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AUSÊNCIA DE POLÍTICAS PÚBLICAS NA COMUNIDADE QUILOMBOLA

AMAZÔNICA VILA DE PEDERNEIRAS – TUCURUÍ/PA

Luciana de Oliveira Cruz


lucititania01@gmail.com1

RESUMO
A Vila de Pederneiras é uma comunidade quilombola e ribeirinha situada na zona rural do
município de Tucuruí, na região sudeste do estado do Pará. A comunidade que exerce um
modo de vida pacato e interiorano desde sua fundação oficial sempre enfrentou dificuldades
no que se refere ao planejamento e gestão de seu território por parte dos órgãos públicos,
haja vista que, a economia de subsistência comunitária e a gestão natural dos moradores não
davam conta de atender as demais necessidades de serviços básicos como sistema de
destruição de água potável, escola, unidade de saúde, lazer entre outros, para tais ações é
preciso planejamentos, projetos e investimento (recursos financeiros) para que realizações de
cunho estrutural tivessem funcionabilidade equivalente a atender os anseios da comunidade.
Este artigo busca contribuir na análise de informações e na compreensão de como a ausência
de planejamento e aplicabilidade de políticas públicas que visem a gestão territorial da Vila de
Pederneiras acarretou inúmeros empecilhos no que tange ao desenvolvimento de atividades
fundamentais a vivência dos moradores tendo em vista as fragilidades cotidianas dos sujeitos
enquanto indivíduos e sociedade conjunta.

Palavras-chave: Vila de Pederneiras; Planejamento; Gestão; Território; Políticas


Públicas.

ABSTRACT
Vila de Pederneiras is a quilombola and riverside community located in the rural area of the
municipality of Tucuruí, in the southeastern region of the state of Pará. The community that
has exercised a peaceful and rural way of life since its official foundation has always faced
difficulties with regard to the planning and management of its territory by public agencies, given
that the community subsistence economy and the natural management of the residents could
not meet the other needs of basic services such as a drinking water destruction system, school,
health unit, leisure, among others, for such actions, planning, projects and investment
(financial resources) are necessary for structural achievements to have functionality equivalent
to meeting the needs of the community. This article seeks to contribute to the analysis of
information and to the understanding of how the absence of planning and applicability of public
policies aimed at territorial management of Vila de Pederneiras caused numerous obstacles
in terms of the development of activities that are fundamental to the residents' experience in
view of the daily weaknesses of subjects as individuals and a joint society.

Keywords: Village of Pederneira; Planning; Management; Territory; Public policy.

1
Graduada em Geografia pela Universidade Federal do Pará (UFPA), pós-graduada pelo Instituto Federal do Pará
(IFPA) e mestranda no Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal de Rondônia – Campus Porto Velho.
Introdução

A Vila de Pederneira tem em seu histórico contribuições indiscutíveis para a


formação do atual município de Tucuruí, situado na região sudeste paraense, haja
vista que, a comunidade foi o ponto inicial de partida para a constituição desta unidade
político-administrativa, sendo anteriormente conhecido por diferentes nomenclaturas2.
A vila tornou-se um distrito, localizada na zona rural de Tucuruí, na margem esquerda
do Rio Tocantins. (mapa 01)
Desde sua fundação oficial em 1975 a comunidade quilombola Vila de
Pederneiras atravessou as temporalidades usando de um planejamento natural para
povoar e agir naquele recorte espacial. No início a gestão do seu território ocorria de
maneira coletiva, pensada e baseada nas necessidades de todos, todavia conforme
novas dinâmicas exógenas surgiram os interesses dos moradores mudavam e
emergiam outros anseios para que as ações acompanhassem as transformações que
estavam ocorrendo nas diferentes escalas (mundial, nacional, regional e local). Junior;
Campos e Oliveira (2021) explica como o planejamento e a gestão territorial podem
ser entendidos nessa ótica.

O planejamento e a gestão territorial estão diretamente associados à posse


e ao uso de espaços reconhecidos como áreas tradicionalmente ocupadas e,
portanto, ligadas às ideias de sustentabilidade, locais de saberes, modos de
vida diferenciados e reprodução física e cultural de povos originários e
comunidades tradicionais. (JUNIOR; CAMPOS E OLIVEIRA, 2021. p. 341)

O modo de vivência dos habitantes sempre foi sistematizado no modelo de vida


quilombola e ribeirinho, isto é, com economia fundamentada majoritariamente na
pesca e complementada por plantios de roças com elementos alimentícios primários
(mandioca, milho, feijão, abóbora, melancia, arroz etc.) e, posteriormente por auxílios
governamentais (aposentadorias, seguro defeso3, bolsa família, pensões entre
outros).

2
O núcleo populacional formado às margens do rio Tocantins, no lugar conhecido como Pederneiras, município
de Baião, passou a ser a freguesia de São Pedro de Alcântara em 31 de outubro de 1870. Nova denominação foi
dada em 19 de abril de 1875, o local foi chamado de São Pedro de Alcobaça até 30 de dezembro de 1943, quando
passou a denominar-se Tucuruí.

3
É o benefício concedido ao Pescador Profissional Artesanal durante o período de defeso da atividade pesqueira
para a preservação da espécie, conforme disposto na Lei nº 10.779, de 25 de novembro de 2003.
2
Atualmente a comunidade abriga cerca de 20 famílias que vivem das atividades
anteriormente citadas, sendo que, muitos tiveram que se deslocar para a sede urbana
do município em busca de trabalho ou para exercer outras ocupações que acabaram
desenvolvendo para complementar sua renda, haja vista que, percebeu-se que o
pescado tem desaparecido com o passar dos anos, relatos de moradores apontam a
construção da Usina Hidrelétrica de Tucuruí como o fator central que desencadeou
toda a situação, posto que, o barramento edificado, a subida e a descida das águas
implicam diretamente no ciclo de vida das espécies de peixe do baixo Tocantins.
Mérona et al. (2010).
No que se refere ao olhar do poder público ou de empresas financiadoras de
projetos para a Vila de Pederneiras é histórico o descaso, mesmo sendo um lugar de
grande importância no que tange ao processo de expansão e consolidação do atual
município, além de ser um dos principais pontos turísticos da região a comunidade
sempre foi deixada de lado quando se fala em investimentos e gestão de políticas
públicas, apenas em 2020 iniciou-se algumas ações políticas da prefeitura municipal
para viabilizar e melhorar algumas situações por meio de apelos e lutas dos
moradores.
Neste trabalho destacamos como objetivo orientador a compreensão de como
se deu o planejamento e a gestão do território a partir da percepção da ausência de
políticas públicas atuantes na Vila de Pederneiras desde sua fundação oficial até o
presente momento. Como procedimento metodológico inicial foi feito levantamento e
uma revisão bibliográfica, pesquisas de informações e imagens em sites e páginas na
internet, leituras, seleção de material textual, fichamentos, anotações, entre outros.

Ausência e inserção de políticas públicas: configuração territorial e social

A Vila de Pederneiras localiza-se à jusante do Rio Tocantins e sua população


tem um elo extremamente íntimo com esse corpo hídrico, por esse motivo o local foi
escolhido por apresentar todas as características físicas naturais necessárias à
sobrevivência dos habitantes, assim como a multiplicidade de suas atividades
cotidianas. Cruz; Rocha e Ribeiro (2018) endossam tal argumentação afirmando que:

O rio representa uma paisagem de extrema relevância para comunidade de


Pederneiras, posto que, e através deste que a subsistência é adquirida por

3
meio da pesca. Todavia, é necessário mencionar o impacto ambiental gerado
pela construção da Usina Hidrelétrica de Tucuruí, que modificou
drasticamente a maneira que esse recurso hídrico se comportava. Assim,
com o objetivo de produzir energia utilizando a força das águas do Rio
Tocantins foi realizada a construção de um barramento e a criação de um
lago artificial em 1984. (CRUZ; ROCHA E RIBEIRO, 2018. p. 13)

No mapa abaixo é possível ver a localização do território da comunidade e como


há essa interação direta com o corpo hídrico, além de ficar bem próximo à sede urbana
do município (cerca de 14km de distância por terra e em média de 30 a 40 minutos
por via fluvial, com base no transporte utilizado) e nas proximidades do território
indígena da etnia Assurini.

Mapa 01 – Localização da Vila de Pederneira

Fonte: IBGE - 2021


Organizado pela autora 2022

Retira-se do rio o pescado, enquanto fonte de renda (venda do peixe no centro


urbano), alimentação e lazer. É pelo rio que os habitantes se deslocam de um lugar a
outro, embora haja um acesso por estrada de terra as pessoas optam pelo transporte
fluvial, por ser uma característica cultural. Ao longo do tempo foi-se constituindo a vila
enquanto estrutura material em todas as esferas fundamentais para o progresso da
vivência ali, sejam casas, poços, comércios, escolas, igrejas, barracões de festas etc.

4
Em suma, todas as construções foram feitas e levantadas pelos próprios
moradores da Vila de Pederneiras, a não ser pelo poço artesiano que abastece a
comunidade, este foi construído por meio de recursos próprios da Colônia de
Pescadores de Tucuruí (figura 01), com isso pode-se atestar que não houve um
planejamento por parte do poder público para ser aplicado na localidade no que tange
ao abastecimento de água potável.
Figura 01 – Poço artesiano da Vila de Pederneira em 2022

Foto: Acervo da autora/2022

Durantes os anos de fundação da comunidade é perceptível a ausência de


planejamento e políticas públicas advindas do poder municipal, estadual e federal,
segundo relatos de moradores a Eletronorte, subsidiária da Eletrobrás responsável
pela construção da UHE Tucuruí também não esboçou nenhuma preocupação ou
motivou-se a oferecer respaldo em relação a colaborar na mediação dos impactos
causados pelas atividades da Usina Hidrelétrica. O Estado, enquanto regulador das
ações dentro das comunidades amazônicas de maneira geral pode-se fazer vários
apontamentos sobre a gestão e implementação das práticas de políticas públicas.
Souza (2001) expõe a importância do Estado como elemento agenciador e normativo.

Uma sociedade autônoma é aquela que logra defender e gerir livremente seu
território [...] Uma sociedade autônoma não é uma sociedade sem poder [...]
No entanto, indubitavelmente, a plena autonomia é incompatível com a
existência de um “Estado” enquanto instância de poder centralizadora e
separada do restante da sociedade. (SOUZA, 2001, p. 106).

5
É visível que dentro de um contexto territorial, mesmo com a presença de ações
do Estado como agente que media ou tenta amenizar algumas situações haja tensões
e conflitos, seja por agentes externos ou internos. Território, assim, em qualquer
acepção, tem a ver com poder, mas não apenas ao tradicional "poder político". Ele diz
respeito tanto ao poder no sentido mais explícito, de dominação, quanto ao poder no
sentido mais implícito ou simbólico, de apropriação. (HAESBAERT, 2007. p. 20)
Vila de Pederneiras já foi palco no passado de conflitos pelo uso de seus
recursos naturais e posse de seu território por indígenas da etnia Assurini, não
obstante hoje em dia não se percebe esse tipo de luta por nenhum grupo de atores
que não tenha ligação direta com as famílias, acontecem apenas disputas internas de
poder por partes dos membros familiares distintos que possuem certa hierarquia (seja
etária ou econômica) no qual causam inúmeras tensões no que tange ao uso do
território da comunidade.
Os problemas oriundos da ausência de planejamento, gestão e apoio do poder
público são voltados as necessidades básicas os quais os moradores têm direitos,
como educação, saúde e saneamento, neste contexto temos vários eixos no que se
refere as correntes explicativas de políticas públicas no âmbito geográfico, é
importante compreender algumas bases deste conceito, Rodrigues (2014) explicita
que:
[...] políticas públicas emergem a partir de problemas que não são inatos, mas
construídos; ou seja, para que um problema seja incluído na agenda política,
é preciso que seja reconhecido como tal, o que denota certa lógica de escolha
que é relativa aos valores sociais preponderantes no contexto socioespacial
e temporal em que se estabelece, dos atores políticos envolvidos e da própria
opinião pública. Isso significa dizer que tal escolha é historicizada, não é
inócua e tampouco resulta de um consenso entre as diversas prioridades que
se manifestam na sociedade. (RODRIGUES, 2014. p. 153)

Em 2019 a escola de ensino infantil multisseriada4 funcionava de maneira


extremamente precária no barracão da comunidade, uma estrutura já bastante
deteriorada, sem as mínimas condições de abrigar os alunos e com instalações

4As classes multisseriadas são uma forma de organização de ensino na qual o professor trabalha, na mesma sala
de aula, com várias séries do Ensino Fundamental simultaneamente, tendo de atender a alunos com idades e
níveis de conhecimento diferentes. Bastante presentes na zona rural do País, as classes multisseriadas estão
presentes sobretudo em áreas de difícil acesso, já que algumas escolas têm um número pequeno de matrículas e
a mudança para outras escolas nem sempre é possível, por conta da distância.

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totalmente impróprias para que houvesse aulas para as crianças como mostra a figura
01, por esses motivos, o Ministério Público veio por intermédio de seus agentes fazer
o fechamento imediato da escola.
Até o ano de 2022 não há funcionamento de uma escola na Vila de Pederneiras,
as crianças e adolescentes que moram ali vão estudar na sede urbana, um transporte
escolar com um profissional que monitora busca e leva os estudantes todos os dias
apenas no período da tarde. No inverno amazônico as estradas de terra ficam em
péssimas condições de tráfego, com isso ocorrem muitos atoleiros e por várias vezes
o ônibus escolar quebra, causando muitos transtornos, preocupando pais e
responsáveis, deixando as crianças e adolescentes em situação de risco. Dia 01 de
junho de 2021 foi aprovado o projeto na Câmara Municipal de Tucuruí para a
construção da nova escola, contudo ainda não saiu do papel.
Figura 02 – Situação educacional na Vila de Pederneira em 2022

A B C
Fonte: Vila Pederneiras/Facebook (2022)
Legenda:
A – Ônibus atolado em época de inverno na estrada de terra que dá acesso à Vila de Pederneira.
B – Sobras de livros e freezer da antiga escola da comunidade, que funcionava em um barracão antigo.
C – Antiga lousa da escola desativada.

No que concerne às ações e planejamentos sobre a saúde, a Vila de Pederneiras


não possui unidade básica de atendimento, normalmente as campanhas vão até à
comunidade, como as vacinações ou cadastramentos sociais, todavia quando há
necessidade de atendimentos específicos os moradores se deslocam até as unidades
ou hospitais localizados na sede urbana de Tucuruí. Em uma entrevista realizada em
julho de 2022, a pesquisadora conversou com 10 habitantes da localidade, cada
entrevistado representando uma família distinta, embasada por um questionário
previamente elaborado e identificou os principais serviços públicos necessários,
segundo os moradores, tais dados estão representados no gráfico 01.

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Gráfico 01 - Serviços Públicos Ausentes na Vila de Pederneiras
10
Número de pessoas entrevistadas

9
8
7
6
5
4
3
2
1
0
Escola Unidade de Coleta regular de Manutenção das Internet rural
saúde lixo estradas
Fonte: Elaborado pela autora/2022

O gráfico 01 atesta os anseios da população por serviços básicos e essenciais


a um grupo social, paralelo a isso nota-se que os planejamentos e aplicabilidade de
gestão territorial e social para a referida comunidade quilombola estão a mercê da
ausência e interesse dos órgãos públicos em investir na localidade, porém em 2020
com a entrada da atual gestão política municipal algumas mudanças puderam ser
vistas em relação a mandatos anteriores, posto que, novas articulações estão sendo
praticadas em prol da sociedade presente na Vila de Pederneiras. Mastrodi; Iganger
(2019) explica que políticas públicas servem – ou devem servir – ao atingimento das
necessidades sociais, porém isso acaba ocorrendo de modo indireto e não como
objetivo primário da política pública.
Em 2022 na época do inverno o Rio Tocantins alcançou sua cota máxima (74
metros) e preocupou autoridades em relação aos moradores das margens do rio,
nessa dinâmica de cheia a água chegou próximo de invadir as casas dos moradores
da vila, fato nunca antes ocorrido, com isso, houve uma movimentação da Defesa Civil
juntamente do exército e bombeiros para mover as pessoas e salvar seus bens
materiais da invasão da água como visto na figura 02.

8
Figura 03 – Retirada de famílias da Vila de Pederneira pela Defesa Civil, bombeiros
e exército

Fonte: Portal HS/Facebook (2022).


Legenda:
A – Caminhão dos bombeiros e exército no auxílio da retirada das famílias.
B – Entrada da Vila Pederneira.
C – Veículos do exército, polícia e bombeiros e profissionais na localidade.
D – Exército fazendo a retirada de mobílias e bens dos moradores para serem transportados.

Os moradores foram devidamente amparados e realocados em casas de apoio


ou de parentes até a situação ser considerada segura para que todos pudessem
retornar as suas moradias. Percebe-se então, a partir dos exemplos anteriormente
citados que, por muitos anos de maneira generalizada, a comunidade contou apenas
com sua própria gestão, sendo que, a mesma não tinha investimentos e
direcionamentos adequados para a realização de um planejamento de ações
coerentes para com as medidas a serem adotas visando a melhora da qualidade de
vida da população.

Planejamento e Investimento na Vila de Pederneiras: poder nas mãos dos


moradores

É fato que a Vila de Pederneiras sofreu ao longo dos anos pela falta de atenção
no que se refere a implementação de projetos que subsidiassem as necessidades
básicas de seus habitantes, todavia vale frisar que a população local sempre lutou por
seus direitos em busca de melhorias e qualidade de vida, no ano de 2022 ocorreu o
reconhecimento legal enquanto comunidade quilombola, diante disso, os habitantes
agora gozam de seus respectivos direitos mediante documentação (carteira

9
registrada). No âmbito do entendimento de gestão territorial onde envolve-se grupos
ou ações políticas Dallabrida (2007) faz apontamentos importantes para se entender
esse processo.

Assumir a gestão territorial a partir de estruturas de governança tem uma


relação direta com a ampliação da prática democrática, não só na sua
dimensão representativa, mas também a democracia participativa - ou
deliberativa, como vários autores preferem chamá-la -, principalmente pelo
fato de que a democracia não pode resumir-se a um regime político que
contempla eleições livres para os cargos políticos nas diferentes escalas
territoriais. (DALLABRIDA, 2007. p. 03)

A beleza da paisagem natural da Vila de Pederneira e a curta distância em


relação à sede do município são grandes atrativos turísticos com potencial gigantesco
que deve ser encorajado na região e, todos os anos na época do veraneio amazônico
(entre os meses de junho e novembro) a comunidade recebe vários turistas e
forasteiros em busca de lazer na longa praia que fica de encontro ao rio Tocantins,
neste ano de 2022 a prefeitura municipal de Tucuruí dentro de suas atribuições
vinculadas ao departamento de segurança está enviando uma equipe de apoio aos
banhistas todos os fins de semana, garantindo a ordem, a conscientização e suporte
a todos.
Figura 04 – Atividades do veraneio na Vila de Pederneiras

A B
Fonte: Vila Pederneira/Facebook (2022)
Legenda:
A – Vista aérea da praia da Vila de Pederneira
B – Equipe de segurança que atua aos fins de semana na comunidade dando apoio e proteção aos
banhistas.

Nesse âmbito turístico e nessas novas dinâmicas em diferentes escalas torna-


se viável pensar em várias atividades que fomentem e aqueçam a economia da

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comunidade, a exemplificar tem-se a venda de comidas caseiras, no qual o destaque
vai para o preparo de diferentes espécies de peixes pescados ali mesmo, isso gera
significativo valor cultural, gerando relevância a culinária local e demonstrando sua
importância dentro do contexto de poder impresso e articulado no território da vila.

Figura 05 – Venda de alimentos a turistas na Vila de Pederneiras

A B
Fotos: Fernanda Lisboa (2022)
Legenda:
A – Refeição com variados peixes fritos com acompanhamentos regionais.
B – Porção de peixe frito com limão e alface.

É preciso pontuar que, a comunidade não é passiva em desejar apenas que os


órgãos públicos fiquem responsáveis pelo desenvolvimento da localidade, ao
contrário, as lideranças travam uma batalha cotidiana em busca de projetos e recursos
na Câmara municipal, assim como patrocínios de empresas privadas, comércios e
outros estabelecimentos para endossarem suas práticas. Nitidamente algo deve ser
realizado, contudo precisa-se frisar que, a gestão de projetos, recursos e
planejamentos devem ser protagonizados pelos habitantes da comunidade, afinal eles
sabem exatamente do que precisam, além do que já trabalham e se organizam de
maneira coletiva, exercendo de maneira homogênea seu poder dentro da
territorialidade da vila, ou seja, as políticas públicas devem ser voltadas para endossar
projetos que valorizem a cultura e as especificidades do local e do seu povo.

Considerações Finais

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Elaborar um planejamento e aplicá-lo por meio de uma gestão eficiente em um
determinado espaço é deveras complexo, visto que, existem diferentes fenômenos
que implicam direta ou indiretamente, principalmente quando falamos de território
enquanto local onde acontecem conflitos de poder. Gerir infere em minimizar algumas
situações que, porventura, aconteciam de maneira negativa ou mesmo de uma
estagnação das atividades presentes no território, seja no contexto urbano ou rural.

A Vila de Pederneiras sendo uma comunidade tradicional amazônica possui


inúmeros aspectos físicos naturais que podem ser explorados de maneira consciente
e sustentável visando a melhoria de vida da população, portanto se fazem necessários
estudos e planejamentos, além disso é imprescindível inserir a população nesse
processo, de modo que participem ativamente das ações e tomem as rédeas das
práticas que devem ser feitas, afinal tais sujeitos conhecem bem suas próprias
necessidades, ao tomar a frente nas discussões sobre a gestão do território da
comunidade os habitantes diminuem as chances de terceiros entrarem em tensão pela
exploração dos recursos naturais da localidade, fazendo com que a comunidade fique
mais protegida e mantenha suas relações socias mais harmônicas e produtivas.

Referências

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12
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