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PRESBITÉRIO DE LIMEIRA
Limeira, SP
2022
II
Limeira, SP
2022
III
Meu primeiro agradecimento não poderia ser para outra pessoa. Deus, em sua
imensa graça, agiu de maneira misericordiosa para comigo nesse tempo de seminário,
ou melhor, durante toda a minha vida. Obrigado meu Senhor por tamanha bondade.
À minha amada esposa, Jully, que sempre foi refúgio em tempos de medo e
incertezas. Além de uma excelente esposa, foi uma excelente mãe. E durante o
seminário tivemos mais 2 filhos. Um grande desafio. Além disso, uma forte depressão
enfrentada de maneira inenarrável por ela. Graças dou a Deus pela vida da melhor
À minha querida família: mãe, pai, irmão, sogra e cunhada, que sempre me
lutas e pelo carinho. Sinceros agradecimentos por toda confiança, pois aqui tive o
Ao meu Pastor, tutor e amigo Rev. Leandro Jacon Demo. Agradeço o apoio e toda
orientação. Sua vida abençoou a minha família. Sua família abençoou minha família.
membro da igreja, que me ajudaram demais nessa caminhada. Obrigado pelo sustento,
A todo corpo docente do Seminário Presbiteriano do Sul, que com muito esmero e
aulas remotas devido a pandemia mundial. Professores que talvez nunca tenham se aventurado no
mundo digital se esforçaram ao máximo para conseguir passar por cima dessa grande barreira que foi a
V
covid 19, gloria a Deus pela vida de todos vocês.
Ao Rev. Romualdo que com muito amor e piedade, guiou meus passos nesta longa
caminhada.
Peterman. Vocês foram instrumentos de Deus em minha vida. Foram bálsamo divino.
Nos difíceis caminhos que percorri, vocês foram essenciais para que eu continuasse.
Muito obrigado.
VI
RESUMO
distanciamento social. Esse distanciamento atingiu a igreja com um duro golpe. Ela
passou a não mais se reunir, e apenas se via por uma tela virtual. A Comunhão dos
louvando coletivamente, mesmo estando cada um em sua casa? Podemos ser igreja
sem nos reunirmos? Posso ser membro de uma igreja mesmo estando a centenas
necessária a comunhão dos santos. Assim como a CFW também menciona, existe
uma grande importância na ordem de congregamento dos irmãos. O “estar junto” vai
disease limited our freedom, ended up causing a big problem: social distancing.
This estrangement hit the church hardly. She went on to no longer meet. It was
only seen through a virtual screen. The Communion of Saints was attacked.
And a scenario unlike anything we had ever lived was installed. Doubts began
to arise. Can we worship online? Are we collectively praising, even though each
the Holy Scriptures to answer such questions. And Chapters XXV and XXVI of
the Westminster Confession of Faith, using the Word of God, bring clarity to
order of congregation of the brothers. The “being together” will bring benefits to
the perfection of the saints. The importance of the communion of saints and the
BASE CONFESSIONAL
I. A Igreja Católica ou Universal, que é invisível, consta do número total dos eleitos que já
foram, dos que agora são e dos que ainda serão reunidos em um só corpo sob Cristo, seu
cabeça; ela é a esposa, o corpo, a plenitude daquele que cumpre tudo em todas as coisas.
II. A Igreja Visível, que também é católica ou universal sob o Evangelho (não sendo restrita
a uma nação, como antes sob a Lei) consta de todos aqueles que pelo mundo inteiro
professam a verdadeira religião, juntamente com seus filhos; é o Reino do Senhor Jesus, a
casa e família de Deus, fora da qual não há possibilidade ordinária de salvação.
I Cor. 1:2, e 12:12-13, Sal .2:8; I Cor. 7 :14; At. 2:39; Gen. 17:7; Rom. 9:16; Mat. 13:3 Col.
1:13; Ef. 2:19, e 3:15; Mat. 10:32-33; At. 2:47.
III. A esta Igreja Católica Visível Cristo deu o ministério, os oráculos e as ordenanças de
Deus, para congregamento e aperfeiçoamento dos santos nesta vida, até o fim do mundo,
e pela sua própria presença e pelo seu Espírito, os torna eficazes para esse fim, segundo a
sua promessa.
IV. Esta Igreja Católica tem sido ora mais, ora menos visível. As igrejas particulares, que
são membros dela, são mais ou menos puras conforme neles é, com mais ou menos
pureza, ensinado e abraçado o Evangelho, administradas as ordenanças e celebrado o
culto público.
V. AS igrejas mais puras debaixo do céu estão sujeitas à mistura e ao erro; algumas têm
degenerado ao ponto de não serem mais igrejas de Cristo, mas sinagogas de Satanás;
não obstante, haverá sempre sobre a terra uma igreja para adorar a Deus segundo a
vontade dele mesmo.
I Cor. 1:2, e 13:12; Mat. 13:24-30, 47; Rom. 11.20-22; Apoc. 2:9; Mat. 16:18.
VI. Não há outro Cabeça da Igreja senão o Senhor Jesus Cristo; em sentido algum pode
ser o Papa de Roma o cabeça dela, mas ele é aquele anticristo, aquele homem do pecado
IX
e filho da perdição que se exalta na Igreja contra Cristo e contra tudo o que se chama
Deus.
Col. 1:18; Ef. 1:22; Mat. 23:8-10; I Ped. 5:2-4; II Tess. 2:3-4.
I. Todos os santos que pelo seu Espírito e pela fé estão unidos a Jesus Cristo, seu
Cabeça, têm com Ele comunhão nas suas graças, nos seus sofrimentos, na sua morte, na
sua ressurreição e na sua glória, e, estando unidos uns aos outros no amor, participam dos
mesmos dons e graças e estão obrigados ao cumprimento dos deveres públicos e
particulares que contribuem para o seu mútuo proveito, tanto no homem interior como no
exterior.
I João 1:3; Ef. 3:16-17; João 1:16; Fil. 3:10; Rom. 6:56, e8:17; Ef. 4:15-16; I Tess.5:11, 14;
Gal. 6:10.
II. Os santos são, pela sua profissão, obrigados a manter uma santa sociedade e
comunhão no culto de Deus e na observância de outros serviços espirituais que tendam à
sua mútua edificação, bem como a socorrer uns aos outros em coisas materiais, segundo
as suas respectivas necessidades e meios; esta comunhão, conforme Deus oferecer
ocasião, deve estender-se a todos aqueles que em qualquer lugar, invocam o nome do
Senhor Jesus.
III. Esta comunhão que os santos têm com Cristo não os torna de modo algum
participantes da substância da sua Divindade, nem iguais a Cristo em qualquer respeito;
afirmar uma ou outra coisa, é ímpio e blasfemo. A sua comunhão de uns com os outros
não destrói, nem de modo algum enfraquece o título ou domínio que cada homem tem
sobre os seus bens e possessões.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO................................................................................................................12
1 – APROFUNDANDO OS TERMOS.............................................................................14
CONCLUSÃO.................................................................................................................61
REFERÊNCIAS..............................................................................................................62
12
INTRODUÇÃO
Olhar para a vida comunitária humana é perceber e saber que Deus criou o
outras criaturas que Ele fez. Esse relacionamento acontece no dia a dia de maneira
menos nos comunicamos.” Quanto mais o homem cresce em sua tecnologia, mais
espiritual. Não foram poucas as vezes que ouvi ser algo benéfico a imposição de
ficar em casa. Mais fácil e prático fazer tudo sem sair de casa. Compras podem ser
aulas em modelo virtual são mais viáveis, pois o aluno não precisa se deslocar até o
local de ensino. E com isso não há interação social. E quando chegamos ao âmbito
seguinte orientação:
Westminster (CFW). O capítulo XXV, seção que trata da igreja, e também o capítulo
XXVI, destinado a falar sobre a comunhão dos santos, irão guiar esta monografia.
caminhar o seu “corpo”, ou seja, a sua Igreja. Esse padrão por Ele determinado está
ligados. Não existe igreja sem a comunhão dos santos, e não existe comunhão dos
santos sem a igreja. É claro, perceptível e mui sabido que a igreja não consiste nas
paredes feitas de cimento e armações, mas sim uma comunidade feita de carne e
osso, eleitos por Deus, que possuem o objetivo maior de adorar a Deus e gozá-lo
mesmo espaço ou de fazerem parte de uma estrutura como se fosse um clube, mas
assunto. Crendo que a palavra do nosso Deus foi inspirada por Ele, reconhecemos
que essas palavras, se analisadas de maneira correta, são capazes de nos trazer luz
“Comunhão dos Santos”, que pode ser visualizada como princípio, e não de maneira
1- APROFUNDANDO OS TERMOS
repousa a comunhão dos santos de maneira tão profunda. Começamos então pela
crescimento. Encontramos dois termos: qahal ( )קהלe edhah ( )עֲ ַ ֤דת. O próprio Louis
adorar a Deus e aprender a Sua escritura é a palavra qahal. Essa palavra tem o
“Naquele dia, o Livro de Moisés foi lido para o povo, e nele achou-se escrito
que os amonitas e os moabitas não deveriam jamais entrar na congregação
de Deus,”
Outro texto que pode ser utilizado para que possamos ver a junção da palavra
1
BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. São Paulo; Cultura Cristã, 2002, p. 511.
15
encontramos o seguinte:
וַי ְדַ ֵ ּ֣בר מ ֹׁשֶ֗ ה ּבְָא ְזנֵ ֙י ּכָל־קְ ַ ֣הל י ִׂשְ ָראֵ֔ ל אֶ ת־ּדִ ב ֵ ְ֥רי הַ ּׁשִ ָ ֖ירה הַ ּ֑ז ֹאת ַ ֖עד ֻּת ָּמֽם׃.
O termo qahal é utilizado junto com o termo Israel ־ק ַ ֣הל י ְִׂש ָראֵ֔ ל
ְ , onde a Nova
Israel:”
ָ ו ַּיִ ּֽקָ הֲ ֞לּו עַ ל־מ ֶ ֹׁ֣שה ו ְַעֽל־ַאהֲ ֗ר ֹן וַּי ֹאמְ ֣רּו אֲ לֵהֶ ם֮ ַרב־ ָלכ ֶ֒ם ִ ּ֤כי כ
ָל־הֽעֵ דָ ה֙ ּכ ָ ֻּ֣לם קְ ד ֹׁשִ֔ ים
ְתֹוכם י ְה ָו֑ה ּומַ ּ֥דּועַ ִּתֽתְ נַּׂשְ ֖אּו ל־קְ ה֥ל י ְהוָ ֽה׃
ַ ַע ֖ ָ ּוב.
Cito o quão interessante é esse texto, pois ao olharmos a tradução dada pela
septuaginta, vem de encontro a nossa tese. Perceba que no texto grego vemos o
"συνέστησαν ἐπὶ Μωυσῆν καὶ Ααρων καὶ εἶπαν ἐχέτω ὑμῖν ὅτι πᾶσα ἡ
συναγωγὴ πάντες ἅγιοι καὶ ἐν αὐτοῖς κύριος καὶ διὰ τί κατανίστασθε ἐπὶ τὴν
συναγωγὴν κυρίου".
Ao analisarmos o termo edhah ( )עֲ ַ ֤דתpodemos ver que ela tem um sentido de
Jeremias 6.18, onde lemos: ר־ּבם׃ ֶ הּגֹו ִי֑ם ּו ְד ִ ֥עי עֵ ָ ֖דה ֶאת־ ֲא
ֽ ָ ׁש ְ ׁש
ַ מ ֣עּו ִ ָל ֵ ֖כן. Traduzida como:
Podemos então visualizar que a palavra qahal possui um sentido bem peculiar
português, que tem grande importância para essa tese. A idéia de igreja já no Antigo
termo qahal é utilizado com as expressões “do Senhor”, “de Israel” e “de Deus”.
termo quahal, é o teólogo Mulholland, que expõe que a própria Septuaginta descreve
a ekklesia como tradução para o termo em sua grande maioria, enquanto o termo
3
sinagoga, é mais utilizado no termo edhah.
pertinente sobre esse assunto e muito interessante por sinal, surge de um teólogo
2
BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. São Paulo; Cultura Cristã, 2002, p. 511.
3
MULHOLLAND, Dewey M. Teologia da igreja: uma Igreja Segundo os propósitos de Deus. São Paulo:
Shedd Publicações, 2004. P. 24.
4
LOHFINK, Gerhard. A igreja que Jesus queria: dimensões comunitárias da fé cristã. Traduzido por
Johann Piber. Santo André – São Paulo; Academia Cristã; 2011.
17
Podemos salientar apenas que quando Jesus exerce seu ministério, ele
demonstra que é o cabeça da igreja, e que ela não apenas incluiria os israelitas como
nação geográfica, mas incluiria povos e nações que poderiam ser chamados de Israel
de Deus, povo escolhido, nação santa, de propriedade exclusiva dele, unindo raças e
mais raças, e tornando todas elas um só povo, o Seu povo. Bem salienta o teólogo
os tempos”.5
demonstrar que a igreja não diz respeito ao local, mas sim ao “conteúdo”. Como
muito bem disse Bavink, se tratando do termo igreja: “Jesus não usa o termo para
Por mais que possamos notar que a sinagoga tinha uma grande influência na
vida religiosa do povo, não era ela que deveria ser definida como igreja propriamente
nossos dias. Sinagoga talvez não devesse ser traduzida como igreja, e sim templo,
deveríamos nomear como templo, e não propriamente como Igreja. É claro que
existe uma certa apropriação de termos, assim como o cristão que utiliza a
declarando um seguidor das doutrinas que apontam a mãe de Jesus como tendo o
poder que somente o Messias possui, mas sim com uma apropriação idiomática
cultural.
grego, a junção de duas palavras para criar uma só. Temos então a junção de Εκ,
que tem o significado de “para fora”, juntamente com o verbo grego kaleo, que traz o
sentido de “chamar”. Podendo então ser traduzida como “chamados para fora”. Essa
devemos sair das estruturas do templo, e sermos igreja fora das quatro paredes. É
entretanto, ela tem em seu âmago, a disposição e o dever de viver fora dos padrões
deste século.
que a igreja perpassa os tempos históricos das alianças. E Dunn, vai colaborar com
isso, quando diz que as palavras que Paulo usa em alguns textos nos remetem ao
8
- Foi citado no capítulo anterior a palavra em grego, para contribuir com o andamento do estudo, e
para isso utilizado o texto traduzido na Septuaginta, que continha então as palavras no idioma grego,
entretanto, elas aparecem com originalidade textual, no Novo Testamento.
19
crentes estão reunidos para o culto ou não. Colaborando com a idéia do “conteúdo” e
seja chamado de igreja. Como por exemplo em 1 Coríntios 11.18, onde vemos:
causa da preposição ἐν, mas essa preposição pode ser usada não só para definição
É comum também, por exemplo, a palavra ser usada para definir uma igreja
seguinte:
9
DUNN, James. A Teologia do Apóstolo Paulo. São Paulo; Paulus, 2003. p.607
10
BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. São Paulo; Cultura Cristã, 2002, p. 511.
20
parte da igreja, num primeiro momento, e num segundo momento, de maneira mais
particularidade da palavra no Novo Testamento. Ela pode ser usada “num sentido
mais geral, para indicar a totalidade do corpo de Cristo em todo mundo. Todos
32
ἀπρόσκοποι καὶ Ἰουδαίοις γίνεσθε καὶ Ἕλλησιν καὶ τῇ ἐκκλησίᾳ τοῦ θεοῦ,
1 Coríntios 10:32
32
Não se tornem motivo de tropeço nem para judeus, nem para gentios,
nem para a igreja de Deus, 1 Coríntios 10:32
que tal palavra tinha o intuito de se referir a todos os fiéis que já existiram e que ainda
vão existir.
21
αὐτῷ ἡ δόξα ἐν τῇ ἐκκλησίᾳ καὶ ἐν Χριστῷ Ἰησοῦ εἰς πάσας τὰς γενεὰς
τοῦ αἰῶνος τῶν αἰώνων· ἀμήν. Efésios 3:21
21 a ele seja a glória, na igreja e em Cristo Jesus, por todas as gerações,
para todo o sempre. Amém! Efésios 3:21
adentramos, mesmo que de maneira sutil, num tópico que será de grande valia
Berkhof, precisamos também gastar um tempo para falarmos um pouco sobre a igreja
invisível e visível.
Vemos então o termo invisível aparecer pela primeira vez de maneira explícita
13
em nosso trabalho. O termo é bem antigo, e Sproul escreve que ele foi mais
Como diz Sproul, esse termo, se não olhado pela ótica certa, acaba por ser
mal interpretado. Ele não é uma antítese de visível nesse caso. Ele se torna uma
característica única e positiva. Acontece que muitas vezes ao ouvir sobre a igreja
invisível as pessoas podem ter a idéia errônea de que igreja invisível são as pessoas
que estão fora da visível, ou as que estão evitando estar na igreja visível, e isso não é
igreja visível. Podemos até mesmo argumentar com pessoas que enxergam de
12
Confissão de Fé de Westminster. São Paulo: Ed. Cultura Cristã, 2005. Capítulo XXV
13
SPROUL. R. C. O Que é a Igreja? Traduzido do original em inglês What is the Church? Publicado por
Reformation Trust Publishing a Division of Ligonier Ministries; 400 Technology Park, Lake Mary,
FL32746; 1a Edição em português 2013. Editora FIEL.p.10
22
maneira errônea a igreja invisível, que ela é a melhor parte da igreja visível.
tinha como certeza a questão de que a igreja verdadeira era a igreja visível, como
instituição. A igreja católica cria que a igreja visível era a “divisora” de águas, pois ela
tinha uma sucessão ininterrupta desde os apóstolos, e ali estava então, a verdadeira
igreja.
O que se conclui sobre a igreja invisível é que ela abrange os que são
parte da Igreja Invisível. É possível que alguém que faça parte da igreja invisível não
faça parte da igreja visível? Sim, principalmente em casos extremos como o que
cristãos, Em muitos deles não existem igrejas formadas, mas apenas convertidos,
Eles fazem parte da Igreja Invisível, mas não da visível. Entretanto, esses casos,
entre outros, geralmente são mais extremos. Em nossa sociedade, fazer parte da
igreja invisível, traz por “obrigação” fazer parte da igreja visível. Sproul 14, citando
Agostinho diz:
Por que Agostinho fala de uma igreja invisível? Ele o faz para ser fiel ao
ensino de Jesus no Novo Testamento. Agostinho ensinou que a igreja é um
corpus permixtum. O que isso significa? Nós sabemos o que corpus
significa. É um corpo. Corpus Christi significa o quê? O corpo de Cristo.
Corporação é uma organização de pessoas. Corpus permixtum significa que
a igreja é um corpo misto.
A igreja invisível anseia por fazer parte do corpo. É por isso que não é
invisível e não querer fazer parte da igreja visível. A igreja é invisível porque nós não
para sabermos quem é salvo e quem não é. Assim como Grudem descreve 15, “a
Não podemos achar que a igreja apenas tem essa característica invisível. Pelo
contrário, ela também é visível. E se a igreja invisível foi rotulada como a igreja que
Deus vê, a invisível pode receber o rótulo de igreja que Deus vê, mas não só Ele,
que a cabeça manda, pelo menos assim deveria ser. É através da igreja visível que o
Vocês, porém, são geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de
propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamar as virtudes daquele que
os chamou das trevas para a sua maravilhosa luz. 1 Pedro 2:9
Luz.
Paulo escreve para diversas igrejas visíveis. Em sua primeira carta aos
2
à igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus,
chamados para ser santos, com todos os que em todos os lugares invocam
o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso. 1 Coríntios
1:2
15
GRUDEM, W. Teologia Sistemática. 2 Edição, São Paulo; Vida Nova. p. 1147
16
Nesse trecho de Pedro nós não vemos de maneira explicita a utilização do Eclésia, ou qualquer outro
que signifique um ajuntamento de pessoas, pois ele fala de maneira direta a cada indivíduo de um povo
que foi salvo e escolhido por Deus, Tanto que no versículo 10- “Antes, vocês nem eram povo, mas
agora são povo de Deus; antes, não tinham alcançado misericórdia, mas agora alcançaram
misericórdia.” 1 Pedro 2:10, ele argumenta sobre a questão de cada pessoa fazer parte de um povo
eleito por Deus.
24
Por mais que dentro da igreja visível existissem pessoas que não fizessem
parte da igreja invisível, ele chama aqueles irmãos todos de Igreja, pois realmente
eram. Faziam parte da igreja visível de Deus. E Paulo escreve para toda aquela
Ele não sabia se todos ali faziam parta da Igreja Invisível, mas sabia que todos
faziam parte da igreja visível. Traduzindo para nossa realidade, poderíamos definir
semana, com o intuito de prestar culto a Deus. É claro que dentro desta igreja
também haverá aqueles que o propósito principal não é o mesmo que os demais.
Existirá o adolescente que só vai a igreja por obrigação, haverá o jovem que só vai
até a igreja por causa de uma bela jovem que ele julga ser uma boa pretendente,
então precisa investir tempo ao seu lado. Haverá o homem casado com uma mulher
cristã, que para não a deixar ir sozinha, seja por qual motivo for, está presente
assiduamente, às vezes até mais do que outros irmãos, mas todos esses fazem parte
da igreja visível. Acredito que fique claro, ao olharmos para as duas definições que
todos que fazem parte da igreja invisível podem (e devem, se possível) fazer parte da
igreja visível17. Entretanto nem toda pessoa que faz parte da igreja visível faz parte da
invisível, pois muitos ali estão por propósitos errôneos e ainda não desfrutam da
mas não fazia parte da verdadeira família da fé. Agostinho diz que: “muitas ovelhas
Grudem nos alerta para algo em relação a igreja visível, pois ao vermos como
Calvino20 traz uma solução para tal preocupação quando escreve que
reconhecer os irmãos pela “profissão de fé, pelo exemplo, de vida e pela participação
maneira em que vemos, em sua literalidade, não pode ser encontrado nas
escrituras. Entretanto, o termo tece toda uma doutrina de caráter bíblico que é
importantíssima para nosso estudo. E não somente para o nosso estudo, mas para a
“comunhão” e “santos”.
“consagrados” para Deus. Pessoa que se esmera por viver longe do pecado, pois
está separada dos padrões desse mundo, e é santa ao senhor 21. É preciso ter a
19
GRUDEM, W. Teologia Sistemática. 2 Edição, São Paulo; Vida Nova. p. 1149
20
Calvino, Institutas, 4.1.8, p.1022-3
21
É claro que não em sua totalidade, pois enquanto estivermos nesse momento histórico onde o pecado
26
consciência de seu significado, como visto no grego, “Αγίος”, separado, para que
6
e vocês serão para mim um reino de sacerdotes e uma nação santa.” São
estas as palavras que você falará aos filhos de Israel. Êxodo 19:6
Em Levíticos:
2
— Fale a toda a congregação dos filhos de Israel e diga-lhes: Sejam
santos, porque eu, o SENHOR, o Deus de vocês, sou santo. Levítico 19:2
15
Pelo contrário, assim como é santo aquele que os chamou, sejam santos
vocês também em tudo o que fizerem, 16 porque está escrito: “Sejam santos,
porque eu sou santo.” 1 Pedro 1:15-16
santificação, sem a qual não será possível contemplar a Deus, como lemos em
Hebreus 12.14.
mais sobre isso no próximo capítulo, pois através dessa comunhão vemos e
22
GRUDEM, W. Teologia Sistemática. 2 Edição, São Paulo; Vida Nova. p. 1291
27
enxergamos ainda mais o amor de Deus, e faz-nos vislumbrar como o nosso Deus se
essa característica. Hodge faz uma excelente colocação sobre a comunhão, quando
diz que:
com clareza o que muitas vezes não traduzimos em atos em nossa comunidade. Ao
olharmos alguns textos bíblicos teremos a mesma perspectiva, e vamos olhar alguns
Atos 2.42:
Podemos perceber que a palavra que Lucas utiliza, grifada acima, é Koinonia.
23
HODGE, Alexander A. Confissão de Fé Westminster comentada. São Paulo. Os Puritanos, 1999, p.
436
24
in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2021,
https://dicionario.priberam.org/comunh%C3%A3o [consultado em 10-09-2022].
28
caminharem para o “mesmo lado”. Perceba que interessante é o texto de Paulo aos
9
e, quando reconheceram a graça que me foi dada, Tiago, Cefas e João,
que eram reputadas colunas, estenderam a mim e a Barnabé a mão direita
da comunhão, a fim de que nós fôssemos para os gentios e eles fossem
para a circuncisão. Gálatas 2:9
analisado, Koinonia.
καὶ γνόντες τὴν χάριν τὴν δοθεῖσάν μοι, Ἰάκωβος καὶ Κηφᾶς καὶ Ἰωάννης, οἱ
δοκοῦντες στῦλοι εἶναι, δεξιὰς ἔδωκαν ἐμοὶ καὶ Βαρναβᾷ κοινωνίας, ἵνα
ἡμεῖς εἰς τὰ ἔθνη, αὐτοὶ δὲ εἰς τὴν περιτομήν· Gálatas 2:9
Escrituras:
29
A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do
Espírito Santo estejam com todos vocês. 2 Coríntios 13:13
ἡ χάρις τοῦ κυρίου Ἰησοῦ Χριστοῦ καὶ ἡ ἀγάπη τοῦ θεοῦ καὶ ἡ κοινωνία τοῦ
ἁγίου πνεύματος μετὰ πάντων ὑμῶν. 2 Coríntios 13:13
para dizer que o Espírito Santo, que habita os cristãos e capacita-os a fazer todas as
boas obras, está em comunhão com o Seu povo. O Deus todo poderoso está em
comunhão com seu povo. O seu povo deve andar em comunhão com o Seu Deus, e
utilizada para amarrar tudo o que foi mencionado, quando diz que:
I. Todos os santos que pelo seu Espírito e pela fé estão unidos a Jesus
Cristo, seu Cabeça, têm com Ele comunhão nas suas graças, nos seus
sofrimentos, na sua morte, na sua ressurreição e na sua glória, e, estando
unidos uns aos outros no amor, participam dos mesmos dons e graças e
estão obrigados ao cumprimento dos deveres públicos e particulares que
contribuem para o seu mútuo proveito, tanto no homem interior como no
exterior.25
Calvino pode ser citado para encerrar o término das análises dos termos,
como base para o proposito proposto até aqui. Ao ver cada termo o sentimento e o
25
Confissão de Fé de Westminster. São Paulo: Ed. Cultura Cristã, 2005. Capítulo XXV
30
pensamento proposto desejado é de que seja percebido que: “A ajuda mútua que as
diferentes partes do corpo oferecem umas às outras, não é considerada pela lei da
natureza como um favor, mas sim, como algo lógico e normal, cuja negativa seria
cruel.”26
corpo deve cuidar do corpo como um todo. Deve se preocupar com membros que
talvez possam ser considerados como menos importantes da mesma maneira que se
preocupa com membros que parecem ser mais importantes, sabendo que o corpo
21
Os olhos não podem dizer à mão: “Não precisamos de você.” E a cabeça
não pode dizer aos pés: “Não preciso de vocês.” 22 Pelo contrário, os
membros do corpo que parecem ser mais fracos são necessários, 23 e os
que nos parecem menos dignos no corpo, a estes damos muito maior
honra. Também os que em nós não são decorosos revestimos de especial
honra, 24 ao passo que os nossos membros nobres não têm necessidade
disso. Contudo, Deus coordenou o corpo, concedendo muito mais honra
àquilo que menos tinha, 25 para que não haja divisão no corpo, mas para que
os membros cooperem, com igual cuidado, em favor uns dos outros. 26 De
maneira que, se um membro sofre, todos sofrem com ele; e, se um deles é
honrado, todos os outros se alegram com ele. 1 Coríntios 12:21-26
26
CALVINO, João. A Verdadeira Fé Cristã. São Paulo; Novo Século, 2000, p.39
31
ajuntamento de todos os santos (Αγίος) que vivem lutando para ficarem distantes do
e propósitos, são amparados por Deus, e recebem meios de graça decorrente dessa
Saliento que quero trazer duas visões dessas graças visualizadas na igreja, e logo
Em uma igreja onde cada membro tem sua própria particularidade, seu
próprio jeito de ser, seu próprio temperamento e suas próprias qualidades, Deus age
Deus. Esses dons trabalham exaustivamente para fazer com que cada membro se
pareça mais com Cristo Jesus, e a maneira como o Espírito Santo age dentro da
igreja revela ainda mais seu poder e a soberania de Deus. Porque Ele capacita
quem Ele quiser, da maneira que Ele quiser, com o propósito que Ele quiser.
4 Porque assim como num só corpo temos muitos membros, mas nem
todos os membros têm a mesma função, 5 assim também nós, embora
sejamos muitos, somos um só corpo em Cristo e membros uns dos outros. 6
Temos, porém, diferentes dons segundo a graça que nos foi dada: se é
profecia, seja segundo a proporção da fé; 7 se é ministério, dediquemo-nos
27
CLOWNEY, Edmund P. A Igreja. São Paulo; Cultura Cristã, 2007, p. 60.
32
ao ministério; o que ensina dedique-se ao ensino; 8 o que exorta faça-o com
dedicação; o que contribui, com generosidade; o que preside, com zelo;
quem exerce misericórdia, com alegria. Romanos 12:4-8
diferentes. Enquanto o tradicional teólogo, Berkhof 28, faz a citação de três meios de
batismo, o teólogo contemporâneo trabalha com uma lista grande dos meios de
graça29, e ele afirma ainda que essa lista talvez não seja exaustiva. São eles: ensino
da palavra, batismo, ceia do senhor, oração uns pelos outros, adoração, disciplinas
Grudem diz que Berkhof limita os meios de graça aos meios ministrados por
clero ordenado. Berkhof defende a caracterização desses três meios ministrados pelos
rebate que essa visão carrega em si a tradição católica. Realmente, seria muito
É até possível incluir nos meios de graça tudo quanto se requer dos homens
para o recebimento e o gozo permanente das bênçãos da aliança, tais como
a fé, a conversão, a luta espiritual e a oração. Todavia, não é costumeiro
nem desejável incluir tudo isso na expressão “meios de graça”. A igreja não
é um meio de graça lado a lado com a Palavra e os sacramentos, porque o
seu poder de promover a obra da graça de Deus consiste unicamente na
administração deles. Ela não é instrumento de comunicação da graça,
exceto por meio da Palavra e dos sacramentos. Além disso, a fé, a
conversão e a oração são, antes de tudo, frutos da graça de Deus, embora
possam tornar-se instrumentos para o fortalecimento da vida espiritual. Não
são ordenanças objetivas, mas condições subjetivas para a posse e o gozo
das bênçãos da aliança. Conseqüentemente, é melhor não seguir Hodge
quando ele inclui a oração, nem McPherson quando acrescenta à Palavra e
aos sacramentos a igreja e a oração. Estritamente falando, somente a
28
BERKHOF, Louis, Teologia Sistemática, 4 ed. Tradução de Odair Olivetti; São Paulo: Cultura Cristã,
2012. P. 604
29
GRUDEM, W. Teologia Sistemática. 2 Edição, São Paulo; Vida Nova. p. 1283
33
Palavra e os sacramentos podem ser considerados como meio de graça,
isto é, como os canais objetivos que Cristo instituiu na igreja, e aos quais
Ele se prende normalmente para a comunicação da Sua graça.
Naturalmente, estes nunca podem dissociar-se de Cristo, nem da poderosa
operação do Espírito Santo, nem da igreja, que é o órgão designado para a
distribuição das bênçãos da graça divina. Em si mesmos, eles são
completamente ineficientes, e só produzem resultados espirituais positivos
mediante a eficaz operação do Espírito Santo.30
questionando: “Devemos, porém, limitar nossa análise dos meios de graça apenas a
variadas atividades no âmbito da igreja que Deus nos concedeu como meios de
expressão meios de graça. Fará toda a diferença saber como cada um deles enxerga
as graças ministradas por Deus. E veremos que realmente elas se divergem bastante.
Não são, entretanto, razão para rompimentos e dissensões, mas ao vermos como
entendimento sobre os meios de graça. Ele explica que “Meios de graça são quaisquer
atividades na comunhão da igreja que Deus usa para distribuir mais graça aos
cristãos.” Esses “meios de graça” podem ser divididos em meios de graça públicos e
meios de graça particulares. Ele reconhece que o Espírito Santo usa todos os onze
meios citados por ele para conceder bençãos à igreja. Vamos então a análise de sua
30
BERKHOF, Louis, Teologia Sistemática, 4 ed. Tradução de Odair Olivetti; São Paulo: Cultura Cristã,
2012
31
Grudem escreve 4 atividades aqui, pois cita os 3 meios de graça que Berkhof descreve, mas adiciona
um meio a mais, pois ao comentar Berkhof, ele também cita Hodge, que tem como caracterização dos
meios de graça um quarto elemento, que é a oração.
32
GRUDEM, W. Teologia Sistemática. 2 Edição, São Paulo; Vida Nova. p. 1283
34
lista.
Ele começa falando sobre a palavra, dizendo que ela é usada como meio de
graça até mesmo antes da pessoa ser convertida, pois, através da palavra, Deus
16
Pois não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a
salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego. 17
Porque a justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em fé, como está
escrito: “O justo viverá por fé.” Romanos 1:16-17
E também o texto escrito por Pedro, e a citação que o apóstolo faz do profeta
Isaias:
Ele demonstra que a palavra de Deus é o meio que Ele mesmo escolheu para
pois não viveremos somente do que comemos ou bebemos, mas também de toda a
evidentemente está na lista dos dois teólogos, não por coincidência ou convenção
humana, mas por ser credenciada para tal. Tanto que os pregadores mais
reconhecidos são aqueles que conseguem fazer com que a igreja volte seus olhos
35
para a própria palavra, e não para o pregador. Grudem cita também que o ensino da
palavra como graça é o ensino ministrado não somente pelo clero ordenado, mas em
todos os estudos que sejam fiéis a palavra que ocorrem em escolas bíblicas
pessoal da Bíblia.
Em relação ao Batismo Grudem expressa que como Jesus ordenou aos seus
discípulos que batizassem, a obediência para tal ordem traria bençãos à igreja. Como
“...parece apropriado que o Espírito Santo aja por intermédio desse sinal
para aumentar a nossa fé, aumentar a nossa percepção pratica da morte
para o poder do pecado do amor por ele e para ampliar a nossa experiencia
do poder da vida ressurreta em Cristo que temos como crentes.” 33
E então, ao finalizar sobre o batismo, mais uma vez ele se preocupa com o se
parecer com a Igreja Católica Romana, dizendo que é preciso tomar cuidado para não
pensarmos que a graça do batismo é concedida mesmo sem a fé da pessoa que está
sendo batizada.
O Batismo se torna um meio de graça para a pessoa que está sendo batizada,
e também para a igreja, que ao presenciar o batismo, tem sua fé estimulada e avivada,
A Ceia é vista por Grudem como sendo não apenas uma refeição compartilhada
comumente por cada membro da igreja, mas sim uma refeição compartilhada com
Cristo, na Sua presença, e em Sua mesa. Ao reconhecer tal visão sobre a Ceia, é
percebido claramente como ela atua como um meio de graça concedido à igreja.
33
GRUDEM, W. Teologia Sistemática. 2 Edição, São Paulo; Vida Nova. p. 1286
36
14
Portanto, meus amados, fujam da idolatria. 15 Falo como a pessoas
sábias; julguem vocês mesmos o que digo. 16 Não é fato que o cálice da
bênção que abençoamos é a comunhão do sangue de Cristo? E não é fato
que o pão que partimos é a comunhão do corpo de Cristo? 17 Porque nós,
embora muitos, somos unicamente um pão, um só corpo; porque todos
participamos do único pão. 1 Coríntios 10:14-17
16 τὸ ποτήριον τῆς εὐλογίας ὃ εὐλογοῦμεν, οὐχὶ κοινωνία ἐστὶν τοῦ αἵματος
τοῦ Χριστοῦ; τὸν ἄρτον ὃν κλῶμεν, οὐχὶ κοινωνία τοῦ σώματος τοῦ Χριστοῦ
ἐστιν; 1 Coríntios 10:16
Interessante notarmos a palavra Koinonia sendo usada mais uma vez dentro
com o corpo de Cristo derramam abundantes graças ao povo que participa da Ceia de
modo racional.
classifica, que o teólogo considera como não sendo atividades tão comuns assim, mas
Grudem segue Hodge, ao considerar a oração como um meio de graça. Ele usa
23
Uma vez soltos, Pedro e João procuraram os irmãos e lhes contaram tudo
o que os principais sacerdotes e os anciãos lhes tinham falado. 24 Ouvindo
isto, unânimes, levantaram a voz a Deus e disseram:
— Tu, Soberano Senhor, fizeste o céu, a terra, o mar e tudo o que neles há!
Atos 4:23-24. 31 Tendo eles orado, tremeu o lugar onde estavam reunidos.
Todos ficaram cheios do Espírito Santo e, com ousadia, anunciavam a
palavra de Deus. Atos 4:31
pois cada vez que a igreja se reúne e ora no Espírito Santo, mais bençãos espirituais
são concedidas ao corpo de Cristo, e com isso, a Oração 34, entra nessa lista do
34
Não podemos esquecer da definição de meios de graça dada por Grudem. Ela tem que estar em
nossa mente em cada análise, para que possamos entender qual a lógica do teólogo. “Meios de graça
são quaisquer atividades na comunhão da igreja que Deus usa para distribuir mais graça aos cristãos.”
37
teólogo americano.
Deus, estar diante Dele, em Sua presença, para oferecer louvor, honra e glória, ela
com certeza deve ser considerada um meio de graça, pelas bençãos ministradas por
Deus nesse momento, seja coletivamente, como foi em Atos, como individualmente
dentro do corpo.
menciona que a Disciplina deve ser considerada um meio de graça porque ela tem
como objetivo principal atuar para que a pureza da igreja seja estimulada, para que a
santidade seja cada vez mais praticada, e com isso, torna-se um meio de graça
concedida por Cristo à igreja. Ele menciona que a disciplina em si não traz benefícios
quebrantamento e demonstração de amor por parte da igreja. Mas, caso seja feita
atenção. Não só a liderança, mas todos os membros da igreja. Pois, muitas vezes a
O próximo item na lista de Grudem, que é visualizado por ele como meio de
35
GRUDEM, W. Teologia Sistemática. 2 Edição, São Paulo; Vida Nova. p. 1289
38
graça, são as ofertas e contribuições. Ele segue o mesmo raciocínio aplicado até o
momento para definir essa lista ampliada dos meios de graça, a lógica de que se
abençoa o corpo de Cristo, é um meio de graça. Como ele mesmo diz: “Mas se a
oferta é feita com fé, em decorrência do compromisso para com Cristo e por amor ao
36
seu povo, então certamente haverá grandes bençãos nela.” Percebe-se o quão
graça.
que dizimam, e também à igreja, entretanto, como ele mesmo salienta e alerta, o fazer
tal ação, por si só, de maneira mecânica e automática, faz com que aquele que doa
não participe completamente das bençãos e alegria de estar contribuindo para a obra
Note no quinto versículo a ordem da prática da oferta. Não deveria ser apenas
dada por obrigação ou como sendo uma fonte de sorte, mas por amor. E não
Grudem então elenca agora os dons espirituais como sendo mais um meio de
graça em sua extensa lista. Ele explica que no texto de 1 Pedro 4.10, para basear
sua argumentação: “Sirvam uns aos outros, cada um conforme o dom que recebeu,
que se os dons espirituais forem usados para abençoar a vida de cada um da igreja,
certamente trará bençãos (perceba novamente ligação que ele faz entre os dois
36
GRUDEM, W. Teologia Sistemática. 2 Edição, São Paulo; Vida Nova. p. 1289
39
termos, como sendo predominante para ser considerado um meio de graça) à sua
igreja, e por isso deve ser considerado um meio de graça. Interessante ver a
preocupação sempre presente nos escritos de sua teologia com relação aos meios de
graça serem aplicados a igreja pela vida de qualquer membro. Ele cita que: “Além
disso convém lembrar que esses dons são distribuídos não só ao clero ou a um
número limitado de cristãos, mas a todos os crentes que têm o Espírito Santo dentro
de si.” 37
Aqui Grudem expõe que a comunhão dos crentes gera um crescimento de amizade e
afeto, portanto, cumpre o mandamento de amarmos uns aos outros, dito por Jesus,
foi gerado uma benção para a igreja e para o corpo, essa ação deve ser considerada
um meio de graça.
é o meio de graça, segundo ele, que menos é descrito em sua teologia sistemática.
que não são salvos, e que virão a fazer parte do corpo de cristo, e também traz
evangelismo era o meio de graça com menos escritos pelo autor, esse é o inverso.
Esse é o meio de graça que ele mais gasta tempo argumentando o porquê ele o
Ele diz que o ministério tem diversas faces de atuação, como por exemplo a
conceito de meios de graça estipulado por esse teólogo. “Meios de graça são
quaisquer atividades na comunhão da igreja que Deus usa para distribuir mais graça
aos cristãos.” Pois essa á a grande diferença que vai atuar como determinante na
escolha entre três meios de graças do teólogo Louis Berkhof, para os onze meios de
. Berkhof deixa claro o que pensa sobre os meios de graça contidos na igreja.
Ele diz que: “Deus os designou para serem os meios ordinários por meio dos quais
Com os escritos de Berkhof fica fácil percebermos que o ser humano caído
39
GRUDEM, W. Teologia Sistemática. 2 Edição, São Paulo; Vida Nova. p. 1292
40
BERKHOF, Louis, Teologia Sistemática, 4 ed. Tradução de Odair Olivetti; São Paulo: Cultura Cristã,
2012 – p. 605
41
obtém todas as bênçãos da salvação da fonte eterna da graça de Deus, pelo poder
de Cristo e pela conduta do Espírito Santo, entretanto, para transmitir a graça divina,
Deus parece escolher alguns meios específicos. Por isso, falar dos meios de graça
Berkhof então mostra que uma análise de maneira mais técnica e restrita da palavra
Berkhof, sempre lembrando que a análise desses termos contribuirá para o capítulo 3
dessa tese. Ele nos fala acerca dos sacramentos e meios de graça que:
41
BERKHOF, Louis, Teologia Sistemática, 4 ed. Tradução de Odair Olivetti; São Paulo: Cultura Cristã,
2012 – p. 602
42
BERKHOF, Louis, Teologia Sistemática, 4 ed. Tradução de Odair Olivetti; São Paulo: Cultura Cristã,
2012 – p. 602
42
experiências que possam ser vividas dentro da igreja, podem, sem sombra de
dúvidas, fortalecer e animar os cristãos, entretanto, o simples fato delas serem úteis e
produzir um bom fruto, não significa que elas devem ser consideradas como meios de
graça são “o sinal externo mediante o qual o Senhor nos sela à consciência as
nossa fé”43, ou seja, eles atuam de uma maneira única, com os propósitos de
sustentar seu povo quando a fé se esmaece, Berkhof concorda com essa afirmação,
solidificando sua argumentação dizendo que esses meios de graça são sacramentos
participantes de Cristo e de todos os Seus benefícios, donde vem esta fé? 44” Onde a
resposta é: “Do Espírito Santo, que age em nossos corações pela pregação do santo
Evangelho, e a confirma pelo uso dos santos sacramentos”. O que corrobora com o
eficácia.
Por fim, Berkhof vai trabalhar os meios de graça contidos na comunhão dos
Santos dizendo e defendendo sua posição sobre serem apenas três os meios de
43
[2] Calvino, J. As Institutas da Religião Cristã. IV Vol. São Paulo: Cultura Cristã, 2006. 925.
44
Catecismo de Heidelberg 1536
45
BERKHOF, Louis, Teologia Sistemática, 4 ed. Tradução de Odair Olivetti; São Paulo: Cultura Cristã,
2012 – p. 603
43
das escrituras, conquanto é um excelente termo utilizado para alguns, como ele
apenas três itens nessa lista, a saber e relembrando, a palavra, a ceia e o batismo,
mas também mostra o motivo de estarmos gastando tempo para falarmos sobre isso
nesse trabalho que tem como título a necessária comunhão dos santos. Ele diz que:
A igreja pode ser descrita como o grande meio de graça que Cristo,
agindo mediante o Espírito Santo, usa para reunir os eleitos, edificar os
santos e formar o Seu corpo espiritual. Ele a qualifica para esta grande
tarefa dotando-a de toda sorte de dons espirituais e instituindo os ofícios
para a administração da Palavra e dos sacramentos, que são meios pelos
quais leva os eleitos ao seu destino eterno. Toda a direção providencial dos
santos, na prosperidade e na adversidade, muitas vezes é um meio pelo
qual o Espírito Santo leva os eleitos a Cristo ou a uma comunhão cada vez
maior com Ele. É até possível incluir nos meios de graça tudo quanto se
requer dos homens para o recebimento e o gozo permanente das bênçãos
da aliança, tais como a fé, a conversão, a luta espiritual e a oração. Todavia,
não é costumeiro nem desejável incluir tudo isso na expressão “meios de
graça”. A igreja não é um meio de graça lado a lado com a Palavra e os
sacramentos, porque o seu poder de promover a obra da graça de Deus
consiste unicamente na administração deles. Ela não é instrumento de
comunicação da graça, exceto por meio da Palavra e dos sacramentos.
Além disso, a fé, a conversão e a oração são, antes de tudo, frutos da graça
de Deus, embora possam tornar-se instrumentos para o fortalecimento da
vida espiritual. Não são ordenanças objetivas, mas condições subjetivas
para a posse e o gozo das bênçãos da aliança. 46
qual o próprio Deus dispensa sua graça. É ali que o Espírito Santo reúne os santos
eleitos para formar o corpo de Cristo, e então edificá-los. E ainda mais, dentro da
própria igreja o Espírito capacita seu povo com toda sorte de dons espirituais. E,
ainda acrescenta que até seria possível colocar como meios de graça tudo quanto se
aliança, tais como a fé, a conversão, e luta espiritual e a oração. Contudo ele
46
BERKHOF, Louis, Teologia Sistemática, 4 ed. Tradução de Odair Olivetti; São Paulo: Cultura Cristã,
2012 – p. 601
44
menciona o motivo de não os incluir na lista dos meios de graça, o que ajuda a
entender o porquê Grudem os listou como tal, e nos ajuda também a tomarmos então
Não seria prudente chamar toda a lista de Grudem como sendo meios de
graça contidos na igreja, pelo fato de que esses itens não podem ser comparados
essas práticas, que talvez possam ser cogitadas a serem inseridas nessa
se não feita de maneira correta, pode dar brecha para listas grandes e ilimitadas.
Entretanto, como Berkhof escreve, os meios de graça instituídos e que ele usa para
ceia.
juntos, pois eles concordam que os meios de graça, seja a extensa lista de Grudem,
ou a concisa lista de Berkhof, não são em si mesmos eficientes. Não são por si
Espírito Santo.
que seja considerado como meios de graça apenas a palavra, a ceia e o batismo. E
então teremos amarrado nossas ideias para discutirmos o próximo capítulo, que
Certamente uma oração irá contribuir para o fortalecimento da igreja, mas isso não
quer dizer que seja considerada um meio de graça apenas por realizar tal ação, pois
ela somente produzirá fruto com a interpretação pela palavra de Deus, aonde o
Espírito Santo então realiza sua obra. Já os meios de graça dependem unicamente
2012 – p. 603
46
Adentramos então no último capítulo dessa tese, que tem como objetivo o
impossibilidade de nos reunir, gerou crentes isolados. Em cada casa uma igreja. E
muitas vezes, cada pessoa uma igreja. Durante aproximados dois anos foi assim que
preferiram ficar no “modo online”. Alguns por medo da doença, mas uma grande
justificativa plausível. Houve muitos relatos de pessoas que eram de outros estados,
que se tornaram membros de igrejas que possuíam uma boa técnica e um bom
conteúdo. E a pergunta que talvez nos tenha consumido foi: Será que precisamos
fundamento de Deus permanece, tendo este selo: O Senhor conhece os que lhe
pertencem”. 2Tm 2:19, argumentam que Deus conhece os Seus, não importam onde
eles estejam. Essa colocação contém uma certa beleza conceitual, mas acredito ter
uma verdade mais profunda contida nessa afirmação. Perceba o quão importante foi
49
CALVINO, João. A Instituição da Religião Cristã. São Paulo: Editora UNESP, 2009, p. 467.
47
Pois a desculpa para estar em plena comunhão acaba se apoiando no achar que faz
parte de uma igreja invisível, e que, ao fazer parte desta igreja, não necessariamente é
preciso estar presente na igreja visível. Acham então que o aspecto exterior não
precisa ser priorizado, esquecendo que o membro de uma igreja deve fazer parte da
igreja visível. Demonstrando junto aos irmãos o seu amor por Cristo Jesus, e também,
por Deus à reunião do Seu povo. Logo no início da história lemos: “e lhe dirás: O
SENHOR, o Deus dos hebreus, me enviou a ti para te dizer: Deixa ir o meu povo, para
que me sirva no deserto; e, até agora, não tens ouvido”. Êxodo 7:16. O povo era
orientado a caminhar junto, até o deserto, para que adorassem a Deus naquele lugar
propósito do povo sair do Egito. Eles deveriam sair daquele lugar para prestar culto a
Deus. Fora isso, perceba a repetição por parte de Deus ao Seu povo. No episódio que
Moisés vai até Faraó para solicitar que o povo de Deus fosse liberado para cultuar a
- Deixa ir o meu povo, para que me celebre uma festa no deserto. Êxodo 5:1
repetição. Até que, ao se cumprir a décima praga, Faraó acata com a requisição
48
a Arão e lhes disse: Levantai-vos, saí do meio do meu povo, tanto vós como os filhos
sua carta a igreja de Coríntio um dos textos mais conhecidos em se tratando do corpo
de Cristo. Ei-lo:
longe desse corpo. Esse seria o esboço desse trecho das escrituras. Calvino
“não há outro meio de entrar na vida eterna se a Igreja não nos tiver
concebido em seu seio, dado à luz, amamentado, e, depois, nos tiver
mantido sob sua guarda e autoridade até que, despojados de nossa carne
mortal, formos semelhantes aos anjos (Mt 22.30). Se por toda a vida
devemos ser discípulos, nossa fraqueza não permitirá que deixemos essa
escola.”50
CALVINO, João. A Instituição da Religião Cristã. São Paulo: Editora UNESP, 2009, p. 468-
50
469
49
Mas a Jerusalém lá de cima é livre, a qual é nossa mãe; 27 porque está
escrito: Alegra-te, ó estéril, que não dás à luz, exulta e clama, tu que não
estás de parto; porque são mais numerosos os filhos da abandonada que os
da que tem marido. 28 Vós, porém, irmãos, sois filhos da promessa, como
Isaque. 29 Como, porém, outrora, o que nascera segundo a carne perseguia
ao que nasceu segundo o Espírito, assim também agora. 30 Contudo, que
diz a Escritura? Lança fora a escrava e seu filho, porque de modo algum o
filho da escrava será herdeiro com o filho da livre. 31 E, assim, irmãos,
somos filhos não da escrava, e sim da livre. Gálatas 4:26-31
a participar ativamente do corpo de Cristo, ele não está negando uma instituição, e
sim o próprio Deus, pois não deseja ser Seu filho e nem participar das bençãos
advindas da comunhão dos santos, que vivem juntos em adoração ao mesmo Pai,
Quando olhamos para o livro de Atos dos Apóstolos, o que não poderíamos
todo aquele que crê em Cristo e se manifesta como discípulo e participante da família
de Deus, reconhecendo-se como Seu filho. Pois ao vermos como viviam os recém-
convertidos, e como Deus trabalhava através deles, não nos resta dúvida alguma
sobre a participação efetiva em uma igreja. Vejamos o que diz o texto de Atos 2.42-
51
CALVINO, João. A Instituição da Religião Cristã. São Paulo: Editora UNESP, 2009, p. 473
50
47:
42
E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do
pão e nas orações. 43 Em cada alma havia temor; e muitos prodígios e sinais
eram feitos por intermédio dos apóstolos. 44 Todos os que creram estavam
juntos e tinham tudo em comum. 45 Vendiam as suas propriedades e bens,
distribuindo o produto entre todos, à medida que alguém tinha necessidade.
46
Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em
casa e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração, 47
louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o povo. Enquanto isso,
acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos.
Logo no versículo 42, temos uma lista resumida e extrema importância do que
estava vivendo para aprender cada vez mais. E se lembrarmos dos meios de graça
a pregação é instrumento pelo qual Deus age com Sua graça e o seu Espírito na
igreja52, como nos diz Berkhof. A pregação da palavra é uma marca da igreja, e
aquela igreja tem em sua lista de ações, demonstradas pelo versículo 42, em primeiro
que havia se formado é “καὶ τῇ κοινωνίᾳ”, “na comunhão”. Berkhof vai falar sobre os
cristãos que possuem a união mística com Cristo, e que vem de apoio ao que estava
“A união dos crentes com Cristo fornece a base para a unidade espiritual de
todos os crentes, e, conseqüentemente, para a comunhão dos santos. Eles
são animados pelo mesmo espírito, ficam cheios do mesmo amor,
permanecem na mesma fé, empenham-se na mesma luta, e estão ligados
52
BERKHOF, Louis, Teologia Sistemática, 4 ed. Tradução de Odair Olivetti; São Paulo: Cultura Cristã,
2012 – p. 604
51
pelo mesmo objetivo. Juntos estão interessados nas coisas de Cristo e Sua
igreja, nas coisas de Deus e do Seu reino.”53
dessa tese, pois Berkhof vai no mesmo caminho, ao dizer que a comunhão dos
comunhão com Cristo e respectivamente com os santos se traduzirá por uma igreja
animada pelo Espírito Santo, que se empenha na mesma tarefa, com um mesmo
objetivo. Isso resultará nas duas outras expressões contidas no versículo 42, “τῇ
κλάσει τοῦ ἄρτου καὶ ταῖς προσευχαῖς”, “no partir do pão e nas orações”. Aquela igreja
estava ligada a Cristo Jesus, o que fazia com que estivessem ligados uns aos outros.
Isso iria convergir em uma igreja unida, que estava junta partindo o pão, tanto quanto
se preocupando com a necessidade do próximo. Por fim, essa união entre eles
vislumbrados aqui, e por mais que tivemos algumas passagens pelos capítulos que
sacramentos e XXV, que trata da igreja, o capítulo XXVI, da comunhão dos santos se
torna o elo tanto no texto que lemos em atos, como o elo na confissão de fé de
Westminster.
53
BERKHOF, Louis, Teologia Sistemática, 4 ed. Tradução de Odair Olivetti; São Paulo: Cultura Cristã,
2012 – p. 446
52
coisas materiais, segundo as suas respectivas necessidades e
meios; esta comunhão, conforme Deus oferecer ocasião, deve
estender-se a todos aqueles que em qualquer lugar, invocam
o nome do Senhor Jesus.
III. Esta comunhão que os santos têm com Cristo não os torna de
modo algum participantes da substância da sua Divindade,
nem iguais a Cristo em qualquer respeito; afirmar uma ou
outra coisa, é ímpio e blasfemo. A sua comunhão de uns com
os outros não destrói, nem de modo algum enfraquece o título
ou domínio que cada homem tem sobre os seus bens e
possessões.54
visualizada como sendo unida a Cristo, mas não somente a Ele, como também
aos irmãos. Essa união traz por dever a responsabilidade sobre aqueles que
comunhão entre os santos não poderia de maneira alguma ser utilizada para
mesmo somos iguais a Cristo no que diz esse respeito. A igreja em Atos
benefício individual irá surgir não pela busca visando tal benefício próprio, e
sim através da busca visando o benefício do corpo todo. Assim como Calvino
coloca:
caminhada cristã para ajudar os cristãos a, de certo modo, terem sua fé sintetizada
em um trecho pequeno, para que sua memorização se torne mais fácil, e seja então
um instrumento para os cristãos lembrarem as bases de sua fé. Por esse fator, foi
em sua profissão de fé, pois ali, como dito, encontra-se um resumo básico da fé
56
CALVINO, João. A Instituição da Religião Cristã. São Paulo: Editora UNESP, 2009, p. 389
54
doutrina, assimilada e filtrada pela reflexão de alguns outros, querendo,
contudo, dar-lhe autoridade por meio desse título. Seja como for, não tenho
dúvida nenhuma de que, seja qual for a sua origem, desde o início da igreja,
e até mesmo desde o tempo dos apóstolos, foi recebido como uma
confissão pública e válida da fé cristã. E não é provável que tenha sido
composto por algum particular, visto que o tempo todo ele tem tido
autoridade inviolável, sempre respeitada, entre os crentes. O que é principal
neste caso nos é indubitável, a saber, que toda a história da nossa fé está
nele contida em resumo e em excelente ordem, e que não há nada nele que
não seja comprovado por diversos testemunhos da Escritura. Tendo
conhecimento disso, já não é preciso que nos atormentemos sobre quem é
o seu autor, nem que discutamos com outros, a não ser que não achemos
suficiente saber que, por este ou por aquele, temos a verdade do Espírito
Santo, e queiramos saber, além disso, por qual boca foi declarada ou por
qual mão foi escrita”.57
comunhão o seguinte:
comunhão dos santos aplicada em nosso trabalho. A comunhão faz com que o
cristão se sinta parte do corpo, e fazendo parte desse corpo, ele é edificado e edifica.
possuem comunhão com Cristo também possuem comunhão com os irmãos, e essa
membros de um só corpo, o único e verdadeiro Deus. Nós, como Seu povo, estamos
unidos a Cristo, ainda que não fisicamente, e isso é temporário, através do Espírito
Santo, e esse mesmo espírito nos une como irmãos. É por isso que a comunhão dos
santos se torna tanto exterior como interior, pois estamos ligados espiritualmente.
O texto de Paulo aos filipenses nos ajuda a compreender essa comunhão com
os irmãos.
em seguida ele adverte que, se houver realmente a comunhão pelo Espírito Santo, a
comunidade deve “completar a sua alegria”, vivendo então da maneira que todos
pensassem a mesma coisa, que todos tivessem o mesmo amor, que fossem unidos
próprio e dá maior importância ao amor à igreja de Cristo, e revela que para ele
importa que a igreja caminhe em comunhão. Não era cabível, e ainda não é, que uma
igreja caminhasse sem que o cuidado mútuo reinasse. Calvino menciona que “... a
ajuda mútua que as diferentes partes do corpo oferecem umas às outras, não é
considerada pela lei da natureza como um favor, mas sim como algo lógico e normal,
sua comunhão como benefícios. Em primeiro lugar podemos citar sua unidade. Como
Berkhof menciona:
59
CALVINO, João. A verdadeira Vida Cristã. São Paulo: Novo Século, 2000. P. 39.
56
A unidade da igreja não é primariamente de caráter externo, mas, sim, de
caráter interno e espiritual. É a unidade do corpo místico de Jesus Cristo, do
qual todos os crentes são membros. Este corpo é dirigido por uma Cabeça,
Jesus Cristo, que é também o Rei da igreja, e é vivificado por um só
Espírito, p Espírito de Cristo. Esta unidade implica que todos os que
pertencem à igreja participam da mesma fé, são solidamente interligados
pelo comum laço do amor, e têm a mesma perspectiva gloriosa do futuro.
Relativamente falando, esta unidade interior busca e também adquire
expressão na profissão e conduta cristã dos crentes, em sua pública
adoração do mesmo Deus em Cristo, e em sua participação nos mesmos
sacramentos. Não pode haver dúvida quanto ao fato de que a Bíblia afirma
a unidade, não só da igreja invisível, mas também da visível. A figura do
corpo, como se acha em 1 Co 12.12-31, implica esta unidade. Além disso,
em Ef 4.4-16, onde Paulo ressalta a unidade da igreja, evidentemente ele
também tem em mente a igreja visível, pois fala de oficiais da igreja e dos
seus esforços pela unidade ideal da igreja. Em vista da unidade da igreja,
uma igreja local foi admoestada a suprir as necessidades doutra, e o
concílio de Jerusalém se encarregou da solução de um problema que
surgira em Antioquia. A igreja de Roma dava forte ênfase à unidade da
igreja visível e a expressava em sua organização hierárquica. E quando os
Reformadores romperam em Roma, não negaram a unidade da igreja
visível, mas, antes, a sustentaram.60
Para ele a igreja comtempla uma unidade que só pode ser totalmente
Jesus. Por isso, essa união não é meramente externa. Por mais que a externalidade
da união seja visualizada, não é esse seu motor inicial. A força primeva que move tal
tornam unidos em decorrência de seu mestre. Aqueles que seguem uma pessoa
acabam por se encontrarem com uma certa recorrência, e a união externa acaba
Fica claro vermos que a obra salvífica de Cristo Jesus faz com que os cristãos
tenham comunhão com Deus, e através do Consolador enviado aos membros, une-
os de tal forma que se tornam um corpo. Uma igreja “una”. Ou seja, a unidade
expressa na comunhão deve advir da unidade interna liderada pelo cabeça do corpo.
O que passar disso não será uma unidade verdadeira. Estamos talvez acostumados
a citar que o chá pós culto é um momento de comunhão, mas devemos ter cuidado
60
BERKHOF, Louis, Teologia Sistemática, 4 ed. Tradução de Odair Olivetti; São Paulo: Cultura Cristã,
2012 – p. 568
57
espaço chamado igreja, isto se torna uma comunhão ou uma união. Mas, se
realmente houver ligação verdadeira oriunda do elo de ligação que é Cristo Jesus, ali
repousa a comunhão verdadeira, e não somente no momento do chá pós culto, mas
epístola de João:
1 O que era desde o princípio, o que temos ouvido, o que temos visto com
os nossos próprios olhos, o que contemplamos, e as nossas mãos
apalparam, com respeito ao Verbo da vida 2 (e a vida se manifestou, e nós
a temos visto, e dela damos testemunho, e vo-la anunciamos, a vida eterna,
a qual estava com o Pai e nos foi manifestada), 3 o que temos visto e
ouvido anunciamos também a vós outros, para que vós, igualmente,
mantenhais comunhão conosco. Ora, a nossa comunhão é com o Pai e com
seu Filho, Jesus Cristo. 1 João 1:1-3
que as pessoas não O tivessem visto, ouvido ou tocado, como ele o fez. João estava
onde por causa de uma pandemia o encontro publico foi cerceado. Nesse momento
apenas assistindo o culto online? Podemos tomar a ceia online? Podemos obter
público foi certamente abalada, mas não reduzida a zero. Os meios que utilizamos na
pandemia foram, com toda certeza, uma dádiva de Deus para que o impedimento de
comunicação total não ocorresse, e então nossa carência relacional fosse, pelo
disso o seguinte:
somente isso, através dessa explicação visualizamos como a união foi prejudicada
por causa de um afastamento sanitário, o que nos leva a perceber como a união se
torna um fator de extremo benefício para a igreja, gerada pela comunhão dos santos.
dos santos. Assim como a Igreja é santa, no sentido de que a justificação realizada
pelos santos serve de estímulo a viver uma vida santa. Assim como Berkhof comenta:
santificação, e assim como a santificação tem sua origem oriunda do próprio Deus
santidade prática de vida seja praticada até o momento em que ela chegará à
perfeição na glória eterna, a comunhão tem seu motor principal oriundo da comunhão
com Deus e através do Espírito Santo. Assim como Berkhof comenta definido a
61
https://cpaj.mackenzie.br/em-tempos-de-pandemia-como-fica-a-comunhao/ - Acessado em 08/10/22
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santidade:
nosso dia a dia, pois revela-nos pontos importante sobre o caminhar da igreja.
Podemos mensurar, talvez não de maneira quantitativa, mas pelo menos de maneira
qualquer outra instituição, como por exemplos a pregação fiel das escrituras, o
trazem benefícios físicos e espirituais. Somente o povo de Deus goza de tais dádivas
marca conhecida como catolicidade. Não diz respeito a igreja católica romana, mas
21
Na verdade, de tal modo era horrível o espetáculo, que Moisés disse:
Sinto-me aterrado e trêmulo! 22 Mas tendes chegado ao monte Sião e à
cidade do Deus vivo, a Jerusalém celestial, e a incontáveis hostes de anjos,
e à universal assembleia 23 e igreja dos primogênitos arrolados nos céus, e
a Deus, o Juiz de todos, e aos espíritos dos justos aperfeiçoados, 24 e a
Jesus, o Mediador da nova aliança, e ao sangue da aspersão que fala
coisas superiores ao que fala o próprio Abel. Hebreus 12:21-24
Sproul63 cita que certa vez ao falar em uma igreja com pouco mais de 150
igreja sorriu, e procurou por câmeras, mas não havia. Ele então abriu a bíblia nesse
texto onde vemos o autor de hebreus escrevendo sobre o contraste entre Sinai e
62
BERKHOF, Louis, Teologia Sistemática, 4 ed. Tradução de Odair Olivetti; São Paulo: Cultura Cristã,
2012 – p. 529
63
SPROUL, R. C., O que é a igreja? São José dos Campos, Fiel, 2014. P.18
60
Sião, o autor de Hebreus coloca que existe uma “universal assembleia” os vendo.
nossa tese para que chegássemos nesse ponto ao fecharmos o estudo) de todos os
tempos. Fazemos parte de uma igreja una. Uma igreja que perdura por séculos e
Espírito Santo, que nos liga num laço tão forte que não pode ser quebrado.
CONCLUSÃO
comunhão dos santos. Ver como esses pontos são tratados nas Sagradas Escrituras
Ao passarmos pelas visões sobre os meios de graça dados pelo próprio Deus
à Sua igreja com certeza devemos nos empolgar a querer cada vez mais estarmos
batismo. Quando fomos postos em frente as duas visões sobre esses meios de
tão fundamental para que a igreja cresça não somente em números, mas em
estatura.
questões tão essenciais para o nosso tempo e percebemos que temos comunhão
com nosso próximo, não apenas pela proximidade exterior, mas também pela
proximidade que o Espírito Santo gera no corpo de Cristo, fomos relembrados por
Deus que a comunhão entre o corpo deve “abraçar” todas as áreas de nossa vida
comunitária.
Esse trabalho serve para que sejamos inflamados pelo Espírito Santo de
Deus, e a partir disso, abrirmos nossos olhos para repensarmos nossa comunhão
entre o povo de Deus. Devemos batalhar por essa área, que muitas vezes, como
comunhão, que é advinda do próprio Deus, e não apenas isso, mas orientá-las a
62
Que a comunhão com Santo Espírito seja sempre a força que nos move a
sermos somente um, guiados pelo cabeça, que é Cristo Jesus. Que sigamos a
REFERÊNCIAS
Traduzido por Johann Piber. Santo André – São Paulo; Academia Cristã.
400 Technology Park, Lake Mary; 1a Edição em português. Editora FIEL, 2013
- CALVINO, João. A Instituição da Religião Cristã. São Paulo: Editora UNESP, 2009,
p. 473
Puritanos, 1999
- CALVINO, João. Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses. São José dos Campos:
- MAIA, Hermistein. Creio: no Pai, no Filho e no Espírito Santo. São José dos
- CALVINO, João. A verdadeira Vida Cristã. São Paulo: Novo Século, 2000. P. 39.
- https://cpaj.mackenzie.br/em-tempos-de-pandemia-como-fica-a-comunhao
Acessado em 08/10/22