Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
2
experiências vividas e a motivação para aprendizagem) e a adequação do conteúdo de
aprendizagem (natureza, complexidade e grau de dificuldade face às capacidades dos
alunos) como elementos preponderantes na validade e pertinência dos modelos de
abordagem seleccionados pelo professor para o ensino do jogo. A autora enfatiza a
necessidade do professor considerar o aluno, enquanto sujeito individual, com uma história
vivida, e com necessidades particulares que interessa equacionar antes de serem tomadas
decisões acerca do processo de instrução.
Segundo a autora, a pertinência da centralidade conferida ao aluno encontra justificação no
facto de actualmente ser primordial investigar o processo de aprendizagem para se poder
aceder ao processo de ensino. Tal decorre da necessidade de se saber se o aluno está de
facto empenhado no que está a fazer e se a actividade realizada possui significância, não só
do ponto de vista dos resultados mas também dos conteúdos, metodologias e meios
aplicados (Mesquita & Graça, 2002; Siedentop, 1994).
Nos dias de hoje, é inquestionável a influência das ideias construtivistas sobre o papel do
aluno no processo de aprendizagem. No movimento de reforma do sistema educativo, em
geral, e da educação física, em particular, o aluno ocupa uma posição central ao ser
considerado o construtor activo das suas próprias aprendizagens, valorizando os processos
cognitivos, a tomada de decisão e a compreensão das situações-problema (Brooker et al.,
2000; Gréhaigne & Godbout, 1995; Putnam et al., 1990; Rovegno et al., 2001).
Este paradigma da aprendizagem faz o professor descentrar-se de si próprio para se situar
no aluno, nomeadamente na interpretação da sua actividade cognitiva e motora, no sentido
de criar a melhor atmosfera de aprendizagem. Tal não significa que o professor deixe de
delinear os propósitos da prática, nem tão pouco deixe de ter expectativas em relação aos
níveis de aprendizagem dos alunos. Como refere Siedentop (1994), recentrar a investigação
educacional e a reforma educativa na actividade dos alunos não retira importância às
competências de eficácia de ensino, antes as reconfigura numa relação contextualmente
diferente com o trabalho dos alunos. Enquanto que ao professor compete a preparação da
turma para as actividades, a supervisão e monitorização das mesmas, exercendo o papel de
moderador e facilitador da aprendizagem, aos alunos é atribuído o desenvolvimento das
experiências de aprendizagem.
3
Rink (2001) refere que nem sempre o aluno está pronto para construir as suas próprias
aprendizagens, principalmente quando é confrontado com assuntos completamente novos,
sem pontos de referência, em situações de descoberta não guiada, isto é sem qualquer
orientação por parte do professor.
No caso dos JD, a inexistência de qualquer tipo de orientação nos cenários de aprendizagem
apresentados aos alunos pode desviá-los para interpretações que se afastam claramente dos
problemas tácticos do jogo e, consequentemente, formarem uma teia de conhecimentos
descontextualizados e desprovidos de significado. Uma abordagem construtivista que
considere não apenas a dimensão pessoal do conhecimento, enquanto construção individual
do sujeito, mas também a dimensão objectiva, enquanto realidade externa e independente
da actividade cognitiva do sujeito, parece assumir maior pertinência no caso de actividades
desportivas que possuem uma estrutura formal e funcional perfeitamente definida, como é o
caso dos JD (Godbout, 2002; Gréhaigne & Godbout, 1995; Gréhaigne et al., 1999).
Os modelos de ensino do jogo prevalecentes na actualidade, embora com enfoques
distintos, integram as ideias da perspectiva construtivista empírica para a aprendizagem do
jogo, ao darem corpo e substância a processos interactivos no estabelecimento de relações
entre o aluno, o meio e as tarefas.
4
• Colocação do jogo no centro de atenção das aprendizagens, valorizando a
compreensão do jogo como porta de entrada para o desenvolvimento da
competência, subordinando a aprendizagem das habilidades técnicas à necessidade
de as usar no jogo, cuidando das relações de cooperação no seio das equipas,
favorecendo inequivocamente a inclusão, levando a sério a competição e a
necessidade de se preparar para ela.
• Importância da competição na concepção do ensino do jogo, tomando-a como um
dos traços estruturais dos JD, e sustentando a necessidade de ter uma visão
pedagógica da competição desportiva que acautele a tensão entre competição e
inclusão e seja capaz de enquadrar o debate dos argumentos a favor e contra a
competição.
• Consciência e uma disposição favorável a uma modificação dos papéis tradicionais
de fornecedor e consumidor de produtos acabados e formatados. Novos papéis,
novas bases para a relação didáctica são também convocados, nomeadamente papéis
de auto-regulação da própria actividade por parte dos alunos e papéis de supervisão
activa e treino do jogo, da sua componente táctica, por parte do professor.
5
de abordagem distintas e antagónicas, importa estabelecer relações de compromisso e
complementaridade entre ambas (Mesquita, 1998).
Nos anos mais recentes, as perspectivas cognitivistas e construtivistas recentraram a
investigação e as abordagens sobre os jogos a domínios tradicionalmente negligenciados,
como sejam o domínio da táctica e da sua interacção complexa com a técnica, envolvendo o
conhecimento, a compreensão, a tomada de decisão e a capacidade de acção em situação de
jogo (Mesquita & Graça, 2002). Desta nova linha de entendimento decorre que o
desenvolvimento da técnica deve estar explicitamente incluído no ensino da táctica, sendo
esta que legitima e confere significado à aplicação das habilidades técnicas no jogo.
O modelo de ensino dos jogos para a compreensão propõe uma porta de entrada diferente da
tradicional via da técnica, a porta da compreensão do jogo, da apreciação dos elementos que
fazem dele o jogo que é; da consciência táctica do objectivo do jogo e das grandes tarefas
para o alcançar. A porta que se abre para enfrentar os problemas do jogo, tomar decisões e
executá-las; avaliar o resultado das decisões e execuções e deduzir necessidades de
exercitação para melhorar a qualidade de jogo. Este modelo acolheu perfeitamente as ideias
constructivistas sobre o papel do praticante no processo de aprendizagem, colocando-o
numa posição de construtor activo das suas próprias aprendizagens. Correlativamente, o
modelo adere bem a um estilo de ensino de descoberta guiada, em que o praticante é
exposto a uma situação problema e é incitado a procurar soluções, com o objectivo de trazer
a equação do problema e respectivas soluções para um nível de compreensão consciente e
de acção deliberadamente táctica no jogo. O envolvimento cognitivo, no entanto, não deve
alienar o propósito primeiro do modelo, que consiste em “desenvolver a capacidade de jogo
e aumentar o gosto e a participação no jogo, o que pode conduzir a um estilo de vida
activo” (Werner et al., 1996, p. 30).
Remontando as suas origens aos anos 60, em Inglaterra, mais precisamente na Universidade
de Loughborough (Werner et al., 1996), este modelo vive nos nossos dias uma fase de
grande vitalidade e rejuvenescimento (Graça, 2002). As formas de jogo são integradas de
forma progressiva e a capacidade de entendimento dos problemas tácticos é que suscita o
interesse e a necessidade de serem aprendidas as habilidades técnicas (Turner e Martinek,
1995).
6
De acordo com Bunker e Thorpe (1982), o ensino do jogo procede por fases que
configuram as tarefas de ensino e aprendizagem (Figura 1).
Figura 1: Modelo de ensino dos jogos para a sua compreensão (adaptado de Bunker e Thorpe, 1982)
7
cognitivos e técnicos mais elaborados, utilizando-se uma forma de jogo mais complexa e
assim, sucessivamente até chegar ao jogo na sua versão formal, que caso não seja alcançado
não faz diminuir em nada a importância das aprendizagens conquistadas pelos praticantes.
Todavia, a aplicação de formas de jogo simplificadas não oferece, por si só, condições para
que a aprendizagem seja facilitada; para tal concorre o modo como são manipulados os
conteúdos de aprendizagem, nomeadamente, na negociação estabelecida com os praticantes
ao nível das condições de realização, dos propósitos das tarefas e das exigências de
realização.
No sentido de permitir a acessibilidade do praticante às exigências do jogo praticado, Holt
et al., (2002) relembram os princípios pedagógicos apontados por Thorpe et al., (1984) no
momento da operacionalização do modelo:
(1) Amostragem criteriosa dos tipos de jogos seleccionados. Proporciona aos
praticantes grande variabilidade nas experiências vividas, contribuindo para um
melhor entendimento táctico do jogo em geral. As formas de jogo devem ser
seleccionadas de modo a facilitar o transfere da compreensão de problemas tácticos
similares do ponto de vista estrutural e funcional, comuns a diversas modalidades
(Butler, 1997). Tal reivindica que na organização das tarefas seja contemplado a sua
articulação horizontal (entre tarefas com níveis de dificuldade semelhante) e a
articulação vertical (que as tarefas seleccionadas integrem formas de jogo que
progressivamente se vão distinguindo pelo aumento de complexidade).
8
variáveis, como sejam as dimensões do espaço de jogo, o tempo de duração das
acções, as características dos equipamentos e materiais (ex.: tamanho da bola, altura
da rede nos jogos de não invasão; altura do cesto no basquetebol, dimensão da
baliza no futebol, etc.) é decisiva na aplicação deste princípio. A manipulação das
condições de prática do jogo percorre as diferentes formas de jogo condicionado,
num incremento quantitativo e qualitativo das exigências de compreensão táctica e
de efectividade das respostas motoras.
(3) Modificação por exagero tem como propósito situar o praticante em determinado
problema táctico específico que a mera prática do jogo condicionado não lhe
permite aceder (Holt et al., 2002). A complexidade dos problemas tácticos,
apanágio dos JD, exige um tratamento didáctico dos conteúdos, de forma a enfatizar
o que em determinado momento se revela essencial para entender o problema
suscitado e possibilitar o desencadear da tomada de decisão apropriada ao cenário
de jogo (Mesquita, 2000). Na estruturação das tarefas assume relevância o controlo
de determinados conteúdos de jogo, através da aplicação de adaptações
regulamentares e funcionais consentâneas com o raciocínio táctico e com as acções
motoras que importa desenvolver. A manipulação das condições de prática passa
pelo estabelecimento de regras de funcionamento do jogo (ex. prevalecer
determinado aspecto do ataque ou da defesa colocando os jogadores em
superioridade ou inferioridade numérica; enfatizar determinados aspectos do jogo
com e sem bola; enfatizar a ocorrência de determinado cenário do jogo de forma a
serem consideradas determinadas regularidades ou singularidades decorrentes do
jogo, etc.).
9
constitui um factor chave de funcionamento do modelo (Holt et al., 2002) pelas
possibilidades que cria em manipular o grau de complexidade das tarefas e com isso
tornar mais clara e lógica a delimitação dos constrangimentos ao desenvolvimento
do jogo.
10
risco de nada se aprender. Esta assunção torna-se ainda mais evidente no caso dos JD onde
a complexidade imposta pela variabilidade de relações estabelecidas no terreno de jogo,
torna a aprendizagem dos fundamentos de jogo difícil e morosa. Dada a complexidade que
caracteriza este tipo de modalidades desportivas, onde se destaca o imediatismo, a
simultaneidade e a imprevisibilidade dos acontecimentos, não se revela apropriado aplicar
o conceito tradicional de progressão, onde sobressai a hierarquização dos conteúdos em
“escada” com o acréscimo de dificuldade a ser entendido numa perspectiva,
exclusivamente, vertical.
A possibilidade de diferentes soluções serem equacionadas para o mesmo cenário
situacional, exige que a progressão integre, não só, a articulação vertical resultante de níveis
de prática mais complexos (as tarefas seleccionadas integram formas de jogo e tarefas que,
progressivamente, se vão distinguindo pelo aumento de complexidade, em conformidade
com os problemas decorrentes do fluxo do jogo, onde sobressai o incremento da densidade
informacional) como, também, a articulação transversal (as tarefas seleccionadas integram
variantes com níveis de dificuldade semelhante, em virtude, de no jogo, ser possível
diferentes alternativas de resposta para o mesmo nível de complexidade). Da conjugação
da articulação vertical e horizontal, a progressão adquire um cunho dinâmico (semelhante
ao efeito em hélice) reivindicado pela complexidade táctica, própria dos JD (Figura 2).
11
Para a estabilização da progressão, a sequenciação dos conteúdos não obedece a uma
hierarquização rígida, sendo sempre considerada numa relação de compromisso, o objectivo
maior da tarefa, em referência ao jogo (global) e os objectivos específicos, emergentes das
relações contextuais de cooperação/oposição (local) imanentes da tarefa. Um outro aspecto
a considerar nas progressões é o de que todas as tarefas propostas podem ser moldadas,
através da introdução de variantes que as modifiquem, sem contudo as desvirtuarem. Esta
plasticidade é essencial, pois é o factor que permite a ajustabilidade da tarefa aos
constrangimentos relacionados com o praticante e/ou envolvimento.
Complementarmente, na elaboração das progressões, no contexto dos JD, devem ser
respeitadas determinadas premissas que orientam a estruturação das tarefas e que passamos
a referir (Mesquita, 1997):
• As progressões não devem ser extensas sob pena de fragmentarem o conteúdo e
retirarem-lhe o sentido de aplicação;
• Formar unidades de matéria, na medida em que é impossível aprender tudo
simultaneamente;
• Construídas em referência ao jogo, através da realização de tarefas que integram a
estrutura e a funcionalidade reclamada pelo jogo;
• Integrar as diferentes dimensões no domínio das habilidades técnicas nos JD, dando
sucessivamente ênfase à eficiência (saber fazer), à eficácia (obter resultado) e à
adaptação (utilizar de forma oportuna e ajustada).
12
do objectivo da tarefa é alcançada pelo confronto entre o objectivo apontado e a
interpretação pessoal do praticante; a responsabilização é incrementada pela indicação de
critérios de êxito, que sem deixarem de conferir espaço de autonomia ao praticante,
especificam as componentes críticas de realização.
No respeitante ao desenvolvimento do ensino do jogo, Rink (1993) estabelece uma
estrutura conceptual ordenada em 4 fases de complexidade crescente (games stages),
sucintamente apresentadas no Quadro 1. Considerando que o jogo é mais que um somatório
de habilidades, considerando que as habilidades do jogo são de natureza aberta, ditadas
pelas circunstâncias e pela oportunidade, elas não são vistas isoladamente, mas antes por
referência à sua aplicação no jogo. "A preparação para participar nos jogos complexos
requer que o indivíduo seja capaz de combinar as habilidades, de as aplicar de um modo
mais complexo e de estabelecer com os outros relações tanto ofensivas como defensivas"
(Rink, 1993, p.244).
13
Aparentemente, a tipologia sugere uma abordagem linear, a qual assenta numa progressão e
sequência de complexidade crescente. Todavia, o uso que se faz das diferentes situações
não obedece a uma hierarquia rígida, ou seja, não preconiza a passagem obrigatória das
situações menos para as mais exigentes, devendo a sua manipulação ser ditada pelas
particularidades das próprias aprendizagens. A progressão preconizada por este modelo é
perspectivada em função da necessidade de se adquirir competências num contexto antes de
se poder ter êxito noutro. Daí a autora subentender que o ensino dos JDC deve obedecer a
uma estruturação sequenciada das tarefas motoras que permita a progressão, o refinamento
e a aplicação em situações de competição ou auto-avaliação.
Apesar do modelo de abordagem apresentado pela autora ser referenciado aos JD em geral,
não deixa de estar mais apropriado para as modalidades colectivas de invasão, como são o
caso do Futebol, do Basquetebol e do Andebol.
14
educativo. O modelo define-se como uma forma de educação lúdica (play education),
critica as abordagens descontextualizadas, procurando estabelecer um ambiente propiciador
de uma experiência desportiva autêntica, conseguida pela criação de um contexto
desportivo significativo para os alunos, o que pressupõe resolver alguns equívocos e mal
entendidos na relação da escola com o desporto e a competição.
O seu parentesco e filiação às ideias construtivistas de ensino dos jogos revêem-se em
quatro características basilares:
• No facto de realizar uma redefinição importante dos papéis do professor e dos
alunos; estes são chamados a desempenhar um conjunto de papéis (jogadores,
árbitros, jornalistas, dirigentes, etc.) no contexto da própria prática a qual assume o
figurino de épocas desportivas em substituição das frequentes unidades didácticas (
Hastie, 1998; Hastie & Siedentop, 1999; Siedentop, 1994).
• Na assunção de que o desempenho competente se relaciona mais com os conteúdos
tácticos, os jogos modificados e as progressões de jogos do que com o
desenvolvimento das habilidades isoladas (Siedentop, 1994).
• Na inclusão de 3 eixos fundamentais que se revêem nos objectivos da reforma
educativa da educação física actual: tornar o aluno desportivamente competente,
desportivamente culto e desportivamente entusiasta (Siedentop, 1994).
• Na sua preocupação particular em diminuir os factores de exclusão (Hastie, 1998),
de forma a encontrar a harmonia e o equilíbrio necessário entre a inclusão e a
competição; lutando pela participação equitativa, de forma a evitar que a
participação se reduza ao desempenho de papéis menores por parte dos alunos
menos dotados.
• Na consecução de uma avaliação autêntica, que se reporta, em primeiro lugar, à
capacidade de jogar. A instrução técnica é organizada em função da sua aplicação
táctica e é dado tempo suficiente para desenvolver a consciência e a competência
táctica.
15
desportivas, de pelo menos 20 aulas, para possibilitar uma maior concentração sobre um
tema e para fornecer uma estrutura global à organização da experiência. A ideia de época
desportiva tem subjacente a ideia de filiação em equipas e de um quadro competitivo
formal.
16
competição. Cada época tem um evento culminante e procura-se que seja revestido por um
carácter festivo. O calendário competitivo prevê normalmente uma sucessão de torneios
que, em função do nível da turma, pode nem chegar ao jogo formal. Cada tipo de jogo é
configurado nos seus elementos tácticos estruturantes e respectivas técnicas de suporte. A
formulação desses elementos tácticos e técnicos orientarão os processos de preparação das
equipas.
A eficácia da aplicação dos programas de educação desportiva tem mostrados resultados
consistentes na participação entusiástica dos alunos (Carlson & Hastie, 1997; P. Hastie,
1998; Mesquita et al., 2005). Os grupos normalmente marginalizados (alunos de baixo nível
e raparigas) parecem retirar vantagens significativas do modelo de educação desportiva ao
demonstrarem maior gosto pela prática desportiva e pelo desempenho das tarefas que
apoiam a competição. Através de uma prática desportiva, na qual é conferida ao aluno
iniciativa e valorização do seu desempenho, independentemente do seu nível de habilidade,
são criados os pressupostos para que o aluno se sinta confiante, o que, consequentemente,
se reflecte no gosto pela prática.
17
a) Formas básicas de jogo
As formas básicas de jogo são versões modificadas do jogo formal, apropriadas ao nível de
jogo dos alunos e que permitem que eles exercitem as suas competências motoras,
cognitivas e sociais. Cada forma básica de jogo fornece o contexto para determinar as
necessidades de aprendizagem, consolidar e aplicar as aprendizagens, facultar a passagem
para uma nova forma básica de jogo mais complexa, obedecendo aos princípios da
continuidade, da gradualidade e da complexidade crescente.
Todas as formas básicas de jogo e o jogo formal possuem o mesmo tipo de estrutura global,
composta por 3 estruturas parciais e o mesmo objectivo (Quadro 2). É importante que as
formas básicas de jogo sejam reconhecidas como “jogos autênticos”, preservando as
relações problemáticas de cooperação/oposição e o fluxo normal do jogo, com
convertibilidade natural do ataque em defesa e vice-versa.
18
forma básica de jogo. Têm deste modo mais oportunidade de apreciar, confrontar-se e
mobilizar capacidades para ultrapassar os desafios que estas situações colocam. Ao
contrário das formas básicas de jogo, as formas parciais de jogo não se obrigam à regra da
paridade entre ataque e defesa, a situação de partida pode beneficiar um deles; não se obriga
igualmente à conversão natural do ataque em defesa e defesa no ataque; tem prioridade a
acentuação do problema focado e respectivas soluções.
19
Agrupamento dos alunos e avaliação
Os alunos são agrupados de modo a assegurar a diversidade e heterogeneidade em todas as
equipas e um equilíbrio entre as equipas. Formar grupos heterogéneos, em que os alunos
permaneçam juntos durante um longo período de tempo, é muito importante para promover
e facilitar a aprendizagem cooperativa.
No modelo de competência nos jogos de invasão faz-se uma avaliação autêntica da
performance dos alunos no jogo, enquanto jogadores e enquanto participantes em funções
de apoio e coordenação. A avaliação dos alunos decorre sempre em contexto real e incide
sobre aspectos essenciais da actuação nas formas básicas de jogo e do desempenho de
papéis de apoio e coordenação. Através do uso de listas de verificação apropriadas ao nível
da forma básica de jogo praticada, alunos e professores poderão observar e avaliar as
diferentes componentes da performance de jogo.
20
1995a,b), recorriam a testes analíticos como forma exclusiva de avaliar as habilidades
técnicas.
No contexto dos JD a natureza aberta das tarefas, consubstanciada nas múltiplas opções
colocadas ao aluno, reclama que a avaliação das aprendizagens replique o conteúdo
desenvolvido no processo de instrução. Daí que se apresente como lógico e consequente a
congruência entre as características das experiências de aprendizagem e o figurino
assumido pelas situações de avaliação, de forma a ser garantido o círculo de validade
ecológica reivindicado pelas aprendizagens autênticas e contextualizadas (Mesquita, 2000;
Mesquita, 2005).
O surgimento de novas abordagens do ensino do jogo, como o ensino do jogo para a
compreensão (Bunker & Thorpe, 1982), o modelo de educação desportiva
(Siedentop,1987; 1994) ou o modelo de competência nos jogos de invasão (Munsch, et al,
2002) impôs-se face à necessidade de procurar outras prioridades para o ensino e outras
portas de entrada para a aprendizagem e, por consequência, outras formas de avaliação,
alternativas aos testes de habilidades isoladas. A ideia de que a competição é um meio
privilegiado de aplicação e de avaliação das aprendizagens foi abraçada, de forma
concludente, pelo modelo de educação desportiva, com base na asserção de que apenas com
resultados autênticos (em referência às exigências do jogo) a avaliação poderá ser
verdadeiramente autêntica (Sidentop, 1996).
O conceito de instrução alinhada, o qual preconiza o alinhamento entre os objectivos
enunciados, a instrução e a avaliação, apontado pelo modelo de educação desportiva (Sport
Education, Siedentop, 1994) confere às tarefas de aprendizagem um significado
contextualizado, expresso em resultados autênticos (capacidade de realizar uma tarefa até
ao fim, onde está presente a ideia de completude) e numa avaliação autêntica (remete para o
desempenho contextualizado das tarefas). Tal significa que se o aluno desenvolve tarefas,
durante o processo de instrução, nas quais sobressai o uso estratégico das habilidades em
situações de jogo adaptadas, não faz sentido na avaliação serem utilizados testes analíticos
nem, tão pouco, o jogo formal.
21
Neste sentido, as práticas de avaliação não suspendem o processo de aprendizagem, são,
antes de mais, oportunidades para os alunos aprenderem e exercitarem os resultados
desejados e para obterem feedback sobre o desenvolvimento das aprendizagens.
Do mesmo modo, no modelo de competência nos jogos de invasão preconiza-se uma
avaliação autêntica da performance dos alunos no jogo, enquanto jogadores e enquanto
participantes em funções de apoio e coordenação. A avaliação dos alunos decorre sempre
em contexto real e incide sobre aspectos essenciais da actuação, nomeadamente, nas formas
básicas de jogo e do desempenho de papéis de apoio e coordenação. Através do uso de
listas de verificação, apropriadas ao nível da forma básica de jogo praticada, alunos e
professores poderão observar e avaliar as diferentes componentes da performance de jogo.
22
Conforme proposta de Oslin et al., (1998) o GPAI é composto por sete categorias (Quadro
3).
Quadro 3: Categorias do GPAI- Componentes observáveis da performance no jogo (Oslin, et al., 1998)
Retorno à Base: retorno apropriado do executante a casa ou a posição de recuperação entre tentativas da
habilidade.
Ajustamento (Ajuste): movimento ofensivo ou defensivo, conforme exigência do fluxo do jogo.
Tomada de decisão: fazer escolhas acerca do que fazer com a bola durante o jogo.
Execução da habilidade: performance da habilidade seleccionada.
Acção de apoio (support): movimentos sem bola para receber um passe.
Cobertura: apoio defensivo ao jogador com bola, ou que se movimenta para a bola.
Defesa/Guardar/Marcar: defender um adversário que esteja ou não de posse da bola.
23
características particulares da modalidade em questão. Tendo presente o necessário
alinhamento entre a instrução e a avaliação, a definição em concreto dos parâmetros da
avaliação nas categorias do GPAI, resultará dos objectivos e conteúdos essenciais relevados
no ensino do jogo.
5. Referências bibliográficas
Brooker, R., Kirk, D., Braiuka, S., & Bransgrove, A. (2000). Implementing a game sense
approach to teaching junior high school basketball in a naturalistic setting. European
Physical Education Review, 6(1): 7-25.
Bunker, D., & Thorpe, R. (1982). A Model for the Teaching of Games in Secondary
Schools. Bulletin of Physical Educatin, 18(1), 5-8.
Butler, J. (1997). How would Socrates teach games? A constructivist approach. JOPERD,
68(9): 42-47.
Carlson, T. B., & Hastie, P. A. (1997). The student social system within sport education.
Journal of Teaching in Physical Education-(Champaign, Ill.) 16(2), Jan 1997, 176-195
Refs:32, Total Pages: 20.
Corbin, C. S. (2002). Physical activity for everyone: What every physical educator should
know about promoting lifelong physical activity. Journal of Teaching in Physical
Education, 21(2): 128-144.
French, K.; Werner, P.; Rink, J.; Taylor, K.; Hussey, K. e Jones, J. (1996): The effects of a 6-
week unit of tactical, skill, or combined tactical and skill instruction on badminton
performance of ninth-grade students. Journal of Teaching in Physical Education, 15 (4):
439-463.
Godbout, P. (2002). Reflection on inovation and renovation: Authentic assessment and
subject matter expertise in physical education. AIESEP Newsletter, 72: 3-11.
Graça, A. (2002). Concepções didácticas sobre o ensino do jogo. In S. Ibañez-Godoy & M.
Macías-García (Eds.), Novos horizontes para o treino do basquetebol (pp. 21-36). Cruz
Quebrada: Faculdade de Motricidade Humana, Universidade Técnica de Lisboa.
Graça, A. (2003). O modelo de competência nos jogos de invasão. In O. Ferraz & L. Dantas
(Eds.), Anais do VII Seminário de Educação Física Escolar: Educação física e o ensino
24
fundamental (pp. 17-24). São Paulo: Escola de Educação Física e Esporte da
Universidade de São Paulo.
Graça, A., & Pinto, D. (2004). Por um jogo melhor jogado. In A. P. Ferreira, V. Ferreira, C.
Peixoto & A. Volossovitch (Eds.), Gostar de basquetebol: Ensinar a jogar e aprender
jogando (pp. 195-212). Cruz Quebrada: Faculdade de Motricidade Humana.
Gréhaigne, J.-F., & Godbout, P. (1995). Tactical Knowledge in Team Sports from a
Constructivist and Cognitivist Perspective. Quest, 47(4): 490-505.
Gréhaigne, J.F., Godbout, P. & Bouthier, D. (1997): Performance assessment in team sports.
Journal of Teaching in Physical Education, 16: 500-516.
Gréhaigne, J.-F., Godbout, P., & Bouthier, D. (1999). The Foundations of Tactics and
Strategy in Team Sports. Journal of Teaching in Physical Education, 18: 159-174.
Griffin, L; MitchelL, S. & Oslin, J. (1997): Teaching sport concepts and skills: a tactical
games approach. Human Kinetics Publishers. Champaign, Illinois.
Hastie, P. A. (1996). Student role involvement during a unit of sport education. Journal of
Teaching in Physical Education, 16(1): 88-103.
Hastie, P. A. (1998). The participation and perceptions of girls within a unit of sport
education. Journal of Teaching in Physical Education-17(2), Jan 1998, 157-171
Hastie, P., & Siedentop, D. (1999). An ecological perspective on physical education.
European Physical Education Review, 5(1): 9-29.
Holt, N. L., Strean, W. B., & Bengoechea, E. G. (2002). Expanding the teaching games for
understanding model: New avenues for future research and practice. Journal of Teaching
in Physical Education, 21(2): 162-176.
Klafki, W. (1995). Didactic Analysis as the Core of Preparation of Instruction (Didaktische
Analyse als Kern der Unterrichtsvorbereitung). Journal of Curriculum Studies, 27(1),
13-30.
Mesquita, I. (1997): Pedagogia do Treino. A formação em Jogos Desportivos Colectivos.
Ed. Livros Horizonte. Lisboa.
Mesquita, I. (1998): A instrução e a estruturação das tarefas no treino de Voleibol: Estudo
experimental no escalão de iniciados Feminino. Tese de Doutoramento (não publicada).
FCDEF-UP. Porto.
25
Mesquita, I. (2000): Modelação do treino das habilidades técnicas nos jogos desportivos. In
J. Garganta (ed.), Horizontes e órbitas no treino dos jogos desportivos, pp.: 73-90.
Centro de Estudos dos Jogos Desportivos. FCDEF-UP. Porto.
Mesquita, I. (2005). A contextualização do treino no Voleibol: a contribuição do
construtivismo. In Araújo, D. (Ed), O contexto da decisão táctica. A acção táctica no
desporto, pp.355-378.
Mesquita, I. & Graça, A., (2002): A perspectiva construtivista da aprendizagem no ensino
dos jogos desportivos colectivos. In Projecto Prata da Casa (Eds), Cultura e
Contemporaneidade na educação física e no desporto. E agora? Edição Especial do 9º
Congresso de Educação Física e Ciências do Desporto dos Países de Língua Portuguesa,
pp.: 133-139. S. Luís de Maranhão. Brasil. Agosto de 2002.
Mesquita, I.; Graça, A.; Gomes, A. & Cruz, C. (2005): “Examining the impact of a step
game approach to teaching volleyball on student tactical decision making and skill
execution during game play”. Journal of Human Movement Studies, 2005, 48:469-492.
Musch, E.., Mertens, B., Timmers, E., Mertens, T., Graça, A., Taborsky, F., Remy, C., De
Clercq, D., Multael, M. & Vonderlynck, V. (2002). An innovative didactical invasion
games model to teach basketball and handball, presented on cd. Paper presented at the
7th Annual Congress of the European College of Sport Science, Athens. Greece.
Oslin, J.L.; Mitchel, S.A. & Griffin, L.L. (1998): The Game Performance Assessment
Instrument (GPAI): Development and Preliminary Validation. Journal of Teaching in
Physical Education, 17: 231-243.
Pellett, T. & Harrison, J. (1995a): The influence of a teacher´s specific, congruent, and
corrective feedback on female junior high school students´ immediate Volleyball pratice
success. Journal of Teaching in Physical Education, 15: 53-63.
Pellett, T.L. & Harrison, J.M. (1995b): The influence of refinement on female junior high
school students´Volleyball pratice success and achievement. Journal of Teaching in
Physical Education, 15: 41-52.
Putnam, R., Lampert, M., & Peterson, P. (1990). Alternative perspectives on knowing
mathematics in elementary schools. In C. Cazden (Ed.), Review of Research in
26
Education (Vol. 16, pp. 57-150). Washington, DC: American Educational Research
Association.
Rink, J. (1993). Teaching physical education for learning (2nd ed.). Mosby. St. Louis.
Rink, J. (1996). Tactical and Skill Approaches to Teaching Sport and Games. Journal of
Teaching in Physical Education, 15(4): Monograph.
Rink, J.(2001). Investigating the assumptions of pedagogy. Journal of Teaching in Physical
Education, 20(2): 112-128.
Rink, J.; French, K.; Werner, P.; Lynn, S. & Mays, A. (1992): The Influence of Content
Development on the Effectiveness of Instruction. Journal of Teaching in Physical
Education, 11: 139-149.
Rosenshine, B. (1979): Content, Time and Direct Instrution. In Research on Teaching:
Concepts, Findings, and Implications: 28-56. P. Peterson & J. Walberg (Eds.), Berkeley:
McCutchan.
Rovegno, I., Nevett, M., & Babiarz, M. (2001). Learning and teaching invasion-game
tactics in 4th grade: Introduction and theoretical perspective. Journal of Teaching in
Physical Education, 20(4): 341-351.
Shulman, L.S. (1986): Paradigms and research Programs in the study of teaching. In
Handbook of Research on Teaching (3th edit). M. Wittrock (Ed.), New York: Macmillan
Publishing Company
Siedentop, D. (1987). The theory and practice of sport education. Myths, models and
methods in sport pedagogy.
Siedentop, D. (1994). Sport education: Quality PE trhough positive sport experiences.
Human Kinetics. Champaign, IL.
Siedentop, D. (1996). Physical education and educational reform: The case of sport
education. In S. Silverman & C. Ennis (Eds.), Student learning in physical education
(pp. 247-267). Champaign, Ill.: Human Kinetics.
Thorpe, R., Bunker, D., & Almond, L. (1984). A Change in focus for the teaching of games.
In M. Piéron & G. Graham (Eds.), Sport Pedagogy: Olympic Scientific Congress (Vol. 6,
pp. 163-169). Champaign, IL: Human Kinetics.
27
Turner, A. & Martineck, T.J. (1992): A comparative analysis of two models for teaching
games (technique approach and game-centered (tactical focus) approach). International
Journal Physical Education, 29 (4): 15-31.
Turner, A., & Martinek, T. (1995). Teaching for Understanding: a Model for Improving
Decision Making During Game Play. Quest, 47(1): 44-63.
Werner, P.; Thorpe, R. e Bunker, D. (1996): Teaching games for understanding. Evolution
of a model. JOPERD, 67(1): 28-33.
28