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RESUMO
A Vila de Pederneiras é uma comunidade quilombola e ribeirinha situada na zona rural do
município de Tucuruí, na região sudeste do estado do Pará. A comunidade que exerce um
modo de vida pacato e interiorano desde sua fundação oficial sempre enfrentou dificuldades
no que se refere ao planejamento e gestão de seu território por parte dos órgãos públicos,
haja vista que, a economia de subsistência comunitária e a gestão natural dos moradores não
davam conta de atender as demais necessidades de serviços básicos como sistema de
destruição de água potável, escola, unidade de saúde, lazer entre outros, para tais ações é
preciso planejamentos, projetos e investimento (recursos financeiros) para que realizações de
cunho estrutural tivessem funcionabilidade equivalente a atender os anseios da comunidade.
Este artigo busca contribuir na análise de informações e na compreensão de como a ausência
de planejamento e aplicabilidade de políticas públicas que visem a gestão territorial da Vila de
Pederneiras acarretou inúmeros empecilhos no que tange ao desenvolvimento de atividades
fundamentais a vivência dos moradores tendo em vista as fragilidades cotidianas dos sujeitos
enquanto indivíduos e sociedade conjunta.
ABSTRACT
Vila de Pederneiras is a quilombola and riverside community located in the rural area of the
municipality of Tucuruí, in the southeastern region of the state of Pará. The community that
has exercised a peaceful and rural way of life since its official foundation has always faced
difficulties with regard to the planning and management of its territory by public agencies, given
that the community subsistence economy and the natural management of the residents could
not meet the other needs of basic services such as a drinking water destruction system, school,
health unit, leisure, among others, for such actions, planning, projects and investment
(financial resources) are necessary for structural achievements to have functionality equivalent
to meeting the needs of the community. This article seeks to contribute to the analysis of
information and to the understanding of how the absence of planning and applicability of public
policies aimed at territorial management of Vila de Pederneiras caused numerous obstacles
in terms of the development of activities that are fundamental to the residents' experience in
view of the daily weaknesses of subjects as individuals and a joint society.
1
Graduada em Geografia pela Universidade Federal do Pará (UFPA), pós-graduada pelo Instituto Federal do Pará
(IFPA) e mestranda no Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal de Rondônia – Campus Porto Velho.
Introdução
2
O núcleo populacional formado às margens do rio Tocantins, no lugar conhecido como Pederneiras, município
de Baião, passou a ser a freguesia de São Pedro de Alcântara em 31 de outubro de 1870. Nova denominação foi
dada em 19 de abril de 1875, o local foi chamado de São Pedro de Alcobaça até 30 de dezembro de 1943, quando
passou a denominar-se Tucuruí.
3
É o benefício concedido ao Pescador Profissional Artesanal durante o período de defeso da atividade pesqueira
para a preservação da espécie, conforme disposto na Lei nº 10.779, de 25 de novembro de 2003.
2
Atualmente a comunidade abriga cerca de 20 famílias que vivem das atividades
anteriormente citadas, sendo que, muitos tiveram que se deslocar para a sede urbana
do município em busca de trabalho ou para exercer outras ocupações que acabaram
desenvolvendo para complementar sua renda, haja vista que, percebeu-se que o
pescado tem desaparecido com o passar dos anos, relatos de moradores apontam a
construção da Usina Hidrelétrica de Tucuruí como o fator central que desencadeou
toda a situação, posto que, o barramento edificado, a subida e a descida das águas
implicam diretamente no ciclo de vida das espécies de peixe do baixo Tocantins.
Mérona et al. (2010).
No que se refere ao olhar do poder público ou de empresas financiadoras de
projetos para a Vila de Pederneiras é histórico o descaso, mesmo sendo um lugar de
grande importância no que tange ao processo de expansão e consolidação do atual
município, além de ser um dos principais pontos turísticos da região a comunidade
sempre foi deixada de lado quando se fala em investimentos e gestão de políticas
públicas, apenas em 2020 iniciou-se algumas ações políticas da prefeitura municipal
para viabilizar e melhorar algumas situações por meio de apelos e lutas dos
moradores.
Neste trabalho destacamos como objetivo orientador a compreensão de como
se deu o planejamento e a gestão do território a partir da percepção da ausência de
políticas públicas atuantes na Vila de Pederneiras desde sua fundação oficial até o
presente momento. Como procedimento metodológico inicial foi feito levantamento e
uma revisão bibliográfica, pesquisas de informações e imagens em sites e páginas na
internet, leituras, seleção de material textual, fichamentos, anotações, entre outros.
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meio da pesca. Todavia, é necessário mencionar o impacto ambiental gerado
pela construção da Usina Hidrelétrica de Tucuruí, que modificou
drasticamente a maneira que esse recurso hídrico se comportava. Assim,
com o objetivo de produzir energia utilizando a força das águas do Rio
Tocantins foi realizada a construção de um barramento e a criação de um
lago artificial em 1984. (CRUZ; ROCHA E RIBEIRO, 2018. p. 13)
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Em suma, todas as construções foram feitas e levantadas pelos próprios
moradores da Vila de Pederneiras, a não ser pelo poço artesiano que abastece a
comunidade, este foi construído por meio de recursos próprios da Colônia de
Pescadores de Tucuruí (figura 01), com isso pode-se atestar que não houve um
planejamento por parte do poder público para ser aplicado na localidade no que tange
ao abastecimento de água potável.
Figura 01 – Poço artesiano da Vila de Pederneira em 2022
Uma sociedade autônoma é aquela que logra defender e gerir livremente seu
território [...] Uma sociedade autônoma não é uma sociedade sem poder [...]
No entanto, indubitavelmente, a plena autonomia é incompatível com a
existência de um “Estado” enquanto instância de poder centralizadora e
separada do restante da sociedade. (SOUZA, 2001, p. 106).
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É visível que dentro de um contexto territorial, mesmo com a presença de ações
do Estado como agente que media ou tenta amenizar algumas situações haja tensões
e conflitos, seja por agentes externos ou internos. Território, assim, em qualquer
acepção, tem a ver com poder, mas não apenas ao tradicional "poder político". Ele diz
respeito tanto ao poder no sentido mais explícito, de dominação, quanto ao poder no
sentido mais implícito ou simbólico, de apropriação. (HAESBAERT, 2007. p. 20)
Vila de Pederneiras já foi palco no passado de conflitos pelo uso de seus
recursos naturais e posse de seu território por indígenas da etnia Assurini, não
obstante hoje em dia não se percebe esse tipo de luta por nenhum grupo de atores
que não tenha ligação direta com as famílias, acontecem apenas disputas internas de
poder por partes dos membros familiares distintos que possuem certa hierarquia (seja
etária ou econômica) no qual causam inúmeras tensões no que tange ao uso do
território da comunidade.
Os problemas oriundos da ausência de planejamento, gestão e apoio do poder
público são voltados as necessidades básicas os quais os moradores têm direitos,
como educação, saúde e saneamento, neste contexto temos vários eixos no que se
refere as correntes explicativas de políticas públicas no âmbito geográfico, é
importante compreender algumas bases deste conceito, Rodrigues (2014) explicita
que:
[...] políticas públicas emergem a partir de problemas que não são inatos, mas
construídos; ou seja, para que um problema seja incluído na agenda política,
é preciso que seja reconhecido como tal, o que denota certa lógica de escolha
que é relativa aos valores sociais preponderantes no contexto socioespacial
e temporal em que se estabelece, dos atores políticos envolvidos e da própria
opinião pública. Isso significa dizer que tal escolha é historicizada, não é
inócua e tampouco resulta de um consenso entre as diversas prioridades que
se manifestam na sociedade. (RODRIGUES, 2014. p. 153)
4As classes multisseriadas são uma forma de organização de ensino na qual o professor trabalha, na mesma sala
de aula, com várias séries do Ensino Fundamental simultaneamente, tendo de atender a alunos com idades e
níveis de conhecimento diferentes. Bastante presentes na zona rural do País, as classes multisseriadas estão
presentes sobretudo em áreas de difícil acesso, já que algumas escolas têm um número pequeno de matrículas e
a mudança para outras escolas nem sempre é possível, por conta da distância.
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totalmente impróprias para que houvesse aulas para as crianças como mostra a figura
01, por esses motivos, o Ministério Público veio por intermédio de seus agentes fazer
o fechamento imediato da escola.
Até o ano de 2022 não há funcionamento de uma escola na Vila de Pederneiras,
as crianças e adolescentes que moram ali vão estudar na sede urbana, um transporte
escolar com um profissional que monitora busca e leva os estudantes todos os dias
apenas no período da tarde. No inverno amazônico as estradas de terra ficam em
péssimas condições de tráfego, com isso ocorrem muitos atoleiros e por várias vezes
o ônibus escolar quebra, causando muitos transtornos, preocupando pais e
responsáveis, deixando as crianças e adolescentes em situação de risco. Dia 01 de
junho de 2021 foi aprovado o projeto na Câmara Municipal de Tucuruí para a
construção da nova escola, contudo ainda não saiu do papel.
Figura 02 – Situação educacional na Vila de Pederneira em 2022
A B C
Fonte: Vila Pederneiras/Facebook (2022)
Legenda:
A – Ônibus atolado em época de inverno na estrada de terra que dá acesso à Vila de Pederneira.
B – Sobras de livros e freezer da antiga escola da comunidade, que funcionava em um barracão antigo.
C – Antiga lousa da escola desativada.
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Gráfico 01 - Serviços Públicos Ausentes na Vila de Pederneiras
10
Número de pessoas entrevistadas
9
8
7
6
5
4
3
2
1
0
Escola Unidade de Coleta regular de Manutenção das Internet rural
saúde lixo estradas
Fonte: Elaborado pela autora/2022
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Figura 03 – Retirada de famílias da Vila de Pederneira pela Defesa Civil, bombeiros
e exército
É fato que a Vila de Pederneiras sofreu ao longo dos anos pela falta de atenção
no que se refere a implementação de projetos que subsidiassem as necessidades
básicas de seus habitantes, todavia vale frisar que a população local sempre lutou por
seus direitos em busca de melhorias e qualidade de vida, no ano de 2022 ocorreu o
reconhecimento legal enquanto comunidade quilombola, diante disso, os habitantes
agora gozam de seus respectivos direitos mediante documentação (carteira
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registrada). No âmbito do entendimento de gestão territorial onde envolve-se grupos
ou ações políticas Dallabrida (2007) faz apontamentos importantes para se entender
esse processo.
A B
Fonte: Vila Pederneira/Facebook (2022)
Legenda:
A – Vista aérea da praia da Vila de Pederneira
B – Equipe de segurança que atua aos fins de semana na comunidade dando apoio e proteção aos
banhistas.
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comunidade, a exemplificar tem-se a venda de comidas caseiras, no qual o destaque
vai para o preparo de diferentes espécies de peixes pescados ali mesmo, isso gera
significativo valor cultural, gerando relevância a culinária local e demonstrando sua
importância dentro do contexto de poder impresso e articulado no território da vila.
A B
Fotos: Fernanda Lisboa (2022)
Legenda:
A – Refeição com variados peixes fritos com acompanhamentos regionais.
B – Porção de peixe frito com limão e alface.
Considerações Finais
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Elaborar um planejamento e aplicá-lo por meio de uma gestão eficiente em um
determinado espaço é deveras complexo, visto que, existem diferentes fenômenos
que implicam direta ou indiretamente, principalmente quando falamos de território
enquanto local onde acontecem conflitos de poder. Gerir infere em minimizar algumas
situações que, porventura, aconteciam de maneira negativa ou mesmo de uma
estagnação das atividades presentes no território, seja no contexto urbano ou rural.
Referências
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MÉRONA, Bernard et al. OS PEIXES E A PESCA NO BAIXO RIO TOCANTINS: 20
ANOS DEPOIS DA UHE TUCURUÍ. CENTRAIS ELÉTRICAS DO NORTE DO
BRASIL S.A – ELETROBRAS ELETRONORTE 2010. Disponível em:
https://horizon.documentation.ird.fr/exl-doc/pleins_textes/2021-05/010051893.pdf.
Acesso em 13 de out. de 2022.
SOUZA, Marcelo José Lopes de. O território: sobre espaço e poder. Autonomia e
desenvolvimento. In CASTRO, I. E. de; GOMES, P. C. da C.; CORRÊA, R. L. (Orgs.).
Geografia: conceitos e temas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001, p.77- 116.
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