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Análise e Desenho de Políticas Públicas

Aula 1

3 de outubro de 2022
Sumário

§ Apresentação do programa da disciplina de Análise e Desenho de

Políticas Públicas (ADPP)

§ Funcionamento da disciplina e avaliação

§ Resposta a três questões:

§ O que são as políticas públicas?

§ O que é a análise das políticas públicas?

§ Porquê estudar as políticas públicas?


Programa e funcionamento da disciplina de
Análise e Desenho de Políticas Públicas
Objetivo da disciplina

Aquisição de competências de análise e desenho de políticas públicas:

§ Estudo dos principais conceitos e modelos de análise das políticas


públicas;

§ Operacionalização das aprendizagens, através da análise de casos


reais selecionados.
Programa da disciplina

§ 1. Porquê estudar as políticas públicas?


§ 2. Teorias do Poder e do Processo Político
§ 3. Conceitos da Análise de Políticas Públicas: Atores, Recursos, Regras e Instituições
§ 4. Análise do processo político:
§ 4.1. Tipos de políticas e fases do processo
§ 4.2. Problemas e agendamento
§ 4.3. Alternativas e grupos de interesse
§ 4.4. Formulação: desenho e instrumentos
§ 4.5. Decisão e concretização
§ 4.6. Comunicação
§ 4.7. Avaliação, impactos e mudança
§ 5. Influência internacional: difusão, transferência e convergência em políticas públicas
§ 6. Investigação em Políticas Públicas
§ 7. Políticas Públicas em Portugal
Avaliação

§ Apresentação e discussão pública de um poster, síntese do


exercício de análise de uma política pública (40%).

§ Trabalho escrito, máximo de 20 páginas, de análise de uma política


pública (50%).

§ Participação, incluindo presença nas aulas e demonstração de


capacidade para colocar questões sobre os temas em discussão
(10%).
Bibliografia da disciplina (básica)
§ Anderson, James (2003). Public Policymaking. Boston. Houghton Mifflin Company;

§ Bardach, Eugene (2009). A Practical Guide for Policy Analysis, Washington DC, CQPress;
§ Birkland, Thomas (2020). An Introduction to the Policy Process, New York, Routledge;

§ Cairney, Paul (2011, 2020). Understanding Public Policy, London, Red Globe Press;
§ Dye, Thomas R. (2010). Understanding Public Policy, Boston, Longman;

§ Hill, Michael (2009). The Public Policy Process, London, Pearson/Longman;


§ Howlett, Michael (2019). The Policy Design Primer. Choosing the Right Tools for the Job. New York, Routledge;
§ Kingdon, John (1984). Agendas, Alternatives, and Public Policies, New York, Longman;

§ Knoepfel, Peter, Corrine Larrue, Frédéric Varone, e Michael Hill (2011). Public Policy Analysis. Bristol, Polity Press University of
Bristol;

§ Kraft, Michael, e Scott Furlong (2010). Public Policy. Politics, Analysis, and Alternatives, Washington DC, CQPress;
§ Moran, Michael, Martin Rein, e Robert Goodin (2008). The Oxford Handbook of Public Policy, Oxford, Oxford University Press;
§ Parsons, Wayne (1996). Public Policy: An Introduction to the Theory and Practice of Policy Analysis, Edward Elgar Pub;

§ Rodrigues, Maria de Lurdes, e Pedro Adão e Silva (org.) (2012). Políticas Públicas em Portugal, Lisboa, INCM;
§ Rodrigues, Maria de Lurdes (coord.) (2014). Exercícios de Análise de Políticas Públicas, Lisboa, INCM;

§ Rodrigues, Maria de Lurdes, e Helena Carreiras; (org.) (2017). Exercícios de Análise de Políticas Públicas 2, Lisboa, Editora Mundos
Sociais;
§ Smith, Catherine (2010), Writing Public Policy, New York, Oxford University Press;

§ Theodoulou, Stella, e Matthew Cahn (1995). Public Policy: The Essential Readings, New Jersey, Prentice Hall.
Políticas Públicas
Conceitos básicos

§ Estado

§ Governo

§ Política (Polity)

§ Política (Politics)

§ Políticas (Policy/policies)

§ Políticas Públicas (Public Policy)


O Estado é construído a partir da sua ação

O estudo das políticas públicas permite compreender o desenvolvimento do próprio Estado.

§ Estado Soberano (Século XVIII)

§ Estado-Nação (Século XIX)

§ Estado Providência (Século XX)

§ Emergência do Estado Regulador (Século XXI)


Fatores que contribuem para o crescimento do Estado

§ População

§ Complexidade

§ Regulação das relações económicas

§ Relações internacionais

§ Proteção social

§ Expectativas dos cidadãos


Crescimento da População

ANEXO A
Evolução da População Portuguesa (1821-2011)
Figura 9.1 Evolução da População Portuguesa, 1821-2011

12.000.000 10.562.178
9.833.014
10.000.000 8.510.240
8.000.000 6.825.883
5.960.056
6.000.000 5.049.729
4.188.410
4.000.000 3.026.450
2.000.000
0
1821 1864 1890 1911 1930 1950 1981 2011
Fonte: MNOPCI, Censo da população de 1864; DEGC, Censo da população de 1890; DGE, Censos da população de 1911 e de 1930; INE,
Censos da população de 1950, 1981 e 2011.
Razões para o envolvimento e intervenção do Estado
Kraft e Furlong, 2010

§ razões políticas

§ razões morais e éticas

§ razões económicas e sociais


Razões para o envolvimento e intervenção do Estado

§ razões políticas

§ movimentos sociais

§ mudança expressiva na opinião pública

§ expectativas dos cidadãos (mudança nos valores)

§ funções de soberania do Estado (segurança e relações externas)


Razões para o envolvimento e intervenção do Estado

§ razões morais e éticas

Fazer o que “está certo”, independentemente da opinião pública, das pressões.

§ a proteção social

§ a resposta a catástrofes naturais

§ a intervenção internacional para retirar do poder um ditador


Razões para o envolvimento e intervenção do Estado

§ razões económicas

relacionadas com as falhas de mercado que ocorrem quando o mercado não é eficiente.

§ a existência de monopólios e oligopólios (controlo de preços)

§ externalidades positivas e negativas

§ falhas de informação (regulação)


Funções do Estado
(Silva, 2013)

§ Funções do Estado de direito democrático: Direitos, liberdades e garantias pessoais. A


administração da justiça, a organização da comunidade política e dos processos de decisão baseados
na soberania popular;

§ Funções de soberania e segurança: a defesa e ordenamento do território nacional, a promoção de


bem-estar e de qualidade de vida, a provisão de segurança pública, as relações externas e de
cooperação, a segurança no acesso a serviços básicos, como a alimentação;

§ Funções sociais, através das quais o Estado assegura a coesão social, a justiça redistributiva e a
abertura de oportunidades disponíveis para todos: o sistema de segurança social e solidariedade, os
serviços publicamente acessíveis na saúde, na educação, na habitação, nos transportes, na cultura e
no conhecimento, a promoção do bem-estar e a qualidade de vida, a inclusão;

§ Funções de desenvolvimento relacionadas com a orientação estratégica da economia (com o


apoio ao empreendedorismo e à inovação, a promoção da agricultura e do desenvolvimento rural, a
coesão regional, o ambiente e o desenvolvimento sustentável).
O Paradoxo

§ O crescimento do Estado e aumento das expectativas dos cidadãos


de alargamento das áreas de intervenção do Estado…

§ as críticas ao poder de intervenção do Estado e ao seu peso


excessivo…
Desafios colocados ao setor público (Knoepfel, et al. 2011)

A recente evolução das democracias ocidentais é caracterizada por um conjunto de


desafios que são colocados aos atores do setor público

§ A redução dos défices orçamentais e da dívida estrutural;


§ A satisfação das crescentes expectativas públicas relativamente aos níveis de serviços
prestados;
§ A necessidade de maior gestão profissional dos cada vez mais escassos recursos públicos;
§ A gestão de conflitos de redistribuição relacionados com a exclusão de longa duração de
certos grupos sociais;
§ A manutenção do controle político sobre a economia no quadro da crescente influência
dos processos de globalização;
§ A crescente competição entre as autoridades públicas situadas nos níveis local, regional e
internacional;
§ O imperativo democrático de uma sistemática avaliação dos efeitos de leis e
regulamentos.
“O século XX não foi necessariamente como nos
ensinaram a vê-lo. Não foi, ou não foi somente, a
grande batalha entre a democracia e o fascismo, ou da
liberdade contra o totalitarismo. A minha ideia é que na
maior parte do século estivemos envolvidos em debates
implícitos ou explícitos sobre a ascensão do Estado.
Que espécie de Estado queriam as pessoas livres? Que
preço estavam dispostos a pagar por ele e que
propósitos queriam que ele servisse?”
Tony Judt, in: Pensar o Século XX
O que são as políticas públicas?
Definições de Políticas Públicas

§ Polissemia conceptual

§ Há inúmeras definições do conceito de políticas públicas.

§ Thoenig (1985) identifica mais de 40 exemplos


Definições de Políticas Públicas

§ “qualquer coisa que o governo decida fazer ou não fazer” (Thomas


Dye, 1972)

§ “conjunto de decisões relacionadas, tomadas por um ator político,


respeitantes a uma seleção de objetivos e meios de concretização”
(B. Jenkins, 1978)
Elementos das definições

Thomas Dye Jenkins

• Todas as ações, independentemente da • Decisão orientada para objetivos e para a


relevância e do conteúdo resolução de problemas

• Governo como principal agente • Diferentes atores políticos

• Decisões: fazer ou não fazer • Processo dinâmico e mobilização de meios


Definições de Políticas Públicas
(Matamoros 2013, adaptado)

Pragmática Normativa

O que os governos dizem ou fazem em relação a um O processo pelo qual se elaboram e se implementam
problema ou controvérsia programas de ação pública, i.e, dispositivos político-
administrativos coordenados em torno de objetivos
(Dubnick e Bardes, 1983) específicos
(Muller e Surel,1998)

Curso de ação ou inação governamental em resposta a Concatenação de atividades, decisões ou de medidas


problemas públicos coerentes, pelo menos na sua intenção, e tomadas
principalmente por atores do sistema político-
(Kraft e Furlong, 2007) administrativo de um país com o objetivo de resolver um
problema coletivo
(Larrue, 2000)

Um curso de ação (ou inação) deliberado relativamente Produzida num quadro de procedimentos, de influências e
estável, seguido por um ator ou conjunto de atores ao lidar de organizações governamentais, colocando-se a ênfase no
com um problema ou com um assunto objeto de processo de elaboração das políticas públicas
preocupação (Anderson, 2003) (Hogwood, 1984)
Elementos constitutivos das políticas públicas

Elementos presentes Elementos não presentes

• Grupo de decisões ou atividades dirigidas a um • Simples decisão ou declaração política,


grupo-alvo/problemas inexistência de população-alvo ou de problema
público

• Coerente e intencional • Incoerente ou instrumental

• Tomada por atores públicos • Atores privados

• Programa de intervenção com diferentes níveis • Atos legislativos ou outros sem remissão para a
de concretização concretização

Knoepfel, 2011 - adaptação


Políticas Públicas

“… a series of intentionally coherent decisions or activities taken or

carried out by different public – and sometimes – private actors, whose

resources, institutional links and interests vary, with a view to resolving

in a targeted manner a problem that is politically defined as collective

in nature”.

(Knoepfel et al, 2006, 2011: 24)


A definição das políticas públicas como resposta a
problemas é insuficiente:

§ Nem todos os problemas dão lugar a políticas públicas

§ As medidas de política podem ser instrumentos de exercício de


poder ou de dominação de um grupo por outro

§ Não é possível um entendimento universal sobre a natureza e as


causas de um problema.
O que é análise das políticas públicas?
A análise das políticas públicas

§ Analisar significa decompor para compreender melhor

§ Analisar significa interpretar e compreender o Estado em ação


A análise das políticas públicas

§ Análise do conteúdo da política (como surgiu, como foi formulada e concretizada, que

resultados se obtiveram)

§ Análise do processo político (que influências ocorreram na formulação e na decisão)

§ Análise dos resultados e dos impactos


Porquê estudar as políticas públicas?
Porquê estudar políticas públicas?

“Public policies in a modern complex society are indeed ubiquitous”.

They confer advantages and disadvantages; cause pleasure, irritation,

and pain; and collectively have important consequences for our well-

being and happiness” (Anderson, 2003).


Porquê estudar políticas públicas?

§ Compreender a omnipresença das políticas públicas;

§ Julgar a relevância, eficiência e eficácia;

§ Identificar a lógica e a coerência das decisões e da sua


concretização;

§ Compreender os processos sociais de mudança associados às


políticas públicas.
Porquê estudar as políticas públicas?

§ Produzir informação e conhecimento para desenhar melhores


políticas e para informar o debate público

§ Melhorar as condições de compreensão e de participação dos


cidadãos

§ Compreender as razões pelas quais falham as políticas


Estudar políticas públicas é responder a três questões

Porquê? (fundamentos e finalidades da intervenção)

Como? (que atores e com que instrumentos intervém o Estado)

Quais os efeitos? (quem é abrangido e quem é beneficiário)


Problemas sociais

§ abuso de crianças
§ desemprego
§ violência doméstica
§ trabalho infantil
§ criminalidade
§ terrorismo
§ obesidade infantil
§ gravidez na adolescência
§ insucesso escolar
§ poluição ambiental
§ violência na escola
§ migrações ilegais
Atores informais

§ opinião pública

§ grupos de interesse

§ “triângulos de ferro”
§ Grupos de interesse
§ decisores políticos
§ administração pública

§ grupos de peritos
Recursos das políticas públicas

• força • organização

• lei e normativos • consenso e negociação

• recursos humanos • tempo e espaço

• recursos financeiros • infraestruturas

• informação • apoio político


Instrumentos ou meios de ação

• legislação e regulação • persuasão (campanhas)

• recursos financeiros • multas e sanções

• contratos • capacitação/aprendizagem

• intervenção no mercado • Inspeção

• empréstimos e subsídios • licenciamento


Tipos de políticas públicas

§ Distributivas

§ Redistributivas

§ Regulatórias

§ Constituintes

(Lowi, 1964, 1972, in: Theodoulou e Cahn, 1995; Rodrigues, 2014)


Tipos de políticas públicas
Tipos de políticas públicas

Não integram a tipologia apresentada:

Políticas simbólicas:

§ Campanhas e iniciativas que atuam sobre a representação do problema.

Vários autores falam de políticas que não distribuem recursos e não regulam

comportamentos, mas são importantes para reforçar ideias, valores e

identidades.
Por que razão falham as políticas públicas

§ desenho constitucional

§ especialização de funções nos governos

§ complexidade dos problemas

§ opinião pública e o consenso

§ interesses organizados

§ liderança política ineficaz


Bibliografia
§ Anderson, James (2003). Public Policymaking. Boston. Houghton Mifflin Company;
§ Bardach, Eugene (2009). A Practical Guide for Policy Analysis, Washington DC, CQPress;
§ Birkland, Thomas (2020). An Introduction to the Policy Process, New York, Routledge;
§ Cairney, Paul (2011, 2020). Understanding Public Policy, London, Red Globe Press;
§ Dye, Thomas R. (2010). Understanding Public Policy, Boston, Longman;
§ Hill, Michael (2009). The Public Policy Process, London, Pearson/Longman;
§ Howlett, Michael (2019). The Policy Design Primer. Choosing the Right Tools for the Job. New
York, Routledge;
§ Jenkins, William (1978), Policy Analysis. A Political and Organizational Perspective, Oxford,
§ Blackwell.
§ Kingdon, John (1984). Agendas, Alternatives, and Public Policies, New York, Longman;
§ Knill, Christoph, e Jale Tosun (2012). Public Policy: A New Introduction, Hampshire, Palgrave
Macmillan
§ Knoepfel, Peter, Corrine Larrue, Frédéric Varone, e Michael Hill (2011). Public Policy Analysis.
Bristol, Polity Press University of Bristol;
§ Kraft, Michael, e Scott Furlong (2010). Public Policy. Politics, Analysis, and Alternatives,
Washington DC, CQPress;
Bibliografia
§ Mata, João Trocado da, e Nuno de Almeida Alves (2013). O que dizem as estatísticas sobre a
dimensão do Estado, in: Rodrigues, Maria de Lurdes, e Pedro Adão e Silva (org.). Políticas Públicas
para a Reforma do Estado. Coimbra, Edições Almedina;
§ Moran, Michael, Martin Rein, e Robert Goodin (2008). The Oxford Handbook of Public Policy,
Oxford, Oxford University Press;
§ Ordóñez-Matamoros, Gonzalo (2013). Manual de Análisis y Diseño de Políticas Públicas, Bogotá,
Universidade Externaso
§ Parsons, Wayne (1996). Public Policy: An Introduction to the Theory and Practice of Policy
Analysis, Edward Elgar Pub;
§ Rodrigues, Maria de Lurdes (coord.) (2014). Exercícios de Análise de Políticas Públicas, Lisboa,
INCM;
§ Rodrigues, Maria de Lurdes, e Helena Carreiras; (org.) (2017). Exercícios de Análise de Políticas
Públicas 2, Lisboa, Editora Mundos Sociais;
§ Silva, Augusto (2013). O redimensionamento do Estado português: Condições de conhecimento,
debate e concertação, in: Rodrigues, Maria de Lurdes, e Pedro Adão e Silva (org.). Políticas
Públicas para a Reforma do Estado. Coimbra, Edições Almedina;
§ Smith, Catherine (2010), Writing Public Policy, New York, Oxford University Press;
§ Theodoulou, Stella, e Matthew Cahn (1995). Public Policy: The Essential Readings, New Jersey,
Prentice Hall.

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