Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
cartas raciais
É SÓ O COMEÇO
O racismo e a imprensa brasileira
FLAVIA LIMA
Editores na gráfica do Chicago Defender, fundado por negros, em foto de 1944: no Brasil, no século XX, a imprensa equiparou
meninos negros a “pivetes” e “menores abandonados” FOTO: GORDON COSTER_ACERVO THE LIFE PICTURE VIA
GETTY IMAGES
N
uma conversa com um intelectual sobre a presença de negros nos
meios de comunicação brasileiros, ouvi a certa altura que, hoje em
dia, um jornalista negro entra para uma redação de modo diferente:
não precisa mais parecer menos negro, alisando o cabelo, escondendo
suas origens, suas preferências culturais. Enquanto ele falava, eu me fazia
uma única pergunta: De quantos jornalistas negros estamos falando
mesmo?
https://piaui.folha.uol.com.br/materia/racismo-e-a-imprensa-brasileira/ 1/13
19/07/2020 É só o começo: O racismo e a imprensa brasileira
O diagnóstico foi preciso, mas o episódio mostra que a imprensa não tem
pressa em oferecer respostas. Com a presença dos jornalistas negros, a
GloboNews repercutiu os protestos e pretendeu discutir a questão racial.
No curso do programa, porém, o debate político foi se deslocando para o
território dos depoimentos pessoais, que são importantes, mas não
exigem o fundamental: a crítica aprofundada do racismo.
https://piaui.folha.uol.com.br/materia/racismo-e-a-imprensa-brasileira/ 3/13
19/07/2020 É só o começo: O racismo e a imprensa brasileira
“O
racismo é moralmente condenável porque atribui a um
indivíduo particular características tidas como representativas
da categoria a que ele pertence. O racista tira conclusões sobre
pessoas sem conhecê-las, o que é profundamente injusto e
frequentemente fatal, como se constata nas abordagens policiais de
negros nos Estados Unidos ou no Brasil.”
https://piaui.folha.uol.com.br/materia/racismo-e-a-imprensa-brasileira/ 4/13
19/07/2020 É só o começo: O racismo e a imprensa brasileira
-18% -71%
https://piaui.folha.uol.com.br/materia/racismo-e-a-imprensa-brasileira/ 2/13
19/07/2020 É só o começo: O racismo e a imprensa brasileira
https://piaui.folha.uol.com.br/materia/racismo-e-a-imprensa-brasileira/ 5/13
19/07/2020 É só o começo: O racismo e a imprensa brasileira
Na Condé Nast, que publica títulos como Vogue, Vanity Fair e The New
Yorker, jornalistas passaram a reclamar publicamente do racismo dentro
da empresa. O barulho cresceu a tal ponto que a diretora editorial do
grupo, Anna Wintour, que há décadas responde pela Vogue, a marca
mais elitista da empresa, teve que reconhecer “erros” ao “publicar
imagens e histórias” que podem ter sido “dolorosas ou intolerantes” para
os negros.
https://piaui.folha.uol.com.br/materia/racismo-e-a-imprensa-brasileira/ 6/13
19/07/2020 É só o começo: O racismo e a imprensa brasileira
https://piaui.folha.uol.com.br/materia/racismo-e-a-imprensa-brasileira/ 7/13
19/07/2020 É só o começo: O racismo e a imprensa brasileira
E
m fevereiro de 2018, na comemoração dos seus 97 anos, a Folha de
S.Paulo, jornal onde hoje exerço a função de ombudsman, convidou
o jornalista William Waack para compor a mesa que discutiria o
tema “A guerra das palavras: os limites do politicamente correto”. Era a
primeira vez que o escutava desde seu desligamento da Globo, ocorrido
em razão do vazamento de um vídeo em que, irritado com a buzina de
um motorista, disse que aquilo era “coisa de preto”.
https://piaui.folha.uol.com.br/materia/racismo-e-a-imprensa-brasileira/ 8/13
19/07/2020 É só o começo: O racismo e a imprensa brasileira
Narloch não entendeu que esse mesmo brasileiro pode pedir que a
proposta de regulamentação do trabalho doméstico não avance, pois essa
seria uma função pautada pelo afeto e em relação à qual não cabe
intervenção do Estado. Também pode dizer que não tem mais esse
negócio de câmbio a 1,80 real, com o qual até empregada doméstica vai à
Disney, uma festa danada. Ou então deixar que um menino de 5 anos se
vire sozinho dentro de um elevador. Para que esmurrar o sofá?
https://piaui.folha.uol.com.br/materia/racismo-e-a-imprensa-brasileira/ 9/13
19/07/2020 É só o começo: O racismo e a imprensa brasileira
R
osane Borges, jornalista e pesquisadora do Centro Multidisciplinar
de Pesquisas em Criações Colaborativas e Linguagens Digitais
(Colabor), da USP, afirma que a imprensa brasileira poderia ter
reposicionado o racismo no debate político brasileiro se tivesse tratado o
assassinato dos meninos de Costa Barros com a gravidade que exigia.
https://piaui.folha.uol.com.br/materia/racismo-e-a-imprensa-brasileira/ É 10/13
19/07/2020 É só o começo: O racismo e a imprensa brasileira
Quando noticia essa violência, diz Borges, a imprensa não faz a conexão
entre os acontecimentos cotidianos e a estrutura racista do Estado. Ignora
que vigora no país um processo de segregação não institucionalizado: a
taxa de homicídio entre jovens brancos do sexo masculino é de 63,5 por
100 mil. Entre jovens negros, é de 185.
https://piaui.folha.uol.com.br/materia/racismo-e-a-imprensa-brasileira/ 11/13
19/07/2020 É só o começo: O racismo e a imprensa brasileira
Ainda assim, George Floyd fez pela cobertura sobre raça na imprensa
brasileira muito mais do que a própria imprensa se dispôs a fazer ao
longo de décadas. Serão necessárias semanas, talvez meses, para
https://piaui.folha.uol.com.br/materia/racismo-e-a-imprensa-brasileira/ 12/13
19/07/2020 É só o começo: O racismo e a imprensa brasileira
https://piaui.folha.uol.com.br/materia/racismo-e-a-imprensa-brasileira/ 13/13