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FACULDADE DE EDUCAÇÃO
MESTRADO EM EDUCAÇÃO
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
Orientadora:
Profª Drª Síglia Pimentel Höher Camargo
Pelotas, 2017
Calleb Rangel de Oliveira
Pelotas, 2017
Calleb Rangel de Oliveira
Banca examinadora:
___________________________________________________________________
Profª. Drª Síglia Pimentel Höher Camargo (Orientadora)
___________________________________________________________________
Profª Drª Madalena Klein
___________________________________________________________________
Prof. Dr. Alexandre Carriconde Marques
Dedicatória
Primeiramente, aos meus pais e meu irmão por todo o apoio, incentivo e
ajuda preciosa que demonstraram comigo em todos os momentos da minha
vida e, em especial, durante o Mestrado. Muito obrigado por tudo!
À todos meus demais familiares e amigos que sempre me incentivaram
e apoiaram.
Aos meus professores e amigos da Educação Física que me deram
forças e ajuda para ingressar e cursar o Mestrado.
À professora Dra. Síglia Pimentel Höher Camargo por ter aceitado me
orientar e encarar este desafio comigo. Obrigado por todo o conhecimento
transmitido, orientações, ajudas e a oportunidade de entrar e vivenciar o campo
da pesquisa. Agradeço por permitir e me motivar a estudar a inclusão de
alunos com autismo, despertou em mim o interesse e a necessidade de
contribuir cada vez mais nessa área.
Às colegas do Grupo GEPAI, no qual, além de colegas, construímos
uma amizade e uma troca de conhecimentos e experiências extremamente
valiosas para nossa formação.
À Juliana Santos, por ter encarado junto comigo a vontade e a
responsabilidade de realizar este estudo. Muito obrigado por toda a tua ajuda.
Tua ajuda e apoio em todo o momento deste estudo foi fundamental para sua
realização. Obrigado pela ajuda e a amizade nesse período. Vamos trilhando
nosso caminho na docência e sempre com dedicação a todas as crianças, em
especial àquelas com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA).
À todas as escolas, professores, alunos com TEA e pais responsáveis
que aceitaram participar deste estudo.
À CAPES pelo auxílio financeiro na realização desta pesquisa.
Enfim, à todas as pessoas que contribuíram direta ou indiretamente para
minha formação e desenvolvimento até aqui, meu muito obrigado, de coração!
“A inclusão é uma visão, uma estrada a ser viajada, mas uma estrada sem fim,
com todos os tipos de barreiras e obstáculos, alguns dos quais se encontram
em nossas mentes e em nossos corações”.
(MITTLER, 2003)
Resumo
Figura 1 – Participação dos alunos com TEA nas aulas de Educação Física....... 79
Figura 2 – Interações Sociais dos alunos com TEA nas aulas de Educação
Física............................................................................................................. 81
LISTA DE TABELAS
CAPÍTULO I
Tabela 1 - Estudos sobre a inclusão escolar de alunos com TEA nas aulas de
Educação Física...................................................................................................... 29
CAPÍTULO III
Tabela 1 - Tempo de engajamento de alunos com TEA nas aulas de Educação
Física........................................................................................................................ 80
Tabela 2 - Frequência de interações sociais dos alunos com TEA nas aulas de
Educação Física....................................................................................................... 82
APÊNDICES
1. Introdução...................................................................................................... 13
2. CAPÍTULO I
Educação Física escolar e inclusão de alunos com Transtorno do
Espectro do Autismo: uma revisão sistemática
Introdução........................................................................................................... 26
Metodologia......................................................................................................... 28
Resultados e Discussão..................................................................................... 28
Importância da Educação Física para alunos com TEA............................. 30
Desafios para a inclusão de alunos com TEA nas aulas de Educação 31
Física..........................................................................................................
Estratégias nas aulas de Educação Física................................................. 34
Conclusões.......................................................................................................... 38
3. CAPÍTULO II
Análise da inclusão escolar de alunos com autismo nas aulas de
Educação Física
Introdução........................................................................................................... 41
Método................................................................................................................ 42
Participantes............................................................................................... 42
Procedimentos e considerações éticas...................................................... 43
Análise dos dados...................................................................................... 45
Resultados e Discussão..................................................................................... 45
Formação dos professores......................................................................... 45
Participação dos alunos com TEA nas aulas de Educação
Física......................................................................................................... 48
Caracterização dos alunos com TEA......................................................... 53
Comportamento...................................................................................... 53
Interação Social...................................................................................... 54
Comunicação......................................................................................... 57
Estratégias.................................................................................................. 59
Planejamento dos professores................................................................... 61
Aspectos relevantes para o trabalho do professor..................................... 62
Qualificação da experiência....................................................................... 65
Conclusões.......................................................................................................... 66
4. CAPÍTULO III
Estratégias nas aulas de Educação Física para a inclusão escolar de
alunos com TEA
Introdução............................................................................................................ 69
Método................................................................................................................. 72
Participantes............................................................................................... 72
Procedimentos e considerações éticas...................................................... 73
Análise dos dados...................................................................................... 77
Resultados............................................................................................................ 78
Validade Social........................................................................................... 83
Discussão.............................................................................................................. 84
Conclusões........................................................................................................... 89
5. Considerações Finais..................................................................................... 91
Referências Bibliográficas............................................................................. 93
13
1. Introdução
Observa-se que cada vez mais crianças com TEA estão sendo inseridas
na escola, em especial, no sistema regular de ensino (BRASIL, 2015). A
inserção de crianças com TEA na escola comum é uma tendência crescente,
uma vez que a lei 12.764 de 27 de Dezembro de 2012 (Art. 2º) passa a
considerar o TEA como deficiência e garante o acesso destas crianças à
educação pública e formal, sendo-lhes proibida a recusa de matriculas. No
entanto, crianças com TEA somente serão beneficiadas em sua inserção no
ensino comum se, para além de integradas na escola, elas sejam realmente
incluídas nas atividades escolares juntamente com seus pares com
desenvolvimento típico. Com isso, a importância e o dever da escola e dos
professores como agentes fundamentais no processo de ensino e
aprendizagem dessas crianças se adequarem para uma inclusão que atenda
as especificidades dessas crianças e estarem preparados para receber todos
os alunos, torna-se ainda maior nos dias atuais.
Contudo, ainda é comum crianças com autismo serem vistas pela ótica
de suas limitações, considerando o simples fato de integra-las na escola como
suficiente para obterem algum beneficio ou aprendizagem de habilidades que
estão comprometidas. No entanto, é preciso romper essas ideias, pois sem a
utilização de recursos e estratégias e a reformulação de práticas pedagógicas,
23
Especificamente, buscou-se:
2. CAPITULO I
Introdução
Metodologia
Resultados e Discussão
Tabela 1: Estudos sobre a inclusão escolar de alunos com TEA nas aulas
de Educação Física
Além disso, cita o TEACCH (do Inglês, Treatment and Education of Autistic and
Related Communication Handicapped Children) como um importante método
de ensino aprendizagem. Trata-se de um programa educacional que possui
diferentes materiais visuais que são utilizados para aprimorar a linguagem,
aprendizado e diminuir também comportamentos inapropriados. Ressalva
ainda que o professor tenha cuidado com a distribuição excessiva dos
materiais, que devem ser entregues aos poucos à turma e ao aluno com TEA,
e cita como útil a utilização de bolas coloridas para atrair o interesse dos
alunos.
breves em cada parte ou etapa da história e ler várias vezes para o aluno,
auxiliando na sua compreensão e aprendizagem.
Conclusões
Cabe ainda destacar que como a inclusão escolar de alunos com TEA nas
aulas de Educação Física é um processo atual, observa-se uma relação com o
tempo de publicação dos estudos. A maioria dos estudos foram publicados no
decorrer da última década, indicando que o interesse em investigar essas
questões é recente. Isso demonstra que ainda há diversos caminhos a serem
percorridos para auxiliar no processo de inclusão efetiva de crianças com TEA
nas aulas de Educação Física.
40
3. CAPITULO II
Introdução
Metodologia
Participantes
Resultados e Discussão
durante as décadas de 1980, 1990 e início dos anos 2000, época que ainda
havia poucas considerações sobre as questões relacionadas à inclusão
escolar, sobretudo, de alunos com TEA. Diante disso, os professores salientam
que não tiveram durante sua formação subsídios necessários ou
conhecimentos prévios para atuarem com alunos com autismo e que este
conhecimento acaba sendo construído somente com a experiência direta com
esses alunos, conforme os exemplos a seguir:
“Não. [...] Pois é então eu comecei ano passado a ter aluno autista só.
Nessa escola, que eu vim ano passado pra cá. Então antes na minha
graduação não tive nada de autismo, eu tive... teve aula sobre deficiências,
mas sobre o autismo... Nem sabia o que que era autismo...” – Professora 4.
“Não, não tive... A gente teve algumas.. tive alguma palestra mas não
formação... o que eu.. a gente tem aqui na escola, né, não sei se eu vou
adiantar alguma pergunta, mas a gente tem uma sala de recursos, né, e uma
pessoa que trabalha e que faz todo esse interm... esse intermédio entre o aluno
e nós..” – Professor 8.
“É, é bem especifico. Um, ele gosta de tudo assim, se tu fizer uma
estafeta... ou uma brincadeira de roda ele gosta de fazer, mas ele não
compreende bem qual é os objetivos daquilo...” – Professor 3.
“Varia, ele é bem participativo, ele gosta, como eu já havia relatado né,
de algumas atividades da educação física que ele se identifica, umas
direcionada ao basquete e outra a queimada, que é um jogo super conhecido
e... ele gosta de participar.” – Professor 7.
“tu vê que ele tem uma dificuldade motora bem acentuada assim em
relação aos outros.. É, mas assim ó, esse participa, esse fica durante todo o
período nas aulas...” – Professor 8.
que não é um hábito regular devido algum interesse do aluno por determinada
atividade, motivação ou dificuldade de compreender as demandas exigidas nas
aulas. Essa questão é bem evidenciada nas falas a seguir:
“Participam, participam. [...] Ah não, algumas eles não fazem né. Futebol
mesmo, eles nunca jogam, eles tem mais dificuldade até de entender as regras
assim... Sim. Pois é, eles realizam, mas não é... a competição não motiva
assim, eu acho.” – Professora 4.
“É o J... tem esse problema, ele passeia bastante... Fica, ele melhorou
um pouco, mas quando ele não tá afim de faze ele fica passeando.” – P4
“Algumas vezes. É, te digo assim, que eu acho pelo que eu vejo assim,
olha 40% das vezes, é não são muitas. [...] Fica... É assim ó, o que que o
pessoal tá propondo, quando ele não que faze ou quando ele tá muito agitado,
a professora acompanhante dele tira ele da sala, da uma voltinha pelo jardim,
pela escola, procura leva ele pra outros ambientes até ele se acalma um
pouquinho e volta.” – Professora 5.
“Não diria assim que é 100%, né, tem... tem certas atividades claro que
pela... pela coordenação ou por isso ou aquilo ele vai... ele vai sentir também,
né.. os.. os limites dele... ele não vai querer ficar trabalhando aquela ideia, não
sei como ele mentaliza isso, né.. então, é claro, ele vai achar um subterfúgio e
ele vai escolher uma outra opção, ele vai correr ao redor da quadra.. daqui a
pouco quando ele ver que tem algo, opa, um material diferente, opa, tô dentro,
né.. então, eu... eu não sei dizer exatamente como ele faz essa administração,
mas que eu percebo que ele sabe fazer isso, ele sabe.. Ele.. ele faz outra, ele
fica na volta ali...fica na volta da quadra... correndo... aham...” – P10
“Não, ele não chegou a fazer. Uma atividade ele tava na aula, eu tava
fazendo um negócio de contagem com eles, de bala e tal, com material nós
tava fazendo, e aí ele... ele entrou, no caso eu fiz a outra turma... eu aí ele não
pegou, ele não interagiu com os materiais, ele ficou pela sala, no outro eu fiz
jogos opostos né, branco/preto e tal, e também não consegui que ele fizesse
assim, que ele tá num... É que tem que pegar junto né.” – Professora 9.
Outro professor salienta que por ter mais de um aluno com TEA, observa
características bem diferentes em cada aluno. Alguns não participam, outros
sim, mas esporadicamente. No entanto, o professor afirma que os alunos não
demonstram interesse em participar das atividades, mas é possível
participarem caso sejam convidados:
despertam o interesse deles, mas, não conseguem incluir de fato estes alunos
em suas aulas, gerando assim desafios aos professores, conforme
demonstram outros estudos (COPETTI, 2012, COSTA, SILVA et al., 2015).
Nesse sentido, quando questionados sobre alguns motivos que poderiam
impossibilitar a participação dos alunos com TEA, os professores identificam
questões mais relacionadas às limitações dos alunos, como não conseguir
acompanhar os colegas numa atividade, não interagir muito com os colegas,
não gostar de situações competitivas e não conseguir realizar todas as
demandas das atividades. Essas questões, segundo os professores, são
presentes em seus alunos com TEA e auxiliam com que os alunos percam o
interesse em participar na aula:
“...porque uma coisa foi colocado assim pela mãe, é que ela não gosta
de situações competitivas, muito tensas assim, começa a entrar.. então até na
última aula que teve do caçador, que como era no salão, era com aquelas
bolinhas de plástico, que as crianças pulam assim sabe, quer dizer uma bola
que no máximo pode causar uma ardência na pele, e até porque tem lâmpadas
e muito pequena então... aí eu testei, vamos ver se ela vai quere joga com
essa bola, ela não quis, não vou forçar entendesse.” – Professor 1.
“Não, da minha parte não. A minha parte o que limita mais é a própria
limitação deles, né. [...] porque tu sabe que pro autista não adianta tu, tu dar
uma tarefa com 4, 5 objetivos: tu vai ter que ficar parado aqui nessa fila, já são
duas coisas, a gente sabe, ah, tanto faz eu ficar parado aqui nessa fila, não,
pra ele já são duas coisas, ele tem que ficar parado... e tem que ficar na fila e
tem que ficar esperando todo mundo andar até chegar à vez dele... o, ele já
não entende mais nada, né.” – Professor 3.
“Não, é uma característica deles. Sim, não é uma coisa clínica digamos,
em termos de doença, algo físico, que pudesse impedi-los, não. Mais em
socialização.” – Professor 2.
Comportamento
“O ano passado ele tinha assim intolerância a barulho assim total né, ai
qualquer... a turma tava mais agitada aí ele já queria “mamãe, mamãe”, já saia
da aula né, não ficava. Aí praticamente ele não ficava na minha aula, porque
minha aula tem barulho não adianta né...” – Professora 4.
“se tu sai de uma sala e vai pra uma quadra ele já desestabiliza, então
tipo assim, até ele não veio ainda nas aulas, eu sou bem sincera, então aí eu
venho do recreio, se ele vem do recreio então aí ele desestabiliza, e ele tem
que ter alguma coisa pra estabilizar ele entendeu? Tem que ter alguém junto,
porque a gente mesmo é muito comando de voz, então tu não pode fazer só
ele e o resto assim e vice versa assim...” – Professora 9.
“Bom assim eu vou começar te colocando assim, que não sei se foi a
mãe mesmo que preveniu mas não pode ter sons, bem detalhes assim, alguns
sons ela não podia ouvir assim, como uma colega mascando chiclete.” –
Professor 1.
54
“.... eu notei por exemplo assim, quando a gente faz atividade de correr
em fila ou correr de.... uma corrida mais orientada, ela não, ainda não, mas não
só ela, os outros também tem essa dificuldade de ficar na fila pra correr...
então, ela não consegue as vezes precisa acompanhar e os outros também...”
– Professora 6.
“e mesmo que a gente tentasse direcionar alguma coisa.. não, ele não..
ele só corria.. ele só tinha esse tipo de atitude, saía correndo.. a gente não
conseguia trazer algo assim é dentro do contexto do coletivo, né.. então.. ele..
ele usava da força física, se alguém queria interferir, ele também se debatia e
não.. não aceitava...” – Professor 10.
Interação social
“...os alunos aqui são excelentes, claro como crianças tem problemas e
tudo, mas eles toleram e tal os colegas, um dia um atirou uma bola “po cuidado
quase acertasse ela” talvez ela não tenha os mesmos reflexos, aí pediu
desculpas, então todos eles procuram...” – Professor 1.
“ele gosta muito de se agarrar, ele gosta muito de ter um contato, sabe,
de abraçar e coisa.. [...]É, então... claro, sem malícia, né, porque.. Ele é bem
novinho.. Mas aí as gurias estão na fila e aí ele agarra por trás. Aí as gurias
sabem, né. Elas são super compreensivas, mas aí fica uma situação chata, né.
Larga, não segura, né, e aí isso vai... Mas, ele faz.. [...]ele é muito querido e
tudo, todo mundo gosta dele, né.” – Professor 3.
“..da turminha dele que já conhece, eu vejo toda aceitação deles, nunca
vi alguém dizer tira o R..., não deixa o R... fazer, né.. e até quando ele tá vindo
assim...dizem ah o R... veio, né.. aquela coisa assim receptivo. Eu vejo
receptivo... mas também.. é são poucos momentos dele na quadra, né.. talvez
na sala, alguma atitude ou alguma coisa, pode ser diferente... com outros
professores e tal, né..” – Professor 10.
56
“ah de vez em quando ele me dá uns abraços, esses dias até cai dentro
da sala, quase cai dentro da sala de aula se não fosse a professora B... junto,
então tu tem que tá sempre assim pronta né, com uma base boa, porque
quando tu menos espera ele te dá um abraço, ele faz uma brincadeira e aí a
gente tem que se cuida, porque se não...” – Professora 5.
“Não, não são muito de assunto. Relativa, tem respeito pelos colegas e
tal, mas não tem uma interação.” – Professor 2.
“... ele é um pouquinho mais agressivo né, ele não.... tem intolerância ao
barulho, ao contrário, quando a turma tá agitada ele grita grita (risos) e aí é um
pouquinho mais difícil assim até, porque ele né as vezes ele pega assim uns
colega que ele não tira o olho, e aí fica brigando, fica brigando com uns e aí,
claro os colegas não entendem, não não tem paciência e fica brigando, essas
coisas assim, e muitas vezes não quer fazer a atividade também, fica num
canto, passeando pela escola.” – Professora 4.
“Ele tem uma certa, um certo, como é que tem um... como que se diz?
Uma divergência muito grande, ele acha que ninguém gosta dele, que ninguém
é amigo dele, essa é a visão hoje dele em relação aos alunos, te falo hoje coisa
de uma semana atrás. Embora a gente tente fazer uma intermediação para que
tudo ande numa boa, inclusive na, na sexta feira eu tive uma conversa com os
alunos, sem a participação dele, porque ele tava meio surtado e eu pedi pra
que os alunos entendessem que o que eles conseguem entender né, é bem
diferente do que o R... entende. O R... ele leva uma brincadeira muito a sério,
57
enquanto que pros outros uma brincadeira é uma brincadeira, ele leva tudo no
fio na navalha.” – Professor 7.
“Não tem, o aluno tentou interagir e não conseguiu assim, é que eu acho
que ele é bem severo assim, porque tem níveis né de autismo... [...] Não, eu
não interajo com ele. Eu não cheguei a ser apresentada ainda pra ele. Assim,
ele me conhece, só que eu não cheguei ainda, e peguei ele e fiz atividade, que
ele fica pouco tempo e também não... tipo, eu tenho a turma inteira, eu vou te
ser bem sincera tá? então tipo, então eu precisaria de alguém pra ir junto
assim, pra fazer...” – Professora 9.
Comunicação
“O P... sim, é o mais velho, né. Esse não, ele não fala, ele [...] não
verbaliza, ele não, ele fica só no lalalarolnanalala (imitando um som sem
verbalizar), enrola assim, e mexe muito com os dedos, né...” – Professor 3.
Por outro lado, há alunos com TEA que conseguem verbalizar facilitando
na comunicação dele com os colegas e professores. No entanto, em algumas
ocasiões a comunicação não acontece de forma compreensível:
“o que que é, mas tem e por exemplo também, com relação a fala, a fala
dela é bem complexa.. não é bem complexa assim... é, eles falam pouco
assim... no primeiro ano, né, e ele fala bem menos... palavras inteiras não, pelo
menos comigo, não... [...] ela atende, fala, mas não mui... não é assim
totalmente compreensível quando ela fala, eu não sei até como ela é com a
professora da turma...” – Professora 6.
“em algum momento eu dou atenção pra ela, converso com ela, ela fala
comigo, não muito assim.. Ela fala sim, mas não é coisa fluente assim.” –
Professor 1.
“Fala, assim que nem o outro né... Frases assim não é aquela conversa
assim de abrir o coração (risos) [...] Responde. Ele sente dificuldade de falar o
que eles sentem né? Mas o que acontece assim eles falam.” – Professora 4.
Estratégias
“Não, nada específico assim, dizer que hoje eu vou tentar fazer de
alguma outra forma, não” – Professor 2.
“Até então nunca tive necessidade disso né, mas quem sabe um dia vou
ter né.” – Professor 7.
“normais, eu não preciso criar uma estratégia pra que ele ... participe, ele
participa normalmente das minhas aulas...” – Professor 8.
“É que, eu vou ser bem sincera, eu não consigo mesmo fazer assim, eu
não consigo pegar ele e trazer pra mim ele assim, eu tenho que apresentar...
[...] E eu não bolei nenhuma estratégia, porque eu não sei nem o que que eu
60
vou fazer pra ele estabilizar entendeu? Eu vi que a outra monitora pegou ele e
estabilizou ele com o relógio, ah você pega... É pelo relógio, aí eu vi - acho que
o relógio de repente estabilize - entendeu?” – Professora 9.
“É eu penso na turma toda assim, mas claro, por exemplo, o A... sempre
é o primeiro da fila né, aí eu faço de mão com ele as atividades que eu acho
que ele não vai fazer né, eu faço de mão com ele, dou uma ajuda assim.” –
Professora 4.
“Eu estou toda hora pensando nisso sabe, eu tento. Eu convido ele, eu
ofereço ele pra vir com a professora que estar com ele, “quem sabe tu vem
com a tua professora”, “vem professora”, né a gente tenta.” – Professora 5.
estratégias serão pensadas a partir das dificuldades dos alunos e com base no
planejamento dos professores.
Todo professor precisa ter em mente o que quer trabalhar e ensinar para
seus alunos. Para isso, é fundamental que o professor planeje os conteúdos ou
suas aulas (BRASIL, 1997). Quando o professor tem um planejamento
estruturado torna-se mais fácil organizar os conteúdos e atividades a serem
trabalhados além de identificar possíveis estratégias para auxilia-los nesse
sentido e avaliar o desenvolvimento de seus alunos, principalmente quando se
tem alunos com TEA.
“É.. a gente sempre tem um plano de aula, né, e tudo, mas, aí que
depende assim, as vezes do dia, né, as vezes... ontem mesmo eu cheguei e
não tava chovendo, mas a quadra tava molhada... aí tu tem que.. aí tu tem que
ficar dentro da aula com o prézinho que são os pequenos, é um terror, né,
porque eles gostam de atividade e coisa e ficam: tu não vai pra rua e coisa,
mas no mais é isso aí, né.” – Professor 3.
“É, não que eu, não vou dizer que eu faça aquele plano em casa assim,
escreve tudo direitinho (risos) eu faço um planejamento assim mais geral das
atividades que eu quero trabalhar naquele trimestre mais ou menos aí eu, na
62
“Isso que o professor de Educação Física tem que ser o mais criativo de
todos, né.. porque tem a chuva, tem o menos alunos, às vezes tu programa
certo.. tu te programa pra certa atividade e o número de alunos não comporta
aquela atividade.. então verdadeiramente tu tem que adaptar coisas na hora,
mas esse é.. é a exceção, eu venho de casa, eu já sei..” – Professor 10.
“Eu acho que assim, a gente conquista eles facilita muito né, quando a
gente conquista assim sabe, quando eles gostam da professora, isso ajuda
muito né. Porque no início do ano né, quando eles não conhecem é difícil, ai
depois quando tu conquista assim né, ai é bem mais fácil, não sei se eu
respondi, mas isso faz muita diferença.” – Professora 4.
“Acho que tem, por exemplo, tem o trabalho daqui que tem o reforço, né,
e o apoio, né... de recurso, e eu não sabia o que.. de todas.. nas chamadas
qual era o CID de cada aluno... aí fui, teve uma reunião esses dias e eu não fui
na reunião, aí depois eu fui tentar me informar e ela disse: não, não tem
problema, vem aqui essa semana que a gente passa o que que é, né.. e te dá
uma força no que precisar, porque tem pessoas que eu não sei o que que é
o...” – Professora 6.
“Que eu acho que dificulta mesmo, é a questão que cada dia é um dia
diferente, ele não é uma pessoa que vai chegar aqui e eu não... eu não... num
dia, ele vai ta de um jeito, outro dia ele vai ta de outro, e normalmente eu não
tenho dificuldade com ele, esse é... esse é o mundo agora, os próximos que
virão eu não sei mas... mas eu não não...tudo é uma questão, tudo é uma caixa
de surpresa né...” – Professor 7.
“-..eu acho que a minha própria formação, não tanto especializada pra
esse tipo de aluno, né.. se eu tivesse uma bagagem maior obviamente eu
poderia ajuda-lo mais. Eu acho, eu podia cooperar mais com ele, podia dar
mais opções e obviamente na maneira de lidar né, às vezes não só aceitar o
que acontece, mas talvez direcionar mais e isso.. eu tenho que ser sincero
também.. não tenho essa bagagem toda.. eu vou.. eu vou no amor... na
aceitabilidade, no tentar favorece-lo, no defende-lo, né.. não deixar que ele..
alguma coisa sobre ele venha negativamente..” – Professor 10.
Qualificação da experiência
“não.. eu acho que é gratificante... né, por exemplo, o H..., né, com tudo
isso assim, umas das aulas assim é legal de saber que tu vai trabalhar contigo..
digo Oi H..., vamos trabalhar? Então, ele vem, eu recebi um abraço apertado
quer dizer tem um lado afetivo por exemplo dessas crianças que... é muito
maior que outros, né.. então, isso é gratificante..” – Professor 8.
“Sim.. não, mas eu.. eu acho que pra mim o fato dele estar.. estar mais
perto, o fato dele ter uma aceitabilidade de algum direcionamento que eu dou e
ele atende junto com os colegas.. pra mim é alentador, é gratificante, né..
vamos dizer assim, do meu jeitinho, simples, pequeno sem muita bagagem,
consegui também favorece-lo, ajuda-lo e proporcionar alguns momentos de
socialização, né.. que ele também curta, que ele tenha prazer em fazer, eu
acho.. eu.. pra mim tem sido gratificante ver, né, essa melhora...” – Professor
10.
Conclusões
4. CAPITULO III
Introdução
Metodologia
Participantes
atividades e/ou recursos que iam ao encontro dos planos de aula e das
necessidades dos professores e alunos. Foram pensadas e elaboradas
atividades e recursos que auxiliavam os professores e alunos nas aulas. Por
exemplo, nos apêndices K e L encontra-se um roteiro de atividades enviado
para os professores. No apêndice K, as orientações recomendadas ao
professor foram simples, muitas vezes já adotadas nas aulas, mas que com o
aluno com autismo precisavam ser mais sistemáticas e pontuais. As
orientações variavam em realizar algumas atividades em duplas e chamar a
atenção do aluno com autismo quando se dispersava para incentivar a
interação e participação do aluno e demonstrar antes de cada atividade o que
seria realizado, fornecendo orientações curtas e breves para auxiliar na
compreensão do aluno. No apêndice L, além das mesmas orientações, foi
utilizado um recurso visual bastante utilizado com estudantes com autismo, que
possuem um interesse restrito e inflexível a objetos, personagens ou atividades
especificas como o Cartão Primeiro/Depois (Apêndice M), no qual apresenta-se
visualmente para o aluno a imagem que representa a atividade que deve ser
primeiramente executada e a imagem do personagem favorito ao qual terá
acesso (Apêndice N) após a execução da tarefa. Baseado no princípio
Premack do comportamento (PREMACK, 1965), esta estratégia sinaliza para o
individuo com autismo a possibilidade de engajamento em atividades altamente
preferidas após engajar-se em atividades menos preferidas, aumentando a
probabilidade de engajamento na tarefa, motivado pela consequência a ser
obtida. No Apêndice Q, encontram-se observações de algumas sessões de
como foi realizada a intervenção com os participantes. Os professores foram
informados e orientados previamente na semana anterior à aula sobre as
estratégias sugeridas e foram aplicadas, com o devido feedback e
consentimento do professor, durante o período de no mínimo um mês em suas
aulas para possibilitar a avaliação da eficácia da intervenção. Apenas com o
aluno 2 a intervenção foi realizada no período inferior a um mês, devido às
condições climáticas não favorecerem e a constante ausência do aluno nas
aulas.
Resultados
FaseBaseline
A / Baseline Intervenção
Intervenção
Tempo de Engajamento nas atividades (min.)
Tempo de Engmento nas atividades
(min.)
A análise visual dos dados mostra que durante a fase baseline os dados
mostraram-se constantes para os participantes 2 e 3 e com uma tendência
decrescente para o participante 1. Durante a fase de intervenção, os dados
mostraram-se com tendência crescente para todos os participantes, não
apresentando sobreposição de dados para os participantes 2 e 3. Nos dois
últimos participantes, a análise visual indica que os dados não ou pouco
80
Sessões
Figura 2. Interações sociais dos alunos com TEA nas aulas de Educação Física
Tabela 2: Frequência de interações sociais dos alunos com TEA nas aulas
de Educação Física
Validade Social
Discussão
Neste estudo, três alunos com TEA em inclusão escolar nas aulas de
Educação Física participaram de uma intervenção cujo objetivo era auxiliar os
alunos a participarem e interagirem mais durante as aulas. Neste processo,
estratégias e adaptações nas atividades foram pensadas conjuntamente com
os professores a partir das dificuldades dos alunos e das indicações da
literatura sobre práticas pedagógicas que auxiliam a aprendizagem, o
desenvolvimento e progresso dos alunos com autismo no ensino comum.
84
Conclusões
importância de estudos que analisem o papel da família dos alunos com TEA
na inclusão desses alunos e como podem auxiliar os professores de Educação
Física e a importância da disciplina para o desenvolvimento de habilidade
motoras em crianças com TEA.
91
5. Considerações Finais
Referências Bibliográficas
CAMARGO, S. P. H.; RISPOLI, M.; GANZ, J.; HONG, E. R.; DAVIS, H.;
MASON, R. A review of the quality of behaviorally-based intervention research
to improve social interaction skills of children with ASD in inclusive
settings. Journal of autism and developmental disorders, v. 44, n. 9, p.
2096-2116, 2014.
CAMARGO, S. P. H.; RISPOLI, M.; GANZ, J.; HONG, E. R.; DAVIS, H.;
MASON, R. Behaviorally based interventions for teaching social interaction
skills to children with ASD in inclusive setting: a meta-analysis. Journal of
Behavioral Education, p.1-26, 2015.
HEALY, S.; MSETFI, R.; GALLAGHER, S. ‘Happy and a bit Nervous’: the
experiences of children with autism in physical education. British Journal of
Learning Disabilities, v. 41, n. 3, p. 222-228, 2013.
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with autism spectrum disorders in middle school Physical Education. Research
Quarterly for Exercise and Sport, v. 82, n. 3, p. 491-498, 2011.
Apêndices
104
Apêndice A
105
Apêndice B
106
Apêndice C
107
Apêndice D
108
Apêndice E
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
TERMO DE ANUÊNCIA DA INSTITUIÇÃO
Apêndice F
Apêndice G
Roteiro de Entrevista
O presente instrumento tem como objetivo analisar a inclusão de alunos
com TEA nas aulas de Educação Física.
Data:___/___/___
1. Idade, Ano e instituição de Formação:
2. Formação complementar:
3. Tempo de atuação na área:
4. Teve conhecimentos prévios ou formação sobre autismo?
5. Quantos alunos com TEA você tem atualmente? Qual a faixa etária dos
seus alunos?
6. Quais as características do(s) aluno(s) em relação ao comportamento
dele em aula?
15. De modo geral, você encontra aspectos que facilitem o seu trabalho com
o (s) aluno(s) com autismo? Quais? E aspectos que dificultem o seu trabalho?
Apêndice H
Apêndice I
Data: __/__/__
Professora nº ___
1. O que está sendo desenvolvido com os alunos nas aulas de Educação Física?
2. Quais conteúdos você pretende trabalhar nos próximos três meses?
3. O aluno tem participado de atividades ou brincadeiras com a turma? Comente
um pouco sobre isso.
4. Você utilizou de alguma estratégia com o aluno nas aulas de Educação Física?
Como são planejamentos?
5. Você tem encontrado barreiras para desenvolver seu trabalho com o aluno
autista?
6. Você gostaria de abordar mais alguma coisa?
113
Apêndice J
Protocolo de Observação
Data:___/___/___
Sessão:
( ) Baseline
( ) Intervenção
Participante:
Início da aula: ____:____
Término da aula:____:____
Variáveis:
VD¹: Tempo de engajamento na tarefa tal como proposta;
VD²: Frequência de interação com os colegas e professor;
Observações:
114
Apêndice K
Adaptações
- Salto em distancia– instruções curtas, chamar atenção quando M... sair da atividade
e incentivar colegas a interagirem com ele.
- Salto em altura - além das outras orientações, pedir aos colegas para realizar junto
com o M... e chamar a atenção dele quando sair da atividade.
Apêndice L
Adaptações
- Troca de passes até o aro no gol – além das orientações, auxiliar o G... com o
cartão Primeiro/Depois.
116
Apêndice M
PRIMEIRO DEPOIS
117
Apêndice N
Apêndice O
Data:
Sessão:
Participante:
Observações:
119
Apêndice P
Validade Social
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
Apêndice Q
Observações da intervenção