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Ora, não há como não ver que, na produção escrita, diferentemente do que ocorre
na produção oral, ficam muito evidentes as marcas - e a ausência de marcas - de
concordância, de regência, de flexão, etc., e, assim, ficam testemunhadas as
quebras sintáticas, Numa conversação, que é uma construção coparticipativa, a
completude sintática nem é esperada, e, muitas vezes, nem mesmo é desejável, já
que repetições, digressões, inserções, correções e, mesmo, hesitações, que, em
princípio, truncariam, atropelariam e subverteriam orações, constituem valiosos
recursos para encadeamento temático da seqüência, para relevo de segmentos,
afinal, para condução do fluxo de informação. Além disso, o texto escrito traz, ao
menos virtualmente, um fechamento semântico que vem na direção do autor para
o leitor, configurado pela intenção do produtor do texto, por mais que este tenha a
consciência ¾ e a esperança ¾ de que o leitor seja o construtor final do sentido
daquilo que ele "diz", e, por aí, "interaja" com ele, seja o seu "interlocutor", para
que a finalidade maior da criação do texto se cumpra.
Assim, por exemplo, muitas vezes se aponta como modelar um uso porque ele é
corrente em escritores "clássicos" da língua, correndo-se o risco de propor lições
que ignoram o princípio básico de variabilidade e evolução das línguas. Na verdade,
esse modo de estabelecimento de padrões é insustentável. Observe-se que as
obras prescritivistas atuais recomendam a regência indireta para o verbo obedecer
(com complemento iniciado pela preposição a), que não é, entretanto, a regência
usada por clássicos (não se esqueça que Vieira escreveu "Quem ama obedecerá e
guardará meus preceitos" e que Vieira e Euclides da Cunha escreveram "obedecê-
los").
Retirado de http://www.comciencia.br/reportagens/linguagem/ling12.htm