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Farmacobotânica, BIO 016

Prof. Eduardo de J. Oliveira, DepFAR

Março 2020
Introdução ao Estudo das
Plantas Medicinais
Introdução
Marcos Legais:
• Política Nacional de Práticas Integrativas e
Complementares no SUS (Portaria 971, de
3/05/2006).
• Política Nacional de Plantas Medicinais e
Fitoterápicos (Decr. 5813 de 22/06/2006).
• Valorização da cadeia produtiva de
fitoterápicos na política.
• Política como valorização, preservação e
soberania sobre a biodiversidade.
• Necessidade de pesquisas nos aspectos
fitoquímicos, ensaios clínicos e metodologias
de controle de qualidade, especialmente das
espécies nativas.
Conceito de Droga

• Vegetal ou animal, ou parte destes, ou produtos


derivados diretamente destes que após serem coletados
e processados adequadamente (processo de secagem ou
estabilização), sejam usados para fins terapêuticos. Ex:
capítulos florais de Matricaria recutita, folhas de Ginkgo
biloba, etc.
• Extratos vegetais não são drogas, pois passaram por um
processo técnico de elaboração (extração).
• Planta medicinal fresca não é droga.
• Droga derivada: Ex. Exsudado obtido de uma planta,
utilizado para fins medicamento.
• A Farmacobotânica é essencial para que o farmacêutico
possa realizar o controle de qualidade do material
vegetal (insumo vegetal ativo). Controlar: adulterações e
contaminações
Conceito de Fitoterápico
Plantas Medicinais, Fitoterápico,Produto
Tradicional Fitoterápico e Medicamento
Fitoterápico.
• Planta medicinal: espécie vegetal, cultivada ou não, utilizada com
propósitos terapêuticos. (RDC 18, 3 Abril, 2013).
• Fitoterápico: produto obtido de planta medicinal, ou de seus
derivados, exceto substâncias isoladas, com finalidade profilática,
curativa ou paliativa. (RDC 18, 3 Abril, 2013).
• Produto tradicional fitoterápico: aquele obtido com emprego
exclusivo de matérias-primas ativas vegetais cuja segurança e
efetividade sejam baseadas em dados de uso seguro e efetivo
publicados na literatura técnico-científica e que sejam concebidos
para serem utilizados sem a vigilância de um médico para fins de
diagnóstico, de prescrição ou de monitorização. (RDC 26, 13 maio
2014).
• Medicamento Fitoterápico: aquele obtido com emprego exclusivo
de matérias-primas ativas vegetais cuja segurança e eficácia sejam
baseadas em evidências clínicas e que sejam caracterizados pela
constância de sua qualidade. (RDC 26, 13 maio 2014).
Conceito de
fitocomplexo/marcador/princípio ativo

• Conjunto de substâncias ativas e inativas que


participam do efeito terapêutico da droga vegetal.
• Nem sempre estas substâncias são conhecidas.
• Algumas vezes, a atividade farmacológica pode ser
atribuída a uma substância ou classe: neste caso
denomina-se esta substância ou classe de princípio
ativo.
• Marcador: substância ou classe de substâncias que
podem ou não ter relação com a atividade
farmacológica, usadas para fins de controle de
qualidade.
Metabolismo

Metabólitos primários: são essenciais à vida da planta.


Envolvidos por exemplo com a respiração celular,
armazenamento de energia, sustentação da planta
(função estrutural). Ex: carboidratos, proteínas, lipídios,
DNA. Distribuição é ubíqua. Frequentemente
poliméricos. Estudo = Bioquímica.

Metabólitos secundários: maioria possuem função


desconhecida. Outros: servem para defesa contra
predadores e para comunicação planta/planta,
planta/inseto, planta/fungos. Alcalóides, flavonoides,
terpenos, saponinas. Distribuição é mais limitada:
interesse quimiotaxonômico e farmacológico. Estudo =
Fitoquímica ou química de produtos naturais.
Rhamnus purshiana (Rhamnaceae)

Matricaria recutita (Asteraceae)

Papaver somniferum (Papaveraceae)

Bidens pilosa (Asteraceae)


Medicamentos Fitoterápicos X
Medicamentos Sintéticos
Fitoterápico Convencional (Síntese
ou fitofármaco)
Composição Complexa Simples

Ação farmacológica Frequentemente Atribuída a Atribuída a um único


mais de um constituinte ou associação
componente/grupo de compos. definida.
Biodisponibilidade Prevista/Assumida frente à Comprovada
eficácia (Farmacol. Clínica)
Efeitos de Presentes Ausentes
sazonalidade
Perfil de impurezas Nem sempre conhecido Quase sempre conhecido
(matriz vegetal complexa)
Reprodutibilidade de Não é garantida Depende da concentração
ação necessariamente pela do princípio ativo/perfil de
concentração de impurezas
marcadores
Medicamentos mais importantes da história da
medicina (exceto vacinas)

5 dos 10 medicamentos mais importantes da história da


Medicina eram produtos Naturais ou seus derivados e
destes, 3 eram de plantas.
Fitoquímica – Química de produtos
naturais oriundos de Plantas.

Porquê é importante ainda hoje


estudar a química dos produtos
naturais se a maior parte dos
medicamentos é de origem
sintética?

Será que a importância é meramente


histórica?
Medicamentos oriundos de produtos naturais
(plantas, microorganismos, organismos
marinhos e compostos endógenos)
Importância:
Medicamentos isolados de plantas e
seus derivados porquê a síntese não
é comercialmente viável: Ex: morfina.
Medicamentos obtidos por semi-
síntese, pois a síntese total não é
viável: Ex: Paclitaxel.
Medicamentos que são obtidos por
síntese, mas cujo protótipo que o
inspirou era um produto natural. Ex:
Oseltamivir e zanamivir.
Fases do Desenvolvimento de Um Novo
Medicamento

Fonte: Oliveira E.J. e Macedo RO. Em:Psicofarmacologia , Fundamentos Práticos, Guanabara Koogan, 2006
Várias Estimativas de Custos de
Desenvolvimento
Desenvolvimento de novos
medicamentos

Nature Reviews Drug Discovery 3, 673-683 (August 2004) | doi:10.1038/nrd1468


Qual a contribuição dos PN hoje?

S (synthetic)=síntese total
S*=síntese total, mas farmacóforo é produto natural
NB (natural botanical)=extratos ou frações de extratos
NM (natural mimetic)= mimetiza um produto endógeno, seja ele o
substrato de uma enzima ou outro ligante.
ND (natural derived): derivado de um PN, por exemplo por semi-
síntese.
N=produto natural

Fonte de novas moléculas aprovadas como medicamentos


(excluindo macromoléculas) nos últimos 30 anos (1981-
2010). Fonte: dx.doi.org/10.1021/np200906s | J. Nat.
Prod. 2012, 75, 311−335
J. Nat. Prod. 2012, 75, 311−335
Tioconazol: S, Sintético
Artesunato: ND
Lamivudina: S* derivado semi-
análogo da citosina sintético da
artemisinina

Mupirocina: N, isolado de Pseudomona fluorescens

Polyphenon E: NB: fração


rica em catequinas do
Gefitinibe: NM: inibe um receptor
chá verde, aprovado para
com atividade tirosina kinase por
tratamento de condiloma
mimetizar o substrato endógeno
(ATP)
N+NB+S/NM+S*/NM+ND= 59%
Fonte: dx.doi.org/10.1021/np200906s | J. Nat. Prod. 2012, 75, 311−335
Contribuição PN´s entre 1981-2010
Áreas mais importantes

Antitumorais (p. ex. Em 2010, metade das NCE


eram produtos naturais, a maioria
antitumorais)

Antibióticos (fermentação)

Antivirais (análogos nucleosídeos, inibidores de


proteases)

Antifúngicos
Quantos Medicamentos Fitoterápicos
Existem no Mercado com Espécies
Nativas?
• Em 2008, Carvalho et al. (Brazilian Journal of
Pharmacognosy 18(2): 314-319, Abr./Jun. 2008):
menos de 30% dos medicamentos fitoterápicos
eram de espécies da América do Sul.
• Ginkgo biloba (Ginkgo) 33
• Aesculus hippocastanum (Castanha da índia) 29
• Cynara scolymus (Alcachofra) 21
• Hypericum perforatum (Hipérico) 20
• Glycine max (Soja) 20
• Valeriana officinalis (Valeriana) 20
• Panax ginseng (Ginseng) 17
• Cassia angustifolia, Cassia senna e Senna alexandrina (Sene) 14
• Cimicifuga racemosa (Cimicífuga) 14
• Mikania glomerata (Guaco) 14
• Maytenus ilicifolia (Espinheira-Santa) 13
• Peumus boldus (Boldo)
Quantos Medicamentos Fitoterápicos Existem no
Mercado? Atualização - 2012

• Em 2011, 382, sendo 357 simples e 25 associações,


uma queda de 32% em relação a 2008.

• Espécies com maior número de registros:


• Mikania glomerata (22)
• Ginkgo biloba (18)
• Hedera helix (18)
• Valeriana officinalis (15)
• Senna alexandrina Mill (15)
• Peumus boldo (15)
Dificuldades Associadas ao Registro de
Medicamentos Fitoterápicos
Genuinamente Brasileiros
• Ausência de um esforço coordenado para validar
cientificamente as nossas espécies.
• Editais dirigidos
• Falta de acompanhamento de efetividade/segurança
em serviços de saúde que utilizam fitoterapia.
• Parcerias entre Universidades/Centros de Pesquisa e
Indústria
• Falta de estímulo ao empreendedorismo acadêmico.
• Dificuldades associadas ao controle de qualidade
(ausência de SQR fitoquímicas).
• Indústria nacional pequena.
• Dificuldade e custo associado aos ensaios clínicos.
Mercado de Fitoterápicos Brasileiro e Mundial

Dados do Brasil: 500 milhões de dólares


(FEBRAFAR)

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