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Economia e Política da Energia

Maria João Seabra


Up202202835

O presente trabalho individual foi proposto no âmbito da unidade curricular de


Economia e Política da Energia. Dado o propósito do mesmo, optei por escolher a
Pergunta 2.2 e a 4.2 uma vez que, dos temas sugeridos, estes foram os que me
despertaram maior interesse e capacidade de resposta.
Pergunta 2.2.
Primeiramente, é importante perceber que o crescimento econômico e
desenvolvimento social reflete-se nitidamente na exploração intensiva de recursos
naturais, nos padrões de produção e de consumo e nos sistemas energéticos intensivos
em combustíveis fósseis. De facto, é sabido que a problemática da atual transição
energética se deve maioritariamente à crescente procura de energia, motivada pelo
aumento da população e expansão da economia mundial. Desta forma, os sistemas
energéticos atualmente em vigor contribuem negativamente para as mudanças
climáticas, sendo por isso inegavelmente importante e urgente investir numa transição
energética que se direcione para as fontes de energia renovável.
De facto, no Acordo de Paris, foi delineado um plano de ação para limitar o
aumento da temperatura a 1,5º C. Naturalmente, as metas ambiciosas adotadas no
Acordo exigirão uma redução rápida das emissões de CO2. Nesta ordem de ideias, a
meu ver, a promessa dos líderes globais é, sem dúvida, um objetivo irrealista uma vez
que a dependência dos combustíveis fosseis mantem-se e o processo de investimento
em energias limpas é bastante complexo. Isto porque, cerca de 80% da energia gasta
em todo o mundo provém da queima de combustíveis fósseis. 1
Numa fase inicial, é importante esclarecer que o lock-in de carbono é o
processo pelo qual as economias industrializadas se encontram presas em sistemas
energéticos baseados nos combustíveis fósseis. 2 Assim sendo, para contornar este
entrave, é fundamental apostar no desenvolvimento de soluções intermediárias de
mitigação das emissões de Gases de Efeito de Estufa associadas aos combustíveis
fósseis. Como tal, deve-se ter em foco o aumento da eficiência energética, o uso de
novas tecnologias de baixa-emissão de carbono e o desenvolvimento de conceitos
tecnológicos de remoção de CO2, através da captura, utilização e armazenamento do
mesmo.

1
(Pereta & Furtado, 2021)
2
(Marques, Economia Política da Energia, 2022)
Economia e Política da Energia
Maria João Seabra
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Atualmente, existem duas tecnologias capazes de mitigar as emissões diretas


das atividades que diferem no destino dado ao CO2 capturado. A primeira é descrita
como carbon capture and storage (CCS) e dedica-se à captura e armazenamento de
CO2, já a segunda denomina-se carbon capture utilization (CCU) e volta-se para a
captura e utilização de CO2.
Relativamente à CCS, sabe-se que os principais desafios associados ao
armazenamento dizem respeito aos riscos de vazamento do CO2. Por outro lado, a
alternativa de CCU, visa a utilização tecnológica, biológica e química do CO2 e
apresenta oportunidades econômicas que podem ser aproveitadas para gerar
encadeamentos positivos no sistema produtivo. Além disso, esta tecnologia é
considerada indispensável uma vez que reduziu 8% do total das emissões globais de
CO2 em 2015. Por certo, apesar de sugerir uma trajetória de perpetuação do regime
dos combustíveis fósseis, esta tecnologia pode atenuar a força do lock-in do carbono.3
Sem dúvida, uma resposta eficaz às alterações climáticas exigirá mudanças
rápidas em larga escala nos sistemas existentes.4 No entanto, reverter o lock-in implica
um esforço e investimento avultado no curto prazo.
Note-se que a dependência da trajetória ocorre quando existe resistência a
mudanças quando determinadas condições sociais e económicas são mais favoráveis.
Dessa forma, o lock-in acarreta inúmeros impactos negativos uma vez que inibe as
mudanças consideradas desejáveis.
É possível identificar três tipo de lock-in:

• Lock-in infraestrutural e tecnológico;


• Lock -in institucional e governamental;
• Lock-in de comportamentos e hábitos individuais;5
A nível infraestrutural, sabe-se que as emissões de carbono provenientes de
atividades em edifícios resultam de diversas causas, algumas fáceis e rápidas de
mudar, outras dificilmente invertíveis. As emissões associadas aos edifícios não
dizem só respeito à energia consumida durante a construção e utilização do mesmo, é
também essencial contabilizar as emissões incorporadas nos materiais usados e
necessidades de manutenção ao longo do seu ciclo de vida. Desta forma, cabe aos
arquitetos compreenderem e aconselharem projetos mais sustentáveis que minimizem
os impactos deste sector.

3
(Pereta & Furtado, 2021)
4
(Seto, et al., 2016)
5
(Marques, Economia Política da Energia, 2022)
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Maria João Seabra
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Por outro lado, no ramo institucional, é fulcral repensar as tomadas de decisão


que afetam a produção e consumo de energia. No que diz respeito à política nacional,
existem grandes barreiras no que toca à adoção de uma trajetória mais neutra em
carbono. Naturalmente, aqueles com interesses ameaçados por uma transição
mobilizar-se-ão para manter regras, instituições, e sistemas existentes. Como é de
esperar, mesmo numa transição bem-sucedida, é provável que haja alguma resistência
tanto dentro da instituição que inicia a mudança como em outras instituições e
sectores.6
A meu ver, um exemplo de uma iniciativa do Estado bastante interessante é a
dedicação de uma parte do orçamento do Fundo Ambiental para a promoção da
compra de veículos elétricos. Além disso, existem outras vantagens nomeadamente
do ponto de vista fiscal, como a isenção do Imposto Sobre Veículos (ISV) e do
Imposto Único de Circulação (IUC), assim como a dedução 100% no Imposto Sobre
o Valor Acrescentado (IVA) em carros elétricos desde que o valor não ultrapasse os
62.500€.7
Por último, através de estudos de comportamento, admite-se que as alterações
climáticas são em grande parte causadas por padrões insustentáveis nos
comportamentos humanos. Evidentemente, o consumo doméstico de energia varia
consideravelmente de acordo com os diferentes estilos de vida, hábitos, rotinas e
preferências. Por essa razão, torna-se crucial desencadear a mudança de
comportamento. Com efeito, mais de 75% da população nos países desenvolvidos são
conscientes das alterações climáticas, mas, lamentavelmente, uma percentagem bem
mais reduzida dá-lhe a devida importância. Por certo, o facto de verem as alterações
climáticas como uma problemática que recai sobre ações coletivas leva a um grande
entrave à mudança. Como tal, os indivíduos sentem que têm pouco impacto individual
e, portanto, demonstram pouco incentivo para preservar bens públicos ambientais
globais.8
Concluindo, apesar de tudo o que foi dito anteriormente, acredito que com as
políticas certas, o compromisso dos governos, e a sensibilização dos cidadãos
podemos promover um futuro mais verde, seguro e saudável. Seguramente, é urgente
que o governo e as empresas se consciencializem das suas responsabilidades
ambientais. No entanto, o ser humano, enquanto cidadão e consumidor, pode fazer a

6
(Seto, et al., 2016)
7
(Aguiar, 2021)
8
(Seto, et al., 2016)
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diferença como um todo uma vez que a nosso poder está na influência que podemos
fazer nos decisores políticos e nas empresas, cujas ações têm um potencial de impacto
bastante considerável.
Pergunta 4.2.
Em primeiro lugar, é importante esclarecer que, o gás de xisto ou gás não-
convencional é um gás natural encontrado no interior de uma rocha sedimentar
denominada xisto argiloso.
Naturalmente, à medida que a energia se torna cada vez mais escassa, a
exploração e utilização do gás de xisto muda drasticamente o padrão mundial de
fornecimento de gás natural. 9 Efetivamente, o gás de xisto tomou uma grande
parcela do que antes era abastecido pelo carvão, principalmente no setor de geração
de eletricidade, ajudando a reduzir as emissões de CO2.
A razão para tanta exaltação relativamente a esta energia alternativa, é o facto
de poder mudar a geopolítica energética ao fornecer energia barata para muitos
Estados que dependem de suprimentos de regiões politicamente sensíveis. Isto
acontece porque os recursos de gás de xisto são geograficamente mais bem
distribuídos do que o petróleo e o gás convencionais. Além do que foi mencionado,
entre os que defendem o seu uso, é considerado um combustível adequado a uma
matriz energética global mais sustentável.
Apesar de ser bastante falado na atualidade, é importante notar que o gás de
xisto não é novidade, de facto, o primeiro poço de gás de xisto americano começou
a operar em 1821, quase dois séculos antes da revolução do gás de xisto nos EUA.
No entanto, a extração de gás de xisto não era viável há dois séculos atrás já que não
era economicamente rentável. Por certo, naquela altura, extrair gás do xisto era
extremamente difícil e, portanto, bastante dispendioso. Como resultado, a extração
de gás de xisto não era comercialmente viável até aos dias de hoje. Atualmente, dado
o aumento dos preços de gás e petróleo, os avanços na perfuração horizontal e na
fratura hidráulica e a inovação tecnológica, a exploração comercial de gás de xisto
melhorou bastante na relação de custo-benefício.10 Sem dúvida, este desenvolvimento
de energias alternativas, teve um grande impacto positivo tanto nível local, como
nacional e global.

9
(Li, Liu, Xiao, Zhang, & Chai, 2018)
10
(Boff & Ouriques, 2018)
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Em termos ambientais, é certo que o gás é mais limpo do que o carvão ou o


petróleo após combustão e que emite menos poluentes atmosféricos locais. De facto,
estima-se que haja quedas muito significativas nas emissões de CO2 para cenários de
gás em abundância. Contudo, podem estar associadas algumas externalidades
negativas uma vez que as águas residuais de gás de xisto são libertadas para
aquíferos, rios e riachos, comprometendo a qualidade da água. Efetivamente, o
processo de fraturamento hidráulico pode provocar a contaminação de lençóis
freáticos e da água destinada ao consumo humano. Inevitavelmente, estes impactos
ambientais influenciam tanto os recursos de águas superficiais como de águas
subterrâneas. No que diz respeito ao esgotamento das águas superficiais, é sabido que
a quantidade de água da superfície utilizada para o desenvolvimento de gás de xisto é
reduzida, em comparação com a intensidade da água na produção da maioria dos
outros combustíveis fósseis. Por outro lado, no que toca ao esgotamento das águas
subterrâneas, esta externalidade depende de fatores geológicos bem como de fatores
económicos.
Em termos económicos, nos países com poços de petróleo e gás de xisto, há
um crescimento de emprego. De facto, durante a Grande Recessão, o crescimento do
xisto é responsável por um aumento do emprego nos EUA de cerca de 0,4%.11
Positivamente, vastas reservas de gás de xisto, oferecem importante potencial para a
recuperação da economia americana, e até mesmo uma autossuficiência energética
dos Estados Unidos.12 Com o desenvolvimento do xisto americano, os recursos de gás
podem gerar externalidades positivas significativas já que o preço do gás natural é
menor em relação a outros combustíveis. Além disso, o aumento da oferta é
significativo o que impulsiona a substituição do carvão pelo gás na produção de
eletricidade.
Por fim, a expansão dos oleodutos pode ser vista como um entrave se ocorrer
mais lentamente do que é socialmente desejável.13 Além disso, há interações
complexas entre a exploração de gás de xisto e a armazenagem de captura de
carbono.14

11
(Mason, Muehlenbachs, & Olmstead, 2014)
12
(Boff & Ouriques, 2018)
13
(Mason, Muehlenbachs, & Olmstead, 2014)
14
(Li, Liu, Xiao, Zhang, & Chai, 2018)
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Maria João Seabra
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Concluindo, como é possível perceber pela Figura 1, atualmente o gás de xisto


tornou-se a energia do momento, tanto à escala global como regional. Refletindo
tudo o que foi mencionado anteriormente, na minha opinião, é viável prever-se um
cenário para o futuro do gás de xisto uma vez que apresenta uma série de vantagens
ambientais, económicas e geopolíticas quando comparado com outras alternativas. No
entanto, assim como a elasticidade dos preços se altera ao longo do tempo, há diversos
fatores que podem inviabilizar esta fonte de energia.

A realização deste trabalho revelou-se extremamente pertinente, uma vez que


enalteceu assuntos abordados na unidade curricular, ampliando os conhecimentos
relativos ao tema em questão. Acredito que foi sem dúvida bastante enriquecedor dada
a oportunidade de desenvolvermos e explorarmos temas que nos espertam especial
interesse. De certo modo, senti dificuldade na realização deste trabalho pois grande
parte dos artigos disponibilizados estavam escritos em inglês, o que para mim
representa uma adversidade.

Contagem de palavras: 1912 palavras


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Referências bibliográficas

Boff, G. B., & Ouriques, H. R. (10 de Maio de 2018). Energia e hegemonia dos
Estados Unidos: uma análise do petróleo e do gás de xisto a partir da
perspectiva dos sistemas-mundo.
Henriques, S. T. (s.d.). Economia e Política da Energia. Lock-in carbónico.
Li, W., Liu, Y., Xiao, S., Zhang, Y., & Chai, L. (13 de Janeiro de 2018). An
Investigation of the Underlying Evolution of.
Marques, S. (s.d.). ECONOMIA E POLÍTICA DA ENERGIA. Lock-in carbónico .
Mason, C., Muehlenbachs, L., & Olmstead, S. (Novembro de 2014). The Economics
of Shale Gas Development.
Pereta, M., & Furtado, A. T. (26, 27, 28 de Maio de 2021). DESAFIOS E
ALTERNATIVAS PARA O DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
BRASILEIRO. PRÉ-SAL E LOCK-IN DO CARBONO: IMPLICAÇÕES DE
UM NICHO NA, p. 19.
Seto, K., Davis, S., Mitchell, R., Stokes,, E., Unruh, G., & Urge-Vorsatz , D. (2 de
Setembro de 2016). Carbon Lock-In. Carbon Lock-In: Types,, p. 31.

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