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Pobre Velha Música- Fernando Pessoa

•Análise ao poema:

Trata-se de um poema ortónimo de Fernando Pessoa, ou seja, escrito em


nome do próprio.
Esta temática – a nostalgia da infância – surge na poesia de Pessoa como
uma fase da vida feliz, pela inconsciência, pela inocência de nada saber ou
pensar, pela despreocupação, pela imaginação.
Neste poema, Fernando Pessoa contrapõe o seu passado com o seu
presente, recordando a sua infância.

“Pobre velha música!


Não sei porque me agrado,
Enche-se de lágrimas
Meu olhar parado.”

Nesta primeira estrofe, o sujeito poético começa por nos falar de uma “pobre
velha música”, que simboliza o seu período mais feliz, a sua infância. É
provável que esta música seja uma referência á sua mãe, visto que esta tocava
piano.
No verso 1 conseguimos observar uma dupla adjetivação anteposta e uma
personificação, que caracterizam a forma como o poeta encara a música da
sua infância, demonstrando a afetividade e emoção que esta lhe provoca.
Enquanto este, ouve a música, lembra-se do passado em que também a ouvia
e chora de saudade, pois recordar este período, apesar de lhe trazer uma
grande felicidade, também o faz sentir uma certa saudade, nostalgia e até
mesmo tristeza, pois o “eu” lírico tem a noção de que este é um tempo
passado, que não voltará.
Nos versos 3-4 está contida uma anástrofe, uma troca na ordem das palavras.

“Recordo outro ouvir-te


Não sei se te ouvi
Nessa minha infância
Que me lembra em ti.”
Na segunda estrofe, Fernando Pessoa recorda o passado, mas com alguma
estranheza, pois foi ele quem sente, mas, na verdade, quem sentiu o
verdadeiro sentido da música foi o seu “eu” enquanto criança.
V.5- O “outro” é, na verdade, o “eu”, mas em criança. O que confirma a
utilização do recurso expressivo antítese, entre o passado e o presente.
No verso 6 podemos até perceber que paira no ar a dúvida se realmente ele
ouviu a música ou simplesmente ela lhe faz lembrar a sua infância.

“Com que ânsia tão raiva


Quero aquele outrora!
E eu era feliz? Não sei:
Fui-o outrora agora.”

No verso 9, o sujeito poético deseja imenso regressar ao passado, mas tem a


consciência de que isso é impossível o que lhe causa de certa forma uma
angústia e ira. Mesmo que o sujeito conseguisse regressar, não conseguiria ser
feliz, pois seria uma criança com pensamentos adultos.
Segue-se, no verso 11 uma interrogação retórica, através da qual o «eu» se
questiona e destaca a dúvida acerca da felicidade vivida no tempo de infância,
para a qual não tem resposta.
No verso 12 conseguimos ver um paradoxo, no momento em que escreve esta
obra, o poeta, recupera por breves momentos, a felicidade da sua infância, ao
recordá-la.
•Resposta ao questionário:

1- Este poema pode ser dividido em três partes lógicas, conforme a divisão das
estrofes. A primeira parte, que vai do verso 1 a 4 pode se intitular de A música
da minha infância. A segunda parte pode ser intitulada de Recordações de uma
infância indefinida e a terceira parte pode ter como título; De volta ao passado.

2- A primeira estrofe apresenta-nos uma música, que causa um sentimento de


saudade e nostalgia ao sujeito poético, pois através do estímulo sensorial
auditivo, o sujeito recorda-se da sua infância que segundo ele foi o período
dourado da sua vida.

3- Ao longo do poema depara-mo nos com algumas expressões de dúvida,


nomeadamente, no verso 2 “Não sei por que”, onde o “eu” lírico se mostra com
algumas dúvidas acerca dos motivos da sua emotividade, e também nos
versos “não sei se te ouvi” (v. 6) e “E eu era feliz? Não sei” (v.11) que mostram
que ele tem dúvidas em relação à verdade desta sua alegria e felicidade.

4- O último verso “Fui-o outrora agora” aponta-nos para uma notória falta de
clareza, pois apesar da incerteza de que realmente teve uma infância feliz, o
sujeito poético ao ouvir esta música se torna, por instantes mais, alegre.

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