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Estrutura da notícia na imprensa: Um estudo de aplicabilidade segundo a


proposta de análise de van Dijk

Conference Paper · January 2005

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Valdenise Schmitt Francisco Fialho


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International Cyberspace Conference on Ergonomics. Johannesburg: International
Ergonomics Association Press

SHORT PAPER – PORTUGUESE

Estrutura da notícia na imprensa


Um estudo de aplicabilidade segundo a proposta de análise de van Dijk

Valdenise Schmitt Francisco Antonio Pereira Fialho, Dr. Eng.


Universidade Federal de Santa Catarina Universidade Federal de Santa Catarina
Florianópolis/SC – Brasil Florianópolis/SC - Brasil
val.schmitt@gmail.com fapfialho@aol.com
Lucília Panisset Travassos, M.Sc.
Universidade Federal de Santa Catarina
Florianópolis/SC - Brasil
lupanisset@uol.com.br

Resumo
Este artigo analisa a estrutura da notícia na imprensa. Fundamentado no estudo de
Teun van Dijk sobre estrutura do discurso noticioso, enfoca principalmente as estruturas
temáticas e esquemáticas no discurso da notícia. Faz-se um estudo de caso a fim de
verificar a aplicabilidade do quadro analítico para a estrutura do discurso da imprensa
sugerido por van Dijk. O modelo teórico de análise discursiva de van Dijk é aplicável
também à estrutura da notícia brasileira que segue o modelo americano, ou seja, título,
lead e corpo em ordem de relevância dos fatos. A aplicação da estrutura temática e
esquemática ajuda tanto o leitor no processo de compreensão do texto como o jornalista
na confecção da notícia.

Palavras-chave: Notícia, Estrutura Temática, Estrutura Esquemática, Cognição.

1. Introdução
A notícia é algo impossível de se definir satisfatoriamente, pois tem sentido amplo,
sendo freqüentemente tomada como toda e qualquer informação nova que expressa
algum tipo de novidade e desperta interesse do público (Erbolato, 1991; Comassetto,
2001).

Nenhuma das definições clássicas do jornalismo, segundo Lage (2001) é capaz de


determinar de maneira única o seu objeto de estudo, mas do ponto de vista da estrutura,
a notícia se define no jornalismo moderno, “como o relato de uma série de fatos a
partir do fato mais importante ou interessante; e de cada fato, a partir do aspecto mais
importante ou interessante.” (Lage, 2004, p. 16)

No artigo, Estruturas da Notícia na Imprensa, Teun Van Dijk, autor holandês


reconhecido no âmbito da análise do discurso e do estudo discursivo da imprensa
(Karam, 2004), propõe um quadro analítico para as estruturas do discurso noticioso
enfocando, em especial, o que denomina de organização global da notícia: as estruturas
globais como tópicos ou temas (estruturas semânticas) e os esquemas superestruturais
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(estruturas esquemáticas). Por estrutura temática, o autor entende “a organização geral


de ‘tópicos’ globais sobre os quais versa um exemplar de notícia”, sendo a análise
temática realizada à luz de uma teoria de macroestruturas semânticas. Essas,
“constituem a representação formal do conteúdo global de um texto ou diálogo e,
portanto, caracterizam parte do sentido de um texto.” As estruturas esquemáticas, por
outro lado, são usados para descrever a forma global de um discurso, sendo chamadas
teoricamente de superestruturas (van Dijk, 2004, p. 122-123).

Este trabalho tem como propósito investigar se os processos e as estruturas do modelo


discursivo da imprensa brasileira são similares ao modelo discursivo proposto por van
Dijk, centrado nas estruturas temáticas e esquemáticas do discurso noticioso. Pretende-
se verificar se a notícia, Mortes por maremoto ultrapassam 23 mil, publicada no jornal
Folha de São Paulo em 28 de dezembro de 2004, adota estruturas semelhantes ao
discurso da notícia impressa internacional.

2. Estrutura de um discurso jornalístico


Segundo van Dijk (2003), os textos jornalísticos têm tanto uma estrutura semântica
global como uma estrutura esquemática global.

2.2 Estrutura Temática


A estrutura temática de uma notícia representa uma coleção parágrafos, cada qual com
uma unidade temática, apresentados em ordem relevância e de importância temática
(van Dijk, 2004). A ordem de relevância “indica ao leitor qual informação é mais
importante ou proeminente no texto”. (van Dijk, 2004, p. 123)

Segundo Silva (2001) as estruturas temáticas “se constituem na organização de tópicos


globais sobre os quais versa uma notícia, analisados em termos de macroestruturas
semânticas, por representarem formalmente o conteúdo global do texto”. Um leitor de
jornal, por exemplo, é capaz de dizer ‘sobre o que’ versava um texto ou uma
conversação, isto é, é capaz de “resumir unidades bastante complexas de informação por
meio de uma ou mais sentenças, que exprimem o ponto principal, o tema ou o tópico da
informação”. Esses são unidades cognitivas, pois “representam como o texto é
compreendido, o que é considerado importante e como as relevâncias são estocadas na
memória”. (van Dijk, 2004, p. 129)

Ao abordar a compreensão dos textos e a memória, van Dijk (1994) utiliza novamente
como exemplo a leitura de uma notícia de jornal para dizer que enquanto o leitor a lê,
ele armazena na memória de curto prazo a informação resultante do processo de análise
das orações que a compõem, realizando assim um processo de decodificação e de
interpretação dessas orações. E, na memória de longo prazo armazena as relações que se
estabelecem entre as proposições; entre as orações e os sentidos das mesmas.

Entre os traços específicos da organização temática do discurso noticioso, destaca-se a


manchete e o lead, pois, geralmente, ajudam a formular a macroestrutura hipotética de
um item noticioso. Quando não cumprem esse papel, são formalmente ou
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subjetivamente, distorcidos, não são usados para exprimir ou inferir o tema ou tópico
(van Dijk, 2004).

Para van Dijk (2004, p. 135), em um texto noticioso, “o tópico mais alto ou mais
importante é apresentado na manchete, o topo da macroestrutura completa do texto é
formulado pelo lead, e as sentenças ou parágrafos iniciais do texto expressam um nível
ainda inferior da macroestrutura, apresentando detalhes importantes a respeito de tempo,
local, participantes, causas/razões ou conseqüências dos eventos principais.”

Os mesmos princípios utilizados na produção estratégica do discurso são aceitos para a


leitura estratégica, compreensão e memorização do leitor, pois “manchetes e leads são
lidos e interpretados em primeiro lugar, e sua informação formal ou semântica inicia um
complexo processo de compreensão...” (van Dijk, 2004)

Considerando-se, por exemplo, a notícia Mortes por maremoto ultrapassam 23 mil,


publicado na Folha de São Paulo em 28 de dezembro de 2004, sobre o maremoto que
atingiu oito países da Ásia e dois da África, o leitor não será capaz de armazenar em sua
memória todas as informações sintáticas, isto é, não conseguirá reproduzir literalmente
cada sentença da notícia, mas é capaz de dizer o tema, do que se tratava a notícia além
de outras informações (van Dijk, 1994).

A análise da notícia permite concluir que ela expressa mais de um tópico da estrutura
temática, em outras palavras, vários parágrafos trazem informações sobre o tema da
manchete. O mesmo ocorre em relação à manchete secundária que costuma expressar,
segundo van Dijk (2004), importantes causas ou conseqüências. Apenas o nono
parágrafo apresenta uma unidade temática distinta não relacionada diretamente com a
macroestrutura da notícia.

2.2 Estrutura Esquemática


Segundo van Dijk (2004) os artigos noticiosos têm uma forma convencional, um
esquema que organiza o conteúdo global que pode ser chamado tanto de superestrutura
como de “esquema”. Essa superestrutura ou esquema é formado pelas seguintes
categorias:

• Manchete e o lead: expressam diretamente as macroproposições de nível mais alto


do discurso noticioso. A manchete é a primeira categoria, a que abre o discurso.
Ambas funcionam como um sumário e são as categorias mais óbvias do discurso da
notícia.
• Reações Verbais: refere-se às citações dos entrevistados presentes no discurso.
• Evento Principal: apresenta a descrição dos eventos que são propriamente a notícia.
• Conseqüências: organiza todos os eventos que são descritos como tendo sido
causados pelo Evento Principal.
• Comentário: contêm conclusões, expectativas, especulações e outras informações
sobre eventos no final da notícia, mas sua presença não é obrigatória.
• Background: informações que não fazem parte dos eventos noticiosos atuais tais
como, história (eventos do passado e do presente), eventos prévios (evento
específico que precede os eventos principais atuais podendo ser tomada como uma
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causa ou condição direta) e contexto (organiza a informação sobre a situação atual


na qual o evento principal é elemento significativo).

O vínculo entre macro e superestrutura em uma notícia de jornal é estabelecido na


manchete e no Lead. Nessas duas categorias, van Dijk (2003) ressalta que encontramos
o resumo ou a introdução da notícia sendo que ambas funcionam como uma expressão
direta da macroestrutura discursiva.

Lage (2005) discorda do entendimento tradicional de que o lead é sempre o resumo de


uma notícia como admite van Dijk. Para ele “o lead-sumário ocorre, principalmente em
jornalismo impresso diário, quando se acompanha o desenrolar de uma situação por
certo período de tempo (em regra, 24 horas) e nenhum acontecimento é muito mais
relevante do que os demais. Nem sempre a informação principal – o fato mais destacado
de uma série, que é aquele a que se reporta o lead – resume a matéria. A origem do lead
é a fala informativa corrente...”.

A propósito, van Dijk (2003) ressalta que cada leitor pode eleger em uma notícia
determinadas informações mais importantes ou relevantes por conta do modelo
cognitivo pessoal. Segundo o autor, esse modelo é uma representação mental na
memória, é a cognição de um evento, de uma situação. Por exemplo, quando se lê uma
notícia sobre um acidente de trânsito no jornal, não se constrói somente uma
representação do texto, mas também uma imagem mental, um esquema mental do
acidente, pois à medida que se avança no texto, se constrói a cena mentalmente por
meio das lembranças armazenadas na memória. (van Dijk, 1994) Em outras palavras,
mediante nosso modelo cognitivo podemos organizar o processo de leitura,
compreensão e reprodução do discurso além de poder prever algumas informações
supostamente relatadas no texto.

Conforme van Dijk (2004), as categorias de um esquema de notícia seguem alguns


princípios ordenadores. O sumário (Manchete e Lead) vem sempre em primeiro lugar e
a categoria Comentário, geralmente, no fim da notícia. Depois do Sumário pode
aparecer o Evento Principal, o Background e, por último, os Comentários. No entanto,
essas regras de ordenação para o autor não são rígidas e gerais, porque a estrutura de um
discurso noticioso pode seguir uma ordem opcional, podendo diferir de cultura para
cultura, de jornal para jornal e de jornalista para jornalista. Sobre os princípios
ordenadores, Lage (2005) menciona que as demais categorias da notícia “sequem-se ao
lead e se ordenam com variações que consideram exatamente a importância/interesse
desses tópicos.”

3. Análise de uma notícia


Para verificar como funcionam na prática os conceitos sobre estrutura temática e
esquemática elaborados por van Dijk, realiza-se uma atividade de observação tomando
como corpus a notícia Mortes por maremoto ultrapassam 23 mil, retirada da Folha de
São Paulo em 28 de dezembro de 2004 sobre a tragédia que matou mais de 280 mil
indivíduos de diversas nacionalidades na Ásia, no final de 2004. (“Forte Terremoto”,
2005). Abaixo, a notícia na íntegra.
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Mortes por maremoto ultrapassam 23 mil


Equipes de socorro se dizem chocadas com a destruição causada pelas ondas em dez
países; milhares continuam desaparecidos

1 Mais de 23 mil pessoas morreram em oito países da Ásia e dois da África depois que
ondas gigantescas atingiram as cidades litorâneas anteontem. Os tsunamis foram
formados por um terremoto no oceano Índico de 9 graus na escala Richter, o maior
dos últimos 40 anos. Equipes de resgate buscam os milhares de desaparecidos e
serviços de emergência, despreparados para uma catástrofe desse porte, tentam
socorrer as vítimas da tragédia.

2 Os países mais atingidos foram Sri Lanka (10.200 mortos), Índia (7.110), Indonésia
(4.912) e Tailândia (866). Bangladesh, Malásia, Maldivas, Mianmar e até os africanos
da Somália e Tanzânia – a cerca de 4.800 quilômetros de distância do epicentro do
terremoto – também tiveram vítimas. Não há informações precisas sobre o número de
desaparecidos mas a agência France Presse calcula em mais de 30 mil pessoas.

3 As ondas, que chegaram a dez metros de altura, destruíram casas, carregaram barcos e
carros, alagaram hotéis e sumiram com banhistas, crianças, pescadores e habitantes
locais. A tragédia não poupou ninguém. Centenas de turistas ocidentais que
desfrutavam das praias da região morreram. O neto do rei da Tailândia Bhumibol
Adulyadej morreu enquanto passeava de jet ski. Centenas de milhares de pessoas
estão desabrigadas.

4 Diante da destruição dos serviços de comunicação, redes de energia, estradas e casas,


as equipes de socorro de dizem chocadas. “Estamos acostumados a lidar com
desastres em um único país. Mas acho que algo assim, em tantos países e ilhas, não
tem precedentes. Nunca vimos isso antes”, disse Yvete Stevens, chefe dos serviços de
emergência das Nações Unidas.

5 “Nós não estamos equipados para lidar com um desastre dessa magnitude porque
nunca soubemos de algo assim”, afirmou o presidente do Sri Lanka, Chandrika
Kumaratunga. O país foi o mais atingido pelo maremoto.

6 Pouco a pouco aparecem os corpos dos desaparecidos. “Temos um longo caminho


para juntar os corpos”, disse o premiê da Tailândia, Thaksin Shinawatra, para quem o
número de 866 mortos ainda deve crescer muito.

7 Na Indonésia, as equipes de resgate encontraram corpos em árvores, rios e sob


escombros na Província de Aceb, a mais devastada pelas ondas. Os trabalhos
precisam ser rápidos para evitar o perigo de epidemias. “Espero que ainda tenham
covas disponíveis”, disse Mustofa, prefeito de Bireues, em Aceh. Milhares ajudam a
recolher os cadáveres na região, enquanto os parentes procuram os desaparecidos nos
hospitais.

8 Tailândia e Indonésia afirmaram que avisos públicos sobre o maremoto poderiam ter
salvo muitas vidas. Autoridades garantem que não havia como medir o perigo porque
não há um sistema internacional de monitoramento do oceano Índico, que seria caro
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demais. Especialistas americanos que detectaram o terremoto disseram ter tentado


fazer o alerta mas não sabiam a quem recorrer.

9 Ontem, um novo terremoto, de 6 graus na escala Richter, atingiu o arquipélago


indiano de Nicobar, segundo o departamento de Metereologia da Índia. Não foram
divulgadas novas perdas.

Turistas
10 Diplomatas de dezenas de países chegam às regiões atingidas para ajudar os turistas
estrangeiros, que perderam dinheiro e passaportes. “Nosso paraíso se transformou em
inferno”, disse a turista americana, 28. “Nós vimos uma onda imensa vindo em nossa
direção e a garçonete se desesperou. Ela nos disse para correr e tentar salvar nossas
vidas. Então, nós corremos 1,6 quilômetros montanha acima”.

11 Segundo agências de notícias, turistas de diversos países morreram: Itália (13), Reino
Unido (11), Noruega (10), Suécia (9), EUA (8), França (6), Dinamarca (3), Bélgica
(2), Austrália (2), África do Sul (2), Finlândia (1), Nova Zelândia (1), Coréia do sul
(1), Suíça (1), Polônia (1) e Chile (1). Informações não confirmadas dão conta que 15
japoneses foram encontrados mortos. Cidadãos da Rússia, Turquia, Holanda,
Espanha, Portugal e República Tcheca estão feridos ou desaparecidos.

Em relação à estrutura temática discutida na seção anterior, pode-se concluir que a


primeira e a segunda sentença do primeiro parágrafo especificam alguns detalhes da
manchete enquanto que a última sentença do parágrafo exibe dados da manchete
secundária. O segundo parágrafo especifica as conseqüências da tragédia. O terceiro,
volta a mencionar informações acerca da tragédia, causas e novamente conseqüências.
O quarto parágrafo apresenta os resultados, a destruição após a passagem das ondas
gigantes. O quinto parágrafo relaciona a tragédia com eventos anteriores e fala do
despreparo dos países para atender às vítimas. O próximo parágrafo volta a narrar
minuciosamente à manchete principal e secundária. A primeira sentença do sétimo
parágrafo também especifica detalhes das manchetes. As sentenças desse parágrafo
tratam das ações que foram desencadeadas diante dos efeitos do maremoto. O oitavo
parágrafo destaca que a tragédia poderia ter sido evitada se as autoridades tivessem
conseguido enviar um alerta. O parágrafo seguinte apresenta uma unidade temática
distinta das demais, discorre sobre um terremoto no arquipélago indiano de Nicobar. A
seguir, a notícia apresenta uma retranca, intitulada Turistas, cujo primeiro parágrafo
especifica a chegada de diplomatas à região e um depoimento de um turista que viu a
onda gigante. O último parágrafo relata o número e a nacionalidade das vítimas.

Como se pode perceber, a notícia foi desmembrada em várias unidades temáticas que
juntas formam uma unidade global. Nessa notícia, o tema das manchetes cobre grande
parte das unidades temáticas, com exceção do nono parágrafo que apresenta um novo
acontecimento não relacionado diretamente com o fato noticioso em questão.
Resumindo, a notícia segue uma ordem de relevância dos fatos/acontecimentos e tema
da matéria é expresso nas manchetes e no lead, se mantendo ao longo das unidades
inferiores.
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A estrutura esquemática da notícia é apresentada na Figura 1, conforme o modelo de


análise sugerido por van Dijk (2004).

Nessa análise esquemática observa-se que a Manchete e o lead resumem a matéria e que
inexiste a categoria comentários. Segundo Lage (2005), ao contrário do que se observa
na Europa, em alguns países, a categoria comentários é rara no Brasil e se limita a
situações especiais, como é o caso de correspondentes de guerra; cujo comentário se
confunde eventualmente com a narrativa climática. O autor destaca que essa categoria
deve ser suprimida dos jornais brasileiros para não contrariar a linha editorial dos
veículos que têm sua própria área opinativa, a seção editorial.

Quanto às demais categorias, todas foram preenchidas com informações do próprio


corpus da notícia segundo o entendimento da autora deste artigo.
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Figura 1. Estrutura Esquemática

DISCURSO DA NOTÍCIA

Sumário Relato Jornalístico

Manchete Lead Episódio Comentários

Ö Mortes por Ö Mais de 23 mil


maremoto pessoas morreram
ultrapassam em oito países da Eventos Conseqüências/ Expectativa Avaliação
23 mil Ásia e dois da África Reações
depois que ondas
gigantescas atingiram
as cidades litorâneas
anteontem. Os Ö Maremoto mata mais de 23 mil pessoas e deixa centenas de feridos e
tsunamis foram desabrigados; milhares de pessoas continuam desaparecidas; perigo de
formados por um epidemia; turistas perderam dinheiro e passaporte e alguns morreram.
terremoto no oceano Ö Citação de Yvete Stevens, chefe dos serviços de emergência das Nações
Índico de 9 graus na Unidas; do presidente do Sri Lanka, Chandrika Kumaratunga; do premiê da
escala Richter, o Tailândia, Thaksin Shinawatra; do prefeito de Bireues, Mustofa; de uma
maior dos últimos 40 sobrevivente, Moira Lee.
anos. Equipes de
resgate buscam os
milhares de
desaparecidos e
serviços de
emergência,
Evento Principal Background
despreparados para
Ö Maremoto atinge
uma catástrofe desse
cidades litorâneas da
porte, tentam
Ásia e da África e mata
socorrer as vítimas
da tragédia. milhares de pessoas
História

Ö Não há registros de algum desastre dessa


Circunstâncias magnitude.
Ö Novo terremoto aconteceu no dia 27 de
dezembro no arquipélago de Nicobar a 6 graus na
escala Richter.

Contexto Eventos Prévios

Ö Terremoto no fundo do
oceano Índico de 9 graus
na escala Richter causa o
maremoto.

4. Conclusão
A análise realizada permite concluir que a notícia publicada na Folha de São Paulo,
Mortes por maremoto ultrapassam 23 mil, tende a confirmar o quadro teórico das
estruturas da notícia na imprensa proposto por van Dijk. Pode-se observar que há
similaridades entre o processo de produção e de estruturas da notícia brasileira em
relação às notícias internacionais. Com a única ressalva de que no noticiário impresso
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nacional, a categoria Comentários, com opiniões pessoais do jornalista sobre o assunto,


não costuma aparecer.

É preciso reconhecer que essa análise apresenta deficiências, pois para se obter um
panorama significativo das estruturas da notícia na imprensa brasileira, deve-se efetuar
um novo estudo de caso com um universo maior de amostras a fim de colher dados mais
precisos.

5. Referências
Comassetto, L. R. (2001). As razões do título e do lead – Uma abordagem cognitiva da
estrutura da notícia. Acessado em 9 jan. 2005, disponível em
http://www.jornalismo.ufsc.br/bancodedados/publicacoes.html
Erbolato, M. L. (1991). Notícia, matéria-prima do jornalismo In (5 ed.). Técnicas de
Codificação em jornalismo (pp 53-55). São Paulo: Ática.
Forte Terremoto atinge ilha na Indonésia. Acessado em 26 abr. 2005, disponível em
http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u80978.shtml
Karam, T. (2003). El discurso de los derechos humanos en la prensa informativa de la
ciudad de México: el caso de la matanza de Acteal (diciembre 1997). Acessado em 30
dez. 2004, disponível em http://hiper-textos.mty.itesm.mx/mainframe_8.htm
Lage, N. (2005). Comentários à Dissertação “Discurso Jornalístico, Uma abordagem
cognitiva em Sala de Aula”, de Luzinete Niedzieluck. Acessado em 10 jan. 2005,
disponível em http://www.jornalismo.ufsc.br/bancodedados/lage-
discursojronalistico.html
Lage, N. (2001). A notícia: proposta, linguagem e ideologia. In (3 ed.). Ideologia e
Técnica da Notícia (pp. 49-133). Florianópolis: Ática.
Lage, N. (2004). Gramática da notícia. In (5 ed.). Estrutura da Notícia (pp. 16-44). São
Paulo: Ática.
Mortes por maremoto ultrapassam 23 mil. Folha de São Paulo, São Paulo, (pp. A 8)
December 28, 2004.
Silva, D. B. (1993). Brigada Militar “versus” agricultores sem terra: uma análise
discursiva e ideológica da notícia de jornal. Acessado em 30 dez. 2004, disponível em
http://www.ufsm.br/mletras/defesas/93Delcio.htm
Van Dijk, T. (1994). Estructura Discursiva y Cognicion Social. Acessado em 30 dez.
2004, disponível em http://www.unesco-
lectura.univalle.edu.co/publicaciones/Teun_Discurso.htm
Van Dijk, T. (2004). Estruturas da Notícia na Imprensa. In: I. V. Koch (6 ed.).
Cognição, discurso e interação (pp. 122-157). São Paulo: Contexto.
Van Dijk, T. (2003). Superestruturas. Acessado em 2 jan. 2004, disponível em
http://dialogica.com.ar/unr/redaccion1/unidades/unidad3/archives/000341.html

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