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LÍNGUA PORTUGUESA PADRÃO

PROFESSORA: ANGELA BRAVIN

RESUMO DAS OBSERVAÇÕES DE FARACO (2008) SOBRE NORMA LINGUÍSTICA

FARACO, C. A. (2008) Norma culta brasileira – desatando alguns nós. São Paulo: Parábola
Editorial.

POLISSEMIA DO TERMO NORMA

Duas abordagens/concepções gerais para “norma”: • Descrição de usos recorrentes – aquilo


que é considerado/tido como normal (plano da realização). • Idealização/Preceito – aquilo que
é uniformizante e/ou normativo (plano da idealização).

Na esfera do que é prestigioso, essas duas concepções podem ser sistematizadas: • Norma
culta/comum/standard (plano da realização) - “conjunto de fenômenos linguísticos que
ocorrem habitualmente no uso dos falantes letrados em situações mais monitoradas de fala e
escrita”. (FARACO, 2008, p. 73); “a variedade que os letrados usam correntemente em suas
práticas mais monitoradas de fala e escrita” (p. 75) Trata-se de usos linguísticos socialmente
prestigiados, vistos pelos falantes como pertencentes a uma variedade superior em relação às
chamadas variedades populares. Note-se que esse prestígio não decorre de propriedades
gramaticais, ou linguísticas, mas de características extralinguísticas relacionadas a processos
sócio-históricos: enquanto algumas variedades são socialmente avaliadas positivamente,
outras recebem valoração negativa, podendo até ser estigmatizadas. Podemos aproximar essa
noção de norma culta da noção de normas urbanas de prestígio, conforme o PNLD.

Norma-padrão (plano da idealização) – não é uma variedade da língua (como é a norma


culta), mas “uma codificação relativamente abstrata, uma baliza extraída do uso real para
servir de referência, em sociedades marcadas por acentuada dialetação, a projetos políticos de
uniformização linguística” (FARACO, 2008, p. 75). Regulando explicitamente os
comportamentos dos falantes, a norma-padrão funciona como coerção social em busca de um
efeito unificador e como uma “referência supra-regional e transtemporal” (p. 80); “um
construto sócio-histórico que serve de referência para estimular um processo de
uniformização” (p. 75)

Faraco (2008) pontua que, no Brasil, a codificação da norma-padrão – feita na segunda metade
do século XIX por uma elite letrada conservadora motivada pelo desejo de viver num país
branco e europeu –, não tomou como referência a norma culta brasileira de então, mas sim
um certo modelo lusitano de escrita. Ainda segundo o autor, não se tratava de um esforço
padronizador no sentido de unificação linguística, mas principalmente um projeto político de
combate não só às variedades populares, notadamente rurais, mas também às variedades
cultas faladas no Brasil. Nesse sentido, estabeleceu-se um padrão extremamente artificial, com
excessos de lusitanismo, que não teve o efeito esperado sobre a língua usada no Brasil. Havia
um fosso entre a norma-padrão e a norma culta brasileira, ideologicamente marcado pela
crença de que o brasileiro falava e escrevia mal o português – crença que ainda permanece
entre os puristas “de plantão”. A reação a esse padrão imposto começa a ganhar força no
século XX, com o movimento modernista, e alguns gramáticos passam a flexibilizar algumas
dessas regras normativas, resultando no que Faraco denomina norma gramatical
contemporânea.

→ Norma gramatical - Idealizada por filólogos renomados e codificada em manuais


tradicionais, como gramáticas e dicionários, contemplando o que seria “o conjunto de
fenômenos apresentados como cultos/comuns/standard por esses gramáticos” (FARACO,
2008, p. 81) Entre esses autores, Faraco nomeia aqueles que foram ou são filólogos
consagrados: Rocha Lima, Cunha & Cintra, Bechara (gramáticos) e os dicionários Aurélio,
Houaiss e Luft. Os juízos acerca de certos usos da norma culta são ponderados: os autores mais
recomendam do que prescrevem, e preferência é diferente de obrigatoriedade. Os estudos
sociolinguísticos realizados no país são suficientes para atestar que não há correspondência
total nem entre a norma culta (na verdade, o conjunto de variedades cultas, normas
efetivamente usadas) e a norma-padrão (aquele construto abstrato idealizado pelos indivíduos
da cultura letrada), nem muito menos entre a norma culta e aquela que é proposta em
instrumentos normativos, a norma gramatical, cujos objetivos são declaradamente outros, os
quais se referem à descrição/prescrição baseada, mais usualmente, nas estruturas registradas
na escrita literária. Faraco adverte que, embora a norma culta seja a mais próxima da norma-
padrão, já que os usuários da primeira seriam os supostos idealizadores da segunda, as forças
inevitáveis que operam historicamente em prol da variação da mudança geram um natural
distanciamento entre essas normas.

Conforme pontua Faraco, apesar de os instrumentos normativos (a norma gramatical)


registrarem alguns usos da norma culta brasileira, geralmente com base em escritores
consagrados, e apesar de incontáveis estudos descritivos sistemáticos dessa norma, ainda
perdura a condenação, por alguns puristas, de usos que são amplamente difundidos na norma
culta brasileira e abonados pela norma gramatical. A essa norma, que desconsidera,
arbitrariamente, tanto a norma culta (uso efetivo da língua pela parcela letrada da população)
como a norma gramatical (instrumentos normativos), Faraco chama de norma curta. → Norma
curta - “conjunto de preceitos dogmáticos que não encontram respaldo nem nos fatos, nem
nos bons instrumentos normativos, mas que sustentam uma nociva cultura do erro e tem
impedido um estudo adequado da nossa norma culta/comum/standard.” (FARACO, 2008, p.
92); preceitos que “são repetidos como se fossem verdades absolutas e são tomados como
justificativas para humilhar, constranger e prejudicar as pessoas” (FARACO, 2008, p. 94).

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