Você está na página 1de 2

AS NOVAS E

CONTROVERSAS TESES
SOBRE OS EFEITOS DA
MACONHA
Debate ganhou fôlego com argumentos que relacionam planta à violência,
enquanto há pesquisas ligando o consumo ao desenvolvimento de sintomas
psicóticos
Danilo Thomaz e Carolina Brígido
23/05/2019 - 07:00 / Atualizado em 23/05/2019 - 12:47

Um livro com pesadas advertências ao consumo de maconha


tornou-se, recentemente, uma das obras mais vendidas nos
Estados Unidos e eriçou as comunidades médicas e acadêmicas
especializadas na investigação das drogas. Ex-repórter do New
York Times , o autor Alex Berenson inflamou um debate até tão
considerado superado em razão da popularização do uso
medicinal e recreativo da Cannabis . “A maconha causa paranoia e
psicose. Paranoia e psicose causam violência. Há evidências
esmagadoras que ligam transtornos psicóticos à violência”,
escreveu ele em Conte a seus filhos: a verdade sobre a maconha,
doenças mentais e violência , publicado em janeiro passado.

Berenson opina que não se deveria mais dourar a pílula sobre o


uso da maconha, apregoando a importância de sua função
medicinal, realçando seu papel relaxante ou enumerando as
possibilidades de negócios decorrentes desse novo filão. “Talvez
eu seja muito cínico, mas acredito que a maioria das pessoas fuma
maconha pela mesma razão que elas bebem álcool ou usam
qualquer outra droga: porque gostam de ficar chapadas.”

Ele ainda argumenta que os defensores do uso de maconha


ignoram evidências científicas de que o composto ativo da droga,
o THC (tetra-hidrocanabinol, principal ingrediente ativo
da Cannabis ), pode precipitar o início da esquizofrenia e provocar
atos de violência em indivíduos que experimentam “surto”
psicótico.

A partir de um artigo de Malcolm Gladwell para a revista The New


Yorker, a tese controversa de Berenson se espalhou, e o livro logo
entrou para as listas dos mais vendidos no país. Reportagens e
ensaios em outras publicações, como The Atlantic , The
Nation , Rolling Stone , Vox eNational Review , enfileiraram
vozes de apoio — poucas — e de críticas — grande parte delas — ao
enfoque de Berenson e, por tabela, de Gladwell.

O ápice das vozes contrárias foi a carta aberta assinada por 75


acadêmicos e profissionais da área médica americana, que
classificaram o livro como exemplo de “alarmismo” projetado para
despertar o medo do público “com base em uma leitura errada da
ciência”. Os especialistas negam que haja evidências científicas
comprovadas da vinculação entre consumo de maconha e
violência como pregou Berenson. Se fosse assim, a Holanda seria
o país mais sanguinário do mundo.

Você também pode gostar