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Caso clínico

O Ricardo tem 6 anos, entrou este ano para a escola e a mãe diz que a professora refere
que apesar do menino ser bem-comportado, e de fazer muitos amigos, aprende mais devagar
em relação aos outros colegas, sobretudo as letras.

A mãe mencionou um historial de otites, e questionou, dizendo que há dias que parece
que o filho não ouve, que está na lua, pois não responde quando o chama. Reforçou também o
facto de a criança aumentar o volume quando vê desenhos animados e quando atende o
telefone. De há uns dias para cá, apercebeu-se que o filho pede para repetir muitas vezes quando
estão em locais com muitas pessoas. Contudo, a mãe achava que o filho era somente distraído,
porque os testes auditivos realizados quando era mais novo deram sempre resultados normais,
mas agora com a situação alertada pela escola, percebeu que se calhar algo não está bem e
decidiu dirigir-se novamente ao otorrino.

O otorrino solicitou os seguintes exames:

➔ Timpanograma/Reflexos Estapédicos
➔ Otoemissões Acústicas
➔ Audiograma Tonal Simples
➔ Audiograma Vocal

Exames Complementares

Timpanograma

Reflexos Estapédicos
Frequências 500 1000 2000 4000
(Hz)
Ipsilateral 85 85 85 85
Contralateral 90 90 90 90

Mª Inês Batista e Pedro Carecho


Otoemissões Acústicas

Frequências Ouvido Direito (OD) Ouvido Esquerdo (OE)


(Hz) DP SN DP SN
1000 11 11 1 0
1500 13 17 -8 -2
2000 13 25 5 13
3000 10 27 5 17
4000 9 18 7 21
6000 14 14 14 19

OD: Normais OE: Normais

Alteradas Alteradas

Audiograma Tonal Simples

Ouvido Direito Ouvido Esquerdo

Audiograma Vocal:

➔ Encontra-se dentro da normalidade, pois a inteligibilidade a 100% é atingida aos 20dB


em ambos os ouvidos.

Após a análise dos exames realizados, faça o respetivo relatório audiológico.

Mª Inês Batista e Pedro Carecho


Relatório Audiológico:

➔ Nome da Criança: Ricardo


➔ Idade: 6 anos
➔ Relatório que vai ser entregue ao otorrino
➔ Otorrino solicitou exames audiológicos, por suspeita de perda auditiva

Ouvido Direito

➔ Timpanograma do tipo A
➔ Reflexos ipsilaterais e contralaterais normais
➔ Otoemissões presentes
➔ Audiograma tonal simples normal
➔ Audiograma vocal encontra-se dentro da normalidade
Ouvido Esquerdo:

➔ Timpanograma do tipo A
➔ Reflexos ipsilaterais e contralaterais normais
➔ Otoemissões presentes
➔ Audiograma tonal simples normal
➔ Audiograma vocal encontra-se dentro da normalidade
Aconselhamento:

Dada a história clínica do paciente e os resultados audiológicos obtidos, achamos que


serão necessários mais exames, como os potenciais evocados auditivos, de forma a
complementar a avaliação e a excluir patologias.

Apesar de os resultados, até então, se encontrarem dentro da normalidade, suspeitamos


de uma alteração a nível central nomeadamente de uma possível perturbação do processamento
auditivo central, mas para confirmar seria necessário a realização de testes mais específicos,
por exemplo, testes monoaurais de baixa redundância, testes dicóticos, testes de processamento
temporal e testes de interação binaural.

Deve ser encaminhado novamente para o otorrino, para análise e pedido de novos
exames.

Mª Inês Batista e Pedro Carecho


Opinião:

Com os exames audiológicos realizados, concluímos que não há perda auditiva e


podemos confirmar que as estruturas da parte periférica da via auditiva se encontram integras.
Assim, caso haja alguma alteração, esta terá de ser a nível central, contudo suspeitamos de uma
possível perturbação do processamento auditivo central.

Caso haja alterações nos potenciais ao relacionarmos com o audiograma, que se


encontra normal, os exames poderão ser sugestivos de Perturbação do Processamento Auditivo,
em que não há perda, mas sim uma dificuldade de compreensão do estímulo acústico.

Tratamento: Treino Auditivo (caso seja esta perturbação)

Testes monoaurais de baixa redundância, são testes em que a redundância extrínseca


do sinal da fala é diminuída, para avaliar a função central do processamento e encerramento
auditivo da informação, que engloba a atenção e a representação fonológica.
Testes de interacção binaural, nos quais é necessária a interação dos dois ouvidos
para conseguir compreender o sinal dicótico ouvido, separados por diversos fatores: tempo,
frequência e intensidade entre os dois ouvidos. Os estímulos são ouvidos nos dois ouvidos e é
necessário efetuar a sua integração, que se julga ser efetuada no tronco cerebral, motivo pelo
qual estes testes estão indicados para pesquisa de lesões nesta estrutura nervosa.
Testes de processamento temporal, as capacidades de ordenação temporal de
frequência e de duração são utilizadas principalmente para a análise dos aspetos rítmicos,
acentuação e prosódia da fala.
Testes dicóticos, caracterizados pela apresentação simultânea nos dois ouvidos de
estímulos diferentes.

Mª Inês Batista e Pedro Carecho

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