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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

PROGRMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL - PROSS


DISCIPLINA: Fundamentos do Serviço Social

Prof.ª Dr.ª Nailsa Maria Souza Araújo

2º Encontro – 10/04/2018

Aluno: Vinicius Pinheiro de Magalhães

Referência Bibliográfica: BERMAN, Marshal. Introdução. Modernidade ontem, hoje e


amanhã. In:______. Tudo que é sólido desmancha no ar. A aventura da modernidade.
São Paulo: Schwarcz Ltda., 1999. p. 15-35.

Palavras-Chave: Modernidade. Industrialização. Contradição. Dialética.

Comentário Pessoal: O texto de Marshall Berman trata da modernidade e da mutação


da compreensão de suas dinâmicas no decorrer dos séculos. Apresenta uma lógica de
compreensão da modernidade em três fases distintas. Na primeira fase, séc. XVI –
XVII, a modernidade é caracterizada pela mutação de ideiais, pela transformação da
cidade, pela transição do campo à cidade, pelo turbilhão do novo que afeta o ethos
medieval. A sociedade está num processo de mudança de modo de produção, o que
influência uma ambiência de incerteza, de conflitos, de confusão, de turbilhão de ideias
(Tudo o que é sólido desmancha no ar). Na segunda fase (séc. XIX), a modernidade se
apresenta como consolidada – indústria, cidade, desenvolvimento tecnológico –
entretanto a crítica a esta nova forma de organização social é feita de forma a denunciar
sua pseudoconcreticidade e sua dinâmica dialética de avanço-retrocesso, riqueza-
pobreza, etc., mostrando que esse não é o modelo último (sólido, concreto) de sociedade
e de relação social, pois tudo o que é sólido desmancha no ar (Marx e também
Nietzsche). A terceira fase (séc. XX) é marcada pela fragmentação sobre a compreensão
da modernidade, enfraquecendo a crítica ao sistema moderno e colocando desafios para
a contemporaneidade, a fim de que, no exemplo da segunda fase, enxerguemos a
possibilidade de superação desse tipo de modernidade e tenhamos a capacidade de
recuperar nossa essência perdida – fruto da contradição progresso-retrocesso – com o
advento do capitalismo.

Referência Bibliográfica: ARAÚJO, N.M.S. MODERNIDADE: programática sócio-


cultural da humanidade. (MIMEO). 2005.

Palavras-Chave: Modernidade. Modernismo. Iluminismo. Ilustração.

Comentário Pessoal: O texto tem o objetivo de mostrar os movimentos sócio-culturais


que inauguram o que se convencionou chamar de modernidade. A realidade concreta
que emerge com a ascensão da classe revolucionária burguesa (a priori progressista)
determina toda uma nova espiritualidade/subjetividade. O fenômeno da modernização
(econômico-social) e do modernismo (cultural) marcam os movimentos internos da
modernidade. Trata-se de um contraponto econômico, social e cultural engendrado pela
nova base econômica para fazer frente à antiga Idade das Trevas (obscurantismo,
teocracia avessa à ciência). Esse contraponto prático foi conhecido como Iluminismo,
movimento que tinha na Razão e na autonomia (liberdade) os pilares determinantes para
o progresso da sociedade. Num momento específico do Iluminismo, especificamente
aquele de transição do Estado Absolutista Feudal ao Estado Liberal Burguês, a
espiritualidade/subjetividade moderna, resultante dessa tensão com hegemonia
burguesa, marcam a Ilustração – movimento sócio-cultural que marca a transição do
feudalismo ao capitalismo.

3º Encontro – 17/04/2018

Referência Bibliográfica: LÊNIN, Vladimir Ilich. A concentração da produção dos


monopólios/ Os Bancos e sua nova função/ A exportação de capitais/ A partilha do
mundo entre os grupos capitalistas. In:______. O imperialismo: fase superior do
capitalismo. 3 ed. São Paulo: Global, 1985, p. 16-45; 60-74.

Palavras-Chave: Capitalismo. Transição. Imperialismo. Monopólio.

Comentário Pessoal: O texto trata de contextualizar a fase superior do capitalismo –


imperialismo – após transição do capitalismo concorrencial ao capitalismo monopolista.
Explica a dinâmica da concentração e centralização de riquezas, fenômeno que não era
perceptível no estágio anterior do capital. Expõe o papel dos bancos no processo de
concentração de capitais, unindo o capital bancário ao industrial, gerando o capital
financeiro, protagonista da criação de novos monopólios bancários. Trata também da
necessidade dessa dinâmica imperialista de exportar capitais numa lógica colonialista
aos países periféricos, além de expor as características do processo de partilha do
mundo, levando em consideração essa necessidade d o capital monopolista. Resumo da
dinâmica do capitalismo monopolista na perspectiva de Lênin: Concentração de
Capitais (monopólios); advento do capital financeiro (bancário + industrial); exportação
de capitais aos países periféricos; uniões internacionais monopolistas; e partilha do
território mundial entre os grandes monopólios.

Referência Bibliográfica: MANDEL, Ernest. A estrutura do Mercado Mundial


capitalista/ As três fontes principais de Superlucro no Desenvolvimento do Capitalismo
Moderno. In:______. O Capitalismo Tardio. São Paulo: Abril Cultural, 1982, p. 29-73.

Palavras-Chave: Capitalismo tardio. Monopólio. (Sub)Desenvolvimento.

Comentário Pessoal: Mandel trata do capitalismo tardio na sua forma imperialista que
tem a característica central de promotor de um desenvolvimento desigual e combinado.
Desigual, pois os países do centro são privilegiados no processo desenvolvimentista em
relação aos países periféricos de cultura colonial. E combinado, pois inclui na dinâmica
do capitalismo as economias coloniais e semicoloniais, dando uma característica
profundamente heterogênea ao sistema do capital. Esse desenvolvimento desigual e
combinado trava a acumulação primitiva – processo de ampla expropriação de riqueza,
numa subordinação clara à dinâmica capitalista – por conta da necessidade de
desenvolvimento imposta pelo processo de exportação de capitais dos países do
capitalismo de centro. Nesse estágio perde-se a necessidade de exportação de
mercadorias e cria-se, para o desenvolvimento desse sistema, a necessidade de
exportação de capitais, agravando ainda mais a dependência dos países periféricos aos
países de centro.

4º Encontro – 24/04/2018

Referência Bibliográfica: COUTINHO, Carlos Nelson. A imagem do Brasil na obra de


Caio Prado Júnior/Marxismo e imagem do Brasil em Florestan Fernandes. In:______.
Cultura e sociedade no Brasil: ensaios sobre idéias e formas. 4 ed. São Paulo:
Expressão Popular, 2011, p. 201-240.

Palavras-Chave: Revolução burguesa no Brasil. Modernidade. Capitalismo.

Comentário Pessoal: Coutinho, tratando da figura de Caio Prado Júnior e de sua


compreensão sobre a instauração do capitalismo no Brasil, entende que este autor foi
um dos primeiros a conceberem a modernidade brasileira a partir de uma via “não
clássica” ou “prussiana”, que caracteriza-se pela transição econômico-social de forma
lenta, através de revoluções passivas efetuadas pela classe dominante, numa verdadeira
perspectiva modernista (mudança de relações econômicas estruturais) e conservadora
(preservação de traços do colonialismo e de suas relações sociais). Esse autor, para
Coutinho, discute de forma plausível o processo de Revolução Burguesa do Brasil,
mesmo não conhecendo as ideias da “via prussiana” de Lênin e o conceito de Revolução
Passiva de Gramsci. Entretanto, tem uma visão problemática sobre a modernização do
Brasil (estagnacionismo) em virtude dessa relação com o passado. No outro capítulo
que trata da imagem do Brasil na obra de Florestan Fernandes, Coutinho faz convergir o
legado de Caio Prado Jr. ao de Florestan, na medida em que afirma que ambos
contribuíram para a concepção de um Brasil não atrasado (perspectiva dos pecebistas
clássicos), mas um Brasil efetivamente capitalista, com características não clássicas.
Florestan compreende que a Revolução Burguesa no Brasil se dá num processo lento e
de conservação de relações extra-econômicas do passado. Para ele o caráter “não
clássico” da Revolução Burguesa no Brasil foi um legado de sua formação sócio-
histórica de dependência colonial e também de dependência imperialista. Compreende a
ditadura militar como um momento de “autocracia burguesa” – nos termos de Coutinho
“Ditadura por falta de hegemonia”, ou por “crise de hegemonia” – e propunha, no
momento de abertura democrática, uma revolução da classe trabalhadora numa
perspectiva Leninista; ideia criticada por Coutinho, pois este acredita no fortalecimento
da democracia como uma forma de ganhar hegemonia para uma revolução socialista.

Referência Bibliográfica: FERNANDES, Florestan. A concretização da Revolução


Burguesa/Natureza e etapas do desenvolvimento capitalista. In:______. A Revolução
Burguesa no Brasil: ensaio de interpretação sociológica. 5 ed. São Paulo: Globo, 2006,
p. 239-336.

Comentário Pessoal: O texto de Florestan – A concretização da Revolução Burguesa –


trata do processo de constituição da Revolução Burguesa no Brasil. Confirma o parecer
de Coutinho, numa perspectiva Gramsciana, acerca da obra de Florestan: A Revolução
Burguesa é fruto de uma revolução passiva das elites oligárquicas, tornando-se a nova
classe burguesa na modernidade brasileira. Nesse sentido, a Revolução do Brasil não
teve características populares e/ou conflituosas à semelhança das dinâmicas das
Revoluções Europeias, antes ela se deu de cima para baixo num processo gradual da
Abolição à Proclamação da República. Por este motivo o capitalismo brasileiro é
pitoresco, pois as antigas elites oligárquicas são as novas elites burguesas, numa união
dialética entre “velho” e “novo” que formam o cenário sócio-econômico moderno do
Brasil. Essa realidade interfere desde a relação entre capital-trabalho no país, como na
relação de heteronomia e de subordinação às economias de capitalismo central, em
virtude do histórico colonial do país. No segundo texto de Florestan – Natureza e etapas
do desenvolvimento capitalista – o autor trata dos estágios do capitalismo que se
desenvolveram no Brasil: a expansão do mercado capitalista moderno; a expansão do
mercado capitalista competitivo; e a expansão do mercado capitalista monopolista. A
respeito da emergência e expansão do mercado capitalista moderno, Florestan
Fernandes compreende este período desde a criação dos portos até a sexta parte do
século XIX (período de crise do escravismo). Esse período histórico marca o
predomínio da lógica capitalista mercantil sobre o modo de produção escravista, na
medida em que a riqueza criada por este último era direcionada no processo de
reprodução da primeira – tipo de economia hibrida com a predominância do capital
mercantil. É esse estágio que irá proporcionar um grande acúmulo de riqueza para o
posterior processo de industrialização. No que se refere à expansão do mercado
capitalista competitivo, Florestan Fernandes afirma que este período do capitalismo no
Brasil data de 1860 até 1950. Neste período, a base econômica moderna se amplia com
o apoio dos países centrais do capitalismo mundial, além de uma ênfase na prevalência
da cidade em relação ao campo, e de toda a dinâmica que decorre daí. Momento de
instauração da indústria e da imigração de trabalhadores europeus para suprir a falta de
mão de obra qualificada do recente Brasil abolicionista. No período monopolista que se
inicia na década de 1960, Florestan afirma que se trata do período onde o capital
estrangeiro se consolida no país, superando a fase de importação de produtos.

5º Encontro – 22/05/2018

Referência Bibliográfica: NETTO, José Paulo. As condições histórico-sociais da


emergência do Serviço Social. In:______. Capitalismo monopolista e Serviço Social. 8
ed. São Paulo: Cortez, 2011. p. 19-68

Palavras-Chave: Capitalismo Monopolista. Estado Monopolista. Emergência do


Serviço Social.

Comentário Pessoal: No primeiro momento do texto, Netto trata das características da


fase clássica do imperialismo – capitalismo monopolista. Em especial evidencia o
caráter do Estado como comitê executivo da burguesia nas suas dimensões econômicas
e políticas, esta última relacionada às Políticas Sociais como reprodutoras da Força de
Trabalho. Em seguida, Netto apresenta duas perspectivas de enfrentamento das
expressões da Questão Social utilizadas pelo Estado: perspectiva pública – relacionada à
regulação e apoio ao Mercado; e a perspectiva privada – relacionada ao controle
subjetivo das classes trabalhadoras, através da psicologização das relações sociais, num
sentido positivista e dhurkheimiano. Finalmente, coloca em relevo a luta de classe que
estava por trás da consolidação do Capitalismo monopolista, inferindo que este não é
determinado exclusivamente pelo fator econômico, mas, também, pela contradição entre
as classes fundamentais na disputa por projetos de sociedade distintos: o projeto
operário x o projeto burguês.

Referência Bibliográfica: MONTAÑO, Carlos. A natureza do Serviço Social na sua


gênese. In:______. A natureza do Serviço Social: um ensaio sobre a gênese, a
“especificidade” e sua reprodução. São Paulo: Cortez, 2007. p. 17-68.

Palavras-Chave: Fundamentos do Serviço Social. Gênese do Serviço Social. Natureza


do Serviço Social. Legitimidade do Serviço Social.

Comentário Pessoal: No texto de Montaño são expostas duas perspectivas de


compreensão da gênese e natureza do Serviço Social. A primeira perspectiva é
endogenista, na medida em que concebe o Serviço Social como evolução histórica das
práticas de ajuda e caridade, num claro movimento de análise interna à profissão. A
segunda perspectiva rompe com a anterior, na medida em que localiza a gênese e a
natureza da profissão numa abordagem histórico-crítica, como resultado de processos
sociais amplos no marco da sociedade capitalista dos monopólios; são explícitos os
traços exógenos desta perspectiva. No que se refere a legitimidade do Serviço Social,
Montaño afirma que, na primeira perspectiva (endogenista), o que dá legitimidade à
profissão é sua especificidade, isto é, o seu trabalho específico, o público alvo
específico, as instituições específicas de trabalho – essa ideia sobre a legitimidade
profissional congelaria as características do trabalho profissional, o que fortalece mais
ainda uma perspectiva coercitiva e de reajustamento. Na segunda perspectiva (histórico-
crítica) o que dá legitimidade a profissão é sua função social de controle e ajustamento
das classes trabalhadoras, portanto trata-se de uma legitimidade que se baseia na
demanda da classe dominante por um profissional que tivesse a característica de
amortizador das relações sociais, e, além disso, também ancora-se, de forma secundária,
na demanda das classes trabalhadoras, tendo em vista suas necessidades sociais
imediatas.

6º Encontro – 29/05/2018

Referência Bibliográfica: JUNQUEIRA, Helena Iracy. Quase duas décadas de


reconceituação do serviço social: uma abordagem crítica. In: Serviço Social e
Sociedade. Ano II, n. 4, dez. 1980, p. 1-38.

Palavras-Chave: Serviço Social. Movimento de Reconceituação. Crítica ao Serviço


Social Tradicional. América Latina. Metodologia do Serviço Social. Exercício
profissional.

Comentário Pessoal: A autora propõe uma análise histórica do movimento de


reconceituação do Serviço Social latino-americano. Primeiro, mostra como a
reconceituação bebeu da ideologia desenvolvimentista e depois rompeu com esta, em
busca de novas teorias que embasassem a crítica ao Serviço Social Tradicional e à
realidade degradante da América Latina. Em seguida, localiza as experiências
organizadas do movimento de reconceituação na história (Encontro Regional de Escolas
de Seso do Nordeste 1964; Encontro de Araxá 1967; Encontro de Teresópolis 1970;
Encontro do Sumaré 1978, etc. – na realidade do Brasil). A autora mostra ainda como
existiram diversas correntes dentro do movimento de reconceituação de diversas
matrizes ideológicas, não sendo possível relacioná-lo apenas as protoformas do
marxismo. Expõe também o fato de que as propostas que nortearam o movimento de
reconceituação basearam-se na crítica ao Serviço Social tradicional, sobretudo no que se
referia à suas metodologias importadas, e na tentativa de instauração de uma teoria ou
metodologia crítica para o Serviço Social, baseada numa práxis – relacionando teoria e
prática na busca por libertação. Ainda mostra como algumas propostas para
materialização da práxis dialética e revolucionária se viam impossibilitadas de serem
realizadas nos espaços institucionais; supervalorizando a dimensão política e
descaracterizando a profissão. Em seguida, trata da contribuição do movimento de
reconceituação quanto ao caráter ideológico de crítica ao serviço social tradicional e à
metodologia profissional, apesar da falta de profundidade determinada pelo período
histórico. Conclui expondo o desafio de um exercício profissional crítico possível nos
espaços institucionais, iluminado pela teoria social crítica, que traz possibilidades de
intervenção nas realidades micro.

Referência Bibliográfica: NETTO, José Paulo. A crítica conservadora à


reconceptualização. In: Serviço Social e Sociedade. Ano II, n.5, mar. 1981, p. 59-75.

Palavras-Chave: Movimento de Reconceptualização do Serviço Social. Serviço Social


Tradicional. Ruptura. Conservadorismo.

Comentário Pessoal: Netto, no presente texto, propõe uma análise da crítica


conservadora ao movimento de reconceptualização do serviço social. Antes, todavia,
expõe a crítica superadora desse movimento, baseada na crítica: ao arcabouço teórico
eclético; às alternativas metodológicas de caráter empiristas e neopositivistas; e à sua
dimensão política (basismo e militantismo).
Em seguida, Netto apresenta os núcleos da crítica conservadora ao movimento
de reconceptualização do serviço social, quais sejam: reconceptualização como
promotora da desorientação profissional; reconceptualização associada ao modismo
profissional; circunscrita a grupos de elite; com continuidades de práticas do passado,
anulando seu caráter de ruptura; reconceptualização como determinante da
ideologização profissional; como promotora da desprofissionalização do serviço social
via politização; reconceptualização como promotora da separação da formação e
intervenção; e como determinante da incapacidade de sistematização da prática
profissional.
Localiza ainda, como premissa da crítica conservadora ao movimento de
reconceptualização, a finalidade restauradora e repositora das bases profissionais que
geriram o Serviço Social antes do referido movimento.
Finalmente, Netto, conclui seu texto apresentando os limites da crítica
conservadora ao movimento de reconceptualização, a saber: 1 – A crítica conservadora
é limitada na análise da tradição profissional, o que a torna inapta para a crítica do
movimento de reconceptualização; 2 – Seu projeto restaurador é incompatível com as
exigências do Estado na atual sociedade capitalista; trata-se de um projeto fadado ao
fracasso em virtude de seu engessamento e debilidade na análise da realidade.

7º Encontro – 12/06/2018
Referência Bibliográfica: NETTO, José Paulo. Ditadura e serviço social: uma análise
do serviço social no Brasil pós-64. 8 ed. São Paulo: Cortez, 2005 (Capítulo 2).

Comentário Pessoal: Ver anotações em caderno.

8º e 9º Encontro – 03/07/2018

Referência Bibliográfica: QUIROGA, Consuelo. Invasão positivista no marxismo:


manifestações no ensino da metodologia no serviço social. São Paulo: Cortez, 1991, p.
9-80 (capítulos 1 ao 4).

Palavras-Chave: Marxismo sem Marx. Positivismo. Segunda Internacional.


Materialismo histórico e dialético.

Comentário Pessoal: No primeiro capítulo, Consuelo Quiroga expõe suas justificativas


para tratar do objeto “invasão positivista no marxismo”, tendo em vista a inserção da
autora como docente da disciplina Metodologia em Serviço Social. Expõe seu percurso
teórico propondo a contextualização dos processos oriundos da 2ª internacional (Marx
falecera) e o advento das revisões de Bernstein (que revê o marxismo propondo uma
ética socialista kantiana e uma cientificidade neutra e positivista) e Plekhânov (que
supervaloriza a dimensão econômica da teoria de Marx em detrimento da ação dos
homens na história).
No segundo capítulo, Quiroga inicia uma reflexão sobre a invasão positivista no
marxismo a partir da gênese histórica do pensamento positivista na referida tradição.
Trata primeiro de expor o pensamento teórico de Engels que, descontextualizado do
momento histórico de sua produção na luta contra teorias metafísicas, por vezes, parece
supervalorizar os determinantes econômicos, tornando a teoria social crítica
determinista. A autora retoma ainda o contexto da 2ª internacional e expõe as
características das teorias de dois precursores do positivismo marxista: Gheorghi
Plekhânov e Eduard Bernstein. Em Plekhânov, Quiroga discute a característica de
supervalorização do econômico, das necessidades, a despeito da liberdade. Este concebe
de forma fatalista a constituição do socialismo, alijado da ação histórica dos homens.
Bernstein por sua vez, revisionista das teses de Marx sobre o desenvolvimento do
capitalismo – talvez em função de um período de ascensão do capitalismo, o que
permitiu garantias sociais e econômicas para os trabalhadores (social-democracia) –
denunciando o caráter “economicista” de Marx, propõe uma ética socialista
desvinculada da práxis transformadora (ação revolucionária), além de propor uma
ciência neutra, concebendo a teoria social de Marx como uma teoria do conhecimento
apolítico.
No terceiro capítulo a autora contextualiza o advento do positivismo à
Revolução Burguesa. Coloca a teoria positivista como ciência ideológica da sociedade
burguesa que almejava o progresso e a ordem, a despeito das teorias negativas,
sobretudo as de caráter socialista. Em seguida expõe as características mais expressivas
dos principais expoentes dessa corrente: Augusto Comte (que naturaliza os fenômenos
sociais, estende as leis das ciências naturais para a explicação de todos os fenômenos da
sociedade e propõe uma resignação diante de uma realidade constituída por leis naturais
– o caráter histórico burguês dessas leis não pode ser contraditado); Émile Durkheim
(concebe os fenômenos sociais como fatos, além de conceber estes fatos sociais como
coisas, e avança na objetividade característica desta ciência como proposto por Comte);
Max Weber (dá ênfase a necessária neutralidade científica, a despeito de concepções de
mundo aderidas pelo pesquisador).
No capítulo quatro a autora propõe uma ida a Marx para esclarecer os equívocos
que embebedaram o marxismo do positivismo, determinando concepções desde a
constatação de um marxismo como teoria apartada da práxis revolucionária até a
concepção de um marxismo determinista que supervaloriza o elemento econômico.
Numa perspectiva crítica ao positivismo marxista, a autora expõe as origens da teoria
social crítica de Marx e sua ontológica relação com a classe operária e sua tarefa
revolucionária; rompendo drasticamente com a concepção positivista de um marxismo
como teoria do conhecimento e sem perspectiva revolucionária, como queria Bernstein.
A autora ainda aponta as influências de Marx no processo de construção de sua teoria,
chamando atenção para a contribuição da filosofia alemã, da economia inglesa e do
socialismo utópico francês; o que contrasta com a perspectiva restritiva de Plekhânov ao
supervalorizar a economia na interpretação da teoria social crítica de Marx. Finalizando
seu texto, Quiroga expõe a complexidade da teoria social crítica, contextualizando as
leis da sociedade capitalista propostas por Marx numa perspectiva de totalidade, isto é,
numa perspectiva que considera múltiplas determinações, atestando o caráter complexo
e mediato da teoria social crítica, contrastando ontologicamente com a perspectiva
positivista.

Referência Bibliográfica: NETTO, José Paulo. O Serviço Social e a tradição marxista.


In: Serviço Social e Sociedade. Ano XV[?], n. 30, abr. 1989, p. 89-102.

Palavras-Chave: Marxismo. Serviço Social. Diálogo.

Comentário Pessoal: Para tratar da relação Serviço Social e tradição marxista, Netto
parte da análise das contradições entre estes elementos. A despeito das semelhanças de
objeto – Questão social – ainda que em estágios distintos do capitalismo, as diferenças
são profundamente excludentes, na medida em que a teoria marxiana propõe a análise e
superação da sociabilidade burguesa e o Seso nasce de uma perspectiva de conservação
desta sociedade.
A despeito da diferenciação excludente entre Seso e Teoria marxiana,
historicamente a profissão se aproxima desta última. Com a crise da teoria marxiana por
sua reprodução limitada pelo crivo stalinista, e por sua vinculação às ciências sociais,
uma vertente do Seso se aproxima de forma enviesada do marxismo, determinado por
questões: político-partidárias; de ecletismos teóricos e desconhecimento dos clássicos.
Finalmente, Netto apresenta a possibilidade de interlocução entre Seso e Teoria
Marxiana, que é determinada pelos seguintes motivos: As condições de trabalho dos
assistentes sociais e sua vinculação na e com a classe trabalhadora; o protagonismo
cultural da tradição marxista na sociedade burguesa; e a atualidade da possibilidade de
revolução. Ademais, essa interlocução auxilia a profissão nas seguintes direções: na
compreensão do significado social da profissão no marco do capitalismo; iluminando a
intervenção profissão; e dinamizando e impulsionando as elaborações teóricas dos
assistentes sociais.

Referência Bibliográfica: ARAÚJO, Nailsa Maria Souza. Hegemonia burguesa no


Brasil contemporâneo: o governo Lula-PT como instrumento ideológico. Tese. 230f.
Rio de Janeiro: UFRJ, 2008. (Capítulos I e II)
Comentário Pessoal: Num primeiro momento a autora trata de expor o que foi o pacto
keynesianista-fordista do pós-guerra, demonstrando seu caráter temporário e
insustentável no modo de produção capitalista a longo prazo. Trata ainda de
contextualizar o pacto keinesianista-fordista à dinâmica das crises que são inerentes ao
modo de produção capitalista. Expõe as concepções sobre a natureza dessas crises,
dando ênfase no processo de super-produção que determina a queda da taxa de lucro,
pois se produz muito sem a devida realização (consumo), em virtude da impossibilidade
de estabelecimento de preços que garantam lucros médios para os capitalistas.
Num segundo momento, a autora sugere 3 elementos que se constituem como
ofensivas do capital: reestruturação produtiva; mundialização financeira; e o
neoliberalismo. No que se refere a reestruturação produtiva, a autora a contextualiza a
partir da crise do modelo fordista de produção. A característica do novo modelo de
produção é o seu caráter flexível, contrastando com aquele rígido do fordismo. A autora
infere que esse processo de reestruturação produtiva e acumulação flexível que
determina a fragilização e fragmentação do trabalho é uma ofensiva do capital que se
manifesta, inclusive, nas práticas de Governo (Lula). A autora entende que o governo
Lula não é um governo de embate contra a lógica imperialista, trata-se de um governo
de caráter neoliberal, aliado à característica da reestruturação produtiva de cooptação
das classes trabalhadoras.
Em seguida a autora trata do ajuste neoliberal como, também, parte do processo
de ofensiva do capital. Contextualiza o conjunto de reformas que a ideologia neoliberal
propõe, a partir da década de 1970, com o objetivo de restauração de um liberalismo
clássico sem a presença do Estado - Trata-se de um Estado mínimo para o social e
máximo para o capital. Expõe também a característica dos ajustes neoliberais de
redução de gastos sociais e focalização, bem como a de privatização. (Parece que a
proposta aqui é posteriormente relacionar todas essas características da ofensiva
neoliberal ao governo de Lula, o que é bem polêmico, sobretudo no que se refere à
questão dos ajustes neoliberais - Tratar-se-ia, no governo Lula, de ajustes neoliberais ou
de resistência ante a onda neoliberal?).
Por fim, Nailsa Araújo trata da acumulação financeira como uma ofensiva do
capital, expondo sua característica de não produzir valor; de promover desemprego; de
acumular pela despossessão; e de agravar a situação de dependência dos países
periféricos.

10º Encontro – 10/07/2018

Referência Bibliográfica: CASTELO, Rodrigo. O novo desenvolvimentismo e a


decadência ideológica do pensamento econômico brasileiro. In: Serv. Soc. Soc., São
Paulo, n. 112, p. 613-636, out./dez. 2012, p. 613-636.

Comentário Pessoal: Na introdução o autor expõe seu objetivo de problematizar a


ideologia neodesenvolvimentista apregoada por seus ideólogos (Emir Sader, Maria da
Conceição Tavares e Márcio Pochmann).
Em seguida, o autor contextualiza, a partir da trajetória de Marx, o surgimento
de uma perspectiva teórica socialista da economia política burguesa (onde John Stuart
Mill propõe conciliações entre socialismo e liberalismo em sua teoria econômica),
resultante da decadência teórica - no âmbito da economia política - da burguesia.
O autor trata ainda de caracterizar o nacional-desenvolvimentismo, expondo sua
origem a partir da década de 1930 com Getúlio Vargas e vigência até a década de 1960,
quando este modelo de desenvolvimento - voltado para fortalecimento da indústria
nacional, e orientado por teóricos que defendiam reformas de base e a instauração de
um pleno emprego - é golpeado pela ditadura, que passa a defender uma perspectiva de
desenvolvimento dando centralidade ao capital fictício notadamente de hegemonia de
uma burguesia internacional (novo desenvolvimento).
O autor trata, em seguida, de uma nova perspectiva de desenvolvimento,
profundamente diferente daquele nacionalista. Contextualiza o novo
desenvolvimentismo como um advento proveniente do esgotamento do neoliberalismo
no processo de acumulação do capital - apesar de ser uma corrente que não rompe com
algumas características do neoliberalismo. Localiza essa corrente como presente nos
governos petistas e identifica três tendências do novo desenvolvimentismo: a primeira
(macroeconomia estruturalista do desenvolvimentismo) dá "primazia do mercado e seus
mecanismos de produção da riqueza, com uma atuação reguladora do Estado nas falhas
de mercado, especialmente nas políticas cambiais e de juros" (p.629); a segunda
(pós-keynesiana) trata o Estado como "redutor das incertezas do ambiente econômico
para favorecer as tomadas de decisão de investimento do setor privado" (p. 629); e a
última (social-desenvolvimentista) "[trata da] afirmação do mercado interno via
ampliação do consumo de massa. O Estado tem um peso maior nas propostas dessa
corrente no que nas duas precedentes, e as políticas macroeconômicas devem ser
subordinadas às de desenvolvimento." (p. 629).
Por fim, o autor trata, de forma conclusiva, o novo desenvolvimentismo
(vigente, no entendimento do autor, desde o período da ditadura militar, passando pelos
governos FHC e Lula) como uma expressão da decadência ideológica da burguesia, e
como uma perspectiva profundamente contratante daquela do nacional
desenvolvimentismo.

Referência Bibliográfica: GONÇALVES, Reinaldo. Novo Desenvolvimentismo e


Liberalismo Enraizado. In: Serv. Soc. Soc., São Paulo, n. 112, p. 637-671, out./dez.
2012, p. 637-671.

Comentário Pessoal: Na introdução, o autor apresenta duas tendências sobre o


tratamento da temática do desenvolvimento: a primeira associada aos governos petistas
como um contraponto ao governo neoliberal de FHC, e a segunda associada à crítica do
novo desenvolvimentismo, como falsa cópia do nacional desenvolvimentismo,
expressando um liberalismo enraizado. O objetivo do texto é discutir o desenvolvimento
histórico dessa segunda tendência. Num primeiro momento o autor apresenta a
perspectiva mercantilista como antecedente histórico do nacional desenvolvimentismo.
O autor afirma que o caráter desse modelo de defesa de um Estado forte, investimento
industrial e exportação é essencialmente relacionado ao desenvolvimentismo. Em
seguida o autor discute o histórico do nacional-desenvolvimentismo, relacionando-o à
perspectiva neo-mercantilista, que surge no final do século XVIII e início do século
XIX. Os precursores do nacional-desenvolvimentismo (neo-mercatilismo) foram os
teóricos Hamilton e List, teóricos do desenvolvimento dos EUA e Alemanha
respectivamente. A proposta da referida perspectiva faz convergir o liberalismo com um
Estado interventor e forte. Posteriormente, o autor defende a tese de que o
desenvolvimento forjado na América Latina não seguiu a direção do clássico nacional-
desenvolvimentismo. O autor expõe o trinômio obrigatório do neo-mercantilismo (forte
intervenção estatal e fortalecimento da indústria, substituição de importação, e
nacionalismo) e identifica que, na realidade da América Latina, o elemento do
nacionalismo não se manifestou, revelando um desenvolvimento capitalista
profundamente dependente do capital estrangeiro. Finalizando, o autor propõe a
comparação crítica entre as perspectivas nacional-desenvolvimentista, neoliberal
(consenso de Washington), neodesenvolvimentista e pós-consenso de Washington. Foi
possível concluir que a perspectiva do novo-desenvolvimentismo tem mais
convergência com o consenso de Washington do que com o nacional-
desenvolvimentismo clássico. Trata-se de um liberalismo enraizado.

11º e 12º Encontro –17/07/2018

Referência Bibliográfica: ABESS/CEDEPSS. Proposta básica para o projeto de


formação profissional. Serviço Social e Sociedade. n. 50. Ano XVII – abril 1996, p.
143-171.

Comentário Pessoal: Mesmos elementos de discussão do texto seguinte.

Referência Bibliográfica: ABESS/CEDEPSS. Diretrizes Gerais para o curso de


Serviço Social (Com base no currículo mínimo aprovado em Assembléia Geral
Exttraordinária de 8 de novembro de 1996). In: Cadernos ABESS. Formação
profissional: trajetórias e desafios. n. 7. 1996, p. 58-76.

Comentário Pessoal: A proposta de Diretrizes Gerais para o curso de Serviço Social é


iniciada com a apresentação do contexto de formulação do referido documento,
resultante de revisão do currículo de 1982, variadas oficinas com o conjunto da
categoria profissional e da necessidade de resposta a legislação da LDB de 1996 que
solicita a regulamentação, via diretriz, dos currículos mínimos.
Num primeiro momento as instituições expõem os pressupostos da Formação
profissional no contexto da década de 1990, levando em consideração o caráter
interventivo do Serviço Social frente às expressões da questão social; a relação da
profissão com os insumos teórico-metodológicos de respostas às expressões da questão
social; a modificação no campo das requisições profissionais no contexto da década de
1990 com o advento da reestruturação produtiva e a compreensão da determinação de
um processo de trabalho a partir do contexto conjuntural.
A proposta apresenta ainda os princípios (flexibilidade de organização dos
currículos; trato teórico rigoroso da realidade social; teoria de perspectiva de totalidade;
superação da fragmentação de conteúdo; estabelecimento das dimensões investigativas
e interventivas como princípios formativos; caráter interdisciplinar; indissociabilidade
entre ensino, pesquisa e extensão; exercício do pluralismo; ética como princípio
formativo e indissociabilidade entre estágio e supervisão acadêmica e profissional) e as
diretrizes que conformam a formação profissional (apreensão do processo histórico
numa perspectiva crítica de totalidade; investigação sobre a formação sócio-histórica
brasileira, particularizando o desenvolvimento do capitalismo e do Serviço Social;
apreensão do significado sócio-histórico da profissão, bem como das possibilidades de
ação no contexto da realidade; apreensão das demandas dos assistentes sociais visando a
formulação de respostas de enfrentamento às expressões da questão social e exercício
profissional adequado às competências e atribuições descritas na legislação em vigor).
Em seguida, apresentam os núcleos que fundamentam a proposta de diretrizes
para a formação profissional, localizando-os como indissociáveis e parte de uma
totalidade: Núcleo de fundamentos teórico-metodológicos da vida social; núcleo de
fundamentos da formação sócio-histórica da sociedade brasileira e núcleo de
fundamentos do trabalho profissional. Propõem ainda a conceituação de cada núcleo de
fundamento específico. O Núcleo de fundamentos teórico-metodológicos da vida social
trata da perspectiva que compreende o trabalho como eixo central da produção da vida
social, bem como é o núcleo que se responsabiliza pela explicação do processo de
conhecimento do Ser social. No núcleo de fundamentos da formação sócio-histórica da
sociedade brasileira a proposta pretende explicar a formação sócio-histórica do Brasil e
seus impactos para o Serviço Social, na medida em que propõe a compreensão dos
padrões de acumulação do capitalismo; a construção do Estado brasileiro; o significado
do Serviço Social na especificidade sócio-histórica do Brasil e os diferentes projetos
políticos. O núcleo de fundamentos do trabalho profissional concebe o fazer profissional
como qualquer outro processo de trabalho, considerando: sua matéria-prima; os meios
para a realização do trabalho (instrumentos) e a dimensão teleológica do profissional.
Esta perspectiva trata da instrumentalidade (dimensões teórico-metodológicas, ético-
políticas e técnico-operativas) como recurso necessário para compreensão do cotidiano
dos usuários e intervenção na direção ético-política da profissão.
Expõem ainda as formas que as matérias básicas assumem: disciplinas;
seminários temáticos; oficinas/laboratórios e atividades complementares. Em seguida
expõem também as matérias básicas e suas respectivas características ementárias:
Sociologia; Ciência política; Economia política; Filosofia; Psicologia; Antropologia;
Formação sócio-histórica do Brasil; Direito; Política Social; Acumulação capitalista e
desigualdades sociais; Fundamentos Históricos e Teórico-metodológicos do Serviço
Social; Processo de Trabalho do Serviço Social; Administração e Planejamento em
Serviço Social; Pesquisa em Serviço Social e Ética profissional. Tratam ainda das
atividades indispensáveis integradoras do currículo, a saber: o Estágio Supervisionado e
o Trabalho de conclusão de curso.
A proposta é finalizada com observações e recomendações para os cursos da
graduação, para que se levem em consideração: carga-horária mínima de 2700 horas;
maior carga horária nas disciplinas de Serviço Social; mesmo padrão de qualidade para
cursos diurnos e noturnos; destinação de 5% de carga horária total do currículo para
atividades complementares; destinação de 15% da carga horária mínima do curso para o
estágio supervisionado e implantação imediata das referidas diretrizes a partir da
aprovação do MEC.

Referência Bibliográfica: ARAÚJO, Nailsa Maria Souza. O Serviço Social como


trabalho: alguns apontamentos sobre o debate. In: Serviço Social e Sociedade. n. 93, ano
XXIX, mar. 2008, p. 5-28.

Comentário Pessoal: Na introdução do texto, a autora propõe a compreensão do


contexto que determinou a reformulação curricular de 1996 (DC/1996), que concebe o
Serviço Social como trabalho. Em seguida, expõe a proposta de apresentar o debate em
torno da questão do serviço social como trabalho e suas polêmicas.
Na primeira parte do texto a autora traz os fundamentos da discussão do trabalho
no âmbito do Serviço Social. Recorre à Marx para explicar a natureza do trabalho
concreto e abstrato, este último notadamente relacionado à alienação característica do
capitalismo. A autora insere o Serviço Social nesse debate e afirma que a compreensão
da profissão como trabalho pressupõe considerar os três elementos básicos de
constituição do trabalho, a saber: objeto ou matéria-prima (questão social); instrumentos
(dimensão teórico-metodológica e técnico-operativa), com atenção para o fato de que o
profissional não é detentor de parte dos instrumentos para realização do seu trabalho; e
o próprio trabalho, marcado pelas especificidades de gênero, de subalternização e
assalariamento. Nailsa, ainda afirma que a proposta das DC/96 recorre à tese de Serviço
Social como trabalho na perspectiva de superação da abstração voluntarista que
descontextualizou a profissão da concreção histórica da realidade, a fim de que se
compreenda a profissão no contexto macro da sociedade.
Expõe, em seguida, o debate a respeito do Serviço Social como trabalho,
afirmando, à época da proposta das DC/96, não haver produções que tratam dessa
perspectiva a nível específico do processo de trabalho do assistente social. Afirma ainda
que este debate específico do Serviço Social como trabalho se desdobrou em duas
perspectivas: 1 – preocupações mais laterais, e 2 – a negação das categorias trabalho e
processo de trabalho para o serviço social.
Na perspectiva que mostrou preocupações mais laterais com a perspectiva
adotada pela categoria nas DC/96 ao tratar o serviço social como trabalho, os autores
desta categoria demonstram problemas quando essa compreensão, oriundas da DC/96,
reduz a multilateralidade do exercício profissional às relações limitadas
(empregado/patrão), ou ainda quando possibilita compreensões equivocadas que
reduzem a diversidade das questões do Serviço Social aos limites impostos pelos
processos de trabalho.
Na perspectiva que trata da negação das categorias trabalho e processos de
trabalho para o Serviço Social, Nailsa Araújo discute uma dissertação de mestrado, de
Gilmaísa Macedo da Costa, que se contrapõe a tese defendida pelas DC/96. Segundo
Costa, apenas as atividades de interação sujeito x natureza, objetivando a transformação
desta última, podem ser consideradas como trabalho. Nesse sentido, sendo o objeto do
serviço social uma matéria-prima social e não natural, entende-se que a profissão não é
trabalho, mas um complexo ideológico, pois a atividade teleológica do profissional
direciona-se a uma matéria-prima social e não natural, conforme entendido por Lukács.
A autora finaliza seu texto tratando da importância da realização de debates
como esses, a fim de que sejam construídas sínteses que não ofereçam terreno fértil para
perspectivas conservadoras em relação à formação profissional.

Referência Bibliográfica: LESSA, Sérgio. Serviço social e trabalho: Porque o serviço


social não é trabalho. 2 ed. São Paulo: Instituto Lukács, 2012, p. 31-72 (caps. III-V).

Comentário Pessoal: Introduzindo o capítulo terceiro, o autor propõe, após discutir o


trabalho como fundante do Ser Social e localizando o Serviço Social como um
complexo criado pelo trabalho, compreender as categorias Trabalho e Reprodução em
Marx.
Tratando da categoria trabalho, Lessa discute sua característica de ser produto de
uma consciência teleológica, mas que realiza-se na causalidade (história) à revelia
daquela. Isto é, o machado (criação objetiva fruto da teleologia) permanece evoluindo, a
despeito da consciência que o criou. Lessa ainda trata de afirmar que o trabalho além da
criação objetiva constrói o próprio homem, num sentido subjetivo. E é o próprio
trabalho o responsável pela reprodução humana.
Em se tratando da reprodução, o autor mostra como o trabalho a determina na
história. Para isso, parte da explicação dos processos de formação sócio-histórica da
humanidade, tratando desde as comunidades primitivas, do escravismo, feudalismo, até
o capitalismo. Na abordagem do autor todas essas organizações sociais foram
determinadas pela forma de trabalho. As reuniões em bandos da comunidade primitiva
foram determinadas pela forma primitiva de trabalho. Com o advento da acumulação de
bens foi possível a exploração do homem pelo homem. Nesse modo de produção
(escravista) o trabalho era realizado pelos escravos, que não tinham intensão de
desenvolverem as forças produtivas para desenvolvimento deste modo de organização
social. A criação do Estado para a contenção do quantitativo de escravos - determinante
para a riqueza desse modo de produção - foi importante para a crise dessa organização
social. O feudalismo se constitui, então, como resultado da crise do escravismo. O
trabalho era realizado pelos servos nos domínios dos senhores feudais. O acúmulo de
riqueza e o crescimento do número de servos foi determinante para a retirada do
excedente de servos dos feudos, o que influencia a constituição dos burgueses (essa
parte da história já é conhecida). O fato é que é sempre a partir do trabalho que essas
formas de organização social se reproduzem. Essa é a característica da reprodução.
Na parte do texto que trata da relação do trabalho com a reprodução, Lessa faz a
afirmação que contradita a perspectiva assumida pela categoria. Neste ponto do texto o
autor defende que apenas as atividades cuja função social seja uma transformação da
natureza, com vistas a produção de uma base objetiva que possibilite a reprodução
social, podem ser consideradas trabalho. Apesar de importante a atividade dos
assistentes sociais para a legitimação do modo de produção, ela não é essencial; por este
motivo ela não é trabalho.
Finalizando o terceiro capítulo, Lessa trata da relação trabalho e causalidade.
Neste tópico, o autor afirma que a dimensão de atuação das outras práxis (aqui inserido
o Serviço Social) é a da teleologia, no sentido de atuar no campo da consciência, da
subjetividade e das relações. Doutra sorte, o trabalho incide na dimensão objetiva da
natureza, isto é, na dimensão da causalidade. Apesar da relação obrigatória entre esses
elementos (teleologia e causalidade) eles não têm características iguais.
No próximo capítulo, tratando do trabalho como fundamento ontológico das
classes sociais, Lessa explica de forma didática a relação do trabalho na conformação
das classes sociais. Desde o advento da divisão social do trabalho, a partir da primeira
acumulação, duas classes fundamentais se opõem determinadas pela forma de produção
da organização social. No caso do modo de produção capitalista, a contradição
fundamental entre capital x trabalho também determina a criação da pequena burguesia
(classe média ou classe em transição) que vive da riqueza produzida pelos proletários;
são assalariados, mas não são trabalhadores (agentes públicos do Estado, comerciantes e
bancários); trata-se de trabalhadores improdutivos, que não trabalham na esfera da
produção do contingente material para subsistência e desenvolvimento da presente
organização social. Infere-se que é nesse quadro em que se inserem os assistentes
sociais, como trabalhadores improdutivos, associados a conformação das classes de
transição (pequena burguesia), em função do caráter indireto deste trabalho com a
produção de mais-valia.
Finalizando o quarto capítulo, Lessa faz uma breve discussão sobre os
rebatimentos políticos sobre os elementos do trabalho e das classes sociais. Apresenta
duas perspectivas contrastante no âmbito da política. Uma perspectiva não ultrapassa o
campo fenomênico e enxerga que a polarização essencial da sociedade capitalista
(proletário x burguesia) foi superada, os mapas políticos e as eleições demonstram isso.
A outra perspectiva afirma que, mesmo com a inflexão da assunção de identidade pela
classe trabalhadora, não se pode negar o trabalho como elemento fundamental para a
determinação de duas classes antagônicas (burgueses x proletários).
Em caráter de conclusão de sua reflexão, no quinto capítulo, Lessa faz uma
discussão sobre a práxis do operário e a práxis do assistente social, a fim de legitimar,
de uma vez por todas, a tese de que a práxis dos assistentes sociais não é trabalho.
Lessa, afirma que a tentativa de aproximação da classe trabalhadora empreendida pela
revisão curricular com a constatação do Serviço Social como trabalho tem uma boa
intenção, mas é essencialmente equivocada. A práxis do operário - que atua sobre uma
matéria-prima constituída por causalidades (natureza) é essencialmente diversa da
matéria pela qual os assistentes sociais exercem sua atividade laboral, a saber, as
relações sociais. Não só a matéria-prima do trabalho dos operários e dos assistentes
sociais são essencialmente diferentes, como os instrumentos e o próprio espaço de
trabalho. Portanto, a práxis de trabalho do operário é essencialmente diferente da do
assistente social.
Finalizando a reflexão do capítulo V, Lessa põe termo ao debate do assistente
social como trabalhador, ao lançar luz sobre o fato de que a práxis do assistente social é
vinculada a classe transitória (pequena-burguesia, classe média), que historicamente
sempre legitimou o projeto burguês de manutenção do modo de produção capitalista.
Lessa expõe, como nos capítulos anteriores, a possibilidade de ser assalariado mesmo
não sendo trabalhador (empregados que otimizam o trabalho na indústria, funcionários
do Estado, comerciantes e bancários); estes assalariados não podem ser considerados
trabalhadores em virtude da característica essencial que os difere: o intercâmbio entre a
força produtiva e a matéria-prima natural. Portanto, os assistentes sociais não são
trabalhadores. São vinculados a pequena-burguesia e ao projeto de manutenção da
sociedade burguesa. Apenas o operário é o trabalhador que vive do que produz, que é
expropriado por todo o conjunto de classes da sociedade e que se constitui ator
essencialmente revolucionário.

Referência Bibliográfica: BRAZ, Marcelo. A hegemonia em xeque. Projeto-ético


político do Serviço Social e seus elementos constitutivos. Revista Inscrita, ano VII, n X,
CFESS, 2007, p. 4-10.

Comentário Pessoal: Na introdução do texto, Braz faz uma breve conceituação sobre o
termo hegemonia, a fim de relacioná-lo, posteriormente, ao projeto ético-político da
profissão. Afirma que a hegemonia, nos termos de Gramsci, não se relaciona com
quantidade, antes tem mais relação com o aspecto qualitativo, na medida em que trata
de uma disputa de projetos societários. O autor identifica que, a partir da década de
1970, começa a se constituir o PEP da categoria profissional, este que representa 3
elementos: a dimensão teórica crítica, os aspectos político-organizativos e jurídico-
políticos – este último determinado pelos dois primeiros, sobretudo em função da
instituição do código de ética de 1993 e da lei de regulamentação da profissão. O fato
problema é que a partir dos governos Lula esse projeto tem sido tensionado, colocando
sua hegemonia em risco.
O problema está no fato de parte da categoria identificar no projeto proposto
pelo governo Lula a reprodução material do nosso projeto profissional. Ora, se existe
convergência entre o projeto societário e o PEP, já não existe mais a necessidade da
crítica. Esse equívoco coloca o PEP em xeque em virtude de dois problemas centrais. O
primeiro diz respeito a ausência de projetos societários alternativos que legitimem a luta
dos trabalhadores; o que é extremamente necessário para que se viabiliza o PEP. O
segundo problema recai basicamente nas dimensões do trabalho e da formação
profissional. No âmbito do exercício profissional as lutas estão cada vez mais
fragmentadas e imediatistas. Na dimensão da formação profissional o PEP é ameaçado
em virtude da formação acelerada proposta pelas EAD’s, além da ausência da vivência
política que a universidade presencial estimula.
O autor encerra o texto colocando como sugestão de resistência justamente a
defesa intransigente do PEP e de seus princípios, na direção da ampliação dos nossos
horizontes de luta e da rigidez regulatória de práticas não sintonizadas ao nosso PEP.

Referência Bibliográfica: NETTO, José Paulo. Das ameaças à crise. Revista Inscrita,
ano VII, n X, CFESS, 2007, p. 37-40.

Comentário Pessoal: Netto introduz seu texto expondo o contexto histórico onde foi
gestado o PEP – década de 1970/80, no bojo da luta pela redemocratização, aliada aos
movimentos sociais. Entretanto, o contexto presente é de profunda contra-reforma,
sobretudo a partir do Governo Lula, com a cooptação de organizações populares, a
exemplo da CUT e da UNE.
Neste contexto, Netto lança a hipótese de que o PEP não tem perspectiva de
viabilidade por dois motivos. O primeiro por, na atual conjuntura, associar a profissão à
prática da assistência, perspectiva que tem encontrado ressonância na categoria
profissional. O segundo motivo tem relação com os boicotes do Mec à formação
profissional, num direcionamento de profunda flexibilização. Esses dois motivos, para o
autor, inviabilizariam a realização do PEP nessa conjuntura.
O autor conclui seu texto recorrendo ao contexto neoliberal para defender a tese
de crise do PEP.

Referência Bibliográfica: RAMOS, Sâmia Rodrigues. Limites e possibilidades


históricas do projeto ético-político. Revista Inscrita, ano VIII, n XII, CFESS, 2009, p.
41-48.

Comentário Pessoal: A autora também retoma o contexto de formulação do PEP na


década de 1970 e consolidação nas décadas seguintes. Propõe, à semelhança de Braz,
uma introdução ao debate sobre hegemonia, fazendo um crítica a utilização desse termo
desconexo das mediações profissionais e de seu contexto na utilização de Gramsci –
uma clara alfinetada em Braz. Feitas essas considerações preliminares a autora
desenvolve uma crítica à perspectiva que entende que o PEP está em crise de hegemonia
(Netto e Braz).
Em resposta aos escritos de Braz e Netto sobre a crise de hegemonia do PEP, a
autora concorda com o fato da ausência de projetos societários alternativos
representarem ameaças ao PEP, mas retoma a memória os ideais de movimentos sociais
que trazem no bojo de sua militância a luta anticapitalista. Também concorda com Braz
quanto aos problemas postos ao exercício e formação profissional na direção da
concreção do PEP, mas a autora relembra o fato histórico de nunca existir na história da
profissão convergência entre o contexto adverso posto ao trabalho e a formação
profissional e o PEP. Portanto, a autora conclui que não é agora, sob estes motivos, que
o PEP estará em crise.
Em resposta a Netto, sobre sua tese da inviabilidade do PEP neste contexto
histórico, a autora afirma que o contingente crítico da categoria ainda é hegemônico, a
despeito das correntes conservadoras que ocupam espaço no âmbito da profissão.
A autora conclui que não existe uma crise de hegemonia do PEP do Serviço
Social, na medida em que, tanto na dimensão teórico-metodológica, político-
organizativa e jurídico-política o segmento crítico – que comunga com a teoria
anticapitalista – ainda é hegemônico.

Referência Bibliográfica: MOTA, Ana Elizabete; AMARAL, Ângela. Projeto


profissional e projeto societário. Revista Inscrita, ano VIII, n XII, CFESS, 2009, p. 49-
55.

Comentário Pessoal: As autoras introduzem o texto separando o termo PEP, que foi
proposto na década de 1990, do contexto que o determinou, décadas de 1970-80. As
autoras recuperam a organicidade de segmentos da profissão em defesa das lutas
democráticas das referidas décadas, sobretudo das lutas operárias do ABC. Dessa
perspectiva, a partir dos encontros da categoria, surge mais claramente o termo PEP na
década de 1990 como fundamento das direções assumidas nas dimensões acadêmicas,
político-organizativas e jurídico-políticas. A autora faz uma crítica contundente ao
governo petista que agravou o cenário neoliberal do país, no contexto de financeirização
da economia, de cooptação de movimentos sociais, de assistencialização no trato da
pobreza e do advento do pós-modernismo no campo intelectual. Nessa conjuntura a
categoria procurou avançar cada vez mais, instrumentalizada pelo PEP, na direção de
uma formação e exercício profissionais críticos.
Em seguida, as autoras apontam os desafios postos ao PEP na atualidade, não
concordando, todavia, com a perspectiva que entende o PEP num cenário de crise de sua
hegemonia. As autoras resgatam um legado fundamental do PEP para o momento atual
– a sua dimensão política. A dimensão política do exercício profissional lança luz sobre
a potencialidade de intelectual orgânico das classes subalternas, mobilizando-as e
organizando-as na empreitada de organização de outra sociedade. Daí a concepção de
vinculação orgânica entre os projetos profissionais e os projetos societários. O
desdobramento do caráter político do exercício profissional do assistente social rebate
em dois desafios para o PEP na atual conjuntura: 1 – a organização política dos
profissionais e 2 – a interlocução dessa organização política com o exercício
profissional. Portanto, a autora defende, mesmo diante de um contexto desfavorável
para o PEP – o que tem legitimado ideias sobre a crise de sua hegemonia – que a
dimensão política do exercício profissional conectada a um projeto societário
emancipatório possibilita a incorporação de princípios e valores que, transpostos para o
exercício profissional, funcionam como elementos de resistência diante deste contexto
neoconservador.
Por estes motivos – ao demonstrar a possibilidade de resistência do PEP diante
de um contexto adverso – a autora não concorda com a perspectiva que concebe o PEP
num momento de crise de sua hegemonia.

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