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Eixo 1: Gestão, Política Educacional e Tecnologias

O ENSINO SUPERIOR EM ANGOLA: EVOLUÇÃO E DESAFIOS


ATUAIS
Wiliam Reimão Machado Pinto1

1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho apresenta a evolução do Ensino Superior em Angola, país
africano com fortes laços históricos com o Brasil que remontam a trágica época em que
milhões de pessoas eram sequestrados para os trabalhos forçados a partir do século XV.
Angola conquistou a soberania em 1975 após o longo e sangrento processo de luta
contra a metrópole portuguesa e o Brasil foi a primeira nação a reconhecer Angola
como nação independente, desde de então as relações ficaram mais vigorosas.
A partir da década de 2000, emergiu a chamada Estratégia Sul-Sul para favorecer
mais tratativas e progresso mútuo de países em desenvolvimento. O Ensino Superior é
um dos temas mais presentes às nações periféricas em seu progresso e integração global.
A metodologia será uma Abordagem Qualificativa para compreender as
informações numa relevância social por uma Pesquisa Bibliográfica (documentos
oficiais e obras especializadas), num Estudo Exploratório-Descritivo, emergindo ideias
e a análise dos fenômenos contemporâneos.

2 DESENVOLVIMENTO
Para fins metodológicos, dispomos de 3 fases do Ensino Superior: Colonial (1962-
1975), Revolucionário (1975-1991) e Transição Democrática (1991- ...).

2.1 FASE COLONIAL (1962-1975)


Angola foi colônia portuguesa no século XV e mantida em profunda exploração e
desprezo à população nativa. No ano da Independência (1975), 85 % eram analfabetos.
No contexto de descolonização da África e Ásia e da luta armada angolana iniciada
em 1961 contra a metrópole, trouxeram reformas nas colônias, sendo fundados os
Estudos Gerais Universitários em 1962 em Angola.

1
Universidade Estadual da Bahia (UNEB), wreimao@gmail.com
A Educação Superior preservava as segregações coloniais ao favorecer às elites e
classe médias brancas e dificultava o acesso dos cidadãos nativos (MONTEIRO, 2016).
A guerrilha anticolonial ofertava a alfabetização nas zonas de influência. Em 1975,
após 14 anos de guerra, o novo governo português legitimou a Independência Angolana.
A evolução dos estudantes universitários na Universidade Colonial foi a seguinte:

TABELA 1: Evolução de Estudantes Matriculados na Universidade Colonial


Ano Matrículas
1963-64 286
1966-67 607
1971-72 2.443
1972-73 3.094
FONTE: Elaboração própria com os dados de LIBERATO (2019, 68 p.)

2.2 FASE REVOLUCIONÁRIA (1975-1991)


Na emancipação em 1975, a Universidade Colonial foi nomeada Universidade de
Angola (depois, Universidade de Agostinho Neto – UAN). Foi a primeira vez que os
cidadãos angolanos chegavam aos bancos universitários em maior escala.
A edificação do Estado-nação pelos revolucionários vitoriosos sofreu um revés com
a Guerra Civil (1975- 2002). O conflito drenou os recursos e restringiu as estratégias da
Educação, enfocada na alfabetização em massa, numa menor abrangência educacional.
Liberato (2019) comenta o valor ideológico da Universidade na legitimação do
Partido Dirigente, formando o “Novo Homem Angolano” na construção socialista.
A evolução de estudantes da UAN, a única universidade, foi esta:

TABELA 2: Evolução de Estudantes Matriculados na UAN


Ano Matrículas
1975-76 1.406
1979-80 1.918
1985-86 4.965
1990-91 6.534
FONTE: Elaboração própria com os dados da UNESCO (1993, 144 p.)

2.3 FASE DA TRANSIÇÃO DEMOCRÁTICA (1991 - ...)


Num breve armistício em 1991, permitiram eleições gerais e multipartidarismo com
uma distensão democrática. Angola flexibilizou sua centralização socialista à uma
gradativa economia de mercado, a guerra terminou em 2002.
Em 1992 foi autorizada a primeira universidade privada, seguida de outras
instituições particulares em profusão com o fim do conflito.
A reconstrução nacional e a demanda das commodities angolanas no mercado global
exigiram novos profissionais e conhecimentos que incitaram a abertura desenfreada de
cursos superiores privados, muitos com baixa qualidade (CARVALHO, 2014).
A UAN deixou de ser a única universidade estatal e se dividiu em 9 universidades
em 2009, além de outras instituições públicas criadas para suprir os planos nacionais.
Angola tem 72 instituições de Ensino Superior: 25 públicas (46,94 % dos
estudantes) e 47 privadas (53,06 % do alunato), pelo último anuário (ANGOLA, 2018).
A fim de regular e melhorar o Ensino Superior, o Ministério do Ensino Superior e o
órgão especializado de avaliação são criados em 2010, entretanto as normas de
avaliações internas e externas são editadas em 2021.
A crise sanitária impeliu mudanças educacionais em Angola para estruturar os
ensinos a distância e híbridos aos universitários afastados das salas com um reduzido e
desigual acesso as tecnologias da informação e comunicação.
A evolução do Ensino Superior nesta fase de distensão democrática é a seguinte:

TABELA 3: Evolução de Estudantes Universitários no período democrático


Ano Matrículas
1997 7.916
2002 12.566
2009 98.777
2019 299.492
FONTE: Elaboração própria com os dados de ANGOLA (2022, p. 73) e
CARVALHO (2014, 34-35 p.).

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
As políticas do Ensino Superior de Angola só no século XXI emergirem sem a
ameaça militar, sendo um sistema educacional recente e com prevalência do setor
privado, uma predominância comum em nações periféricas. As experiências avaliativas
são novas e aguardamos os primeiros resultados.
O aprofundamento dos estudos pelo Programa de Mestrado de Gestão e
Tecnologias Aplicadas à Educação (GESTEC) para analisar mais questões do Ensino
Superior Angolano, bem como uma cooperação internacional com a nação irmã.

REFERÊNCIAS
ANGOLA. Instituto Nacional de Estatísticas (INE). Anuário de Estatísticas Sociais
2015/2019. Luanda: INE, 2018. Disponível em: <
https://www.ine.gov.ao/Arquivos/arquivosCarregados//Carregados/Publicacao_6378407
88471761457.pdf >, Acessado em 02 nov. 2022.

ANGOLA. Ministério da Educação Superior, Ciência e Tecnologia e Inovação


(MESCTI). Anuário Estatístico do Ensino Superior 2018. Luanda: MESCTI, 2018.
Disponível em: <
https://mescti.gov.ao/fotos/frontend_22/gov_documentos/anuario_estatistico_2018_148
16802606323994ab6bdf.df.pdf >, Acessado em 02 nov. 2022.

CARVALHO, P. Cursos de Pós-graduação em Angola in: África Contemporânea em


Cena: Perspectivas Interdisciplinares. PANTOJA, S., BERGAMO, E. A., SILVA, A. C.
(Org.) São Paulo: Intermeios, 2014, 27-40 pp.

LIBERATO, E. Reformar a Reforma: Percurso do Ensino Superior e Angola in Dossiê:


Reflexões sobre e de Angola – Inscrevendo Saberes e Pensamentos. Revista
Transversos, n.º 15, Rio de Janeiro, Jan./Abr. 2019, 64-84 pp. < Disponível em
https://www.e-publicacoes.uerj.br/ojs/index.php/transversos/article/view/42034 >,
Acessado: 02 nov. 2022.

MONTEIRO, A. A. Natureza do Serviço Social em Angola. São Paulo: Cortez, 2016.

Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO).


Angola: opções para a reconstrução do sistema educativo. UNESCO: Paris, 1993 <
Disponível em: < https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000152009 >, Acessado em
02 nov. 2022.

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