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Farmacologia 1º ano - Enfermagem

INTRODUÇÃO À FARMACOLOGIA

Farmacologia
Ciência que estuda as interações e os efeitos das substâncias químicas sobre a função dos sistemas biológicos.
Conhecimento da história e origem, das propriedades físico-químicas, feitos bioquímicos e fisiológicos, dos
mecanismos de ação, da farmacocinética (ADME), toxicidade e usos terapêuticos dos fármacos

Fármaco – agente químico (substância pura, quimicamente definida, extraída de fonte natural ou obtida por síntese ou
semi-síntese) dotado de atividade biológica e, por isso, capaz de modificar as ações/funções de um organismo vivo,
sendo aproveitado pelo seu efeito terapêutico.

Ação Farmacológica
A sua administração visa a obtenção de um efeito terapêutico benéfico para o indivíduo ou tóxico para um agente infecioso

Medicamento – substância ou associação de substâncias que possui propriedades curativas ou preventivas de doenças
ou dos seus sintomas ou que possa ser utilizada ou administrada com vista a estabelecer um diagnostico ou (exercendo
uma ação farmacológica, imunológica ou metabólica) a restaurar, corrigir ou modificar funções fisiológicas nos seres
humanos e outros animais
Uso profilático
Uso curativo

Xenobiótico “estranho ao organismo”


Medicamento (ação farmacológica benéfica ao organismo)
A dose faz o tóxico
Tóxico (ação farmacológica nociva ao organismo)

Organotrópicos – ação direta sobre estruturas biológicas do organismo (correção de funções desreguladas)
Etiotrópicos – ação direta sobre agentes patogénicos causadores de doença (vírus, bactérias, fungos, protozoários,
helmintas)
Eficácia vs segurança
Relação benefício/risco

Efeitos Podem ser efeitos indesejáveis :


Efeito Fármaco secundários Reações Adversas aos
terapêutico ou laterais Medicamentos (RAM)

“qualquer reação nociva e involuntária


resultante da toma de um medicamento em
doses geralmente utilizadas em humanos”
OBJETIVO TERAPÊUTICO

Medicamentos e prescrição médica


Medicamentos sujeitos a receita médica (MSRM) – requerem prescrição médica obrigatória por profissional habilitado e
utilizam-se sob controlo pois preenchem uma das seguintes condições:
 Apresentam risco para a saúde do utente, mesmo quando usados para o fim a que se destinam, quando são
usados sem vigilância médica
 Apresentam risco para a saúde do utente quando são utilizados com frequência em quantidades consideráveis
para fins diferentes daqueles a que se destinam
 Contêm substâncias ou preparações cuja atividade ou reações adversas sejam indispensável aprofundar
 Destinam-se a ser administrados por via parentérica injetável
Medicamentos não sujeitos a receita médica (MNSRM)
 Exemplo: ibuprofeno e paracetamol
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Identificação dos Fármacos/Medicamentos


 Nome químico – descreve a estrutura molecular do fármaco, identificando-o com precisão, mas geralmente é
demasiado complicado para o seu uso corrente
Ex: 7-cloro-1,3-di-hidro-1-metil-5-fenil-2H-1,4-benzodiazepin-2-ona
 Nome genérico ou comum (DCI, Denominação Comum Internacional) – um organismo oficial atribui o nome
genérico (recomendação da OMS)
Ex: Diazepam
 Nome comercial (com patente registada) – a companhia farmacêutica produtora do medicamento dá-lhe o nome
comercial
Intravenosa 100%
Ex: Valium, Metamidol, Bialzepam

Via oral 60%


Mesma forma ativa, mesma dosagem,
mas não são o mesmo medicamento

Biodisponibilidade – quantidade de fármaco que entra na corrente sanguínea

Origem dos fármacos


o Natural – normalmente originários de plantas (grande maioria), fungos ou animais
Objetivos do isolamento dos compostos ativos a partir de fontes naturais:
 Identificação inequívoca dos componentes ativos
 Análise dos efeitos biológicos (farmacodinamia) de todos os componentes individualmente e o seu percurso
no organismo (farmacocinética)
 Garantia de uma dosagem constante e precisa no uso terapêutico de constituintes quimicamente puros
 Possibilidade de se realizar a síntese química dos compostos, garantindo independência de fontes naturais
limitadas e criando condições para se fazer estudos de relação estrutura-atividade (SAR)

Obtenção de derivados com propriedades


melhoradas em relação ao composto inicial
o Sintética – produzido por intermédio de síntese (uma/várias etapas) em laboratório
o Semi-sintética – obtidos usando um composto natural como reagente de partida e em que após o seu isolamento se
efetuam modificações na sua estrutura química, retirando, acrescentando ou substituindo determinados grupos

Farmacologia – estuda os fármacos em múltiplos aspetos

FARMACOGNOSIA – estuda a origem, conservação, identificação e análise química dos


fármacos de origem natural
FARMÁCIA (tecnologia farmacêutica) – estuda a preparação, conservação e análise de
medicamentos
FARMACODINAMIA (PD) – mecanismo de ação (aquilo que o fármaco faz ao meu corpo)
FARMACOCINÉTICA (PK) – o que o corpo faz ao fármaco (absorve, distribui, metaboliza e
excreta ADME)
FARMACOGENÉTICA
TOXICOLOGIA – estuda os efeitos adversos

Farmacologia experimental – sistemas vivos

Farmacologia Clínica – humanos


Farmacologia 1º ano - Enfermagem

Toxicologia – ciência que estuda os efeitos adversos dos xenobióticos nos sistemas biológicos, quer a nível molecular e
celular, quer a nível nos ecossistemas
o Toxicologia mecanicista
o Toxicologia ambiental – efeitos adversos causados pelos medicamentos ao nível do ambiente

Testes de Toxicidade
 Toxicidade aguda (dose necessária para matar 50% da população)
Dose – kg
Dose letal única (DL50) para 50% da população/amostra (mg/kg) Concentração – in vitro
DT50 – não é morte, mas sim toxicidade
 Toxicidade sub-aguda (não é assim tão longa)
Testa múltiplas doses em concentrações terapêuticas para períodos de administração de 4 semanas a 3 meses
 Toxicidade crónica (efeitos a longo prazo)
Testa múltiplas doses em concentrações terapêuticas para períodos de administração iguais ou superiores a 6 meses
 Potencial mutagénico (↑ pode desenvolver mutações)
Testa a estabilidade genética e o índice de mutações em organismos procariotas e eucariotas
 Potencial carcinogénico (↑ pode desenvolver cancro)
Teste indicado para fármacos de uso clínico prolongado. Testa múltiplas doses durante 2 anos
 Potencial toxicológico
Determina a sequência e mecanismos de efeitos tóxicos

Efeitos teratogénicos – na grávida, pode causar problemas no bebé, por isso, grávidas não devem tomar
medicamentos

Farmacogenética – estudo da influência dos fatores genéticos sobre a variabilidade da farmacodinâmica,


farmacocinética e toxicidade de fármacos, e das eventuais modificações genéticas induzidas por fármacos
Farmacogenómica – área encarregue de estudar polimorfismos, avaliando a aplicação destes conceitos em fármacos.
Estudo dos genes que podem afetar o comportamento dos fármacos e uso
Polimorfismo genético – várias formas
da informação genética para criar critérios na opção de uma terapia
para o mesmo gene. 2 pessoas que
farmacológica em bases individuais.
tomem o mesmo fármaco podem
precisar de doses diferentes
O facto de não ter efeito terapêutico não quer dizer que não tenha
efeito toxicológico dependendo se são metabolizadores
rápidos ou lentos

Farmacoepidemiologia – estudo dos efeitos dos fármacos a um nível populacional; ocupa-se da variabilidade dos
efeitos farmacológicos entre indivíduos de uma determinada população e entre populações
Farmacoeconomia – ramos da economia da saúde que visa quantificar, em termos económicos, o custo e o benefício
das substâncias utilizadas terapeuticamente

Desenvolvimento de Fármacos / Medicamentos


 Regra dos 5 de Lipinski – todas estas regras têm impacto na solubilidade dos compostos; lipofilia e hidrofilia
condiciona as propriedades do fármaco

Um fármaco torna-se num


medicamento quando a sua formulação
é apropriada para o uso terapêutico para
o qual foi concebido
 Formas posológicas
 Formas farmacêuticas
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Farmacoterapêutica: do fármaco ao medicamento


Ensaio clínico
Tecnologia farmacêutica → Formulação (computador avalia as relações entre o fármaco e o recetor)

Estudos in-vitro em células ou enzimas

Estudos em animais

Estudos clínicos (avaliam a segurança do fármaco)


 Fase 1: grupo de voluntários saudáveis (avalia a farmacocinética e a segurança)
 Fase 2: grupo restrito de doentes com a patologia em causa (avalia a eficácia)
 Fase 3: comparação num grande grupo de doentes voluntários vs tratamento de referência (ou placebo) (trata a
segurança, a eficácia e a farmacocinética)
 Fase 4: AIM (autorização à introdução no mercado) concebida pela INFARMED e este vai ser comercializado

Farmacovigilância (pós-comercialização) – avalia os efeitos adversos ao medicamento. Estes devem ser comunicados e
reportados para o INFARMED investigar e se for o caso, os retirar do mercado

Matéria-prima – qualquer substância, ativa ou não, e qualquer medicamento que seja a sua origem, empregue na
produção de um medicamento, quer permaneça inalterável quer se modifique ou desapareça no decurso do processo
Excipiente – qualquer matéria presente no medicamento para além do princípio ativo (fármaco); serve de veículo das
substâncias ativas, possibilita a sua preparação ou estabilidade, modifica as suas propriedades organoléticas e determina
as propriedades físico-químicas do medicamento e a sua biodisponibilidade
Especialidade farmacêutica – todo o medicamento preparado antecipadamente e introduzido no mercado com
denominação e acondicionamento próprios; determinados medicamentos já têm marca registada como por exemplo o
Trifene200 e o Brufen200 – apresentam o mesmo princípio ativo, a mesma quantidade, mas diferentes especialidades
farmacêuticas.
Forma farmacêutica – estado final que as substâncias ativas apresentam depois de submetidas a operações farmacêuticas
necessárias, a fim de facilitar a sua administração, isto é, forma como o fármaco nos é apresentado (supositório, xarope,
comprimidos)

Formas farmacêuticas
Para administração oral, ocular, nasal → Formas líquidas
 Soluções
 Suspensões
 Emulsões
Para administração oral → Formas sólidas (+ comuns)
 Comprimidos
 Comprimidos revestidos
 Cápsulas
Formas farmacêuticas e Biodisponibilidade
Soluções  absorção direta do princípio ativo
Formas sólidas  desintegração, dissolução, absorção intestinal
 Formas de libertação controlada – sem picos; duração de ação prolongada

 Formas farmacêuticas para administração entérica


O fármaco é absorvido no trato gastrointestinal (oral, retal, sublingual)
Formas de administração: supositório, comprimido

Absorção é mais rápida no supositório


do que no comprimido
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 Formas farmacêuticas para administração parentérica


Formas que “evitam” absorção entérica (no trato gastrointestinal)
Formas para administração parentérica:
 Soluções (endovenosa)
 Suspensões cristalinas
 Suspensões para inalação
 Formulações para aplicação cutânea
Esterilidade, apirogénicos, osmolaridade, pH

Formas para administração pulmonar:


Quanto mais fina a partícula mais consegue
 Aerossóis penetrar e maior a probabilidade do fármaco
Diâmetro das partículas influencia o local de ação chegar aos alvéolos
Formas para administração vaginal:
 Óvulos
 Comprimidos vaginais
Formas para administração cutânea
 Pomadas
Propriedades lipofílicas para ser absorvido
 Unguentos (atravessar todas as camadas da pele)
 Pós
 Aplicação na superfície cutânea
Formas para administração transdérmica:
 Contacto com epiderme
 Reservatório de fármacos
 Absorção sistémica (= perfusão)
 Não invasivo
 Fármaco capaz de atravessar barreira cutânea
 Eficácia em doses baixas (capacidade limitada no reservatório)

Medicamentos de aplicação sistémica – medicamento tem de chegar ao sangue para ser distribuído pelos diversos
tecidos do organismo, incluindo as estruturas celulares onde a sua ação se vai exercer
Medicamentos de aplicação tópica/local – medicamento entra em contacto direto com as estruturas onde vai exercer a
ação (ex: pele e mucosas diretamente acessíveis)

Dosagem – quantidade de fármaco na forma farmacêutica; de acordo com a dosagem, o medicamento é administrado
segundo uma POSOLOGIA (nº de doses diárias)

40mg/mL 500mg de paracetamol / comprimido


40mg paracetamol / mL de xarope

Dose – quantidade de fármaco que é necessária administrar por determinada via, para produzir o efeito terapêutico
desejado
Dose terapêutica mínima  menor quantidade para produzir o efeito desejado 5mL → 200mg
Dose terapêutica máxima  quantidade que não deve ser ultrapassada e acima da qual se 1000mg / 1g
manifestam efeitos tóxicos indesejáveis
Dose tóxica mínima  quantidade a partir da qual se produzem efeitos tóxicos

Ciclo geral dos fármacos


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Fase Farmacêutica
(formulação / produção Desintegração da forma farmacêutica
do medicamento) Dissolução do fármaco
Formas sólidas

Libertação do Absorção Moléculas lipofílicas


fármaco da forma Distribuição ligam-se a proteínas
farmacêutica Fase Farmacocinética plasmáticas para serem
Metabolização Fração livre
↓ Excreção distribuídas → fração
Forma ativa ligada é como se não
Formas orais sólidas: existisse porque está
DESAGREGAÇÃO presa à proteína
e DISSOLUÇÃO Fase Farmacodinâmica Ação nos locais alvo

Fármacos administrados na
forma de solução não sofrem o
Depende de:
processo de dissolução; soluções
 Forma farmacêutica e respetiva formulação para uso oral permitem uma
 Características físico-químicas dos fármacos e dos excipientes usados absorção + direta
Libertação

“normal”

Formas farmacêuticas de libertação modificada

Efeito
terapêutico

Só passado algum tempo é que


faz efeito

Concentração máxima
Concentração mínima

Vantagens:
 Melhoria do controlo dos níveis plasmáticos Desvantagens
 Limitações devidas ao tempo do trânsito
do fármaco: sem flutuações (picos/vales)
gastrointestinal
 Redução da incidência e gravidade dos
 Não adequação a todos os fármacos
efeitos secundários associados às flutuações
 Perigo de libertação brusca da totalidade da dose
de níveis plasmáticos das formas
contida na forma farmacêutica
convencionais
 Interrupção da terapia (função da via de administração)
 Melhoria da adesão ao esquema terapêutico
 Desenhadas com parâmetros cinéticos médios
(↓ nº administrações)
populacionais
 Garante a eficácia
 Maior custo do desenho e população farmacêuticas
Ciclo geral dos fármacos
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Fase farmacocinética
 Conjunto de processos responsáveis pelo movimento dos fármacos no organismo
A – absorção Pró-fármacos
D – distribuição
Final do efeito M – metabolização Ciclo dinâmico
do fármaco E – excreção Metabolito(s)
ativo(s) e/ou
inativo(s)
Farmacocinética – estudo e caracterização da evolução temporal dos fármacos e seus metabolitos no organismo,
através da análise cinética das curvas de concentração vs tempo ou quantidade vs tempo obtidas a partir de
fluidos orgânicos (sangue, urina, saliva)

Concentração terapêutica máxima

Intervalo
terapêutico
Período de latência – tempo
que demora a fazer efeito Concentração terapêutica mínima

Área sob a curva

O período que decorre desde a administração do fármaco até ao início da sua ação: período de latência e a sua duração
de ação, dependem, frequentemente, da:
 Velocidade e quantidade com que este é absorvido para o fluxo sanguíneo
 Velocidade com que abandona o plasma
 Eficácia do fígado na sua decomposição (metabolismo)
 Velocidade da sua eliminação por via renal e intestinal

Efeito farmacológico depende da passagem através das barreiras biológicas sangue


Depende da via de administração:

ABSORÇÃO Pele e mucosas


(via endovenosa) Paredes capilares (endotélio)
Tubo digestivo
Alvéolos pulmonares

Biodisponibilidade – fração da dose administrada de um fármaco que atinge efetivamente a circulação sanguínea na
sua forma não alterada e que pode assim ficar disponível para a distribuição sistémica até ao seu local de ação
Absorção – descreve e afeta a velocidade e a extensão com que um fármaco abandona o local da sua administração (em
regra para a corrente sanguínea)
Vias de administração
Implica a passagem do fármaco desde o local de administração até ao plasma: fundamental para todas as vias de
administração, exceto EV (fármaco introduzido diretamente na corrente sanguínea); obriga a passagem através de
membranas biológicas de caráter fosfolipídico
Quando o fármaco é absorvido no intestino e vai para o fígado pela veia porta (metabolismo de 1ª passagem) → uma
parte do fármaco é metabolizada, o que vai para os órgãos é metabolizado.

Só acontece na
Dependendo da dia de administração, o fármaco via retal
atravessa uma ou mais membranas biológicas

Apenas 50% do fármaco vai


para o fígado pela porta

Vias de entrada do fármaco no organismo:


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 Via parentérica intravascular


o Ex: via EV rápida: acesso direto do fármaco inalterado ao coração através de uma das duas veias cavas,
nas quais confluem todas as veias periféricas
 Via parentérica extravascular
o Endotélio (poroso)
o Ultrapassa a primeira passagem pelo fígado → acede diretamente às veias cavas e ao coração
 Via sublingual, nasal, pulmonar, via oral (GI) e via retal
o Epitélio maioritariamente unicelular
 Via transdérmica
o Epitélio pluricelular (pele)
 Via oral
o Perdas pré-sistémicas + efeito de 1ª passagem
o Veias mesentéricas → veia porta → fígado → circulação sistémica (exceto fármacos absorvidos por via
linfática)
 Via sublingual
o Via jugular → veia cava → coração
 Via transpulmonar (inalatória)
o Diretamente ao coração pela veia pulmonar
 Via retal
o ~ 40 a 50% da dose evita efeito de primeira passagem
o Veia hemorroidal inferior ou média → veia cava
o Veia hemorroidal superior → veia porta → fígado → …
 Via percutânea
o Evita a passagem pela veia porta
o Barreira natural pluricelular

Processos de passagem das barreiras biológicas


(estão dependentes das características físico-químicas do fármaco) Possível para fármacos que apresentem
 Difusão passiva paracelular semelhanças estruturais com o substrato
+ comuns
 Difusão passiva transcelular fisiológico da proteína transportadora
Difusão através de poros aquosos (porinas; raio e nº poros) (competição); seletividade
 Difusão facilitada
 Transporte ativo (Contra gradiente de concentração; consumo de energia;
 Endocitose/Exocitose seletivo e saturável; inibição competitiva)

Difusão passiva – fármacos difundem-se de zonas de alta concentração para zonas de baixa concentração
Difusão facilitada – a favor do gradiente (hiper → hipo) decorre através de uma membrana
Transporte ativo – contra o gradiente (hipo → hiper); há gasto de energia
Endocitose – substâncias entram na célula
Exocitose – substâncias saem das células

Epitélio intestinal
Membranas celulares
Teoria do mosaico fluido
- Bicamada lipídica com proteínas periféricas ou integrais (transportadores)
- Canais ou poros aquosos  passagem seletiva

Difusão Passiva

 Envolve o movimento dos solutos a favor de um gradiente de concentração ou eletroquímico


 Não implica consumo de energia
 Processo não saturável e que não é inibido por outras
moléculas
A difusão passiva rege-se segundo a Lei de Fick: Fármacos lipossolúveis: atravessam
o O transporte ativo depende da área da superfície facilmente as membranas fosfolipídicas
(cerca de 5nm de espessura), dissolvendo-se
nos lípidos
Fármacos hidrossolúveis: (ex: fármacos
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o + área superfície = + absorção


o Absorção diretamente proporcional à área de superfície
o Absorção depende
o Lipofilia (queficiente óleo/água)
o Espessura da membrana
o Gradiente de concentração

Fatores a considerar na absorção


 pH do meio Determina se o fármaco está ionizado ou não → fármaco
carregado positiva ou negativamente passa mais dificilmente
Dependem das características do
nas barreiras fármaco
 pKa do fármaco (constante de dissociação, representa o pH do meio
para o qual a concentração das formas ionizada e não ionizada da molécula são iguais)
 peso molecular do fármaco
 polaridade/lipofilia do fármaco (logP) – coeficiente de partilha óleo/água
 características do fármaco
o a maioria dos fármacos são ácidos fracos ou bases fracas, existindo num equilíbrio entre a forma
ionizada (mais polar e hidrossolúvel) e a não ionizada (menos polar, mais lipossolúvel e, por isso, mais
rapidamente absorvida)
o a proporção relativa entre estas duas formas influencia a difusão e depende de:
 capacidade do fármaco para se ionizar (pKa)
 pH do meio em que está dissolvido

Equação de Henderson-Hasselbalch

pH = pKa + log [forma ionizada]/[forma não ionizada]

pH do meio e grau de ionização dos fármacos

o grau de ionização de um fármaco influencia mais a


velocidade da absorção do que a sua extensão

Fatores que influenciam a absorção


 Gradiente de concentração e (lipo)solubilidade
Lei de Fick: velocidade de difusão = permeabilidade x área de contacto x gradiente de concentração
 Área de absorção (estômago vs intestino: vilosidades do intestino delgado; alvéolos pulmonares; formas
farmacêuticas líquidas vs sólidas)
 Tempo de contacto (esófago vs estômago vs intestino delgado)
 Intimidade de contacto (formas farmacêuticas líquidas vs sólidas; alimentos; motilidade gastrointestinal
[diarreias]; fezes)
 Intensidade de irrigação (fluxo sanguíneo; estômago vs intestino; massagem da
zona de injeção IM; irrigação dos alvéolos pulmonares; vias SC vs IM;
 Espessura da estrutura absorvente (via sublingual e inalatória; efeito terapêutico vs

Biodisponibilidade – quantidade de fármaco que atinge a corrente sanguínea. Termo


farmacêutico que descreve a velocidade e a magnitude com que um fármaco é absorvido e se
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torna disponível no local de ação. Representa a fração da dose desse fármaco que atinge a circulação sistémica na sua
forma inalterada após a sua administração e absorção por uma dada via

Pode ser avaliada a partir do traçado da curva de concentração plasmática em função do tempo, através da determinação
da área total sob a curva (AUC ou ASC)

Tempo de semivida – tempo na qual metade do fármaco foi eliminado. Tempo necessário para que a concentração de
fármaco no plasma seja reduzida a metade
Fatores que afetam a biodisponibilidade:
 Biotransformação hepática (efeito de 1ª passagem) –
ex: propanolol e lidocaína apresentam extenso efeito
de 1ªa passagem
 Solubilidade do fármaco
 Instabilidade química – ex: benzilpenincilina é instável
a pH ácido; insulina é destruída no trato GI
 Natureza da formulação do fármaco
 Tamanho da partícula
 Tipo de sal
 Polimorfismo cristalino
 Excipientes

Vias de administração de fármacos


 Tópica ou local – quando se pretende um efeito/ação do fármaco numa área mais ou menos localizada e este é
administrado diretamente na pele ou membranas mucosas mais acessíveis (olhos, nariz, ouvido, boca, vagina,
reto, trato urinário)  nenhuma ou reduzida absorção e passagem para a corrente sanguínea
Inalatória Intraperitoneal
Oral Retal
Intracardíaca Cutânea
Nasal Bucal
Ocular Intrapleural
Intrarraquidiana → colírios, pomadas, cremes → soluções estéreis Vaginal → cremes, óvulos
e isotónicas Auricular → pavilhão auricular e/ou
Intra-articular → corticosteroides + anestésicos locais canal auditivo externo
  Sistémica – quando se pretende que um fármaco
atinja a corrente sanguínea; para isso depois de ser absorvido vai distribuir-se até atingir os seus locais de ação
o Vias entéricas → a absorção efetua-se através das paredes do tubo digestivo
Sublingual (absorção rápida e ausência do efeito de 1ª passagem) ; oral; retal (apesar da absorção
irregular há uma diminuição do efeito da 1ª passagem)
o Vias parentéricas → a absorção processa-se fora do tubo digestivo ou não existe absorção (endovenosa;
intramuscular; subcutânea; inalatória; percutânea)

Fatores relevantes para a escolha de uma determinada via de administração:


 Propriedades físico-químicas do fármaco
 Velocidade e extensão da absorção nas diferentes vias Vias de administração:
 Efeito dos fluidos biológicos e efeito de 1ª passagem  Injeções (soluções, suspensões ou
 Local de ação pretendido emulsões): até 20ml
 Rapidez de resposta pretendida  Perfusões (grandes volumes): ≥ 20ml
 Precisão da dose administrada
 Condição do doente
Absorção e vias de administração
Curvas de concentração sanguínea
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As curvas para determinada dose variam de F para F, pois estão relacionadas com as propriedades
farmacocinéticas
São influenciadas pelas vias de administração

Via Oral
Vantagens: Desvantagens:
 + comum  Necessidade de colaboração do doente (não usar
 Administração + cómoda e + segura em doentes inconscientes)
 + económica (comprimidos, xaropes)  Período de latência pode ser elevado (ação +
 Permite a autoadministração tardia)
 Absorção muito satisfatória para uma gama  Dificuldade ou impossibilidade de administração
extensa de fármacos de fármacos irritantes para a mucosa gástrica ou
 Em caso de sobredosagem pode retirar-se o intestinal em tratamentos longos ou em patologias
medicamento por lavagem gástrica ou indução inflamatórias gastrointestinais
do vómito  Possibilidade de inativação dos fármacos pelo
Fatores que modificam a absorção oral: conteúdo do tubo digestivo (enzimas e pH)
 Esvaziamento gástrico  Efeito de 1ª passagem (metabolização mais ou
 pH do meio menos intensa pelo fígado antes de o fármaco
 tempo de trânsito intestinal atingir a circulação sanguínea)
 tempo de desintegração e dissolução  Variabilidade da taxa de absorção dos fármacos,
 interação com alimentos sendo que alguns não são mesmo absorvidos
 área de superfície
 fluxo sanguíneo mesentérico Sonda nasogástrica – apresenta acesso direto ao trato gastrointestinal

Via sublingual
 Apenas usada em casos muito pontuais e específicos
 Reduzida espessura da superfície responsável pela absorção
 Elevada vascularização
 Absorção rápida de moléculas de baixo peso molecular e lipossolúveis → útil em situações de emergência
(fármacos antianginosos)
 Evita efeito de 1ª passagem hepática (nitroglicerina)
 Necessidade de colaboração do doente para que o fármaco permaneça no local
 Não podem ser administrados grandes quantidades de fármacos
 Sabor potencialmente desagradável e possível irritação da mucosa oral

Via retal
Desvantagens:
Vantagens
 Possível desconforto
 Reduz efeito da 1ª passagem hepática em 50%
 Menos superfície de absorção
 Usada em algumas situações clínicas
 Maior irrigação sanguínea e absorção algo
irregular (fezes)
 Menor intimidade de contacto (fezes)
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específicas (pediatria, geriatria e irritantes da mucosa gástrica)


 Vómitos
 Estados de inconsciência

Via endovenosa
Vantagens
Desvantagens:
 Efeito rápido → concentrações sanguíneas
 Apenas administrações de soluções aquosas
máximas após administração (emergências)
estéreis (ou emulsões O/A com partículas
 Administração de fármacos com baixa absorção
pequenas)
por outras vias, que se degradem antes de
 Pessoal competente para a administração
atingirem a circulação sistémica ou que registem
 Riscos de infeções, reações anafiláticas e
um elevado efeito de 1ª passagem
embolismos; necrose por extravasação
 Administração de fármacos irritantes pelas vias
IM e SC e para o trato GI
 Administração de fármacos com janela terapêutica
estreita (controlo preciso)
 Administração de grandes volumes de líquidos
(perfusão); bólus vs perfusão

Via intramuscular
Vantagens Desvantagens:
 Rápida velocidade de absorção (dependente da  Irritação local
forma farmacêutica; absorção + lenta em mulheres  Dor no local da injeção / formação de abcessos
e obesos), desde a absorção muito rápida  Impossibilidade de auto-administração;
(segundos) até à absorção muito lenta possível infeção ou dano nervoso
 Impossibilidade de administração de grande
volume de líquidos
 Exercício físico ↑ a velocidade de absorção
devido ao ↑ do fluxo sanguíneo; variabilidade
na absorção (idade, peso corporal)
Via subcutânea
 Irritação local (> à via IM) mas menos dolorosa
 Absorção rápida dos fármacos (+ lenta que IM)
 Possibilidade de auto-administração (insulina, heparinas)
 Administração de volumes reduzidos de líquidos
 Possibilidade de implantação subcutânea de formas depot (ex: implantes com anticoncecionais)
 Pode causar lipodistrofias; dor

Via inalatória (inspiração nasal ou bucal)


 Absorção muito rápida (espessura, vascularização, área de contacto)
 Absorção rápida (difusão passiva) de fármacos com baixo peso molecular e elevada lipossolubilidade; permite
também endocitose
 Corticosteroides e agonistas ß-adrenérgicos para ação local no tratamento da asma (efeitos sistémicos
indesejados e elevado efeito de 1ª passagem)
 Elevada percentagem de fármaco pode ser deglutida

Via dérmica ou percutânea


 Uma única aplicação diária ou mesmo mais espaçada
 Concentrações eficazes e estáveis durante um período de tempo considerável
 Pode ser usado para fármacos com elevada lipossolubilidade

Distribuição – fármaco está no sangue e é distribuído por todo o organismo. Uma vez absorvido para o sangue, o
fármaco circula rapidamente por todo o organismo, incluindo o seu local de ação
Transferência reversível das moléculas do espaço intravascular para o espaço extravascular (órgãos, tecidos, fluidos
biológicos) nos capilares
A sua extensão é determinada por:
Fatores limitantes do Vd:
 União às proteínas plasmáticas:
falseamento por defeito.
Farmacologia 1º ano - Enfermagem

 Permeabilidade através das diversas membranas biológicas


 União a componentes tecidulares
 União a componentes sanguíneos (eritrócitos, proteínas plasmáticas)
 Volumes fisiológicos
Volume aparente de distribuição (Vd)
Vd – volume aparente de distribuição
Q – dose do fármaco 8quantidade total no organismo
Cp – concentração plasmática do fármaco

→ diferentes velocidades de fluxo sanguíneo nos tecidos capilares


Fatores que influenciam a distribuição
 Propriedades físico-químicas do fármaco (tamanho, lipossolubilidade e grau de ionização)
 Idade, género e peso corporal
 Intensidade da irrigação sanguínea dos órgãos e tecidos
 Ligação a proteínas plasmáticas (albumina, etc…) e tecidulares (equilíbrio reversível entre a fração ligada vs
fração livre); ligação inespecífica  interações farmacológicas; concentrações plasmáticas efetivas
BIODISPONIBILIDADE
 Retenção e acumulação no tecido adiposo, ósseo, fígado… (a acumulação de quantidades elevadas de fármaco
pode prolongar a sua distribuição, visto que abandonam lentamente estes tecidos e circulam no sangue durante
mais tempo)
 Barreiras hematoencefálica (↓) e placentária (↑)

Ligação às proteínas plasmáticas

Alguns fármacos ligam-se instantânea e reversivelmente às proteínas plasmáticas

 O fármaco ligado às proteínas plasmáticas não atravessa o endotélio capilar e não possui atividade
farmacológica
 O fármaco ligado intimamente às proteínas plasmáticas abandona a circulação sanguínea de forma lenta (em
contraste com um que não esteja muito ligado às proteínas); efeito muito pronunciado na velocidade vs efeito
reduzido na extensão da distribuição
 Apenas o fármaco na forma livre (não ligado a estruturas macromoleculares) está disponível para difusão
através dos capilares, para a distribuição e para atuar nos alvos terapêuticos definidos, determinando a
intensidade do efeito
 Fármacos que se ligam intensamente às proteínas plasmáticas apresentam Cp elevadas  Vd reduzidos

Ligações às proteínas plasmáticas e interações medicamentosas podem ocorrer entre fármacos que são administrados
simultaneamente e que vão competir para os mesmos locais de ligação às proteínas plasmáticas havendo deslocamento
de um fármaco do seu local de ligação (ligação inespecífica)

Aumento da fração livre de fármaco (ativa) com consequente aumento dos efeitos farmacológicos e eliminação mais
rápida
Deve ser tomado em casos de fármacos que apresentem margem terapêutica estreita e fármacos com toxicidade elevada

Barreira hematoencefálica (BHE)


“membrana” que restringe a permeabilidade a grandes moléculas e a pequenas moléculas hidrofílicas
As moléculas passam a BHE por:
 Difusão passiva transcelular – fármacos de baixo peso molecular e lipofílicos
 Transporte ativo – fármacos de elevado peso molecular ou muito hidrofílicos (ex: aminoácidos, levodopa)
BHE – ausência de poros e de processos de transcitose; altamente seletiva; propriedades físico-químicas dos

Anestésico geral tiopental penetra rapidamente no cérebro, enquanto o antibiótico penicilina não

fármacos/mecanismos de transporte (difusão transcelular)


Farmacologia 1º ano - Enfermagem

Barreira placentária
Bombas de efluxo: Glicoproteína P
Os fármacos lipossolúveis atravessam facilmente a placenta por difusão
A placenta não funciona como barreira para os fármacos… algumas
exceções são a heparina e a insulina que passam dificilmente a placenta

Características físico-químicas dos fármacos e a sua influência na


distribuição
A entrada dos fármacos nas células para exercer a seu efeito farmacológico
depende de:
 Lipofilia
o Os fármacos hidrossolúveis ficam mais restringidos ao
plasma e ao líquido intersticial
o Os fármacos lipossolúveis entram nas células mais facilmente, alcançando mais compartimentos
(incluindo o SNC, podendo também acumular-se no tecido adiposo)
 Tamanho da molécula
 Grau de ionização A diferença de valores de pH entre os
fluidos extracelular e intracelular favorece
uma diferente distribuição dos fármacos
Fluido intracelular – pH = 7,0
Fluido extracelular – pH = 7,4

Biotransformação

METABOLISMO Aumenta hidrofilia Copo metaboliza as substâncias para as


tornar mais hidrofílicas para as excretar
 Compreende qualquer alteração melhor
da estrutura química sofrida pelo fármaco no interior do
organismo (origem química ou enzimática) com possível e provável alteração das propriedades físico-químicas
e farmacológicas

Essa alteração dá origem a METABOLITOS


Os metabolitos podem ser inativos ou então podem possuir ação
terapêutica ou toxicidade similar ou diferente da do fármaco original

 Os metabolitos são geralmente moléculas mais hidrossolúveis, facilitando a sua excreção urinária; são
geralmente mais polares, possuem mais grupos que conferem hidrofilia à molécula e maior dimensão,
dificultando a sua distribuição para fora do espaço intravascular e facilitando a sua excreção urinária

Fase 1 – reações de funcionalização (adicionar um grupo funcional)


→ aumentam hidrofilia do composto
→ ações bioativação
Fase 2 – reações conjugação (adicionar um grupo funcional a outro)

Ocorre predominantemente nos hepatócitos do fígado


- Enzimas do CYP (citocromo P450): são um conjunto de isoenzimas situadas principalmente no retículo
endoplasmático liso (microssomas) e catalisam reações de oxigénio

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