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Caracterização do Produto Cerâmico do Rio Grande do Norte

Elcio Correia de Souza Tavares*, Danilo Duarte Costa e Silva

Curso de Engenharia Civil, Universidade Potiguar – UNP


*e-mail: elciotavares@unp.br

Resumo: Existe grande precariedade de informações sobre o tijolo cerâmico do estado do Rio Grande do
Norte. O objetivo do presente trabalho foi avaliar as características físicas e mecânicas dos tijolos cerâmicos
para alvenaria fabricados em nosso estado. Para tanto, foram coletadas amostras em cidades pertencentes a
pólos ceramistas distintos. As peças foram submetidas a ensaios de absorção, sucção, resistência à compressão,
testes visuais, dimensões, planeza e desvio em relação ao esquadro. Após a realização dos ensaios verificou-se
que os produtos não atendem às normas da ABNT, o que evidencia a necessidade de melhoria da qualidade do
produto local.
Palavras-chave: cerâmica vermelha, cerâmica estrutural, qualidade.

1. Introdução
No Brasil existem cerca de 11.000 cerâmicas, gerando cerca de a 150 °C. Posteriormente medido o peso seco (Ms) posto em água
220.000 empregos e com um faturamento da ordem de 4,2 bilhões de fervente durante duas horas. Depois de retirado da água, foi medido
reais1. No Rio Grande do Norte, a indústria cerâmica é uma das mais o peso saturado (MS) e aplicada a fórmula a seguir:
importantes fontes da economia local2,3. Avaliam-se, atualmente¹,
cerca de duzentas cerâmicas cadastradas, sendo aproximadamente A = Mu – Ms/Ms x 100 (1)
cento e cinqüenta em atividade, distribuídas em 53 municípios4.
O produto cerâmico apresenta vantagens de uso e qualidade, A determinação da resistência à compressão foi feita ini-
como: constituição de unidades de pequenas dimensões; detalhamen- cialmente preparando-se pasta de cimento para aplicar na face
to estético; estrutura leve; resultando menor custo para fundações, do tijolo. Regularizou-se então a face oposta da mesma forma,
acabamento com uso aparente; abundância de matéria prima na utilizando um nível para que as faces ficassem niveladas. O tijolo
maioria das regiões do país; bom isolamento térmico e acústico; boa foi então imerso em água por 24 horas, e procedeu-se ao ensaio
resistência ao fogo5,6. de compressão.
Porém o setor carece de qualificação técnica, padronização do A determinação da taxa de sucção inicial foi feita pesando o tijolo
produto, e conhecimento das propriedades do produto6,11. Para mudar após sair da estufa (Ms) e após ser colocado em contato com a água
esse quadro é necessário um conhecimento detalhado das proprieda- por cerca de 1 minuto (Mu). Foi então aplicada a fórmula:
des do produto, com dados concisos de suas características físicas
e mecânicas, na qual se possa estabelecer modificações necessárias. Ts = Mu – Ms/Ms (2)
Verifica-se também a falta de tecnologia. O processo de fabricação
de grande parte das cerâmicas é rudimentar. 3. Resultados e Discussão
2. Materiais e Métodos 3.1. Absorção
Foram coletadas e analisadas amostras de tijolo de cerâmicas
Os valores da taxa de absorção de água dos tijolos são mostrados
localizadas em 7 cidades distintas do estado, origem dos principais
na Figura 2.
pólos ceramistas, como mostrado na Figura 1.
Cada amostra foi submetida a ensaios conforme as normas da 3.2. Teste de sucção
ABNT:
• Testes visuais – NBR 8042; Os valores da taxa de sucção inicial nos tijolos são mostrados
• Determinação da dimensão em blocos e tijolos – NBR 7171; na Figura 3.
• Ensaio de absorção de água dos blocos e tijolos – NBR 8947; 3.3. Dimensões (comprimento, largura e altura)
• Determinação da taxa de sucção inicial– BS 3921;
• Determinação da resistência a compressão– NBR 6461; e As Figuras 4, 5 e 6 mostram os dados de dimensionamento,
• Determinação do desvio em relação ao esquadro e planeza da contendo a média aritmética do comprimento, da largura e da altura
face – NBR 7171. das respectivas amostras coletadas para pesquisa. Para cada dimensão
As cerâmicas foram identificadas da seguinte forma: CERAMICA existe uma tolerância de ± 3 mm.
EB, SM, JB, X, TV, LC e CR. 3.4. Resistência à compressão
Para o ensaio de dimensões, mediu-se uma série contínua de
24 peças, em suas três dimensões, e após isso calculou-se a dimensão Neste ensaio foi medido o limite de resistência das amostras
final, em relação às ditas dimensões. coletadas (Figura 7).
A determinação do desvio em relação ao esquadro e da planeza
3.5. Desvio em relação ao esquadro e planeza de faces
de faces foi realizada com o esquadro metálico (90 ± 0,5)° e régua
metálica com precisão de 0,5 mm. De acordo com a NBR-7171 a tolerância tanto para o desvio
Para o ensaio de absorção de água, o material foi inicialmente em relação ao esquadro quanto para a planeza de face do tijolo é de
limpo com escova, e, em seguida, colocado em estufa por 24 horas 3,0 mm. Os valores encontrados são mostrados nas Figuras 8 e 9.
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37° 35°
OCEANO
5° ATLÂNTICO 5°
Areia
Branca
Moçoró Macau Touros
CEARÁ

çu)
s (A
nha
e
ib

i
ar

João

od

Pira
gu

Ap
Câmara
Ja

Apodi Açu Angicos Ceará


Mirim
Lajes Taipu
Caraúbas
RIO GRANDE Natal
Santana DO NORTE Macaíba
dos Matos Cerro
São José
Corá
de Mipibu
Pau dos Florânia
Currais Santa
Ferros Novos Cruz
Luís Canguarotama
Gomes
Se
rid

Caicó Nova
ó

Cruz
Parelhas
PARAÍBA
0 25 50 75 mi
7° 0 50 100 km 7°
Pólo cerâmico
37° 35°

Figura 1. Mapa de localização das regiões onde as cerâmicas estão localizadas.

1,6
25,00
1,4
20,00 1,2
1,0
15,00
(%)

0,8
10,00 0,6
0,4
5,00
0,2
0,00 0,0
1
1
Cerâmica EB Cerâmica X Cerâmica CR
Cerâmica EB Cerâmica X Cerâmica CR
Cerâmica SM Cerâmica TV NBR 8947 MI Cerâmica ST Cerâmica TV Normas internacionais

Cerâmica JB Cerâmica LC NBR 8947 MAX Cerâmica JB Cerâmica LC

Figura 2. Valores de absorção d’água. Figura 3. Taxa de sucção inicial.

Após a realização dos testes, pôde-se observar: - Quebras;


• Falta de padronização de tamanhos. Estabelecer um padrão - Falta de uniformidade na cor;
único (20 x 20 x 10 cm) para realização dos testes, exigiu um - Deformação; e
esforço a mais, pois ao longo do estado os tamanhos fabricados - Superfície irregular.
são diferentes; • Boa performance dos blocos nos testes de absorção e sucção;
• Reprovação de 100% das cerâmicas em pelo menos um item • Boa performance no teste de compressão, porem com
nos testes visuais: ­preocupante fator negativo: uma cerâmica não atingiu o valor
- Trincas; mínimo; e
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2,5
2,39
120 106 103 106 104
97 98 2,5 2,06
89 93 1,94
100 87
2,0
1,41 1,5
80
1,5
60
1,0
40

20 0,5

0 0,0
1 1

Cerâmica EB Cerâmica X Cerâmica CR Cerâmica EB Cerâmica JB NBR 7171 A


Cerâmica ST Cerâmica TV NBR 7171 MA Cerâmica ST Cerâmica X NBR 7171 B
Cerâmica JB Cerâmica LC NBR 7171 MIN

Figura 4. Largura média dos tijolos por cerâmica. Figura 7. Resistência à compressão média dos tijolos por cerâmica.

3
210 204 205 204 203 203
201 3,0
197 2,3
200 194 2,5

190 1,7
2,0
1,28
180 172 1,5 1,02 1,02
0,89
170 1,0 0,58

160 0,5

150 0,0
1 1

Cerâmica EB Cerâmica X Cerâmica CR Cerâmica EB Cerâmica X Cerâmica CR

Cerâmica ST Cerâmica TV NBR 7171 MAX Cerâmica ST Cerâmica TV NBR 7171


Cerâmica JB Cerâmica LC NBR 7171 MIN Cerâmica JB Cerâmica LC

Figura 5. Altura média dos tijolos por cerâmica. Figura 8. Planeza média dos tijolos por cerâmica.

7 6,29
210 202 204 202 203 201 203
195 197 6
200
5 3,9 4,08
190
4 3,1 3,1 3
2,79
180 170 3 1,87
170 2

160 1

0
150 1
1
Cerâmica EB Cerâmica X Cerâmica CR
Cerâmica EB Cerâmica X Cerâmica CR
Cerâmica ST Cerâmica TV NBR 7171
Cerâmica ST Cerâmica TV NBR 7171 MAX
Cerâmica JB Cerâmica LC
Cerâmica JB Cerâmica LC NBR 7171 MIN

Figura 6. Comprimento médio dos tijolos por cerâmica. Figura 9. Desvio em relação ao esquadro médio dos tijolos por cerâmica.

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• Resultados negativos no teste de planeza e desvio do esquadro, 5. Norton, F. H. Introdução à Tecnologia Cerâmica. 1. ed. São Paulo:
demonstrando falhas no sistema de corte. Edgar Blücher, Ed. da Universidade de São Paulo, 1973. 324 p.
6. Marino, L. F. B.; Boschi, A.O. A expansão térmica de materiais cerâmicos
4. Conclusões Parte II: efeito das condições de fabricação. Cerâmica Industrial, v. 3
n. 3, p. 23-33. 1998.
Após a realização dos testes pôde-se observar que o bloco cerâ-
7. Carvalho, O. O.; Leite, J. Y. P. Análise do processo produtivo da Cerâmica
mico potiguar se comportou de maneira insatisfatória, carecendo de do Gato, Itajá/RN. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CERÂMICA, 43
melhores condições, uma vez que houve variações consideráveis nas E CONGRESSO DE CERÂMICA DO MERCOSUL, 4. 1998, Florianó-
medidas do produto, o que já foi observado em outros estudos7,10. É polis. Atas do 43º Congresso Brasileiro de Cerâmica e 4º Congresso
necessário um investimento em novas tecnologias de extrusão, bem de Cerâmica do MERCOSUL. Florianópolis: ABC, 1999.
como mão de obra especializada no setor. A cerâmica vermelha local 8. Carvalho, O. O. Avaliação técnica e econômica de uma jazida de argila
demonstra ainda estar aquém de condições mínimas de qualidade para branca do vale do Rio Baldun, Arês/RN. In: Congresso Brasileiro de
exportação, mesmo que apenas para além das fronteiras do estado. Cerâmica, 44, Águas de São Pedro. Atas do 44º Congresso Brasileiro
de Cerâmica. ABC. Águas de São Pedro. ABC, 2000. p. 8201-8209.
Referências 9. ______. Aplicação de índices de controle em cerâmica vermelha. In:
CONGRESSO BRASILEIRO DE CERÂMICA, 45, São Paulo, 2001.
1. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CERÂMICA. Anuário Brasileiro de Atas do 45º Congresso Brasileiro de Cerâmica. São Paulo: ABC. 2001.
Cerâmica - Panorama Setorial. Anais... São Paulo, 1996. p. 4.061.
2. SERVIÇO DE APOIO ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS (RN). 10. Silva, N. F. Estudo da caracterização física e mecânica de argilas da Região
Diagnóstico da Indústria Cerâmica do RN. Natal, 1989. do vale do Assu, Estado do Rio Grande do Norte. In: CONGRESSO BRA-
3. Kleiber, L. Mudança sem sobressalto. RN Econômico 360°. Natal: n. 498, SILEIRO DE ENGENHARIA E CIÊNCIA DOS MATERIAIS, 12., 1996,
27 maio 1998. São Paulo. Anais... São Paulo, 1996. v. 1. Natal. 1997. p. 123‑127.
4. FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO ESTADO DO RIO GRANDE 11. Ripoli Filho, F. A Utilização do rejeito industrial cerâmico - chamote -
DO NORTE SERVIÇO NACIONAL DA INDÚSTRIA (RN), Perfil como fator de qualidade na fabricação de elementos cerâmicos: um estudo
Industrial da cerâmica vermelha no Rio Grande do Norte, Natal, experimental. Cerâmica, São Paulo, v. 43 n. 281-282, p. 133-34. 1997.
2001. 1 CD-ROM.

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