Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1
2
3
4
5
6
7
Norma e Prescrição Linguística
8
uso com autoridade e com urbanidade, ligando-se sempre bom-uso linguístico a fixidez
de parâmetros, e corrupção linguística a alteração e mudança.
Ora, não há como não ver que, na produção escrita, diferentemente do que ocorre na
produção oral, ficam muito evidentes as marcas - e a ausência de marcas - de
concordância, de regência, de flexão, etc., e, assim, ficam testemunhadas as quebras
sintáticas, Numa conversação, que é uma construção coparticipativa, a completude
sintática nem é esperada, e, muitas vezes, nem mesmo é desejável, já que repetições,
digressões, inserções, correções e, mesmo, hesitações, que, em princípio, truncariam,
atropelariam e subverteriam orações, constituem valiosos recursos para encadeamento
temático da sequência, para relevo de segmentos, afinal, para condução do fluxo de
informação. Além disso, o texto escrito traz, ao menos virtualmente, um fechamento
semântico que vem na direção do autor para o leitor, configurado pela intenção do
produtor do texto, por mais que este tenha a consciência ¾ e a esperança ¾ de que o
leitor seja o construtor final do sentido daquilo que ele "diz", e, por aí, "interaja" com
ele, seja o seu "interlocutor", para que a finalidade maior da criação do texto se
cumpra.
9
Assim, por exemplo, muitas vezes se aponta como modelar um uso porque ele é
corrente em escritores "clássicos" da língua, correndo-se o risco de propor lições que
ignoram o princípio básico de variabilidade e evolução das línguas. Na verdade, esse
modo de estabelecimento de padrões é insustentável. Observe-se que as obras
prescritivistas atuais recomendam a regência indireta para o verbo obedecer (com
complemento iniciado pela preposição a), que não é, entretanto, a regência usada por
clássicos (não se esqueça que [sic] Vieira escreveu "Quem ama obedecerá e guardará
meus preceitos" e que Vieira e Euclides da Cunha escreveram "obedecê-los").
10