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Sim, é possível observar em diversos hayrens a exaltação dos prazeres mundanos. Como
exemplo, podemos citar o hayren 48: o eu-lírico aprecia o beijo da pessoa amada e o compara
ao fruto proibido do Jardim do Éden – indicando reconhecer o caráter profano de seu ato.
Mais do que isso, o eu-poético indica que Adão comeu o fruto por engano, já ele consome os
beijos de seu amor espontaneamente; enquanto Adão é punido por seu engano com a
expulsão, o eu-lírico goza de seu paraíso terreno: o peito de sua paixão.
HAYREN 48
Outro exemplo seria o hayren 83, que pode ser lido como uma referência ao ato sexual,
partindo da descrição do movimento da cintura feminina como um ir e vir, comparando-a a
um arco (provavelmente sendo curvilíneo, manuseável, delineado). Além dessa, há também a
comparação sugestiva entre as tetas e os cachos de uva: suculentos, volumosos e, em última
instância, algo que deve ser levado à boca para ser chupado, evidenciando o caráter sexual do
poema.
HAYREN 83
HAYREN 81
Tanto em armênio quanto em português as expressões utilizadas pelo eu-lírico para referir-se
à pessoa amada permitem uma interpretação para ambos os gêneros (ex.: meu amor/իմ
կիւզելին). Já para o terceiro trecho grifado, estamos diante de um problema quanto ao gênero
gramatical: em armênio, o trecho não define se trata-se de uma persona masculina ou
feminina. Logo, o trabalho de tradução requer que seja feita uma escolha que respeite o texto.
Nesse caso, provavelmente levou-se em conta a questão social da época que permitiria muito
mais a um homem do que a uma mulher estar sozinho numa noite, sentado sob uma árvore
bebendo e cantando; ainda assim, é questionável, uma vez que não sabemos se a pessoa se
encontra dentro ou fora do muro alto: se for fora, podemos afirmar que se trata de um
homem; sendo dentro, há a possibilidade de ser uma mulher.