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CANTIGAS DE AMOR

Cantigas de Amor
Chamavam os trovadores cantigas ou cantares de amor às poesias que se apro-
cantiga de amor/cantiga ximavam, no fundo e na forma, da cansó occitânica e nas uais o oeta exprimia os
de amigo sentimentos amorosos pela dama cortejada falando em seu p'róprio nome, em con-
traposição às cantigas ou cantares de amigo.

Celso Ferreira da Cunha, Dicionário de Literatura


(org. J. do Prado Coelho)

Mas os nossos poetas não se limitam a adaptar, Ror vezes, à estrutura típica.
da cantiga de amor, o ritmo e a vivacidade que caracterizam a cantiga de amigo;
mesmo na cantiga de imitação provençal (Quer'eu en maneira de proençant a
~ressão do amor simplifica-se e o sentimento amoroso, não sendo um fingi-
amor fingido/amor ~ento, humaniza-se e atinge um arrebatamento e um tom de sinceridade vivida,
ocasional inexistentes no lirismo da Provença. D. Dinis, por exemplo, estabelece a oposição
entre o amor fingido e ocasional dos Provençais (que só trovam no «tempo da
frol») e o sofrimento amoroso que inspira a poesia galego-portuguesa (Proençaes
soen mui ben trobar).
De acordo com o nosso temperamento apaixonado e saudosista, a nossa
coita cantiga de amor exprime a «coita» ou «culta», paixão infeliz, amor não correspon-
dido que se torna obsessão, repetida em tom de queixa ou de súplica. .
temperamento romântico ,Assim se cria uma monotonia ex ressiva, uma plangência que exprime o com-
prazimento na dor e que culmina com a aSRira ão a «morrer de amor», um dos
tópicos mais repetidos na cantiga de amor gale o-p'ortuguesa e por isso muito
satirizado nos «escárnios de amor». Como tem sido afirmado, a cantiga de amor
constitui a primeira manifestação literária do nosso temperamento romântico.
temas/originalidade 1\10entanto, embora com menos subtileza e menos retórica do que a
«canso», a cantiga de amor galego-portuguesa retoma os temas cantados pelos
trovadores provençais: anegírico da «senhor», considerada modelo de beleza e
panegírico da «senhor» virtude e que a todas excedia pelo seu <<!:~rez» e «benJalar» (Pois que vos Deus fez,
mia sennorTfazer do ben sempr'o melhor); «serviço amoroso» e obediência ao
código da «mesura», isto é, defesa do amor espiritual em oposição à cupidez eró-
amor espiritual/cupidez tica (Pero muito amo, muito non desejo; Pero que eu mui lonq' estou); tentativa de
erótica sondagem do sentimento amoroso e expressão dos efeitos contraditórios do
amor (Senhor fremosa, pois me non queredes; Esso mui pouco que o/eu falei; Direi-
vos que mi avêo, mia senhor).
saudosismo A temática da cantiga de amor galego-portuguesa apresenta ainda outras
variantes: saud05~ (Que soidade de mia senhor eh, desespero provocado elo
afastamento a ona (A Bonaval quer'eu, mia senhor, ir), despedida da amada (Ben
"-
sabia eu, mia senhor), temas que permanecerão na lírica portuguesa. Outros,
porém, reflectem a nossa maneira ae ser e constituem simultaneamente uma
marca da época: ti~~ ez.amorQSa(Esso mui pouco que o/eu taiei), com razimento
na paixão infeliz (Ua-Gona, que eu quero gran ben; Senhor do corpo elgaCJol.
revol a contra o poder fatal da «coita de amor» (Coitado vivo á mui gran sazon; Se

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