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INTRODUÇÃO À FARMACOLOGIA
Farmacologia
Ciência que estuda as interações e os efeitos das substâncias químicas sobre a função dos sistemas biológicos.
Conhecimento da história e origem, das propriedades físico-químicas, feitos bioquímicos e fisiológicos, dos
mecanismos de ação, da farmacocinética (ADME), toxicidade e usos terapêuticos dos fármacos
Fármaco – agente químico (substância pura, quimicamente definida, extraída de fonte natural ou obtida por síntese ou
semi-síntese) dotado de atividade biológica e, por isso, capaz de modificar as ações/funções de um organismo vivo,
sendo aproveitado pelo seu efeito terapêutico.
Ação Farmacológica
A sua administração visa a obtenção de um efeito terapêutico benéfico para o indivíduo ou tóxico para um agente infecioso
Medicamento – substância ou associação de substâncias que possui propriedades curativas ou preventivas de doenças
ou dos seus sintomas ou que possa ser utilizada ou administrada com vista a estabelecer um diagnostico ou (exercendo
uma ação farmacológica, imunológica ou metabólica) a restaurar, corrigir ou modificar funções fisiológicas nos seres
humanos e outros animais
Uso profilático
Uso curativo
Organotrópicos – ação direta sobre estruturas biológicas do organismo (correção de funções desreguladas)
Etiotrópicos – ação direta sobre agentes patogénicos causadores de doença (vírus, bactérias, fungos, protozoários,
helmintas)
Eficácia vs segurança
Relação benefício/risco
Toxicologia – ciência que estuda os efeitos adversos dos xenobióticos nos sistemas biológicos, quer a nível molecular e
celular, quer a nível nos ecossistemas
o Toxicologia mecanicista
o Toxicologia ambiental – efeitos adversos causados pelos medicamentos ao nível do ambiente
Testes de Toxicidade
Toxicidade aguda (dose necessária para matar 50% da população)
Dose – kg
Dose letal única (DL50) para 50% da população/amostra (mg/kg) Concentração – in vitro
DT50 – não é morte, mas sim toxicidade
Toxicidade sub-aguda (não é assim tão longa)
Testa múltiplas doses em concentrações terapêuticas para períodos de administração de 4 semanas a 3 meses
Toxicidade crónica (efeitos a longo prazo)
Testa múltiplas doses em concentrações terapêuticas para períodos de administração iguais ou superiores a 6 meses
Potencial mutagénico (↑ pode desenvolver mutações)
Testa a estabilidade genética e o índice de mutações em organismos procariotas e eucariotas
Potencial carcinogénico (↑ pode desenvolver cancro)
Teste indicado para fármacos de uso clínico prolongado. Testa múltiplas doses durante 2 anos
Potencial toxicológico
Determina a sequência e mecanismos de efeitos tóxicos
Efeitos teratogénicos – na grávida, pode causar problemas no bebé, por isso, grávidas não devem tomar
medicamentos
Farmacoepidemiologia – estudo dos efeitos dos fármacos a um nível populacional; ocupa-se da variabilidade dos
efeitos farmacológicos entre indivíduos de uma determinada população e entre populações
Farmacoeconomia – ramos da economia da saúde que visa quantificar, em termos económicos, o custo e o benefício
das substâncias utilizadas terapeuticamente
Estudos em animais
Farmacovigilância (pós-comercialização) – avalia os efeitos adversos ao medicamento. Estes devem ser comunicados e
reportados para o INFARMED investigar e se for o caso, os retirar do mercado
Matéria-prima – qualquer substância, ativa ou não, e qualquer medicamento que seja a sua origem, empregue na
produção de um medicamento, quer permaneça inalterável quer se modifique ou desapareça no decurso do processo
Excipiente – qualquer matéria presente no medicamento para além do princípio ativo (fármaco); serve de veículo das
substâncias ativas, possibilita a sua preparação ou estabilidade, modifica as suas propriedades organoléticas e determina
as propriedades físico-químicas do medicamento e a sua biodisponibilidade
Especialidade farmacêutica – todo o medicamento preparado antecipadamente e introduzido no mercado com
denominação e acondicionamento próprios; determinados medicamentos já têm marca registada como por exemplo o
Trifene200 e o Brufen200 – apresentam o mesmo princípio ativo, a mesma quantidade, mas diferentes especialidades
farmacêuticas.
Forma farmacêutica – estado final que as substâncias ativas apresentam depois de submetidas a operações farmacêuticas
necessárias, a fim de facilitar a sua administração, isto é, forma como o fármaco nos é apresentado (supositório, xarope,
comprimidos)
Formas farmacêuticas
Para administração oral, ocular, nasal → Formas líquidas
Soluções
Suspensões
Emulsões
Para administração oral → Formas sólidas (+ comuns)
Comprimidos
Comprimidos revestidos
Cápsulas
Formas farmacêuticas e Biodisponibilidade
Soluções absorção direta do princípio ativo
Formas sólidas desintegração, dissolução, absorção intestinal
Formas de libertação controlada – sem picos; duração de ação prolongada
Medicamentos de aplicação sistémica – medicamento tem de chegar ao sangue para ser distribuído pelos diversos
tecidos do organismo, incluindo as estruturas celulares onde a sua ação se vai exercer
Medicamentos de aplicação tópica/local – medicamento entra em contacto direto com as estruturas onde vai exercer a
ação (ex: pele e mucosas diretamente acessíveis)
Dosagem – quantidade de fármaco na forma farmacêutica; de acordo com a dosagem, o medicamento é administrado
segundo uma POSOLOGIA (nº de doses diárias)
Dose – quantidade de fármaco que é necessária administrar por determinada via, para produzir o efeito terapêutico
desejado
Dose terapêutica mínima menor quantidade para produzir o efeito desejado 5mL → 200mg
Dose terapêutica máxima quantidade que não deve ser ultrapassada e acima da qual se 1000mg / 1g
manifestam efeitos tóxicos indesejáveis
Dose tóxica mínima quantidade a partir da qual se produzem efeitos tóxicos
Fase Farmacêutica
(formulação / produção Desintegração da forma farmacêutica
do medicamento) Dissolução do fármaco
Formas sólidas
Fármacos administrados na
forma de solução não sofrem o
Depende de:
processo de dissolução; soluções
Forma farmacêutica e respetiva formulação para uso oral permitem uma
Características físico-químicas dos fármacos e dos excipientes usados absorção + direta
Libertação
“normal”
Efeito
terapêutico
Concentração máxima
Concentração mínima
Vantagens:
Melhoria do controlo dos níveis plasmáticos Desvantagens
Limitações devidas ao tempo do trânsito
do fármaco: sem flutuações (picos/vales)
gastrointestinal
Redução da incidência e gravidade dos
Não adequação a todos os fármacos
efeitos secundários associados às flutuações
Perigo de libertação brusca da totalidade da dose
de níveis plasmáticos das formas
contida na forma farmacêutica
convencionais
Interrupção da terapia (função da via de administração)
Melhoria da adesão ao esquema terapêutico
Desenhadas com parâmetros cinéticos médios
(↓ nº administrações)
populacionais
Garante a eficácia
Maior custo do desenho e população farmacêuticas
Ciclo geral dos fármacos
Farmacologia 1º ano - Enfermagem
Fase farmacocinética
Conjunto de processos responsáveis pelo movimento dos fármacos no organismo
A – absorção Pró-fármacos
D – distribuição
Final do efeito M – metabolização Ciclo dinâmico
do fármaco E – excreção Metabolito(s)
ativo(s) e/ou
inativo(s)
Farmacocinética – estudo e caracterização da evolução temporal dos fármacos e seus metabolitos no organismo,
através da análise cinética das curvas de concentração vs tempo ou quantidade vs tempo obtidas a partir de
fluidos orgânicos (sangue, urina, saliva)
Intervalo
terapêutico
Período de latência – tempo
que demora a fazer efeito Concentração terapêutica mínima
O período que decorre desde a administração do fármaco até ao início da sua ação: período de latência e a sua duração
de ação, dependem, frequentemente, da:
Velocidade e quantidade com que este é absorvido para o fluxo sanguíneo
Velocidade com que abandona o plasma
Eficácia do fígado na sua decomposição (metabolismo)
Velocidade da sua eliminação por via renal e intestinal
Biodisponibilidade – fração da dose administrada de um fármaco que atinge efetivamente a circulação sanguínea na
sua forma não alterada e que pode assim ficar disponível para a distribuição sistémica até ao seu local de ação
Absorção – descreve e afeta a velocidade e a extensão com que um fármaco abandona o local da sua administração (em
regra para a corrente sanguínea)
Vias de administração
Implica a passagem do fármaco desde o local de administração até ao plasma: fundamental para todas as vias de
administração, exceto EV (fármaco introduzido diretamente na corrente sanguínea); obriga a passagem através de
membranas biológicas de caráter fosfolipídico
Quando o fármaco é absorvido no intestino e vai para o fígado pela veia porta (metabolismo de 1ª passagem) → uma
parte do fármaco é metabolizada, o que vai para os órgãos é metabolizado.
Só acontece na
Dependendo da dia de administração, o fármaco via retal
atravessa uma ou mais membranas biológicas
Difusão passiva – fármacos difundem-se de zonas de alta concentração para zonas de baixa concentração
Difusão facilitada – a favor do gradiente (hiper → hipo) decorre através de uma membrana
Transporte ativo – contra o gradiente (hipo → hiper); há gasto de energia
Endocitose – substâncias entram na célula
Exocitose – substâncias saem das células
Epitélio intestinal
Membranas celulares
Teoria do mosaico fluido
- Bicamada lipídica com proteínas periféricas ou integrais (transportadores)
- Canais ou poros aquosos passagem seletiva
Difusão Passiva
Equação de Henderson-Hasselbalch
torna disponível no local de ação. Representa a fração da dose desse fármaco que atinge a circulação sistémica na sua
forma inalterada após a sua administração e absorção por uma dada via
Pode ser avaliada a partir do traçado da curva de concentração plasmática em função do tempo, através da determinação
da área total sob a curva (AUC ou ASC)
Tempo de semivida – tempo na qual metade do fármaco foi eliminado. Tempo necessário para que a concentração de
fármaco no plasma seja reduzida a metade
Fatores que afetam a biodisponibilidade:
Biotransformação hepática (efeito de 1ª passagem) –
ex: propanolol e lidocaína apresentam extenso efeito
de 1ªa passagem
Solubilidade do fármaco
Instabilidade química – ex: benzilpenincilina é instável
a pH ácido; insulina é destruída no trato GI
Natureza da formulação do fármaco
Tamanho da partícula
Tipo de sal
Polimorfismo cristalino
Excipientes
As curvas para determinada dose variam de F para F, pois estão relacionadas com as propriedades
farmacocinéticas
São influenciadas pelas vias de administração
Via Oral
Vantagens: Desvantagens:
+ comum Necessidade de colaboração do doente (não usar
Administração + cómoda e + segura em doentes inconscientes)
+ económica (comprimidos, xaropes) Período de latência pode ser elevado (ação +
Permite a autoadministração tardia)
Absorção muito satisfatória para uma gama Dificuldade ou impossibilidade de administração
extensa de fármacos de fármacos irritantes para a mucosa gástrica ou
Em caso de sobredosagem pode retirar-se o intestinal em tratamentos longos ou em patologias
medicamento por lavagem gástrica ou indução inflamatórias gastrointestinais
do vómito Possibilidade de inativação dos fármacos pelo
Fatores que modificam a absorção oral: conteúdo do tubo digestivo (enzimas e pH)
Esvaziamento gástrico Efeito de 1ª passagem (metabolização mais ou
pH do meio menos intensa pelo fígado antes de o fármaco
tempo de trânsito intestinal atingir a circulação sanguínea)
tempo de desintegração e dissolução Variabilidade da taxa de absorção dos fármacos,
interação com alimentos sendo que alguns não são mesmo absorvidos
área de superfície
fluxo sanguíneo mesentérico Sonda nasogástrica – apresenta acesso direto ao trato gastrointestinal
Via sublingual
Apenas usada em casos muito pontuais e específicos
Reduzida espessura da superfície responsável pela absorção
Elevada vascularização
Absorção rápida de moléculas de baixo peso molecular e lipossolúveis → útil em situações de emergência
(fármacos antianginosos)
Evita efeito de 1ª passagem hepática (nitroglicerina)
Necessidade de colaboração do doente para que o fármaco permaneça no local
Não podem ser administrados grandes quantidades de fármacos
Sabor potencialmente desagradável e possível irritação da mucosa oral
Via retal
Desvantagens:
Vantagens
Possível desconforto
Reduz efeito da 1ª passagem hepática em 50%
Menos superfície de absorção
Usada em algumas situações clínicas
Maior irrigação sanguínea e absorção algo
irregular (fezes)
Menor intimidade de contacto (fezes)
Farmacologia 1º ano - Enfermagem
Via endovenosa
Vantagens
Desvantagens:
Efeito rápido → concentrações sanguíneas
Apenas administrações de soluções aquosas
máximas após administração (emergências)
estéreis (ou emulsões O/A com partículas
Administração de fármacos com baixa absorção
pequenas)
por outras vias, que se degradem antes de
Pessoal competente para a administração
atingirem a circulação sistémica ou que registem
Riscos de infeções, reações anafiláticas e
um elevado efeito de 1ª passagem
embolismos; necrose por extravasação
Administração de fármacos irritantes pelas vias
IM e SC e para o trato GI
Administração de fármacos com janela terapêutica
estreita (controlo preciso)
Administração de grandes volumes de líquidos
(perfusão); bólus vs perfusão
Via intramuscular
Vantagens Desvantagens:
Rápida velocidade de absorção (dependente da Irritação local
forma farmacêutica; absorção + lenta em mulheres Dor no local da injeção / formação de abcessos
e obesos), desde a absorção muito rápida Impossibilidade de auto-administração;
(segundos) até à absorção muito lenta possível infeção ou dano nervoso
Impossibilidade de administração de grande
volume de líquidos
Exercício físico ↑ a velocidade de absorção
devido ao ↑ do fluxo sanguíneo; variabilidade
na absorção (idade, peso corporal)
Via subcutânea
Irritação local (> à via IM) mas menos dolorosa
Absorção rápida dos fármacos (+ lenta que IM)
Possibilidade de auto-administração (insulina, heparinas)
Administração de volumes reduzidos de líquidos
Possibilidade de implantação subcutânea de formas depot (ex: implantes com anticoncecionais)
Pode causar lipodistrofias; dor
Distribuição – fármaco está no sangue e é distribuído por todo o organismo. Uma vez absorvido para o sangue, o
fármaco circula rapidamente por todo o organismo, incluindo o seu local de ação
Transferência reversível das moléculas do espaço intravascular para o espaço extravascular (órgãos, tecidos, fluidos
biológicos) nos capilares
A sua extensão é determinada por:
Fatores limitantes do Vd:
União às proteínas plasmáticas:
falseamento por defeito.
Farmacologia 1º ano - Enfermagem
O fármaco ligado às proteínas plasmáticas não atravessa o endotélio capilar e não possui atividade
farmacológica
O fármaco ligado intimamente às proteínas plasmáticas abandona a circulação sanguínea de forma lenta (em
contraste com um que não esteja muito ligado às proteínas); efeito muito pronunciado na velocidade vs efeito
reduzido na extensão da distribuição
Apenas o fármaco na forma livre (não ligado a estruturas macromoleculares) está disponível para difusão
através dos capilares, para a distribuição e para atuar nos alvos terapêuticos definidos, determinando a
intensidade do efeito
Fármacos que se ligam intensamente às proteínas plasmáticas apresentam Cp elevadas Vd reduzidos
Ligações às proteínas plasmáticas e interações medicamentosas podem ocorrer entre fármacos que são administrados
simultaneamente e que vão competir para os mesmos locais de ligação às proteínas plasmáticas havendo deslocamento
de um fármaco do seu local de ligação (ligação inespecífica)
Aumento da fração livre de fármaco (ativa) com consequente aumento dos efeitos farmacológicos e eliminação mais
rápida
Deve ser tomado em casos de fármacos que apresentem margem terapêutica estreita e fármacos com toxicidade elevada
Anestésico geral tiopental penetra rapidamente no cérebro, enquanto o antibiótico penicilina não
Barreira placentária
Bombas de efluxo: Glicoproteína P
Os fármacos lipossolúveis atravessam facilmente a placenta por difusão
A placenta não funciona como barreira para os fármacos… algumas
exceções são a heparina e a insulina que passam dificilmente a placenta
Biotransformação
Os metabolitos são geralmente moléculas mais hidrossolúveis, facilitando a sua excreção urinária; são
geralmente mais polares, possuem mais grupos que conferem hidrofilia à molécula e maior dimensão,
dificultando a sua distribuição para fora do espaço intravascular e facilitando a sua excreção urinária