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O Leito de Procusto

Qualquer semelhança com a realidade política angolana é


pura coincidência?

Embora pouco conhecido, Procusto, filho de Poseidon – na mitologia grega este era
considerado o deus do mar –, era um dos personagens mais tenebrosos e hediondos que se
tem conhecimento na mitologia grega. Ele morava nas colinas de Elêusis, próximas de Ática.
Para atrair os viajantes que passavam na estrada próxima da sua casa, Procusto se
comportava de modo hospitaleiro, oferecendo-lhes uma boa refeição e uma cama
confortável para o descanso. Depois que o hóspede dormia, Procusto o amarrava à sua cama
de ferro e o amordaçava. Caso o hóspede fosse maior do que a cama, Procusto cortava as
suas pernas para que ele pudesse ficar do mesmo tamanho do leito. No caso de o hóspede
ser menor do que a cama, ele o esticava para que ficasse do mesmo tamanho. Em qualquer
uma das situações, suas vítimas sempre morriam.
Procusto possuía duas camas construídas caprichosamente em diferentes tamanhos para
que ninguém se encaixasse perfeitamente nelas. Ele sentia enorme prazer em oferecer a
cama que não era adequada ao tamanho dos seus convidados. Os hóspedes maiores eram
direcionados para a cama de menor tamanho, enquanto que aos convidados menores era
oferecida a cama de maior tamanho.
Na atualidade, a expressão “Leito de Procusto” é utilizada para designar pessoas habituadas
a humilhar indivíduos que elas consideram mais capazes do que ela. Refere-se à maneira
que o indivíduo portador da “Síndrome de Procusto” se comporta. A pessoa acometida por
essa síndrome formata um mundo que é só seu, um mundo que não tem sentido e é
completamente dissociado da realidade, chegando ao ponto de desenvolver transtornos
mentais.
Esse tipo de pessoa não suporta conviver com alguém talentoso, que se destaca mais do que
ela e, por isso, tenta de todas as formas atrapalhar o desempenho das outras pessoas. Por
ter limitações de intelecto, por ser medíocre, ela não consegue crescer profissionalmente por
competência própria. Por essa, razão, usa toda a sua tirania, procurando limitar o
crescimento e tentando adequar a grandeza intelectual dos outros ao seu “Leito de Procusto”,
nem que, para isso, tenha que perseguir e atrapalhar de todas as formas.
A simbologia de Procusto está presente nas relações sociais em diversos lugares, no seio
familiar, no ambiente do trabalho, na escola e na política. Essa simbologia é representada
pelo sentimento de repulsa e pela ausência de compreensão, com comportamento execrável
e hostil.
O portador dessa síndrome é inseguro, intolerante, insolente, nocivo, frustrado, irracional.
Sente-se inferior porque, de fato, o é. Para ele, o perigo vem de todos os lugares, mas só ele
percebe. Usa a arrogância para dissimular sua incompetência. Não aceita mudanças,
tampouco opiniões de outros, porque se sente dono da verdade. O sujeito procustiano fica
sempre na defensiva e ataca a ameaça que só ele vê, com receio de que seja superado. O
estúpido manipula a verdade para que caiba perfeitamente no seu “leito” e para que
represente a realidade artificialmente criada por ele.
Infelizmente, não é raro se deparar com um ser procustiano. Basta observar atentamente
pessoas que não concordam com a opinião de outras e que, por isso, tentam colocá-las no
“Leito de Procusto” com a intenção de encolher a inventividade, de podar as ideias diferentes
e de amputar o pensamento oposto, nem que para isso tenha que negar a ciência e todo e
qualquer conhecimento cientificamente comprovado. O portador dessa síndrome possui
elevadíssimo nível de idiotismo e tem pavor de que alguém brilhe mais do que ele. Ele
representa a antítese do bem!
Na mitologia grega, o tirano Procusto, que torturou e matou diversos inocentes, morreu
pelo mesmo método desenvolvido por ele. O herói Teseu puniu o algoz pelos seus crimes,
cortando-o para que se ajustasse perfeitamente ao tamanho de uma das suas camas.
Portanto, a criatura procustiana, que tanto padecimento causa, tem que ser eliminada.
Ninguém tolera a humilhação por muito tempo. Ninguém aceita ser diminuído o tempo
todo. Tem que partir para o enfrentamento, tirando-lhe o poder. Certamente, não se deve
utilizar dos mesmos métodos que ele, tem que se demonstrar a repulsa por esse ser,
ignorando-o de todas as formas, não dando oportunidade para que ele exista.
Procusto tem que ser detido!

Cultura&Realidade - 03 de Abril de 2020


Arlicélio Paiva, professor doutor da UESC, Ilhéus, Bahia.

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