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TRABALHO 03- PROJETO INTEGRADOR – N2

26/05/2022

Estágios da produção de medicamentos

A transformação de uma planta em medicamento visa à preservação da integridade


química e farmacológica da droga vegetal a fim de garantir a constância de sua ação
biológica e/ou farmacológica e a segurança de sua utilização, além de
valorizar o potencial terapêutico. Para atingir esses objetivos, a sua produção requer
estudos prévios relativos a aspectos botânicos, agronômicos, fitoquímicos,
farmacológicos, toxicológicos e de desenvolvimento de metodologias tecnológicas e
analíticas.

O desenvolvimento de novos fármacos é um longo e dispendioso processo, que pode


levar de dez a quinze anos de pesquisa e de desenvolvimento para ser concluído. Ao
longo desse processo, a taxa de insucesso é muito alta. Dos 5.000 – 10.000
compostos inicialmente testados, 250 chegam aos ensaios pré-clínicos,
apenas 5 alcançam os ensaios clínicos, e daí resulta a aprovação de uma única nova
droga. (MONTANARI E BOLZANI, 2001).

Para compreendermos como ocorre a inserção do Brasil nesse processo, é


importante conhecermos os quatro estágios da produção de medicamentos:

 O primeiro estágio envolve a identificação botânica, o estudo fitoquímico, os


ensaios pré-clínicos e clínicos da espécie vegetal estudada e o
desenvolvimento da formulação farmacêutica.

 O segundo estágio envolve a obtenção da matéria-prima e/ou insumos dos


medicamentos. No caso dos medicamentos da biodiversidade de origem
vegetal os insumos podem ser a droga vegetal (como exemplo: folha rasurada
de Mikania glomerata) ou do fitofármaco (exemplo: morfina).

 O terceiro estágio envolve a produção de medicamentos propriamente dita.


Neste estágio são utilizados processos físicos para a produção das formas
farmacêuticas comercializáveis. No caso dos medicamentos da biodiversidade
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de origem vegetal teremos a produção dos fitoterápicos nas formas
farmacêuticas de cápsulas, xaropes, tinturas entre outros.

 A quarta e última etapa envolve a comercialização e o marketing, que devem


estar em acordo com a legislação vigente.

A produção brasileira tem se voltado para o terceiro estágio, produzindo os


medicamentos a partir da matéria-prima e/ou insumos importados, sem transferência
de tecnologia e para o quarto estágio voltado para comercialização dos medicamentos
produzidos no Brasil ou importados.

A obtenção de fitoterápicos, quer seja em escala oficinal, hospitalar ou


industrial, requer conhecimentos e habilidades específicas do ciclo de produção de
medicamentos que deve ser aliado às normas que permitam alcançar o objetivo
traçado: a qualidade total. A qualidade total é uma técnica administrativa que utiliza
programas, ferramentas e métodos aplicado no controle o processo de produção de
medicamentos para obter medicamentos de menor custo e melhor qualidade com o
objetivo de atender as exigências e a satisfação dos consumidores.

Planta medicinal e droga vegetal


Os medicamentos da biodiversidade podem ser de origem vegetal, animal ou de microrganismos
que são as mais comuns. Apesar de apresentarem etapas similares em relação à pesquisa, (ensaios
pré-clínicos e clínicos), estes se diferenciam nas etapas de obtenção e produção.

Neste módulo, daremos ênfase a pesquisa e à produção de medicamentos da biodiversidade de


origem vegetal. Para compreendermos melhor os estágios de produção de medicamentos, temos que
conhecer alguns conceitos que serão apresentados a seguir.

Vamos começar com duas definições que, às vezes, podem confundir: planta medicinal e droga
vegetal.

A planta medicinal é a espécie vegetal, cultivada ou não, utilizada


com propósitos terapêuticos. Por exemplo, o guaco (Mikania
glomerata, Spreng.) empregada no tratamento da tosse (BRASIL, 2011).

Já a droga vegetal é a planta medicinal, ou suas partes, que contenham


as substâncias, ou classes de substâncias químicas que são responsáveis
pela ação terapêutica, após terem passadas por processos de coleta,
estabilização, e secagem, podendo estar na forma íntegra, rasurada,
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triturada ou pulverizada. Por exemplo, as folhas pulverizadas de guaco
(Mikania glomerata, Spreng (BRASIL, 2011).

Observando as fotos abaixo podemos observar que a primeira (a esquerda) apresenta a planta
medicinal Mikania glomerata Spreng, o guaco. Quando ela passa por processos como, por
exemplo, uma trituração, ela passa a ser considerada uma droga vegetal (a direita).

Quando a planta medicinal ou a droga vegetal são usadas como matéria-prima para fabricação ou
elaboração de um medicamento, estas são chamadas de matéria-prima vegetal (BRASIL, 2011).

A matéria-prima vegetal é a planta medicinal fresca, droga vegetal


ou derivado vegetal empregado na fabricação ou na elaboração de
medicamentos. É o material de partida para a produção de
intermediários, e é considerada um insumo farmacêutico ativo. Por
exemplo, folhas secas rasuradas de guaco (Mikania glomerata, Spreng.)
(BRASIL, 2011).

A partir da planta medicinal ou da droga vegetal podemos extrair o princípio ativo que é a
substância que deverá exercer efeito farmacológico. Por exemplo, quercetina, encontrada em
diversas plantas medicinais (como Ginkgo biloba e Hypericum perforatum), e que apresenta
atividade antioxidante.
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Algumas vezes, não é possível identificar- se a substância ativa da planta medicinal ou droga
vegetal. Quando isto ocorre, busca-se a identificação do(s) marcador(es), que são as substâncias ou
classe de substâncias químicas, que estão presentes na planta medicinal ou na droga vegetal, e
que, preferencialmente, tem correlação com o efeito terapêutico. Os marcadores são utilizados
como referência no controle de qualidade da matéria-prima vegetal e dos fitoterápicos. Por
exemplo, o ácido glicirrizínico é o marcador presente nos extratos ou tinturas de alcaçuz
(Glycyrrhiza glabra L.).

Pesquisa e Desenvolvimento (P&D): Um panorama


O gráfico abaixo apresenta um panorama dos estágios relacionados a Pesquisa e Desenvolvimento
(P&D) de um medicamento da biodiversidade de origem vegetal. Iremos a seguir apresentar cada
um destes estágios.

Estágios da pesquisa e desenvolvimento de um medicamento da biodiversidade de origem vegetal.


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Abordagens baseadas nos conhecimentos etnicos e


tradicionais
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Dados da literatura indicam que 75% dos compostos naturais empregados pela indústria
farmacêutica foram isolados a partir de informações de uso popular o que demonstra a importância
dos levantamentos etnobotânicos e etnofarmacológicos na descoberta de novos medicamentos
(ALBUQUERQUE e HANAZAKI, 2006).

A etnofarmacologia baseia-se em coleta informações de utilidade terapêutica, o que em tese


indicaria a possibilidade de interação com um determinado alvo biológico. Portanto estudos
etnofarmacológicos e etnobotânicos podem constituir valioso atalho para descoberta de novos
medicamentos, já que o uso tradicional pode ser considerado como uma pré-triagem quanto à
utilidade terapêutica.

Dentre as limitações destes estudos podemos citar:

 Dificuldade de coletar informações fidedignas do entrevistado;


 Associação do uso das plantas a componentes mágico-religiosos;
 Existência de questões étnicas e éticas que envolvem o acesso ao conhecimento tradicional
associado ao uso da biodiversidade, que devem seguir a legislação vigente (Lei nº 13.123 de
2015).

As informações botânico-taxonômicas, químico-taxonômicas e farmacológicas fornecem


informações sobre a parte da planta que deve ser estudada e como deve ser utilizada para a ação
desejada.

Como a constituição química varia em relação às partes da planta, inicia-se o estudo de pesquisa da
planta, evidenciando as análise das partes empregadas na medicina tradicional para em
seguida passar-se aos testes das outras partes da planta que, também, poderão apresentar
atividade terapêutica.
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Fitoquimica
estes compostos são isolados e identificados através dos estudos fitoquímicos. Os
compostos isolados podem ser utilizados como marcadores para garantir a qualidade
do medicamento fitoterápico ou podem vir a ser um fitofármaco ou ainda servir de
modelo para a modificação estrutural. O estudo do perfil fitoquímico de uma planta
medicinal inicia com a preparação de um extrato hidroalcoólico, também conhecido
como extrato bruto. A preparação do extrato bruto é semelhante à preparação das
tinturas preparadas na medicina tradicional.

Outras vezes, o estudo do perfil fitoquímico de uma planta medicinal pode iniciar-se
com a preparação de extratos de polaridades diferentes como, por exemplo, os
extratos hexânico. Neste caso, são usados solventes com polaridade crescente, que
extraem compostos de grupos químicos diferentes e com atividades biológicas e
farmacológicas diferentes. Como exemplo o acetato de etila extrai os flavonoides, que
podem apresentar atividade antioxidante e anti-inflamatória.

Após a obtenção dos extratos é realizada a purificação cujo principal objetivo é o


isolamento dos compostos ativos.

Para elucidar a estrutura química dos compostos isolados, estes são submetidos a
diversos métodos espectrométricos e espectroscópicos. Na imagem abaixo vemos um
espectrofotômetro, um equipamento essencial nesta fase de fitoquímica.
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Uma vez conhecida a estrutura química, os compostos ativos, podem ser submetidos
a modificações estruturais com a finalidade de aumentar a eficácia e a segurança.

Etapas essenciais da fitoquímica.

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