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Resumo
Este artigo analisa a estrutura da notícia na imprensa. Fundamentado no estudo de
Teun van Dijk sobre estrutura do discurso noticioso, enfoca principalmente as estruturas
temáticas e esquemáticas no discurso da notícia. Faz-se um estudo de caso a fim de
verificar a aplicabilidade do quadro analítico para a estrutura do discurso da imprensa
sugerido por van Dijk. O modelo teórico de análise discursiva de van Dijk é aplicável
também à estrutura da notícia brasileira que segue o modelo americano, ou seja, título,
lead e corpo em ordem de relevância dos fatos. A aplicação da estrutura temática e
esquemática ajuda tanto o leitor no processo de compreensão do texto como o jornalista
na confecção da notícia.
1. Introdução
A notícia é algo impossível de se definir satisfatoriamente, pois tem sentido amplo,
sendo freqüentemente tomada como toda e qualquer informação nova que expressa
algum tipo de novidade e desperta interesse do público (Erbolato, 1991; Comassetto,
2001).
Ao abordar a compreensão dos textos e a memória, van Dijk (1994) utiliza novamente
como exemplo a leitura de uma notícia de jornal para dizer que enquanto o leitor a lê,
ele armazena na memória de curto prazo a informação resultante do processo de análise
das orações que a compõem, realizando assim um processo de decodificação e de
interpretação dessas orações. E, na memória de longo prazo armazena as relações que se
estabelecem entre as proposições; entre as orações e os sentidos das mesmas.
subjetivamente, distorcidos, não são usados para exprimir ou inferir o tema ou tópico
(van Dijk, 2004).
Para van Dijk (2004, p. 135), em um texto noticioso, “o tópico mais alto ou mais
importante é apresentado na manchete, o topo da macroestrutura completa do texto é
formulado pelo lead, e as sentenças ou parágrafos iniciais do texto expressam um nível
ainda inferior da macroestrutura, apresentando detalhes importantes a respeito de tempo,
local, participantes, causas/razões ou conseqüências dos eventos principais.”
A análise da notícia permite concluir que ela expressa mais de um tópico da estrutura
temática, em outras palavras, vários parágrafos trazem informações sobre o tema da
manchete. O mesmo ocorre em relação à manchete secundária que costuma expressar,
segundo van Dijk (2004), importantes causas ou conseqüências. Apenas o nono
parágrafo apresenta uma unidade temática distinta não relacionada diretamente com a
macroestrutura da notícia.
A propósito, van Dijk (2003) ressalta que cada leitor pode eleger em uma notícia
determinadas informações mais importantes ou relevantes por conta do modelo
cognitivo pessoal. Segundo o autor, esse modelo é uma representação mental na
memória, é a cognição de um evento, de uma situação. Por exemplo, quando se lê uma
notícia sobre um acidente de trânsito no jornal, não se constrói somente uma
representação do texto, mas também uma imagem mental, um esquema mental do
acidente, pois à medida que se avança no texto, se constrói a cena mentalmente por
meio das lembranças armazenadas na memória. (van Dijk, 1994) Em outras palavras,
mediante nosso modelo cognitivo podemos organizar o processo de leitura,
compreensão e reprodução do discurso além de poder prever algumas informações
supostamente relatadas no texto.
1 Mais de 23 mil pessoas morreram em oito países da Ásia e dois da África depois que
ondas gigantescas atingiram as cidades litorâneas anteontem. Os tsunamis foram
formados por um terremoto no oceano Índico de 9 graus na escala Richter, o maior
dos últimos 40 anos. Equipes de resgate buscam os milhares de desaparecidos e
serviços de emergência, despreparados para uma catástrofe desse porte, tentam
socorrer as vítimas da tragédia.
2 Os países mais atingidos foram Sri Lanka (10.200 mortos), Índia (7.110), Indonésia
(4.912) e Tailândia (866). Bangladesh, Malásia, Maldivas, Mianmar e até os africanos
da Somália e Tanzânia – a cerca de 4.800 quilômetros de distância do epicentro do
terremoto – também tiveram vítimas. Não há informações precisas sobre o número de
desaparecidos mas a agência France Presse calcula em mais de 30 mil pessoas.
3 As ondas, que chegaram a dez metros de altura, destruíram casas, carregaram barcos e
carros, alagaram hotéis e sumiram com banhistas, crianças, pescadores e habitantes
locais. A tragédia não poupou ninguém. Centenas de turistas ocidentais que
desfrutavam das praias da região morreram. O neto do rei da Tailândia Bhumibol
Adulyadej morreu enquanto passeava de jet ski. Centenas de milhares de pessoas
estão desabrigadas.
5 “Nós não estamos equipados para lidar com um desastre dessa magnitude porque
nunca soubemos de algo assim”, afirmou o presidente do Sri Lanka, Chandrika
Kumaratunga. O país foi o mais atingido pelo maremoto.
8 Tailândia e Indonésia afirmaram que avisos públicos sobre o maremoto poderiam ter
salvo muitas vidas. Autoridades garantem que não havia como medir o perigo porque
não há um sistema internacional de monitoramento do oceano Índico, que seria caro
© Thatcher, A., James, J & Todd, A. (2005). Proceedings of CybErg 2005. The Fourth
International Cyberspace Conference on Ergonomics. Johannesburg: International
Ergonomics Association Press
Turistas
10 Diplomatas de dezenas de países chegam às regiões atingidas para ajudar os turistas
estrangeiros, que perderam dinheiro e passaportes. “Nosso paraíso se transformou em
inferno”, disse a turista americana, 28. “Nós vimos uma onda imensa vindo em nossa
direção e a garçonete se desesperou. Ela nos disse para correr e tentar salvar nossas
vidas. Então, nós corremos 1,6 quilômetros montanha acima”.
11 Segundo agências de notícias, turistas de diversos países morreram: Itália (13), Reino
Unido (11), Noruega (10), Suécia (9), EUA (8), França (6), Dinamarca (3), Bélgica
(2), Austrália (2), África do Sul (2), Finlândia (1), Nova Zelândia (1), Coréia do sul
(1), Suíça (1), Polônia (1) e Chile (1). Informações não confirmadas dão conta que 15
japoneses foram encontrados mortos. Cidadãos da Rússia, Turquia, Holanda,
Espanha, Portugal e República Tcheca estão feridos ou desaparecidos.
Como se pode perceber, a notícia foi desmembrada em várias unidades temáticas que
juntas formam uma unidade global. Nessa notícia, o tema das manchetes cobre grande
parte das unidades temáticas, com exceção do nono parágrafo que apresenta um novo
acontecimento não relacionado diretamente com o fato noticioso em questão.
Resumindo, a notícia segue uma ordem de relevância dos fatos/acontecimentos e tema
da matéria é expresso nas manchetes e no lead, se mantendo ao longo das unidades
inferiores.
© Thatcher, A., James, J & Todd, A. (2005). Proceedings of CybErg 2005. The Fourth
International Cyberspace Conference on Ergonomics. Johannesburg: International
Ergonomics Association Press
Nessa análise esquemática observa-se que a Manchete e o lead resumem a matéria e que
inexiste a categoria comentários. Segundo Lage (2005), ao contrário do que se observa
na Europa, em alguns países, a categoria comentários é rara no Brasil e se limita a
situações especiais, como é o caso de correspondentes de guerra; cujo comentário se
confunde eventualmente com a narrativa climática. O autor destaca que essa categoria
deve ser suprimida dos jornais brasileiros para não contrariar a linha editorial dos
veículos que têm sua própria área opinativa, a seção editorial.
DISCURSO DA NOTÍCIA
Ö Terremoto no fundo do
oceano Índico de 9 graus
na escala Richter causa o
maremoto.
4. Conclusão
A análise realizada permite concluir que a notícia publicada na Folha de São Paulo,
Mortes por maremoto ultrapassam 23 mil, tende a confirmar o quadro teórico das
estruturas da notícia na imprensa proposto por van Dijk. Pode-se observar que há
similaridades entre o processo de produção e de estruturas da notícia brasileira em
relação às notícias internacionais. Com a única ressalva de que no noticiário impresso
© Thatcher, A., James, J & Todd, A. (2005). Proceedings of CybErg 2005. The Fourth
International Cyberspace Conference on Ergonomics. Johannesburg: International
Ergonomics Association Press
É preciso reconhecer que essa análise apresenta deficiências, pois para se obter um
panorama significativo das estruturas da notícia na imprensa brasileira, deve-se efetuar
um novo estudo de caso com um universo maior de amostras a fim de colher dados mais
precisos.
5. Referências
Comassetto, L. R. (2001). As razões do título e do lead – Uma abordagem cognitiva da
estrutura da notícia. Acessado em 9 jan. 2005, disponível em
http://www.jornalismo.ufsc.br/bancodedados/publicacoes.html
Erbolato, M. L. (1991). Notícia, matéria-prima do jornalismo In (5 ed.). Técnicas de
Codificação em jornalismo (pp 53-55). São Paulo: Ática.
Forte Terremoto atinge ilha na Indonésia. Acessado em 26 abr. 2005, disponível em
http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u80978.shtml
Karam, T. (2003). El discurso de los derechos humanos en la prensa informativa de la
ciudad de México: el caso de la matanza de Acteal (diciembre 1997). Acessado em 30
dez. 2004, disponível em http://hiper-textos.mty.itesm.mx/mainframe_8.htm
Lage, N. (2005). Comentários à Dissertação “Discurso Jornalístico, Uma abordagem
cognitiva em Sala de Aula”, de Luzinete Niedzieluck. Acessado em 10 jan. 2005,
disponível em http://www.jornalismo.ufsc.br/bancodedados/lage-
discursojronalistico.html
Lage, N. (2001). A notícia: proposta, linguagem e ideologia. In (3 ed.). Ideologia e
Técnica da Notícia (pp. 49-133). Florianópolis: Ática.
Lage, N. (2004). Gramática da notícia. In (5 ed.). Estrutura da Notícia (pp. 16-44). São
Paulo: Ática.
Mortes por maremoto ultrapassam 23 mil. Folha de São Paulo, São Paulo, (pp. A 8)
December 28, 2004.
Silva, D. B. (1993). Brigada Militar “versus” agricultores sem terra: uma análise
discursiva e ideológica da notícia de jornal. Acessado em 30 dez. 2004, disponível em
http://www.ufsm.br/mletras/defesas/93Delcio.htm
Van Dijk, T. (1994). Estructura Discursiva y Cognicion Social. Acessado em 30 dez.
2004, disponível em http://www.unesco-
lectura.univalle.edu.co/publicaciones/Teun_Discurso.htm
Van Dijk, T. (2004). Estruturas da Notícia na Imprensa. In: I. V. Koch (6 ed.).
Cognição, discurso e interação (pp. 122-157). São Paulo: Contexto.
Van Dijk, T. (2003). Superestruturas. Acessado em 2 jan. 2004, disponível em
http://dialogica.com.ar/unr/redaccion1/unidades/unidad3/archives/000341.html