
Associação de Preservação da Cultura Cigana do
máximo 24 horas nas redes públicas estaduais e
Paraná (Cláudio Iovanovichi)
municipais sempre que chegaram com suas
Associação de Preservação da Cultura Cigana de
famílias em uma nova cidade.
São Paulo (Farde Estephanovichi)
31. A criação da “comissão do cigano” nas 27
Centro de Referência à Discriminação Religiosa
secionais da OAB extensiva a todos os municípios
(Kátja Bastos)
em que existe representação.
32. Assegurar ao povo cigano que em filmes, Observa-se que das quatro ONGs que assinam as
novelas e seriados, documentários seja respeitado 41 propostas, duas são ONGs não-ciganas - o
seus costumes, crenças e tradições. Assim como Centro de Referência à Discriminação Religiosa e
eliminar em livros e materiais didáticos expressões a Fundação Santa Sara Kali – cuja finalidade não
que apresentem o povo cigano de uma forma é a defesa dos direitos ciganos mas que mesmo
negativa. assim souberam infiltrar, não se sabe como, sete
33. Assegurar para a defesa do povo cigano o propostas que nada têm a haver com a questão
mesmo espaço usado pela mídia ao denegrir, cigana. Trata-se das propostas 7, 8, 10, 18 (não
difamar e violentar a dignidade de todo e qualquer
existe uma “religião cigana”), 19, 21 e 25.
cigano, ou grupo cigano e que se sintam ultrajados.
Descontando estas sete propostas, sobram 34
34. Garantir a presença de ginecologista mulher
nas unidades móveis para que as mulheres
propostas apresentadas pelos ciganos e suas
ciganas possam realizar seus exames preventivos ONGs. Mas logo depois, os ciganos perceberam
e de pré-natal sem criar constrangimentos dentro que nem estas seriam contempladas nas
de sua comunidade. discussões da 1ª CONAPIR, pelo que
35. Incentivar, apoiar e ministrar estudos, palestras apresentaram a seguinte moção:
e debates sobre o povo cigano para que Moção cigana/solicitação de inclusão imediata das
conhecendo a filosofia de vida, crenças e tradições propostas ciganas no documento referência / I
desse povo milenar, diminua o preconceito e com Conapir.
isso os ciganos possam superar e enfrentar melhor As entidades abaixo firmadas, legitimamente
as diversidades. representativas do povo cigano e mais as pessoas
36. Garantir as empresas e profissionais liberais abaixo assinadas, vêm, respeitosamente, à
ciganos o mesmo direito de competitividade e presença de vossas excelências, em razão dos
eqüidade evitando atos e ações discriminatórias. fatos ocorridos — adiante enfocados —, ponderar e
37. Criar um Conselho Tutelar que possa orientar, requerer o quanto se segue.
resguardar e garantir os direitos do povo cigano. Nesse sentido, aludidas entidades participaram do
38. Sensibilizar as comunidades ciganas para a processo relativo à elaboração de propostas
necessidade de realizar o registro de nascimento respeitantes à “I Conferência Nacional de
dos filhos, assim como apoiar medidas necessárias Promoção da Igualdade Racial”, tal como
destinadas a garantir o direito ao registro de determinado pela Seppir, especialmente em
nascimento gratuito para crianças ciganas. relação aos itens: R0, R1, R2, R3 e R4.
39. Incluir o dia 24 de maio no calendário de Assim, as propostas tiradas na audiência cigana
festividades do Brasil, como o dia nacional do realizada no dia 14 de junho de 2005, em Brasília,
cigano, por se comemorar nesta data o dia de

31
foram entregues em mãos da senhora Oraida A 2ª CONAPIR aconteceu entre os dias 25 e 28
(Seppir), ao término da referida audiência. de junho de 2009. Mas antes disto, em 6 e 7 de
Ademais, as mencionadas propostas foram junho, foi realizada, em Brasília, uma reunião
enviadas por e-mail em 15 de junho de 2005 (isto preparatória, a Plenária Nacional de Comunidades
é, no dia seguinte) tanto para a senhora Oraida Tradicionais. Nesta Plenária, os representantes de
como para a senhora Tereza, ambas funcionárias cinco ONGs ciganas apresentaram, além de 36
da Seppir. propostas, também uma relação com os nomes
Ocorre que, perplexos, no dia de ontem, de 25 ciganos, de vários Estados, inclusive do
percebemos a ausência de diversas daquelas
Nordeste, para participarem da 2ª CONAPIR. No
propostas no texto “Documento de Referência”
dia 7 de junho, Mirian Stanescon, autoproclamada
(relativo à fase R5), ainda que tenham sido
entregues em mãos e enviadas por e-mail.
‘rainha cigana’ e então, por indicação da SEPPIR,
Tendo em vista que todas as referidas propostas representante dos ciganos no Conselho Nacional
foram legitimamente aprovadas em plenário, o de Promoção da Igualdade Racial/CNPIR, vetou
povo cigano não pode se conformar com a os nomes de duas conhecidas ciganas, negando
apontada ausência destas. sua ciganidade, no que foi atendida pela SEPPIR.
Nesse sentido, somente pudemos inferir ter Diante disto, e em solidariedade às ciganas
ocorrido uma falha na fase de sistematização do excluidas, as cinco ONGs ciganas apresentaram,
“Documento de Referência” da “I Conferência em 25 de junho de 2009, a seguinte moção à
Nacional de Promoção da Igualdade Racial” a ser Secretaria Executiva da 2ª CONAPIR:
encaminhado para subsidiar as discussões dos
MOÇÃO CIGANA
Grupos Temáticos para, em seguida, serem
votados durante a presente sessão plenária. Ilustríssimos Senhores:
Ainda, os líderes da etnia cigana, no final da tarde
A ABRACIPR - Associação Brasileira dos Ciganos
de ontem protocolaram ofício junto à Coordenação
no Paraná, em conjunto com UCB - União Cigana
da Seppir exatamente nos termos, em mãos do Sr.
Brasileira, Rio de Janeiro; CERCI - Centro de
Jorge Carneiro.
Estudos e Resgate da Cultura Cigana, São Paulo;
Incrivelmente, em reunião com a coordenação da
APRECI, Associação de Preservação da Cultura
Seppir na manhã de hoje, com a presença do
Cigana, Curitiba, Paraná; CCB, Coletivo de
representante cigano, Sr. Cláudio Iovanovitch,
Ciganos Calon do Brasil, São Paulo:
ventilou-se a possibilidade de inclusão das
vem a presença de Vossas Senhorias, REPUDIAR
propostas então pleiteadas.
OS ATOS PRATICADOS pela senhora Mirian
Na prática, em segunda reunião com a Sra. Maria
Stanesco ou Stanescon, do CNPIR - Conselho
Inês, também da coordenação da Seppir às 12h15,
Nacional de Promoção da Igualdade Racial, (que)
de hoje, com a presença da representante cigana
durante a realização da Plenária Nacional, no dia
do Rio de Janeiro, Mirian Stanescon, foi prometido
07 de junho de 2009, instalando um TRIBUNAL DA
ao povo cigano a inclusão de suas propostas.
INQUISIÇÃO, investindo-se no papel de "juiz",
Mas, qual nada!!! O povo cigano, bem organizado,
proclamou o veredicto de que, as senhoras Márcia
com espírito absolutamente harmônico, ainda que
Guelpa - cigana Yáskara de São Paulo - e senhora
cumprindo rigorosamente toda a processualística
Jaqueline Alves Assumpção, do Rio de Janeiro -
estabelecida pela própria coordenação da Seppir,
esposa do Cigano Mio Vacite - " NÃO SÃO
restou alijado da “I Conferência de Promoção da
CIGANAS.", sem qualquer direito de defesa e, em
Igualdade Racial” e, por conseqüência, nosso povo
total desrespeito ao Regulamento da Plenária
agora corre o risco de perdurar mais uma vez
Nacional de Comunidades Tradicionais e,
excluído — à margem da sociedade!!!
principalmente, ferindo o Direito do Cidadão de
Com efeito, requeremos a imediata inclusão das
AUTO PROCLAMAÇÃO, diploma internacional de
propostas ciganas ausentes, como medida do mais
Durban, do qual o Brasil é signatário e faz parte do
justo Direito.
arcabouço jurídico brasileiro.
Já vimos que de nada adiantou, e que no relatório Diante do relatado, as entidades que subscrevem o
final da 1ª CONAPIR foram incluidas apenas 17 presente, RETIRAM, com pesar, seus nomes como
propostas ciganas, e que foram ignoradas muitas participantes da II CONFERÊNCIA NACIONAL DE
das 41 propostas citadas acima. PROMOÇÃO DA IGUALDADE RACIAL,
entendendo que, a omissão da SEPPIR, Secretaria

32
Especial de Políticas de Promoção da Igualdade desenvolvidas por organizações da sociedade civil
Racial, tendo tempo hábil para corrigir o mal feito, local.
não o fez, avalizando então, O ATO 05. Garantir o acesso da etnia cigana à educação
DISCRIMINATÓRIO praticado pela referida de qualidade em todos os níveis de ensino formal,
Conselheira. de forma continuada e permanente, em seus
Lamentamos profundamente o descaso com que territórios ou próximos a estes, conforme a
foi acolhida a petição Cigana, de anulação do ato, necessidade de cada comunidade, em condições
minimizando o brilho que deveria ter a II apropriadas de infra-estrutura, recursos humanos,
CONFERÊNCIA NACIONAL DE PROMOÇÃO DA equipamentos e materiais.
IGUALDADE RACIAL, de vez que entendemos o 06. Assegurar, na merenda escolar, um cardápio
grande esforço do Governo Federal e do adaptado aos costumes alimentares dos ciganos,
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em dar garantindo que os entes da Federação
visibilidade à etnia Cigana, inserindo-os na responsáveis pela merenda escolar, adquiram os
sociedade brasileira, como Cidadãos Brasileiros produtos em comunidades locais e /ou regional,
que são. incentivando a produção e garantindo a qualidade
alimentar e nutricional.
Atenciosamente,
07. Garantir recursos e meios para que alunos,
Wasyl Stuparyk - Associação Brasileira dos
professores e profissionais de educação dos
Ciganos no Paraná/ABRACIPR
ciganos, freqüentem regularmente a escola.
Mio Vacite - União Cigana Brasileira/UCB - RJ
08. Estabelecer formas perenes e continuadas de
Márcia Guelpa (Cigana Yáskara) - Centro de
comunicação (jornal, TV, rádio, rádio-comunitária,
Estudos e Resgate da Cultura Cigana/CERCI - SP
informes, boletim, sítios eletrônicos, etc. ) voltados
Claudio Iovanavitchi - Associação de
para os ciganos, adequando-as à língua e ao
Preservação da Cultura Cigana/APRECI - PR
linguajar dos mesmos.
Zeus Ulisses Cesar - Coletivo de Ciganos
09. Garantir junto aos Ministérios, Secretarias de
Calon do Brasil/CCB - SP
Educação e Cultura e Conselhos de Educação,
E assim também deixaram de ser apreciadas, na com a participação de representante da
2ª CONAPIR, as 36 propostas apresentadas por comunidade cigana, a profunda revisão de
estas cinco ONGs para os eixos temáticos documentos, dicionários e livros escolares que
Educação, Saúde, Trabalho e Renda, Segurança contenham esteriótipos depreciativos em relação a
e Justiça, e Terra e Habitação. Por causa disto, etnia cigana.
serão transcritas integralmente a seguir: 10. Realizar e divulgar, de forma participativa,
estudos e pesquisas sobre a história, tradições e
EDUCAÇÃO cultura cigana, garantindo que recebam de volta os
01. Desenvolver programa especial de educação e resultados e os materiais produzidos, em
alfabetização de crianças, jovens e adultos nos linguagem acessível.
acampamentos nômades, com a finalidade de SAÚDE
valorizar a diversidade étnico-racial e sócio-cultural
das comunidades, garantindo sua permanência nos 11. Garantir à toda etnia cigana o acesso aos
programas e a valorização de sua auto-estima. serviços de saúde de qualidade e adequados às
02. Garantir e viabilizar a produção e a suas características sócio-culturais, suas
disseminação de materiais didáticos e necessidades e demandas, com ênfase nas
pedagógicos, respeitando as especificidades da concepções e práticas da medicina tradicional.
etnia cigana, a partir de suas próprias linguagens 12. Priorizar e fortalecer os programas de pesquisa,
culturais. especialmente a pesquisa participativa, voltada ao
03. Garantir a formação continuada de educadores, estudo e ao desenvolvimento de instrumentos de
oriundos ou não da etnia cigana, para atuação combate as principais doenças incidentes em
junto a estes, de forma a contemplar a sua comunidades, como a malária, dengue, doença de
diversidade cultural em projetos políticos- chagas, a anemia, falciforme, a diabetes, hepatite,
pedagógicos. câncer de pele, entre outras.
04. Valorizar e apoiar as alternativas populares de 13. Garantir a presença de ginecologista mulher
educação e as práticas pedagógicas já nas unidades de saúde, fixas ou móveis, para que
as mulheres ciganas possam realizar seus exames

33
preventivos e de pré natal sem criar interferência, proibição ou coação das autoridades
constrangimentos dentro de sua comunidade. policiais.
14. Desenvolver estratégias e políticas para
SEGURANÇA E JUSTIÇA
capacitação de recursos humanos e o
monitoramento da situação alimentar e nutricional 27. Reconhecer, com celeridade, a auto-
das comunidades ciganas, com base no respeito a identificação da etnia cigana e dos ciganos, de
sua diversidade cultural. modo que possam ter acesso pleno aos seus
15. Implementar ações e programas emergenciais direitos civis.
continuados voltados para a garantia da segurança 28. Viabilizar mapeamentos sociais, censos e
alimentar e nutricional familiar, priorizando as pesquisas que subsidiem a identificação e o
crianças e os idosos, levando-se em consideração reconhecimento dos ciganos, com participação
suas práticas alimentares. efetiva e plena dos mesmos, oferecendo-se, para
16. Garantir a distribuição ampla e gratuita de tanto, as condições objetivas de capacitação e
medicamentos, bem como o diagnóstico gratuito remuneração de seus representantes nestes
para as comunidades ciganas. trabalhos.
17. Em casos de emergência, atender o cigano, 29. Proceder ao levantamento dos problemas
independente de qualquer documento ou registro sociais dos ciganos, das possíveis soluções e dos
junto a unidades de saúde, em qualquer posto e órgãos responsáveis, visando o pleno exercício dos
em todo o território brasileiro. direitos individuais e coletivos.
18. Garantir o desenvolvimento de programa de 30. Criar, garantir e promover legislação –
formação e capacitação de pessoas da própria urgentemente - que possibilite a todo cigano, em
comunidade cigana para realizarem o atendimento qualquer idade, obter o registro civil, gratuitamente,
local de saúde, garantindo-lhes os meios garantindo-lhe a cidadania plena.
necessários para tal, inclusive os de emergência. 31. Criar e fortalecer instâncias e meios para
19. Garantir o tratamento odontológico e disponibilizar informações e assessoria jurídica
oftalmológico de qualidade para as comunidades gratuita às pessoas da comunidade cigana.
ciganas, em especial para crianças e idosos, e 32. Garantir em lei o reconhecimento como
ampliar a política preventiva de saúde-bucal e domicílio as barracas instaladas em um
oftalmológica. acampamento cigano, assegurando o direito de
20. Elaborar e implementar programas contra inviolabilidade domiciliar.
desnutrição materno-infantil, incluindo a melhoria
da assistência pré-natal e pós-natal.
TERRA E HABITAÇÃO
TRABALHO E RENDA
33. Garantir que terras públicas, nas cidades ou
21. Criar e implementar programas e ações
cercanias, sejam destinadas aos acampamentos de
emergenciais e estruturantes de geração de
ciganos nômades que circulam por territórios
trabalho e renda das comunidades ciganas.
descontínuos.
22. Garantir a capacitação de profissionais para
34. Garantir e viabilizar a implementação de infra-
implementar recortes diferenciados nas políticas de
estrutura básica (água, luz, saneamento e
inclusão social dos ciganos.
instalações sanitárias, etc.) para uso das
23. Garantir à comunidade cigana o acesso e a
comunidades ciganas nômades.
gestão facilitados aos recursos financeiros dos
35. Convidar e viabilizar a participação da
diferentes órgãos de governo.
comunidade cigana nas audiências públicas
24. Apoiar e garantir o processo continuado de
realizadas ao longo do processo de licenciamento
mobilização (encontros, seminários, visitas,
de obras ou empreendimentos que lhes afetem
reuniões, material de comunicação, etc.)
direta ou indiretamente.
capacitação e organização comunitária cigana.
36. Dotar comunidades ciganas organizadas em
25. Apoiar financeira e logisticamente a criação,
Associações de terreno para a instalação de 40
estruturação e manutenção das formas tradicionais
(quarenta) barracas, para permanência dos
de organização das comunidades ciganas
nômades, por tempo indeterminado. Os terrenos
26. Garantir a liberdade para as comunidades
deverão ter a infra-estrutura necessária para o bem
ciganas, em especial as mulheres ciganas em sua
estar, saúde física e mental da comunidade cigana.
cultural e tradicional leitura das mãos, ou shows
culturais – dança, canto e artesanato – sem

34
ABRACIPR – Associação Brasileira de Ciganos no Diante disto, desiludidos com a SEPPIR e o
Paraná - PR Governo em geral, os representantes das
UCB – União Cigana do Brasil – RJ organizações ABRACIPR, UCB, CERCI, APRECI
CERCI – Centro de Estudos e Resgate da Cultura e CCB, num e-mail de 6 de agôsto de 2009,
Cigana – SP
divulgaram o seguinte conselho:
APRECI – Associação de Preservação da Cultura
Cigana – PR “Ciganos. Sigam escondidos. Como
CCB – Coletivo de Cigano Calon do Brasil - SP sempre fizeram. Única maneira de
Há quem afirma que somente a partir da era Lula, sobreviver dignamente, dentro de toda a
“pela primeira vez na História do Brasil ....”, indignidade que te impõem.
começaram a existir políticas pró-ciganas. Nossa história, nossa sobrevivência nos
Políticas estas que os ciganos nunca viram na ensina: ser invisível é a única forma de
prática, ou desconhecem por completo. Porque, preservar nossa existência, nossa
nas palavras de Guzzo: família, nossa cultura.
“O Brasil vem se tornando, nos últimos anos, uma Mas não desistimos da luta, não
espécie de paraíso da tapeação. O grande perderemos nunca a esperança de um
responsável por mais essa realização nacional é o dia vir à tona a verdade, a justiça e a
governo, ou quem manda no governo, com o dignidade ... vencendo, como venceram
desenvolvimento de técnicas cada vez mais
suas próprias lutas nossos irmãos
avançadas e eficientes para convencer a opinião
negros, judeus, árabes e outras etnias,
pública de que coisas que todo mundo está vendo
não existem – ou que existem coisas que ninguém
que vivem hoje, dignamente, na
consegue ver”. (J.R. Guzzo, VEJA, 22.06.2011, p. sociedade brasileira, sem a interferência
142). e favores dos mal intencionados.

As políticas pró-ciganas no Brasil são mais um Chegará o dia? A história nos prova que
exemplo disto. Mas o problema não é só este: pior sim. Não importa o tempo. Será para
ainda é que no deserto de Brasília o clamor dos futuras gerações. Viverão os tempos
ciganos não é ouvido pelo governo, que não quer bons pelos quais, hoje, lutamos. Por
ouvir, ou faz de conta que não ouve. enquanto, sigamos invisíveis. Eles que
continuem nos ignorando.

35
3. POLÍTICAS CIGANAS NA EUROPA. órgãos é o Parlamento Europeu, em 2007 com
785 deputados eleitos nos então 27 Estados-
Membros.
Embora existam vários documentos da União
Na Europa, políticas pró-ciganas surgiram apenas
Européia sobre racismo e xenofobia, e sobre
após a II Guerra Mundial. Primeiro no Conselho
“nômades” e “minorias” em geral, pouca atenção
da Europa (CE), e depois na União Européia (UE).
tem sido dada aos ciganos. Nos 28 documentos
O Conselho da Europa foi criado em 1949 e hoje normativos sobre racismo e xenofobia publicados
são membros 47 países europeus. É formado por pela União Européia entre 1986 e 1996, apenas
uma Comissão de Ministros, que são os ministros dois mencionam rapidamente os ciganos. O
de relações exteriores dos países membros, e primeiro, de 1991, solicita “programas de ação
uma Assembléia Parlamentar com deputados específicos para os ciganos e outras comunidades
nomeados pelos parlamentos dos países itinerantes”, lembra a existência de outro
membros. O CE divulgou umas 150 “Convenções” documento sobre a educação de crianças ciganas
que tratam de direitos humanos, questões sociais e nômades, e solicita respeito pela forma de vida
e econômicas, educação, cultura, saúde, e outros. tradicional dos ciganos e outras comunidades
A mais conhecida talvez seja a Convenção nômades. O segundo, de 1995, lembra “o
Européia de Direitos Humanos de 1950. De 1995 holocausto dos judeus e o genocídio dos ciganos”.
é uma Convenção sobre os Direitos das Minorias. E nada mais.
Além de Convenções, o Conselho da Europa Um dos poucos documentos mais amplos da
produz também Recomendações e Resoluções. União Européia é a Resolução sobre a Situação
Mas não se trata de documentos jurídicos – como dos Ciganos na UE, de abril de 1994, que repete
leis e decretos – que obrigam os países membros muitos temas já vistos antes nos documentos do
a determinadas atitudes ou ações. Cada país é Conselho da Europa, mas acrescenta algumas
livre de adotá-las ou não. Ou seja, são apenas novidades bem mais radicais, pelo menos no
documentos com boas intenções, quase sempre campo político. A Resolução informa, por
sem qualquer efeito prático. Principalmente exemplo, que "o povo Rom constitui uma das
quando tratam de ciganos. maiores minorias na União Européia" e
recomenda aos governos membros que, na
O primeiro documento do Conselho da Europa
Convenção Européia sobre Direitos Humanos, os
que trata de ciganos é a Recomendação 563 de
ciganos explicitamente sejam reconhecidos como
1969. A seguir, serão citadas ainda a Resolução
minorias, um status lhes negado em muitos
13 de 1975, a Resolução 125 de 1981 e a
países da UE. Os ciganos devem ter ainda o
Resolução 153 de 1989.
direito de viajar livremente por todos os países da
A União Européia começou com a criação da UE, como qualquer outro cidadão da UE. A seguir
BENELUX - Bélgica, Nederland (Holanda) e serão citadas apenas a Resolução 151 de 2005 e
Luxemburgo. Até prova em contrário, a BENELUX a Resolução 35 de 2008.
nunca se preocupou com ciganos. Em 1957 foi
O mais importante talvez não sejam todos estes
substituida pela Comunidade Econômica
documentos políticos, muitas vezes de valor
Européia, formada por seis países: Alemanha,
prático mais do que duvidoso ou
Bélgica, França, Holanda, Itália e Luxemburgo,
comprovadamente nulo, mas o fato de a
aos quais depois se juntaram Dinamarca, Irlanda
problemática cigana finalmente ter sido
e o Reino Unido (1973), Grécia (1981), Espanha e
amplamente discutida também no Parlamento
Portugal (1986), e Austria, Finländia e Suécia
Europeu. Porém, enquanto permanecer esta
(1995). A partir de 1993 passou a ser chamada
mentalidade burocrática e diplomática, com belos
União Européia. Em 2003 mais 10 países
discursos e documentos oficiais produzidos por
ingressaram na UE. Em 2007 faziam parte 27
pessoas talvez até bem intencionadas, mas que
países, e vários outros paises já solicitaram seu
provavelmente nunca apertaram a mão de um
ingresso na UE, que deve continuar a crescer
cigano e não sabem absolutamente nada sobre os
também no futuro (http://europa.eu). Um dos seus
problemas práticos enfrentados pelas minorias

36
ciganas, e enquanto tudo ficar apenas na base de “Considerando que a falta de instrução, devida
recomendações e convites às autoridades locais, principalmente ao modo de vida itinerante dos
regionais ou nacionais, e não de ordens seguidas ciganos e outros nômades, tem efeitos futuros,
de sanções contra os infratores, os ciganos não além dos fatores puramente materiais e financeiros,
podem esperar muitos resultados positivos, já que sobre sua vida e sobre o clima social, efeitos que
tudo depende da boa ou (quase sempre) má arriscam prejudicar a longo prazo sua integração
vontade da população local e de seus na moderna sociedade européia e sua aceitação
representantes políticos, na quase totalidade dos como cidadãos com direitos iguais;
Recomenda ao Conselho dos Ministros de incitar
casos comprovadamente anticiganos.
os governos membros:
A seguir trataremos das políticas, dos direitos e - a estimular, já que não é possível frequentar as
das reivindicações ciganas, em oito linhas escolas existentes, a criação, perto dos terrenos de
temáticas: 1. educação; 2. cultura; 3. língua; 4. acampamento ou de outros lugares onde grupos de
saúde; 5. terra e habitação; 6. trabalho e renda; 7. nômades se reunem regularmente, de classes
segurança e justiça; 8. autodeterminação. especialmente destinadas a suas crianças, a fim de
facilitar sua integração nas escolas públicas, e a
As políticas, direitos e reivindicações serão estabelecer uma ligação satisfatória entre os
apenas apresentadas, sem muitos comentários ou programas escolares das crianças nômades e os
até sem comentário algum. Esta parte visa programas do Ensino de Segundo Grau ou de
principalmente fornecer aos brasileiros ciganos outras formas de instrução mais avançadas.
subsídios para futuros encontros e congressos a - a criar ou a melhorar as possibilidades de
serem realizados no Brasil. As fontes são citadas formação profissional dos ciganos e dos nômades
nas “Referências bibliográficas II – Documentos”, adultos visando melhorar suas atividades
no final deste ensaio. profissionais” .

3.1. Educação. Anos depois, na Resolução 13 de 1975, o


Conselho da Europa voltou a tratar do assunto:
Na Convenção da Unesco, de 1960, relativa à luta
contra a discriminação no campo do ensino, os “O Conselho de Ministros .... consciente do fato de
Estados membros convêm que: que a baixa taxa de escolarização das crianças
nômades compromete gravemente suas
“Deve ser reconhecido aos membros das minorias possibilidades de promoção social e profissional ...
nacionais o direito de exercer atividades educativas recomenda:
que lhe sejam próprias, inclusive a direção das Educação, orientação e treinamento profissional.
escolas e .... o uso ou ensino de sua própria língua 1. A escolarização dos filhos de nômades deve ser
desde que, entretanto: (I) esse direito não seja encorajada pelos métodos mais apropriados,
exercido de uma maneira que impeça aos visando a integração destas crianças no sistema
membros das minorias de compreender a cultura e escolar normal.
a língua da coletividade e de tomar parte em suas 2. Ao mesmo tempo, a educação geral dos adultos,
atividades ou que comprometa a soberania inclusive a alfabetização, deve ser favorecida, se
nacional; (II) o nível de ensino nessas escolas não necessário.
seja inferior ao nível geral prescrito ou aprovado 3. Os nômades e seus filhos devem efetivamente
pelas autoridades competentes; e (III) a frequência poder beneficiar-se das diferentes possibilidades
a esses escolas seja facultativa”. existentes de orientação, de formação ou de
Na Europa o assunto já tem sido discutido há reformação profissional.
algum tempo, e várias soluções práticas já foram 4. Em matéria de orientação e de formação
sugeridas para o ensino de populações nômades. profissional, convém levar ao máximo em conta as
aptidões e inclinações inatas destas populações”.
Apesar disto, o índice de analfabetismo entre os
nômades continua alto em praticamente todos os E em 1981 o Conselho da Europa, na Resolução
países. 125 de 1981,
Um dos primeiros documentos oficiais sobre a “ solicita ao Conselho de Cooperação Cultural:
educação de minorias é a Recomendação 563/69, I. providenciar um estudo completo sobre
na qual o Conselho da Europa: problemas educacionais e de treinamento

37
profissional para nômades.....; II. preparar, como priado para documentação e reflexão, e o divulgue
parte de seu trabalho sobre educação intercultural, por todos os meios possíveis entre professores,
informação sobre dossiês para professores da escolas, associações ciganas e não-ciganas,
história, cultura e vida familiar de povos de origem associações familiares, assistentes sociais,
nômade nos Estados membros, semelhantes aos autoridades locais, etc.; que sejam formados
dossiês informativos para professores de crianças grupos locais, compostos de ciganos, professores,
de imigrantes; III. estudar a possibilidade de assistentes sociais, representantes das autoridades
elaborar, se possível em cooperação com a locais, etc., para mediar e planejar; estes grupos
Unesco, um programa específico de treinamento proporcionarão um forum para discussão e
para professores visando habilitá-los ao ensino da reflexão entre as várias partes envolvidas; que,
língua rom (cigana)”. como regra geral, toda ação de natureza
educacional e informativa seja elaborada e
Isto é feito num “Seminário sobre o treinamento
implementada consultando-se os próprios ciganos,
de professores de crianças ciganas”, realizado em e que seja baseada num conhecimento exato da
Donaueschingen, em 1983, que aprova a seguinte situação concreta.
resolução:
O Conselho da Europa volta a se pronunciar na
"Considerando: as precárias condições de Resolução 153 de 1989, após uma reunião com
atendimento escolar para crianças ciganas e
os Ministros de Educação das Comunidades
nômades; a importância da educação escolar para
Européias, e que mostra claramente a gravidade
o futuro cultural, social e econômico destas
do problema:
crianças; as exigências legítimas dos ciganos e
povos nômades, ansiosos de que sua cultura e seu “considerando que os ciganos e os viajantes
futuro sejam respeitados; as exigências legítimas constituem atualmente na Comunidade uma
dos professores, em especial quanto ao população de mais de um milhão de pessoas e que
treinamento inicial e posterior e à informação , depois de mais de 500 anos, sua cultura e sua
adequada; a natureza conflitual do contato entre língua fazem parte do património cultural e
povos ciganos e nômades e a população linguístico da Comunidade;
envolvente; a magnitude e a importância das considerando que a situação atual, de maneira
imagens negativas a respeito destes povos, sobre geral e em particular na setor educacional, é
os quais ainda muitos conceitos errôneos preocupante; que somente 30 a 40% das crianças
prevalecem. ciganas e viajantes frequentam a escola com algu
Recomenda: que sejam tomadas todas as medidas ma regularidade; que a metade jamais é
apropriadas para assegurar o treinamento inicial e escolarizada; que uma percentagem muito
posterior de professores afim de habilitá-los com pequena atinge e ultrapassa o ensino de segundo
um método pedagógico adaptado a minorias grau; .... que a taxa de analfabetismo entre os
culturais; que a matrícula de crianças ciganas e adultos muitas vezes ultrapassa 50% e em certas
nômades em escolas normais - a tendência atual regiões atinge 80% e mais;
de educação intercultural - sempre seja considerando que mais de 500.000 crianças estão
acompanhada de treinamento adequado dos envolvidas e que este número constantemente
professores e a adaptação dos currículos e das deve ser revisado para cima em razão da
estruturas escolares; que a língua e a cultura juventudade das comunidades dos ciganos e
cigana sejam usadas e respeitadas da mesma viajantes, a metade dos quais tem menos de 16
forma como as línguas e as culturas regionais e anos;
aquelas de outras minorias; que sejam considerando que a escolarização, notadamente
estabelecidos vínculos entre as escolas e as por causa dos instrumentos que ela pode fornecer
famílias ciganas, no interesse de uma participação para a adaptação a um meio em transformação e
genuina; que aos professores ciganos seja para a autonomia pessoal e profissional, é um
garantida prioridade no ensino de crianças ciganas; passo inícial fundamental para o futuro cultural,
que em escolas com grande número de crianças social e econômico das comunidades ciganas; (...)
ciganas, a equipe de auxiliares inclua pessoas de Adotam a seguinte resolução:
cultura cigana. Os Estados membros se esforçarão para promover:
Recomenda, ainda: que em cada Estado um grupo a) as estruturas: apoio aos estabelecimentos
de ciganos e nômades ... prepare material apro- escolares, proporcionando-lhes as facilidades

38
necessárias para que possam acolher as crianças de adquirirem educação em todos os níveis, pelo
de ciganos e viajantes; apoio aos professores, aos menos em condições de igualdade com o restante
alunos e aos pais; da comunidade nacional.
b) a pedagogia e os materiais didáticos: Artigo 27
experimentação com ensino à distância, que possa 1. Os programas e os serviços de educação
responder melhor à realidade do nomadismo; destinados aos povos interessados deverão ser
desenvolvimento de formas de acompanhamento desenvolvidos e aplicados em cooperação com
pedagógico; medidas visando facilitar a passagem eles a fim de responder às suas necessidades
da escola à educação/formação permanente; particulares, e deverão abranger a sua história,
atenção para a história, a cultura e a língua dos seus conhecimentos e técnicas, seus sistemas de
ciganos e viajantes; emprego de novos meios valores e todas suas demais aspirações sociais,
(educacionais) eletrônicos e de vídeo; material econômicas e culturais.
didático para os estabelecimentos escolares que se 2. A autoridade competente deverá assegurar a
dedicam à escolarização de crianças de ciganos e formação de membros destes povos e a sua
viajantes; participação na formulação e execução de
c) o recrutamento e a formação inicial e contínua programas de educação, com vistas a transferir
dos professores: formação contínua e progressivamente para esses povos a
complementar adaptada para os docentes que responsabilidade de realização desses programas,
trabalham com crianças de ciganos e de viajantes; quando for adequado.
formação e emprego, quando possível, de 3. Além disso, os governos deverão reconhecer o
docentes originários da população cigana ou de direito desses povos de criarem suas próprias
viajantes; instituições e meios de educação, desde que tais
d) informação e pesquisa: intensificação de ações instituições satisfaçam as normas mínimas
de documentação e informação de escolas, estabelecidas pela autoridade competente em
docentes e pais, e estímulo à pesquisa sobre a consulta com esses povos. Deverão ser facilitados
cultura, a história e a língua dos ciganos e dos para eles recursos apropriados para essa
viajantes”. finalidade.
Artigo 28
Um ano depois, o tema é discutido na Conferência
1. Sempre que for viável, dever-se-á ensinar às
sobre Segurança e Cooperação na Europa, crianças dos povos interessados a ler e escrever
quando se solicita aos Estados-membros na sua própria língua indígena ou na língua mais
“esforços para garantir que as pessoas comumente falada no grupo a que pertençam.
pertencentes às minorias nacionais, independente Quando isso não for viável, as autoridades
do fato de que elas devem aprender a língua ou as competentes deverão efetuar consultas com esses
línguas oficiais do Estado em questão, tenham a povos com vistas a se adotar medidas que
possibilidade de aprender sua língua materna como permitam atingir esse objetivo.
também, se possível e necessário, de utilizá-la em 2. Deverão ser adotadas medidas adequadas para
suas relações com os poderes públicos, de acordo assegurar que esses povos tenham a oportunidade
com a legislação nacional em vigor. Nos de chegarem a dominar a língua nacional ou uma
estabelecimentos escolares, o ensino da história e das línguas oficiais do país.
da cultura levará em conta também a história e a 3. Deverão ser adotadas disposições para se
cultura das minorias nacionais”. preservar as línguas indígenas dos povos
interessados e promover o desenvolvimento e a
Embora sem citar os ciganos, a Convenção 169 pratica das mesmas.
da Organização Internacional do Trabalho, de Artigo 29
1989, conhecida como a “Convenção Relativa aos Um objetivo da educação das crianças dos povos
Povos Indígenas e Tribais em Países interessados deverá ser o de lhes ministrar
Independentes”, trata da educação das minorias conhecimentos gerais e aptidões que lhes
étnicas, que incluem também os ciganos. permitam participar plenamente e em condições de
igualdade na vida de sua própria comunidade e na
Parte VI - Educação e meios de comunicação.
da comunidade nacional.
Artigo 26
Artigo 30
Deverão ser adotadas medidas para garantir aos
1. Os governos deverão adotar medidas de acordo
membros dos povos interessados a possibilidade
com as tradições e culturas dos povos

39
interessados, a fim de lhes dar o conhecer seus 2. a língua, a história e a cultura dos Rom e dos
direitos e obrigações especialmente no referente ao Sinti não são suficientemente levadas em
trabalho e às possibilidade econômicas, às consideração na escola;
questões de educação e saúde, aos serviços 3. as dificuldades resultantes da situação social e
sociais e aos direitos derivados da presente econômica impedem inúmeras famílias de
Convenção. enviarem os seus filhos à escola em condições
2. Para esse fim, dever-se-á recorrer, se for aceitáveis;
necessário, a traduções escritas e à utilização dos 4. estereótipos e preconceitos influenciam
meios de comunicação de massa nas línguas negativamente o comportamento dos responsáveis
desses povos. políticos, dos professores, dos pais dos alunos, dos
Artigo 31 outros alunos, e a rejeição continua a ser um
Deverão ser adotadas medidas de caráter componente importante da situação, constituindo
educativo em todos os setores da comunidade obstáculo de acesso à escolas das crianças Rom e
nacional, e especialmente naqueles que estejam Sinti;
em contato mais direto com os povos interessados, 5. acrescenta-se que migrações constantes
com o objetivo de se eliminar os preconceitos que provocam a deslocação de famílias ciganas da
poderiam ter com relação a esses povos. Para Europa Oriental para a Ocidental; esta situação
esse fim, deverão ser realizados esforços para deve reforçar as ligações e as ações comuns entre
assegurar que os livros de História e demais a Europa de Leste e do Oeste no sentido de que o
materiais didáticos ofereçam uma descrição acolhimento escolar das crianças seja preparada
eqüitativa, exata e instrutiva das sociedades e nas melhores condições. (....)
culturas dos povos interessados. Os programas da Comunidade Européia dirigidos
aos Estados do Leste devem, também eles,
Embora em muitas publicações se afirme que os
favorecer esta colaboração citando, de modo
ciganos dão pouco valor à educação formal, os explícito, os Rom e os Sinti entre outros grupos
participantes do Congresso Internacional sobre considerados como prioritários. Entre as ações
Políticas Ciganas, realizado em 1991, desmentem prioritárias, o grupo salienta:
esta informação: 1. a importância de um trabalho de harmonização
“É importante recordar que a educação é o meio da língua;
fundamental de promoção da cultura e da aquisição 2. a importância da compilação de textos sobre a
dos instrumentos de adaptação ao meio; outrossim, história dos Rom e dos Sinti destinados quer aos
é o instrumento principal para o desenvolvimento estudantes rom quer a outros, no âmbito de uma
da autonomia. Por conseguinte, deve ser prestada pedagogia intercultural;
a máxima atenção à educação bem como às 3. a importância do ensino de língua materna às
condições em que aquela se desenvolve. crianças desde o seu primeiro ingresso na escola;
O grupo de trabalho sobre a escola viu-se obrigado 4. a importância de uma escolarização intercultural
a constatar que, em toda a parte, a situação das crianças desde a mais tenra idade;
escolar das crianças rom e sinti é sempre muito 5. a importância da formação inicial e da
difícil. As análises e as conclusões apresentadas preparação dos professores numa perspectiva
durante os estudos e os encontros precedentes intercultural com referência à cultura romani;
continuam válidos, em particular os trabalhos 6. a importância da formação de monitores e
conduzidos no quadro das Comunidade Européia e mediadores rom e sinti, que possam agir como
do Conselho da Europa. Remetemos para aqueles intermediários entre os pais dos alunos e os
trabalhos e, especialmente, para o primeiro responsáveis da escola para a informação e a
seminário dos professores ciganos, organizado na coordenação das ações. Poder-se-á promover um
Espanha pela Comissão da Comunidade Européia centro europeu para a formação destes mediadores
e pelo Ministério espanhol de Educação. Devem rom e sinti.
ser destacados os seguintes fatos: 7. a importância da participação, sempre crescente,
1. que estamos numa situação com caráter de dos especialistas rom e sinti na elaboração e na
urgência sendo necessário agir rapidamente para execução das medidas para suas próprias
melhorar as condições de escolarização em todos comunidades”.
os níveis; Vários documentos mais recentes do Parlamento
Europeu continuam tratando da educação cigana,

40
como a Resolução sobre a situação dos 14. Insta a Comissão a estudar a possibilidade de
romanichéis (Rom) na União Europeia, Resolução reforçar a legislação relativa à antidiscriminação em
151 de 2005 - P6_TA(2005)0151: matéria de educação, com especial relevo para a
eliminação da segregação, e a comunicar ao
O Parlamento Europeu, Parlamento as suas conclusões a esse respeito no
... Considerando que, em vários Estados-Membros, prazo de um ano após a adopção da presente
nos sistemas de educação se pratica a segregação resolução; reafirma que a igualdade de acesso à
racial, verificando-se que as crianças romanichéis educação de qualidade deve constituir uma
ou frequentam classes separadas de nível inferior prioridade no âmbito da estratégia europeia relativa
ou classes para alunos com deficiências mentais; aos rom; exorta a Comissão a redobrar de esforços
reconhecendo que é crucial melhorar o acesso dos no sentido de financiar e apoiar as acções nos
cidadãos romanichéis à educação e as suas Estados-Membros que visam integrar as crianças
oportunidades de conseguirem um grau rom no sistema de ensino a partir da mais tenra
académico, para que se alarguem as perspectivas idade; insta a Comissão a apoiar programas que
das comunidades romanichéis: promovam acções positivas a favor dos rom no
15. Convida os Estados-Membros em que as ensino secundário e superior, incluindo a formação
crianças romanichéis são segregadas, ao serem vocacional, a educação de adultos, a
colocadas em escolas para deficientes mentais ou aprendizagem ao longo da vida e o ensino
em salas de aula separadas dos seus colegas, a universitário; incita a Comissão a apoiar outros
empreenderem programas de dessegregação num programas que promovam modelos positivos e
período de tempo prédefinido, assegurando, assim, eficazes de eliminação da segregação.
o livre acesso das crianças romanichéis a um
ensino de qualidade e prevenindo o surgimento de A questão da educação cigana, infelizmente, não
sentimentos anti-romanichel entre os alunos; é tão simples como às vezes parece. Muitas
16. Relembra a resolução do Conselho e dos vezes as idéias dos intelectuais ciganos e não-
Ministros da Educação reunidos no seio do ciganos se chocam com aquilo que pensam os
Conselho, de 22 de Maio de 1989, relativa à ciganos em geral.
escolaridade das crianças ciganas e viajantes, e
considera que a necessidade de assegurar que as Na Romênia pós-comunista o ensino continuou
crianças romanichéis tenham acesso ao ensino sendo obrigatório para todos, mas as crianças
tradicional continua a ser uma prioridade; ciganas costumavam ser discriminadas nas
escolas. E isto não somente porque muitas vezes
Três anos depois o Parlamento Europeu divulgou não falavam direito a língua romena ou porque
a Resolução sobre uma estratégia europeia para eram pobres e não possuiam as roupas
os Rom. Resolução 35 de 2008 - P6_TA- apropriadas, mas apenas pelo fato de serem
PROV(2008)0035: ciganos. Em 1990/91 o Ministério da Educação
O Parlamento Europeu , iniciou o treinamento de professores aptos a
– Tendo em conta o estabelecimento, em 2005, da ensinarem em romani (língua cigana), mas o
"Década de Inclusão dos Romanichéis" e de um programa teve pouco sucesso porque muitos pais
Fundo para a Educação dos Rom por alguns ciganos não gostaram da idéia porque “temiam
Estados-Membros, países candidatos e outros que classes ou escolas separadas somente
países nos quais as instituições da União Europeia marginalizariam ainda mais os ciganos, e
estão significativamente representadas, acreditavam que a melhor oportunidade para seus
F. Considerando que a segregação na educação filhos era esconder a sua origem étnica”. Nas
continua a ser tolerada no conjunto dos palavras de uma mãe: “Nós não estamos
Estados-Membros da UE; reconhecendo que tal interessados em escolas ciganas. Nós temos
discriminação quanto ao acesso a uma educação medo de sermos ainda mais marginalizados.
de qualidade afecta de forma persistente a Queremos ser mais integrados, sem sermos
possibilidade do desenvolvimento e do gozo dos
identificados como ciganos”. Ou conforme um
direitos ao progresso escolar das crianças rom,
líder cigano: “Não faz sentido existirem escolas
G. Considerando que a educação é um instrumento
fundamental para combater a exclusão social, a
romani separadas. Nós estamos na Romênia, e
exploração e a criminalidade; [por isso] devemos ser capazes de escrever e
falar romeno. Na minha opinião, se tivessemos

41
[escolas exclusivamente para crianças ciganas], Também a Conferência sobre Segurança e
teríamos somente conflitos. Nós seríamos Cooperação na Europa, em 1990, se pronunciou a
marginalizados ainda mais” (Helsinki Watch respeito do assunto:
1991b).
32. Pertencer a uma minoria nacional é assunto de
Ou seja, nem sempre aquilo que os intelectuais escolha pessoal, e esta escolha não pode resultar
ciganos e não-ciganos pensam corresponde em danos. As pessoas pertencentes a uma minoria
àquilo que o “povão” cigano pensa, o que os nacional têm o direito de de expressar, de
ciganos discriminados e marginalizados pensam, preservar e de desenvolver em plena liberdade sua
aqueles ciganos que vivem em favelas, ou identidade étnica, cultural, linguística ou religiosa, e
debaixo de viadutos, na Espanha, em Portugal e de manter e desenvolver sua cultura sob todas as
em outros tantos países. formas, salvos de qualquer tentativa de assimilação
contra sua vontade. Em particular, elas têm o
3.2. Cultura. direito de:
32.1. Utilizar livremente sua língua materna, na
A Declaração Universal dos Direitos dos Povos,
vida privada como também em público.
de 1976, dedica uma seção ao "Direito à Cultura", 32.2. Criar e manter suas próprias instituições,
na qual afirma: organizações ou associações educativas, culturais
Art. 13 - Todo povo tem o direito de falar sua e religiosas, podendo solicitar ajudas financeiras
língua, de preservar e desenvolver sua cultura, sobretudo lucrativas, e outras contribuições,
contribuindo assim para o enriquecimento da inclusive ajuda pública, conforme a legislação de
cultura da humanidade. cada país.
Art. 14 - Todo povo tem direito às suas riquezas 32.3. Professar e praticar sua religião, inclusive
artísticas, históricas e culturais. possuir e utilizar objetos religiosos, como também
Art. 15 - Todo povo tem direito a que se não lhe ministrar ensino religioso em sua língua materna.
imponha uma cultura estrangeira. 32.4. Estabelecer e manter contatos entre si no seu
país, como também manter contatos extra-
O Conselho da Europa, em sua Resolução 125 de fronteiras com cidadãos de outros Estados (da
1981 acrescenta: Comunidade Europeia), que têm em comum uma
13. Recomenda ao Conselho de Ministros: origem étnica ou nacional, um patrimônio cultural
IV. Estudar a viabilidade de se criar ..... um fundo ou crenças religiosas.
de solidariedade afim de financiar as medidas 32.5. Corresponder e trocar informações na sua
gerais de assistência aos nômades, inclusive língua materna e ter acesso a estas informações.
medidas a serem tomadas para a promoção de sua 32.6. Criar e manter organizações ou associações
identidade cultural. no seu país e participar de atividades de
VI. estudar a viabilidade de se criar, no quadro do organizações não-governamentais internacionais.
Conselho da Europa, um centro de informação (....)
sobre viajantes, como uma contribuição ..... para a 33. Os Estados participantes protegerão a
luta contra os preconceitos e as discriminações e identidade étnica, cultural, linguística e religiosa
para compensá-los pelas injustiças sofridas no das minorias nacionais que vivem em seu território
passado; este objetivo, evidentemente, deve ser e criarão as condições necessárias para promover
perseguido em contato estreito com os nômades; o esta identidade. Eles tomarão as medidas
Centro deve providenciar informação não somente necessárias a este respeito, após ter realizado as
para os próprios nômades, como também para as consultas apropriadas, e especialmente após terem
municipalidades e regiões envolvidas. entrado em contato com as organizações ou
14. Exorta os governos dos Estados membros: associações destas minorias, conforme os
II. a reconhecer os Rom (ciganos) ..... como processos de decisão de cada Estado. Estas
minorias étnicas e, consequentemente, garantir- medidas deverão ser em conformidade com os
lhes o mesmo status e as vantagens desfrutadas princípios de igualdade e de não-discriminação
por outras minorias; em especial quanto ao respeito com respeito aos outros cidadãos do Estado
e a manutenção de sua própria língua e cultura. participante em questão.

42
Mais práticas são as medidas propostas pelos e desenvolver. Este princípio está, entre outros,
Rom no Congresso Internacional sobre Políticas consignado na Declaração Universal dos Direitos
Ciganas, em 1991: Humanos.

A única possibilidade de superar, desde já, a Até a OIT – Organização Internacional do


atitude hostil da população maioritária para com os Trabalho, em sua Convenção 169, de 1989, trata
Rom e os Sinti passa por uma informação imediata do assunto:
e objetiva que deve salientar não apenas os
Artigo 4
aspectos negativos do seu modo de vida, como
1. Deverão ser adotadas as medidas especiais que
sucede com frequência, mas sobretudo as origens,
sejam necessárias para salvaguardar as pessoas,
a história, a cultura e as tradições deste povo.
as instituições, os bens, as culturas e o meio
Afim de serem superados os problemas que
ambiente dos povos interessados.
inevitavelmente irão surgir, é condição necessária
2. Tais medidas especiais não deverão ser
considerar a cultura dos Rom e dos Sinti igual à
contrárias aos desejos expressos livremente pelos
cultura de cada um dos outros povos. Para realizar
povos interessados.
este desiderato é preciso:
Artigo 5
1. recolher o máximo possível da tradição oral
Ao se aplicar as disposições da presente
popular e conservá-lo, quer seja em forma literária
Convenção:
quer seja em quaisquer das outras formas
a) deverão ser reconhecidos e protegidos os
existentes. Destaque para contos, provérbios,
valores e práticas sociais, culturais, religiosas e
fábulas, canções, poesia e música;
espirituais próprios dos povos mencionados e
2. criar um arquivo e um centro de documentação
dever-se-á levar na devida consideração a
informativo dos materiais relativos a todos os
natureza dos problemas que lhes sejam
aspectos da cultura e da história dos Rom e dos
apresentados, tanto coletiva como individualmente;
Sinti;
b) deverá ser respeitada a integridade dos valores,
3. promover condições sociais e medidas políticas
práticas e instituições desses povos;
para que os Rom e Sinti possam proclamar
c) deverão ser adotadas, com a participação e
livremente a sua identidade e diversidade étnico-
cooperação dos povos interessados, medidas
cultural e desenvolver a sua cultura específica para
voltadas a aliviar as dificuldades que esses povos
poderem exprimi-la de forma concreta;
experimentam ao enfrentarem novas condições de
4. possibilitar a inserção da cultura dos Rom e dos
vida e de trabalho.
Sinti no âmbito da cultura maioritária superando o
Artigo 8
particularismo familiar onde se encontra hoje,
1. Ao aplicar a legislação nacional aos povos
utilizando para tanto a rádio, a televisão, jornais,
interessados deverão se levados na devida
livros, música e espetáculos, e se possível também
consideração seus costumes ou seu direito
a língua cigana;
consuetudinário.
5. difundir conhecimentos sobre a história e a
2. Esses povos deverão ter o direito de conservar
cultura dos Rom e dos Sinti em todos os níveis a
seus costumes e instituições próprias, desde que
partir da escola;
eles não sejam incompatíveis com os direitos
6. promover a criação de associações e
fundamentais definidos pelo sistema jurídico
organismos culturais ciganos, reconhecidos a nível
nacional nem com os direitos humanos
local, nacional e internacional, com os
internacionalmente reconhecidos. Sempre que for
financiamentos apropriados;
necessário, deverão ser estabelecidos
7. inserir os programas das organizações Rom e
procedimentos para se solucionar os conflitos que
Sinti nos programas [governamentais], em pé de
possam surgir na aplicação deste princípio.
igualdade com outras organizações, inclusive
quanto ao financiamento. A sociedade majoritária só pode desenvolver
Na Terra há lugar para todos. Nenhum povo tem o respeito pela cultura da minoria cigana se
direito de oprimir e discriminar um outro apenas conhecer os valores e as manifestações das
porque este é diferente e vive em diáspora culturas ciganas. Mesmo na Europa são escassas
contínua. A única possibilidade para uma monografias detalhadas e confiáveis sobre as
convivência melhor consiste no respeito recíproco culturas ciganas, escritas por antropólogos ou
de um pelo outro e, acima de tudo, pelas tradições outros cientistas sociais, ciganos ou não-ciganos.
culturais que cada povo tem o direito de conservar No Brasil, então, são praticamente inexistentes.

43
Em parte isto é devido às dificuldades peculiares constituições nacionais modernas. Se existem
de pesquisa de campo entre povos nômades (mas países que proibem seus cidadãos de falarem
hoje, quando muito, só uns 10% dos ciganos línguas ou dialetos diferentes da língua nacional
ainda são nômades, inclusive no Brasil), e em boa oficial, serão poucos. De qualquer modo, não há
parte também à falta de cooperação por parte dos como proibir falar línguas e dialetos diferentes e
próprios ciganos que, por motivos diversos, não não-oficiais no uso diário, em casa ou na rua.
costumam ser muito generosos quando se trata
Vejamos a seguir algumas das conclusões e
de fornecer informações sobre o seu modo de
reivindicações do já citado Congresso
vida. É por este motivo que o Conselho da
Internacional sobre Políticas Ciganas e que são
Europa, na Resolução 125/1981, exorta os
suficientemente claras quanto à importância da
ciganos
realização de estudos linguísticos:
I - a procurar dar às outras pessoas plena
A língua é a expressão mais evidente da identidade
informação sobre sua própria identidade cultural e
de um povo. Ainda que minoritária, toda etnia tem o
social, sendo esta informação a melhor garantia
direito de exprimir, conservar e desenvolver a sua
contra discriminação e preconceito;
própria língua. A perda da língua significa a perda
II – a cooperar na busca de caminhos e meios
da identidade cultural de um povo. Os grupos
para sua adaptação às inevitáveis mudanças na
maioritários tem a responsabilidade e o dever moral
sociedade moderna, sem sacrificar sua identidade
de assegurar que este direito seja reconhecido
tradicional e seus valores.
para todos e posto em prática de maneira concreta.
Seria ideal se os ciganos brasileiros fizessem a Isto não é somente uma questão de proteção dos
mesma coisa, mas não é o que costuma direitos de minorias, mas um meio de incrementar o
acontecer. No Brasil, a cigana Aristicth reconhece respeito mútuo e o diálogo, afim de evitar qualquer
"que, algumas vezes, fomos injustiçados; porém forma de conflito social e cultural. Tudo isto serve,
admito que esta culpa cabe somente a nós. Se sobretudo, para enriquecer o patrimônio cultural de
nossos ancestrais tivessem tido a preocupação de cada comunidade.
informar e esclarecer as pessoas quanto aos Se a língua é expressão da cultura de um povo,
nossos hábitos e costumes e que não quando uma língua não é considerada igual em
dignidade à língua maioritária de um país, persistirá
pretendíamos agredir ninguém com a nossa
a impossibilidade de aquela cultura comunicar os
maneira de ser, certamente muitas destas
seus valores positivos, ficando assim favorecida a
injustiças não teriam ocorrido". Mais adiante, no recusa racista. O caso dos Rom é um exemplo que
entanto, a autora está a favor de não revelar demonstra a validade desta lei social geral.
costumes ciganos a estranhos e afirma que: "É Pelas razões expostas a língua romani reclama o
inadmissível que um não-cigano venha a seu direito de ser respeitada em pé de igualdade
conhecer mais as nossas tradições, hábitos e com todas as outras línguas do mundo, julgando-se
costumes do que nós mesmos" (Aristicth 1990: necessário para concretizar este direito que seja
11, 67). favorecido o seu desenvolvimento por todos os
meios tendo na devida conta as condições atuais
Ou seja, a kalderash Aristicth é declaradamente
do seu uso.
contrária a pesquisas realizadas por não-ciganos,
Estes dois propósitos devem ser perseguidos
incluindo antropólogos. Derrubar estas e outras
segundo as condições particulares de cada país,
barreiras que os ciganos, em defesa própria, no tendo em conta a situação real dos Rom.
decorrer dos séculos e ainda hoje, levantaram O primeiro objetivo é fortalecer as diversas
entre si e a sociedade dominante, e que inclue o variantes étnicas da língua romani, como o
seu mutismo quando se trata de informar sobre kalderari, o lovari, o romani eslovaco, etc. através
sua cultura e seus valores culturais, não é tarefa de uma elaboração programática da língua e pelo
fácil, mas também não é tarefa impossível. seu uso numa gama sempre mais vasta de funções
3.3. Língua. sociais.
O segundo objetivo é a criação gradual de uma
O direito de falar uma língua própria é língua padronizada que possa servir como meio de
reconhecido em muitos documentos comunicação para todos os Rom do mundo, encon-
internacionais e em praticamente todas as trando os meios adequados a sua difusão. Ambos

44
os propósitos não são contraditórios, mas entre os quais também renomados linguistas. Mas
complementares e podem se desenvolver em sabe-se também que a diversidade linguística
linhas paralelas. entre os ciganos é enorme e muitas vezes num
Com efeito, a língua romani apesar de ter uma mesmo país são faladas dezenas de dialetos
longa história que lhe permite remontar às suas ciganos. Na Bulgária, por exemplo, são falados
origens indianas, foi até há pouco tempo uma uns 50 dialetos romani (Crowe 1996). Acrescenta-
língua essencialmente oral, privada de uma forma se a isto que, até há pouco tempo, praticamente
literária. Todavia, atalmente sempre mais nada existia escrita e publicada em línguas
intelectuais rom e sinti sentem a necessidade de se
ciganas. Livros, jornais e revistas em romani são
exprimir na língua romani, também por escrito.
um fenômeno muito recente e seus editores
Devido a exigências literárias estes intelectuais, em
geral, optaram espontaneamente pelo uso do seu
costumam enfrentar as mais diversas dificulades
próprio dialeto. Porém, por causa dos contatos (PER 1996; Barany 2002). Daí a necessidade da
internacionais mais frequentes e amplos, vai-se participação também de linguistas não-ciganos.
sentindo cada vez mais a necessidade e o Mais uma vez, no entanto, os linguistas - ciganos
interesse de haver uma língua unitária de e não-ciganos - têm que enfrentar o mutismo, ou
intercomunicação. A concretização destes dois até a aberta hostilidade dos tradicionalistas que
objetivos poderá realizar-se da seguinte forma: quase sempre ignoram as políticas linguísticas do
1. Desenvolvimento das variedades étnicas, como movimento cigano internacional. Como
um objetivo em si mesmo, um meio para a criação
representante tradicionalista pode ser citada, mais
gradual de uma língua padrão:
uma vez, a cigana brasileira Aristicht (é possível
a) Investigação: - estudo e catalogação dos
dialetos de cada país e a elaboração de um mapa que hoje, com mais informações, pensa de
dos dialetos romani, sem levar em conta as maneira diferente):
fronteiras dos Estados; - coleta do maior número "Por ser uma língua sem escrita (ágrafa), é
possível de textos de todos os gêneros já passada de pais para filhos, e esse direito é só
publicados (narrações, biografias, literatura, nosso. Por isso, é extremamente proibido ensinar o
folclore, dados linguísticos, etc.); - análise dos nosso idioma para pessoas não-ciganas. Todo
materiais obtidos. Nota: este material tem uma cigano autêntico conhece esta proibição" ....
importância fundamental não só por motivos "Estudiosos e até mesmo ciganos "ou pessoas que
teóricos, mas também por poder servir para fins se dizem de origem cigana" escreveram dicionários
didáticos e culturais. Nele se conserva a herança do nosso idioma. O que me causa espanto é que
cultural dos Rom sendo o ponto de partida para estas pessoas demonstraram não ter qualquer
todo o desenvolvimento futuro. conhecimento de causa, pois, se o tivessem, não o
b) Educação: - elaboração de livros de textos, de fariam. Mal sabem eles que puseram em risco
material audiovisual e outros instrumentos nossa segurança e até mesmo nossa
educativos em língua romani; - tentativa de uso da sobrevivência. Se pessoas não-ciganas
língua romani nas escolas de primeiro grau, pelo aprenderem nosso idioma, como poderemos
menos como um meio auxiliar de ensino; a língua identificar os verdadeiros ciganos? Pesquisaram ou
romani como matéria facultativa; disciplinas de se informaram se nós estaríamos de acordo? Não!
estudos romani nas Universidades. Simplesmente apossaram-se da nossa cultura
c) Cultura: - acesso aos meios de comunicação; - como se fossem os donos. (...) Gostaríamos de
publicação de jornais, revistas, livros, etc. informar aos desavisados e aos que, por pura
2. Padronização da língua: - formação de uma vaidade pessoal o fazem, que não publiquem
comissão de especialistas de vários países; - "novos dicionários". Digo e afirmo, não somente em
promoção da língua padrão numa área mais ampla; meu nome, mas em nome do povo cigano, que não
- publicação de textos na língua padrão (Boletim da queremos e nem é do nosso interesse ter o nosso
União Romani, etc.) e de textos bilingues (padrão- idioma popularizado" (Aristicht 1995).
variante étnica), em revistas literárias, na
Enciclopédia Romani, etc.; - seminários de estudo A cigana brasileira, certamente sem saber, ou ter
de Verão. como saber, o que se passa na Europa e no
Mundo, está remando na contra-mão da História,
Hoje existem cientistas ciganos com títulos publicando no Brasil idéias totalmente contrárias
universitários, ou ensinando em universidades, às dos intelectuais e líderes ciganos reunidos no

45
já citado Congresso Internacional, realizado em Apesar de tudo, pelo menos na Europa, os
Roma, em 1991: intelectuais ciganos continuam seus estudos
linguísticos, ignorando as acusações dos
“Os três grupos de trabalho (língua, cultura e
escola, reunidos conjuntamente) reconhecem que a tradicionalistas. Só falta mesmo a cigana Aristicht
língua é um ponto focal de encontro e interesse (Aristides) acusar de traidor o euro-deputado
comum que é, de certo modo, prioritário. (...) Na cigano espanhol Juan de Dios Ramírez-Heredia,
verdade, todos estão de acordo sobre a autor de vários livros sobre ciganos, inclusive de
necessidade de se chegar, gradualmente, à criação uma “Gramática Cigana” (1993/95) que pode ser
de um padrão linguístico através de um consultada por ciganos e não-ciganos.
procedimento que não esqueça a riqueza das Desde o Século 19 existem ainda outras
variedades e respectiva validade nas utilizações
gramáticas e dicionários romani, vários dos quais
imediatas e individuais.
disponíveis na Internet.6 No Brasil, em 2009
A padronização pode também ser atingida com a
passagem por patamares intermediários que levam
Nicolas Ramanush (Tupan-An), cigano Sinti,
em conta as variantes regionais.. Assim, por publicou um livro intitulado: “Palavras Ciganas –
exemplo, entre as amplas diversidades dialetais Vocabulário e Gramática sintética do Romani-
existentes na Itália, podem ser reconhecidas Sinte”. Em hipótese alguma, e em parte alguma
variedades "regionais" cujas fronteiras extravasam do mundo, o “povo cigano” está ameaçado de
o território do país. De fato, os dialetos sinti estão extermínio por causa destas gramáticas e destes
difundidos para além da Itália em vários países dicionários! Antes pelo contrário!
centro-europeus e no leste constituindo-se numa 3.4. Saúde.
espécie de denominador comum de falares
diversos, mas assaz similares. (...) Em documentos europeus, as referências à saude
Um primeiro projeto é o da compilação de um cigana e assistência médica são poucas, quase
dicionário ilustrado, com palavras comuns (palavras inexistentes. O que faz supor que no exterior, ao
antigas) dos dialetos romani, nas várias grafias até contrário do Brasil, estes problemas para os
agora adotadas, que sirva de ponto de partida para ciganos ou não existem, ou são mínimos, e que
estudos ulteriores e, acima de tudo, para fazer a na Europa qualquer cigano pode ir para um
língua alcançar dignidade a partir de seu uso nas hospital público, e será bem atendido, igual ao
escolas. Um passo inicial será a elaboração de qualquer cidadão daquele país. A realidade não
uma primeira lista de palavras que se fará circular parece ser bem assim.
entre estudiosos dos vários países no intúito de se
alcançar uma lista final, na qual se baseará o O Conselho da Europa (CE), em sua
próprio dicionário. Um segundo projeto prevé a Recomendação 563, de 1969 solicita ao Conselho
experimentação de material didático sobre a língua, dos Ministros incitar os governos membros “a
em classes piloto de vários países, de modo adaptar a legislação nacional em vigor para fazer
coordenado, com sucessivos encontros destinados com que os ciganos e outros nômades tenham os
a avaliar os resultados conseguidos”. mesmos direitos da população sedentária em
Muitos ciganos certamente subscreverão a matéria de seguridade social e de cuidados
opinião de Aristicht, mas muitos outros não. médicos”.
Hovens informa que também na Holanda os "Sinti Parece que não teve muitos resultados, porque
holandêses evitam cuidadosamente que sua seis anos depois, na Resolução 13 de 1975, o CE
língua seja aprendida por estranhos, e menos recomenda que
ainda que [nas escolas] esta seja ensinada por
gadjé". Por isso, os Sinti holandêses nunca - A ajuda dada às pessoas nômades no quadro dos
sistemas nacionais de ação sanitária e social deve
pediram o ensino de sua língua nas escolas,
ser a mais completa possível, em cooperação com
embora suas crianças sempre mais estejam
os serviços médicos e sociais de qualquer tipo.
esquecendo a sua língua, já que em casa, na rua
e na escola falam apenas o holandês (Hovens 6.
1990). Entre outros mais: Borrow 2001/1874; Leland
2005/1874; Coelho 1995/1892; Gila-Kochanowski
1994; Halbwachs & Ambrosch 1999, 2002a, 2002b;
Heinschink & Krasa 2004 (com CD).

46
- Quando necessário, convém informar os Na Convenção 169 da OIT, Convenção Relativa
trabalhadores sociais sobre os problemas das aos Povos Indígenas e Tribais em Países
populações nômades e de promover a formação de independentes, consta:
trabalhadores sociais originários de famílias
nômades. Parte V - Seguridade social e saúde, Artigo 24
1. Os governos deverão zelar para que sejam
Quanto à seguridade social, recomenda ainda:. colocados à disposição dos povos interessados
- Medidas apropriadas devem ser tomadas para serviços de saúde adequados ou proporcionar a
evitar na medida do possível, que o modo de vida esses povos os meios que lhes permitam organizar
dos nômades não tenha como consequência de e prestar tais serviços sob a sua própria
impedir, na prática, que eles se beneficiem das responsabilidade e controle, a fim de que possam
vantagens às quais legalmente têm direito em gozar do nível máximo possível de saúde física e
matéria de seguridade social; estas medidas mental.
devem visar, em particular, facilitar o cumprimento 2. Os serviços de saúde deverão ser organizados,
das formalidades administrativas necessárias para na medida do possível, em nível comunitário.
receber os benefícios da seguridade social. Esses serviços deverão ser planejados e
- Os interessados devem ter acesso a uma administrados em cooperação com os povos
informação apropriada sobre seus direitos e interessados e levar em conta as suas condições
deveres em matéria de seguridade social e convém econômicas, geográficas, sociais e culturais, bem
ajudá-los a utilizar os serviços ofertados. como os seus métodos de prevenção, práticas
curativas e medicamentos tradicionais.
O Parlamento Europeu, na Resolução 151 de 3. O sistema de assistência sanitária deverá dar
2005: preferência a formação e ao emprego de pessoal
sanitário da comunidade local e se centrar no
“Exorta os Estados-Membros e os países
atendimento primário à saúde, mantendo ao
candidatos a adoptarem medidas para assegurar a
mesmo tempo estreitos vínculos com os demais
igualdade de acesso aos cuidados de saúde e aos
níveis de assistência sanitária.
serviços de segurança social para todos, a porem
4. A prestação desses serviços de saúde deverá
termo a todas as práticas discriminatórias e, em
ser coordenada com as demais medidas
particular, à segregação dos romanichéis nas
econômicas e culturais que sejam adotadas no
maternidades e a impedirem a prática da
país.
esterilização forçada das mulheres romanichéis”.
Três anos depois, na Resolução 35, o Parlamento 3.5 Terra e habitação.
Europeu:
O assunto é tratado – e continua sendo tratado –
“Pede ao Conselho, à Comissão e aos em inúmeros documentos pelo simples fato de
Estados-Membros que apoiem os programas que, quase sempre, ninguém quer uma família
sistémicos nacionais visando melhorar a situação cigana como vizinho, principalmente quando
das comunidades rom no que respeita à saúde, em moram em trailers ou barracas, por mais luxuosas
particular mediante a introdução de um plano de que sejam. E nenhum município quer ciganos
vacinação adequado para as crianças; incita os dentro de seus limites. O melhor lugar para os
Estados-Membros a fazerem cessar e a ciganos, sempre é no município vizinho, ou no
solucionarem sem demora os problemas da país vizinho. Vejamos alguns destes documentos.
exclusão sistemática de certas comunidades rom
dos cuidados de saúde, incluindo as comunidades Conselho da Europa, Recomendação 563 de
instaladas em zonas geográficas isoladas, sem se 1969:
limitar às mesmas, bem como das graves violações
A Assembléia,
dos direitos humanos em matéria de cuidados de
4. Consciente que a falta de terrenos para
saúde, onde tenham ocorrido ou estejam a ocorrer,
acampamento ou de casas com boas
incluindo a segregação racial no que respeita aos
acomodações, como também de zonas de trabalho,
estabelecimentos de saúde e a esterilização
de instalações escolares e de possibilidades de
forçada das mulheres rom”.
trabalho para os ciganos e outros nômades tem
provocado frequentes fricções entre as famílias dos
nômades e a população sedentária;

47
5. Considerando que residências permanentes são, somente os próprios viajantes (e ciganos), mas
para os ciganos e outros nômades, condições também (as autoridades) municipais e regionais.
quase necessárias para a aquisição de uma boa
Parlamento Europeu: Resolução sobre a situação
instrução e para a adaptação à sociedade
moderna; dos romanichéis na União Europeia, Resolução
7. Considerando que os programas destinados a 151 de 2005 - P6_TA(2005)0151:
melhorar a situação dos ciganos devem ser 19. Considera que o confinamento em guetos, tal
elaborados em colaboração e consulta com seus como existe correntemente na Europa, é
representantes; inaceitável, e convida os Estados-Membros a
8. Recomenda ao Conselho dos Ministros de incitar tomarem medidas concretas para o eliminar,
os governos membros: combatendo práticas discriminatórias de
(II) no mínimo, a incentivar ativamente a alojamento e ajudando os romanichéis a
construção, pelas autoridades competentes e em encontrarem um alojamento decente alternativo;
benefício dos ciganos e outros nômades, de um
número suficiente de terrenos de acampamento Parlamento Europeu: Resolução sobre uma
munidos de instalações sanitárias, eletricidade, estratégia europeia para os rom. Resolução 35 de
telefone, prédios comunitários e equipamentos 2008 - P6_TA-PROV(2008)0035
contra incêndio, como também de zonas de 19. Exorta a Comissão a tomar por base os
trabalho e situados perto de escolas e de aldeias modelos positivos existentes a fim de prestar apoio
ou de cidades. aos programas destinados a solucionar o problema
Conselho da Europa, Resolução 13, de 1975: dos bairros degradados habitados pelos Rom, que
acarretam graves riscos sociais, ambientais e
B - Estacionamento e alojamento: sanitários, nos Estados-Membros onde existem,
1. O estacionamento e a permanência dos bem como a outros programas que prevejam
nômades em terrenos equipados de maneira a modelos positivos e eficazes de habitação para os
garantir normas satisfatórias de segurança, higiene Rom, incluindo os imigrantes;
e bem-estar devem ser facilitados e encorajados. 20. Insta os Estados-Membros a procurarem
2. Como regra geral, estes terrenos devem ser soluções para o problema dos campos, nos quais
localizados próximos a cidades ou, no mínimo, de não são respeitadas quaisquer normas de higiene e
maneira a oferecer facilidades de acesso às segurança e onde muitas crianças rom são vítimas
comunicações, o abastecimento, a frequência de acidentes domésticos fatais, sobretudo
escolar das crianças, o exercício de atividades incêndios, causados pela inobservância de normas
profissionais e outros contatos sociais. de segurança adequadas.
3. A instalação de nômades que desejam
sedentarizar-se, em alojamentos apropriados, deve Na Europa, Resoluções e Recomendações são
ser facilitada. editadas, com intervalos de tantos em tantos
anos, mas que nunca resultam em qualquer
Conselho da Europa, Resolução 125 de 1981: solução prática. Se o Brasil apenas copiar o
16. Exorta as autoridades locais e regionais: modelo europeu, o resultado será o mesmo. Ou
I. a tomar todas as medidas necessárias para seja: nenhum.
providenciar facilidades de acampamento e de
habitação........
3.6. Trabalho e renda.
III. a procurar a participação e a colaboração dos Assunto quase ignorado no Brasil, mas bastante
próprios nômades nestas medidas e a permitir que lembrado em documentos internacionais. Na
participem ativamente na administração das Europa, já foi várias vezes discutido, embora
facilidades providenciadas; aparentemente sem qualquer resultado prático. O
20. Solicita à Secretaria Geral do Conselho da Conselho da Europa, na Recomendação 563 de
Europa: 1969:
III. tomar as medidas necessárias para a
elaboração de um mapa europeu de 8. Recomenda ao Conselho dos Ministros de incitar
acampamentos abertos para viajantes (e ciganos), os governos membros:
indicando claramente as facilidades localmente (V) a criar ou a melhorar as possibilidades de
disponíveis, e com a finalidade de orientar não formação profissional dos ciganos e dos nômades

48
adultos visando melhorar suas atividades 16. Exorta a Comissão a apoiar a integração dos
profissionais; rom no mercado de trabalho, através de medidas
(VI) a apoiar a criação de órgãos nacionais com a que incluam o apoio financeiro à formação e
participação de representantes dos governos, das reconversão profissional, de medidas de promoção
comunidades ciganas e nômades, como também de acções positivas no mercado de trabalho, da
de organizações voluntárias que defendem os rigorosa aplicação da legislação contra a
interesses dos ciganos e de outros nômades, e a discriminação no domínio profissional e de medidas
consultar estes órgãos quando da preparação de destinadas à promoção do trabalho por conta
medidas que visam melhorar a situação dos própria e das pequenas empresas, no que respeita
ciganos e de outros nômades. aos rom;
17. Solicita à Comissão que estude a possibilidade
Seis anos depois, na Resolução 13, de 1975,
de instituir um programa de micro-crédito, como o
mais uma vez solicita: que é proposto no relatório acima referido do Grupo
C - Educação, orientação e treinamento consultivo de alto nível, para encorajar a criação de
profissional. pequenas empresas e substituir a prática da usura
3. Os nômades e seus filhos devem efetivamente que está a prejudicar muitas comunidades
poder beneficiar-se das diferentes possibilidades desfavorecidas;
existentes de orientação, de formação ou de Talvez fosse melhor voltar uns quase 20 anos
reformação profissional.
atrás e ler algumas partes da Convenção 169 da
4. Em matéria de orientação e de formação
OIT, DE 1989
profissional, convém levar ao máximo em conta as
aptidões e inclinações inatas destas populações. PARTE III - CONTRATAÇÃO E CONDIÇÕES DE
EMPREGO
Não temos informações sobre educação,
Artigo 20
orientação e treinamento profissional de ciganos
1. Os governos deverão adotar, no âmbito da
ou ciganas após 1975. Mas trinta anos depois o legislação nacional e em cooperação com os povos
Parlamento Europeu, na Resolução sobre a interessados, medidas especiais para garantir aos
situação dos romanichéis na União Europeia, trabalhadores pertencentes a esses povos um
Resolução 151 de 2005 - P6_TA(2005)0151: proteção eficaz em matéria de contratação e
14. Exorta todos os Estados-Membros e os países condições de emprego, na medida em que não
candidatos a tomarem medidas concretas para estejam protegidas eficazmente pela legislação
melhorar o acesso dos romanichéis ao mercado de aplicável
trabalho, com o objectivo de os levar a conseguir 2. Os governos deverão fazer o que estiver ao seu
melhores empregos de longa duração; alcance para evitar qualquer discriminação entre os
20. Insta os governos em regiões com importantes trabalhadores pertencentes a aos povos
populações romanichéis a adotarem novas interessados e os demais trabalhadores,
medidas para integrar os funcionários públicos especialmente quanto a:
romanichéis em todos os níveis administrativos e a) acesso ao emprego, inclusive aos empregos
de tomada de decisões, em conformidade com qualificados e às medidas de promoção e
compromissos assumidos anteriormente, e a ascensão;
atribuírem os recursos necessários para o b) remuneração igual por trabalho de igual valor;
desempenho eficaz de tais cargos. c) assistência médica e social, segurança e higiene
no trabalho, todos os benefícios da seguridade
Na Europa os políticos não são muito diferentes social e demais benefícios derivados do emprego,
dos políticos brasileiros: quando em campanha de bem como a habitação;
eleição prometem mil e uma maravilhas, inclusive d) direito de associação, direito a se dedicar
para os ciganos. Quando eleitos, esquecem tudo. livremente a todas as atividades sindicais para fins
Cumprir promessas para os ciganos, nem pensar! lícitos, e direito a celebrar convênios coletivos com
empregadores ou com organizações patronais.
Parlamento Europeu: Resolução sobre uma 3. As medidas adotadas deverão garantir,
estratégia europeia para os rom. Resolução 35 de particularmente, que: a) os trabalhadores
2008 - P6_TA-PROV(2008)0035 pertencentes aos povos interessados, inclusive os
trabalhadores sazonais, eventuais e migrantes
empregados na agricultura ou em outras

49
atividades, bem como os empregados por organização e o funcionamento de tais programas
empreiteiros de mão-de-obra, gozem da proteção especiais de formação, se assim decidirem.
conferida pela legislação e a prática nacionais a Artigo 23
outros trabalhadores dessas categorias nos 1. O artesanato, as indústrias rurais e comunitárias
mesmos setores, e sejam plenamente informados e as atividades tradicionais e relacionadas com a
dos seus direitos de acordo com legislação economia de subsistência dos povos interessados,
trabalhista e dos recursos de que dispõem; tais como a caça, a pesca com armadilhas e a
b) os trabalhadores pertencentes a esses povos colheita, deverão ser reconhecidas como fatores
não estejam submetidos a condições de trabalho importantes da manutenção de sua cultura e da
perigosas para sua saúde, em particular como sua autosuficiência e desenvolvimento econômico.
conseqüência de sua exposição a pesticidas ou a Com a participação desses povos, e sempre que
outras substâncias tóxicas; for adequado, os governos deverão zelar para que
c) os trabalhadores pertencentes a esses povos sejam fortalecidas e fomentadas essas atividades.
não sejam submetidos a sistemas de contratação 2. A pedido dos povos interessados, deverá
coercitivos, incluíndo-se todas as formas de facilitar-se aos mesmos, quando for possível,
servidão por dívidas; assistência técnica e financeira apropriada que leve
d) os trabalhadores pertencentes a esses povos em conta as técnicas tradicionais e as
gozem da igualdade de oportunidade e de características culturais desses povos e a im-
tratamento para homens e mulheres no emprego e portância do desenvolvimento sustentado e
de proteção contra o acossamento sexual. eqüitativo.
4. Dever-se-á dar especial atenção à criação de
serviços adequados de inspeção do trabalho nas 3.7. Segurança e justiça.
regiões onde trabalhadores pertencentes aos
povos interessados exerçam atividades Neste item, os documentos europeus deixam a
assalariadas, a fim de garantir o cumprimento das desejar. Motivo pelo qual inicialmente
disposições desta parte da presente Convenção. divulgaremos alguns documentos não-europeus.
PARTE IV - FORMAÇÃO PROFISSIONAL, Declaração do Povo Rom (Ciganos) aos Povos,
ARTESANATO E INDÚSTRIAS RURAIS Governos e Estados das Américas.
Artigo 21
Os membros dos povos interessados deverão 6. Para que o Povo Rom, que vive no continente
poder dispor de meios de formação profissional americano, transcenda real e efetivamente sua
pelo menos iguais àqueles dos demais cidadãos. situação de precarias condições de vida, se requer
Artigo 22 que os governos e estados do continente
1. Deverão ser adotadas medidas para promover a reconheçam plenamente nossa existència como
participação voluntária de membros dos povos povo e garantam o exercício de nossos direitos
interessados em programas de formação coletivos. Nesse sentido, a nosso povo se deve
profissional de aplicação geral. garantir os direitos imprescindíveis e inalienantes
2. Quando os programas de formação profissional que assistem a todos os povos do planeta. O Povo
de aplicação geral existentes não atendam as rom, em razão de sua projeção internacional e de
necessidades especiais dos povos interessados, os sua ampla mobilidade geográfica, deve ser
governos deverão assegurar, com a participação reconhecido explicitamente por seus governos e os
desses povos, que sejam colocados à disposição estados do continente que é também americano
dos mesmos programas e meios especiais de por tradição e presença histórica.
formação. 7.Constatamos a urgente necessidade de que os
3. Esses programas especiais de formação governos e estados do continente americano
deverão estar baseados no entorno econômico, elaborem, com ampla participação e com o
nas condições sociais e culturais e nas consentimento livre e fundamentado previamente
necessidades concretas dos povos interessados. pelo nosso povo - instrumentos legais e normativos
Todo levantamento neste particular deverá ser que garantem nossos direitos coletivos e nossa
realizado em cooperação com esses povos, os integridade étnica e cultural. Um primeiro passo
quais deverão ser consultados sobre a organização para isso é a aplicação para nosso povo das
e o funcionamento de tais programas. Quando for disposições legais contidas na Convenção 169 de
possível, esses povos deverão assumir 1989 da Organização Internacional do Trabalho,
progressivamente a responsabilidade pela OIT, " Sobre Povos Indígenas e Tribais em países

50
Independentes" em todos aqueles países que continente, como um povo que é também
subscreveram e ratificaram esse instrumento americano por tradição e presença histórica.
internacional, que reconhece que nosso povo tem 11. Desenvolvam com uma ampla participação e
uma organização social tradicional que se pode com o livre consentimento e apoio prévio de nosso
definir claramente como tribal. Um segundo passo povo, instrumentos legais e normativos que
é que nesses países onde em suas respectivas garantam seus direitos coletivos e civis, assim
constituições políticas existem importantes direitos como também sua integridade étnica e cultural.
para os povos indígenas, as comunidades 14. Acolham solidariamente em seus respectivos
afroamericanas e, em geral, para os chamados territórios aos refugiados pertencentes ao povo
grupos étnicos, estes sejam extensivos, aplicando cigano que, fugindo de perseguições e guerras que
uma simetria positiva ao Povo rom. ocorrem em outros lugares do planeta, chegam ao
8. Solicitamos do Alto Comissionado das Nações continente americano buscando segurança e
Unidas para os Direitos Humanos que, como parte garantias para refazer suas vidas.
das reuniões e atividades preparatórias da " 16. Se comprometam com as organizações ciganas
conferència Mundial contra o Racismo, a das Américas a apoiar, com seus recursos
Discriminação racial, a Xenofobia e outras Formas financeiros e técnicos, todas aquelas iniciativas e
relacionadas de Intolerância", propicie e facilite a projetos encaminhados para concretizar as
realização de um " Encontro continental do Povo principais demandas de nosso povo.
rom das américas", no que podemos unificar
Conselho da Europa, Resolução 13, de 1975:
critérios, construir consensos e desenhar
estratégias, a partir das distintas realidades de A - Política geral.
nosso povo que se encontra no Continente. 1. Devem ser tomadas todas as medidas
necessárias, no quadro das legislações nacionais,
O outro filho da Mãe Terra: declaração do Povo
para por um fim a todas as formas de discriminação
Rom das Américas, apresenta as seguintes
contra as populações nômades.
DEMANDAS: 2. Os preconceitos que formam a base de certos
1. Propugnar para que os Estados e Governos das comportamentos e atitudes discriminatórias contra
Américas reconheçam o direito de livre as populações nômades devem ser combatidos,
determinação para o povo cigano. notadamente por uma melhor informação das
2. Propender para que os Estados e Governos do populações sedentárias sobre as origens, os
continente reconheçam promovam e garantam os modos de vida, as condições de existência e as
direitos coletivos do povo cigano. aspirações das populações nômades.
6. Propender para que os Estados e Governos das
Convenção 169 da OIT, DE 1989
Américas apliquem taxativamente as normas
juridicas internacionais que de alguma forma PARTE I - POLÍTICA GERAL
protegem os direitos do povo cigano. Artigo 9
17. Contribuir para a criação e consolidação 1. Na medida em que isso for compatível com o
daquelas instituições e instâncias próprias que o sistema jurídico nacional e com os direitos
povo cigano requer, para avançar no processo de humanos internacionalmente reconhecidos,
reconhecimento de seus direitos coletivos. deverão ser respeitados os métodos aos quais os
18. Viabilizar a geração dos mecanismos e povos interessados recorrem tradicionalmente
instâncias necessárias que propiciem o para a repressão dos delitos cometidos pelos seus
estabelecimento de contatos, relações e membros.
intercâmbios fluídos e permanentes entre os 2. As autoridades e os tribunais solicitados para se
ciganos das Américas e entre estes e o restante da pronunciarem sobre questões penais deverão levar
comunidade cigana internacional. em conta os costumes dos povos mencionados a
PEDIMOS: AOS ESTADOS E GOVERNOS DAS respeito do assunto.
AMÉRCIAS, PARA QUE: Artigo 10
10. Que reconheçam plenamente nossa existência 1.Quando sanções penais sejam impostas pela
como povo e garantam o exercício dos nossos legislação geral a membros dos povos
direitos coletivos e civis. Em razão de sua projeção mencionados, deverão ser levadas em conta as
transnacional e de sua ampla mobilidade suas características econômicas, sociais e
geográfica, o povo cigano deve ser reconhecido culturais.
explicitamente pelos Governos e pelos Estados do

51
2. Dever-se-á dar preferência a tipos de punição Declaração do Povo Rom (Ciganos) aos Povos,
outros que o encarceramento. Governos e Estados das Américas:
Artigo 11
9. Chamamos a atenção para a imperiosa
A lei deverá proibir a imposição, a membros dos
necessidade que existe para que no interior do
povos interessados, de serviços pessoais
sistema das Nações Unidas se constitua uma
obrigatórios de qualquer natureza, remunerados ou
instância de Alto Nível e de composição mista
não, exceto nos casos previstos pela lei para todos estado-povo Rom que, a maneira do "Fórum das
os cidadãos. Américas para o Povo Rom" analise e discuta
Artigo 12 todas as questões relativas a nosso Povo e possa
Os povos interessados deverão ter proteção contra conhecer os casos de violações de direitos
a violação de seus direitos, e poder iniciar humanos. Dessa maneira, expressamos que o
procedimentos legais, seja pessoalmente, seja Povo Rom deseja ter participação em instâncias
mediante os seus organismos representativos, para internacionais, onde se discuta temas que de
assegurar o respeito efetivo desses direitos. alguma maneira afetam nossa opção de civilização
Deverão ser adotadas medidas para garantir que e nosso futuro e que não estamos dispostos que
os membros desses povos possam compreender e sigam nos excluindo.
se fazer compreender em procedimentos legais,
Convenção 169 da OIT, DE 1989
facilitando para eles, se for necessário, intérpretes
ou outros meios eficazes. PARTE I - POLÍTICA GERAL
Artigo 6
Neste item ainda poderia ser acrescentada a
1. Ao aplicar as disposições da presente
questão da autodeterminação. No Brasil é um Convenção, os governos deverão:
assunto praticamente ignorado. Mas na América a) consultar os povos interessados, mediante
Latina já se tratou do assunto. procedimentos apropriados e, particularmente,
A Declaração do Povo Rom das Américas propõe: através de suas instituições representativas, cada
vez que sejam previstas medidas legislativas ou
7. Lutar pela ampliação dos espaços de autonomia administrativas suscetíveis de afetá-los
e autogoverno do povo cigano, buscando o diretamente;
reconhecimento de suas próprias autoridades e b) estabelecer os meios através dos quais os povos
validando a existência de uma jurisdição especial, o interessados possam participar livremente, pelo
CRIS ROMANÓ - nossas leis. menos na mesma medida que outros setores da
9. Exigir dos Estados e Governos do continente população e em todos os níveis, na adoção de
americano que consultem adequadamente ao povo decisões em instituições efetivas ou organismos
cigano antes da elaboração dos Planos de administrativos e de outra natureza responsáveis
Desenvolvimento, com a finalidade de trazer pelas políticas e programas que lhes sejam
propostas, especialmente as que afetem suas concernentes;
vidas, cultura, identidade e necessidades c) estabelecer os meios para o pleno
fundamentais, e para que se possam dispor desenvolvimento das instituições e iniciativas dos
recursos necessários para o pleno povos e, nos casos apropriados, fornecer os
desenvolvimento de suas instituições, sua recursos necessários para esse fim.
economia e para a capacitação e educação. Artigo 7
14. Propender para que os Estados e Governos do 1. Os povos interessados deverão ter o direito de
continente garantam a liberdade de consentimento escolher suas próprias prioridades no que diz
informando ao povo cigano, através de suas respeito ao processo de desenvolvimento, na
autoridades e instituições representativas, cada vez medida em que ele afete as suas vidas, crenças,
que se prevejam o desenrolar de projetos, medidas instituições e bem-estar espiritual, bem como as
legislativas ou administrativas susceptíveis de terras que ocupam ou utilizam de alguma forma, e
afetá-los diretamente. de controlar, na medida do possível, o seu próprio
16. Exigir o acesso de representantes do povo desenvolvimento econômico, social e cultural. Além
cigano às diferentes instâncias de participação disso, esses povos deverão participar da
criadas pelas instituições governamentais e formulação, aplicação e avaliação dos planos e
poderes públicos. programas de desenvolvimento nacional e regional
suscetíveis de afetá-los diretamente.

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Conforme se vê, documentos internacionais a
favor dos ciganos não faltam. E acima citamos
apenas alguns poucos entre tantos outros mais,
todos pró-ciganos. Infelizmente, são apenas
palavras escritas em papel, e que quase nunca se
tornaram ou se tornarão realidade.
Novos tempos, novas esperanças. Para
transformar todas as recomendações, propostas e
reivindicações em realidade, um longo caminho
ainda terá que ser percorrido. Divergências de
opinião sempre existirão, também entre os
ciganos. Mas o que importa é que os próprios
ciganos, após séculos de silêncio e resignação,
finalmente começaram a levantar a voz, a
reivindicar, a denunciar e a exigir os seus direitos.
O Movimento Cigano hoje é uma realidade
irreversível, embora ainda existam enormes
dificuldades a serem vencidas.

53
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