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Bane de Adwaeweth é o guerreiro imortal mais temido da história de toda

a guerra. Possuído por uma besta sedenta de sangue, não vai para por nada

até vencer. Então conhece a irresistível Nola Lee, e odeia o poder que ela

exerce sobre ele, contudo não pode ter vingança contra o assassino de sua

esposa, sem sua ajuda.

Inconsciente de seu destino de governar como rainha das bestas, Nola

luta contra doenças, vícios e vulnerabilidades. Com Bane, no entanto, ela

sente prazer pela primeira vez e só quer mais. Mas estar com ele tem um

preço terrível.

Com inimigos à espreita em cada esquina, Bane e Nola devem lutar para

sobreviver. Mas o tempo está se esgotando e nenhum deles pode resistir à

atração escaldante que brilha entre os dois. O romance deles salvará a

besta e sua beleza, ou destruirá tudo o que eles amam?


Era uma vez, reis e rainhas de todas as galáxias que procuravam novos

mundos para habitar, e outras espécies para governar. Estas gananciosas

realezas enviavam legiões armadas para a batalha e milhões morreram, ao

fim os planetas recém-descobertos foram destruídos. Enquanto os monarcas

sem coração se emocionavam, enquanto assistiam a essas batalhas

sanguinárias, herdavam pouco mais do que terrenos baldios.

Querendo continuar seus jogos e dominar novos mundos, eles

concordaram com uma competição – a All War. Cada soberano enviaria um

guerreiro para qualquer que fosse o território recém-descoberto. Seu melhor

guerreiro. Esse território seria o playground deles... e seu campo de batalha.

Um campeão levaria tudo, e todos os perdedores morreriam. Ao longo

dos séculos, uma regra implícita permanecia sempre a mesma.

“Não se apaixonar por um nativo. ”

— Amor? Nunca mais. Meu coração é feito de vingança e ódio. — Bane

de Adwaeweth.
— Eu tenho lutado com a fibromialgia e o lúpus por anos. Domar um

grande monstro mau? Cuidado comigo. — Nola Lee.


Reino de Adwaeweth 1026 D.A. (Depois da Aliança)

BANE DE ADWAEWETH ignorou seus instintos em dominar sua

mulher – sempre os ignorava, e rolou para suas costas, a posição esperada

de um macho Adwaewethian. Não apenas esperada, mas imposta por lei.

— O prazer seria maior por cima? — Bane perguntou a Meredith uma

vez, apenas uma, mas ela não demonstrou interesse, então desistiu. Na

maioria dos dias, ele dizia a si mesmo que não se importava. Em outros dias

acreditou.

Banhada à luz de velas, Meredith ficou de joelhos, montou em cima dele

e afundou em sua ereção latejante. O prazer!

Cabeça inclinada para trás, arqueando sua coluna, Meredith gemeu de

êxtase e começou a montá-lo. O suor brilhava em sua pele dourada e o desejo

cobria seus olhos dourados. Tão bonita. Tão forte e corajosa.


Meredith era o amor de sua vida. Não muito tempo atrás, eles recitaram

seus votos na frente da realeza e de colegas, vinculando seus futuros para

sempre. Somente a morte deve nos separar.

Quando ela apoiou as mãos em suas panturrilhas e chicoteou seus

quadris, sua mente ficou em branco... apenas para voltar à vida com um

único pensamento. Mais. Soltando um gemido estrangulado, ele apertou sua

cintura para controlar seus movimentos. Para cima e para baixo. Mais

rápido. Mais forte. Do jeito que ela gostava.

— Bane. É tão bom. — Cachos curtos da cor de linho dançavam em torno

de seu lindo rosto.

Mais forte ainda. Cada vez mais rápido. Ela amava sua ferocidade. Mas

então, ele sempre ficava em torno de mulheres guerreiras. As corajosas o

suficiente para batalharem ao seu lado.

Meredith ofereceu mais do que resiliência física, no entanto. Um tesouro

por dentro e por fora, ela se tornou seu único refúgio em uma eternidade

brutal e sangrenta.

Uma voz estridente repentinamente explodiu em sua mente.


— Pare o que está fazendo e venha para Hivetta. Sem camisa! Talvez eu

aprecie a vista enquanto discutimos os negócios do queendom1. E depressa!

Bane estremeceu. Apenas uma pessoa se comunicava com ele por

telepatia: Rainha Aveline, a Grande, escolhida pelo destino e imbuída de

poderes sobrenaturais. Minha mestra e atormentadora.

Como todas as rainhas e princesas da classe dominante, Aveline podia

falar telepaticamente com seu povo, curar-se rapidamente e se

teletransportar; também tinha um poder especial próprio: a capacidade de

drenar a força vital com apenas um toque.

Meredith continuou a montá-lo, sem perceber sua distração.

Ele respondeu à rainha: — Estou ocupado. Isso pode esperar uma hora?

— Pergunta tola, conhecia bem Aveline. Eles foram namorados na infância,

até que a realeza gentil e atenciosa se tornou uma rainha cruel e

egoísta. Agora, sua impaciência não tinha limites. — Ou trinta... vinte... dez,

apenas dez minutos. — Ele não queria deixar sua esposa insatisfeita.

— Você tem cinco minutos. Não apareça diante de mim e farei de sua

noiva uma viúva. Tic-tac.

1 Queendom é um território, estado, pessoas ou comunidade governada por uma rainha.


Aveline nunca proferia ameaças vazias.

Em seus quatro séculos de vida, Bane assistiu seis princesas diferentes

subirem ao poder. Por mais doce que a fêmea fosse, alguma coisa sombria e

insidiosa sempre a infectava durante a cerimônia de coroação, um processo

violento conhecido como Rito de Sangue. Runas douradas em turbilhão

apareceriam em sua pele, uma marca eterna que de alguma forma tocava

qualquer coisa boa e honrada, criando uma entidade com direitos,

autoindulgente2, intemperada e sem bússola moral.

— Sinto muito, amor — falou, já perdendo seu... vigor. — Preciso ir. A

rainha comandou minha presença.

— O quê? — Meredith bateu os punhos contra o peito. — Você não pode

me deixar assim.

— E não vou. — Ele alcançou entre seus corpos, pressionou a ponta do

polegar contra o clitóris e a levou a um clímax rápido. Quando as paredes

internas dela apertaram seu comprimento, ele rangeu os dentes e a levou

para o lado, se retirando do paraíso. O que restou de seu prazer se

transformou em agonia. — Sinto muito. — Repetiu, pulando da cama para

organizar sua ereção atrás de um par de couros pretos.

2 Que busca desculpar os próprios erros ou que aceita facilmente os próprios defeitos;

autocomplacente. Que expressa complacência, condescendência, ou excesso de tolerância consigo próprio.


Ela caiu no colchão e sorriu.

— Meu pobre bebê. Você nunca encaixará essa coisa dentro de suas

calças. — Seu sorriso diminuiu. Com uma inclinação de seu queixo, apontou

para o eixo dele. — Aveline escolhe sempre o pior momento.

— Aveline escolhe o pior de tudo.

Vozes abafadas percorreram as paredes, seguindo um coro de risadas. No

momento, Bane e Meredith viviam no quartel do exército ao lado de Hivetta,

o palácio real, onde paredes de cristal irregulares eram colocadas em um

padrão de favo de mel.

Ao longo dos anos, Hivetta tornou-se o coração pulsante de todo o reino

– e mais uma prisão do que um lar.

Algumas semanas atrás, ele comprou terras fora dos limites da cidade,

onde começou a construir a casa dos sonhos de Meredith. Um lugar para

criar seus filhos, se alguma vez fossem abençoados dessa maneira.

— Quando eu voltar, continuaremos de onde paramos, e lhe darei outro

orgasmo. — Ele se sentou na beira da cama para calçar as botas.

— Inaceitável. — Meredith pressionou os seios nus contra as costas dele

e apoiou o queixo no ombro dele. — Você vai me dar dois orgasmos, para

começar.
Ele riu, embora sua diversão desaparecesse rapidamente. Um relógio de

contagem regressiva começou a correr dentro de sua cabeça. Tic tac. Tic tac.

Ela passou o lóbulo da orelha dele entre os dentes.

— Se pudesse desafiar Aveline em seu nome e vencer, eu o faria.

— Eu sei. — Mas, se Meredith ousasse tentar, Bane seria forçado a retaliar

contra ela. Nada era capaz de quebrar o vínculo místico entre um guerreiro

Adwaewethiano e sua rainha, nem mesmo o amor por outro.

Uma rainha tinha controle absoluto sobre seus homens, bem como dos

animais que viviam dentro deles. Bestas literais que menosprezavam tudo,

menos a morte. Um flagelo sombrio com qual os guerreiros lutavam física,

mental e emocionalmente a cada minuto do dia, com duas exceções. Sexo e

a proximidade da realeza.

Bem na hora, um rugido familiar de protesto soou dentro de sua

cabeça. A fera não gostou que logo deixaria uma parceira disposta. Qualquer

parceira. Os animais não eram exigentes e nunca estavam satisfeitos.

Eu conheço o sentimento. Durante toda a sua vida, Bane se sentiu

incompleto. Ele pensou, esperava, que seu casamento o consertaria, mas...

Mais rugidos. Mais alto. Bane respirou fundo, enchendo os pulmões em

um esforço para manter a calma. Sempre que um hospedeiro perdia o


controle de seu temperamento, ele perdia o período de controle e a besta o

ultrapassaria e se transformaria; crescendo em altura e circunferência.

Chifres brotavam de sua cabeça, espinhos saíam de sua coluna, garras

floresciam nas extremidades de seus dedos. Escamas tão duras quanto aço

cobririam sua pele, e seus dentes ficavam afiados como punhais

esmaltados. O monstro mataria com abandono e alegria, com gosto de

sangue ambrosial3, gritos de dor como música.

— O que acha que Aveline, a Terrível, quer de você? — Perguntou

Meredith, afastando-o de suas reflexões.

Tic tac.

— Provavelmente vai me mandar matar alguém que a ofendeu. — E Bane

faria isso sem hesitar. Faria qualquer coisa que ela pedisse; por mais que

fosse desprezível, seu comando era seu dever. Fisicamente, ele não

poderia desobedecer.

No lembrete, a fúria ardeu através dele.

— Precisamos encontrar uma maneira de cortar o domínio da rainha

sobre você — disse Meredith.

3 A ambrosia, ambrosia ou ambrósia, também chamado de Manjar dos Deuses do Olimpo, era um doce

com divino sabor, teria poder de cura, e se um mortal comum o comesse morreria. Conta a história que, quando os
deuses o ofereciam a algum humano, este, ao experimentá-lo, sentia uma sensação de extrema felicidade.
— Por mais terrível que seja, por mais que eu a despreze, é necessário um

vínculo com a realeza. — Um fato difícil de entender para os sem feras. Eles

não conseguiam compreender o constante cabo de guerra entre homem e

monstro, ou o equilíbrio criado pela realeza.

Meredith deu um suspiro.

— Eu vou ajudá-lo, com quem ela mandar você matar.

— Uma das inúmeras razões pelas quais eu te amo. — Ele deu um beijo

rápido em sua adorável esposa, depois correu do quartel como se seus pés

estivessem pegando fogo.

Um guerreiro entrou em seu caminho, mas ele facilmente se

esquivou. Faltando 49 segundos, voou para a sala do trono e parou sob o

estrado, onde projetou o queixo, ergueu os ombros e separou as pernas.

A fera ficou quieta.

O cheiro de cera de vela e madressilva encheu suas narinas. Madressilva

– um perfume exalado por toda rainha e princesa Adwaewethiana.

Odeio madressilva!

A luz brilhava de um lustre do tamanho de seu quarto, refletindo-se em

um piso de ouro maciço. Nas paredes, havia retratos de rainhas do


passado. Sentada em um trono de ametista e cristal, Aveline passou o olhar

âmbar sobre ele antes de revelar um sorriso frio.

— Tão delicioso quanto me lembro — ronronou. — Eu aprovo.

Apenas um pedaço de carne para ela. Uma vez, ela olhou para ele com

amor e carinho, até adoração. Segurou a sua mão, beijou os nós dos dedos e

descansou a cabeça no ombro dele, contente por estar com ele.

Como toda a realeza, ela possuía uma aparência enganosamente delicada,

com uma pele impecável e dourada, cabelos tão pálidos quanto os raios da

lua, que se iluminavam a sombra de um nascer do sol, que seus olhos

sensíveis demais só tinham visto em fotos. Runas douradas fracas,

gravavam sua carne com desenhos em turbilhão. Um vestido rosa puro

moldava-lhe todas as curvas perfeitas: seios cheios, cintura apertada e

quadris dilatados. Fendas de esconde-esconde na saia davam um vislumbre

da coxa quando ela se mexia.

Para aqueles que preferiam que suas mulheres parecessem tão frágeis

quanto vidro, Aveline era uma visão de beleza – por fora. Por dentro, porém,

ela estava apodrecida, gananciosa e corrupta, e Bane a desprezava com todas

as fibras de seu ser. Para ser justo, ele desprezava todos os membros da

realeza Adwaewethiana com muita veemência.


Quando Aveline não fez nenhum esforço para iniciar a conversa que ela

insistira em ter, ele interrompeu em uma maldição.

— Você me convocou?

— Deixar sua nova esposa foi... difícil, entendo.

Bastante. Luxúria branca como fogo ainda fluía por suas veias.

— Por que estou aqui, Aveline?

Ela acenou com a mão delicada, dispensando os guardas que estavam

atrás dela. Mount e Micah, irmãos conhecidos por suas naturezas cruéis.

Micah mandou um beijo para ele. Mount piscou.

No momento em que as portas se fecharam atrás dos homens, Aveline

disse:

— Você está aqui porque tem algo que meus outros guerreiros de elite

não têm. Um motivo para vencer rapidamente.

As suspeitas dançavam em seus pensamentos e seus dedos se curvavam,

desesperados por segurar uma arma.

— Não diga.
— A All Wars Alliance descobriu outro reino — interveio. — Um vasto

mundo conhecido como Terra, com climas e terrenos para todas as

preferências. Existem oceanos, montanhas, planícies, florestas, desertos e

muito mais.

Suspeitas confirmadas. Medo e agressão aumentaram.

— Eu já cumpri meu dever por Adwaeweth, Hivetta e até por você,

vencendo dois novos mundos. — Em troca, ele ganhou cicatrizes, pesadelos

e uma profunda desconfiança pelos outros. — Recebi minha aposentadoria.

— Em uma semana, você viajará para este novo reino. — Continuou, sem

piedade. — Você atuará como meu representante e lutará na próxima All

Wars. Você vai ganhar a Terra.

Nas galáxias, havia milhares de outros mundos, reinos e

dimensões. Casas de diferentes espécies, imortais e criaturas de

folclore. Esses mundos disputavam o domínio, irrompendo guerras por

causa de líderes ansiosos por conquistar mais territórios e escravos. Quanto

mais territórios e escravos, maior a probabilidade de ganhar a próxima

guerra e a próxima. Mas, no processo, muitos desses outros mundos, reinos

e dimensões haviam sido destruídos, tornando-os inabitáveis. Em uma

tentativa de salvar os mundos futuros, os líderes formaram a All Wars

Alliance e assim nasceram as disputas.


Cada reino participante enviava um representante para a terra recém-

descoberta, onde lutariam até a morte. O planeta inteiro se tornava uma

arena do tipo gladiadora. Mas surgiram problemas.

À medida que mais e mais planetas foram encontrados, mais e mais

representantes foram enviados para lutar. E, como os escribas mantinham

registros, os combatentes em potencial foram capazes de aprender com os

erros de seus antecessores, tornando-se mais difíceis de matar. O

resultado? Uma única All Wars poderia durar décadas, em vez de dias.

A segunda All Wars de Bane levou trinta e três anos. Quando ele voltou

para casa, sua noiva – a princesa Aveline – havia sido coroada rainha e

decidiu que não o queria mais.

Na época, ele ficou arrasado. A amava muito, sentia sua falta com todas

as fibras de seu ser. Então notou as mudanças na personalidade dela e se

alegrou, pensando: Esquivei-me de uma bala.

Se Aveline ordenasse que outro guerreiro perseguisse Meredith durante

a ausência de Bane...

A fúria se transformou em raiva branca e quente, tão corrosiva quanto o

ácido, enquanto o pânico bruto esvaziou seu peito. Outro problema: Bane

usava o sexo para controlar sua besta, deitando-se com Meredith duas vezes
por dia. Se ele viajasse para Terra, teria que passar semanas,

anos, décadas sem uma amante. Ele preferia morrer a traí-la.

— Nesta guerra, meu combatente estará em uma terrível desvantagem.

— Disse Aveline, despreocupada com a tempestade brutal que se formava

dentro dele. — O sol terráqueo é mais brilhante que a maioria e brilha por

períodos mais longos. Com nossa sensibilidade à luz, medidas devem ser

tomadas.

— Por que você mesma não luta essa batalha? — Retrucou, seu sangue

quente como combustível, cada célula um fósforo em chamas. — Você é

muito fraca? Covarde demais?

Com um tom quebradiço, ela respondeu:

— Cuidado. Eu posso fazer você cortar sua própria língua.

— Vai crescer uma nova em questão de dias.

— Bom argumento. Vou cortar a língua de Meredith.

Maldita seja ela. O preço era muito alto.

— A julgar pela sua expressão chocada, você terminou de protestar — Ela

sorriu. — Meus rastreadores descobriram a Terra há um ano. Entrei em

contato com um contingente de criadoras, com ordens para seduzir os


machos mais fortes e influentes. A maioria entrelaçou-se perfeitamente na

estrutura da sociedade, e muitas já estão grávidas de um vira-lata terráqueo-

Adwaewethiano. Talvez minha próxima safra de guerreiros seja capaz de

andar sob a luz do sol sem ser enfraquecida ou cega.

Ele moeu seus molares. Vira-lata, um nome depreciativo para um híbrido

Adwaewethiano.

— Não reportar a descoberta de um novo reino é uma ofensa exigível,

mas infiltrar seus cidadãos nele... isso é um crime punível com a morte. — E

não apenas para uma rainha. O Conselho Superior enviaria um exército de

Executores para Adwaeweth com um único objetivo: matar todos.

Os executores foram treinados como assassinos, seus números

incalculáveis. Tantos homens quanto mulheres, todos entregues ao

Conselho Superior quando crianças, como pagamento pela entrada em uma

All Wars. Adwaeweth seria reduzido a um conto de advertência.

Aveline desconsiderou sua declaração, dizendo:

— Eu discordo. Não sei quais criadores estão carregando uma realeza.

Sempre que os adwaewethianos procriavam com outra raça, eles criavam

uma nova colônia, produzindo um punhado de princesas, que um dia teriam


a opção de se tornar rainhas. Se sobrevivessem ao Rito de Sangue. Se mais

de uma princesa sobrevivesse, as duas lutariam até a morte.

Bane sabia o que estava por vir e engoliu uma maldição.

— Quando uma realeza nascer, — disse Aveline, — você a matará e

preservará o coração dela.

Sim. Aquilo. A maldição escapou, juntamente com uma dúzia de

outras. Quando uma rainha come o coração de seu inimigo, ela se fortalece

exponencialmente... por um tempo.

— Você gostaria que eu matasse uma criança?

— Ah. Meu pequeno animal tem consciência? — Ela descartou a ideia

com outro aceno de mão, como se as “sensibilidades” dele não tivessem

relação com a situação. — Não podemos permitir que uma princesa se torne

rainha. No momento em que ela o fizer, os animais vira-latas acordarão e o

Conselho Superior descobrirá o que fizemos.

— O que você e sua insaciável ganância fizeram. Você colocou nosso

povo...

— Meu povo — insistiu.


— ...em grave perigo. — Ela colocou Meredith em grave perigo. Sim, sua

esposa poderia cuidar de si mesma, mas não toleraria riscos desnecessários

ao seu bem-estar. Ele já havia perdido muito. Seus pais, seus irmãos e sua

única irmã.

Talvez ele devesse encontrar outra princesa Adwaewethiana de sangue

puro disposta a desafiar Aveline e ajudá-la a assumir a

coroa. Havia outras? Aveline havia matado tantas.

Assim que encontrasse uma, sua conexão com Aveline se enfraqueceria e

ele poderia formar um vínculo com outro membro da realeza. Mas por que

se preocupar? Ele seria submetido aos caprichos de outra cadela caprichosa,

tão má quanto Aveline. Ou pior!

Quando o terrível ciclo terminaria?

— Não vou matar uma criança — ele ralhou. — Escolha outra pessoa. —

Palavras bonitas. A mulher poderia obrigá-lo a fazer qualquer coisa, e os

dois sabiam disso. Embora, forçá-lo a qualquer coisa, especialmente a

guerra, seria imprudente. Representantes relutantes e desmotivados

enfrentam uma maior probabilidade de derrota.

Irritação torceu suas feições.

— Você se recusa a ganhar a Terra?


— Sim.

— Um homem nunca foi tão ingrato pela vida que eu lhe

concedi. Suponho que você precise de um incentivo para sair, e de um

incentivo melhor para retornar rapidamente. Muito bem. Estou feliz em

fornecer um. Não importa o que aconteça, você não se transformará em sua

besta, Bane. Isso é uma ordem.

Ela estalou os dedos. À esquerda do estrado, um par de portas duplas se

abriu. Micah entrou, arrastando um prisioneiro acorrentado atrás dele. Ela

usava uma camisola azul clara. Uma que Bane conhecia.

Um rugido explodiu dele, ecoando por toda a câmara. Meredith! Seus

olhares se encontraram, fúria crepitando em suas íris douradas – fúria

tingida de medo, e isso o destruiu.

Como ele, ela foi criada como soldado. O medo a tinha derrotado. O fato

dela sentir isso agora...

O desespero o lançou pelas escadas do estrado.

Os olhos de Aveline se estreitaram.

— Pare. Ajoelhe-se.
Não. A. Obedeça. A poucos passos de seu destino, ele parou e caiu de

joelhos. Após o impacto, suas rótulas se quebraram. Fúria e medo

queimavam através dele, cada respiração ofegante esfolando seus

pulmões. Lutou com toda a sua força considerável, mas não conseguiu

suportar.

Micah sorriu, presunçoso e superior, quando empurrava Meredith de

joelhos em uma imitação da pose de Bane. O bastardo sempre gostou do

sofrimento dos outros.

— Meu querido Micah. — Disse Aveline. — Faça a garota sangrar.

— Não! — Bane gritou, desejando que seu animal emergisse apesar do

comando da rainha. Infelizmente, o animal se recusou a tentar; poderia

odiar Aveline, mas também não amava Meredith, apenas a tolerava por

sexo. O sexo, acreditava o demônio, poderia ser encontrado em qualquer

lugar, a qualquer hora, por meios justos ou sujos.

Micah desviou o olhar para Bane. Com o sorriso se alargando, o bastardo

golpeou. A cabeça de Meredith virou para o lado, os lábios se abrindo. Um

rio vermelho escorria pelo seu queixo.

— Não! — Bane se esforçou tão ferozmente que deslocou os dois

ombros. Uma dor lancinante disparou através dele, mas ele não se importou

ou não parou.
— O que ela quiser — A esposa cuspiu um bocado de sangue, depois

levantou a cabeça. — Não se atreva a dar nada a ela, Bane.

Embora sua visão estivesse embaçada, ele encontrou o olhar de Aveline.

— Não faça isso. Por favor. — Ele disse a si mesmo que ela não

ousaria. Eles não se amavam mais, é verdade, mas tinham história. Nisto, ela

cederia. Ela devia.

— Você não me dá escolha. — Respondeu, tão cruel quanto sempre. —

Devo remover seu desejo de permanecer aqui.

— Se matá-la, não terei incentivo para vencer sua guerra. — Embora

desejasse olhar para Meredith novamente, manteve o olhar voltado para

Aveline. — Darei com prazer a minha vida na Terra e você perderá a All

Wars.

Ela sorriu, as engrenagens claramente girando em sua mente.

— Minha resposta é... Não. Você fará tudo o que puder para vencer, nem

que seja apenas para voltar e se vingar de mim.

Realização: ela pode realmente... fazer isso. O pânico voltou e redobrou,

arranhando-o.

— Eu estou te implorando, Aveline. Não faça isso.


— Bane estúpido. É tão bom quando implora. — Ela assentiu para Micah.

O bastardo manobrou atrás de Meredith, depois agarrou os cabelos para

inclinar a cabeça para trás e expor o pescoço vulnerável.

— Eu irei — Bane precipitou-se. — Vou matar a princesa híbrida e ganhar

a Terra. Você tem minha palavra.

— Tarde demais. — Aveline se levantou, a ação tão fluida quanto a água,

e deslizou para mais perto de Meredith. Ela parou com um mero sussurro.

Ele lutou, lutou tanto. Uma lágrima crepitante escorreu por sua bochecha.

— Por favor, Aveline.

— Eu amo você, Bane. — Meredith tentou sorrir, mas um soluço

escapou. —Que possamos nos encontrar novamente no futuro.

— Vocês choram um pelo outro. Patético. — Sem qualquer tipo de

gentileza, Aveline segurou a bochecha de Meredith.

Bane berrou maldição após maldição. Acalme-se. Pense! Palavras

começaram a correr dele.

— Você se lembra de quando éramos crianças, Aveline? Você queria uma

rosa do jardim privado da rainha. Eu entrei furtivamente e roubei para você,

ganhando vinte chicotadas. No entanto, sofri a dor com orgulho, porque fiz
você sorrir. Você disse que nunca esqueceria e que sempre estaria em dívida

comigo.

— Sim. Sobre isso. Eu menti — disse, sem se importar em olhar na direção

dele.

Novas maldições explodiram dele.

Meredith lutou... a princípio. Então linhas negras – linhas da morte – se

ramificaram em seu rosto, começando onde as mãos de Aveline

descansavam. Ela parou, completamente subjugada. Sangue vazava de seus

olhos e derramava de suas narinas.

Novas lágrimas escorreram por suas bochechas. O toque da morte. A

habilidade única de Aveline em ação.

Quando sua preciosa esposa suspirou, ela não conseguiu respirar. Com a

boca aberta ou fechada, o sangue pintava seus dentes e escorria pelo queixo.

Bane ainda tentou lutar. Vá até ela! Só tenho que chegar até ela, e tudo ficará

bem. Ele a transfundiria com seu sangue. Cada gota, se necessário. A vida

dele pela dela. Um sacrifício digno. Músculos e tendões rasgaram, a dor

excruciante. Estrelas piscaram através de sua visão e no entanto, a

compulsão de permanecer no lugar nunca vacilou.

Então a cabeça de Meredith se inclinou para frente, seu corpo relaxando.


— Não! — Ela foi embora?

Aveline deu um soco na cavidade torácica de sua esposa, arrancando seu

coração. Micah soltou seu corpo, e Meredith caiu no chão, o estalo de ossos

quebrando.

Ela se foi. Morta. Culpa, tristeza e traição apunhalaram Bane, deixando

seu coração em ruínas. Meredith estava morta, e Aveline tinha feito isso. A

mulher que um dia amou e planejou se casar, matou a mulher que ele amava

e se casou. Ela tratou a história compartilhada deles como lixo. Bane foi

tratado como nada. Menos que nada.

A rainha encontrou seu olhar, sorriu e mordeu o coração de sua

esposa. Quando ela fechou os olhos, saboreando o influxo de força, ele jogou

a cabeça para trás e gritou para as vigas até que seus pulmões ameaçaram

desabar.

— Fique quieto. — Aveline retrucou.

Incapaz de não obedecer, ofegando, ele deixou as mãos caírem ao lado do

corpo e cedeu aos quadris. Ele falhou com sua preciosa esposa, e ele não...

ele não podia...

A rainha terminou o órgão e se aproximou dele, tão graciosa quanto

antes. Com dois dedos sob o queixo, forçou a atenção dele.


— Você deseja me atacar, guerreiro? — O sangue manchou seus dentes.

— Sim. — A raiva o agarrou, a necessidade de atacar mais forte do que

nunca, cada inalação dela era uma ofensa imperdoável. Ele daria qualquer

coisa para atacá-la. E, se não pudesse acabar com ela, encontraria outro

caminho.

Ou outra rainha.

Esqueça o ciclo tóxico. Bane serviria a qualquer um, exceto Aveline.

Até as princesas da Terra, quem quer que fossem. Quando alguém

chegasse à idade, ele seria capaz de buscá-la dentre uma multidão de

milhares. Ele a encontraria e a protegeria até vencer a All Wars. Pouco antes

de Aveline chegar para reivindicar seu prêmio, ele realizaria o Rito de

Sangue, despertando híbridos. O Conselho Superior assumiria que Bane

os gerou durante seus anos de combate, o que era perfeitamente legal.

A nova rainha poderia lutar e matar Aveline.

Ramificações? Sim. Ele não seria o único a entregar o golpe mortal.

Isso importava? De um jeito ou de outro, Aveline tinha que morrer.

A esperança acendeu, uma chama precisando de combustível.


— Você está certa. — Disse, olhando-a. — Irei à Terra e vencerei a

guerra. Um dia, meu rosto sorridente será a última coisa que você verá antes

que uma espada seja introduzida em seu coração negro.

Ela deu um tapinha na bochecha dele e sorriu, satisfeita.

— Estou ansiosa por sua tentativa.


Como derreter seu exterior gelado!

— Nola Lee, Revista de Love Match de Oklahoma

AD4 701, 103ª All Wars, linha do tempo humana: 2° mês na Terra.

MATAR. SEM MISERICÓRDIA.

No rastro de seu próximo alvo, Bane esgueirou-se por uma selva

terráquea. Suor o encharcou, drenando sua força, mas uma onda de

adrenalina o manteve, alimentando seus músculos vorazes. Árvores maciças

abundavam, seus membros entrelaçados formando uma copa frondosa,

4 Anno Domini (A.D.) é uma expressão em latim que significa "ano do Senhor" e é utilizada para marcar

os anos seguintes ao ano 1 do calendário mais comumente utilizado no Ocidente, designado como "Era Cristã" ou,
ainda, como "Era Comum".
bloqueando os raios muito severos do sol. Uma benção e uma

maldição. Aqueles membros retorcidos também colocavam paredes

intratáveis em seu caminho, retardando seu progresso.

Depressa! Enquanto ele manobrava em torno de outro emaranhado de

vegetação, a ameaça acompanhava cada passo seu. Ele fez o possível para

permanecer nas sombras. Macacos observavam-no das árvores, cautelosos e

assustados. Eles sentiam o predador maior que eles?

Uma fúria sempre presente se agarrava a ele como uma segunda pele,

agravada pelo calor sufocante e pelo véu espesso de umidade. Sob sua fúria,

a necessidade de vingança permaneceu inflexível. Uma tábua de

salvação. Sua única amiga. Mantenha seu foco. Não pense em Meredith.

Meredith gloriosamente forte.

Mordendo a língua e provando o sangue, forçou sua mente na caça em

questão.

Ele não carregava armas, não tinha necessidade. Eu sou a arma. Seu alvo

possuía uma espada mística conhecida como “A Bebedora de Sangue”,

capaz de causar feridas incuráveis. Atacar Aveline com uma lâmina dessas...

ouvir seus gritos... vê-la se contorcer em agonia...


Eu devo tê-la! De acordo com uma das três regras da All Wars, cada

combatente podia trazer um único item de casa. Trinta e nove guerreiros

significavam trinta e nove armas para reivindicar. Para ativar uma arma, era

preciso matar o dono. Desde que Bane soube que podia roubar combatentes

e moradores nativos conhecidos como vikings, ele trouxe um par de óculos

para proteger seus olhos.

Até agora, matou um único soldado, conquistando uma adaga capaz de

transformar seu manipulador em névoa. Mas o animal havia saído de sua

gaiola e triturado o metal como papel.

Hoje, ele mataria um homem chamado Valor, adquirindo e ativando A

Bebedora de Sangue.

Bane teria que remover a cabeça ou o coração de Valor, ou queimar seu

corpo em cinzas. As únicas maneiras de acabar com um combatente. Até os

respiradores de fogo como Bane podiam ser queimados, um incêndio nem

sempre era igual a outro.

Quando ele se deparou com uma parede de membros retorcidos, passou

a ponta dos dedos sobre os Rifters na mão esquerda. Todo combatente

possuía Rifters, três anéis de cristal capazes de criar um portal com um

minuto de duração em qualquer lugar do reino terráqueo. Quando os anéis


vibraram, ele acenou na direção dos membros. Duas camadas de ar se

separaram, criando uma porta através do obstáculo.

Animais e insetos criavam a trilha sonora perfeita enquanto ele

caminhava para o outro lado. Pássaros chilrearam, sapos coaxaram e

gafanhotos zumbiram. Um gato da selva rugiu. O animal empurrou um

rugido em resposta por seus lábios, o som animalesco ecoando nas

árvores. O resto da floresta ficou em silêncio, e ele parou para ouvir qualquer

sinal da aproximação do inimigo.

Nada. Inalar, exalar. Bom, isso é bom.

Sob o cheiro de terra e folhagem, Bane pegou o distintivo almíscar de seu

alvo. Tão perto! A antecipação o levou adiante. Logo, o sol da manhã

nasceria, colocando-o em grande desvantagem.

Mate o combatente, volte para o meu covil da montanha.

Ele ansiava pelo dia em que pudesse matar todos os combatentes e

retornar a Adwaeweth. Primeiro, tinha que encontrar uma princesa

terráquea, garantir que ela chegasse ao seu décimo oitavo aniversário e

treiná-la para lutar. O que significava que toda a guerra tinha que seguir em

frente, mesmo que ele precisasse começar a salvar combatentes. Portanto,

conteria seu animal, por quanto tempo fosse o necessário. Mesmo que

tivesse que ter uma amante.


A negação gritou dentro de sua mente. Ele preferiria morrer de forma

agonizante do que tocar outra mulher. Mas preferia viver com uma culpa

infinita a dar a Aveline o que ela desejava.

Eu vou vingar você, doce Meredith. Nada e ninguém vai me parar.

Basta! Ignore a dor. Siga em frente.

Vozes silenciosas se afastaram a uma curta distância. Ele congelou,

ouvindo com mais atenção. Dois oradores – seu alvo e outro homem com

um teor profundo. Outro combatente. Alguém que trouxera uma armadura

elaborada com espigas retráteis que rasgavam carne e osso tão facilmente

quanto a manteiga derretida.

Com a antecipação aumentando cada vez mais, ele andou em volta de

uma árvore. Fechando em...

Atrás dele, um galho estalou. Bane se abaixou e girou, vendo uma espada

balançando sobre sua cabeça com um whoosh5 ameaçador – A espada. O

que ele queria mais do que seu próximo suspiro. Olá, Valor.

— Projeção de voz. — Disse Bane. — Bom truque. — Permanecendo

abaixado, ele fluiu com seu impulso e chutou os tornozelos de Valor juntos.

5 Onomatopeia imitando som de movimento apressados.


O guerreiro caiu, mas rapidamente se levantou.

Movendo-se pela esquerda outro guerreiro se aproximou – um homem

chamado Malaki. Ele pulou de uma árvore enquanto se agarrava a uma

videira, balançando, mergulhando... os espinhos em sua armadura cortaram

Bane da bochecha ao umbigo, cortando pedaços de músculo. Dor

abrasadora. Marés de sangue escorrendo das feridas abertas.

Seu animal rosnou e bateu em seu crânio, querendo sair da gaiola.

Calma. Firme. Ambos os oponentes eram altos e cheios de força, mas não

eram páreo para Bane, mesmo com a fera trancada à chave.

— Você achou que facilitaria isso para você, fera? — Malaki caiu de pé, a

grade de seu capacete salpicada com pedaços do rosto de Bane.

Valor sorriu com frio cálculo.

— Você matou meu irmão durante uma All Wars. — Ele levantou a

espada, o metal brilhando em um raio de sol. — Hoje, eu o vingo.

A manhã chegou.

Os dois homens falavam em suas línguas nativas. Idiomas que Bane

nunca havia aprendido, mas por causa do tradutor incorporado em seu


cérebro, interpretou cada palavra. Eles também tinham tradutores e

entenderam quando ele respondeu em Adwaewethish.

— Tenho certeza de que seu irmão era um adversário digno — disse. —

Para os outros.

Uma carranca escura substituiu o sorriso de Valor, a provocação

atingindo sua marca. O tempo das palavras terminou. Com um grito de

guerra irregular, o homem se lançou e balançou a espada. O alvo: a garganta

de Bane.

Ele se esquivou e uma dança selvagem se seguiu. Ele deu um soco,

chutou, bloqueou e arranhou, subiu alto, desceu. Os dois aliados

trabalharam juntos em um fluxo constante de movimento. Quando um

homem atacava, o outro ajustava sua posição, preparando-se para dar o

próximo golpe.

Bane desviou um golpe particularmente desagradável, depois bateu as

palmas das mãos contra a armadura de Malaki. Os espinhos embutiram em

suas mãos, como esperado. Apesar da dor, ele jogou o macho em uma

árvore. O tronco se partiu, fragmentos de casca voando em todas as

direções. Choveu folhas, raios de sol refletindo em Bane. Ele assobiou.

Com os olhos ardendo e a pele cheia de bolhas, ele cortou, socou e chutou

para reunir o par em uma alcova sombreada. Quando a armadura de Malaki


roçou seu abdômen, seu intestino caiu. Uma dor excruciante. Tontura. A

fera protestou, destruindo mais seu controle enquanto se recompunha.

Valor empurrou a espada em Bane, mas ele pulou e agarrou-se a uma

videira pendurada. Voando acima, pousou diretamente atrás do bastardo e

o chutou no caminho de Malaki. Os dois colidiram, a armadura fazendo seu

trabalho, esfolando um lado do peito de Valor.

Valor choramingou em agonia, e Malaki cambaleou de volta, seus traços

contorcendo com horror.

Em um movimento rápido, Bane virou-se para Valor pela segunda vez,

segurou a testa e a mandíbula do homem – e torceu. Valor ficou mole, sua

coluna cortada.

Abaixo, mas não fora. Devo remover a cabeça ou o coração antes que ele

se cure.

— Você vai pagar por isso. — Malaki rosnou, mergulhando nele.

Eles recuaram, aqueles espigões de metal atingindo um ou dois órgãos

internos. Mais dor, mais sangue. Quando atingiram o chão, os espigões

cortam mais profundamente, ganhando mais protestos da besta.

Cuidado. Se o animal destruísse a espada e a armadura...


Mas ser cuidadoso o prendeu no chão, com os joelhos de Malaki cravados

em seus ombros. O guerreiro ergueu o punho, pronto para acertá-lo, mas

Bane agiu rápido, batendo os joelhos nas costas, derrubando-o. O soco de

Malaki bateu no chão.

O outro homem lutou para recuperar o equilíbrio. Bane deslizou debaixo

dele, virou-se e chutou. Um erro. Valor estava curado – e se esgueirava atrás

dele.

A dor ricocheteou no ombro de Bane, a lâmina entrando de um lado e

saindo do outro. Sua visão ficou turva.

Valor espera me matar, me negar o direito de vingar minha esposa. Ele

morre hoje. Agora!

A raiva ultrapassou Bane. Sangue gritava em seus ouvidos, seu coração

batendo contra as costelas. Finalmente, o animal se libertou. Ossos se

alongaram, gengivas queimaram e seus dentes cresceram afiados. Com a

carne já endurecida, escamas verdes escuras brotaram de seus poros. A

escuridão eclipsou sua mente.

Ele ouviu lamentos angustiados ao longe...

Pedidos de misericórdia...

Pop. Whoosh. Thump. Então, silêncio.


Quando piscou em seguida, a carnificina o cercava. Um oceano de sangue

encharcava o chão, partes do corpo espalhadas aqui, ali, em toda

parte. Pedaços de pele e músculo pendiam dos galhos das árvores. Pedaços

da armadura indestrutível de Malaki jaziam na grama musgosa. Droga! A

espada... onde estava a espada de Valor? Lá! O punho sofreu um pouco de

dano, mas a própria lâmina permaneceu intacta.

Soltando um suspiro de alívio, Bane se levantou. Uma dor aguda chamou

sua atenção para seu ombro, perto da tatuagem da árvore da vida em seu

peito. Uma tatuagem que todo combatente possuía. A tinta mística se

infiltrava em seu sangue, permitindo que um Executor seguisse todos os

seus movimentos.

A ferida causada pela Bebedora de Sangue não tinha sarado, o corte

estava tão cru e vermelho como antes. Ele massageou a nuca. Tinha que

haver uma maneira de reverter o dano.

Pense! Um combatente carregava uma espada com propriedades

curativas. Outro possuía uma varinha mágica capaz de manipular

energia. Talvez um dos dois conserte o impossível.

Muito bem. Bane já possuía seus próximos alvos. Depois de concluir suas

tarefas, ele acabaria com a tirania de Aveline finalmente...


Então, eu vou me juntar a você, minha querida Meredith. Estaremos

juntos novamente.
AD 701, 103ª All Wars,

Linha do tempo humana: 5° mês na Terra. Em algum lugar do

Círculo Polar Ártico

Assembleia de Combatentes

Havia passado três meses desde que Bane tinha mantido sua mente em

seus objetivos, enterrando seu sofrimento sob camadas de ódio fervente por

Aveline. De alguma forma, manteve seu animal à distância sem a ajuda de

uma amante. Ele não havia matado mais ninguém, nem destruído mais

armas. Claro, isso significava que ele também não ganhou a espada de cura

ou a varinha mágica.

Outro erro da parte de Bane.

Minutos atrás, a Assembleia dos Combatentes começou. Uma chamada

obrigatória. Logo depois, um exército de vikings atacou os combatentes em

massa.

Agora, os vinte e cinco combatentes restantes trabalhavam

juntos. Imortais contra humanos, os imortais presos dentro de um vale


gelado na montanha, incapazes de partir até a conclusão da reunião. No

entanto, seus agressores poderiam entrar e sair à vontade.

Metal colidia contra metal, o cheiro de sangue permeando a brisa

gelada. Grunhidos, gemidos e foles ecoaram, a batalha tão selvagem quanto

o terreno. Acima, faixas de verde e roxo iluminavam o céu noturno.

Ignorando a dor latejante em seu ombro costurado, Bane pegou uma

espada descartada e cortou a cabeça de um mortal. Desde que lutou contra

Valor, o ferimento em seu ombro só piorou. A perda de sangue o enfraquecia

com muita facilidade e diminuía seus reflexos.

Passos. Os desafiadores se aproximaram em um ritmo acelerado. O

animal rugiu, enfurecido, sedento de sangue e faminto de carne. Como

sempre.

Calma, firme. Se Bane se transformasse, massacraria os vikings sim, mas

também os combatentes, vencendo a guerra antes de encontrar a princesa

terráquea. Se isso acontecesse, permaneceria vinculado a Aveline.

Inaceitável! Sua queda superava tudo. No momento, os vikings eram

obstáculos em seu caminho. E seriam cortados.

Bane torceu e cambaleou. Ele arrancou a garganta de um homem com os

dentes e deu um soco na cavidade torácica de outro, removendo seu


coração. Uma ação que machucou seu próprio coração, lembrando-o do pior

dia de sua existência.

Paz interior. Mantenha sua mente em branco. Outro viking correu em sua

direção, um machado levantado e pronto. Mas, pouco antes de colidirem,

uma flecha perfurou o olho do homem, e ele caiu.

— Obrigado — resmungou.

Emberelle de Loandria assentiu e girou para lançar uma saraivada de

flechas sobre os mortais do lado de fora do círculo.

Geralmente ela lutava com uma espada viking. Ela devia saber que

precisaria de um método diferente hoje. Possivelmente. De casa, ela trouxe

uma banda de metal que caía sobre a testa e lhe permitia ler a mente de

qualquer pessoa ao seu redor. No início, ela ganhou um par de algemas de

pulso que poderiam ou não conceder ao usuário a capacidade de viajar no

tempo. Armas que Bane poderia utilizar.

Ele a colocou no topo de sua lista de hits.

Encontrar a princesa, fazer minhas mortes.

Quando as claraboias brilharam, refletindo no gelo, seus olhos arderam e

lacrimejaram. Ele amaldiçoou. Havia deixado deixou os óculos no covil,

sabendo que haveria uma batalha na conclusão da


assembleia; sempre havia uma batalha depois de uma assembleia. No caos,

as armas eram frequentemente perdidas, roubadas ou destruídas.

Deveria ter arriscado.

Outro mortal se aproximou, brandindo um machado, e a fera lutou mais

pela libertação, enviando uma lança de dor através de suas têmporas. Bane

bloqueou o balanço do humano, girou e arrancou sua traqueia.

Atrás dele, um grito de guerra soou. Mais uma vez, ele girou e bloqueou

– um seax6 em mergulho desta vez. Bane bateu as garras no torso do macho,

arrancando seus intestinos.

Não havia tempo para descansar. Seu próximo desafiante chegou. Num

piscar de olhos (literal), Bane arrancou seus braços – e os usou como paus.

Uma buzina irrompeu, ecoando pelas montanhas. Os vikings pararam

antes de correr para trás, formando um círculo ao redor dos combatentes,

permanecendo fora da zona de ataque.

Um homem usando um capacete com chifres se separou do grupo e se

aproximou. O sangue manchava sua pele bronzeada, cicatrizes marcavam

um lado do rosto e uma barba grossa e preta cobria seu queixo. Ele usava

6 O seax é o termo anglo-saxão para facas, utilizado na arqueologia moderna, utilizado para denominar

grandes facas ou espadas curtas que eram usadas por germanos na Alta Idade Média, especialmente pelos saxões.
couro, e pele de carneiro, e segurava uma longa vara com uma ponta

bulbosa. A Vara do Clima.

Bane ficou rígido. A arma pertencia a um combatente chamado

Cannon. O viking o matou? Se assim for... O viking se juntou à All Wars.

Os imortais se uniram, observando dois soldados arrastarem um corpo

decapitado para a frente. Outra pessoa arremessou a cabeça. Que rolou, e

rolou... Ah, sim. Cannon estava morto.

Assobios de fúria se misturavam a ameaças gritadas, combatentes se

jogando contra a parede invisível que os prendia dentro da clareira, apenas

para se recuperar.

— Quando eu arrancar seu pau, até seus futuros filhos vão gritar.

— Devo cortar sua cabeça, remover seu coração ou queimar você até a

morte? Com quem estou brincando? Eu vou fazer todos os três.

— Vou gostar de fazer você descansar em pedaços, seu filho da puta.

Bane permaneceu no lugar, a fera ocupada rasgando seu crânio. Respire

fundo. Expire. Mantenha o controle. Inspire, expire.

O homem de capacete levantou a vara e anunciou:


— Vocês invadiram nossa terra e mataram nossos homens porque não

nos temiam. Eu sou Erik, o Criador de Viúvas, e ensinarei o erro de seus

caminhos. — Ele bateu a ponta da vara no gelo.

Um vento Ártico brutal irrompeu, uivando e barulhento, o chão

tremendo. Entre uma piscada e outra, o gelo crescia sobre os pés de Bane,

subindo pelas panturrilhas. Mais alto, mais alto.

Gelo cresceu sobre todos os combatentes.

Horrorizado, Bane lutou pela liberdade... sem sucesso. Preso.

Desamparado. Minha luta acabou?

Não! Ele não tinha usado sua arma final.

Bane parou de lutar contra a fera e a transformação começou. Músculos e

ossos... Nada. A fera também ficou presa, o gelo inquebrável à medida que

se espalhava. Sobre sua cintura, seus ombros. O pânico dizimou o que

restava de sua calma. Nenhum dos combatentes escapou. Então, o gelo

cobriu seu rosto.

Eu fui... derrotado?

Falhei com Meredith?


Não, não! Se recusava a aceitar a derrota. Ele escaparia. Encontraria a

princesa terráquea, venceria a All Wars e supervisionaria o Rito de Sangue,

finalmente cortando seu vínculo com Aveline. Ela viria a Terra para

reivindicar o planeta e então... oh, sim, em seguida, ele teria sua vingança,

morreria em paz e voltaria para o amor de sua vida.


Você tem que provocar para agradar!

Dias atuais, Strawberry Valley, Oklahoma

MAGNOLIA “Nola” LEE ingeriu um coquetel de medicamentos,

reajustou o monte de tampas empilhadas em cima dela e se estabeleceu mais

confortavelmente em sua cama. Bem, não tão confortavelmente. Na

verdade, não. Todo o seu corpo doía, os dedos pareciam salsichas, o cansaço

a montava como se fosse um cavalo e todos os seus nervos chiavam, dores

latejantes a atingiam repetidamente. E novamente.

Isso nunca acabava. Sua doença destruiu tudo. Relacionamentos

românticos. Amizades. Metas. Diversão. Ela só queria ser uma garota

normal, com uma vida normal. Mas nãooooo. No início, foi diagnosticada

com lúpus. Após entrar em remissão, a fibromialgia decidiu entrar e brincar.

Aquele era um dia ruim – um grande surto, a dor em demasia. Sentiu-se

como se estivesse sendo picada com mil agulhas encharcadas de

ácido. Fadiga, cérebro enevoado e insônia continuaram a


piorar. Basicamente, a festa nunca parava. Ela desejava ter um cartão de

maconha7 medicinal, mas seu médico para o controle da dor considerou

“desnecessário”, deixando-a à mercê dos opioides.

A Piada é por minha conta. Os opioides não tinham piedade.

Ela já havia tomado a dose máxima, mas as pílulas mal haviam

amortecido a dor. Se não fosse viajar nas próximas férias com sua irmã

adotiva, Valerina London – Vale – ela teria puxado as cobertas sobre a cabeça

e chorado no escuro. Agora, pelo menos, tinha um motivo para acordar de

manhã.

— Qual desses vestidos você quer levar em nossa viagem? — Vale

emergiu do closet, alta e imponente, com pele branca pálida e cabelos

bicolores, metade cor de neve e metade cor da meia-noite. Linhas escuras

grossas delineavam seus olhos castanhos; o esfumado dava a ela uma

aparência sofisticada e o melhor rosto de cadela tranquila, de todos os

tempos.

De um lado, Vale segurava um vestido vermelho com mais recortes do

que material. Do outro lado, ela segurava um vestido preto conservador,

geralmente usado em funerais — Aquele que diz: meu corpo é um país das

7 Cartão de maconha: é um cartão de identificação emitido pelos estados EUA que permite que um paciente

com recomendação médica obtenha, possua ou cultive cannabis para uso medicinal.
maravilhas e há um preço para admissão — comentou ela. — Ou o que

diz chegue perto de mim, e eu removerei seus testículos com o poder da

minha mente.

Nola riu.

— Você me conhece, certo? País das maravilhas. Obvio. — Era uma vez,

ela que queria se apaixonar e se tornar o país das maravilhas de

alguém. Houve paixões, flertes e até namoros. Porém por alguma razão,

vomitava toda vez que tentava ter intimidade. Por fim, desistiu do amor,

relacionamentos e romance, concentrando-se em ficar saudável e ganhar

dinheiro para sua viagem.

Bem, principalmente desistiu do amor. Alguns anos atrás, ela começou a

sonhar com um homem lindo com características douradas e a massa

muscular coberta de escamas. Nenhum outro homem jamais se comparou.

Um suspiro escapou. Seu deus dourado nunca a chamou de garota

asiática, ou boneca sexual viva, edição coreana. Ele nunca mentiu ou roubou

dinheiro de sua bolsa. Ele apenas se referia a ela como “princesa” e

perguntou – exigiu – que ela o encontrasse na Rússia. As montanhas

Khibiny, para ser exato. A presença dele tornara-se um conforto noturno,

mas, e se ela estivesse fantasiando sobre tudo isso? Talvez ele não fosse real.
Os pais dela morreram. Seu médico favorito morreu. Carrie, a maior mãe

adotiva do mundo na história, também morta. Outras mães e pais adotivos,

irmãos adotivos, assistentes sociais e amigos morreram metaforicamente,

deixando-a só. Até agora, Vale era a única exceção.

— Excelente escolha. — Vale deu um sinal de positivo. — Carrie não criou

uma idiota.

Com uma piscadela e um sorriso, Nola disse:

— Mas se ela fizesse, seria você.

Vale bufou.

— Você é a rainha dos memes. Apenas certifique-se de levar lenços

umedecidos em sua bolsa, no caso de pessoas babarem em você quando a

virem de vestido.

— Caso? Por favor — ela respondeu, brincando. — É tão bom quando

acontece.

— Ohhh. Eu gosto deste seu lado confiante. Doente ou não, você é um

prêmio entre os prêmios.

Ela era? O que tinha a oferecer? Uma casa cheia de “tesouros” que ela

guardara – lindos cacos de vidro, botões e moedas que encontrara na


rua; lixo para mais ninguém. Uma montanha de contas médicas. Recusa em

ter filhos e transmitir esta terrível doença. Incapacidade de deixar a cama

por longos períodos de tempo. Qualquer homem que ela amasse acabaria se

tornando seu cuidador e precisaria tomar banho e trocá-la na cama. Não,

obrigada.

Nola manteve os lábios fechados, camuflando sua dor interior. Vale já

enfrentou muitos fardos e não precisava se preocupar com a saúde mental

dela também.

— Você sabe, uma avaliação é capaz de revelar o verdadeiro caráter de

uma pessoa — disse Vale enquanto voltava para o armário. Depois de

insistir que Nola conservasse suas forças, ela começou a fazer as malas para

as duas. — Antes de investir muito tempo e energia em um relacionamento,

você descobre o quanto um potencial interesse amoroso é ruim. Isso não tem

preço, querida.

Bem, Vale não estava errada. Sempre que Nola decidia ignorar o início da

náusea e seguir em frente com um cara, ele a tratava como vidro fiado que

quebrava, ou pior, como uma hipocondríaca que exagerava em seus

sintomas em busca de simpatia. O último cara a fez duvidar de si mesma. E

ela não podia deixar de contar a um homem sobre sua variedade de

problemas de saúde; ele tinha o direito de saber no que estava se metendo.


— Você acha que todo mundo é péssimo — lembrou à irmã.

— Sim. Porque eu sou superinteligente.

— Verdade.

— Bem, para a frente e para cima para nós duas. — Quando voltassem

das férias, planejaram abrir uma loja de donuts gourmet como sócias. Vale

faria a papelada e interagiria com os fornecedores; Nola iria assar e interagir

com os clientes.

Cozinhar não era sua grande paixão – o que era? – Mas ela tinha um

grande talento, graças a Carrie. Além disso, felizmente faria qualquer coisa

com Vale.

Cadê você, princesa? Venha. Me encontre.

Nola se sacudiu. A voz profunda e rouca pertencia ao seu Deus dourado,

e também era uma carícia sexual. Mas como diabos um homem dos sonhos

falava dentro de sua cabeça enquanto ela estava acordada?

Ele era uma ilusão causada por sua infinidade de medicamentos,

talvez? Mas qual (is)? E porque agora? Nada de novo foi adicionado ao seu

regime.
Ela provavelmente deveria ligar para o médico. Ok, ela definitivamente

deveria ligar, e ligaria. Após seu retorno. Agora ele diria para ela cancelar a

viagem – de novo.

De jeito nenhum, sem possibilidades.

Primeiro, ela e Vale planejavam visitar Jukkasjärvi, na Suécia, para

percorrer castelos de gelo, andar em trenó de cães e ver as luzes do

Norte. Depois, viajariam para a Rússia para seguir em frente.

A frequência cardíaca de Nola disparou. Ela não sabia por que sentia que

tinha que chegar à Rússia, apenas porque um homem dos sonhos

comandava; e só sabia que a necessidade nunca desaparecia, apenas crescia.

Tanto que ela queria discutir sobre o Deus dourado com Vale. Mas,

sempre que tentava, algo estranho acontecia. As palavras morriam em sua

língua – literalmente! – Ela experimentava mutismo seletivo.

Um aviso interno? Talvez. Ou fosse algum tipo de transtorno mental não

diagnosticado. De qualquer maneira, a existência noturna do Deus dourado

permaneceu em segredo, um senso de urgência crescendo. Depressa! Devo

chegar lá.
Amanhã, não importa o quão ruim ela se sentisse, embarcaria no avião e

esconderia sua dor. Vale nunca saberia, nunca sugeriria que suspendessem

seus planos até que ela se sentisse melhor.

Guardaria o segredo e nada iria pararia Nola. Ela havia economizado,

raspado e poupado cada centavo extra, abandonando a faculdade enquanto

trabalhava em dois empregos, mesmo quando a dor e o cansaço a

atormentavam.

No trabalho número um, ela vendia assados para funcionários da

cidade. No segundo emprego, escrevia uma coluna de instruções, dando

conselhos românticos para o Oklahoma Love Match. Oh, que ironia.

Merda!

— Eu esqueci de escrever o artigo desta semana.

— Jogue no balde de merda. — Falou Vale. — A hora do trabalho acabou,

e chegou a hora da diversão.

Se ao menos ela pudesse descartar.

— Prometi ao meu chefe que não o deixaria na mão, então tenho que

elaborar algo. — Chame-a de antiquada, mas Nola acreditava que sua

palavra era seu vínculo. Quando fazia uma promessa, cumpria, sempre.
— E sobre o que precisa escrever?

— Como conquistar qualquer homem que desejar. — O chefe dela sempre

escolhia o assunto, e Nola geralmente se divertia pesquisando a resposta.

— Duas palavras: fique nua. Feito. — Vale espiou a cabeça da porta. —

Isso significa que recebo 50% dos lucros?

Uma risada escapou dela.

— Desculpe, mas a empresa elétrica obtém 100% dos lucros.

— Buuu. Buuu.

— Pronta para outro meme da rainha? — Perguntou à irmã. — Como

você ganha milhões como escritor de artigos? Você começa como bilionário.

Vale uivou de diversão.

Eu preciso de você, princesa. Você sabe onde eu estou. Venha me

encontrar.

Nola engoliu em seco. A ilusão diurna havia acabado de dobrar e

aumentar o volume. O que significava a necessidade de chegar à Rússia

também.

Ela se perguntou... e se seu deus dourado fosse realmente real?


O que, um cara loiro e lindo, capaz de falar telepaticamente? Não. Não

era possível. Mas será que ela faria a viagem e o procuraria, de qualquer

maneira, só por precaução? Sim. Exceto que um novo medo se enraizou.

Ela teria mais alguma coisa para viver quando retornasse?

****** ******

MILAGRE DOS MILAGRES, Nola percebeu logo que chegou à

Suécia. Suas dores desapareceram, a sensação de fadiga também e ela

começou a descansar bem, seu cérebro livre do nevoeiro. Isso enquanto ela

não sonhasse mais com o deus dourado, que continuava a falar dentro de

sua mente com um tom cada vez mais grosseiro. Ela ouviu:

Por favor, não tenha pressa, princesa. Não me importo de ser torturado

por outros mil e trezentos anos.

Realeza inútil. Você quer que outra pessoa governe seu mundo?

Todo dia ela passava por um novo cabo de guerra mental. Ele não podia

ser real, mas tinha que ser. No lado positivo, sua voz afrodisíaca mantinha

seu corpo em um estado de excitação sexual sem um pingo de doença, não


importava quantas vezes ele se queixava, e ela amava e odiava as

maravilhosas e terríveis sensações.

Nola tentou responder a ele e falhou. Claramente. Ele nunca respondeu

suas perguntas.

Qual o seu nome?

Por que você parou de aparecer nos meus sonhos?

Você vai fazer um strip-tease para mim?

Ela queria aproveitar todos os dias, horas, minutos na Suécia, mas o

desejo de chegar à Rússia só aumentava, até que a urgência dominou seus

pensamentos.

Finalmente, porém, chegou o dia D. As duas irmãs alugaram um carro e

pegaram a estrada, com Vale ao volante e Nola no comando da navegação.

Agora, a emoção a dominava. Deus dourado GG, aqui vou eu!

— Você está praticamente espumando pela boca. — Disse Vale com uma

risadinha. — O que está acontecendo?

O mutismo seletivo não a deixaria derramar a verdade, então teria que

abordar isso de uma maneira diferente. Como Carrie costumava dizer, se


você não pode subir, desça. Se você não pode cair, dê a volta. Se você não

puder andar por aí, chute esse mofo no chão.

— Eu tenho uma pergunta estranha. — Enquanto Nola adorava ler

romances em seu tempo livre – ela poderia ter desistido do amor, mas,

querida, com certeza gostava de ler sobre outras pessoas que se entregavam

à paixão. Vale assistia filmes de ficção científica e era gagá por todas as coisas

sobrenaturais.

— Fale — disse Vale. — Você sabe que pode me perguntar qualquer coisa,

a qualquer momento.

Aqui vai.

— Você acredita que a telepatia é possível?

— Ah, com certeza — respondeu Vale sem perder o ritmo. — Acredito

que há um grão de verdade em todos os mitos, lendas e habilidades, e que

podemos fazer qualquer coisa que possamos imaginar.

— Por que não temos provas irrefutáveis de... eu não sei, alienígenas ou

algo assim? — Espere. E se as pessoas com habilidades sobrenaturais não

pudessem admitir a verdade? E se eles experimentassem, digamos, mutismo

seletivo? — Deixe-me reformular. Se os superpoderes são reais, por que os

mutantes não estão dominando o mundo?


— Talvez estejamos. — Vale mexeu as sobrancelhas. — Quero dizer, não

quero me gabar, mas tenho o poder de fazer homens adultos chorarem.

Nola riu.

— Com que pretexto pergunta isso? — Sua irmã perguntou.

Diga a ela. Abra sua boca, diga as palavras. Era simples, fácil. Ela abriu a

boca..., mas nenhum som surgiu. Que droga! No final, apenas deu de

ombros e disse:

— Quão incrível seria passar por um drive thru de cura rápida para ser

saudável e obter um bocado da força do Hulk?

— Cara! Sim!

Quando caíram em silêncio, uma presença sinistra pareceu despertar

dentro de sua mente e sussurrar: Esqueça a cura e a força. Peça a capacidade

de matar de relance.

Matar com um olhar? O que? De onde isso veio?

Um calafrio percorreu a espinha de Nola. Por um momento, ela sentiu

que seu corpo não era dela e que algum lado escuro anteriormente

desconhecido a havia ultrapassado. Quem estava enganando? Ela nunca

sentiu que seu corpo lhe pertencia.


Cambaleando, afundou-se mais no assento e espiou pela

janela. Montanhas com planaltos rochosos, uma infinidade de árvores

exuberantes e um riacho murmurante. Ela quase podia sentir o cheiro de

pinheiro e flores silvestres beijadas pelo orvalho. Infelizmente, a vista

deslumbrante não a acalmou.

Encontre-me princesa. Eu preciso de você.

Mmm, a voz dele. Tão sexy! Mas que droga! Ele era uma invenção de sua

imaginação e a fonte de sua situação. Por que ele a acalmava?

Logo, ela e Vale chegariam ao seu destino e iriam caminhar. Nola

procuraria pelo deus dourado. Uma vez que provasse que ele não era real,

poderia finalmente colocá-lo para descansar e seguir em frente com sua vida.

E fim de papo.

****** ******

A CAMINHADA NÃO saiu como planejado.

Nola e Vale estavam em um vale pitoresco, tirando fotos. O guia deles

permanecia por perto. Até agora, não havia sinal do deus dourado. Claro.
De repente, uma sensação de leveza a atingiu, o mundo escureceu. Ela

piscou e a luz voltou, mas os três já não estavam mais no vale. Eles estavam

em um local deserto, cercados por um mar de neve, com ventos fortes

uivando.

— O que aconteceu? — Nola teve que gritar para ser ouvida.

— Eu não sei! — Vale gritou de volta, sua voz tingida de medo.

O guia deles correu, frenético, gritando em russo.

Embora Nola usasse jaqueta de lã, chapéu e luvas, calças de caminhada e

botas de trekking, a temperatura a gelou até os ossos.

— Olha! — Ela apontou para um ponto à frente. — Pegadas. — A ajuda

poderia estar próxima.

Elas seguiram essas pegadas até uma pequena cabana, com uma lareira

já acesa. Obrigada, Senhor! Calor!

Depois de entrarem, o guia vestiu um casaco e botas, e saiu para verificar

o perímetro quanto a sinais de vida.

Quando o calor tomou conta do seu corpo, Nola caiu de joelhos, vencida

pelo alívio. Mas onde estava o dono do local?

Eu realmente poderia precisar de sua ajuda, deus dourado.


— Meu telefone está morto. — Vale caiu ao lado dela. — E o seu?

— Morto.

— Merda! Esquecemos de trazer um carregador. Não se preocupe. O guia

voltará com o proprietário da cabana e tudo ficará bem.

Mas catorze dias cheios de preocupações se passaram e nem o guia nem

o proprietário voltaram.

No início, Nola e Vale invadiram a despensa. Elas haviam comido de

forma conservadora, mas o suprimento limitado de alimentos diminuiu

rapidamente. A medicação dela também.

Nola temia a retirada que se aproximava. Cada vez mais sentia dores,

suores e arrepios constantes. Espasmos musculares. Sentia-se como se

tivesse contraído uma gripe muito forte. Chorando por tudo e por

nada. Vômitos e diarreia seriam uma conclusão perdida. É, esta sou eu.

No décimo quinto dia, Vale disse:

— Se ficarmos aqui, morreremos lentamente. Se partirmos,

encontraremos ajuda ou morreremos rapidamente.


— Se eu vou cair, farei balançando. — De jeito nenhum Nola ficaria aqui

e observaria sua irmã maravilhosamente vibrante morrer de fome. E o deus

dourado? A pesquisa poderia começar de novo!

Pare! Simplesmente pare. Ele não é real, e você sabe disso. Você só está se

preparando para a decepção.

— Então está resolvido. — Vale apertou sua mão, puxando-a de suas

reflexões e ofereceu-lhe um sorriso triste. — Saímos de manhã.

Nola se virou e revirou naquela noite, desesperada por ouvir a voz dele.

Nada. Ele cessou toda a comunicação.

Porque estou tomando menos remédio do que o normal.

Lágrimas brotaram. Então parecia que ele sempre foi um produto dos

seus medicamentos, assim como em parte temia.

Quando a manhã chegou, Nola colocou um rosto corajoso e vestiu o

equipamento de sobrevivência que elas encontraram no

armário. Empacotaram duas mochilas com itens essenciais e partiram, mas

não demorou muito para sentir os efeitos da hipotermia. Seus dentes batiam

incontrolavelmente, um terremoto em sua mandíbula. Apesar dos óculos e

de uma máscara facial, o nariz e os pulmões queimavam toda vez que

inalava.
Ainda assim, o instinto a fez virar aqui, ir até lá. Então, um milagre

aconteceu. Quando o sol se pôs, o luar prateado caindo sobre o terreno, Vale

descobriu uma grande caverna escondida dentro de uma colina de gelo. Elas

tiveram que subir seis metros para entrar, mas... valia a pena. Mesmo

quando os joelhos de Nola se dobraram, esse instinto gritou: Sim! Ele está

perto.

O quê? De jeito nenhum! Apenas de jeito nenhum.

— Fique aqui. Vou nos aquecer. — Vale extraiu toras e fósforos de uma

mochila e acendeu uma fogueira, depois usou corda de escalada para criar

um varal para pendurar suas roupas molhadas.

— Obrigada, obrigada, mil vezes obrigada. — Nola tirou o chapéu, os

óculos e a máscara, até as luvas. Um calor delicioso lambia cada pedaço de

pele recém-exposta.

Ela examinou a caverna, encontrando imagens esculpidas na parede

oposta, apresentando um monstro com chifres e um cadáver sem

cabeça. Agradável.

— Isso é grafite no gelo?

— Vamos descobrir. — Vale tirou o equipamento e atravessou para o

outro lado da caverna. Seu queixo caiu, excitação irradiando dela. —


Alguém tem que morar aqui, ou pelo menos visitar de vez em quando. Nós

poderíamos estar perto da civilização. Vou procurar mais pistas.

— Cuidado. — Quem quer que tenha esculpido essas imagens parecia

estar um pouco... perturbado.

— Prefiro estar armada e pronta. — Vale piscou, apalpou um machado

de escalada e desapareceu na esquina.

Eu sinto você, princesa. Você está perto. Chegue mais perto. Eu esperei

tanto tempo.

A voz dele! Ela ouviu novamente, e estava mais sexy do que nunca, toda

fumaça e sensualidade, aquecendo seu sangue. Sua barriga tremia. Apenas

uma invenção da sua imaginação. Gerencie sua emoção.

Ela tentou se levantar, mas suas pernas se recusaram a suportar seu

peso. Frustrada por sua fraqueza, bateu o punho no gelo.

Desamparada? Eu? Não! Ela comeria alguma coisa e recuperaria um

pouco de sua energia perdida.

Nola tremeu ao extrair um pequeno pote de cobre de um pacote, bem

como a última lata de arenque fermentado. Não sinta nojo. Mendigos não

podiam escolher. Como uma padeira extraordinária, Nola utilizaria a única


habilidade que possuía nesse tipo de situação: transformar um prato

desagradável em algo que não mataria o paladar de ninguém.

Depois de ferver um pedaço de gelo, ela preparou o peixe. Outros cinco...

dez minutos se passaram, mas sua irmã não voltou.

Nola engoliu algumas mordidas e finalmente chamou.

— Vale?

Sem resposta. Seus ouvidos tremeram, captando outros

ruídos. Sussurros... gelo rachado... Um pressentimento deslizou por sua

espinha. Alguma coisa tinha acontecido com Vale?

Nola descobriu em si mesma um reservatório oculto de força, e arrastou-

se para suas pernas de forma instável.

Colocar um pé na frente do outro exigiu um grande esforço, mas de

alguma forma ela o fez. Caminhou, caminhou e caminhou. Tremendo de

frio, caminhou um pouco mais. Ela circundou uma esquina, entrando em

uma câmara maior, com um teto mais alto e mais de vinte pilares de gelo,

todos rachados. Vale estava do outro lado, encarando um desses pilares

como se este contivesse os segredos do universo.

Com a voz encharcada de alívio, o Deus dourado disse: Aí está

você. Chegue mais perto, princesa. Deixe-me dar uma boa olhada em você.
Espera. Ele estava aqui? Ele não era uma invenção da imaginação dela? A

esperança a percorreu, tão gloriosa quanto um dia quente de verão. Onde

você está?

Uma corda invisível parecia envolver seu meio, puxando-a mais para

dentro da sala. Mais fundo ainda, ignorando pilar após pilar.

O instinto falou de novo, dizendo: Não este. Não aquele. Não. Não

novamente. Sim! Este.

Ela parou e ofegou, a mão flutuando sobre o coração. O pilar... ele... Ela

apertou os olhos e se aproximou. Havia um homem dentro dele. Um homem

verdadeiro para a bondade, surpreendentemente realista, olhando-a através

do gelo. Ele usava uma camisa preta, calça de couro preta e botas de

combate... exatamente como o Deus dourado que ela tinha visto em seus

sonhos. Mais importante, porém, ele tinha o rosto do Deus dourado.

Não estou delirando. Seu coração batia forte e sua pele estava

quente. Mas, mas... como isso era possível?

Isso importava? Ela sentiu a presença dele por tanto tempo, e agora aqui

estava ela, a centímetros de distância. Era fantástico. Chocante e tudo o que

podia fazer era se maravilhar. Ele era real e estava aqui, exalando um

magnetismo animal primitivo.


Ela pensou: Talvez eu tenha desistido do romance muito cedo.

Ele era grande, enorme, alto e musculoso. O homem mais poderoso que

já viu, e o mais bonito, dourado da cabeça aos pés. Possuía cílios longos e

grossos, e lábios macios, uma mandíbula larga e queixo forte lhe davam uma

ponta dura.

Uma realização a atingiu, algo que já deveria ter computado, e seu

coração começou a acelerar. Ele falou com ela. Isso significava que ele estava

vivo. Mas não podia estar vivo. Pois estava envolto em gelo.

— Vale! — Chiou. — As pessoas estão presas aqui? — Não pode ser real,

não pode ser real. Eu devo estar errada.

— Não. São estátuas — respondeu Vale com um tom fácil. — Algum tipo

de atração turística, eu acho. Homens e mulheres virão de todo o mundo

para assistir a essas estatuetas de tesão congelados.

Estátuas. Sim, isso faz sentido. Um alívio. Um desapontamento. Um erro?

“Estátuas” não explicavam o Deus dourado. Claro, Nola não podia falar

sobre suas experiências, então forçou uma risada. Talvez, se ela risse o

suficiente, começaria a achar a situação engraçada. — Mas estatuetas de

tesão? Essa não é a palavra que eu usaria.


— Nola Lee. Você prefere chamá-los de bonecos em tamanho real? Bem,

boa conexão. Eu gosto mais dessa descrição. Dê uma olhada nesse aqui. —

Vale apontou o polegar para um homem de cabelos escuros e olhos azuis. —

Filé de grau A.

Todos os homens estavam vivos, assombrando os sonhos das pessoas?

Você é tudo que eu esperava.

Foi desdém que ela ouviu no tom dele? Sim. Deveria ser. Um desdém em

resposta brilhou em seus olhos.

O peito dela se apertou.

Ele esperava atormentar alguém mais bonita? Alguém mais forte? Estava

decepcionado com ela? Bem, e daí! Ela ficou desapontada com ele por ser

tolo demais para reconhecer sua incrível genialidade... enterrada sob suas

camadas de doença, fraqueza e dependência.

Ela era uma delícia, droga! Honesta, gentil e ferozmente leal. Qualidades

raras nesta lixeira de mundo. Ela tinha muito amor para dar!

— Estatuetas de tesão está absolutamente correto. — Ela apontou para

outro guerreiro de cabelos escuros. — Acabei de fazer contato visual com

esse e tenho certeza de que estou grávida. De gêmeos.


Vale se aproximou, seus olhos castanhos arregalados e atordoados, suas

pupilas queimadas. Bem. Ela não era tão blasé quanto parecia.

Ele não é nada para você. Nada! Eu sou tudo.

Ele estava com ciúmes? Nola se alegrou com a possibilidade.

Ela encontrou seu olhar através do borrão de gelo, prestes a sorrir. Então,

um novo sentimento de pressentimento a invadiu, mais forte do que nunca.

— Não sei por que estou sentindo as coisas que sinto, e se são reais ou

fantasias — sussurrou. — Mas tenho uma suspeita de que algo terrível está

prestes a acontecer conosco.


O que fazer quando o seu homem dos sonhos sensuais também é um

assassino

ATÉ QUE ENFIM! APÓS MIL E TREZENTOS ANOS de confinamento.

Treze mil anos ouvindo a besta fazendo birra. Se o demônio não estivesse

suspirando, ele rosnava; se não estava rosnando, rugia. Sempre, pois

gostava de chutar e arranhar o crânio de Bane, deixando-o meio louco, sua

paciência para sempre desgastada.

Nada além de uma casca quebrada, com rachaduras cheias de tristeza e

fúria.

Valeu a pena. A realeza terráquea havia chegado. A mulher que Bane

planejava usar sem piedade para vingar a morte de Meredith e destruir

Aveline.

Algo terrível está prestes a acontecer conosco.

Algo terrível já havia acontecido. Um olhar para a mulher, e Bane queria

dormir com ela.


Eu? Na cama de uma rainha? Ele preferia morrer. E diria isso a ela, assim

que encontrasse forças para desviar o olhar. Que beleza requintada. Ela

roubou seu fôlego, sugando o ar dos seus pulmões.

Eu posso admirar um objeto sem “querer” sexualmente, droga. E sim, ele

a considerava um objeto. Um meio para o fim. Além disso, ela era delicada

demais para o gosto dele. Muito frágil. A menor rajada de vento poderia

fazê-la quebrar. Ela alguma vez já usou uma espada? Provavelmente

não. Tão inútil quanto a outra realeza.

Durante sua prisão interminável, Bane treinou seu olhar para ver além do

gelo. Agora, examinava lentamente a leve estrutura de Nola Lee,

absorvendo todos os detalhes.

Ela tinha uma pele adorável, pálida e impecável como porcelana, uma

raridade entre os adwaewetianos, até entre os híbridos. Outra raridade eram

os olhos escuros com pontadas de luz, que lembravam o céu estrelado da

noite e cabelos tão pretos e brilhantes que os fios pareciam cobalto. Mas a

glória máxima de sua beleza física –lábios vermelhos de sangue. O tipo de

lábios que um homem desejava ter por todo o corpo.

Os híbridos eram totalmente arrebatados por sua rainha,

voluntariamente – tolamente – arriscando suas vidas para satisfazer todos

os seus caprichos ridículos. Bane não. Ele sabia o que os híbridos não
sabiam. Um dia, muito em breve, ela se tornaria um monstro, a mesma

mudança que Aveline passou. A mesma mudança pela qual toda rainha

sofria.

— Quantas estátuas tem aqui? — A futura rainha perguntou. A cadência

de sua voz... tão suave, tão reconfortante.

A besta de Bane ficou quieta, deixando-o sozinho pela primeira vez em

séculos. Uma onda de alívio o inundou, abafando a resposta da outra mulher

– a chamada Vale.

Enquanto se deliciava, ele revirou o nome dela em sua mente. Nola

Lee. Princesa Nola Lee. Rainha Nola Lee... em breve.

Fugir do gelo e levar a princesa terráquea para a segurança. Matar o

combatente chamado Zion e reivindicar sua varinha mágica. Usar a varinha

para curar meu ombro. Participar da próxima Assembleia de Combatentes,

e matar todos. Realizar o Rito de Sangue de Nola Lee. Matar

Aveline. Juntar–me a Meredith.

Por que continuar? Nunca mais ele se permitiria se apaixonar. Não se

casaria ou fundaria uma família. Não daria autoridade a ninguém sobre

ele. Não serviria outra rainha maliciosa.


Obviamente, o tempo não havia curado as feridas internas de

Bane. Todos os dias, o desejo de vingar-se jogava outro tronco no fogo de

sua raiva. Vou tirar tudo de Aveline, do jeito que ela tirou tudo de mim. Ele

vivia por nenhum outro propósito.

A próxima assembleia começaria em três semanas. Apenas três semanas

até que seus planos e esquemas se concretizassem.

Craaack.

O barulho veio de sua esquerda, os guerreiros em sua linha de visão

acordados e conscientes, exalando um tipo feroz de esperança enquanto

observavam as recém-chegadas.

Uma pergunta não dita flutuou pelo ar. O que aconteceria depois?

Todos eles sofreram, seus ossos e músculos constantemente doloridos

com fadiga, o sangue como lodo. Em algum momento, cada guerreiro

morreu, apenas para reviver e iniciar o processo novamente.

Preciso lutar do meu jeito, preciso ser livre. Agora! Nola Lee e Vale

revigoraram a determinação de todos em escapar.

Para Bane, um espaço de dez centímetros separava a carne do gelo. Ele

costumava deixar o animal derramar chamas em sua garganta, para que ele

pudesse cuspir fogo e derreter o gelo na frente do rosto. A ação havia feito
muito mais pois agora água quente gotejava, pingando para libertar outras

partes do corpo também. Ele conseguia balançar para trás, batendo com os

ombros no gelo, depois empurrar os calcanhares e bater na frente do gelo.

Ele estremeceu quando seu nível de dor aumentou. Como suas feridas

internas, o corte em seu ombro ainda não havia cicatrizado, o corte cru e

irritado, um símbolo de seu estado emocional. Ele parou? Não. Bateu para a

frente, empurrou para trás. Para trás, para a frente. Bam, bam.

Uma das miríades de rachaduras aumentou, e ele sorriu, seu coração

batendo contra as costelas. Mais perto do que nunca!

Nola Lee andava de um lado para o outro antes de parar na frente de Zion

– aquele que supostamente a engravidou com um olhar. Ela traçou um

coração no pilar de Zion, e todos os músculos do corpo de Bane se ataram.

Por que ela se concentrou no homem? O inimigo. Se ela tinha uma atração

por ele...

Inaceitável! Bane exigiu sua cooperação e lealdade.

— Nós sobrevivemos. — Disse ela. Sobreviveu ao que? — Estamos perto

da civilização, o resgate é uma probabilidade.

Resgate?
Ele sabia o dia em que ela nasceu, sentia profundamente em seus ossos o

dia em que ela alcançou a idade adulta e eles estabeleceram um vínculo,

enfraquecendo seus laços com Aveline.

Agora, Bane servia a duas mulheres. No momento em que fosse alinhado

com Nola Lee, prometendo um juramento de sangue para protegê-la e

obedecê-la, seu vínculo com Aveline se dissolveria completamente. Mas

Aveline sentiria sua perda. Então, ele não faria nenhum compromisso, até

que a cadela chegasse para reivindicar a propriedade da Terra.

Bane empurrou a voz na cabeça de Nola.

Volte para mim, princesa.

Uma demanda. Para seu choque, ela obedeceu, arrastando os pés. Ela

olhou para ele, sussurrando:

— Eu sei que você é real. Pelo menos, acho que você é. Talvez. Mas não

sei quem ou o que você é, ou por que você continua falando dentro da minha

cabeça. Apenas... me diga o que está acontecendo. Eu quero ajudar.

Um comando. Um comando real. Como uma princesa híbrida, ela era

poderosa, sim, mas fraca demais para controlar totalmente um guerreiro em

seu auge. Depois do Rito de Sangue, no entanto...


— Ou não me diga — disse ela, ainda sussurrando. — Você

provavelmente é uma ilusão. Sim, definitivamente uma ilusão.

Ele observou que o choque a deixou confusa, desnorteada.

Formigamentos irromperam nas pontas dos dedos, terminações nervosas

congeladas voltando à vida. Dores novas e mais nítidas subiram pelos

braços, irradiando pelo torso e pelas pernas. Até os dedos dos pés

formigavam.

Esperança aqueceu seu sangue e descongelou seu interior, a adrenalina

fluindo em seus músculos.

Devo levar a princesa para a segurança. Enquanto Bane continuava

balançando e empurrando seu corpo para trás e para frente com mais força,

a largura das fendas aumentava, e sua esperança se acentuava em

antecipação. Estilhaços caíram.

Qualquer guerreiro fora das linhas de visão das mulheres também lutava

contra suas prisões. Aqueles que estavam à vista esperaram até que as duas

se afastassem, não querendo que as humanas soubessem sobre a guerra,

mesmo agora. Eles não tinham ideia de que Bane se comunicava com Nola

Lee.

O primeiro a escapar decidiria seu destino.


— Você está pensando o que eu estou pensando? — Perguntou Vale. —

Teremos o jantar de comemoração do ano!

As duas discutiram guardanapos dobrados, dedos do meio, peixe e

vômito antes de desaparecerem na esquina, deixando para trás as

“estatuetas de tesão”, aparentemente esquecidas. A risada de Nola Lee

flutuou pela caverna, tão doce quanto uma canção de ninar, e outro rosnado

retumbou no peito de Bane. Antes de desaparecer, lançou um olhar final na

direção de Bane.

Em breve, ela perderá essa doçura. Nunca se esqueça.

BAM, BAM!

Crackkkkk.

Os músculos já atados ficaram mais tensos quando Bane examinou um

pilar de gelo após o outro. Mesmas rachaduras, nenhuma mudança. Tudo

igual – não.

Ele voltou o olhar para o combatente que ganhou quatro All Wars em sua

vida – Knox. Não foi uma mudança. Linhas mais grossas dividiam seu gelo.

Knox era um concorrente feroz, implacável, impiedoso, sem senso de

compaixão. Se o bastardo ganhasse sua liberdade, Bane seria um alvo


importante, garantido. Não havia como prever o que o homem faria com

Nola Lee.

Bam, bam.

Rachaduras

Desta vez, uma fissura brotou sobre o pilar pertencente a Zion, um

tricampeão extremamente determinado a derrotar Bane.

Bam, bam, bam. Sim! Novas rachaduras se espalharam. Tão perto da

liberdade. O mais perto que ele havia chegado. Encorajado, rolou para trás

e avançou. Novamente. E de novo.

De repente, grandes pedaços de gelo caíram do pilar de Knox, liberando

a cabeça e o torso. Quando o homem estalou os ossos no pescoço e girou os

ombros, a respiração ficou nublada na frente do rosto e o êxtase iluminou

suas feições.

Inveja e medo consumiram Bane. Depressa! Ele lutou mais, ignorando

todos os espinhos da agonia. BAM, BAM.

As fêmeas devem ter ouvido a comoção, pois voltaram apressadas, com

choque e terror palpáveis.

Bane possuía urgência. Vá para Nola Lee. Proteja-a, proteja sua vingança.
Knox apontou para as mulheres e falou:

— Vocês vão ficar paradas. Não corram.

— Você está falando. Você está falando e está vivo. — Vale murmurou. —

Você está vivo e é real.

Bane pensou ter captado os pensamentos de Nola Lee.

Parte de mim sabia que eram reais, mas a outra parte tinha tanta certeza

de que eu estava errada. Sim. Eu devo estar, minha ilusão é forte o suficiente

para afetar Vale.

Um brilho enlouquecido entrou em seus olhos estrelados. Com sua voz

subindo várias oitavas, ela disse:

— Ele não é real. Ele é apenas... não. — Ela apertou a mão de Vale, como

se estivesse desesperada por uma tábua de salvação. — Certo? Hipotermia

causa alucinações. Certo?

O que a fez pensar que estaria melhor sem um verdadeiro guerreiro ao

seu lado?

Mais uma vez, Bane projetou sua voz na cabeça dela. — Corra! O homem

livre é Knox, um assassino perigoso. Eu vou escapar e te encontrar.

Ela permaneceu no lugar, com a boca aberta e fechada.


Fúria e medo colidiram dentro dele. Ele tentou de novo.

Você quer morrer, sua garota tola? Ajude-me a ajudá-la. Corre!

Mais uma vez, ela permaneceu no lugar e trabalhou a boca. O medo tinha

roubado sua inteligência?

Como essa garota ia derrotar Aveline?

Knox chutou o bloco final de gelo e caminhou pela caverna, com uma

adaga em cada mão. O alvo do guerreiro: a Haste do Clima.

Erik, o Criador de Viúvas, havia deixado a arma próxima e além dos

limites da assembleia, garantindo que ela permanecesse ativa, provocando

uma queda contínua de neve. Mesmo assim, nos últimos anos, o gelo

começou a derreter por conta própria. Ou a temperatura lá fora aumentou,

ou a potência da arma diminuiu. Talvez as fêmeas fossem responsáveis.

De qualquer maneira, Erik era o único capaz de ativar e desativar a Haste,

mas qualquer um poderia matá-lo, removendo-o da guerra.

— Precisamos sair. — Uma pálida Vale puxou Nola em direção à saída,

insistente. — Agora!

Suas palavras estimularam Knox a mudar de direção. Ele caminhou até

as fêmeas e estendeu a mão. Bane berrou de raiva, ficando em silêncio


apenas quando o bastardo acariciou a bochecha da loira, ignorando Nola

Lee.

Um olhar de felicidade absoluta suavizou as características

excessivamente duras de Knox. Os olhos de Vale se arregalaram, o preto

derramando sobre a avelã. Nola Lee ficou boquiaberta, seus tremores

ameaçando derrubá-la.

Afaste-se de Knox. Novamente, Bane projetou a voz dele na cabeça dela.

Ela sacudiu, mas não obedeceu. Ele rangeu os dentes, a fúria dando mais

força ao seu próximo impulso.

Pedaços de gelo começaram a cair da prisão de Zion, mas não da dele.

Urgência máxima de todos os tempos, Bane acomodou a maior parte de

seu peso nos calcanhares e empurrou. BAM. BAM. Crrrrrrack. Finalmente,

um enorme pedaço de gelo caiu, libertando sua metade superior. O ar frio

beijou seu rosto, uma sensação tão torturante quanto eufórica. O oxigênio

encheu seus pulmões danificados enquanto ele inalava; o doce aroma de

madressilva ardeu em suas narinas.

Odeio madressilva! Mas, sob a fragrância desprezada, ele detectou notas

de lavanda e jasmim, a mistura deliciosa transformando seu sangue em

chamas.
Ele lançou a barricada final, suas pernas gritando em protesto. Quando

deu um passo, depois outro e outro, se maravilhou. Estava andando. Depois

de estar parado por séculos, ele tinha mobilidade.

Como um novo homem com um propósito antigo, Bane procurou por

Nola Lee. Ela empalideceu, entrando em pânico, seu olhar estrelado

disparando loucamente.

Quando seu olhar pousou em Bane, ela murmurou:

— Socorro.

Sim! Mas, pouco antes de alcançá-la, outros combatentes escaparam do

cativeiro e entraram em ação. Caos irrompeu em todas as

direções. Guerreiros sanguinários se moveram entre Bane e sua

princesa. Emberelle, Petra, Ronan, Slade e Ranger.

Espadas balançaram e adagas mergulharam. Um chicote brilhante

zurziu. Uma flecha passou voando. Sangue pulverizado, grunhidos e

gemidos ecoando.

Sua fúria disparou para novas alturas. Os combatentes colocaram em

risco a princesa!

Bane pensou em pegar Nola Lee e abrir um portal no covil da

montanha. Simplesmente levá-la embora seria tolice. Havia muitos


guerreiros, com diversas armas capazes de feri-la no processo. Além disso,

um portal permaneceria aberto por um minuto inteiro, permitindo que

outros os seguissem. E, considerando quanto tempo havia passado, alguém

poderia ter encontrado o covil e montado armadilhas.

Havia apenas uma solução. Ele tinha que sair da caverna pela única

porta. Para sair pela porta, teria que lutar. Para diminuir as chances de Nola

Lee se machucar durante a luta, deveria diminuir o rebanho.

Muito bem. Missão aceita.

Ele disse a ela: pressione-se no canto. As paredes protegerão seu flanco

enquanto eu abro caminho para nós.

Ela ficou lá, enraizada no lugar, os braços em volta da cintura, o olhar

ainda disparando. Procurando por ele?

— Nola Lee! Obedeça-me. — Acelerou o passo, esquivando-se quando

precisava se abaixar, bloqueando quando precisava bloquear, mas sempre

avançando. Um inimigo se lançou em seu caminho. Com um grito de guerra,

Bane o agarrou pela garganta, estalou a coluna e jogou o corpo mole para o

lado, mantendo uma visão clara de Knox, que acabara de empurrar Vale

para um canto.
A mulher de cabelos claros gritou: — Nola! — Apenas Nola, não Nola

Lee? Muito bem.

Knox empurrou Nola para o canto e apoiou um grande bloco de gelo na

frente deles para formar uma barreira. Ele então usou sua habilidade

sobrenatural para controlar as sombras, fazendo com que lençóis das trevas

subissem do chão como fantasmas e escondessem as duas

fêmeas. Ele protegeu as fêmeas? Chocante.

Bane rugiu. Ele precisava ver Nola, precisava se assegurar de que ela

continuava ilesa.

Bane ganhou velocidade, atropelando qualquer um tolo o suficiente para

atrapalhar. Corpos caíram. Assim que chegou ao canto de Nola, respirando

seu perfume maravilhoso, o combatente Orion colidiu com ele, derrubando-

o no chão. Enquanto rolavam, Orion girou um par de machados

motorizados.

Bane agarrou-se ao pulso do homem e empurrou, o machado cortando

seu cotovelo, a metade inferior do braço se soltando. Com a mão livre, Bane

arrancou sua traqueia, silenciando um grito de angústia. Um a menos.

Orion caiu, sangue quente jorrando do novo buraco em seu pescoço.


O desejo de matar mostrou-se forte, mas Bane resistiu à tentação. Em uma

situação como essa, muitos guerreiros perderiam e morreriam. Se a All War

terminasse hoje à noite, antes que ele tivesse a chance de preparar Nola...

Não! Ele seguiria o plano e manteria a guerra por mais três semanas.

Ele ficou de pé, quando Emberelle se lançou sobre ele. Usando o braço

decepado de Orion como um taco, ele a mandou tropeçando de volta, depois

correu para o canto de Nola...

Droga! O gelo e as sombras permaneciam imperturbáveis, mas ela se foi

há muito tempo, seu perfume havia desaparecido. Nenhum sinal de Vale

também. Para onde eles foram?

Ali! Thorn, o combatente que usava um chicote brilhante, segurava o

tornozelo de Nola e a arrastava em direção à saída, sem perceber que outro

guerreiro se aproximava, deslizando pelo ar graças a um par de botas aladas

– Ranger – uma espada levantada e pronta, voltada para a garganta

vulnerável de Nola.

— Não! — Bane ardeu através da caverna. Vamos! Vamos. O pânico

martelou nele, seu sangue congelando. Ele não iria alcançá-la a tempo.

Zion pegou a espada de Ranger no ar, a lâmina quebrando, páreo para a

luva de metal, salvando a vida de Nola. Uma nova onda de alívio inundou
Bane, apenas para evaporar quando Zion nocauteou Ranger, a abraçou e

fugiu.

Ela lutou com ele, um verdadeiro gato selvagem, mas não conquistou sua

liberdade até Ronan desafiar Zion, reivindicando sua total atenção.

Mas Nola não fugiu, como Bane esperava. Ela ficou no lugar e girou, os

olhos arregalados, as bochechas pálidas, gritando:

— Vale?

Mantendo-a dentro da sua linha de visão, ele mirou qualquer combatente

tolo o suficiente para se aproximar dela, estalando pescoços e arrancando

espinhos. Ela percebeu? Não. O aborrecimento arranhou seu peito cru. Bane

gritou uma maldição. A combatente chamada Petra acabara de passar por

ele, apunhalando a ponta da espada em seu pé esquerdo. A dor excruciante

explodiu dentro dele, mas ele sabia que o pior ainda estava por vir. Sua

espada possuía uma habilidade insidiosa que ele detestava. O que quer que

a lâmina tocasse, poderia recriar, fazendo com que uma torre crescesse em

seu lugar. Como a ponta passou por músculos e ossos, atingindo o gelo, uma

torre de gelo cresceria em torno de seu pé – sobre ele – formando

rapidamente uma parede na altura da cintura.

Fixado no lugar. Todos os ossos dos dedos dos pés até o tornozelo haviam

sido esmagados em pó.


E Petra não estava satisfeita. Ela voltou, balançando a espada novamente

– apontando para a garganta dele. Ele se abaixou, o alojamento de metal na

parede de gelo. Ignore a agonia abrasadora. Ele inclinou a metade superior

sobre a borda e deu um soco na caixa torácica de Petra. Suas costelas

quebraram, como ele esperava, os fragmentos de osso cortando seu

coração. Ela apertou o peito e tropeçou para trás, escorregando em uma poça

de sangue e topando em um corpo inconsciente.

Não entregue o golpe mortal. Vá embora.

Nola, onde estava Nola? Bane digitalizou, encontrando-a

rapidamente. Um guerreiro – Slade – balançava um tridente na frente do seu

rosto gritando:

— Onde ele está?

Quem era ele? Erik? Bane bateu e chutou a parede de gelo com toda sua

força. Estrelas piscaram através de sua visão, e novos rios de sangue

jorraram de suas feridas.

— Machuque-a, e eu vou fazer você se arrepender — rosnou. Chegar até

ela. Preciso chegar até ela.

Slade não lhe deu atenção.

— Onde ele está?


Com um grito agudo, Vale correu e pulou nas costas de Slade, estendendo

a mão para martelar os punhos nos olhos dele. Mas seus socos não tiveram

efeito.

Não posso chegar a Nola até eu me libertar. Pense, pense!

Bane observou quando Knox deslizou pela distância, balançou uma

espada para cima e para cima e cortou o pulso de Slade. A mão e o tridente

caíram no chão. Não havia tempo para se alegrar. Uma batalha terminava e

logo outra começava. Pelo menos Nola permanecia a salvo – por enquanto.

Mas rapidamente, o mundo começou a desaparecer. Fique acordado e

consciente. Lute! Vá até ela, maldito seja.

— Você vem comigo. — Quando Knox arrastou Vale para longe, ela lutou

contra seu aperto, tentando desesperadamente retornar a Nola.

Zion pegou a princesa, mais uma vez, erguendo-a contra o peito, depois

correu, avançando para Knox e fazendo uma jogada por Vale. Esse pedaço

de merda pensa em fugir com as duas mulheres?

Quando Ronan se inseriu no meio do confronto, Nola foi capaz de se

livrar de Zion e Vale foi capaz de atacar Knox. Libertadas, finalmente, as

duas fêmeas saíram correndo da câmara.


Bane não tinha visto evidências de ferimentos, mas Nola mancava, com o

rosto contorcido de dor abjeta. Devo segui-la!

A caverna tremeu da fundação ao telhado. A qualquer momento, as

paredes desmoronariam. Preso como estava, Bane seria esmagado. Se um

pedaço perdido de gelo separasse a cabeça do corpo...

Sua vingança morreria com ele.

Permitir que Aveline viva uma vida longa e feliz? Não!

A batalha parou quando os guerreiros fugiram. Bane se abaixou, esticou-

se e torceu, agarrando uma espada descartada. Não haveria ajuda para

isso. Para salvar sua vida e alcançar Nola, ele devia sair deste local. Para sair

deste local, tinha que liberar a perna. Para libertar a perna, tinha que quebrar

o gelo.

Ele bateu na parede de novo e de novo, e percebeu que estava fraco

demais para causar algum dano real. Muito bem. Ele ganharia sua liberdade

de outra maneira.

Respire fundo. Bane olhou o tornozelo. Adeus, pé. Enquanto inalava, ele

levantou a espada. Enquanto exalava, o cortou.


CAPÍTULO QUATRO

Vá em frente, ataque por conta própria!

MANTIDA CONTRA o peito de um gigante, olhando por cima do ombro

largo, Nola tinha uma visão surpreendente do colapso da caverna e do

sequestro de Vale. O brilho das luzes do Norte iluminou ambos

horrores. Um outro gigante segurava sua irmã em uma corrida frenética,

levando-a para longe, na direção oposta.

Na caverna, o bruto assustador que segurava Vale se apresentou. Eu sou

o Knox de Iviland. Ele possuía os olhos azuis mais frios que Nola já vira. Seu

próprio captor – o cara que ela alegou a ter engravidado com o olhar – tinha

os olhos escuros e mais frios. Mas a coisa realmente aterrorizante? Nenhum

homem a assustou tanto quanto seu Deus dourado.

Como um anjo da morte, ele arrancou membros, órgãos, mastigou

gargantas e arrancou espinhas. E fez tudo isso enquanto espirrava sangue

por todo o lado, olhando possessivamente para Nola, como se a possuísse,

corpo e alma.
Por que ela decidiu vir para a Rússia? Sério, uma ilusão teria tido um

resultado muito melhor.

O que aconteceu com o deus dourado, afinal? E por que ele a convocou

de todas as pessoas?

— Pare. Por favor. — Ela disse ao bruto de cabelos escuros que a levava

embora. Seus dentes batiam quando ela estendeu o braço, alcançando a

irmã. — Eu não quero ir com você.

Ele cingiu seu aperto, berrando:

— Fique quieta, menina! Você vai denunciar nossa posição!

Uh...

— Você acabou de deixar nossa posição.

Ao longe, Vale se jogou no chão. Choramingando, se levantou

perseguindo Nola com uma mochila na mão, ela gritando com o

sequestrador de Nola.

— Pare! Por favor! Você não entende. Ela está doente e precisa de

remédios. Venha pegar o Knox. Vou ajudá-lo a matá-lo, se for isso que você

quer. Juro! Ou então me leve.


Lágrimas brancas escorriam pelas bochechas de Nola, apenas para

congelar. Pare de chorar. Você é uma mulher crescida. Bem, na pressa de sair

da caverna, essa mulher crescida havia deixado a outra mochila e todo o seu

equipamento de sobrevivência para trás. Sem óculos, máscara, chapéu ou

luvas, o sangue em suas veias logo engrossaria como uma raspadinha.

Devo agir agora!

Reunindo a pouca energia que tinha, Nola bateu os punhos contra o rosto

e o peito de seu sequestrador. Ele demonstrou reação zero, os socos dela não

o incomodaram nem um pouco.

A histeria fervia no emaranhado de seus pensamentos. Para onde ele a

estava levando? O que ele planejava fazer com ela – COM ELA?

— Por favor, deixe-me ir. Deixe-me salvar minha irmã. — Se algo

acontecesse com Vale... ela preferiria morrer.

Você apenas poderia fazer isso acontecer.

Com um tom seco, ele disse:

— Por que eu deixaria a mãe dos meus gêmeos ir?

Oh, droga. Ele ouviu seu comentário bobo.

— Você vai matar a mãe de seus gêmeos?


— Depende, suponho.

O terror a agarrou, paralisando seus músculos. Ela perdeu a capacidade

de se mover, o que só piorou seu terror. Seu estômago começou a revirar,

como se tivesse engolido lâminas de barbear.

— Eu acho que posso vomitar.

Ele ganhou velocidade, dizendo:

— Aponte para longe de mim. — O homem tinha uma voz profunda e

um forte sotaque que ela não conseguiu identificar. — Se pararmos, um

combatente nos atacará.

Combatente?

Foco. No ano passado, Nola e Vale fizeram uma aula de

autodefesa. Agora, um aviso soou em sua mente. Se alguém tentar levá-la

para um local secundário, lute. Qualquer dor que você sofrer antes da

transferência será pálida em comparação com a que você sofrerá se acabar

presa e sozinha.

— Estou indo atrás de você, Nola. — Vale chamou da escuridão. — Logo

atrás... não deixarei nada... hum.

O que acabou de acontecer? Nada de bom, que Nola sabia.


A fúria devastadora liberou seus membros da paralisia. Em vez de se

debater descontroladamente, ela usou bem suas lições, cutucando seu captor

nos olhos. Quando ele grunhiu de dor, ela bateu a palma da mão no nariz

dele. A cartilagem estalou e o sangue escorreu por seu queixo. Ele gaguejou,

mas, poxa, manteve o controle.

— Eu sou Zion de Tavery. — Ele correu em torno de uma árvore

vitrificada pelo gelo. — Não se preocupe, pequena dreki. Eu vou proteger

você.

Dreki? Outro aviso de seu instrutor soou.

Nunca confie em um estranho. Suponha que eles falem mentiras, a

linguagem universal de assassinos e estupradores.

— Por que você quer me proteger? — Perguntou, os dentes batendo com

mais força.

— Antes de você chegar, — ele explicou, — eu... vi você. Nos meus

sonhos.

Do jeito que ela sonhava com seu Deus dourado?

— Mesmo se eu não tivesse, gostaria de protegê-la — acrescentou. — De

onde sou, as mulheres são raras. Um tesouro precioso. Prejudicar qualquer

uma delas é crime. — Ele ajeitou Nola contra o peito, libertando uma das
mãos, limpando o sangue do rosto e pressionando os dedos contra os

diamantes embutidos no ombro.

O que ele estava fazendo?

— O... o que eu fiz nos seus sonhos?

— Isso, eu não vou te dizer.

Entre um passo e o outro, eles saíram do deserto gelado e entraram em

uma floresta ensolarada. Enquanto examinava o novo ambiente, o calor

derramava sobre ela, tão aconchegante quanto um cobertor de

pele. Ondulações corriam sobre a superfície de uma lagoa cristalina. Um

pedaço de flores silvestres perfumava o ar com doçura açucarada,

provocando suas narinas. As abelhas zumbiam e os pássaros

cantavam. Árvores frutíferas e nozes balançavam com uma brisa suave, e

sua boca ficou cheia d’água. Cocos. Bananas. Nozes. Eu quero!

— Onde estamos? — E como ela conseguiu passar do inverno para o

verão questão de segundos?

— Minha casa. Enquanto estou no Terra, pelo menos.

— Terra. — Ela ecoou.

Ele acenou com a cabeça.


— Todo mundo e reino tem múltiplas dimensões e planos, bolsões ocultos

de terra inacessíveis pelos meios tradicionais. Eu encontrei e reivindiquei

isso há séculos.

Múltiplas dimensões? Bolsões? Mundos e reinos. Há uma diferença? E

ele tinha usado a palavra séculos?

Depois de tudo que testemunhou, tudo que experimentou... Mantenha a

mente aberta.

— Os bolsões estão empilhados, um em cima do outro, mas não se

cruzam. — Disse, colocando-a em pé. — As dimensões existem dentro de

um mundo e são acessíveis através de algum tipo de porta. Os mundos são

os planetas como um todo, e os reinos estão dentro do mundo.

Os joelhos dela dobraram, incapazes de suportar seu peso. Zion a pegou

antes de cair no chão. Ele a carregou para uma cama de musgo, onde

gentilmente a deitou de costas.

Muito vulnerável! Ela achatou as palmas das mãos no peito dele e

empurrou. Quando ele se recusou a se mexer, ela começou a socar. Os nós

dos dedos roçaram o punho de uma adaga, e ela congelou. Terceira dica do

instrutor? Se você encontrar uma arma, use-a.

Mas... esfaquear Zion? Matá-lo?


Ele agarrou a barra da sua blusa, como se pretendesse arrancar a roupa

do corpo dela, e Nola pensou: Sim. Matar. Embora tremesse, ela arrancou a

adaga da bainha e enfiou a lâmina em seu intestino.

A facilidade com que o metal cortou a carne e os músculos a deixou

doente. O que eu fiz?

Franzindo a testa, ele arrancou a arma do intestino. Zion não estava

vestindo uma camisa, então ela teve uma visão desobstruída quando o

sangue jorrou da ferida.

Ela se preparou, esperando uma retaliação rápida e violenta.

Ele apenas embainhou a lâmina e disse:

— Eu só queria checar por ferimentos em você, pequena dreki. Você está

bem?

— Pequena Dreki. — Era algum tipo de carinho ou praguejar? E ele

realmente aceitou a culpa por suas ações e perguntou sobre seu bem-

estar? — Me desculpe eu machuquei você. Bem, não sinto muito, mas estou

preocupada com a sua reação.

— Estou bem. A ferida já está cicatrizando.


Verdade? Enquanto ela observava, de olhos arregalados, sua carne

rasgada voltar a se unir, seu ferimento se tornando invisível. Mas, mas...

— Como isso é possível? — A confusão acolheu uma maré de tontura, o

mundo girando cada vez mais rápido.

— Como explicar? Eu não sou humano — disse com um encolher de

ombros. — Agora devo inspecionar meu território em busca de

armadilhas. Voltarei com comida.

Deixá-la sozinha em um terreno desconhecido? Não! Trazer comida para

ela? Sim!

— Você não tem medo que eu faça armadilhas?

Os cantos de sua boca levantaram em um meio sorriso paternalista.

— Se alguém como você conseguir me pegar, eu merecerei o meu destino.

Ai, isso doeu!

— Alguém como eu?

— Minúscula. Frágil. Doente. — Ofereceu as descrições sem hesitar, feliz

em ajudá-la a descobrir seus defeitos. E ele não esperou sua resposta

também, apenas saiu, desaparecendo na folhagem.


Levante-se. Corra! Procure Vale. Isso. Mas mesmo que pudesse andar, ela

tinha, tipo, nenhuma perspectiva, e mínimas chances de ajudar à irmã. Ela

estava muito fraca e muito lenta. E se topasse com um “combatente”? Sua

chance de morrer aumentaria em 100%.

Devo fazer algo. Pense! O que ela sabia? Bem, para começar, a falta de

seus medicamentos a derrubaria em breve.

Nola tinha duas pílulas no bolso; ela sempre tinha duas pílulas no

bolso. Um estoque “apenas em caso de emergência”. Se tomasse uma agora

– metade da dose habitual de quatro horas, ela evitaria os principais

sintomas de abstinência por cerca de seis horas. Então, poderia tomar a outra

pílula e ganhar outras seis horas. Depois disso...

Está bem então. Ela definiu um cronômetro interno em sua mente. Doze

horas para formar e aprovar um plano. Tic tac.

Nola caiu pesadamente sobre as mãos e joelhos, a tontura

piorando. Quando tentou se levantar, tombou. Que droga! Ela bateu com o

punho na terra.

Acalme-se. Não se revolte, aja. Mais uma vez, se apoiou nas mãos e nos

joelhos. Se arrastando até a lagoa, tomou uma pílula. Embora soubesse os

perigos de beber água não purificada, ela tomou um gole de suas mãos,
engolindo de uma só vez. Se seu sistema digestivo se revoltou? Claro que

sim.

Bônus: se ela tivesse diarreia intensa, Zion estaria menos inclinado a tocá-

la. Uhul.

Quando a tontura diminuiu, usou um galho de árvore para se

levantar. Suas pernas tremiam, seus joelhos ameaçavam dobrar novamente,

mas ela lutou para se orientar.

Uma ideia surgiu, e Nola cambaleou. E se ela convencesse Zion a resgatar

Vale?

Poderia confiar nele? Até agora, ele exibiu um comportamento bastante

decente, afinal. Nola não estava machucada. No mínimo, ele tinha respostas

para as suas perguntas. Quem era Knox e para onde levara Vale? Quem

eram os outros, aqueles que estavam congelados ao lado dele? Aliás, como

eles sobreviveram ao congelamento? Todos se curam tão rápido quanto

Zion? Nola poderia entrar em perigo? Por que todos as estatuetas de tesão

tentaram se matar quando ganharam a liberdade? E quem era o deus

dourado e por que ela foi atraída para ele?

Enquanto a luz do sol filtrava através de um dossel frondoso, acariciando-

a e aquecendo-a ainda mais, um galho estalou, passos reverberando. Zion


marchou por um emaranhado de galhos de árvores retorcidos, segurando

uma pequena mochila.

Sem uma batalha em torno deles, ela foi capaz de catalogar os detalhes

perdidos anteriormente. Quatro tatuagens gravavam seu peito musculoso,

cada imagem definida dentro de um círculo. Em uma, pássaros. Na outra,

chamas. Outra, nuvens. Na última, uma árvore da vida. Os diamantes

embutidos em seus ombros largos estavam dispostos em algum tipo de

padrão de explosão estelar. Tão brilhante! Ele tinha uns dois metros, a

mesma altura que o seu deus dourado, e excepcionalmente bonito, com

aquela touca grossa de cabelos e olhos escuros, e a pele com um adorável

tom de marrom.

Enquanto o deus dourado fervia de raiva e brutalidade, onde cada

movimento que fazia um convite para a luta, Zion exalava calma e

determinação.

— Eu trouxe um lanche. — Disse.

Doze horas. Por alguma razão, ela ouviu tic tac no fundo de sua mente.

— A outra garota. — Deixou escapar, mergulhando no fundo do poço. —

Vale. Ela é minha irmã, minha melhor amiga e parceira de negócios e a única

família que me resta. Um guerreiro assassino a levou embora. Ele pode estar

machucando-a.
Suas feições se suavizaram.

— Eu tentei salvá-la também.

— Você tentou e falhou, então está desistindo? Eu tenho que encontrá-la,

Zion. Ela é minha razão de respirar.

Verdade. Algumas vezes, no ano passado, Nola havia chegado perto de

desistir da vida, o futuro sombrio demais para ser contemplado. O que ela

tinha que esperar? Mais chamas. Mais dor. Mais medicação. Mas, por mais

um dia com Vale, ela suportaria qualquer coisa.

— Você vai me ajudar?

— Não. — Ele se sentou em frente a ela e colocou a mochila entre os

dois. O material ficou aberto, revelando bananas, nozes e cenouras. — Desde

o momento em que Knox se libertou, ele fez todo o possível para protegê-

la. Duvido que a machuque.

Um nó farpado cresceu em sua garganta, mesmo que ele estivesse

certo. Knox havia se concentrado em Vale da mesma maneira que seu DEUS

DOURADO havia focado em Nola.

Onde ele estava agora? Será que estava bem? Ele não tinha falado

telepaticamente desde que ela saiu da caverna. Embora fosse selvagem e


desdenhoso, ela não o queria machucado ou pior! Ele era o homem dos seus

sonhos, afinal de contas.

Zion quebrou um pacote de nozes e descascou uma banana, depois

ofereceu ambos a ela. Nola deu uma mordida na fruta e gemeu de

felicidade. A doçura! Muito melhor do que peixe enlatado e pimenta. Ela

enfiou a banana restante na boca e comeu as nozes. Após engolir a última, a

culpa se manifestou. Aqui estava ela, desfrutando um lanche

saboroso, enquanto não tinha ideia se sua irmã estava em perigo.

— A dúvida não é boa o suficiente. — Ela finalmente disse.

— Bem, terá que aceitar isso por enquanto. Faço parte da centésima

terceira All Wars. Um combatente imortal lutando para governar seu

mundo.

Imortal. All Wars. Governar o mundo inteiro. Esqueça sobre ter uma

mente aberta. Esqueça as coisas selvagens que ela tinha visto. Ele estava

mentindo. Só podia estar.

Mas... eu meio que acredito nele.

— O que é uma All Wars?

— Uma luta até a morte.


— Por favor, explique.

Ele pensou por um momento, suspirou.

— Existem trinta e nove mundos na All Wars

Alliance. Correção. Eram trinta e nove mundos antes de um viking nos

congelar no Ártico. Não tenho certeza de quantos novos foram encontrados

ao longo dos séculos. De qualquer forma, para impedir que exércitos de

todos os mundos invadam e destruam territórios recém-descobertos, um

representante de cada mundo é enviado para combater os outros

representantes – até a morte.

A comida que ela consumiu se transformou em chumbo no

estômago. Então, Zion acreditava ser um alienígena extraterrestre? Ou seja,

deus dourado era um alienígena extraterrestre. De jeito nenhum, nem

pensar. Mas...

Talvez? Nola duvidava que qualquer outra explicação fizesse sentido

também. Se Zion estivesse dizendo a verdade, se a All Wars era real e um

grupo de guerreiros realmente esperava conquistar o controle da Terra,

agindo no estilo Highlander8, o futuro seria sombrio para todos os humanos,

não apenas para ela, e... e...

8 Highlander retrata a história de Connor MacLeod, um imortal guerreiro escocês do século XVI, que é

doutrinado pelo também imortal Juan Sanchez Villa-Lobos Ramirez em como combater e se defender de
outros imortais, para não perder, literalmente, a sua cabeça, pois ao último imortal um prêmio estaria reservado.
Ela não podia lidar com isso agora. A histeria provocava os limites de sua

mente.

Envolvendo os braços ao redor da cintura, ela disse:

— Você sabe para onde Knox levou Vale?

— Para o acampamento base dele, sem dúvida. Infelizmente, nunca o

vislumbrei, então não posso acompanhá-la até lá.

— Não entendo. — O que visualizar um acampamento tem a ver com

alguma coisa?

Zion bateu no trio de anéis de cristal que usava.

— Estes são Rifters. Eles abrem um portal em qualquer lugar que eu tenha

visitado ou visto em fotografias.

Rifters. Portais. Tudo o que ele disse pintava uma imagem muito mortal.

— Me acompanhe a algum lugar onde eu possa conseguir equipamento

de sobrevivência, então. Talvez uma farmácia também. Definitivamente

uma farmácia. Então me devolva ao Ártico.

Ele piscou rapidamente.


— Você sabe que não pode encontrá-la, certo? Você é fraca demais e não

possui treinamento e as ferramentas adequadas. — Palavras cruéis –

palavras verdadeiras – ditas em tom suave. — Qual é a sua doença?

— Não é da sua conta. — Nola não era fisicamente forte, mas e daí? Ela

tinha um coração de aço! — Seu planeta é clinicamente avançado? Você

pode curar certas doenças?

— Avançado, sim. Curar, não. — Ele inclinou a cabeça para o lado. —

Como você encontrou a caverna de gelo?

— Fui fazer uma caminhada, me perdi. — Por que tentar explicar sua

conexão com o deus dourado e o instinto de alcançá-lo? Mutismo seletivo a

impediria, garantido. — Quanto tempo você ficou congelado?

— Mil e trezentos anos.

Nola vacilou. Uma afirmação tão selvagem que tinha que ser verdade?

— Você sabe o nome do guerreiro de ouro?

— Eu sei. — Os olhos de Zion brilharam, como se soubesse um segredo

que ela não conhecia. — Ele é Bane de Adwaeweth.

Bane. A desgraça da minha existência. Add-way-with.


— Os guerreiros Adwaewethianos são perigosos metamorfos com

aversão à luz.

— Metamorfos. — Suspirou.

— Há muito tempo, ouvi seu povo se referir à besta de Bane como

um dreki. Ou dragão. — Esclareceu.

O que? Uma declaração ainda mais selvagem. No entanto, ela poderia

facilmente imaginar Bane se transformando no estilo “Eu sou um

dragão”. Mas... por que Zion se referiu a Nola como “pequeno dragão”? A

menos que ele soubesse que Bane e Nola compartilhavam uma conexão

mental.

Então, por que Bane e Nola compartilham esta conexão?

Pare de se concentrar em detalhes não críticos. Tic tac. Tic tac. Era hora de

obter a cooperação de Zion e fazer uma oferta que ele não podia recusar.

— Me ajude a encontrar e salvar a Vale, — ela pediu, — e eu irei... — O

quê? O que ela poderia fazer e o que ele queria? — Eu conheço o mundo

moderno, você não. Eu posso ajudá-lo a ganhar sua guerra. Então. O que

você diz?
O homem de sua fantasia está de volta. E agora?

Zion a abandonou. Sem fazer promessas ou explicar para onde estava

indo, o que estaria fazendo ou quando retornaria. Tudo o que ele

disse? Tenho uma guerra para vencer. Fique aqui e ficará segura. Então,

usou seus Rifters para abrir um portal e desapareceu, deixando Nola

boquiaberta.

Tic tac. Pelo menos o opioide entrou em ação, mais facilmente digerido,

graças à comida. Calor derramou sobre seu corpo. Ela deu um passo

experimental, depois outro... sim! Usando um galho de árvore caído como

uma bengala, viajou pela dimensão em busca de outra pessoa, abrigo,

veículo ou saída. O que ela achou? Muita selva.

As árvores estavam cobertas de vegetação, as flores grandes demais e o

líquen abundante. Pássaros cantavam, sapos coaxavam e abelhas zumbiam,

fornecendo música de fundo superdivertida. Mas, não importava em que

direção ela viajasse, sempre acabava na lagoa. A dimensão ficava em

círculos?
O tempo todo, a contagem regressiva de doze horas passava em sua

mente, cada minuto perdido esculpindo sua calma. Desesperada por uma

distração, ela reformulou uma lista mental de itens obrigatórios. Convença

Zion a encontrar e salvar Vale. Pare de esperar que Bane envie outra

mensagem telepática. Fuja. Salve Vale antes que seja tarde demais. Vá para

casa. Esqueça a guerra e seus “combatentes”. Esqueça o status alienígena em

potencial do meu Deus dourado.

Nola começou a suspeitar – e temer – que um portal fosse a única maneira

de entrar e sair da dimensão. Se ela continuasse em seu caminho atual,

procurando uma saída, só desperdiçaria mais de seu tempo limitado e

energia preciosa. Melhor seria fazer algo com uma pequena chance de

sucesso.

Talvez devesse armar algum tipo de armadilha para Zion? Ela descartou

a ideiam, mas não deveria. Se o capturasse, poderia forçá-lo a levá-la até

Vale. Ou talvez Bane.

Gostando ou não, Nola compartilhava uma conexão formidável com o

cara. Desde seu décimo oitavo aniversário, ele estrelava seus sonhos

favoritos. Quando ele pediu ajuda, ela viajou para o outro lado do mundo

para ajudar. Agora ele devia a ela. Com pouco esforço da parte dele, Bane

poderia ajudá-la a resgatar Vale.


Excitação floresceu. OK. Nova lista. Criar uma armadilha para Zion,

forçá-lo a abrir um portal. Encontrar Bane. Convencê-lo a salvar Vale. Ir para

casa, e esquecer a guerra e seus “combatentes”. Esquecer o potencial status

alienígena do meu deus dourado.

Seu cérebro cansado só conseguia pensar em uma armadilha. O velho

truque “cavar um buraco, cobrir o topo e assistir a queda”.

Onde seria um bom lugar para... ali! O local onde eles comeram. Ela se

agachou e começou a trabalhar, cavando com as mãos e uma pedra. Não

demorou muito para que a fadiga e os tremores entrassem em ação,

retardando seu progresso.

Um brilho fino resplandecia em sua pele, seu coração uma marreta contra

as costelas. Apenas três horas se passaram, mas o opioide já havia começado

a desaparecer. Em seguida viriam as dores nucleares.

Que droga! Tic tac, tic tac. No entanto, ela não estava mais perto de

alcançar um único objetivo.

Respire fundo, expire. Merda! A tontura a invadiu. Respire fundo, expire.

Assim. Dentro, fora. Excelente. Foco. Não há como dizer quando Zion

retornará.
Enquanto continuava cavando, lágrimas de frustração brotaram, ardiam

em seus olhos. O que ela não sacrificaria para obter uma força como a de

Bane?

Quando não estava no meio de uma crise de lúpus ou fibromialgia, se

forçava a andar oito quilômetros por dia. Por ordem do médico, evitava

alimentos com glúten, laticínios e chocolate. Embora a couve pertencesse ao

lixo em sua opinião, ela a consumia duas vezes por semana, além de beber

mil sucos batidos de vegetais cheios de vitaminas e minerais. E, no entanto,

seu corpo estúpido decidiu traí-la agora, quando sua irmã mais precisava

dela.

Seu queixo estremeceu. Uma lágrima solitária escaldou sua bochecha e

ela se apressou a limpá-la com as costas da mão. Desistir? Não! Ela tinha que

avançar. Ela faria.

Inclinando-se para a frente, Nola bateu a pedra no chão e raspou pilha

após pilha de terra em seus joelhos. Seus músculos queimavam de

esforço. Outra lágrima caiu quando um lado do buraco desabou, desfazendo

todo o seu trabalho duro.

— Vamos lá! — Ela rosnou. Bater. Raspar. Mais lágrimas. — Eu posso

fazer isso. Eu posso... — Sua visão ficou turva. Um soluço profundo

borbulhou de sua garganta, desencadeando uma inundação tóxica de


frustração, medo e tudo o mais que ela enterrou enquanto estava presa nas

montanhas com Vale. Todo o pânico. Histeria. Incerteza. E arrependimento.

Com a cabeça inclinada e os ombros trêmulos, ela permitiu que novos

soluços a dominassem. Se fosse mais forte, se lutasse mais, já poderia ter

salvado Vale. Mas não era. Nola era inútil. Desamparada. Boa para

nada. Os insultos que pais adotivos e irmãos a lançaram ao longo dos anos.

Bem, eles estavam errados, e ela provaria isso! Prenderia Zion, e chegaria

a Bane. Apenas iria até Bane.

Uma sensação maravilhosa tomou conta dela, como se tivesse injetado

opioides potentes. Suas dores desapareceram. O suor secou e seu batimento

cardíaco diminuiu. Nola se deleitou. Era assim que ela sempre deveria se

sentir, não era? Tinha que ser o que as pessoas “normais” experimentavam

diariamente.

Ela queria dançar e cantar, rir e tocar... até a selva desaparecer, paredes

de pedra e cristal agora a cercando, diferentes odores saturando o

ar. Moedas de um centavo, calcário, especiarias exóticas e almíscar

masculino.

Nola apertou o estômago. Não vomite. O que acabou de acontecer? E por

que quatro cadáveres ocupavam o canto mais distante da caverna? Eles

estavam frescos, seu sangue apenas começando a congelar.


De alguma forma, ela viajou para outro local em um piscar de olhos,

sem o uso de Rifters. Como?

Nola era padeira e escritora, e essas coisas impossíveis continuavam

acontecendo com ela. Sem dúvida, um surto era iminente. Mas não aqui, e

não agora. Embora aterrorizada, ficou de pé surpreendentemente firme,

planando com uma graça que nunca antes exibira.

Um rosnado baixo atraiu seu olhar para a esquerda. Bane!

Seriamente. Como isso é possível?

Ele estava acordado, caído... e completamente nu. Sangue e sujeira

manchavam sua pele nua enquanto fúria, dor e desprezo ardiam naqueles

olhos dourados. A lama aglomerava-se em seus cabelos e envolvia o corte

furioso escorrendo em seu ombro. Filas e mais filas de músculos cortavam

seu peito glorioso, criando um pacote de músculos consagrado. Estou

babando? Como Zion, ele tinha tatuagens circulares no torso. Uma árvore da

vida, um aglomerado de estrelas e uma onda oceânica.

Suas bochechas esquentaram quando ela pulou o olhar sobre sua

virilha. Sua virilha extragrande.

Olá! De jeito nenhum, como seu pênis poderia

ser tão grande. Certo? Ela supôs que precisava dar outra espiada, só para ter
certeza.

Nola olhou novamente. Deus do Céu! Olhe para aquilo. Uma visão de

abundância, com -

Não! Isso é mau, Nola!

Tremores caíram em sua espinha, seu sangue esquentou como se... de

jeito nenhum. Como se ela experimentasse excitação sexual sem a dor de

estômago. Outra impossibilidade, certo?

Ela abanou as bochechas e voltou o olhar para as coxas, os joelhos. Suas

pernas esticaram na frente dele e...

— Oh, Bane. — Sua mão flutuou sobre a boca. Apenas algumas horas

atrás, ele lutou contra guerreiros fortes com habilidade e ferocidade

incomparáveis. Agora, ele estava com um pé faltando. Sua perna terminava

em um toco sangrento. — Meu pobre bebê — resmungou, a simpatia

brotando. A angústia que ele deveria estar sofrendo. Se ela lhe desse a última

pílula no bolso... Ele pode ter uma reação ruim. Ele não é humano, lembra-

se?

Certo. A pílula poderia matá-lo. Melhor deixar pra lá. O fato de ela ter

pensado em compartilhar sua última pílula preciosa provava o quanto ele

significava para ela, apesar de tudo o que tinha acontecido.


— Deixe-me adivinhar — ele ralhou, sua voz tão profunda e rouca

como sempre. Apesar de seus ferimentos, ele a olhou de cima a baixo com

uma precisão lenta e sexualmente carregada, como se ela fosse uma virgem

em um leilão e ele planejasse fazer a oferta vencedora. — Zion te disse meu

nome.

Sem fôlego, ela respondeu:

— Ele disse. — Esse olhar deveria assustá-la e intimidá-la,

certo? Então, por que Nola o achou mais sexy agora? — Por que me sinto tão

bem? Como cheguei aqui?

— Você não sabe?

— Você? — Tic-tac. — Deixa pra lá. Há apenas um tópico que me

interessa. Minha irmã, Vale. Knox a tem. Com sua ajuda, posso encontrá-la.

Ele apertou os lábios, uma ação nascida da raiva. Mesmo assim, apenas

parecia triste e vulnerável, uma sensação que ela conhecia bem. Uma brasa

de parentesco floresceu.

— Não consigo nem encontrar um torniquete agora — disse.

— Eu posso! Cuidarei do torniquete e você encontrará Vale. De

acordo? — Ela não esperou sua resposta. Examinou a caverna. Rocha...

sujeira... cristal. Corpos mortos. O cara do meio usava um cinto. Vai ter que
servir. Ela correu, dizendo: — Você matou esses caras?

— Sim. Felizmente. Eles fazem parte do meu estilo de decoração — ele

disse, seu tom seco.

Certamente ela se sentiria com medo agora. Esperando...

Não. Ela se sentiu emocionada. Finalmente fazendo progresso!

— Pobre Bane. Ninguém disse a você que 'macabro chique' está fora

de moda. — Fingindo que os cadáveres tinham conseguido o que mereciam

– diabos, talvez tivessem – ela se esforçou e manobrou até libertar a tira de

couro, depois correu de volta para Bane. Especiarias e almíscar brincavam

com seu nariz, embaçavam sua cabeça e aqueciam seu sangue em outro

grau. Ótimo! Agora tremores a atormentavam. Suspirando, ela se agachou

ao lado dele e deslizou o cinto sob a sua coxa o mais suavemente possível.

— O que aconteceu com você? — Ela perguntou.

Ele sibilou de dor e respondeu:

— Você aconteceu.

— Eu? — Ela olhou para a esquerda e para a direita, esperando que ele

tivesse usado aquele tom severo com outra pessoa.

Por alguma razão, ele se acalmou quando seu olhar se fixou nos
cabelos dela. Ele parecia... encantado. Bane estendeu a mão para peneirar

uma mecha entre os dedos. As mechas negras complementavam seu tom de

pele dourada.

— Bonita. — Disse ele, depois fez uma careta e a soltou com um

bufo. — Você tem trabalho a fazer.

Oookay. Perder um pé o deixava irritado. Anotado. E, se alguém lhe

dissesse que um dia ela analisaria calma e casualmente a amputação do pé

de um guerreiro imortal, teria rido na cara deles.

Para mantê-lo distraído da dor que se aproximava, ela disse:

— Como eu fiz você perder um pé? — Enquanto falava, ela amarrou o

cinto e deslizou o couro para o meio da panturrilha, o apertando o mais

firmemente possível.

Ele berrou uma maldição com tanta fúria que ela se abaixou, esperando

um soco.

A ação só o deixou mais irritado. Mas ele suavizou o tom, dizendo:

— Não vou machucá-la, Nola.

Respire fundo, expire.

— É bom saber. — Se ele tivesse dito a verdade.


Um olhar de assassinato homicida cruzou seu rosto e ele berrou:

— Alguém te machucou no passado?

Ótimo! Ele parecia furioso novamente.

— Vamos, hã, focar em você e no pé. OK?

Entre respirações ofegantes, ele disse a ela:

— Lutei para protegê-la e fui preso por meus esforços. Para escapar da

caverna em colapso, tive que remover o pé, só assim poderia te rastrear. Só

que Zion é muito bom em se esconder. Eu rapidamente perdi sua trilha. E

não é um pé qualquer. — Ele disse — É o meu pé. — A distinção importava

e despertou suas simpatias. Ela sabia que ele se sentia removido de seu

corpo, um fenômeno que ela também costumava combater.

— Você sabe onde está Knox? Ele fugiu com minha irmã.

— Irmã? — Sua testa franziu. — Eu não senti o sangue

Adwaewethiano na outra garota.

— Mas você sentiu o sangue Adwaewethiano em mim? — Oh, merda.

Ela era uma alienígena? Uma linhagem de outro mundo poderia explicar
algumas de suas estranhas idiossincrasias9.

Um músculo saltou sob seu olho.

— Sim, eu senti. E não, eu não sei onde está Knox. Nenhum de nós

sabe.

Merda dupla! Ela balançou de volta, dizendo:

— Eu vivi na Terra – Planeta Terra – minha vida inteira. Como posso

ser do seu mundo? — Eles voltariam à sua incapacidade de procurar por

Knox e Vale depois que ela o aquecesse um pouco falando em termos de

conversação.

— De que outra forma? Há um reprodutor Adwaewethiano em sua

árvore genealógica.

Quão alegremente ele fez um anúncio que tinha o poder de mudar

todo o curso de sua vida. Se for verdade, é claro.

— É por isso que você falou dentro da minha cabeça e exigiu que eu te

encontrasse?

Esnobando a pergunta, ele estendeu a mão e segurou a parte de trás de

9Particularidades próprias de um indivíduo ou de um grupo de pessoas – característica, comportamento, constituição,


disposição, estrutura, temperamento, condição, especificidade, feitio, índole, natureza, particularidade, peculiaridade.
sua nuca, seu aperto contundente. Choque e fúria escureceram sua

expressão. — Você é real. Você é real e está aqui. Você está aqui comigo.

As coisas começaram a amolecer dentro dela.

— Sim, eu sou real. E só para você saber, se me quebrar, terá que

comprar outra de mim.

Com um único puxão, ele forçou o rosto dela mais perto do dele, suas

bocas apenas um sussurro de distância. Ela ofegou. Ele olhou, fixo, seu olhar

procurando o dela.

De perto, seus olhos pareciam ouro líquido, derretido e fumegante, sua

estrutura de longos cílios pretos como coisas de sonhos. Literalmente! Nola

nunca pensou estar a pouca distância de seu deus dourado, e agora ela

estava... cambaleando.

— Eu sou real, e você é muito benevolente para um alienígena, assim

como Zion. E eu, aparentemente. — Acreditar ou não acreditar?

Ele não parecia ouvi-la.

— Zion te machucou?

Ele se importava?

— Não. Ele foi bom para mim.


— Quão bom? — As pálpebras de Bane se fecharam, aquelas lindas íris

âmbar escondidas. — Você gosta dele.

— Mais ou menos. Gosto. — Ela disse.

Ele rosnou. Rosnou! Como um animal grande, bonito e ciumento.

Um homem como Bane, com ciúmes porque outro homem passou

mais tempo com Nola? De jeito nenhum. Ela deveria estar interpretando mal

a situação.

— Eu não o conheço bem, mas ele não olha para mim como se eu fosse

a sujeira na parte de baixo de seus sapatos, então...

— Sujeira... Sim. — Embora seus olhos se fechassem e sua cabeça

pendesse para o lado, ele não a soltou. Chamou atenção um momento depois

e rosnou: — Odeio você.

Ela se encolheu, a admissão atingindo-a como um punho. O que ela fez

para merecer tal rancor?

Por que dar a ele a satisfação de perguntar?

Se ele tivesse mostrado um pouco de bondade, ela o teria dado tudo –

todos os seus cuidados, toda a sua ajuda. Agora? Ele teria sorte de receber

metade de qualquer um.


— Para onde Zion levou você? — Exigiu.

Ela levantou o queixo, dizendo:

— Mesmo que eu soubesse, não diria a você.

— Então você é uma tola. Ele está usando você para chegar até mim.

— Certo, porque um homem não iria me querer por qualquer outro

motivo...

Ele passou a língua sobre os dentes brancos e retos.

— Fique comigo, e eu vou protegê-la dele. De todos.

— Confiar no homem que me odeia? Não, obrigada. Além disso, você

nem consegue se proteger, estúpido. — A culpa despertou. Nunca antes

Nola usara um tom tão assustador com outro ser vivo, mas vamos lá! Em

apenas alguns minutos, ele destruiu a pouca autoestima que ela possuía. —

Além disso, por que você quer me proteger?

Ele desviou o olhar, seu comportamento mudando. De feroz a

determinado. — Eu não preciso gostar de você para ajudá-la. Nós

precisamos um do outro.

Este poderoso Deus dourado precisava dela?


— Eu sei o porquê de você: por causa da minha irmã Vale. Mas por

que você precisa de mim?

— Diga-me que você vai ficar longe de Zion — ele insistiu,

desprezando outra pergunta.

Que se dane ele!

— Se você não me ajudar a salvar Vale, Zion o fará. — Talvez. Mas ela

teria que empurrar. Então, por que não pressionar Bane?

Na esperança de despertar seu ciúme novamente, ela disse:

— Zion é quente e muito bom com as mãos. — Provavelmente. Ela se

inclinou para mais perto, pressionando os seios contra o peito dele, e

sussurrou diretamente em seu ouvido. — Eu sou a garota dos seus sonhos.

— Literalmente!

Bane firmou seu aperto.

— Sonho... sim. Você é um sonho e um pesadelo, como

Adwaeweth. Você é minha salvação e minha condenação, reunida em um

belo pacote.

Ele acha que eu sou bonita?

Ugh! Foi nisso que ela se concentrou?


— Como posso ser sua salvação e sua condenação? Na verdade, como

posso ser uma delas? — Perguntou, e sempre que ele exalava, ela inspirava,

respirando todo aquele tempero e almíscar. Sua barriga tremia e o calor se

acumulava entre as pernas.

Estou experimentando excitação sem dor de estômago. Que

maravilha! Mas por que aqui, por que agora? Por que ele?

Ele também sentia excitação? Deveria. Enquanto se entreolharam, a

consciência carregava o ar.

Mais uma vez, ele fingiu que ela não tinha feito uma pergunta e optou

por fazer uma.

— Como você me alcançou sem Rifters?

— Sinceramente, não sei. Em um segundo, fiquei imaginando se você

me ajudaria, no seguinte estava aqui.

Por alguma razão, a resposta dela o enfureceu novamente.

— Você já está adotando nossas capacidades. Realeza típica —

Murmurou com nojo.

Realeza? Capacidades?

— Diga-me para curar. — Ordenou. — Diga-me para cultivar um pé


novo o mais rápido possível.

— Quer dizer que eu deveria levá-lo a um hospital, usando uma

habilidade sobrenatural que eu poderia ou não ter e definitivamente não sei

como usar? Coisa certa. Por que você não vê como eu puxo um coelho de

minha cartola invisível também?

Suas sobrancelhas douradas se uniram, um vinco se formando no

meio.

— Hospital... uma instalação médica. Não. Você vai me ajudar aqui.

— Como? Meu telefone está morto e não há como eu carregar você.

— Diga-me para curar, Nola. Exatamente como eu pedi.

Irritada, ela disse:

— Você não fez um pedido. Você fez uma demanda.

Ele apertou sua nuca até que ela choramingou, mais com surpresa do

que dor. Mesmo agora, ela não tinha medo dele.

— Fale. Agora.

— Você está me machucando. — Ela retrucou.

Imediatamente, ele afrouxou o aperto.


— Por favor. — Murmurou.

Por que não o ouvir?

— Cure-se. — Disse ela. — Cresça um pé novo o mais rápido possível.

— Por um breve momento, ela se sentiu quente, febril, mas o sentimento

cessou abruptamente.

Assim que a última palavra saiu de sua boca, ele jogou a cabeça para

trás e rugiu com agonia, seu corpo inteiro tremendo. Agora o medo desceu

sobre ela e automaticamente se afastou dele, dizendo:

— Me desculpe, me desculpe. — O que ela fez?

— Não vá embora! — Gritou. — Nola, não se atreva a sair.

Muito tarde. A caverna – e Bane – desapareceram e a selva

reapareceu. Ela se sacudiu. Mais uma vez, tinha sido transportada para um

novo local em um simples piscar de olhos, sem ter ideia de como havia feito

isso.

Transportada... ou teletransportada?

— Zion. — Chamou.

Os pássaros voaram, mas não houve resposta. Sem Bane e sem

Zion. Ótimo!
Nola vasculhou seus arquivos mentais em busca de qualquer

informação que pudesse ter lido sobre a habilidade, mas seus pensamentos

estava, tão confusos quanto um barril de macacos de plástico. Um sintoma

de abstinência. Os outros sintomas retornaram em uma vingança, com o

coração acelerado, o suor escorrendo pela pele. Dores e mais dores

reacenderam, e ela lutou para recuperar o fôlego.

De alguma forma, Bane evitou sua doença. Agora que eles estavam

separados...

Deveria tentar voltar para ele, apesar da birra?

Não há necessidade de pensar nisso. Sim, ela deveria. Tic tac. Ela não

estava mais perto de salvar Vale, mas estava perto de conseguir um acordo

dele. Mas, não importava o quanto ela se concentrasse, permanecia no lugar,

frustrada e decepcionada.

Um fato foi esclarecido, no entanto. Bane tinha alterado para sempre o

curso da sua vida. Só o tempo diria se essas mudanças seriam para o

melhor... ou para o pior.


CAPÍTULO SEIS

Quando a ex dele é a rainha da maldade!

— NOLA! — BANE rugiu e expirou o ar gelado com calcário

beliscando sua pele exposta.

Ele estendeu a mão para Nola com sua mente, querendo que ela se

aproximasse, mas algum tipo de bloqueio impedia uma conexão. Por quê?

Ofegando, encharcado de suor, avaliou seu corpo. Suas roupas se

foram. O ombro dele não estava curado mas o pé estava de

volta. Finalmente, algo favorável acontecia com ele. Como isso aconteceu tão

rapidamente?

Seu relógio interno dizia que uma noite se passara desde que ele

escapara da prisão de gelo. Um pé normalmente exigia dois dias para se

regenerar – se uma rainha desse uma ordem. Quando uma princesa

ordenava, demorava mais alguns dias. Então, o que acelerou o processo para

Nola?

A respiração ficou nublada na frente de seu rosto enquanto observava

o ambiente. Uma caverna rochosa. Não o seu covil. Esta caverna não

continha armas ou tesouros. Aqui, cristais brilhantes caíam do teto. Água


pingava de paredes rochosas, espirrando sobre uma pilha de corpos. Velhas

matanças. O sangue deles havia congelado e escurecido.

A fera deve ter atacado o quarteto de uma vila próxima e se

escondido... onde? Ele vasculhou seu cérebro por uma resposta. Cada

pensamento, exceto um, afundou no fundo da areia movediça mental tão

rapidamente quanto se formou. Alguém estava por perto, esperando

emboscá-lo?

Bane fechou os olhos e ouviu atentamente. Sem vozes, sem passos,

apenas um vento forte. Respirando fundo, separou os diferentes

aromas. Calcário, decomposição e sujeira. Madressilva e jasmim.

Seu corpo estremeceu e um raio de luxúria bateu nele. Madressilva. Há

quanto tempo Nola se foi? Onde estava? Quero ela de volta!

Espere. Luxúria – por ela? Inaceitável! Ele nunca dormiria com a

realeza e desrespeitaria a memória de Meredith. Ele nunca transaria com

uma realeza e ponto final. Aprendeu sua lição com Aveline. Nola poderia

ser uma delícia doce e saborosa – e ele poderia estar com fome, morrendo de

fome – mas em três semanas ela mudaria. Ele realizaria o Rito de Sangue, e

ela se ergueria como uma verdadeira rainha, fria, insensível e pura maldade.

Nola... má...
Ele teve séculos para pensar nela. Quem ela seria e o que esperaria

realizar. Nem uma vez teve curiosidade sobre sua personalidade ou

aparência. Agora, ele se viu fixado em sua espessa massa de cabelo preto-

azulado, em seus lábios deliciosos em forma de coração ou em seus olhos

estrelados, brilhando de felicidade em um minuto, escurecendo com mágoa

no seguinte.

Quando ele segurou sua nuca, imaginou enrolar o longo cabelo dela

em torno de seu punho, e inclinar seu rosto para ele. Bane queria ouvir a

respiração dela, desejava ver uma febre de paixão aprofundar a cor em suas

bochechas e o pulso na base do pescoço disparar.

Seu eixo disparou tão duro quanto aço. Não por causa de Nola. Seu

corpo ansiava por sexo, isso era tudo. Ele passou mais de mil e trezentos

anos sem uma amante. Uma circunstância que poderia facilmente corrigir,

se assim o desejasse. O que implorava a pergunta – ele desejava? No

momento em que se empurrasse para dentro de uma mulher, sua preciosa

esposa não seria mais a última que ele beijara ou tocara. Até o pensamento o

enchia de uma culpa ardente.

Basta! Guerra agora, sexo depois. Pense.

Uma lembrança incrivelmente vívida encheu sua mente. Quando Nola

apareceu na caverna, ela demonstrou tanta alegria inalterada que fez seu
peito doer. Porque ele sabia que nunca mais sentiria a emoção.

Avançou rapidamente para o momento em que ela se agachou ao lado

dele. Seus olhos estrelados se arregalaram e ele notou sinais visíveis de

choro. Pálpebras inchadas e vermelhas. Lágrimas rasgavam suas bochechas

manchadas de sujeira. Manchas cor de rosa em sua pele. A sujeira tinha

endurecido seus dedos.

Antes de vir vê-lo, alguém a fez chorar. Zion?

A respiração seguinte de Bane se mostrou ardente, o calor parecendo

forjar punhais do ar e cortar seus pulmões. Zion pagaria.

Para onde diabos Nola tinha ido? Em nenhum lugar próximo, isso ele

sabia. A presença de uma rainha acalma a fera. Aqui, agora, o animal

rosnava e batia na sua mente, expressando ódio e ressentimento mais

voláteis que os de Bane.

Preciso encontrar Nola. Com ela, a fera se aquietava.

Enquanto ele movia seu cérebro com mais força, novas memórias

escaparam da areia movediça mental. Lembrou-se de rastejar das ruínas da

caverna de gelo, deixando um rastro de sangue em seu caminho... lembrou

de fraturas profundas se espalhando pelo chão, quase o engolindo

inteiro. Quando se afastou, um combatente o esfaqueou nas costas. Foi


quando o animal o alcançou, levando-o para uma vila próxima.

O fato de Bane ter se transformado significava que Zion havia levado

Nola para algum lugar além de seu alcance.

A tensão roubou Bane. Antes de ser preso, caçara Zion sem sucesso.

Se não encontrar Nola, talvez ela me encontre. Como Aveline, ela poderia

se teletransportar e também curá-lo com um comando. Os olhos dele se

arregalaram. Certo. Ela ordenou que se curasse, e ele o fez. Se curou mais

rápido do que nunca, quase como se a autoridade dela tivesse mais alcance

do que a de Aveline, uma rainha de sangue total. Impossível!

Para animais como Bane, a palavra da realeza era igual à lei. Seu corpo

sempre obedeceria às exigências dela... a menos que algo fosse poderoso o

suficiente para substituir sua vontade. Como a espada de Valor. Até que se

tornasse rainha, ela não seria forte o suficiente para curar seu ombro. Prova:

ela disse “Cure-se”. Então, todo ele deveria ter se curado. No entanto, essa

lesão permanecia tão profunda e dolorosa como sempre.

A espada! Se alguém tivesse roubado a arma durante os anos de

cativeiro de Bane...

Suas mãos se fecharam em punhos. Ele pensou em abrir um portal em

seu covil para checar a espada e os óculos, apenas para descartar a


ideia. Alguém poderia estar escondido nas proximidades, esperando para

ter um vislumbre de seu esconderijo.

Ele procuraria na caverna. Se estivesse vazia, ele iria ao seu covil e

voltaria sua atenção para Nola.

Quero ela agora! A luxúria ressurgiu, ultrapassando-o

rapidamente. Não, siga o plano.

Com uma maldição, Bane se levantou. Seu novo tornozelo estava

firme. Bom. Ele pegou um par de calças e botas da maior das vítimas da

fera. Muito pequeno e muito apertado. Ele deveria estar ridículo, mas pelo

menos sua amplitude de movimento não era limitada, então ele usaria. As

botas eram grandes demais para o cadáver, porém perfeitas para Bane, como

se fossem feitas sob medida para ele. Uma simples coincidência? Parecia

improvável, mas coisas estranhas haviam ocorrido.

Bane apenas deu um passo antes que uma vibração familiar sacudisse

sua mão. Ele fez uma careta. Seu anel de comunicação. Apenas uma pessoa

tem acesso a ele: Aveline, a Grande e Terrível, que não conseguiria falar

dentro de sua cabeça enquanto eles estivessem separados.

Ele moeu seus molares. Uma luz silenciosa explodiu do centro do anel,

a imagem holográfica de Aveline aparecendo.


Raiva ardeu em seu peito, todos os músculos de seu corpo atando. A

luxúria que experimentou apenas momentos atrás? Se foi. Seu corpo

tinha alguns padrões.

— Está vivo. — Disse com a voz plana.

A rainha Adwaewethiana mudara um pouco. Ainda dourada da

cabeça aos pés. Ainda enganosamente frágil. Ainda má como o inferno.

Enquanto o animal se aquietava, ele não ficou em silêncio. Prova de

que o vínculo entre rainha e guerreiro já havia enfraquecido. Não sorria.

Module o seu tom. Prossiga com cuidado. Não importa o quê, ele tinha

que garantir que Aveline permanecesse ignorante da identidade de Nola.

— Onde está sua emoção? — Ele perguntou com um sorriso de

escárnio. Ou com um tom não convencional, aparentemente. — Seu

guerreiro sobreviveu. — Não dela, nunca dela.

— Você verá minha emoção quando vencer a guerra — ela

respondeu. — Muita coisa aconteceu enquanto que você ficou congelado.

— Como?

— A All Wars Alliance permitiu que outro grupo de guerreiros se

aventurasse na Terra. Quando esses guerreiros desapareceram, uma terceira


guerra começou. Mas eles desapareceram também.

As regras proibiam o Conselho Superior de interferir em uma guerra. É

claro que nenhum conflito terminava em um impasse.

— Quem você enviou?

— Cayden e Mount. Cayden sobreviveu, Mount morreu.

A agressão raspou seu interior, o desejo de atacar algo, qualquer coisa,

quase irresistível. Cayden era implacável até o âmago, com oponentes e

amantes. Pelo menos ela não tinha enviado Micah, o combatente mais

violento em sua folha de pagamento, o homem que a ajudou a matar

Meredith.

— As ordens deles eram as mesmas que as minhas? — Ele perguntou.

— Sim, claro. Cayden achou que tinha encontrado a atual princesa de

Terra pouco antes de desaparecer.

As unhas de Bane queimaram, suas garras se alongando, preparando-

se para atacar. Outro guerreiro Adwaewethiano faria da morte de Nola uma

prioridade – se ela fosse encontrada antes do final da All Wars.

O tempo da conspiração terminou e o tempo da ação havia

chegado. Ele executaria seu plano, ganhando um punhado de armas que


desejava e terminaria a guerra na assembleia. Finalmente! Faltavam apenas

três semanas. Vinte e um dias. A antecipação fervia dentro dele.

Após o Rito de Sangue, Nola ansiaria por matar todas as ameaças ao

seu governo. Com um exército de híbridos à sua disposição, ela poderia – e

teria – sucesso.

Quantos híbridos viviam na Terra agora, seus animais em perpétua

hibernação?

Como três bestas de sangue puro vagavam pelo planeta – Bane,

Cayden e Mount – o Conselho Superior nunca suspeitaria dos crimes de

Aveline. Em sua mente, cada guerreiro poderia ter deitado e impregnado

centenas de mulheres, explicando assim todos os híbridos. Ninguém sabia

que Aveline usava uma toxina mística para esterilizar seus guerreiros antes

de enviá-los para a guerra. Em troca da vitória, eles receberiam o antídoto.

— Há algo mais que você precisa saber, — disse Aveline, — há pouco

mais de vinte anos, enviei Micah para Terra em segredo, com ordens para

matar todos os membros da realeza que ele encontrasse, além de procurar

você e Cayden.

Bane viu vermelho. Calma. Firme. Se Micah ainda vivia, Bane o

encontraria e o mataria. Outra tarefa a ser adicionada à sua lista sempre

crescente. Desta, ele iria gostar.


— Você arriscou...

— Calado! — Berrou Aveline. — Você é um soldado, nada mais.

Compartilhamos um passado, sim, mas isso não significa nada aqui no

presente. Você não pode me castigar ou questionar minhas decisões.

Furioso, ele estalou a mandíbula, mas também obedeceu, para que ela

não suspeitasse de sua conexão com Nola.

A rainha sorriu com superioridade presunçosa. Utilizando de um tom

suave como seda, ela disse:

— Diga-me, meu animal de estimação. O desejo de me matar

desapareceu?

Não havia motivo para mentir, a resposta provavelmente estampada

em suas feições.

— Não. Nem um pouco.

— Excelente. — Outro sorriso lento. — Então comece a trabalhar e

ganhe a guerra. Rapidamente! Suas chances de sucesso diminuirão no

momento em que outros combatentes forem encontrados.

Mais combatentes, mais obstáculos que precisam ser eliminados.

— Eu vencerei. Você tem minha palavra.


Quando a imagem dela sumiu de vista, a fera rugiu e bateu contra seu

crânio com mais força, afrouxando um único pensamento. Vá para Nola. Um

dia, ela se tornaria sua inimiga, seu maior inimigo, mas esse dia não era

hoje. Hoje, ela era a resposta para os problemas dele, e ele a protegeria, não

importando o custo.

Incentivado, Bane correu por um longo corredor. A fluorita de arco-

íris resplandecia nas paredes quando raios de luz brilhantes filtravam

através de uma ampla abertura. Sem os óculos, ele estava parcialmente

cego. No momento em que saísse, perderia toda a visão. Mas não se

importou. Chegar a um local privado, abrir um portal para o

covil. Comunicar-se com Nola.

Ele aumentou sua velocidade, cada vez mais rápido, o desejo de falar

com ela, de vê-la e tocá-la, de ouvir sua voz, ficando mais forte. Nada o

impediria.

Ele bateu em uma parede invisível e ricocheteou para trás, tombando

sobre uma rocha.

Preso em outra prisão? Não! Nada e ninguém o separaria da princesa

terráquea.

Rosnados retumbaram em seu peito quando ele se levantou. A

primeira coisa que notou? A parede não estava invisível. Com sua visão
comprometida, ele perdeu as barras de metal.

Seus rosnados ficaram mais altos quando ele arranhou e

puxou. Droga! Elas não se mexeram.

Seus ouvidos tremeram e ele franziu a testa. Que som era

esse? Dobradiças? Deveria ser. À direita, uma seção de pedra se levantou,

revelando uma grande tela preta com uma imagem de Erik, o Criador de

Viúva, e ele estava sorrindo.

— Olá, Bane. Você se lembra de mim, tenho certeza. Más notícias. Você

está atualmente preso na minha montanha, sem saída. Peço desculpas, mas

não me desculpe. Desde o seu encarceramento, aprendi muito sobre a sua

All Wars. Mil vezes, fui tentado a matá-lo, mas, para sua sorte, reconheço a

maior ameaça. O Conselho Superior e seus Executores. Eles devem ser

parados. Juntos, podemos neutralizá-los. Pense nisso e conversaremos

novamente em breve.

A tela ficou em branco.

Respire fundo, expire. Ajudar a Erik, quem o congelou? Mesmo que

ele concordasse com o homem, não, apenas não. O Conselho Superior e os

Executores eram uma ameaça, sim, mas a derrota de Aveline superava tudo.

Decidindo abrir um portal além das barras, Bane passou o polegar


sobre os Rifters. Esperou um minuto, dois, mas nada aconteceu. Então Erik

conseguiu de alguma forma desativar os anéis. Como?

Pense depois, fuja agora. Bane girou, observando. Enfiando os ossos

nas mãos, olhou para uma parede rochosa com saliências pontiagudas de

cristal, a necessidade de alcançar Nola arranhando-o.

Eu vou criar uma nova saída.


Uma grande e (in) feliz reunião

A CONTAGEM REGRESSIVA tinha zerado, a janela de doze horas

sem seus medicamentos acabou. Um marco do dia dois sem uma pílula, seus

sintomas de abstinência pioravam a cada minuto. A parte realmente

horrível? Ela sentia como se o relógio tivesse reiniciado e corresse para outra

coisa – ou alguém. Quando chegasse a hora, ela cairia.

Enquanto isso, sua dor era insuportável e consumidora, sem fim à

vista. Ela se contorcia, derramando suor, desesperada para acalmar suas

articulações doloridas. Sua pressão arterial disparou, seu coração batendo

contra as costelas. Mil vezes, tencionou vomitar... entre outras coisas.

Em um minuto ela estava congelada em sua essência; no seguinte,

superaquecida. O corpo dela tremia constantemente. Irromper em lágrimas

tornou-se uma ocorrência regular, o trauma físico, mental e emocional era

demais.

Ela faria qualquer coisa por um descanso; até entrar em contato com
Bane através de sua conexão mental. Mas, embora tivesse estendido a mão

várias vezes, o idiota permaneceu em silêncio. Ela tentou se teletransportar

de volta para a caverna dele também... depois para um hospital, depois para

qualquer lugar, menos aqui; mas não teve sorte.

Como ela deveria replicar um acidente, afinal? Na última vez, ela

pensou em Bane e boom, foi levada para a presença dele. Para chegar em

casa, entrou em pânico e se afastou dele. Dois métodos diferentes de

operação.

A menos que não tivesse se teletransportado para Bane

originalmente? Talvez, após o sequestro de Zion, sua mente tenha quebrado

e ela tenha alucinado a visita com Bane. Talvez finalmente tivesse um motivo

legítimo para culpar uma ilusão.

Sem força para resistir, Nola permaneceu perto do lago. Seu novo lar e

seu futuro caixão – dois pelo preço de um. Uhul!

Zion a visitava de vez em quando, mas a maior parte do tempo ficou

longe, guerreando como um profissional. Não importava o quanto

pressionasse, ele se recusava a contar qualquer coisa à ela.

Onde estava Vale? Como estava? E o que aconteceu com Bane, o

homem que a odiava sem motivo? Ele realmente perdeu um pé? Ele...

morreu da perda de sangue?


Nola engoliu um soluço. Bane era a única pessoa que conhecia em

primeira mão os Adwaewethianos e metamorfos. Talvez verdade, talvez

mentira. Não, depois de tudo o que tinha acontecido, tudo o que

testemunhou, ela acreditava. Sua mente não estava quebrada. Ela

simplesmente não sabia como se sentir sobre

tudo. Animada? Assustada? Esperançosa? Cheia de pavor?

Será que ela poderia mudar de forma? Veio a este planeta antes ou

depois do nascimento? Os pais dela também eram de outros mundos? Ela

não se lembrava deles.

Não, não é verdade. Embora tivesse sido uma criança pequena quando

eles morreram em um trágico acidente de carro, às vezes sonhava com o

veículo capotando, ouvia o som de gritos e metal rangendo, sentia sangue

quente escorrendo por todo o corpo enquanto tentava escapar do carro. O

assento. Nola ficou tensa, os ecos da memória esfolando seu coração.

Cadê você, Bane? Silêncio.

Por favor fale comigo. Mais uma vez, silêncio.

Ela fechou os olhos, imaginando seu deus dourado. Alto e musculoso,

intenso e masculino. Agressivo e selvagem. Carnal. Misterioso e

dominante. Ela esperou, rezando, mas não foi até ele. Que droga!
Bane! Ela gritou. Fale comigo. Agora!

Uma sensação de conexão formigou profundamente em sua alma, e ela

pensou, esperava, que o tivesse alcançado desta vez. Então ouviu: O que há

de errado, princesa?

Isso funcionou? A voz do shifter se infiltrara em sua mente, uma

espécie de regresso a casa. A menos que isso fosse uma...

Pare! Eu não sou uma ilusão.

Apesar de seu medo de Bane, apesar do tratamento abismal, ela meio

que... sentia sua falta. Ele fazia parte de sua vida há anos. E, embora seu tom

estivesse cheio de desprezo, ela experimentou um tsunami de alívio. Ele

sobreviveu!

Mas por que a odiava?

Houve algumas vezes que ele não a olhou com desdém. Não, não. Ele

a olhou com fome. Lembrando, ela estremeceu.

Princesa?

Certo. Estou doente... Muito machucada. Na caverna, você fez eu me

sentir melhor. Você pode fazer isso de novo? Implorando ao cara que a

considerava lixo? Bem, porque não? A dor a despia de orgulho.


Venha para mim, como antes.

Como? Ela tentou de tudo que sabia fazer.

Instinto, talvez? Eu não tenho certeza de como. Ao contrário de você,

não tenho a capacidade de me teletransportar.

Confirmação: ela se teletransportou.

Nola disse a ele: Da última vez, pensei em você. Na minha viagem de

volta para casa, pensei em fugir de você. Agora estou pensando muito em

você, mas não estou teletransportando.

Ele fez um som de fúria e frustração. Me mande ir até você, então.

Então, ele não poderia procurá-la sem um comando?

Acolher um combatente à dimensão de Zion seria uma traição

total. Mas ele a abandonou e reteve informações. Ou... morreu, e nunca mais

voltaria. Seu estômago torceu e ela secou.

A dor... Nola preferia morrer a suportar outro minuto disso.

Antes que começasse a tagarelar, ou se convencesse a ficar de pé, ela

deixou escapar: Eu ordeno que você venha a mim neste exato momento.

Com sua próxima inspiração, o aroma de especiarias exóticas e


almíscar masculino encheu seu nariz. O calor escorria por suas veias, seu

estômago se acalmou e as dores do corpo desapareceram. Lágrimas de

felicidade caíram em suas bochechas. Então Bane apareceu, bem no coração

da selva, e Nola ofegou de surpresa e prazer. Ela fez isso. Ela realmente o

teletransportou. Como?

— Bane. — Sussurrou, olhando para ele com espanto. — Você me

ouviu e respondeu. Como? Eu tenho que saber! E por que me ignorou por

tanto tempo?

— Eu não consegui falar com você. Você me bloqueou.

Verdade?

— Como? — Ela perguntou novamente.

— Não sei. — Ele catalogou o terreno enquanto segurava dois punhais.

Sem dúvida, examinando todos os detalhes.

Bem, ela catalogou a ele. Mechas de cabelos claros espetadas em

pontas emaranhadas. O desprezo brilhava em seus olhos cor de âmbar, mais

forte do que antes. Nada demais. Eu não ligo. A sujeira riscava sua pele e

endurecia sob as unhas e ao redor das bordas do ferimento no ombro. Ele

estava sem camisa, é claro, sua única roupa um par de calças rasgadas. Nos

pés, botas de combate arranhadas.


Espere. Ele usava botas. No plural.

— Seu pé. — Pronunciou, ficando na posição vertical. O pé dele voltou

a crescer, como ela ordenara: “Cure-se. Cultive um pé novo o mais rápido

possível. ”

Mas a primeira ordem – curar – deveria incluir toda lesão, até a do

ombro. Ele recriou um pé e se teletransportou somente porque ela deu uma

ordem. As implicações disso eram surpreendentes. Bane a envolveu.

— Seu ombro. — Disse ela em seguida.

— Uma espada mística me deu uma ferida que não pode ser curada.

— Isso é péssimo!

— Eu vou dar um jeito.

Ela também!

Mas primeiro, se perguntou se ele obedeceria a todos os seus

comandos, não importasse o quê. Valia para outros?

Nola fechou os olhos com força e sussurrou:

— Apareça diante de mim, Vale.

Momentos se passaram em antecipação suspensa. Ela abriu as


pálpebras e... Não. Nada de Vale.

A decepção tomou conta dela. Talvez a habilidade – ou o que quer que

fosse – funcionasse apenas com Bane.

— Desde que estivemos juntos pela última vez, o pé voltou a crescer e

eu saí de uma montanha. Também vi sua irmã, — disse Bane, arrastando o

olhar sobre ela, — há três horas. Ela estava viva e bem.

— Graças a Deus! — Mil libras de preocupação desabaram. — E mil

agradecimentos a você por me dizer.

— Não me agradeça. Me informe. Onde está Zion? — Mesmo antes de

ela responder, ele fez um show de embainhar suas armas. Com o olhar fixo

em Nola, deixou cair o queixo no esterno e atravessou a distância como um

predador total. Agachado na frente dela, alisou uma mecha de cabelo atrás

da sua orelha, estranhamente gentil. — Diga-me, Nola.

— Não sei onde ele está. — Admitiu, esticando os braços acima da

cabeça. Conforme sua coluna arqueou, seus seios subiram. Ela deixou a

cabeça cair para trás e uma riqueza de tensão escoou de seus músculos. Um

lento sorriso floresceu. Tão bom!

Pequenos grunhidos retumbaram de Bane.

— Pare de se mexer. Limpe esse olhar arrebatador do seu rosto.


Por que ele... A menos que... Bane a achasse atraente? Talvez. Ou

talvez ele simplesmente não a quisesse.

— Eu tenho uma ideia melhor. — Ela ronronou. — Eu vou continuar

me movendo da maneira que quiser, e olhando o que quiser, e você lidará

com isso. Agora, se me der licença, estou com sede. — Ela brindou a ele com

a cantina de água de Zion, depois drenou o conteúdo.

Quando sua sede foi satisfeita, mergulhou um pano no lago e limpou

o rosto. Ela escovou os dentes e prendeu o cabelo em um coque bagunçado.

— Vai fingir que não estou aqui? Maravilhoso. — Bane beliscou o

queixo e inclinou o rosto de um lado para o outro. A raiva escureceu seus

traços, assustador em sua intensidade, mas seu toque permaneceu suave. —

Você perdeu peso. Zion te deixou com fome?

— Eu te disse. Estive doente. — Ela o lembrou, e desta vez a admissão

a envergonhou. Bane era um guerreiro em sua essência, que admirava a

força nos outros. Portanto, ele nunca a admiraria. Eu não ligo. Humanas ou

alienígenas, todas as pessoas eram inerentemente

imperfeitas, incluindo Bane. Por que a opinião dele importa mais do que a

dela? — Estranhamente, me sinto mais “saudável” quando você está por

perto. — E com fome. Onde ela poderia encontrar chocolate? Não, melhor

jujubas azedas, ou caramelo.


Ele disse:

— Você tira força de seus guerreiros, assim como nós tiramos força de

você.

Espere, espere, espere.

— Meus guerreiros?

Um músculo saltou em sua mandíbula.

— Vou explicar tudo, mas apenas quando você estiver em segurança

dentro do meu covil. Aqui, podemos ser ouvidos. Confie em mim quando

digo que Zion a abandonará, uma vez que aprender sobre suas

origens. Outros combatentes vão querer sua cabeça.

Ela balançou a cabeça. Zion já suspeitava que algo estava errado, e

ainda assim a ajudou.

— Você está errado. Esfaqueei Zion e ele nunca revidou.

Bane arqueou uma sobrancelha, a pequena mortal deu um susto ao

grande e mau guerreiro? Que adorável.

— Um combatente só salva um humano por uma razão e apenas uma

razão. Para usar este humano para vencer a guerra.


Talvez não.

— É por isso que você está interessado em mim? — De qualquer forma,

Bane e Zion lutariam até a morte quando Zion retornasse, e ela seria culpada.

A culpa incendiou sua calma, deixando-a tremer.

— Em parte. — Respondeu. — Mas você não terá explicações fora do

meu covil.

— Ainda bem que precisamos ir embora. — E sim, tudo bem, ela estava

servindo a Zion uma grande tigela de torta de merda, e ele merecia mais

consideração. Ele pode não ter sido um anfitrião dos melhores, não passou

muito tempo com ela, respondeu suas perguntas ou ajudou Vale, mas

também não tinha sido um anfitrião de quinta categoria. Ele manteve Nola

a salvo. Mas Bane a mantinha sem dor, então não houve contestação.

Ele se animou.

— Mas — Ela acrescentou, e a luz desapareceu. — Deixe-me lhe contar

um pequeno segredo não tão secreto. Eu vou ficar com o homem que me

ajudar a encontrar e salvar Vale. Nada importará mais, nem mesmo minha

saúde.

— Sua irmã. — Disse ele, sua voz cheia de preocupação. Parecendo ter

envelhecido vinte anos, passou a mão pelo rosto.


Seu estômago afundou.

— O que há de errado? O que aconteceu?

— Vale matou um combatente e se juntou à guerra.

O horror percorreu sua espinha, arrancando suas terminações

nervosas. Vale... forçada a lutar contra os outros até a morte... forçada a lutar

com Bane e Zion...

— Não!

— Sinto muito, Nola, mas seu destino está selado.

Mais fria e trêmula a cada segundo, ela balançou a cabeça.

— Agora, os combatentes virão atrás de você, — continuou, — na

esperança de usá-la como isca contra ela.

— Não me importo comigo. — Nola agarrou a mão dele e se agarrou

pela vida. — Vale é meu tudo, Bane. Minha razão para continuar lutando,

para continuar vivendo. Nós nos encontramos em um lar adotivo para

meninas problemáticas. Ela foi a primeira pessoa a me amar. Por favor — ela

implorou. — Me prometa que não a machucará.

No “por favor” ele se encolheu.


— Eu não posso fazer essa promessa. — Reclamou. — Nem Zion.

Não era bom o suficiente. Talvez, se ela ordenasse que protegesse Vale,

ele seria forçado a obedecer? Só havia uma maneira de descobrir, mas o

pensamento de obrigá-lo fazer alguma coisa – qualquer coisa – contra a

vontade dele a deixava desconfortável.

Quantas vezes um pai adotivo a forçou a comer alimentos que odiava

ou a limpar o prato quando estava cheia para evitar desperdícios? Por outro

lado, ela precisava saber o que podia e o que não podia fazer.

— Bane. — Chamou, um leve tremor em sua voz.

Ele respirou fundo.

— Não dê o comando, princesa. Eu odiaria você por isso.

— Eu não sou responsável por suas emoções. Além disso, você já me

odeia. E eu não ligo!

— Você deveria. Estou disposto a manter Vale segura até sermos os

dois finalistas.

Ainda não era bom mas talvez fosse bom o suficiente por enquanto?

Antes que ela pudesse dar um veredicto, ele se endireitou e a puxou

para seus pés.


— Venha. Estamos indo embora.

Considerando que ela vomitou tudo o que tinha comido por dois dias,

suas pernas se mostraram surpreendentemente firmes.

Em vez de abrir um portal, seu deus dourado a olhou como se fosse a

última fatia de bolo na vitrine da padaria e fez um círculo ao seu redor, sem

pressa. Quando seu ombro roçou o peito de Bane, um raio de eletricidade a

atravessou. Ele deve ter sentido isso também pois se assustou e parou

diretamente na sua frente.

Seus olhares se mantiveram, seus sentidos aumentaram. A consciência

dele aumentou. Seu calor delicioso a envolveu, reforçando seu aroma

tentador, fazendo sua barriga apertar. O calor das exalações dele abanou seu

rosto, provocando sua pele, seus lábios.

Toque...

Desejo correu por suas veias. Seus mamilos frisaram e ela

estremeceu. Mas quanto mais excitada ficava, mais irritado ele parecia.

Ele não disse nada. Ela também não, além do seu conjunto de

habilidades. A necessidade de contato eclipsou a necessidade de se proteger

de mais uma rejeição. E ele iria rejeitá-la. Que desdém...

Dando a ele a chance de repreendê-la, Nola levantou os braços tão


devagar quanto o melaço. Sua respiração superficial acelerou, mas ele

permaneceu em silêncio. Finalmente, ela achatou as mãos sobre os peitorais

dele, pele com pele branca e quente. Os músculos saltaram e seu coração

acelerou sob a palma da sua mão.

— Tanta força. — Murmurou, extasiada.

— Que beleza. — Ele colocou os dedos em volta dos pulsos dela,

segurando-a no lugar como se não pudesse suportar deixá-la ir.

Mil desejos a bombardearam de uma vez. Beije-o. Cada centímetro

dele. Rasgue suas roupas. Empurre-o para o chão. Empale meu corpo em

sua ereção maciça.

Ah não, não. Dormir com Bane, um tipo de estranho e ainda por cima

assassino? Não! Sim! Talvez? Se ela pudesse estar com ele sem adoecer...

O que você está fazendo? Vale vinha primeiro, deliberação sexual em

segundo lugar.

Ofegando, Nola se afastou e arrancou de Bane.

Ele deu um passo à frente, mantendo-a perto. Um vulcão de violência

ameaçava entrar em erupção naqueles olhos dourados.

— Você dormiu com Zion, princesa?


Ela levantou o queixo, recusando-se a se encolher e seguiu em frente.

— Por que? Você é ciumento?

Suas narinas dilataram.

— Nunca tive ciúmes. — Ele deu outro passo mais perto, consumindo

seu espaço pessoal. — Eu nunca vou ser ciumento. É uma emoção infantil,

para pessoas petulantes.

— Vou aceitar isso como um sim. — Observando a expressão dele com

um pouco de emoção, ela disse: — Quanto a Zion, não. Eu não dormi com

ele. — Parte da tensão de Bane desapareceu. Então acrescentou: — Ainda. —

E ele fez uma careta.

Não sorria! Ninguém nunca teve ciúmes de Nola antes.

Ele arrastou as pontas dos dedos pelo comprimento do esterno... ao

redor do umbigo. A camiseta fina de algodão oferecia pouca proteção contra

todo o calor escaldante.

— Tão frágil — Disse quando ela estremeceu. — Facilmente

quebrável. Você faria bem em me agradar.

Frágil. Quebrável. — Isso nunca envelhece. — Ela resmungou. — Não

seria você quem deveria me agradar? Se eu disser, você será forçado a


obedecer.

— E então a transformação começa. — Murmurou, mostrando os

dentes para ela. Seus caninos estavam mais nítidos do que na última vez que

ela o checou?

— O que isso significa? “Transformação” em rainha? Pelo menos ele

não negou sua habilidade! — É por isso que você me odeia? Porque tenho

uma habilidade estranha de controlar você – uma habilidade que eu nem

entendo? Bem, adivinhe? Você é um total hipócrita me condenando

enquanto se deleita com seu próprio poder sobre mim.

Ele se curvou, se preparando para uma luta.

Por que continuo sem medo?

Mas ele não a golpeou, só mudou de assunto, dizendo:

— Sua doença. Conte-me sobre isso.

Suas bochechas esquentaram.

— Sofro de três condições. Uma causa nervos hiperativos. Uma causa

inflamação. Ambas causam tremendas quantidades de dor, por isso tomo

pílulas para me ajudar a funcionar, mas são viciantes. Sem elas, fico um

milhão de vezes mais doente.


Pensativo, ele esfregou dois dedos na mandíbula.

— Se eu adquirir essas pílulas, você se sentirá melhor mesmo quando

estivermos separados?

— Sim. Mas você esperará algo em troca, né? Tipo, eu tenho que

concordar com o seu último acordo sobre Vale?

— Nola? — Zion chamou, sua voz ecoando na selva.

Bane ficou rígido e pegou uma adaga.

Merda!

— Você está certo. Dois finalistas. Vamos lá. — Ela saiu correndo. —

Agora, agora, agora.

Ele sorriu lentamente, sua antecipação palpável.

— Nós iremos. Depois que eu lidar com Zion. Sua guerra chegou ao

fim.

— Apenas o deixe. Ele é um cara legal.

— Ele é um obstáculo à minha vingança. E obstáculos são cortados. —

Retrucou suavemente, ferozmente.

Ah! Finalmente, uma pista sobre o misterioso Bane de Adwaeweth.


— Que vingança?

Ele fez uma careta novamente.

— Zion possui uma varinha, e eu quero. Não vou sair deste lugar sem

ela.

Ela já havia encontrado tanta malícia?

— Você quer isso. E daí? Querer algo não significa que o terá. Você vai

me tirar desta dimensão sem discussão.

Uma veia inchou em sua testa, o vulcão em seus olhos prestes a entrar

em erupção. Ainda assim, ele a agarrou pela cintura com uma mão e abriu

um portal com a outra.

Oh, meu Deus, ela tinha autoridade sobre ele. Risos borbulharam.

Bane caminhou pelo portal, entrando em uma casa vazia com janelas

de tábuas. Ele a soltou e a empurrou gentilmente em direção a um canto

sombrio, permanecendo no portal e segurando duas adagas. Uma única

lâmpada no teto fornecia luz, brilhando nas lâminas.

A umidade em sua boca secou.

— Onde estamos?
— Nós não vamos ficar aqui. O portal ficará aberto por sessenta

segundos. Eu sei que Zion não vai deixar você ir com facilidade. Se ele for

rápido o suficiente, vai...

Zion mergulhou através do portal, batendo em Bane. Nola ofegou

quando os dois homens rolaram sobre um piso de concreto e brutalmente

lutaram pelo domínio.

Quando eles se levantaram, Zion deu um soco. Bane se abaixou, o

punho atravessando a parede, o gesso chovendo.

Mantendo-se abaixado, Bane bateu na parte de trás do joelho de

Zion. Ao mesmo tempo, empurrou a cabeça de Zion pela parede. Mais

poeira.

Na sua próxima inalação, Nola respirou as partículas e tossiu.

O barulho distraiu Bane. Ele virou-se, seu olhar preocupado.

Com um grito de guerra, Zion deu um soco no ombro

ferido, através do ombro de Bane, um punho sangrento saindo do outro

lado. Nola engasgou quando o sangue espirrou.

Bane jogou a cabeça para trás e rugiu um som bestial de agonia.

Com medo dele morrer, ela gritou:


— Saia, Bane! Saia agora, se cure e fique longe da outra dimensão!

Mais uma vez, ele a encarou. Desta vez, ele estava rosnando,

evidenciando traição. Um segundo depois, ele desapareceu.

As dores voltaram às pressas, e ela choramingou. Seu estômago ficou

enjoado. A sensação piorou até que se curvou e vomitou bile.

Ugh. Ela deveria ter ido com Bane. Ela queria ir com Bane. Mas,

ficando com Zion, poderia impedi-lo de os perseguir, dando a Bane tempo

para curar.

— Bane te obedeceu. — Zion agachou ao seu lado. — Por quê?

— Não sei. — Respondeu, e era a verdade absoluta.

Para sua surpresa, ele deixou passar.

— Ele te machucou?

Pegando uma página do manual de Bane, ela ignorou a pergunta e

disse:

— Preciso dos meus comprimidos. — Gemeu irregular. — Pegue

minhas pílulas. Por favor, Zion.

Bem-vindo à vida com um viciado.


Ele pensou por um momento.

— Não sei nada sobre medicina humana. Você precisa me dizer onde

comprar os comprimidos e deve me acompanhar. Você está saudável o

suficiente para viajar?

— Eu não estou saudável o suficiente para respirar. — Apesar de um

influxo de dor, ela tentou ficar na posição vertical. O mundo girou e a náusea

piorou. — Você me carrega? — Ela perguntou, recusando-se a ficar

envergonhada por sua necessidade de ajuda.

Zion a abraçou e se levantou. O que ele não fez? Abrir um portal. Ele

permaneceu enraizado no lugar, balançando-a para frente e para trás,

perdido em pensamentos. Então assentiu, como se tivesse acabado de tomar

uma decisão importante.

— Sabe, pequena dreki, você perguntou uma vez sobre o meu sonho

profético. Ainda quer saber o que eu vi você fazer?

Ohhh. Uma história para dormir.

— Sim, por favor.

Ele apertou os lábios.

— Você agarrou uma adaga e aproximou-se de um combatente. Então


você sorriu – e empurrou a adaga em seu coração, matando-o. Um feito que

ninguém mais conseguiu.

Ela matou alguém e ainda sorriu?

— Quem? — Zion já havia lhe dado duas pistas. Uma façanha que

ninguém mais conseguiu – como, digamos, derrubar um metamorfo de

dragão? E “o matando” significava que a vítima era do sexo masculino.

— Quem você acha?

Nola engoliu em seco. O fato de que ele queria que ela matasse... bem,

a vítima tinha que ser Bane, que (provavelmente) a queria morta, se soubesse

sobre o sonho de Zion.

Seu lado escuro se mexeu, despertando. Ela sussurrou: Mate primeiro,

morra por último.

Aparentemente, a Nola Má era uma verdadeira puta que gostava de

hibernar, apenas saindo para jogar nos momentos mais inconvenientes. E ela

não terminou de falar.

Ele fala a verdade. Você vai matar Bane e vai gostar. Sua morte é a

chave para obter tudo o que você deseja – saúde, felicidade e força

incomparável.
Matar Bane seria o equivalente a passar por uma unidade de cura

rápida? Oh, a tentação.

No final, ela sacudiu violentamente a cabeça. Como se algum dia

ouvisse seu lado sombrio. A morte de Bane não era a chave para

nada. Ninguém era.

— Vá até ele e veja o que acontece. — Disse Zion. — Ele vai morrer

mais cedo ou mais tarde. Eu ficarei feliz de qualquer maneira. Mas, se você

ficar comigo, a protegerei e salvarei sua irmã. A escolha é sua.


Perseguição chocante!

Ele havia a encontrado! E levado apenas um dia.

Quando Nola ousou dispensar Bane, pensou que ela esperava salvar

Zion de sua ira. Então percebeu que ela temia pela vida de Bane – o que era

muito pior. Um membro doente da realeza que não confiava em sua

habilidade. Ah, a indignidade! Ele a ensinaria melhor. Em breve.

Bane usara a conexão deles e seu perfume incrível para segui-la até

uma terra montanhosa conhecida como América.

Bane fumegou. Ele usou a palavra incrível para descrever o perfume

de madressilva? Ele quis dizer desprezível. Claro. Embora, em algum

momento há séculos atrás, ele tinha começado a associar madressilva a

casa. Como sentia falta de Adwaeweth. Ele conheceu Meredith lá, treinou

com outros soldados e planejou um futuro.

Sempre que imaginava o futuro, nunca visualizou uma realeza de

cabelos escuros, que o fizesse sentir-se como dois homens diferentes. A

Rainha esperta ele desprezava, e pela sensual que o desejava


desesperadamente, loucamente, Bane sentia como se inalasse sexo toda vez

que ela se aproximava.

De novo e de novo, o lado sensual de Bane repetiu o momento em que

Nola pressionou suas mãos pequenas e delicadas contra seu peito, sua pele

macia como seda. Como suas pupilas haviam se expandido, aquelas íris

estreladas eram mais fascinantes que uma nebulosa. A forma como ela

corou, deixando-o desesperado para tocá-la, apenas para sentir a

queimadura – e ele queria queimar. Como suas curvas femininas se

moldaram aos planos duros de seu corpo.

Assim que tivesse Nola em seu poder mais uma vez, ele a afastaria e

escolheria outra mulher para satisfazer as necessidades de seu corpo. Não

haveria mais relutância. Dor, sim. Absolutamente haveria dor. Dizer adeusa

Meredith... Doeria. Porém a necessidade superava o sentimentalismo,

portanto, não haveria relutância. Ele teria que vencer qualquer desejo que

nutria pela princesa terráquea.

Nola já estava intrigada com a verdade, ela sabia que tinha um

domínio místico sobre ele. E não podia forçá-la a ficar com ele – como havia

provado. Ele queria a cooperação dela.

Bane caminhou pela calçada, determinado. A fera soltou um rugido,

protestando contra a perseguição da realeza. Fique calmo. Não


transforme. Ele ficou preso nas sombras e viu vários humanos parando para

olhá-lo. Por quê? Bane lavou o sangue e a sujeira de sua pele. Ele até roubou

roupas adequadas – uma camiseta preta e algum tipo de calça de

“camuflagem” com vários bolsos. Seus punhais estavam escondidos em suas

botas.

Entre no meu caminho e seja abatido.

Edifícios esfaqueavam o céu. A luz do sol minguante refletia sobre

estranhas caixas rolantes com humanos sentados dentro. Os olhos de Bane

queimaram e lacrimejaram. Ele prendeu os óculos no lugar, a escuridão

bem-vinda, tecendo através de sua linha de visão. Na noite anterior, ele

visitou seu covil, feliz por descobrir seus tesouros intocados pelo tempo.

Bane virou uma esquina, perdendo a fragrância inata de Nola. A fera

soltou outro rugido.

Quieto. Bane parou para cheirar. Um dilúvio terrível de aromas

entupiu o ar. Algum tipo de óleo, suor, perfumes conflitantes, pinho e –

ali. Madressilva, jasmim e lavanda. Seu sangue aqueceu e suas tripas se

apertaram. Seu eixo inchou em um instante, latejando dolorosamente para

sexo. Com qualquer parceiro.

Rangendo os dentes, ele atravessou a rua e virou outra esquina. Seu

doce aroma se intensificou. Tão perto! A impaciência borbulhou tanto


dentro dele, que temia começar a espumar a boca.

Permaneça em guarda. Bane havia localizado seis combatentes na área,

entre eles Erik, o Criador de Viúva, Knox e Vale. Como os outros, a irmã de

Nola teria que morrer. Mas Bane não poderia – não iria – dar um tiro em

Vale, ou Nola o puniria.

Da próxima vez que estivessem juntos, ela poderia ordenar

que morresse por Vale, e ele seria forçado a obedecer. Ela poderia exigir que

ele nunca procurasse vingança contra Aveline.

Mesmo depois que Bane ofereceu à Vale um acordo final, Nola optou

por permanecer com Zion porque não confiava em Bane. Ele começou a

enrijecer, mas lutou contra isso.

Eu sou o único em quem ela deve confiar.

Como a convenceria a mudar de lado? As respostas estavam além dele,

sua mente uma bagunça caótica, a fera continuando a protestar por suas

ações.

Bane bateu os punhos nas têmporas e caminhou para outro

canto. Finalmente! A fera se acalmou.

Nola estava perto.


Seu olhar disparou. Lá estava ela, sua princesa, saindo de um prédio

do outro lado da rua. Ele parou de andar, seu juízo o abandonou e diferentes

partes dele experimentaram reações diferentes. Sua mente – alívio e uma

necessidade louca de puxá-la em seus braços. O coração dele doía. Seu pênis

pulsava mais intensamente do que nunca. Mais duro que o aço.

Pálida e trêmula, ela se inclinou contra uma parede de tijolos. Acima

dela, pendia uma placa. Farmácia.

Seu tradutor forneceu uma definição. Um local onde medicamentos

são vendidos.

A fúria formou uma camada da calma de Bane. O homem a cortejou,

comprando seu remédio.

Ele poderia realmente invejar Zion por esta vitória? Nola havia

perdido peso que não podia perder. Contusões em forma de meia-lua

marcavam a carne sob seus olhos, suas bochechas pálidas. Uma mão

apertava seu estômago. A outra esfregava a têmpora para afastar a dor.

Mas os comprimidos a machucavam tanto quanto a ajudavam. Então

sim. Ele poderia invejar Zion. Nola precisava de Bane.

Seu peito inchou de orgulho. Ele a fazia se sentir melhor. Ele, e ele,

sozinho. Mas, caramba, por que ela estava doente? Houve muitos soberanos
híbridos ao longo dos anos, mas nenhum deles jamais lutou contra doenças.

Nessa condição, Nola não sobreviveria ao Rito do Sangue, um

renascimento em sangue e chamas. Embora ele suspeitasse que ela era,

talvez, talvez, possivelmente... mais forte do que parecia. Afinal, ela poderia

teletransportá-lo, não apenas a si mesma, uma qualidade única entre a

realeza e que exigia grandes quantidades de energia.

Bane deu um passo à frente, com a intenção de pegar Nola e

correr. Então fez uma pausa. Como ele lidaria com isso?

Ele a deixaria inconsciente – gentilmente! – para que ela não pudesse

ordenar que a libertasse, depois a levaria ao seu covil, onde taparia sua boca

com fita adesiva? Quando ela acordasse, ele teria que trabalhar o mais rápido

possível para conquistá-la.

Ele poderia conquistá-la? Ele nunca cortejou uma mulher, nem

Meredith. Em Adwaeweth, as fêmeas selecionavam homens, e não o

contrário.

Não importava. Ele não permitiria que a mão de sua vingança se

apaixonasse por Zion, concedendo-lhe sua lealdade, dificultando as coisas

para Bane.

Um zumbido revelador de eletricidade carregou o ar, sinalizando a


proximidade de um combatente. Zion, sem dúvida.

Depressa! Mais uma vez, Bane entrou em movimento. Atravessou

outra rua e uma carruagem de metal – um tipo de cavalo de metal, com

muitos nomes; carro, veículo, sedan, caminhão e SUV – pararam, tocando

uma buzina estridente.

Ele arreganhou os dentes para os humanos dentro dele, mas continuou

a avançar. O tempo não era seu amigo. Segundos, minutos, horas

continuavam correndo. Agora, restavam apenas duas semanas e meia até a

próxima assembleia.

Zion saiu correndo da loja, sua expressão uma mistura sombria de

raiva e preocupação.

— Eu disse para você ficar ao meu lado, não importando o quê.

Bane disparou em um emaranhado de sombras, a uma curta

distância. Ainda se aproximando rápido e...

— Eu não queria vomitar no azulejo. — Disse Nola.

— E você pensou que tinha visto Vale. — Brincou o homem.

— Talvez. — Ela projetou o queixo, assim como fez com Bane. — Não

é como se não tivesse mencionado minhas prioridades.


— Você poderia ter sido prejudicada. — Zion entregou-lhe uma

pequena garrafa branca. — É este o medicamento que você precisa?

— Sim, obrigada. — A garrafa chocalhou quando ela abriu a tampa. —

Eu não quero saber como você conseguiu uma substância controlada sem

receita médica. Tenho certeza de que a resposta será divulgada no noticiário

da manhã. — Tremendo, ela jogou duas pílulas brancas na boca.

O guerreiro enrijeceu e examinou a área circundante.

— Venha. Sinto outro combatente. — Ele passou um braço em volta da

cintura dela e a levou pela calçada. — Vamos encontrar uma casa segura

para você.

Ele tinha medido a localização de Bane antes de sair da loja, não tinha?

— Você sabe, — disse Nola, ofegante, — se estivéssemos em um

episódio de House Hunters10, esse episódio teria um orçamento de seis

milhões de dólares.

— Não tenho ideia do que isso significa. — Respondeu Zion.

Bane também não, mas gostou do brilho divertido nos olhos dela.

Ele considerou seu próximo passo. Não havia regras contra a luta em

10 Série americana de 1999


público, mas um único conflito causaria grandes problemas. Quanto mais

mortais aprendessem sobre a All Wars, maior a probabilidade de outros

humanos se tornarem combatentes.

Então irei mata-los também. De um jeito ou de outro, Nola estaria em

posse de Bane antes do pôr do sol. Ele a perseguiu, reformulando seu plano

ao longo do caminho. Pegá-la e correr não era mais possível. Se ele matasse

Zion, poderia vencer e ativar a varinha mágica – se a encontrasse. Nola não

teria mais ninguém a quem recorrer; teria que escolher Bane.

Um movimento pensado com o pau? Sim. Ele se importava? Não.

Ignore o formigamento no meu peito.

Quando o casal desapareceu na esquina, Bane aumentou o ritmo. Ele

os seguiu. Já no meio da rua, Zion levantou Nola para embalá-la contra seu

peito.

Rosnados reverberaram no fundo da garganta de Bane, e

eles não foram cortesia da besta.

Minha princesa. Minha!

Ela olhou por cima do ombro do macho, claramente procurando por

algo. Ou alguém.

Ela me sente?
Seu olhar deslizou sobre Bane, depois deu um zoom para trás e se

alargou.

A consciência o dominou, o calor escaldante sob sua pele, o

enlouqueceu. Enlouquecendo a fera também.

Ela balançou a cabeça e murmurou:

— Não.

Outra camada de calma foi esculpida. Não, não a deixe fugir? Não, não

hesite em assassinar Zion? Não, ele não deveria mais resistir ao apelo dela?

Os músculos da parte superior das costas de Zion ficaram rígidos

enquanto ele carregava Nola por outro canto. Aí sim. O homem

definitivamente sabia que Bane beliscava seus calcanhares.

Muito bem. Não havia necessidade de sigilo.

Quando garras brotaram de suas unhas, Bane aumentou sua

velocidade. Aproximando-se da esquina...

Os pelos finos na parte de trás do seu pescoço se arrepiaram. É claro

que Zion tomaria precauções. Ele colocou Nola no chão e neste momento

poderia estar manipulando energia de uma maneira ou de outra, mesmo

agora. Sua especialidade era ampliada pelos objetos de diamante embutidos


em sua pele. O tipo de energia não importava. Elétrons, múons, taurina,

quarks, glúons, tempo, espaço.

Dando uma cambalhota pelo prédio, Bane disparou.

Contato! Suas botas bateram no meio de Zion, o guerreiro tropeçando

para trás.

O ímpeto de Bane o levou a se impulsionar e ele conseguiu se balançar.

Por toda parte, os terráqueos haviam interrompido o seu caminho no meio.

Se não fosse pelas runas místicas tatuadas na nuca de Bane, ele teria sido

forçado a parar também.

Onde estava Nola? Ela tinha que estar perto. A fera caiu em

silêncio. Onde... Lá! Ela estava sentada na calçada, encostada em um prédio,

com a cabeça inclinada para frente, um gemido de dor escapando de seus

lábios.

Por que ela não se fortaleceu com a proximidade de Bane? Será que o

bloqueio para mantê-lo fora de sua cabeça também afetava seu corpo?

Sua mandíbula endureceu.

— Me dê a garota, e eu vou deixar você viver. Hoje, pelo menos.

— O que você quer com ela? — Zion apertou e soltou as mãos, suas
luvas de metal brilhando no pouco que restava de luz. Ele andou para trás,

colocando um carro entre eles.

Admitir a verdade a um inimigo? Nunca. Bane zombou, dizendo:

— O que alguém quer com uma mulher?

Ele esperava o nojo de Zion, até de raiva, menos a suspeita que

brilhava nos olhos escuros do homem.

Mesmo aqueles que estudaram a cultura Adwaewethiana não tinham

ideia de que a realeza exercia controle absoluto sobre seus guerreiros. O

instinto impedia os adwaewetianos de falar sobre negócios do reino com

forasteiros, mesmo quando torturados.

Qualquer um que tivesse estudado Bane especificamente saberia

apenas que ele havia vencido duas All Wars e perdido sua esposa antes do

início desta.

— O que você quer com a mortal? — Bane exigiu. O guerreiro que

sonhou com ela?

Zion deu um sorriso cruel.

— Você pode conseguir o que qualquer homem quer de qualquer

mulher aqui. — Ele acenou para indicar o grupo de mortais congelados. —


E ainda assim você segue esta. Talvez precise dela para algo mais, não é?

Bane ouviu a ameaça implícita. Você precisa dela... então eu vou

mantê-la só para te irritar.

— Em vez de lutar, vamos trabalhar juntos. — Anunciou Zion. — Erik,

o Criador de Viúvas, passou séculos planejando nossa fuga. Ele aliou-se a

um punhado de combatentes, entre eles Union. Ele está na sua cola, e Erik

está na minha. Eles estão determinados a eliminar os combatentes mais

fortes e estão sempre muitos passos à nossa frente, com seus números

aumentando diariamente. Nesse ritmo, eles vencerão em questão de

semanas.

Union possuía um cinto que dobrava sua força. Em termos de

capacidade, ele poderia lançar ilusões. Nada que Bane não aguentasse.

— Minha resposta é não. — Ele estendeu a mão e acenou com os

dedos. — Venha para mim, Nola.

O olhar dela encontrou o dele e, por um momento suspenso, eles foram

as duas únicas pessoas no planeta, correntes de consciência surgindo entre

os dois. Então balançou a cabeça e disse:

— Eu vou ficar com Zion. Por favor, confie em mim. Isso é o melhor.

Outra recusa. Sua fúria explodiu em raiva. Com um rugido, ele pegou
o carro estacionado entre ele e Zion e o arremessou, rasgando ainda mais o

corte em seu ombro. Valia a pena. O veículo colidiu com um prédio do outro

lado da rua, quebrando uma parede de tijolos e quebrando vidros, dando a

Bane um tiro certeiro no alvo.

— Eu vou com o plano B, então. — Zion também se lançou ao longe,

afastou o cotovelo e deu um soco.

Bane levantou o braço para bloquear. A luva de metal quebrou todos

os ossos de sua mão, a dor arrancando o ar de seus pulmões. Um excesso de

adrenalina o manteve em pé. Com a mão boa, ele agarrou o intestino de Zion

e confiscou um de seus punhais. Sangue e intestinos saíram da ferida.

Zion recuou mais uma vez e Bane jogou a adaga, pregando-o entre os

olhos. O outro homem caiu e Bane correu para pisar no seu rosto.

Ele enfrentou Nola. Quando se aproximou, ela balançou a cabeça.

— Não podemos ficar juntos, Bane.

— Podemos. E vamos. — Precisando de uma mão livre, só para

garantir, ele a ergueu por cima do ombro. Então, correu pela rua, os seios

dela saltando contra suas costas.

— Você não entende. — Disse, batendo nas costas dele.


— Faça-me entender, então. — Atrás dele, passos soaram. Droga! Zion

já havia se curado e agora a perseguia. — Faça-me entender em um minuto.

— Ele colocou Nola no chão e se virou. Merda! O bastardo estava mais perto

do que ele havia percebido.

Eles colidiram, Zion dando um soco. Seu punho quebrou o esterno de

Bane.

Respiração? Nada além de um sonho. Em segundos, seu nível de dor

atingiu novas alturas.

Quando o homem deu outro soco, Bane estava pronto. Ele se abaixou

e bateu o joelho nos testículos de Zion. Um golpe baixo, literal e

figurativamente. Sem arrependimentos.

Zion retaliou rapidamente, agachando-se para dar uma rasteira. Bane

bateu no chão, rolou para trás e apareceu, cortando suas garras sobre a coxa

de Zion. Calças de couro e carne rasgaram, seu oponente grunhindo.

Em seguida, um balé de movimento seguiu. Socos, agachamentos e

chutes. Eles se mudaram da rua para a calçada, colidindo com mortais

congelados no lugar e paredes de tijolos. Com apenas uma mão boa

trabalhando e um único pulmão utilizável, Bane lutava com uma enorme

desvantagem. A coisa inteligente a fazer? Recue e cure. Morrerei antes que

eu que voluntariamente abandone Nola.


O punho de Zion colidiu com sua têmpora. Estrelas surgiram em de

sua visão e ele perdeu a noção do mundo. Só por um segundo. Ou assim

pensou. Quando ele piscou, seu oponente e sua princesa estavam na metade

do caminho.

Mais uma vez, Bane perseguiu. Deu três passos quando um barulho

alto soou, um veículo cortando seu lado. Ele voou e bateu no chão e novas

ondas de dor assolaram seu corpo.

Ao se levantou, viu que Zion e Nola já haviam ido, os mortais não

estavam mais congelados. Outros veículos aceleraram na estrada.

O animal rugiu, e uma maldição devastadora explodiu de Bane.

Ele tinha que mudar a ideia de Nola. De alguma forma. Nada iria parar

a busca de vingança de Bane. Nada.


Terminar um relacionamento é difícil

Será que NOLA TOMOU a decisão correta? O olhar que Bane lhe

dera... tanta traição.

Com o deus dourado ao seu lado, ela poderia suportar a retirada dos

medicamentos, sem realmente necessitar deles. Para ela, Bane era igual a

força pura e perfeita. Com Zion, apenas mantinha o status quo11, tomando

pílulas para sobreviver. O vício era igual a fraqueza, e ela estava muito

cansada de ser fraca. Especialmente agora.

Os alienígenas existiam e lutavam pelo direito de governar a Terra.

Mas ficar com Bane significava colocá-lo em perigo. E se o sonho de

Zion se tornasse realidade? Uma vez, Nola teria rido da ideia. Ela? Matar

alguém? Por favor! Mas se alguma vez ela perdesse o controle de seu lado

sombrio...

11 Status quo, significa "o estado das coisas".


Alguém seria cortado.

— As pílulas mágicas devem estar funcionando. — Disse Zion,

subindo uma colina escura com Nola agarrada ao peito. — Você não

vomitou em mim... novamente.

Suas bochechas esquentaram. No início desta manhã, ela vomitou nos

sapatos dele quando a levou para o coração de Denver, Colorado.

— Você está reclamando? Tenho certeza de que posso arranjar mais

bile, se isso alegrar o seu dia.

— Não, obrigado. — Com uma força inspiradora, Zion manteve um

ritmo rápido e constante, nunca bufando. Se esquivou de árvores altas,

pedaços de algodão girando em uma brisa suave.

Parecia que a neve estava caindo. A paisagem a lembrava da Rússia. A

Rússia a lembrava de Bane. Bane, que alegava que só queria ferrá-la. Bane

conhecedor, que tinha respostas sobre seu passado, presente e futuro. Bane,

o ferido e abandonando mais uma vez. Bane vulnerável, o guerreiro que ela

meio que já... perdeu.

Uma coroa de folhagem bloqueava os raios do luar. Sapos, gafanhotos

e grilos cantavam uma canção de ninar à meia-

noite. Coaxar. Zumbidos. Chilrear.


— Tenho certeza que você tem perguntas — disse Zion. — Pode

começar.

— Então você pode congelar o tempo, hein? — As pessoas que estavam

ao redor deles pararam, nem parecendo respirar. E quando Zion a levou

embora, eles começaram a se mover novamente, minutos inconscientes se

passando.

— Não. Manipulo energia, uma habilidade muito melhor. — Ele olhou

para a esquerda, direita e depois por cima do ombro, procurando uma certa

sombra dourada. Quando não avistou ninguém, usou a mão livre para abrir

um portal. Pouco antes de entrar, ele ficou tenso e murmurou: — Alguém

além de Bane invadiu minha dimensão.

— Como você sabe? — Nada parecia fora do lugar.

Ele apontou para um local além de um conjunto de árvores, e Nola

lançou um olhar para a selva exuberante e ensolarada – um suspiro duro

entupiu sua garganta. Uma perna decepada pendia de um galho retorcido,

sangue pingando, acumulando-se no chão.

Seu estômago realizou uma série de movimentos invertidos. Bane

abriu um portal para outra pessoa, já que ele não pôde visitar a dimensão,

graças ao seu comando?


Ela não colocou nada além dele. Sua selvageria... O homem estripou

Zion e o esfaqueou entre os olhos... e ela ficou horrorizada e excitada com

isso, uma combinação chocante.

Talvez ela tivesse múltiplas personalidades? Nola do bem e Nola do

mal.

— Isso é coisa do Erik. — Zion rosnou.

— Como você sabe? — Ela repetiu.

— Foi ele quem colocou as câmeras nas montanhas de gelo. Deve ter

me observado entrar ou sair da dimensão. Sem o meu conhecimento. — Ele

parecia incrédulo.

O portal se fechou, o vento sibilou, mechas de cabelo dançando contra

sua bochecha.

Desceu o outro lado da colina, dizendo:

— Continuaremos nesta dimensão, mas deixaremos o Colorado.

— Eu posso encontrar um lugar para ficar. — Em algum lugar ela

poderia descansar e recarregar as energias. Amanhã, renovaria sua busca

por Vale.

— Para onde podemos ir que Bane não vai te encontrar?


— Duvido que ele me procure novamente. — Seu olhar de despedida

prometeu angústia incalculável.

— Oh, ele vai aparecer. — Disse Zion, sua voz infundida com

satisfação. Ele ansiava por outra batalha, não é?

Sua mente cansada não conseguiu reunir uma resposta inteligente,

então ela pressionou o dedo indicador na boca dele, dizendo:

— Shh. Agora é hora de manter a paz.

Apenas alguns dias atrás, esse cara a aterrorizava. Agora ela tinha

ovários de aço e o calou?

Bem, sim. Ele era um cara legal. Teve muitas oportunidades para

machucá-la, mas nunca fez. Quanto a Bane, ela não sabia se ele era bom,

ruim ou ambos. Ainda não sabia o que o motivou a persegui-la.

No final da colina, Zion a colocou no chão. Para ajudá-la a ficar de pé,

ancorou um braço em volta da cintura dela.

— Estou travando duas guerras agora, — disse ele — uma para me

salvar e outra para te salvar.

— Eu não sou inútil — cuspiu, defensiva. — Estou contribuindo para

o seu sucesso.
— Eu nunca disse que você era inútil.

Ele não tinha?

— Leve-me de volta à cidade, e eu vou encontrar um médico para

costurar suas feridas...

— Não preciso de um médico — interveio. — Eu já curei.

Por sorte! Bane tinha curado? Para onde ele foi quando se

separaram? Por que ele não tentou falar em sua mente? Ela

inadvertidamente o bloqueou novamente, ou ele a odiava ainda mais do que

antes?

Gah! Por que ela se importava?

— Vamos fazer compras. Vamos comprar roupas novas, produtos de

higiene pessoal, um telefone celular para você e um carregador para mim. E

tampões!

— Tampões? — Suas sobrancelhas escuras se uniram. — Algum tipo

de arma? Meu tradutor está me mostrando um sangrento...

Um novo calor se espalhou por suas bochechas.

— Apenas me leve às compras. Por favor.


— Muito bem. — Os transportou para um beco escuro entre dois

edifícios do tipo armazém.

Não havia sinais para indicar onde eles estavam. Uma lua cheia

brilhava ao lado de um milhão de estrelas, as joias do céu. O cheiro de

comida podre, urina e resíduos contaminou uma brisa quente, e ela torceu o

nariz com nojo.

Zion pressionou os diamantes antes de levá-la para fora de um beco e

entrar no armazém à direita – uma superloja. Os compradores já estavam

congelados.

— Vou lhe dar cinco minutos — disse Zion. — Não mais.

— E as câmeras de segurança?

— Eu interrompi a alimentação delas. — Ele criou linhas finas ao redor

dos olhos e da boca.

Nola correu pelos corredores, jogando itens em um carrinho. Mais

tarde, ela tabularia o valor que devia e enviaria um cheque para a

loja. Oh! Panqueca e xarope de bordo, jujubas. Me dê! Dane-se uma vida

saudável. Ela poderia ter morrido hoje. Por que não desfrutar de um

presente de vez em quando?

Quando terminou, os olhos escuros de Zion brilharam com alívio. Ele


abriu um portal para uma pequena casa de dois quartos, com móveis bem

gastos, mas chiques. Um guardanapo de renda cobria a mesa de café e as

duas mesas laterais. O armário exibia bonecas assustadoras de porcelana,

enquanto as prateleiras da parede continham pelúcias com vestidos formais

– esquilos a caminho do baile. Os vitrais tinham o mesmo padrão floral de

um tapete desbotado com bordas desgastadas.

— Vamos ficar aqui hoje à noite e descansar — explicou. — Amanhã,

retomo a guerra.

E Bane? O que ele faria?

— De quem é esta casa? — Perguntou. — E onde estamos, exatamente?

— A casa é nossa. Por enquanto. Não há vizinhos ou

inquilinos. Quanto à nossa localização, acho que é melhor para nós dois, se

você não souber. — Ele se dirigiu para a porta da frente, dizendo: — Fique

aqui. Preciso verificar as armadilhas que coloquei ao redor do perímetro.

Nola pegou o quarto principal, o único quarto com banheiro privativo,

ligou o celular a uma tomada e escondeu comprimidos nos bolsos da calça

nova. Velhos hábitos poderiam morrer, mas ressuscitavam com bastante

facilidade. Tomou banho, escovou os dentes milhares de vezes e depois

vestiu uma camiseta, calça de moletom e pantufas com cachorros felpudos.


A última dose de analgésico passou, as dores voltando a atormentá-

la. Ela se reclinou na cama, devorou o saco de jujubas e enviou vários textos

para Vale, só por precaução.

Nola: Você está bem? Onde você está? Eu estou tão preocupada!

Nola: Quando Zion originalmente fugiu comigo, você tentou sacrificar

sua vida pela minha, e eu nunca vou te perdoar!

Nola: Sinto muito, Vale! Você está perdoada, eu prometo. Eu só estou

preocupada com você. Eu te amo e sinto sua falta. Se Knox te machucar,

arrancarei seu coração de outro mundo. (Você sabe que ele é um alienígena,

certo?)

Com acesso à internet, Nola fez uma busca por “Addwaywith”,

“Adwaeweth”, “shifters em forma de dragão”, “All Wars” e “avistamentos

de alienígenas”, mas nada ajudou.

Que droga! Ela queria, precisava de mais informações sobre

Bane. Conhecimento era poder.

Um Zion sem camisa entrou no quarto, sua pele bronzeada brilhando

com suor. Por que, por que, por que ela não estava atraída por ele?

— Você está segura — disse, apoiando-se no pé da cama. — Por

enquanto, de qualquer maneira.


— Mas você não, não é?

Ele encolheu os ombros.

— Sou um combatente. Os combatentes não estão seguros até que a

guerra termine.

Significado, Vale não está segura. Nola esfregou o estômago agitado.

— Eu tenho um telefone celular para você. Agora podemos nos

comunicar sempre que estivermos separados. — Ela o ensinou a enviar

mensagens de texto, fazer chamadas e imagens do Google em locais

específicos, para que ele pudesse acessar sites que nunca havia visitado.

A intriga iluminou seus olhos.

— Incrível. — Por mais de uma hora, ele brincou com o telefone, fez

perguntas sobre diferentes sites, armas e sobre os “militares terráqueos”. Ela

respondeu da melhor maneira possível, desejando poder ajudar Bane dessa

maneira também. Talvez ele finalmente a visse sob uma luz melhor.

O celular tocou e ela estremeceu. Um número desconhecido passou

pela tela e ela vibrou com entusiasmo. Pode ser a Vale, pode ser um

advogado. Por favor, seja Vale, por favor, seja Vale.

Zion franziu a testa e olhou em volta.


— O que está acontecendo?

— Alguém está usando um telefone para ligar para o meu. — Ela

deslizou o dedo sobre a tela e colocou o dispositivo no ouvido. — Olá?

— Você está viva. — A voz de sua irmã sussurrou sobre a linha, partes

iguais de alegria e alívio.

Lágrimas de alegria jorraram. Não querendo preocupar Vale, ela

tentou uma saudação otimista.

— Vale, sua linda quebradora de bolas, você também está viva. — Um

soluço escapou, arruinando seus esforços. — Tenho estado tão preocupada.

— Nola — Zion disse com uma careta. Recolheu uma lágrima como se

fosse uma asa de borboleta frágil. — Essa ligação te incomoda?

— Não, não. Estou feliz. — Sua irmã estava viva e bem.

— Onde você está? — Vale perguntou, ainda

sussurrando. — Como você está? Zion está te tratando bem?

— Ele está. Me disse que é melhor se eu não souber onde estamos, e

concordo. Ele está me protegendo de um gigante loiro que espera me

sequestrar, por razões desconhecidas. — Ela queria dizer mais, tanto, queria

admitir tudo. Mas, é claro, as palavras morreram em sua língua. — Estou


sobrevivendo minuto a minuto, alguns mais difíceis do que outros.

Zion franziu o cenho novamente, com a mínima sugestão de

irritação. Sem dúvida, ele desejava obter mais informações sobre Bane. Bem,

que pena, tão triste.

— Diga a Zion que roube pílulas para você — pediu Vale. — Eu não

quero você com dor.

— Ele fez. Me deu uma caixa inteira, na verdade. Eu tomei um ou

dois. Ou quatro. Estou tentada a tomar mais, mas prefiro ficar limpa. — O

desejo se solidificou. Sim! Ela ficaria limpa. Sem mais pílulas, ponto

final. Nada de barganhar consigo mesma, como fazia todas as vezes que

tentava sair. Sem mais promessas para si mesma, apenas para quebrá-las.

Inúmeras vezes, ela tentou diminuir a dose para diminuir a gravidade

de sua abstinência, cortando outros cinco miligramas por semana, mas

sempre falhava, fazendo barganhas consigo mesma. Se eu tomar mais agora,

tomarei menos depois.

Mas ela nunca levou menos, então as barganhas nunca deram certo a

seu favor.

— Chega de falar de mim. — Disse. — Como vai você?

— Não há como mudar de assunto, mana. Você sabe que não pode
comer peru frio — disse Vale. — A pressão no seu coração.

— Alguém vem aí. — Interrompeu Zion.

O coração de Nola deu um pulo. Talvez Bane...

— Vários — acrescentou, e ela secou. Bane era um lobo solitário. —

Nós devemos ir, Nola.

Em uníssono, ela e Vale professaram seu amor. Nola tentou dizer mais,

tranquilizar a irmã de que ela não acabaria no hospital como da última vez. E

tinha mil perguntas sobre o tempo de Vale com Knox e seu novo status de

combatente, mas Zion retirou o telefone de suas mãos, encerrando a ligação.

Desânimo fez cócegas na parte de trás do seu pescoço.

— Como você sabe que tem alguém aqui?

— Quando um combatente estiver perto de outro, ele consegue sentir

a aproximação, o ar repentinamente fica elétrico. — Ele substituiu suas

pantufas por tênis, como se ela fosse uma inválida. — Plantei dispositivos

em toda a casa. Eles impedem que alguém entre ou saia. Vou ter que lutar

para nos tirar.

Suas mãos suaram.

— Por que você não congela nossos convidados não


convidados? Então podemos fugir.

— Eu faria se pudesse. Preciso recarregar.

A capacidade de Zion de manipular energia exigia algum tipo de

bateria interna. Bom saber.

— Eu matarei todos, e depois nos esgueiramos para fora. Melhor?

— Uh...

Ele a pegou, levou-a para o closet e a selou dentro do pequeno espaço

escuro, pedindo: — Não saia até que eu volte. — Seus passos soaram, depois

desapareceram.

Seu coração disparou mais rápido, seu estômago revirou. Ela balançou

nos calcanhares. Caso ele se machucasse enquanto ela se escondia no

armário como uma covarde, Nola se odiaria para sempre.

Se ao menos Bane tivesse concordado com a aliança. Eles poderiam ter

guardado as costas do outro. É claro que, se o sonho de Zion fosse uma

previsão genuína, uma aliança colocaria Bane em mais perigo.

Será mesmo? Mais cedo, quando ela decidiu ficar com Zion para

manter Bane seguro, estava doente, exausta, enevoada e com medo de seu

lado sombrio. Agora, ela tinha uma mente mais clara e se perguntava por
que tinha alimentado tanto medo. Nola Sombria nunca a havia ultrapassado

antes. Por que acreditar que a Nola Sombria a alcançaria agora?

Ela não deveria. Continuaria a se controlar, e era isso.

E por que deveria acreditar em Zion sobre si mesma?

Novamente, não deveria. Não vou machucar Bane. Nem agora, nem

nunca. O que significava que eles poderiam passar algum tempo juntos!

Não tendo tempo para pensar nisso, ela fechou os olhos e imaginou

seu Deus dourado. Um método que funcionou e falhou. Talvez, como Zion,

ela só precisasse recarregar. Ela ofegou, uma maré de calor fluindo sobre

ela. Por um momento, se sentiu sem peso. Então, o armário desapareceu e o

ar frio beijou seu rosto enquanto ela examinava seu novo ambiente. Uma

floresta escurecida pela noite. Um fluxo de luar iluminou Bane, provocando

arrepios em sua espinha.

Ele lutava contra cinco... dez... dezesseis homens. Humanos? A

maioria segurava armas, grunhindo e gemendo quando Bane atacou e seus

ossos deram um estalo audível.

Com um rugido animalesco, Bane lançou dois homens grandes

longe. Os dois bateram em diferentes árvores e deslizaram para o chão, onde

ficaram, suas cabeças pendendo em ângulos estranhos. Eles estavam mortos,


e Bane os matara violentamente, sem remorso.

Os dois lados de Nola guerrearam sobre a reação adequada. Horror ou

emoção?

Bane se lançou e agarrou outro homem pela garganta. Um homem com

duas facas, fazendo o possível para dar um golpe fatal.

Nola desviou o olhar quando Bane usou suas garras para remover as

mãos de seu oponente. Um uivo de dor atravessou a noite, seguido de um

baque, as armas e os apêndices caindo no chão.

Eu saio ou fico?

Sair definitivamente. Não era como se pudesse ajudá-lo. Oh! A menos

que ela conseguisse trazer Zion aqui e convencesse os dois a trabalharem

juntos. Mas Bane deve ter sentido sua presença. Mesmo quando estripou um

soldado, olhou em sua direção. Seus olhos se encontraram,

trancados. Surpresa o sacudiu, e ele parou. Um erro. Um soldado afundou

uma lâmina em seu peito.

Rugindo, Bane afastou a arma.

Horror empurrou um protesto para fora da boca de Nola.

— Não!
Os soldados restantes se concentraram nela. O sangue congelou em

suas veias. Uma maré de pânico aumentou, ameaçando afogá-la.

Ela recuou um passo, depois outro e outro, parando apenas quando se

deparou com uma árvore. Problema: a árvore fedia a suor. E respirava. Além

de se transformar.

Oh droga. A árvore era um homem.

Ele passou um braço em volta do pescoço e pressionou uma arma

contra sua têmpora.

— Comporte-se, e viverá.
Ele viverá ou morrerá por você?

UMA HUMANA ATERRORIZADA era a futura rainha de Bane. Ele

morreria gritando.

O suor escorria em sua testa e o pânico roía sua mente, devorando seu

bom senso. Ele continuou pensando: não posso perdê-la. Ela não. Qualquer

um menos ela.

Alguém além dela? Dificilmente! Se necessário, ele encontraria outra

realeza.

Bane engoliu em seco. Ele queria essa princesa. Para economizar

tempo e energia.

Economizar tempo e energia é a razão pela qual me sinto tão... louco

quando ela está por perto? Ou distante.

Os olhos de Nola se arregalaram de terror, suas bochechas

fantasmagoricamente pálidas. A visão destruiu o que restava de seu


controle.

Bane lembrou-se da última vez que um homem armado estava atrás

de uma mulher que ele queria proteger... lembrou-se de como Meredith

ofegava pelo ar que ela não conseguia recuperar, a morte imparável à

medida que se espalhava por seu corpo.

Ele perseguiu, não, correu, indo atrás dela. A adrenalina bombeou em

suas veias em alta velocidade. Músculos dobraram de tamanho e ossos

endureceram em aço. A dor em seu ombro diminuiu. Sua mente evoluiu

ainda mais, seus pensamentos se fragmentaram, mas também se

intensificaram. Tão afiados quanto punhais.

Salve-a. Mate todos.

Apesar da proximidade de Nola, o animal rugia com fúria, tornando

sua raiva mil vezes pior.

Chegando cada vez mais rápido...

Ele estava agradecido por Nola não estar chorando, implorando ou

gritando histericamente. Na verdade, ficou impressionado. Ela tinha um

corpo fraco, sim, mas uma mente tão apurada e...

Asas monstruosas estalaram em suas costas, e ele sussurrou uma

maldição. Deu uma rápida olhada. Sem penas, apenas uma teia
membranosa com uma substância bulbosa, com um gancho ósseo que se

estendia de todas as articulações - as asas da fera.

Ele nunca havia se transformado parcialmente antes. Nunca manteve

a consciência enquanto o animal lutava em seu nome. E na presença de uma

princesa, ainda menos.

Como aconteceu, ele não sabia. Por que isso ocorreu, só conseguia

adivinhar. Talvez, como híbrida, ela pudesse controlar apenas metade da

fera, diferente de uma rainha de sangue total. Talvez o animal planejasse

protegê-la. Sim, o demônio odiava Nola com a mesma veemência que Bane,

mas ninguém – ninguém! – tinha o direito de prejudicar o que lhes pertencia.

Bane sorriu. Dois guerreiros pelo preço de um.

Vamos fazer isso. Ele desencadeou o inferno, usando as pontas afiadas

das asas para deslizar através do pescoço de todos os soldados pelos quais

passava.

O cheiro de sangue manchou o ar. Canções de agonia tocadas em

segundo plano.

— Afaste-se! — Gritou o sequestrador de Nola, batendo o cano da

arma contra a têmpora. Seu dedo tremeu no gatilho.

Ele era um mercenário humano na folha de pagamento de Erik. Seu


amor ao dinheiro seria sua queda.

Nola choramingou, o som raspando nos ouvidos de Bane. Suas células

se tornaram brasas. Seus órgãos ficaram acesos. Um inferno tomou conta

dele.

Cuidado. Se ele se transformasse completamente, poderia prejudicar

sua princesa irrevogavelmente. Ela não saberia que poderia ordenar que o

animal se afastasse; ou que, sem um comando verbal ou telepático, o animal

poderia fazer o que quisesse, a qualquer momento, com qualquer

pessoa. Calma. Firme.

Tiros explodiram atrás dele, balas perfurando suas asas. Ignore a

labareda de dor. Quando eles queriam que Bane diminuísse a velocidade; ele

ganhou velocidade. Devo salvar Nola, qualquer que seja o custo.

Um raio dourado da luz da lua iluminava a ela e seu sequestrador – e

o contingente de humanos que pairavam atrás deles em nenhum padrão

discernível.

— Disse para você ficar para trás! Vou atirar nela, eu juro. — O

mercenário segurando Nola inclinou a arma, fazendo-a estremecer e

ofegar. — Pare!

Quando Bane pensou que tinha alcançado os limites da paciência do


soldado, ele conseguiu parar, levantando as mãos em um gesto de inocência.

— Sinto muito — Nola murmurou.

Ele cerrou os punhos. Antes, encontrara Erik, que estava na trilha de

Knox e Vale. Bane pensou em pegar Vale e usá-la para obter a cooperação de

Nola. Pouco antes de fazer sua jogada, Erik e dois outros combatentes –

Adonis e Rush – emboscaram o casal, acabando por roubá-la.

Não demorou muito para perceber que o viking e seus aliados não

tinham planos de prejudicar a garota. Bane então voltou sua atenção para o

exército de humanos de Erik. A saída perfeita para sua raiva. Ele planejara

dizimar o exército – um obstáculo ao seu prêmio – encontrar Vale e levá-la

ao seu covil, depois entrar em contato com Nola. Em vez disso, Nola se

teletransportou para ele mais uma vez. Por quê?

Se ela já tivesse percebido o erro de suas maneiras – nunca se

teletransportaria sem falar com ele primeiro, ou se terminasse no meio de

um campo de batalha – ele consideraria a possibilidade de pensar em

perdoá-la – pelo preço certo.

Com a vida dela em risco, ele reformulou suas tarefas. Mate seu captor

da maneira mais rápida e violenta possível, pegue Nola, encontre Vale e vá

direto para o covil.


— Vou embora. — Disse Bane aos mortais. Uma mentira. — Eu sugiro

que você me deixe ir.

— O quê? — Nola chiou. — Está me abandonando?

Nunca. Mas ele precisava que os machos pensassem assim. Precisando

de uma reação genuína dela, ele adotou seu sorriso mais sombrio e cruel e

colocou uma fúria genuína em seu tom.

— Do jeito que você me abandonou?

Ela se encolheu e seu peito se apertou.

— Te machuquei e sinto muito, mas fiz isso para protegê-lo — disse. —

E sim, ok, eu estava prestes a abandonar você aqui também, mas apenas para

protegê-lo. Não deveria ser grato por meu sacrifício e abnegação? Meu

brilho absoluto?

Ela decidiu ficar com Zion para protegê-lo? Ele... não sabia o que

pensar sobre isso. Só sabia que as chamas mais quentes de sua fúria

ganhavam novos caminhos. Ela tentou protegê-lo, e agora algum humano

pensou em atirar na cabeça dela?

Um humano que sorria, presunçoso, pensando que tinha assustado

uma fera.
— Você não está indo à lugar nenhum.

Boom. Boom. Boom. Outra rodada de balas perfurou suas asas. As

pernas dele também. Bane rolou no chão novamente, pegando duas armas

de suas vítimas que haviam caído. Ele mirou e bateu nos gatilhos,

disparando um míssil atrás do outro. Grunhidos de choque e agonia

ressoaram, homens caindo.

Enquanto os outros soldados estavam distraídos, Bane se levantou e

correu para a cobertura de árvores, fingindo recuar. Na realidade, circulou

o exército sem o conhecimento deles, planejando chegar atrás de Nola e seu

captor. Enquanto rasgava árvores, seus ouvidos captaram vozes diferentes.

Para onde ele foi?

Siga-o!

Vai, vai, vai! Eu vou cuidar da garota.

O controle dele? Quase completamente destruído. Uma arma, sem

balas. Largando-a de lado, apalpou uma adaga. A outra arma ainda tinha

uma bala. Excelente. Ele atacou as massas, usando a adaga para matar

rápida e silenciosamente todos no caminho. Corpos tombaram. Logo,

ninguém estava entre ele e o objeto de sua raiva.

O homem o sentiu e se virou. Muito tarde. Bane alcançou-o, afastou a


arma de Nola e enfiou a adaga em sua têmpora, sem hesitação. O bastardo

sacudiu e deu um tiro, a explosão ensurdecedora. Felizmente, tanto a bala

como o homem atingiram o chão.

Bane mirou e disparou o tiro final – no rosto do homem. Tecido

cerebral e sangue foram pulverizados.

Nola colocou os braços ao redor de si, e olhou para o

cadáver. Tremores a atormentavam.

Ele pensou que ela estivesse aterrorizada antes. Aqui, agora, parecia

quebrada, e a visão fazia coisas estranhas no peito de Bane. Parecia que

alguém tinha aberto suas costelas e amarrado um arame farpado ao redor

do coração. Talvez ela não parecesse com outras rainhas, afinal.

A alguns metros de distância, uma arma engatilhada

soou. Amaldiçoando, Bane jogou um braço em volta de Nola, puxou-a

contra ele e girou.

Uma bala rasgou suas costas, de um lado ao outro. A dor provou ser

intensa, mas administrável. Embora desejasse punir o atirador, ele não

arriscaria a vida de Nola.

Levantando-a em seus braços, correu para um bosque de

árvores. Enquanto corria, a satisfação o encheu. Finalmente ele tinha a


princesa em sua posse! Uma vez que escapasse deste exército, abriria um

portal para seu covil. Logo, ela estaria segura e cercada pelas coisas dele...

Um passo mais perto do meu objetivo. Depois de convencer Nola a

trabalhar consigo, retornaria sozinho ao Colorado e resgataria Vale. Tudo

ficaria bem.

Passos ecoaram atrás dele. Mais rápido.

— Obrigada. — Ela sussurrou, abraçando-o. Tremores ainda a

atormentavam. — Por tudo.

O arame farpado se apertou e ele estremeceu. Durante séculos, ansiou

ver Aveline governada pelo terror. Como uma rainha era uma realeza, ele

também deveria gostar do sofrimento de Nola. Um dia, um dia em breve, ela

mereceria isso. Mas...

Ele não sentiu prazer nesse pensamento. Queria arrasar este mundo e

apresentar os restos a seus pés, queria prometer que a protegeria para

sempre de se sentir assim novamente. Ridículo!

Bane correu em volta de árvores e pedras, saltou sobre raízes

retorcidas. Galhos afiados cortavam a parte superior do seu corpo, entrando

mais fundo em seus bíceps.

Nola resmungou e ele xingou. Já falhei na minha tarefa. Bane deixou


que os galhos a cortassem também.

Ele esperou por uma saraivada de reclamações...

Nada. A essa altura Aveline haveria reclamado antes mesmo de sua

mudança.

Agradavelmente surpreso, reajustou a posição de Nola contra ele,

pressionando o rosto dela na cavidade do seu pescoço. Suas curvas suaves

moldaram-se à sua estrutura muscular, a ação simples de alguma forma

atingindo suas defesas, deixando-o nu.

Ele endureceu, dolorosamente. Era uma consequência do quanto

deixou seu corpo negligenciado, só isso. Com os dentes cerrados, ele

perguntou:

— Melhor? — A proximidade dela sempre o afetaria com tanta força?

— Sim, obrigada. — Sussurrou, permanecendo relaxada. —

Bane? Cure rapidamente.

Duas palavras, mas ele ouviu um comando absoluto na sua voz. Em

um instante, a dor o consumiu, as balas estourando, carne tecendo de volta,

até que apenas o ferimento no ombro permaneceu, tão cru e irritado como

sempre.
O tempo todo, os pensamentos de Bane oscilavam dos mais altos para

os mais baixos. Nola estava preocupada com seu bem-estar. A preocupação

muitas vezes anunciava o cuidado. Se ela cuidasse dele, iria querer ficar com

ele. Melhor, faria o que ele desejava. Mas estava claro que ela entendia o pior

de seus talentos, o que criava uma grande complicação para ele. Não podia

compartilhar muito sobre seu passado, seus objetivos ou sua motivação, por

medo de que ela ordenasse que ele abandonasse sua vingança e perdesse a

guerra. Teria que conquistá-la de outra maneira.

— Por que você veio até mim, princesa? Poucas horas atrás, você

escolheu ficar com Zion.

Ela suspirou, o calor da respiração fazendo cócegas na base do pescoço

dele.

— Fomos emboscados. Eu pensei que se você e Zion trabalhassem

juntos...

— Não. Isso não vai acontecer. Nem agora, nem nunca. — A tensão

atou seus músculos. — Por que você continua a ajudá-lo?

— Por que você me odeia?

Ele precisava da ajuda dela, e não queria assustá-la, mas não podia

abafar a verdade.
— Em sua busca para salvar Vale, você arruinará minha vida.

— Talvez, mas você já me odiava antes que Vale se juntasse à guerra.

Uma pausa. Então. — Você sabe o que é, Nola?

— Sim. — Ela achatou sua mãozinha delicada contra o peitoral dele e

afundou as unhas na pele dele. Era o toque de um amante... ou de uma

mulher que esperava um terrível golpe emocional e precisava de um

escudo. — Sou uma garota, uma padeira, escritora, uma irmã preocupada e

uma... de outro mundo?

Ele disse:

— Você é muito mais do que uma de outro mundo.

— É verdade, então. — Sua respiração engatou. — Eu suspeitava,

então não deveria estar pirando por dentro. Só que estou totalmente

enlouquecendo por dentro, Bane.

Por que ele de repente quis sorrir?

Sentindo que finalmente havia perdido o exército, Bane imaginou seu

covil e acariciou o polegar sobre os Rifters. Cerca de cem metros à frente, um

portal se abriu, camadas de ar se separando, revelando uma escuridão

sombria.
Ele correu pela abertura e girou, de frente para a floresta, caso alguém

tentasse segui-lo. Os portais não podiam ser fechados manualmente, então

ele teria que esperar até que este se fechasse sozinho.

Assim que ele e Nola foram selados dentro da caverna, sua satisfação

retornou. Há muito tempo, construiu esse abrigo de um cômodo no coração

de uma montanha e refortificou suas paredes com pilares de pedra. Agora,

o calcário perfumava o ar frio e mofado.

— Tão escuro. — Nola chorou.

Bane se sobressaía na escuridão. Nola deveria também fazer a mesma

coisa. O fato de que ela não... Ela é mais humana que Adwaewethian?

Um humano poderia sobreviver ao Rito de Sangue?

O arame farpado se apertou novamente, uma dor cada vez mais aguda

atingindo seus pulmões, matando seu próximo suspiro. Ele colocou Nola na

frente de uma parede rochosa e pressionou contra seus ombros, pedindo-lhe

que se sentasse. Ele permaneceu de pé.

No fundo de sua garganta, a fera se acendeu em brasas. Quando brasas

suficientes se formaram, ele inclinou a cabeça e desencadeou uma corrente

de fogo, chamas lambendo as tochas que havia ancorado nas paredes. A luz

âmbar afugentou a escuridão e banhou Nola, prestando homenagem a seus


traços delicados.

Ignore seu fascínio. Não endureça novamente. Não.

Muito tarde. Ele endureceu novamente, dominado pela fome voraz.

— Você cuspiu fogo. — Disse ela, os olhos arregalados como discos

voadores. — Você pulverizou fogo da sua boca.

— Sim. — Ele se agachou na frente dela e abriu as asas para bloquear

o resto da caverna. Para esta conversa, Bane pretendia ser seu único foco. —

Você. Sabe. O. Que. É?

Ela encontrou seu olhar. As pupilas queimando, suas íris estreladas

vidradas e selvagens. O pulso na base de seu pescoço batia com o tempo

enquanto ele torcia os dedos.

— Eu sou de outro mundo. — Respondeu, sem fôlego.

— Sim. E você nunca poderá contar a ninguém, além de outros

Adwaewethianos. Somos abençoados com um instinto natural que nos

impede de discutir nossos segredos com pessoas de fora.

Ela assentiu, ansiosa.

— Já experimentei esse instinto.


Concentre-se. Pare de olhar para a boca de Nola; pare de observar

como o lábio superior é mais cheio, e tem uma inclinação em forma de

coração no centro.

— Séculos atrás, minha rainha descobriu seu mundo e enviou um

contingente de criadoras para se acasalar com os habitantes. É um crime

punível com a morte para todos os adwaewethianos. Incluindo você. Mas

Aveline fez isso, de qualquer maneira. — Ele não conseguia mascarar sua

raiva, seu ódio ou sua amargura, então nem tentou. — Ela me enviou aqui

com dois objetivos. Vencer a All Wars e destruir as evidências de seus

crimes.

Nola deu um golpe nervoso nos lábios com a língua. Droga! Ele não

parou de encarar.

— Matar as criadoras ou seus filhos? — Engoliu em seco. — Ou

ambos?

— Poucas crianças. As que viriam a ser a rainha de todos os híbridos.

A percepção ocorreu em suas feições, junto com consternação.

— V-você matou bebês, então?

— Não. — Segurou o olhar dela, não ousando piscar. — Antes de

encontrar uma única realeza, fui congelado no Ártico. Séculos se passaram,


mais e mais híbridos nasceram e a linha se diluiu. Mas eu nunca perdi a

esperança. Muitas vezes senti o nascimento e a morte de uma realeza, mas

nunca uma conexão verdadeira. Até um dia fatídico. Eu a senti, e ela me

sentiu. Sabia que ela me encontraria.

O queixo dela caiu. Procurou o olhar dele.

— E ela fez? Encontrou você, quero dizer?

Ele emoldurou seu rosto requintado com suas mãos grandes e

calejadas, o contraste entre os tons de pele deles era fascinante. Ouro contra

branco como a neve.

— Ela me encontrou.

Os músculos do pescoço trabalharam enquanto ela engolia.

— Através do link que vocês compartilham?

Ele assentiu e o brilho nos deslumbrantes olhos castanhos dela

diminuiu. Sua mão voou para a boca e ela balançou a cabeça.

— Preciso que um fato seja esclarecido. — Disse, sua voz instável, mas

também cheia de uma força que ele admirava. — Você recebeu ordens para

matá-la?

Mais uma vez, ele assentiu.


O olhar dela colidiu com o dele.

— Você está aqui para me matar?


Bata no fogo com essas dicas testadas e comprovadas!

A MENTE DE NOLA PARECIA UM campo de minas terrestres. Todo

novo pensamento causava uma explosão, iniciando uma reação em cadeia

de emoção. Choque, medo e incredulidade. Descrença e

incerteza. Excitação, esperança e felicidade, até pavor. Rainha. Rainha

Nola. Rainha Magnólia Lee. Órfã desde bebê. Doente, indesejada por outras

famílias. Jogada de um lar adotivo com outras pessoas, algumas boas, outras

ruins. Algumas muito ruins. A garota estranha com impulsos estranhos que

não podia discutir com ninguém além de um deus dourado que acabara de

conhecer, mas que conhecia em seus sonhos há anos. A mulher adulta

incapaz de desfrutar da intimidade com um homem sem vomitar. A

viciada. A teletransportadora iniciante. Controladora de

dragões. Extraterrestre.

— Não prejudicarei a rainha da Terra. — Disse Bane. — Eu a

protegerei com a minha vida, mesmo que odeie o poder que ela exerce sobre

mim.
Ele evitou a pergunta dela. Ou não?

— Esse poder. Você está ligado a ela... a mim? Forçado a fazer o que

ela manda?

— Sim. — Ele assobiou.

— Esta futura rainha tem um nome? — Não pode ser eu. Mas pode ser

eu.

Ele diria o nome dela?

— Sim. — Ele a soltou, então. Sem conexão, sem calor corporal. Um

frio intenso se infiltrou em seus ossos. Olhando profundamente em seus

olhos estrelados, ele finalmente disse: — O nome dela é Nola Lee.

Engolindo em seco. — Não posso ser rainha. Não posso governar

ninguém, muito menos uma raça inteira de guerreiros e bestas. Eu não posso

nem me governar! Minha vida está uma bagunça. — Exceto que o trabalho

em potencial a emocionava. Ela finalmente encontrou sua missão? A sua

paixão?

Governante do mundo, porra!

Muitas falhas. Ou talvez a quantidade certa?

Argh! O ir e vir era mais do que irritante.


— Você está certa. Não é uma rainha. No entanto, — Respondeu Bane,

— até a sua... coroação, você detém o título de princesa, suas habilidades

limitadas.

O que?! Se ela podia se teletransportar com habilidades limitadas, o

que poderia fazer com todas as habilidades? Só a perspectiva a fez tremer.

Bane mudou, acrescentando:

— Eu sou seu guerreiro, forçado a obedecer a todos os seus comandos.

O guerreiro dela. Dela, e só dela. Bane, que matava com tanta

facilidade. Quem a despertou e a assustou por razões que ainda não

entendia. Quem estava olhando para ela como se quisesse deixa-la nua e

comê-la no jantar... ou colocar uma sacola e etiquetá-la, depois pendurá-la

na parede como um troféu. Por fim, ela compreendeu o tratamento quente e

frio.

Muitas vezes, o lúpus, a fibromialgia ou os opioides agiam

como seus mestres, forçando-a a ficar na cama quando preferia estar em

outro lugar, fazendo qualquer outra coisa.

— Uma vez, você quase me implorou para dar ordens a você. Diga-me

para curar rapidamente e reconstruir o pé. Dance a dança do macaco. — Ela

zombou. — Lembra? Eu te obedeci, e você me obedeceu, e olhe para o


resultado magnífico. — Respire fundo, expire. — Não pedi para ser sua

rainha, Bane. Então, por que me culpa pela nossa situação?

Ele estreitou os olhos.

— Servi a muitos membros da realeza. Um dia, você mudará para a

pior versão de si mesma. Ficará fria. Determinada. Mortal. Você exercerá

sua soberania sobre mim, forçando-me a fazer ações repreensíveis. Rainhas

sempre fazem isso.

O ódio em seu tom soou como uma sentença de

morte. Ele realmente odiava a realeza Adwaewethiana. Mas não era por isso

que ela murchava por dentro. O que ele descreveu... ela já conheceu a pior

versão de si mesma. Nola Sombria.

Compreensão: não estou pirando... estou em transição.

Lutar ou fugir assumiram o controle, o medo brotou e a negação

aumentou. Isso não poderia estar acontecendo.

Não, ela não podia deixar isso acontecer. Ela ficaria e lutaria. Nola

Sombria não venceria.

— Você, por acaso, namorou uma princesa que se tornou rainha? —

Sob o ódio, ela pensou ter ouvido tormento. Por que agonizar com o que

estava dizendo, a menos que estivesse apaixonado?


— Eu fiz. — Ofereceu firmemente.

— Ela mudou? — Nola persistiu.

O olhar dele abaixou, agarrou seus lábios e se aqueceu.

— Sim.

Com o coração acelerado, ela disse:

— Desde que você deixe Vale em paz, não tenho intenção de prejudicá-

lo ou de ordená-lo. Além disso, não sou como sua outra rainha.

Ele riu sem um pingo de diversão, elevando sua raiva.

— Você pensa que é mais forte que Aveline, que pode fazer o que ela

não fez e permanecer gentil, carinhosa? Lamento ser a pessoa a dizer, Nola,

mas todos os membros da realeza mudam. Você também. E não será capaz

de se ajudar.

Cansada de ser chamada de fraca, ela levantou o queixo.

— Desafio aceito.

Ele a olhou por um longo tempo, em silêncio, e ela olhou de volta. Um

erro. A luz da tocha o amava, pintando suas feições masculinas com traços

brutos e sensuais. Sua juba de linho brilhava como uma auréola.


— Não é um desafio. É um fato.

— Fui rejeitada a vida inteira, Bane. Descobri que sou diferente em

todos os sentidos. Eu tive zero vantagens. Sem dinheiro ou educação

especial. O que eu já tive? Tantas faltas no ensino médio que quase fui

reprovada. Doença e dores constantes. Contas médicas que nunca poderei

pagar. Meses passados na cama, sonhando em ser alguém, qualquer outra

pessoa. Famílias adotivas que me deixavam com fome, me chamavam de

nomes terríveis ou me batiam. Então sim. Fisicamente, sua Aveline pode me

derrubar, sem dúvida. Ela pode fazer a mesma coisa que uma rajada de

vento. Mas mentalmente? Emocionalmente? Eu sou incomparável. —

Quanto mais Nola falava, mais o tom e o volume ficavam altos.

Por que algumas pessoas nasciam abençoadas e outras nasceram

amaldiçoadas?

O temperamento de Bane detonou, sua respiração mais rápida, sua cor

mais brilhante.

— Quem fez isso a você?

Por quê? Para que ele pudesse matá-los?

— Não importa.

Ele agarrou seus braços e a sacudiu.


— Conte-me.

Um pouco presunçosa – tudo bem, muito presunçosa – ela sorriu para

ele.

— Por que você não me obriga? Oh, verdade. Porque você não

pode. Nisto, você é fraco, minha vontade é mais forte que a sua.

Ele estreitou os olhos, bufando como um lobo grande e mau.

— Você está certa. Nisto, sou o mais fraco de nós. Mas eu entendo o

futuro, você não. Quer saber a primeira coisa que as rainhas fazem após a

coroação? Matam seus entes queridos para garantir que ninguém possa ser

usado contra elas. Fui poupado porque era muito valioso como guerreiro e

treinador. Anos depois, Aveline ordenou que me afastasse enquanto matava

a mulher que eu amava bem na minha frente.

Sua confissão a despedaçou, sua dor como sal em suas feridas. A dor

que ele deve carregar dentro de si... mais do que qualquer pessoa poderia

suportar. E oh, a perda que sofreu. Uma perda que ela conhecia bem.

Um dia ela iria querer matar Vale?

De jeito nenhum.

Enquanto ela e Bane se entreolharam, algo maravilhoso e terrível


aconteceu. As defesas derreteram, o desejo se agitou dentro dela, quente e

líquido, as dores do passado desaparecendo. Onde se tocaram, queimava e

doía.

— Bane. — Murmurou.

— Nola. — Ele afrouxou o aperto e passou as mãos pelos braços

dela. Cada deslizamento ascendente era suave, e ainda assim as dores se

intensificavam. A cada descida, ele perdia uma camada de calma. Agora,

apenas a fome selvagem permanecia.

— Você me odeia, — disse, seu calor incrível escoando através de suas

roupas. — Pelo que acredita que me tornarei.

— Odeio.

— Mas você... você me quer também?

— Quero. — Repetiu e desta vez, parecia drogado. Suas mãos

deslizaram para cima e para baixo, subindo e descendo invariavelmente —

E quero que pare. Por que não para? — Agonizantemente lento, ele passou

os dedos pela gola dela, depois desceu até os seios.

Ela ofegou, arqueando em sob seu toque perverso, chocando-o, mas

deliciando-o também. Quando ele apertou e amassou, ela observou seu rosto

procurando qualquer tipo de reação. Suas pupilas estavam dilatadas. A


visão lhe enviou arrepios e ela não sentiu nenhuma mal-estar.

Quantas vezes ela chegou à segunda base com um cara, sua mente

sólida, mas seu corpo atormentado por náusea extrema? Antes de cada

incidente, ela se convencia de que as coisas seriam diferentes. Com Bane, seu

estômago permaneceu calmo enquanto o resto dela se revoltou. Os arrepios

se espalharam por seu peito e braços, sensibilizando sua pele. Seus mamilos

frisavam, pressionando contra o sutiã. Toda vez que ela inalava, o atrito

provocava seus sentidos. Atrito. Entre suas pernas, a dor mais deliciosa

acendeu, muito diferente de tudo que ela experimentou no

passado. Excitação gloriosa, intocada pela doença.

O que aconteceria se ela puxasse Bane para mais perto e...

Não! Não vá lá. Não com ele.

Usando a ponta dos polegares, ele traçou círculos em torno de seus

mamilos.

— Diga-me para ir embora, princesa.

Ahhhh. Por favor, não vá embora. Mas, mas... ele tinha que sair antes

que ela se humilhasse e pedisse... implorasse... por mais.

— Seja forte o suficiente para ir embora por conta própria, doçura.


Ele se encolheu, depois fez uma careta, os braços caindo ao lado do

corpo, deixando-a desolada e muito mais fria do que antes.

Puxando os joelhos para cima, criando um bloco entre eles, ela

perguntou:

— O que as rainhas fazem exatamente? — De volta ao assunto em

questão.

— Tudo o que querem. — Ele apertou e soltou as mãos, respirando

lentamente, exalando pesadamente, parte de sua tensão evaporando. — A

maioria das rainhas são cobiçadas desde o nascimento, escondidas até o Rito

de Sangue.

Um novo espinho de pressentimento.

— O que é um Rito de Sangue?

— Um período em que uma rainha em potencial mata um inimigo e

veste seu sangue. Um guerreiro respira fogo em seu corpo. Ela queima até a

morte e nasce das cinzas.

Nola não sabia muito sobre mitologia, apenas petiscos que pegou de

Vale, obcecada por ficção científica, mas os Adwaewethianos pareciam mais

uma fênix do que dragões. Queime até a morte, suba mais forte.
— Cometer assassinato... me pintar em sangue... me deixar queimar

até a morte? É isso que você espera que eu faça? — Ele devia estar brincando.

— Sim, sim e sim. Você se levantará diferente. Má. Sua humanidade

acabará.

Ele acabara de descrever seu lado sombrio. Mas Nola quis dizer o que

havia dito. Mentalmente e emocionalmente era forte. Prevaleceria contra

qualquer desejo distorcido.

— Por que me diz essas coisas? Para me assustar e me fazer recusar?

— Digo essas coisas para você estar preparada. Quero que participe do

Rito de Sangue. E você também vai querer. Um aumento de poder é

irresistível.

Mais poder seria incrível, sim. Além de incrível. Mais poder

significava uma melhor proteção para Vale, superação para o vício de

medicamentos e a cura de suas doenças. Mais poder significava... tudo.

— Lá está ela. — Afirmou. Malícia escorria de seu tom e brilhava em

seus olhos. — A realeza que entende que suas habilidades e domínio são

vida.

Como ele poderia lê-la tão facilmente?


— Alguma rainha não ressuscitou das cinzas?

Ele acenou com a cabeça.

— Muitas.

Ótimo! Maravilhoso! Compreender habilidades e domínio poderia

significar vida, mas trabalhar para obter entendimento poderia significar sua

morte.

— O que acontece se eu recusar?

Ele se encolheu como se ela tivesse lhe dado um soco.

— Vou encontrar outra princesa. Ela vai pegar a coroa e o que é seu.

— Dê-me um momento para lidar com minha decepção. Não daria

certo. Você não pode perder o que nunca teve. — Exceto, não, não, de jeito

nenhum. O lado sombrio de Nola fervilhava em fúria ao pensar em

alguém “qualquer um” tentando pegar o que lhe pertencia.

O peso do olhar poderoso de Bane quase a perfurou na terra.

— Você não é a única híbrida Adwaewethiana neste planeta. Os

outros, os machos, abrigam um animal em hibernação. Assim que você

completar o Rito de Sangue, essas bestas acordarão. Eles a desprezarão,

porém serão vinculados à sua vontade, morrerão para protegê-la. Agora,


imagine que outra mulher acorde. Depois, ela e seu novo exército irão caçá-

la e matá-la, assim como todos que você já amou.

Táticas de intimidação, ou verdade? O pensamento verdadeiramente

aterrador? Provavelmente eram os dois.

— Vou ganhar uma besta?

— Não. Somente machos nascem com uma fera e são

intransferíveis. Você terá algo melhor. A capacidade de curar a si mesma e a

seus homens. A regeneração do meu pé foi apenas uma amostra do seu

potencial de cura.

Por um momento, sentiu vontade de dançar e cantar no estilo princesa

da Disney. Nada de internações! Chega de noites angustiadas e dias cheios

de dor! Chega de fraquezas! Oh, a tentação. Mas tinha que haver um

problema. Havia sempre um, porém.

Como Carrie costumava dizer, o diabo não aparece com um

forcado. Ele aparece mentindo, usando seu sonho mais querido.

Não importava quão desesperadamente Nola quisesse se curar, ela não

mataria alguém para fazê-lo, nem mesmo um inimigo.

— Estou confusa sobre a sua ligação com Aveline. Ela é sua rainha, e

você precisa ou não obedecer às ordens dela?


Um músculo saltou sob seu olho. Ele deu um aceno duro.

— A situação é... complicada.

— Não se preocupe, eu posso acompanhar. Então, essa realeza que

você pode ou não desobedecer, ordenou que você matasse todos os membros

da realeza, inclusive eu? — Outro aceno duro. — Bem, como você é capaz de

traí-la e me ajudar? — Perguntou levantando os braços.

Ele inclinou a cabeça para o lado, com as luzes acesas com intrigas

surpresas. O que? Ele esperava que ela fosse burra como uma caixa de

pedras?

Caramba, talvez fosse. O cheiro dele continuava mexendo com a

concentração dela. E, afinal, ela se perdia nos olhos cor de âmbar e na

estrutura de longos cílios pretos. Os pontos de pulsação dela vibraram, a

vontade de tocá-lo quase esmagadora.

Gah! Começou a endireitar as pernas, “seu escudo” espontaneamente.

Começou a estender a mão... Mas quando percebeu o que estava fazendo,

tentou se conter. Muito tarde. Ela há havia passado as pontas dos dedos ao

longo da barba dourada no queixo dele. Um raio branco-quente de

eletricidade a atravessou, picando suas terminações nervosas. Por um

momento, a princesa e seu guerreiro não se mexeram, nem sequer

respiraram. Então ele apertou o pulso dela com força.


Nola esperava que ele a afastasse, apenas para provar sua

força. Ela desejou que ele a afastasse.

Respirando com mais força, ele pressionou a palma da mão dela aberta

contra sua bochecha e se inclinou em seu toque.

— Sempre que uma princesa vive até a idade adulta, o vínculo de um

guerreiro com uma rainha é gradualmente enfraquecido. No momento em

que senti você, Aveline perdeu o controle sobre mim, permitindo que eu

falasse dentro da sua cabeça e você dentro da minha. Depois do seu Rito de

Sangue, posso me unir a você, oficialmente, cortando todos os laços com

Aveline.

Anotado.

— Por que você me escolheria ao invés dela? Ela machucou sua amada,

sim, mas você nem me conhece. — Nem eu tenho certeza de que me conheço

mais. — Há uma frase terráquea – dos terráqueos... tanto faz! – que diz:

Melhor o diabo que você conhece do que o diabo que não.

— Eu sei que você não é um diabo. Ainda. — Bane passou a língua

pelos dentes retos e brancos e soltou a mão dela. — Por que você escolheu

Zion em vez de mim?

Dizer a ele só o assustaria e provaria suas teorias sobre a suposta


mudança de personalidade dela.

— Vou considerar contar, se você responder minha pergunta.

Ele se irritou, resmungando:

— Aveline pode drenar outros até a morte com um simples toque. A

mulher que ela matou? Meredith. Ela era... minha esposa. Nada que você

faça ou diga me machucará ainda mais.

Seu peito inchou com simpatia. Pobre Bane. Ele havia perdido a

mulher que amava por causa do egoísmo e ganância de outra mulher,

deixando um buraco em seu coração. Um buraco tão impossível de fechar

quanto a ferida em seu ombro, pois Aveline ajudou a preenchê-lo com ódio

que agora apodrecia, vazando veneno.

Se ao menos Nola pudesse alcançar sua mente e acalmar todas as

lembranças agonizantes. Por outro lado, ele não seria o mesmo homem sem

elas. Suas experiências o moldaram e Nola gostava do resultado final.

Os olhos dela se arregalaram. Ela fazia. Ela gostava dele. Sua

intensidade e seu impulso. Sua determinação e força. O homem nunca

desistia. Quando ele era derrubado, ele lutava para voltar.

— Sinto muito, Bane.


— Você não matou Meredith. Aveline sim e, com sua ajuda, ela

pagará. Meu preço é sangue e dor. — Disse, sua satisfação quase

tangível. Ele levantou o queixo. — Em troca da sua ajuda, vencerei a All

Wars em nome de Aveline, já que foi ela quem me enviou aqui, e estou

registrado como seu representante. Mas, assim que a derrotarmos, você

adquirirá todos os seus territórios. Você vai governar este planeta e vários

outros.

E viver para sempre lutando contra outros membros da realeza? Três

aplausos e três vaias. O verdadeiro jogo? Ele sugeria casualmente

assassinato a sangue frio novamente.

Nola poderia não ser uma rainha – ainda, mas ele já a considerava

moralmente falida. Bem, não importa. Com o tempo, ela provaria sua

coragem.

Nota para si mesma: tenha coragem.

— Para vencer a All Wars, você terá que matar

Vale. Eu nunca colocarei minha irmã em perigo.

Ele procurou o olhar dela.

— Sua lealdade é inesperada e impressionante, mas fora de lugar. Vale

morreu no momento em que entrou na guerra. Não importa o cenário, não


há como salvá-la. É melhor você aceitar a perda dela.

Embora Nola sacudisse violentamente a cabeça, ele continuou

dizendo:

— Para vencer, Vale deve me matar. Mas, sem mim, você não pode

derrotar Aveline e seus animais. Se outro guerreiro vencer a All Wars, Vale

morre. Se alguém que não seja um Adwaewethiano vencer, Aveline enviará

bestas para matar você e seus entes queridos.

Não, não!

— Tem que haver uma maneira de mantê-la longe do meu planeta e

salvar Vale. E você. E Zion. E Knox. — Ele protegeu Vale na sua situação

mais vulnerável, então Nola também o protegeria. — De fato, ordeno que

você ganhe a guerra e viva, sem matar Vale, Zion ou Knox. —

Touché! Problema seu, encontre a solução.

Ele piscou rapidamente, como se estivesse perplexo, depois balançou

a cabeça.

— Você não é formidável o suficiente para impor um comando tão

impossível.

Tremendo agora, ela deslizou a ponta do dedo em torno de seu único

corte remanescente.
— É por isso que você não se curou completamente?

— Sim. — Disse, sua mandíbula cerrada.

— Tem que haver uma maneira de conseguir tudo o que nós dois

queremos, e eu vou encontrá-la.

Mais uma vez, ele pareceu surpreso. — Não foi você que me disse que

as pessoas nem sempre conseguem o que querem?

— Eu não sou a maioria das pessoas.

— Você está dizendo que se recusa a lutar para libertar nosso povo do

reinado opressivo de Aveline?

Nosso povo.

— Eu não... eu não posso... — Gah!

— Você afirma que não deseja matar alguém, mas seu pedido para

salvar Vale é uma sentença de morte para mim. Percebe isso, ceerto? Você

simplesmente não se importa?

Glup.

Bane certamente tinha a manipulação como uma arte. Uma habilidade

impressionante e irritante. Precisando de mais tempo para pensar, ela


mudou de assunto.

— Antes, você perguntou por que eu escolhi Zion em vez de você. Vou

lhe contar, quando souber que posso confiar em você com as informações.

— Isso deveria comprá-la, oh, uma eternidade.

Com um grunhido, ele retraiu as asas.

— Talvez eu possa comprar a resposta.

Quando os apêndices desapareceram completamente, os arcos não

estavam mais acima de seus ombros e uma caverna apareceu. Um corredor

espaçoso, repleto de ouro, pedras soltas, joias e armas estava à vista. Ele

rondou para o outro lado, observando enquanto ela se levantava.

Seu olhar inabalável a chamou, provocando todos os melhores

lugares. Ela doía e tremia enquanto deslizava para as diferentes pilhas de

tesouros, selecionando suas bugigangas favoritas. Uma pulseira de

diamantes. Uma gargantilha de rubi. Brincos de safira. Uma tiara de

esmeralda. Oh! Havia blocos de ouro e lascas de prata. E

manoplas. Oh! Uma tiara maior com diamantes pretos.

OK. Talvez fossem as joias. Talvez fosse o homem. Talvez tenha sido

uma combinação dos dois. Seja qual for o motivo, a excitação vibrou dentro

dela, suas células fervendo.


— Onde você conseguiu isso? — Perguntou, acariciando sua

recompensa.

Bane encostou-se na parede, cruzou os braços sobre o peito e a

observou com um olhar estranho no rosto... e o calor estalando em seus olhos

dourados. Aqueles olhos dourados envergonhavam as gemas.

— Roubei de tiranos mortais antes de ficar congelado, planejando usá-

los para comprar armas.

O tom rouco de sua voz provocou arrepios na espinha.

Com movimentos preguiçosos e sensuais, ele fechou a distância mais

uma vez, como se não pudesse ficar longe. Parou em frente a ela, trazendo o

perfume de especiarias exóticas com ele.

— As joias combinam com você. — O olhar dele segurou o dela

enquanto Bane passava a ponta do dedo sobre uma gargantilha.

Ele parecia mais tenso do que antes, mas também mais relaxado, a

justaposição estranha e impossível, apenas Bane. Seu guerreiro quente e

frio. E maldito seja ele, o peso do seu olhar prendeu-a no lugar. Nola não

conseguia se mexer, não queria se mexer. Ele estava perto, tão perto, mas ela

desejava tê-lo mais perto. Seus seios doíam desesperadamente e sua barriga

tremia mais.
— Obrigada. — Disse ela, lutando contra o desejo de implorar que a

beijasse.

— Você precisa parar de me olhar assim, Nola. — Assobiou as

palavras. — Você não vai gostar do que acontece se eu lhe der o que parece

querer.

— Ou você vai gostar demais? — Ela brincou. Se ele a beijasse, ele a

odiaria mais? A culparia?

— Se você provar a metade do seu cheiro, vou gostar demais.

A admissão crua liquefez seus ossos.

— Os Adwaewethianos adoecem quando ficam íntimos? —

Perguntou, aproximando-se para esmagar seus seios na força rígida em seu

peito. Ela lambeu os lábios, secretamente emocionante quando ele assistiu à

ação com seu olhar. Um olhar que levantou, encontrando o dela.

Novas batucadas de intrigas dançavam sobre seus traços

impressionantes.

— Você adoece? — Ele passou os dedos pelos cabelos colocando-os

atrás de sua nuca, audacioso. O brilho em seus olhos.... Uma ferocidade

sombria que ela nunca havia encontrado antes. — E não me diga que devo

responder sua pergunta ou você não responderá a minha. Eu aprendi a lição.


— Bem. Sim, adoeço sempre que tento intimidade.

Ele intensificou seu aperto nela.

— Eu estava com Aveline antes do Rito de Sangue dela. Fomos íntimos

inúmeras vezes, e nenhum de nós adoeceu.

Oh. Entendo. O problema era com ela. Nola, a miserável e adoecida.

— Mas, — disse, algo quente e escuro fervendo em sua voz... algo

possessivo, — eu posso saber por que você adoece...

Arrepios. Calor.

— Conte-me.

— Primeiro, — disse, — devo saber se você vai ficar doente comigo.

O pulso dela saltou.

— Suspeito que... não vou. Eu não tenho estado até agora. E eu quero...

quero prazer. — As palavras saíram dela. — Estou com tanta fome, que até

você parece bom suficiente.

— Até eu? — Ele cuspiu um momento, incrédulo, seus músculos

inchados bem diante dos olhos dela. — Vejo que não lhe dei uma impressão

precisa da minha habilidade. Hora de mudar isso.


Mergulhando, pressionou sua boca contra a dela e beijou a respiração

de seus pulmões.
Como vencer aqueles primeiros nervosismos em um beijo

NEM SEMPRE, OU EM TODOS os dias, Bane se sentia tão fortemente

atraído, ou doía tão intensamente. Depois de tudo o que sofreu ao longo dos

séculos, ele merecia a liberação sexual com a mulher mais bonita que já

viu. A mulher que o enlouquecia além de qualquer razão.

Estar tão perto de Nola... respirando sua madressilva e perfume de

jasmim, em casa... tocando a suavidade sedosa de sua pele... assistindo seus

lábios rubis se separarem, e o pulso acelerar na base de seu pescoço... Ele

correu da realidade para a fantasia, e morria de fome por tudo o que tinha

para dar.

Agora, se afogava na sensação, e ela se tornou sua única fonte de

oxigênio. Bane a beijou como um homem que não poderia viver sem sua

mulher. No momento, ele não podia.

Nos braços dele, ela era um fio vivo de paixão, suas respostas

desprotegidas. Ela tremeu, beijando-o de volta com absoluto abandono, suas


línguas se juntando em uma dança selvagem e carnal. Seus pequenos

suspiros o empurraram para mais perto da borda da navalha. Bane e a fera.

A fera adorava sexo, precisava dele – finalmente! Por favor! – Mas

ainda odiava a realeza com o calor de mil sóis; e proferia protestos e

comandos conflitantes. Tradução: Pare. Não pare. Pare, maldito seja. Nunca

pare.

Em meio ao caos, os desejos de Bane deveriam ter esfriado mas o

inferno de necessidade ardendo em suas veias só cresceu e se fortaleceu,

incendiando seu controle. Enquanto ele devorava a boca de Nola, imaginou

essa linda fêmea envolta nessas joias e nada mais.

Vou despi-la, espalmar seus seios e lamber seus mamilos. Vou enfiar

um dedo dentro dela... depois outro e outro... ela ficará molhada para mim.

No momento em que Bane percebeu que Nola adoecia durante

momentos íntimos, dois impulsos igualmente convincentes o

atingiram. Saber se ele seria uma exceção e provar que Nola era um meio

para um fim para ele. Então ele pararia de amolecer sempre que a olhasse,

deixaria de sofrer sempre que ela revelava um relato sobre seu passado,

esqueceria o que não deveria querer desejar mais do que seu próximo

suspiro. Mas assim que seus lábios se encontraram, ele perdeu todo o

sentido; as razões para iniciar o beijo deixaram de ter importância.


O gosto dessa mulher...

Ele exigiu mais. Tão necessário quanto a água.

O beijo nunca parou quando Bane avançou, forçando Nola a andar

para trás. Quando ela esbarrou na parede da caverna, ele afastou os seus pés,

agarrando os cachos de seus cabelos sedosos para inclinar o rosto e levar a

boca mais fundo.

A necessidade o governava, e ficar parado deixou de ser uma

opção. Ele moeu seu eixo latejante entre as pernas dela, o contato íntimo

surpreendendo os dois. Ela gemeu, derretendo contra ele. Seu corpo

negligenciado gritava por mais, por tudo.

— Bane, eu... isso...

O nome dele, falado em sua voz drogada pela paixão, apenas

aumentou sua necessidade.

— Eu sei. — Rosnou contra os lábios dela. Um segundo depois, o ritmo

do beijo mudou. Do exploratório ao nuclear, tornando-se um acasalamento

frenético de línguas e dentes.

Como uma mulher possuída pelo desejo primitivo, Nola o beijou de

volta descontroladamente, com fome. Como se ela pudesse morrer se não

sentisse a satisfação completa. O prazer! Ela agarrou sua carne, balançou


contra seu comprimento, recuou e depois balançou novamente. Todo ponto

de contato chiava.

Oh, que curvas deliciosas ela possuía. Curvas que ficariam marcadas

para sempre em seu cérebro. Curvas que ele precisava resistir.

Resistir. Sim. Ele deveria resistir a ela – e essa excitação incrível. E ele

faria. Em breve. Assim que suas necessidades importassem mais do que seus

desejos: penetração, toque, marcação a com sua essência. Outros machos o

cheirariam nela – o almíscar de um predador volátil – e seriam dominados

pelo medo.

— Mais. — Ofegou, então alegremente deu a ela mais. — Meus seios.

Rosnados estrondosos o deixaram quando ele segurou e amassou

aquelas belezas atrevidas, seus mamilos distendidos provocando suas mãos.

Novamente, ela revirou os quadris e balançou contra o comprimento

dele, perdida no meio do caminho. Enrolado, embalado. O atrito...

Alguma mulher alguma vez se encaixou contra ele tão perfeitamente?

Seus desejos continuaram a aumentar. Quero que ela fique

desesperada por mim. Quero devorar cada centímetro de seu corpinho

delicioso. Quero afundar de joelhos, desabotoar a calça, empurrar a calcinha

para o lado e sugar o feixe de nervos encharcado no ápice das coxas. Seus
gritos de prazer ecoariam pela caverna. Ela puxaria o cabelo dele, apertando

a sua cabeça com as coxas e giraria contra o rosto, dando a ele cada gota de

mel feminino. Ela exigiria um clímax ou cinco, e ele os forneceria. Pela

primeira vez, o capricho da realeza seria sua alegria de cumprir.

Talvez ela retribuísse o favor e devorasse o comprimento dele...

O ato era proibido em Adwaeweth. Há muito tempo, uma rainha antes

da época de Bane decidiu que nenhuma fêmea deveria se “rebaixar” dessa

maneira, e as fêmeas sempre deveriam sobrepujar os machos.

Ele desprezara a lei enquanto Meredith a reverenciara. Ele nunca

pediu pelo sexo oral, e ela nunca ofereceu.

Agora, o desejo o envergonhava. Tanto quanto ele a odiava Nola –

ainda a odiava? Ele não queria rebaixá-la. E por mais que quisesse, algo

pequeno e delicado como ela, ele poderia prejudicá-la

irreparavelmente. Afinal, ele não era apenas maior que esta mulher; ele era

infinitamente mais forte e ardia de desejo depois de séculos no gelo. Quando

ele finalmente transasse, ficaria alucinado, frenético e além de enlouquecido.

Mas caramba, o desejo permanecia, e não apenas pelos lábios dela ao

redor de seu eixo. Ele desejava afirmar seu domínio, detê-la como nunca

havia feito com outra pessoa e provar sua maestria. Para governá-la, antes

que ela o governasse. Dar o mais do que tomar e experimentar o verdadeiro


contentamento após séculos de angústia.

Será que ele estava contente? Seu desejo por Nola era tão forte –

correção: seu desejo por sexo era tão forte que não tinha certeza de que

algum dia poderia ser reprimido.

Nola respondeu de forma inabitável a cada chupada, mordidela e

toque, a fêmea mais sensível que ele já desfrutou.

— Você é... — Tudo. Necessário. — Está me deixando louco!

Entre respirações ofegantes, ela disse:

— Isso é tão bom. Você me faz sentir tão bem.

Sua voz tinha um tom gutural, tornando-a a sedução encarnada. Sua

ereção ficou mais dura, mais larga, mais longa, ameaçando rebentar através

de sua braguilha.

— Você me quer? Precisa de mim?

— Sim! Por favor! Estou morrendo sem você.

Mmm, um pedido tão delicioso. Tão delicioso quanto sua pele

doce. Como alguém poderia ser tão gostosa? Como poderia desejá-la tanto,

apesar de seu passado, apesar dos protestos da fera?


Espere. A fera não protestava mais? Por que ela estava em silêncio?

Bane sabia que precisava terminar o beijo e pensar. Algo mais do que

desejo estava em jogo aqui, mas ele não conseguia fazer isso em graus

lentos; não tinha força. Teve que levantar a cabeça e se afastar.

Nola gemeu de decepção, segurou sua nuca e puxou seu rosto de volta

para o dela.

Ele não pôde deixar de beijá-la de volta. Uma vez que começou, ele não

conseguiu parar, não novamente. Então beliscou a linha da sua mandíbula,

passou a orelha entre os dentes e beijou a elegante coluna do seu

pescoço. Gemidos deliciosos escaparam dela, uma canção de sereia

irresistível.

Onde o pulso dela disparou, ele chupou com força, e ela gemeu em

sinal de rendição.

Entrega...

O que ele não sabia querer, precisava. O beijo mudou novamente. Mais

rápido, mais difícil. Mais quente, mais áspero. Ele levantou a cabeça e

reivindicou a boca de Nola, que enlouqueceu, arranhando-o. Ela colocou

uma perna em volta da sua cintura e ondulou contra seu comprimento.

O suor escorria pela sua testa, o desespero dela um espelho do dele. As


complexidades ricas de sua fragrância inata se aprofundaram, uma droga

intoxicante que ele temia que sempre desejasse.

— Sua camisa. — Ele solicitou.

Sem hesitar, ela puxou o material, revelando um sutiã preto

rendado. Sua pele impecável era um ímã para a língua dele. Quando ele

mordeu o tendão que corria ao longo de seu ombro, arrepios se espalharam

por sua pele – ardente como fogo. Ele rastreou aqueles inchaços com a boca,

roçando a clavícula com os dentes. Dentro de si, a pressão aumentou, um

clímax acenando. Esfregando sua ereção entre as pernas dela, seus

pensamentos ficaram confusos.

Perdendo controle...

— Bane — gemendo, ela jogou a cabeça para trás, observando-o com

um olhar pesado. — Acho que estou perto. — Seus lábios estavam molhados

e um pouco inchados de seus beijos. Um rubor rosa coloria sua pele, seu

pulso acelerando cada vez mais rápido. Ela tinha as unhas embutidas nos

ombros dele, segurando sua presa no lugar.

A presa dela. Seu animal de estimação.

Seu escravo.

Idiota! Ela era uma princesa, uma realeza, uma rainha em formação, e
isso era uma traição a Meredith. Ele estaria com uma mulher, sim, mas não

essa.

Com um grunhido, Bane soltou Nola e puxou para trás. Um

passo. Dois. Dez. Ofegou, cada respiração superficial tão aguda quanto uma

adaga, seu sangue ardendo como fogo.

Lembrou-se do dia em que Aveline o convocou para Hivetta para

discutir o combate na Terra. Odiou se afastar da esposa sem terminar, mas

tinha feito isso facilmente. Aqui, agora, ele poderia se afastar de Nola para

preservar sua sanidade com a mesma facilidade. Ele poderia. Faria.

— Beije-me, Bane, por favor. — Nola se encostou na parede rochosa,

numa pose de tirar o fôlego, totalmente carnal, e apertou seus seios

empinados nas vestes de renda.

Sedução encarnada... Ele a queria perdida. Missão

cumprida. Magnificamente. A necessidade dela disparou, consumindo-

o. Mas ele iria embora. A qualquer momento agora...

Qualquer. Droga. Momento.

Ela deslizou as pontas dos dedos pelo plano da barriga e tocou o botão

da calça.

Rosnando, ele se adiantou. Para detê-la, provavelmente. Mas


provavelmente não. Ela deu um passo à frente também, encontrando-o no

meio, quase lançando seu corpo contra o dele, revigorando seu choque e

deleite. Nola pressionou os seios no peito dele – como ele sentia falta

deles. Quando ela pulou para enrolar as pernas em volta de sua cintura, ele

a levou ao chão. Seus lábios bateram juntos mais uma vez, suas línguas

duelando. O que ele sentiu...

Uma corrida louca de desejo... arrebatamento... regresso a casa?

— Eu quero você nas suas costas. — Bane murmurou, a admissão

escaldando sua garganta.

— Sim! Por favor!

Embora soubesse que estava errado, ele rolou e a prendeu com seu

peso. Esperou que Nola se arrependesse, mas ela parecia se divertir com seu

domínio, passando as mãos sobre ele.

Mulher magnífica. A beijou até ter roubado o fôlego, e ela precisava

dele para sobreviver. Quando apertou os cabelos em sua nuca, inclinando o

rosto para aprofundar o beijo mais do que antes, ela o recompensou,

chupando sua língua. Quando ele agarrou sua bunda, forçando seus quadris

a se erguerem e seu núcleo a conter seu comprimento, ela choramingou em

agradecimento, e Bane compreendeu uma verdade inegável. Ele estava a

segundos de despi-la e afundar dentro dela. Tomando a virgindade


dela. Amante voluntário da realeza.

O que aconteceria depois? Ela escolheria voltar para Zion?

Bane engoliu um rugido de negação. Nola poderia ser a mão de sua

vingança, ou uma ex-amante desprezada, mas não podia ser as duas

coisas. As rainhas eram notoriamente egoístas, gananciosas e possessivas de

suas propriedades, mais do que as bestas. Ele precisava dela focada. E ilesa.

Embora seu eixo palpitasse e Bane estivesse desesperado por se

libertar, sua paixão quase o queimando vivo, ele encontrou forças para cortar

o contato pela terceira vez e disparar para o outro lado da caverna, colocando

distância entre eles. Ao longo do caminho, ele viu um par de

luvas. Feminino, delicado. Requintado. O lembrou de Nola. Ele enfiou as

peças no bolso. Insensato. Ele devolveu as luvas de metal? Não.

— Bane? — Ela se levantou e tropeçou na direção dele. A maneira

como ela o olhou, como se simbolizasse todos os seus desejos secretos, fez

algo para ele. O fez querer coisas ridículas. Um novo começo. Um

relacionamento de longo prazo. Prazer em vez de vingança.

Obviamente, a excitação fazia os homens serem estúpidos.

Nola o surpreendeu hoje? Sim. Ela resistiu ao desejo de ordenar que

seu novo animal de estimação fizesse truques ridículos, enfrentou sua raiva
de frente, recusando-se a recuar e revelou um passado de partir o

coração. Sua inabalável lealdade a Vale era admirável, e sua paixão

desabitada o assombraria pelo resto de sua vida miserável. Mas ele disse a

verdade – um dia, em breve, ela deixaria de ser essa mulher incrível e se

tornaria um pesadelo.

Um pesadelo vivo que teria seu destino em suas mãos delicadas.

Embora, depois das coisas que sofreu, inferno, ela pode ser a primeira

e única rainha a manter sua humanidade. Ele duvidava, mas a mera

possibilidade o fazia suar. Se Nola permanecesse doce e apaixonada...

Ele passou a mão pelo rosto. Se ele a colocasse contra Aveline... como

uma pétala de flor tentando combater um espinho?

Não, não. Ela mudaria. Nenhuma pergunta.

— Você me beijou e não adoeci, — disse ela, impressionada — estou...

— O beijo foi um erro. — Ele limpou a boca com as costas da mão, na

esperança de se livrar de seu sabor delicioso. Precisando. Bom demais.

Ela se encolheu, parecendo chocada e ferida.

Algo em seu peito apertou.

O animal berrou comandos para terminar o que eles haviam


começado. Bane bateu os punhos contra as têmporas. Quieto!

— Não haverá mais beijos — ralhou. — Nada de toques. — Não podia

arriscar. Seu controle tinha muitas rachaduras. Ele não deveria a querer

tanto assim. E com certeza não deveria se permitir gostar dela.

— Mas por quê? — Um vinco se desenvolveu entre as sobrancelhas

franzidas, e ela franziu a testa.

Se ele resumisse seus pensamentos e preocupações em uma única

frase...

— Eu não quero isso, não quero você, não assim. — A compreensão,

amanheceu, embotando as estrelas em seus olhos escuros. — Então, não vai

acontecer.

Pálida e trêmula, ela desceu para pegar a blusa. Depois de vestir a

roupa, colocou os braços em volta do tronco, um gesto instintivo destinado

a proteger os órgãos vitais de danos. A culpa o queimava.

— A propósito. Obrigado por nada, — ela disse — eu não fiquei doente

durante o nosso beijo, só depois.

Ah! Um ataque defensivo. Ele a machucou, e agora ela atacou. Sua

culpa esquentou novamente.


— Você não parece doente. Você parece excitada.

Ela encolheu os ombros. Encolheu os ombros! A ação de uma rainha

indiferente que certamente não considerava Bane sua propriedade

exclusiva.

— Eu não gosto de você, então estou com nojo de mim mesma por te

dar uns amassos. Mas vou superar isso e encontrar o seu

substituto. Claramente, superei minha aflição de beijar e vomitar.

A raiva o levou um passo mais perto.

— Você pertence a mim. Qualquer homem que se atrever a gostar de

você morrerá pela minha mão. — Ele mataria selvagemente, e sem um pingo

de piedade.

A boca dela se abriu e fechou.

— Se eu pertenço a você, você pertence a mim.

Ele pertencia à vingança.

— Desculpe, mas você não é do meu tipo. — Verdade. Cruel para ser

gentil. — Eu sempre preferi mulheres guerreiras.

Embora uma sombra passasse por suas feições, ela sorriu com um

cálculo frio.
— Um dia, — disse, docemente batendo os cílios, — eu vou fazer você

engolir essas palavras. Até então, vejo que estamos em uma situação de

Troll-under-the-bridge 12 aqui. Significando, sim, você é o troll e eu não

quero nada com você. Agora seja um cordeiro e explique a coisa toda. Você

ia me dizer mais cedo, mas se distraiu com seu desejo insaciável por mim,

sem motivos...

Sua dispensa fácil o irritou. Antes, ela referiu-se a si mesma como uma

força emocional e mental. Agora, Bane tinha que concordar. Ela o queria,

mas ele a recusou, então Nola seguiu em frente, tão simples quanto isso.

Lutando para manter a compostura, ele apertou e soltou os punhos.

— Uma vez, houve uma rainha. Rainha Jayne, a Incandescente, mais

violenta e selvagem que Aveline. Após a sua morte, ela teve sua participação

marcante registrada pelos nossos livros de história. — Ele era um garoto na

época, e ela não reinou por muito tempo, mas Bane nunca havia esquecido

o carisma e a confiança dela. O impressionou. — Embora ela ainda não

tivesse conhecido seu companheiro, o sentiu, causando um vínculo. Um que

a impedia de estar com mais alguém. Ele também. Eles se encontraram e sua

união se tornou a mais forte de qualquer outra rainha e guerreiro.

12 Expressão negativa, proveniente de um conto norueguês que basicamente e resumidamente significa:

um troll que vive sob a ponte e ele está impedindo a três cabras de atravessar a ponte para chegar a pastos mais verdes.
O fato de Nola não ter adoecido com ele...

Ela tinha se ligado a ele?

Ela engasgou por um momento. — Você está dizendo que uma parte

de mim quer você, e somente você, e mais ninguém? Para sempre?

— Sim, mas nós dois sabemos que não sou seu companheiro. — Deve

haver outra explicação. — Embora... Você me sentiu assim que atingiu a

idade adulta.

— Como você sabe?

— De que outra forma? Também senti você.

— Oh. — Ela desviou o olhar, assegurando-lhe que tinha

acertado. Ele...

Um barulho estranho chamou sua atenção. O que foi aquilo? Quando

Nola abriu a boca para dizer mais, ele levantou o dedo indicador, pedindo

silêncio. Surpreendentemente, ela concordou.

Seus ouvidos tremeram. Aquele barulho...

Tick, Tick, Tick. Um relógio? Não. Tick, tick, tick. Um cronômetro, em

uma bomba.
O horror deu um tapa nele, o som de repente era tudo o que ele podia

ouvir. TICK, TICK, TICK. Porém ele sobreviveria a uma explosão enquanto

mantivesse o coração e a cabeça, Nola não.

Muito fraca, muito frágil. Não era à toa que sempre odiou essas

qualidades e nesse momento as odiava mais do que nunca. Não posso

perder Nola logo agora quando eu a encontrei.

Reflexos no ponto, ele abriu um portal para uma ilha que encontrara

no terceiro mês da guerra, quando seguia Zion.

O aroma de coco e sal flutuava na caverna, exótico para alguém como

Bane. O som de ondas batendo, pássaros cantando e insetos zumbindo

soou. Uma varredura rápida. Luz solar intensa, água cristalina, areias

brilhantes. Atrás da praia, uma selva coberta de mato. Ninguém espreitava

por perto – isso que ele poderia ver.

Rápido como um raio, Bane juntou seus óculos, a espada de Valor e os

fragmentos que compunham a armadura de Malaki. Estes talvez pudessem

ser usados como pontas de lança. Movendo-se mais rápido, ele pegou Nola

em seus braços.

— O que estamos... — Ela começou.

Mantendo-a perto, Bane lançou através da abertura. Embora


mantivesse sua forma humanoide, experimentou uma transformação parcial

novamente, asas rasgando músculos e pele para saltar de suas costas. Um

processo doloroso, mas altamente eficaz. Ele enrolou os apêndices em torno

de Nola para agir como um escudo e uma almofada.

Tick, tick - boom!

A bomba detonou. Uma rajada violenta de ar impetuoso soprou

através do portal aberto, pegou-os e jogou-os a uma grande

distância. Desembarcaram na praia, arremessando areia. Estilhaços o

atingiram, e detritos choveram sobre os dois.


Decodificando seu dragão interior!

Num MINUTO NOLA se deleitava com o prazer sublime, no outro ela

se revolvia em raiva e ressentimento quando Bane a acusou de escolhê-lo

inconscientemente, como um primeiro amante, para acasalar – e temia que

ele pudesse estar certo. No minuto seguinte, ela vacilou quando ele a pegou

e correu através de um portal, protegendo-a no abrigo de suas asas enquanto

uma bomba destruía sua casa.

Nola aterrissou primeiro, com um impacto nos pulmões. Então

duzentos e cinquenta quilos de um guerreiro bestial bateram em cima de seu

corpo excitado e necessitado. Estrelas borrifaram sua linha de visão e seus

pulmões se esvaziaram.

Bane grunhiu quando as chamas lamberam suas costas.

O portal se fechou a as chamas desapareceram. Mantendo um aperto

firme em uma espada manchada de sangue, ele rolou para o lado.

Ela cambaleou em uma posição ereta, estremecendo quando o


olhou. Cortes e sangue estavam por toda parte. A pele estava manchada de

fuligem, a asa quebrada, a metade inferior desfiada. Lesões que ele ganhou

salvando sua vida.

O calor inebriante se espalhou por ela, apenas para esfriar quando a

realização ocorreu. Eles chegaram perto de morrer. Apenas boom – eles

iriam para sempre.

Para nunca mais conhecer seu beijo ou seu toque. Nunca mais ouvir

sua voz rouca e rica em sexo, enquanto verbalmente brigavam. Para nunca

ver seu sorriso. O que eu não daria para ver seu sorriso. Seus olhos dourados

brilhariam?

Pare de sonhar com ele! Ele não importava. Ele não podia se

importar. Para Bane, Nola era apenas uma espada. Uma extensão de seu

ódio.

— Obrigada por me levar em segurança — disse entre respirações

ofegantes.

— Você está machucada?

— Surpreendentemente, estou bem. — Mas ele não estava. Enquanto

a luz do sol apenas aquecia sua pele clara, assava a dele. —Você?

— Bem — ecoou, sua voz tensa. Ele ficou em pé, xingando o tempo
todo, e mancou até uma área sombreada protegida por uma enorme lona

preta. Uma vez que as sombras o envolveram, suspirou de alívio.

Diria a ele para se curar ou não?

Não. Definitivamente. Não lhe daria mais ordens.

Com o coração batendo contra as costelas e a adrenalina queimando

em suas veias, ela estudou a nova localização. Além da lona...

— Uma ilha! — Ondas de cristais lambiam as areias brancas, deixando

uma camada de espuma do mar para trás. De um lado, pedregulhos e

penhascos se projetavam. Por outro, uma selva exuberante estava repleta de

árvores e folhagens. O cheiro de sal, coco e orquídeas saturava o ar

excessivamente quente, fazendo-a sentir como se inalasse umas férias a cada

respiração. O som da água ondulando e o chilrear dos pássaros acalmavam

seus nervos desgastados.

Espera. Ela fez uma careta. O que era aquilo? Um brilho de...

metal? Uau. Sim metal. Da fuselagem de um avião.

— Onde estamos? — Perguntou, olhando para Bane.

— Outra dimensão, às vezes acessada por humanos. — Ele posicionou

os óculos, escondendo os olhos – e as emoções – por trás das lentes

escuras. — Zion tem talento para encontrar dimensões perdidas em


qualquer mundo. Há muito tempo, eu o segui até aqui. — Enquanto ele

falava, rios vermelhos escorriam de seus cortes.

Um osso de suas costelas havia cortado sua pele e pendia em um

ângulo estranho. Ela estremeceu com simpatia, seu estômago revirando.

Ele olhou para si mesmo e disse:

— Diga-me para curar rapidamente, Nola.

— Lamento, mas não. Você não pode ter os dois lados, Bane. Você não

pode me odiar por ser realeza, então exigir que use minha posição para

ajudá-lo. Não se preocupe. Garotas adoram cicatrizes. De nada.

— Diga-me para curar. — Insistiu.

Argh!

— Se eu fizer, você tem que jurar que nunca mais reclamará da minha

realeza.

Um músculo pulsou sob seus olhos.

— Me remendo da maneira antiquada.

Tolo teimoso!

— Existe um kit de primeiros socorros escondido em algum lugar?


— Há sim. Está em um baú enterrado sob essa lona. Desenterre

enquanto procuro por bombas e outras armadilhas. Alguém encontrou meu

covil. Eles podem ter encontrado a ilha também.

Ela queria responder, mas uma cena estranha surgiu na superfície de

sua mente. Um pequeno filme que ela não conseguia desligar.

Nele, um casal dirigia um sedan de tamanho médio por uma estrada

abandonada, uma criança amarrada a um assento de carro atrás. O motorista

tinha cabelos pretos cortados rente, olhos escuros e pele pálida. A passageira

tinha cabelos loiros escuros, olhos castanhos e pele bronzeada. Variações de

ouro. Ouro Adwaewethiano.

Tão bonito... tão familiar. Meus pais, ela computou com um

suspiro. Uma única foto havia sobrevivido à sua infância caótica e

apresentava uma versão mais jovem dessas duas.

Isso era uma lembrança, então? Mas Nola não podia ter mais de um

ano de idade. Tão jovem. Jovem demais para lembrar disso.

Enquanto o casal discutia em voz baixa, Nola pegou frases

individuais. “Um monstro”. “Deve se esconder”. “Os outros”. E “Quando”.

Monstro – eles viram uma fera? Esconder, querida Nola?

De repente, um homem alto e musculoso, com cabelos claros e uma


tatuagem circular semelhante à de Bane apareceu na rua. Ele tinha usado

algum tipo de portal invisível ou se teletransportou? Um punho de espada

erguia-se acima de cada ombro, bainhas de couro cruzando seu torso. Um

Adwaewethiano e um combatente, mas como?

O pai de Nola puxou o volante e o veículo desviou, mal sentindo a falta

do outro mundo. Pneus guincharam e fumaça subiu. O carro capotou, uma

vez, duas vezes, de novo e de novo, o som de metal estalando assaltando

seus ouvidos.

Finalmente, o movimento cessou. O carro estava de cabeça para baixo,

com os cintos de segurança segurando todos no lugar. Nola não teve um

único arranhão, mas um pico de metal empalou o pescoço de seu pai. Sua

cabeça estava em um ângulo estranho e seus olhos o encaravam nada.

Soluçando, lutando pela liberdade, sua mãe olhava continuamente

para o para-brisa quebrado. Não, não o para-brisa, mas para as botas de

couro desgastadas que se aproximavam do veículo. Botas presas ao homem

que apareceu na estrada.

Isso não poderia ser real. Isso não pode ter acontecido. Essa não

poderia ser a maneira como eles morreram.

O homem agachou-se ao lado do passageiro, alcançou a abertura e

agarrou pelo braço a mãe que gritava.


— Não! — Nola gritou. — Deixe-a só. Não ouse...

— Nola?

A voz preocupada de Bane a arrancou do lodo escuro de seus

pensamentos. Ofegando, incapaz de recuperar o fôlego, ela piscou em

foco. As imagens em sua cabeça desapareceram, revelando Bane. Ele estava

agachado com as mãos em suas bochechas. Enquanto se perdera em uma

lembrança que não deveria ser possível ter guardado, ele enfrentou a luz do

sol para levá-la até a lona.

Lágrimas nadaram em seus olhos. Não posso lidar. Ainda não. Muita

coisa aconteceu hoje. Bane a salvou de um mercenário, a beijou sem causar

doenças, a rejeitou, a insultou e a salvou novamente. E ela não havia

processado nada disso!

Agora, ela não queria lidar com nada disso. Nola ergueu blocos em

torno de sua mente que talvez fossem reais, talvez fossem imaginados, mas

de qualquer maneira ela descobriria as respostas mais tarde. Na próxima vez

que estivesse sozinha, provavelmente. Ou nunca. Sim, nunca era bom. Seu

peito parecia como se alguém tivesse substituído seus órgãos por pedras. E

ela precisava parar de se apoiar no toque de Bane, precisava parar de

procurar conforto de um homem que a considerava como escória.

— O que há de errado, princesa? — Ele pressionou dois dedos contra


sua garganta, avaliando a rapidez de seu pulso. — Por vários minutos, você

se tornou névoa. Você estava aqui, mas não aqui.

— Névoa? Eu?

— Uma habilidade real, tenho certeza, única para você.

Então ele não sabia o que tinha acontecido com ela, ou se isso

aconteceria novamente.

Quebra-cabeças mais tarde, lembra?

— Esqueça a coisa da névoa. Você precisa checar a ilha e eu preciso

desenterrar um kit de primeiros socorros.

Parecendo perceber a intimidade de sua pose, ele a soltou e cambaleou

para uma posição.

— Grite se você precisar de mim. — Ele se afastou, seu mancar

realmente melhorando.

Ele ficou preso nas sombras e antes de desaparecer na selva, lançou um

olhar para ela. Tremores percorreram sua espinha e impulsos contraditórios

a atingiram, um após o outro. Ela queria que Bane corresse de volta. Queria

que ele ficasse fora e nunca mais voltasse. Ela queria tudo. Não queria nada.

Por que estou tão em conflito com esse homem? Nola lembrou o que
ele havia dito imediatamente após o beijo: prefiro mulheres guerreiras.

Tradução: Você, Nola Lee, nem se qualifica como forragem de banco

de palmadas13.

A mágoa que experimentou... Enquanto ele a achava carente, ela o

achava irresistível. Quando se beijaram, ela perdeu o controle. Sua doença

não tinha aparecido. Por um momento, Bane se tornou sua razão de

respirar. Mas ela nunca seria sua razão de respirar. A honra sempre

pertenceria à sua amada esposa.

Ciúmes de uma mulher morta?

Sério, um beijo e um pouco de apalpação leve, e Nola se transformou

em uma aspirante a atriz fatal sedenta de sexo?

O pensamento ressuscitou uma boa raiva de Bane.

Como ele ousa fazê-la almejá-lo assim!

Com um bufo, Nola foi procurar o kit de primeiros

socorros. Encontrou-o parcialmente enterrado ao lado de um tronco caído,

completo com trapos, ataduras, diferentes pomadas e roupas

13 Forragem de banco de palmadas: do inglês Bank Spank Bank expressão utilizada para imagens mentais

de mulheres atraentes que o cara imagina em seu “banco” (banco de palmadas) , usadas posteriormente para fins
masturbatórios.
limpas. Também presente, um conjunto de punhais. Nola atirou uma adaga

na panturrilha, escondida pelas calças.

Lutando e se esforçando, ela rolou uma grande pedra sob a lona, para

que Bane tivesse uma cadeira enquanto o medicava e o questionava. O

homem teimoso conversaria com ela, querendo ou não.

Quando ele finalmente voltou, Nola o bebeu. Lindo demais para o seu

próprio bem. Seu corpo ganhou vida, esquentando,

formigando, precisando; ele despertou um animal sexual dentro dela; talvez

porque ele parecesse enlouquecido de luxúria, com seu olhar grudado nela

enquanto se aproximava, um predador com a intenção de levar sua presa ao

chão.

Bane deu um mergulho na água. Seu cabelo estava ensopado, o sangue

e a sujeira foram lavados.

— Não há bombas ou armadilhas. — Disse, sua voz um chicote

duro. Alguns de seus ferimentos já estavam curados, sua costela quebrada

entre eles. Mas sangue fresco escorria de seu ombro. — Nenhum sinal de

visitantes recentes.

— Bom. Agora, sente-se. — Acenou para a rocha e piscou surpresa

quando ele obedeceu. Lembre-se de enunciar minhas palavras como uma

sugestão, não como uma ordem. — Eu vou consertar você e nos


conheceremos melhor. Se você pensa o pior de mim, deve me conhecer

primeiro, então eu vou começar.

Ele assentiu, mas permaneceu em silêncio. Sua extremidade

enlouquecida havia diminuído, como se a proximidade dela o tivesse

acalmado. As coisas estavam mudando entre eles.

Por onde começar?

— Algo específico que você gostaria de saber?

— Diga-me qualquer coisa, tudo. — A tensão emanava dele. — Acho

que estou... curioso sobre você.

Aí sim. As coisas definitivamente estavam mudando. Enquanto Nola

usava um pano para lavar o sangue e a sujeira das feridas de Bane, tentando

não babar sobre seus músculos, ela disse:

— Tenho 22 anos. E cozinho os melhores donuts que você irá provar.

Canto com uma voz que Vale chama de Taquara Rachada e meus

movimentos de dança são os de um anjo... drogado.

A mínima sugestão de um quase sorriso brincou em seus lábios,

encantando-a.

Nola queria tanto ver um sorriso verdadeiro. Um erro. Com apenas


uma pequena brincadeira, ele roubou seu juízo e lembrou a seu corpo todo

o prazer que sentia falta ao longo de sua vida... o prazer que ela podia ter

com ele.

Eu prefiro mulheres guerreiras.

Ele tinha um tipo, e Nola nunca se qualificaria. Ok. Ou seu gosto pelas

mulheres estava mudando?

Ela tremeu, mas continuou dizendo: — Só me formei no ensino médio

porque uma mãe adotiva me educava em casa quando eu ficava doente

demais para assistir às aulas. — Seu coração apertou dentro de seu peito. —

Sua vez. Me conte algo sobre você.

— Eu tive 22 anos, mais de vinte e dois séculos atrás.

— Sim, já estabelecemos que você é tão velho quanto o mundo e eu sou

um bebê. O que mais você fez?

Ele pensou por um minuto. — Em Adwaeweth, os homens são

removidos de suas casas quando crianças para começar a treinar para a

guerra. Aos dezesseis anos, nossos animais despertam e treinamos mais dez

anos, aprendendo a controlá-lo.

Que vida triste. Ele foi criado para a guerra, nunca sabendo como seria

seu futuro. Ela simpatizou. Suas doenças também lhe negaram seu senso de
escolha. — Olhe para isso. Nós temos algo em comum. Nós dois crescemos

sem pais, nossas vidas planejadas para nós.

— Suspeito que sua vida pode ter sido... mais difícil que a minha.

O que? O Sr. Odeio a Fraca e Frágil tinha acabado de reconhecer suas

provações e tribulações, talvez meio que admitindo que havia diferentes

tipos de força?

— Conte-me sobre sua esposa. — De joelhos, com o corpo situado entre

as pernas dele, aplicou uma pomada nas feridas de seu torso e ombro. —

Como você a conheceu?

Ele lançou seu olhar para algum lugar muito, muito longe. — Toda

Adwaewethian pertence a uma das cinco facções. A realeza, os guerreiros,

os criadores, os estudiosos e os trabalhadores. Meredith e eu éramos ambos

guerreiros, parte da mesma unidade militar. Por muitos anos, lutamos lado

a lado. Mais tarde, percebemos que nos amávamos.

— O que causou a percepção do amor? — Ela perguntou.

— Outra ligeira peculiaridade. Durante o treinamento, um soldado

derrubou Meredith e quebrou seu tornozelo. Ela se levantou e continuou a

lutar. Ele a derrubou novamente, mas novamente, ela se levantou. Eu não

conseguia desviar o olhar. Um espírito tão indomável e uma força inflexível


me humilharam. Quando ofereci ajuda, ela me deu um soco na cara.

Suas palavras deram um soco em Nola. Chutou. E esfaqueou. — Ela

parecia ser feroz, como a heroína de um romance. — Nola adorava

ler. Machos alfa e sexo escaldante, tudo o que faltava à sua própria vida.

Os olhos dele se arregalaram. — Foi abrasador. — Passado.

Ela estava meio que vivendo um romance agora, com Bane fazendo o

papel de herói.

— Se alguém quebrasse meu tornozelo, — ela disse, — a primeira coisa

que eu faria é chorar. E se você se oferecesse para me ajudar, eu

provavelmente te abraçaria.

— Eu não seria capaz de lhe oferecer ajuda, estaria muito ocupado

matando o responsável.

Coração, continue batendo.

Ele inclinou a cabeça. Aparentemente extasiado, estendeu a mão e

esfregou mechas do cabelo dela entre os dedos. — Conte-me mais sobre

você.

Sua curiosidade a encorajou, e ela decidiu se aprofundar um pouco

mais, revelar um pouco mais de si. Admitir coisas que impactaram a mulher
que ela se tornou. — Na maior parte da minha vida, fui jogada de uma casa

à outra. Inúmeros pais adotivos e irmãos reclamavam das minhas doenças,

acusando-me de fingir. Os professores me consideravam um incômodo, e os

colegas de classe zombavam de mim por tudo, da doença à pobreza. — Ela

passou as mãos pelos braços dele, buscando contato, conforto.

Bane endureceu, seus músculos duros como pedras. — Sinto muito

pelo passado que você sofreu, Nola. — Ela pensou que ele tenha

acrescentado: — E a força que ignorei. — Mas ele diminuiu o volume da voz,

então não teve certeza.

— Você está perdoado. — Disse ela, se recuperando.

— Você já se apaixonou, princesa? — Ele apertou o pulso dela e levou

uma de suas mãos ao seu peito, depois repetiu a ação com a outra. Seu

coração batia forte contra a palma da mão dela, cada batida enviando uma

onda de calor através de seu corpo.

— Ninguém jamais se equiparou ao homem dos sonhos. — Disse em

tom de brincadeira. No entanto, as palavras chegaram perto demais de casa,

pintando um alvo na alma dela.

— E quem é o homem dos seus sonhos?

Ela fez o gesto de lacrar os lábios e jogar fora a chave.


Os olhos dele se estreitaram quando ele voltou as mãos para o peito. —

Mantenha suas mãos onde elas estão. — Pediu ele, em seguida, soltou-a para

deslizar duas luvas de joias do bolso.

Ele prendeu a extremidade inferior aos seus pulsos e prendeu elos

finos de correntes ao redor de seus dedos. As pontas eram pontudas, como

garras.

Magnífica. Ela ficou maravilhada com as joias brilhantes no centro,

dizendo: — Eu não entendo. Você está me emprestando um par de luvas,

porque...?

Seus olhares se encontraram e o ar entre eles ferveu. Sempre fervia. Ele

parecia encantado e completamente surpreso. Um truque da luz?

Com voz rouca, ele disse:

— Estou lhe dando um par de luvas para agradecer por me consertar.

Mas ele guardou as joias antes que ela o remendasse. Antes mesmo da

explosão.

— Eu... de nada. Vou valorizar isso. Para sempre.

— Agora. Conte-me sobre ele. — Havia um comando escondido em

seu tom.
— Meu homem dos sonhos? — Ela perguntou, e Bane assentiu. Será

que ela diria que ele era o homem dos seus sonhos? Não, obrigada. Então,

decidiu descrever o homem que esperava encontrar. — Ele não é um garoto

bonito que nunca conheceu a dor. Ele passou por provações, então aprecia

as provações dos outros. Ele é alto e bonito. Amável e gentil. Todos os

atributos. Mas, o mais importante, ele absolutamente, com certeza, deve ter

um enorme...

Com a sobrancelha arqueada em intriga, Bane se inclinou para mais

perto dela e disse: — Massa muscular? Lista de mortos? Conta bancária?

— Um pau enorme, é claro.

Quando sua própria língua pareceu estrangulá-lo, ela lutou com um

sorriso e falhou. É bom saber que poderia chocar o bruto estoico de alguma

forma.

Ele parou abruptamente, o olhar na sua boca, suas feições despojadas

de qualquer calma.

— Seu sorriso. — Ele resmungou.

Ela engoliu em seco, tremores percorrendo sua espinha.

— Sim? Que tem isso?


Ele lambeu os lábios. — Quero provar.
O que suas cicatrizes revelam

BANE BATALHOU contra um tesão furioso.

Novamente. Mas, então, “furioso” era uma condição semipermanente

sempre que Nola se aproximava.

Ela tinha um sorriso tão brilhante que poderia ser um farol na noite

mais escura, um coração mais deslumbrante que qualquer diamante e um

passado mais trágico que o dele.

Ele havia julgado muito mal essa mulher, e seu tratamento abismal a

ela o assombraria para sempre. A culpa o comeria eternamente..., mas nada

disso aniquilou seus desejos. Não, o mal-estar se estabeleceu e fez as honras.

Durante toda a sua vida, Bane cuidou de seus próprios ferimentos. Ele

e Meredith haviam concordado: apenas os fracos exigiam tais “mimos”.

Nola se preocupou com e... ele gostou. Gostou o suficiente para esperar sua

próxima lesão.
A pura loucura da situação o apavorou.

Ele a queria muito. A fera a queria demais. Mas ela ansiava por um

homem gentil, algo que Bane nunca poderia ser. Não importava que ele já

tenha assim com Meredith, e com as amantes que desfrutou antes de

conhecer sua esposa.

As ações de Aveline o mudaram e o endureceram. E, no entanto, Nola

o fez querer tentar. Especialmente quando seus lábios angelicais de botão de

rosa proferiram a palavra pau.

Suas pálpebras pareciam pesar cem libras, mergulhando baixo quando

ela disse:

— Você quer provar meu sorriso? Que pena, tão triste.

— Uma negação? Se enfiasse minha mão na sua calcinha, estaria

molhada. Encharcada.

Um rubor aqueceu suas bochechas.

— E daí?

— Então deveríamos descobrir se estou certo. — Antes que percebesse

que havia se movido, usou uma mão para persuadir Nola a se aproximar e

a outra para prender os dois braços atrás das costas. Ela ficou de joelhos, os
seios esmagados no peito dele. Do jeito que Bane gostava. A sensação dela

contra ele, toda suavidade e calor, o cheiro de sua pele, toda doçura e deleite

perverso... ele não tinha defesas.

Com a mão livre, suavemente alisou uma mecha de cabelo da bochecha

dela. A cor escura dos fios – tão diferente de um Adwaewethiano típico – o

hipnotizou.

Nola se inclinou para a carícia, agarrando seu olhar. Seus lábios se

separaram, libertando um gemido.

A fera desapareceu ao fundo quando Nola permeava seus sentidos,

sua vulnerabilidade como uma chamada de acasalamento. Exceto que a

música tinha uma frequência ressonante forte o suficiente para quebrar o

vidro – e qualquer resistência que ele tivesse construído. Uma necessidade

feroz de entrar nela invadiu todos os seus pensamentos.

— Seu nariz está queimado. — Mas não com bolhas. Talvez Aveline

tivesse criado seus superanimais, finalmente, capazes de tolerar o sol.

Ele inclinou a cabeça e cheirou a coluna do pescoço de Nola, e teve que

cortar um gemido. O sol tinha perfumado sua pele e cabelos, o calor

pulsando em seu corpo.

Ele ficou mais duro. — Você não é sensível à luz solar.


— Eu não sou, embora me queime facilmente.

Aí sim. Aveline tinha seus superanimais. Pena que ela os perderia para

a nova rainha.

— Essa é uma característica Adwaewethiana.

— Bom saber. Mas acredito que tínhamos outros assuntos de negócios

para discutir?

Ela procura por prazer? Resista!

Droga! Ela era tentação feita de carne, um fruto proibido, e ele nunca

foi tão voraz.

— Eu quero deslizar minha mão em sua calcinha, mas não vou. —

Disse ele, rezando para ter forças para seguir adiante. O que queria não era

o que os dois precisavam. Em vez disso, eles permaneceriam focados e

concluiriam suas tarefas.

Mate Zion, ganhar a varinha. Treinar Nola em legítima defesa. Salvar

Vale. Realizar o Rito de Sangue de Nola. Vencer a All Wars.

Ele pensou que havia encontrado uma maneira de salvar sua irmã, mas

precisava da cooperação dela.

Decepção brilhou sobre as feições de Nola. Então ela se reuniu,


inclinando-se para ele, pressionando suas novas garras nos peitorais dele.

O desejo aguçou dentro dele. Ela colocou a boca sobre a orelha dele e

sussurrou:

— Alguém está completamente ardente e sem ação, hein? — Quando

ela se afastou, beliscou seu lóbulo da orelha. Então, observou abaixo de seu

abdômen e seu olhar permaneceu fixo na ereção que estrangulava a

braguilha de suas calças. Outro rubor de paixão escuro derramou sobre suas

bochechas. — Ou você quer me ouvir implorar?

Resista ao seu fascínio. Ignore o desafio de suas palavras. Bane

arrancou suas garras de metal da pele dele – uma farsa – levantou-se e deu

um passo para trás.

— Não devemos fazer isso.

A decepção retornou, as estrelas em seus olhos se apagaram.

— Quem é o fraco agora? — Ela provocou, e ficou de pé.

Resista! Ignore! Mas caramba, ela brincava com fogo.

— Não quero estar com alguém que conheço. Alguém que vou ver de

novo. Eu quero alguém que eu possa usar, que me use por sua

vez. Facilmente esquecido. Um relacionamento não é para mim. Se eu fosse


cuidar de você e te perder... não. Não vou sofrer outra perda. Vamos ficar

juntos como... amigos temporários. Você manterá meu animal o mais calmo

possível, e eu vou mantê-la saudável. Nada mais.

Agora a descarga sumiu.

— Mensagem recebida. Nada de sexo. Entendi. Então. Conte-me sobre

a All Wars. Por favor. — Acrescentou ela, reunindo os suprimentos médicos

e devolvendo o embrulho ao baú que ele deixara aqui ontem. — Os

combatentes passam o dia caçando e se matando?

— Ou montando armadilhas. Uma vez por mês, participamos de uma

assembleia de combatentes.

— Obrigatória, eu presumo.

— Sim. Obriga os caminhantes a se esconder e acelerar a

guerra. Falando da assembleia, a próxima acontece em duas semanas e meia.

— O tempo passou sem pausa ou piedade, seu prazo auto imposto se

aproximando rapidamente. O fim da guerra, o fim de Aveline.

O fim de sua vida.

Não estou preparado para morrer. Há muito o que fazer... coisas que

estou desesperado para desfrutar com Nola.


Suas mãos se fecharam em punhos. Concentre-se. Sua irmã estaria

pronta para a assembleia?

Os músculos de seus ombros se enredaram com a tensão, e ele sabia

que ela se perguntava a mesma coisa. Sem ajuda, Vale certamente seria

morta de uma maneira horrível. Um fato que Bane poderia usar para

avançar sua agenda.

Terrível dele? Sim. Ele se importava? Nem um pouco.

— Eu tenho uma ideia. — Disse. — Se Vale tiver a Marca da Desgraça,

ela pode sair da guerra viva.

— Marca da desgraça?

— Um símbolo será gravado na testa dela, dizendo aos outros

combatentes para deixá-la em paz. Geralmente, os desertores são devolvidos

ao seu soberano para punição. Ela simplesmente ficaria aqui.

Os ombros de Nola rolaram. — Eu a conheço bem. Ela vai recusar. Vai

querer vencer a guerra para proteger o mundo dos invasores.

— Então você pode pedir que eu a guarde na assembleia. Em todas

as assembleias — Disse ele, preparando-se para negociar. — No entanto,

como Aveline aprenderá em breve, há uma diferença entre o que um

guerreiro disposto fará para alcançar um objetivo, contra um


escravizado. Um permite que sua irmã se machuque, enquanto cumpre a

ordem de mantê-la viva. O outro garante que ela saia ilesa. Adivinhe qual é

qual.

Ela lambeu os lábios e, caramba, ele não conseguia parar de assistir à

ação com seu olhar.

— O que você quer em troca de sua cooperação?

— Protegerei Vale dos danos e da morte em todas as Assembleias,

exceto a última. A não ser que sejamos os dois combatentes finais, não vou

atacá-la, mesmo que ela atinja em mim. — A fera, no entanto... — Em troca,

você concordará em completar o Rito de Sangue quando necessário.

****** ******

NOLA ABRIU E FECHOU A BOCA, sons sufocados deixando-

a. Deveria aceitar imediatamente, para que ele não mudasse de ideia? Ou

deveria recusar e tentar esperar algo melhor? Havia algo melhor? Deveria

lhe dar um tapa por ser tão teimoso, sexy e irritante ao mesmo tempo?

A terceira opção teve mais apelo.


Ele passou de olhá-la como se planejasse devorá-la o mais cedo

possível, alegando que não a beijaria novamente, para acariciá-la como se ela

fosse a pessoa mais preciosa em sua vida. Em um momento, ele incitou a dor

mais doce e úmida entre as suas pernas, no outro ele despertou frustração,

mágoa e raiva.

A raiva não durou muito. O homem resistiu à sua tentativa de sedução

por razões legítimas, e ela não podia culpá-lo por isso. Ele não estava

procurando um relacionamento; ela estava. Bane sofreu bastante perda em

sua vida; Nola também, e ela uma vez compartilhou sua perspectiva. Agora

discordava. Desligar para evitar dor nunca realmente a impediu, só fazia

você sentir-se infeliz antes que a dor atingisse.

Nola até desistiu de romance... sem saber que um homem estava

congelado, esperando por ela. Se não tivesse se arrastado para fora do leito

doente e entrado naquele avião, eles talvez nunca tivessem se conhecido.

A vida fez o resto, bastou todo o seu esforço ou apenas a metade

dele. Embora ela e Vale tivessem planejado todas as eventualidades durante

as férias, elas se perderam e quase morreram. Nola estava pronta para viver!

— Bem, princesa? — Bane revelou um sorriso glorioso e sardônico. Ele

sabia que a tinha em xeque. — Se nada mais, a barganha lhe dá tempo para

descobrir um plano melhor.


Finalmente! Um sorriso de verdade! Isso a deixou de pernas bambas.

Concentre-se. Se Vale de alguma forma ganhar a All Wars, Aveline

pode vir à Terra para executá-la. O que aconteceria com os híbridos se seus

animais nunca acordassem? Eles sabiam que eram diferentes de outros

humanos? Sentiam que havia algo errado com eles? Estavam doentes, como

ela?

— Bem. Concordo com seus termos, se Vale também concordar. —

Disse ela, um estalo familiar de energia a picando. Ela franziu a testa e

sussurrou: — Você sente isso?

Chamas literais estalaram em seus olhos dourados. Ele ficou de pé e

desembainhou a espada, os tendões do pescoço puxando tensos. Essa tensão

fluiu para baixo de seus braços, terminando em seus punhos. Suas unhas

enegreceram, depois se alongaram em garras mais longas e mais afiadas que

as dela. Seus músculos se expandiram, sem dúvida inundados de

adrenalina.

Linhas de ouro derretido bifurcavam sua pele – não, não ouro líquido,

mas lava de verdade. Tinha que ser. O calor fluía dele, seu corpo como uma

fornalha. Além disso, ela o viu soprando fogo pela boca, uma imagem

marcada em sua mente.

Nola ficou maravilhada com ele. Um super-herói da vida real.


Antes de sua viagem à Rússia, ela teria se encolhido diante de um

homem como esse. Que fúria! Aqui, agora, o guerreiro bestial a

encantava. Ele é meu para comandar.

Não, não, não. Lado escuro estúpido! Não sou dona de ninguém. Ele é

meu para admirar.

— Um combatente acabou de chegar na ilha. — Ele examinou a

praia. — Fique escondida aqui. Vou lidar com a ameaça.

O sangue dela fez aquela coisa de congelar. E se Zion tivesse vindo

aqui procurar por ela, pretendendo salvá-la?

— Todo combatente participou do mesmo seminário 'como colocar a

pequena mulher em seu lugar'? Não importa. — As palavras a deixaram com

pressa. — Concordo com seus termos. Com uma – duas exceções. Você deve

concordar que podemos revisar nossa negociação a qualquer momento e,

por enquanto, você não pode matar Zion ou Knox até o final também.

Lentamente, com precisão letal, Bane virou-se para encará-la. Aqueles

olhos cheios de chamas prometiam dor e morte, seu corpo vibrando com

agressão.

— Você me faz querer matar Zion mais rápido.

Todas as dúvidas fugiram. Ele estava com ciúmes. Sorrindo, ela torceu
uma mecha de cabelo e a balançou de um lado para o outro. Ele pode não

querer gostar ou cuidar dela, mas já gostava.

— O quê? — Exigiu, encarando-a com punhais. Então, sons de

respingos foram registrados e sua atenção voltou-se para a água. Rosnados

o deixaram. — Nosso visitante é o Union. Ele lança ilusões, então você não

pode confiar em nada que vê. Ele usa um cinto que dobra sua força,

permitindo que quebre vários ossos do corpo com um único soco. Você não

deve se aproximar dele. — Dando um pequeno olhar em direção à selva,

disse: — Nisso, não há razão suficiente para me desobedecer.

Nola cavou em seus calcanhares, dizendo:

— Se ele lança ilusões, como você saberá o que é real ou não?

Ele bateu os óculos empoleirados em cima de sua cabeça. — Com estes

posso ver através de qualquer coisa. Agora vá. Esconda-se. E Nola? Se eu me

transformar na besta, você deve se teletransportar desta ilha. Eu vou te

encontrar, juro.

Se fosse forte como a esposa dele, ele poderia ter pedido que ela lutasse

ao seu lado. Eles poderiam ter se protegido! Mas Nola não era esse tipo de

mulher guerreira, e nunca se precipitou em algo, especialmente com o

perigo.
Esses caras foram treinados para matar. Caramba, eles viviam para

matar. Suas habilidades giravam em torno de um curso de autodefesa de três

semanas. Ela seria um obstáculo, talvez até uma distração, colocando Bane

em um perigo ainda maior. Por outro lado, caso se escondesse, ele pensaria

nela como fraca novamente.

Isso importava? Tentar lutar contra um assassino treinado seria o

epítome do estúpido. Saiba quando segurá-los, saiba quando dobrá-

los. Viva para lutar outro dia.

— Por favor, tenha cuidado, Bane. Se alguém vai te machucar, prefiro

que seja eu. — Nola se recusou a olhar em sua direção; não queria saber que

emoção brilhava em sua expressão. Ela também não quis ouvir a resposta

dele.

Nola correu para uma grossa cama de folhagem tão rápido quanto seus

pés a carregariam, e agachou-se atrás de um grupo de membros retorcidos,

apalpando a adaga embainhada em seu tornozelo. Toda vez que um tremor

a atravessava, as folhas e galhos ao seu redor batiam palmas.

Menos de uma hora atrás, Bane estava com cortes por todo o corpo. Ele

havia perdido vários litros de sangue. Se ele se machucasse...

A umidade em sua boca secou. Por que ela não ordenou que ele se

curasse? Por que usou os ferimentos dele para fazer uma observação?
Os pensamentos fugiram quando um homem – Union – emergiu da

água e caminhou pela costa, onde sacudiu sua juba vermelha brilhante. Ele

estava sem camisa, gotas de água escorrendo pela pele clara de

mármore. Sua massa muscular... era estranha. Parecia um fisiculturista que

fora mordido por um esteroide radioativo. O cara era inchado. Ele usava

calça de couro e botas de combate. Uma grossa corrente de metal envolvia

sua cintura. O cinto de força dupla? Algemas de couro espetado

circundavam seus pulsos, e espadas se erguiam sobre seus ombros.

O homem estava pronto para a guerra.

Bane foi até a beira da lona e passou os óculos sobre os olhos. Quanto

sua sensibilidade à luz o enfraqueceria?

— Você cometeu um erro, vindo aqui. — Ele disse.

O outro homem reparou nele e sorriu. Abriu os braços, todo “vêm e

me pega”.

— Você deveria se render e me deixar levar sua cabeça. Quanto mais

você brigar, mais eu vou machucá-lo. — Ele meneou os dedos enquanto

falava. Movimentos graciosos. Movimentos estranhos. Então, escorpiões do

tamanho de gatos rastejaram da areia, cada um focado em Bane.

Nola engoliu um grito de terror. Apenas uma ilusão, apenas uma


ilusão. Certo?

Deveria ser. Seu deus dourado bocejou, como se estivesse

entediado. — Espero que tenha gostado do seu dia, Union, pois foi o seu

último.
Como ser seu bebê durão

UNION DEU UM GRITO DE GUERRA ensurdecedor, correndo toda

a praia até Bane. Ao longo do caminho, ele desembainhou sua

espada. Graças a seus óculos, sabia que Union havia criado uma ilusão de

escorpiões assassinos. Assustador, mas inofensivo. Ainda. O foco

importava. Ele tentou tirar Nola de sua mente, uma tarefa impossível.

Matar Union, voltar para Nola. Protegê-la, custe o que custar.

Qualquer que fosse o custo. Sim. Uma necessidade frenética de ficar

entre o mundo e sua mulher – não, não, sua princesa – o consumia. A fúria

subiu com nova força, suor escorrendo sobre sua pele. Se alguma coisa

acontecesse com a atual “ruína” de sua existência, ele não descansaria até

que todos pagassem.

Apenas alguns minutos atrás, havia confessado a verdade a Nola: ele

queria uma libertação sem um relacionamento. Mas mentiu para ela

também. Toda vez que conversavam, ele passava a gostar e admirá-la um


pouco mais, e a desejava muito mais. Parte dele já... se importava com ela.

Não posso perdê-la. Hoje não. Arranque o coração de Union, e tudo

ficará bem.

Tendo pesquisado os combatentes, Bane sabia que esse homem em

particular gostava de ferir e quebrar o sexo feminino. Um crime que Bane

não pôde suportar.

Nola, na mira deste bastardo. Minha futura rainha em perigo...

Mais adrenalina fortaleceu seus músculos com força. Ao mesmo

tempo, raios de sol o queimaram, permitindo que a força se esvaísse. Embora

pudesse respirar fogo e atravessar chamas literais, ele sempre derreteria à

luz do dia, aqueles raios solares severos causavam algum tipo de reação

química profundamente dentro dele. Não importa. Ele treinou para isso.

Union também atravessou a praia e eles se encontraram no meio,

batendo juntos. Em uníssono, brandiram suas

espadas. Clang. Whoosh. Clang. Metal contra metal com força esmagadora,

as vibrações subindo pelos braços, quebrando ossos; aquelas rachaduras

transformaram seus ossos em diapasões, desenterrando cada vez mais

fúria. A ferida no ombro de Bane se abriu e aumentou, rasgando a carne e os

músculos.
Rugidos ecoaram dentro de sua cabeça, altos e longos. O animal queria

sangue, queria beber cada gota e se banquetear nos restos de Union. Em

breve...

Nunca! Contudo quanto mais longe ele ficava de Nola, mais tinha que

lutar para manter o controle. Se ele soltasse a fera, o cinto seria destruído.

Devo ter esse cinto! Depois de vencer a guerra, Nola seria capaz de

ativar qualquer arma que ele retivesse. Ela poderia usar o cinto e dobrar sua

força no dia em que encontrasse Aveline.

Clang, whoosh, clang. Bane pulou, girou, cortou e bloqueou, depois

bloqueou novamente, grunhidos intermitentes, gemidos e rosnados

apimentando o silêncio. Nunca lutou contra Union individualmente. Agora

podia dizer com a máxima certeza que o cinto fazia seu trabalho. Toda vez

que suas espadas soavam, uma multidão de danos ocorria no corpo de

Bane. Músculos rasgaram e mais ossos quebraram.

O tempo todo, essas ilusões se aproximavam. Ele se perguntou se teria

sido tolo por descartar as criaturas. E se eles pudessem causar danos

genuínos?

Não se sabia muito sobre a capacidade de Union, seu povo era

relativamente novo na aliança.


Em meio a um turbilhão de violência, Bane alternou entre balançar a

espada e passar com as garras. Durante um golpe, Union bloqueou e torceu

a lâmina para cortar três das pontas dos dedos, cortando uma artéria no

processo. Fluxos de carmesim jorraram em uma corrida contínua, levando a

fera a novos níveis de malícia.

Dor é simplesmente fraqueza deixando meu corpo. A dor é

simplesmente...

Dane-se. Dor é uma cadela.

Considerando que ainda tinha que se curar completamente da

explosão, ele deveria ter agarrado Nola e fugido, deixando Union em seu

encalço. Mas decidiu ganhar o cinto agora, não mais tarde. Ao esperar,

arriscaria perdê-lo para outro. E sim, havia a chance de ele também mostrar

a Nola sua habilidade de batalha e força incomparável, provando que

poderia protegê-la melhor que Zion. Ou qualquer homem.

Respirando fundo, Bane conduziu Union em direção a um aglomerado

de árvores. Sombras se derramaram sobre ele, oferecendo um certo alívio

mas os escorpiões o seguiram, aproximando-se cada vez mais.

Union evitou o próximo golpe e girou, seu olhar disparando sobre a

ilha.
— Eu sinto uma mulher. Saborosa. Aquela que nos visitou na prisão

de gelo. — Uma intriga sombria irradiava dele, misturando-se com uma

expectativa ainda mais sombria. — Quando eu terminar com você...

Não reaja. Na batalha, a emoção faz você ser estúpido.

— Agora você vai morrer. — Disse Bane, sua voz tão áspera que as

palavras roçaram seus ouvidos. Ele se lançou, estendendo a espada.

Union esperava a ação e bloqueou, apenas para fazer uma pausa e ficar

boquiaberto quando as asas explodiram nas costas de Bane.

Com uma batida poderosa, seu corpo inteiro levantou do chão. Ele

chutou uma perna, pregando a parte de baixo do queixo de Union. Ao entrar

em contato, a lâmina presa à ponta de sua bota ejetou, cortando pele,

músculo e língua.

Rios vermelhos escorriam dos cantos da boca de Union. Com os olhos

arregalados, ele tropeçou para trás. Como Bane, como todos os combatentes,

ele treinou para lutar, independentemente da extensão de uma lesão, para

não correr. Ele até bloqueou o próximo ataque de Bane.

Os escorpiões – malditos – chegaram finalmente a Bane, subindo pelas

pernas. Mordendo suas pernas. Dor leve, e tremores secundários perversos.

Ele amaldiçoou quando sua visão se nublou. Droga! A ilusão tinha um


dano verdadeiro, o feria. A fraqueza invadiu seus membros e ele cambaleou.

Se o machucassem seriamente, o que fariam com Nola?

Union riu. Quando Bane se sacudiu e jogou os escorpiões fora de seu

corpo, o bastardo mergulhou uma lâmina em sua ferida no ombro. A agonia

foi abrasadora. Pontos pretos surgiram em sua visão. O animal rugiu mais

alto, espalhando seus pensamentos. Todos menos um.

Não se transforme, não se atreva a se transformar.

Outro pensamento alinhou. Nola não havia se teletransportado. Seu

perfume não tinha desaparecido. Por que ele a encorajou a ficar parada, a

menos que as coisas piorassem? As coisas sempre ficavam ruins.

— Vá! — Ele gritou para ela, mesmo sabendo que se transformaria no

momento em que ela obedecesse. — Agora!

Droga! Ele não ouviu nenhum som revelador para sinalizar sua

partida. Nada de ar, nada de roupas. A fúria se transformou em raiva,

cortando através de seu calmo verniz.

Como qualquer bom soldado, Union usou a distração de Bane a seu

favor, plantando um pé na coxa, dando um passo à frente e envolvendo uma

perna em volta do pescoço. Pretendendo arrancar sua cabeça? Grande

erro. Enorme.
Mesmo quando o macho batia em seu rosto, Bane não fez nenhum

movimento para se defender. Mantendo um aperto firme nas pernas de

Union, Bane propositadamente recuou e rolou, virando o oponente. O

homem esperava a ação e atacou com a velocidade da luz, esfaqueou-o na

lateral – um contra-ataque que Bane antecipou.

Ele suportou o mais novo surto de dor e perda de sangue com um

sorriso frio, apenas para executar seu próximo ataque. Ao se desdobrar, ele

cortou com a espada sempre para cima, passando da ponta da virilha de

Union até o esterno. A fatia rasa não cortou um órgão ou osso; apenas fez

um corte fino como papel em sua carne, como esperado.

O sorriso de Bane aumentou. A ferida nunca se curaria. E, com cada

ação que o guerreiro realizasse, o corte se aprofundaria. Bem-vindo ao

inferno.

Union berrou e pulou, o sangue escorrendo do corte. Ele deve ter

perdido a capacidade de alimentar sua ilusão; os escorpiões desapareceram.

Para forçar o homem a se mover, Bane balançou sua espada

descontroladamente. Union mergulhou na areia e...

Não, não, não Union, mas sua ilusão. O verdadeiro Union se tornara

invisível – para qualquer pessoa, exceto Bane e seus óculos – e agora corria

em direção ao oceano, esperando nadar para longe.


Ele pensava em escapar? Lutar novamente outro dia? Ameaçar Nola

outro dia?

Quando o controle de Bane se desintegrou, o animal rugiu e arranhou,

mais determinado do que nunca a se libertar. Em breve, ele teria sucesso.

Bane jogou a espada e os óculos de lado. Na hora certa. A

transformação já havia começado...

****** ******

NOLA ASSISTIU A brutal batalha enquanto passava por uma luta

própria. O oponente dela? O medo.

Ela temia pela vida de Bane tanto quanto por seu futuro. Bane

admitindo ou não, se importava com ela... ainda. Pois ela possuía um grande

segredo – a Nola Sombria.

No instante em que soubesse sobre isso, ele voltaria a odiar Nola, certo

de que ela se transformaria em um monstro de sangue frio. Ele a consideraria

um investimento muito arriscado.

Para ele, sou uma péssima aposta.


Seu estômago revirou quando Bane se transformou. Ossos se

alongaram e escamas verdes cresceram sobre sua carne. Os dentes dele...

Oh, doce misericórdia. Ele se transformou em um pesadelo do tipo

Godzilla com asas, e sua mente ameaçou desligar. Em alienígenas, ela podia

acreditar. Habilidades sobrenaturais também. Mas isso...

Saber que ele poderia se transformar era uma coisa. Na verdade,

testemunhar isso era outra coisa completamente.

Ela já tinha visto as asas dele antes, é claro, mas nunca a fera completa,

e ela não sabia se deveria ficar impressionada ou horrorizada com elas.

Fumaça ondulava nas narinas dele. Bane se afastou de Union, que

estava no lugar, desafiando-o a atacar, e concentrou sua atenção na água. Por

que virar as costas para um inimigo? Tão tolo!

A fera pulverizou uma corrente de fogo sobre a superfície do

oceano. Os gritos de um homem perfuravam o ar com cheiro de sal e

sangue. Nola franziu a testa. A fera se lançou, arrebatando... O verdadeiro

Union.

O Union em pé na praia era uma ilusão, assim como aqueles escorpiões

gigantes. O real se debateu, tentando escapar das garras da morte da

fera. Depois de sacudir o macho com força suficiente para estalar o pescoço,
o animal soltou sua recompensa e se encolheu, com dor óbvia. Ele

compartilhava os ferimentos de Bane ou tinha seus próprios? Ou ambos?

Union se arrastou para longe, exercendo tanta energia que uma veia

apareceu em sua testa. Apesar do tamanho gigantesco da fera, ele se mostrou

surpreendentemente rápido. Em um piscar de olhos, ele golpeou o tronco de

Union, arrancando sua caixa torácica.

Enquanto espiava através da folhagem que a protegia dos lutadores,

um suspiro horrorizado escapou. O menor barulho. E, no entanto, o monstro

virou a cabeça, seus grandes olhos negros zerando onde ela estava

agachada. Olhos insondáveis, profundos, sem fim, aterrorizantes, sem

nenhum indício da paixão de Bane, apenas sua fúria. O sangue espirrava no

rosto da criatura e as vísceras pendiam de seus dentes afiados.

Segurando o olhar dela, ele soprou outra corrente de fogo, incendiando

Union. Um grito se formou no fundo de sua garganta. Union estava morto,

totalmente eviscerado.

Eu sou claramente a próxima no menu.

Teletransporte. Teletransporte agora!

A criatura virou todo o corpo na direção dela, preparando-se para

atacar. Ela recuou, tropeçando na raiz de uma árvore. Com o coração


galopando, caiu de bunda. Frenética, Nola se levantou e

correu. Rápido. Mais rápido. Um movimento covarde? Provavelmente. Mas

nenhuma pessoa sã ficaria por aqui para desafiar isso... aquela coisa.

Ela quebrou seu cérebro imaginando um lugar para ir. De volta a

Zion? De jeito nenhum. Alguém já havia encontrado o esconderijo. Tentar se

teletransportar para Vale?

Claro que não. Se o animal a seguisse...

Que tal ir para casa?

Casa! Sim! Enquanto corria, imaginou a pequena casa de dois quartos

que ela e Vale alugaram em Strawberry Valley, Oklahoma, a capital mundial

de tornados e inundações. Ela adorava os móveis chiques e gastos da casa,

apesar de serem muito mais gastos que chiques. Elas gastaram todo o seu

dinheiro extra em contas, o diploma de Vale e a viagem à Rússia, então o

design de interiores ficou em segundo plano.

Segundos se passaram. Nola permaneceu na ilha. Porcaria! Seu pânico

estúpido deve ter sufocado sua capacidade.

A fera a perseguiu, a ilha inteira tremendo no processo. Árvores

caíram atrás dela. A bile revirou o estômago, o pânico ameaçando dar lugar

à histeria.
Acelerando o passo, ela ousou olhar por cima do ombro. Tão

perto. Muito perto! O assassinato brilhava no abismo sem fim de seus olhos.

Quando voltou a olhar para a frente, a fera estava quase em cima dela,

o vapor das narinas queimando sua blusa e empolando a pele. Quando ela

choramingou, ele bateu o focinho no meio das costas dela, levantando-a do

chão, fazendo seu corpo voar pelo ar.

Um tronco de árvore parou seu voo, sua casca como lâminas de

barbear, esfolando uma camada de carne quando ela deslizou no chão.

A dor reverberou ao longo de suas terminações nervosas, seu mundo

escureceu. Pisque, pisque, pisque. Quando a visão voltou, ela percebeu que

o animal pairava sobre ela. Ele baixou o rosto para o dela e pressionou um

pé enorme contra sua coxa, prendendo-a no lugar. As garras dele cortaram

suas calças, sua pele e se incorporaram em seus músculos. Sangue quente

escorria dos ferimentos, acumulando-se na sujeira.

Um novo nó cresceu em sua garganta, este farpado, garantindo que

apenas um miado emergisse.

Inalando e bufando, o animal a encarava com malícia e agressão, um

olhar que ela se acostumou a ver de Bane. Mas, com o nariz do demônio a

apenas alguns centímetros do dela, a respiração dele era como fogo,

queimando o seu queixo. Cartilagem salpicou seu rosto e pingou de seus


dentes – dentes que ele exibia em toda a sua horrível glória quando afastou

os lábios. Em seu ombro, entre um grupo de escamas, havia um corte

sangrento do mesmo tamanho que o de Bane.

Não faça movimentos bruscos.

Com cada fibra de seu ser, ela queria ordenar que ele se afastasse,

saísse ou alguma coisa! A fera seria forçada a seguir suas ordens como

Bane? Talvez. Provavelmente. Seu deus dourado certamente obedecia. Mas,

no fundo, Nola suspeitava que faria mais mal do que bem. Se ela

sobrevivesse a esse encontro, é claro. Eu irei, devo. Ao ordenar a besta, ela

não seria melhor do que as rainhas que ele desprezava.

Então, tudo o que Nola disse?

— B-bom dragão. Meu nome é Nola Lee e venho em paz. — Um

clichê. Ela tentou de novo. — Estou no mercado de amigos e adoraria

conhecê-lo, além de Bane. O que você acha?

O vapor ondulou de suas narinas, e ela engoliu em seco.

— Você também usa o nome Bane ou tem o seu? — Perguntou ela,

determinada. — É uma extensão dele, ou um ser completamente separado?

Suas pálpebras se fecharam por um momento. Um conjunto de

pálpebras, pelo menos. Outro conjunto piscou, e o resultado final foi


esquisito. Mas a criatura nunca proferiu um pio.

Como ele ainda não a havia queimado ou mordido, ela imaginou que

havia escolhido o caminho certo. Então tentou novamente, dizendo: — Eu

poderia chamá-lo de Bane Junior. Junior, para abreviar. Ou Sopro. Oh! Eu

sei. O que você acha de Drogo? — De todos os filmes e programas de TV que

ela assistiu com Vale, um personagem a intrigou mais do que qualquer outro

– Khal Drogo, de Game of Thrones.

Quão apropriado, considerando o interesse amoroso de Drogo era

conhecida como a Mãe dos Dragões... e no final da série, ela se afundou,

tornando-se a Rainha Louca.

OK.

Não que Nola quisesse ser a namorada da fera ou algo

assim. A namorada de Bane, no entanto...

Talvez eu pudesse, não sei, ajudar o coração dele a se curar, do jeito

que ajudei seu corpo?

— C-como você se sente ao ser acariciado? — Fazendo o possível para

não o assustar, ela lentamente estendeu a mão. Quanto mais perto chegava,

mais sua mão tremia. Finalmente, ela conseguiu contato.

A fera estremeceu, mas não a castigou ou se afastou.


Nola o recompensou, acariciando seu focinho. Maravilhoso. Suas

escamas em preto e verde eram suaves como vidro, duras como aço e tão

quentes quanto o sol.

— Drogo. — Ela sussurrou. — Eu não pretendo reclamar, ok, mas você

está machucando minha perna. — Para ser honesta, a dor causada por suas

garras e peso esmagador não se comparava à agonia que ela suportou

repetidas vezes durante crises e abstinência de medicamentos. — Se quiser

que eu fique aqui com você, vou ficar aqui. Mas pode liberar minha

perna. Ok? — Ela disse, sempre acariciando, esperando aliviar o

demônio. — Me dê uma chance de provar que não vou correr. Por favor.

Quando o olhar dele deslizou para a perna dela, soube que ele tinha

entendido suas palavras. Se conseguisse conquistar Drogo, bem, o

que ela não poderia fazer? Salvar Vale? Certamente! Salvar híbridos

Adwaewethian? Claro! Garantir a vingança de Bane? Sem dúvida.

— Anteriormente, você estremeceu. O que está te machucando? — Ela

sussurrou, procurando seu olhar. — Talvez eu possa ajudá-lo da maneira

que ajudo Bane, e ordenar que você se cure.

Ele rosnou. Em vez de aliviar sua perna, ele aplicou mais pressão,

observando enquanto ela ofegava, se contorcia e chiava. Mais uma vez, o

mundo começou a escurecer.


OK. A amizade estava acabada e uma ordem para curar seria recebida

com pena de morte. Entendi.

Assim como sabia instintivamente que ele a odiaria se emitisse uma

ordem, sabia que ele nunca a respeitaria se ela implorasse por

misericórdia. Muito fraca, muito frágil? Nunca mais!

— Bem. — Ela chiou. — Se esse é o meu fim, tenho uma última coisa a

dizer. Parabéns! Você é oficialmente tão ruim quanto as rainhas que é

forçado a servir. Elas machucam os outros, e você também.

Antes que desmaiasse, ela diria isso. Ele arrancou as garras da coxa

dela e deu um passo para trás. A pressão diminuiu, mas a dor aumentou

quando o sangue voltou a inundar seu membro.

Para seu choque, a expressão dele parecia projetar: Vá, antes que eu

mude de ideia e coma sua cabeça como uma bola de bolo em um palito.

— Obrigada. — Ela respirou. Embora não tivesse se teletransportado

apenas alguns minutos atrás, Nola fechou os olhos e imaginou sua casa em

Strawberry Valley. E sim! Sem uma onda de pânico – e talvez um vínculo

mais forte com Drogo? – Sua capacidade funcionara.

Ela experimentou a extrema falta de peso. O ar frio da noite ficou

quente e mofado, e a emoção floresceu. Quando abriu os olhos, ela estava


em sua sala, pingando sangue no tapete.
Relacionamentos complicados machucam

IR PARA LONGE DE Bane provou ser mais fácil do que ir

até ele. Talvez porque não tinha horas de vômito em seu retrovisor? Nola

examinou a sala que não via há um mês.

Lar, doce lar.

Tudo estava como ela deixou. Os mesmos móveis chiques e gastos

permaneciam: um sofá com estampa floral, uma mesa de café com tinta

branca descascada, papéis de parede que exibiam diferentes tipos de

pássaros e um tapete com bordas desgastadas. Luzes de Natal pendiam do

teto o ano todo. Fotos emolduradas de Vale e Nola fazendo caretas cobriam

as mesas laterais, misturadas com vasos de flores secas e um abajur em forma

de par de botas de chuva.

Nola e sua irmã criaram um ambiente bonito e peculiar, com fundos

limitados, e ela estava orgulhosa de tudo que haviam realizado. Um dia, ela

esperava comprar cortinas de grife e...


— Nããão! — Sem a presença de Bane, os sintomas de abstinência

trovejaram para uma nova vida. Dores irradiaram instantaneamente, suor

pelo fracasso e tremores tão violentos que ela provavelmente parecia estar

tendo uma convulsão. Além de tudo, tinha que lidar com o presente de

despedida da besta.

Com os olhos lacrimejando, estômago revirando, ela tropeçou em seu

quarto... seu banheiro privado. A cada movimento, um tipo especial de

agonia surgia, mas Nola conseguiu pegar o kit de primeiros socorros do

armário de remédios. Por pura força de vontade, encontrou forças para

arrancar suas roupas rasgadas e ensanguentadas, colocar uma toalha sobre

a tampa do vaso e se deitar. A visão de sua perna...

Como carne moída de hambúrguer. Bile subiu, e ela engoliu. Já que era

da realeza, sua palavra era lei para os adwaewethianos e desde que ela era

parte Adwaewethiana... — Eu ordeno que você cure — ela disse à perna.

Um minuto, dois. Nada aconteceu.

Que droga! Enquanto limpava e enfaixava cada furo, a escuridão se

infiltrava e golpeava sua mente, ameaçando puxá-la para um doce

esquecimento. Ela precisava de um médico, e certamente levar alguns

pontos.

Problema nº 1: Não tinha dinheiro para pagar a conta.


Problema nº 2: ela era viciada em drogas, o uso de opioides

prolongados estava em seu arquivo; os médicos da emergência

definitivamente assumiriam que ela havia se machucado por mais

pílulas. Ela já tinha feito isso no passado.

Problema nº 3: os paramédicos fariam perguntas que ela não podia

responder.

Como explicar que um metamorfo dragão/fênix ou animal selvagem a

atacou? As autoridades iriam investigar. E se matassem uma criatura

inocente? Apenas o pensamento elevou seu nível de estresse. Além do mais,

seu “instinto nato” apagaria qualquer palavra sobre Bane. Não que ela

quisesse contar a estranhos sobre ele.

Meu guerreiro, meu segredo.

E se alguém tivesse denunciado que ela e Vale desapareceram? As

pessoas iriam querer provas de que Vale está viva. E se Erik monitorasse as

instalações médicas próximas? Ele a localizaria para usá-la contra Vale, Bane

e Zion. Três pelo preço de um.

Nola desejava desesperadamente voltar para Bane. Ansiava por seus

braços, abraçando-a. Desejava que a respiração dele se espalhasse sobre sua

pele, e seu perfume em seu nariz. Ansiava por provocá-lo e agradá-lo, e ser

provocada e satisfeita em troca.


Nola duvidava que tivesse forças para se teletransportar novamente. E

se ele ainda estivesse em forma de animal?

Seu batimento cardíaco acelerou. Pouco antes de se transformar, ele

ordenou que fugisse, querendo evitar que se machucasse. Ela não cumpriu,

permanecendo nas proximidades, caso ele precisasse dela, e agora sofria as

consequências. Era sua culpa, não dele.

Além disso, apesar das péssimas condições de sua coxa, ela não se

arrependia de conhecer Drogo. Melhor saber o que você está enfrentando do

que viver na dúvida. Pelo menos ela não tinha borrado as calças nesse

primeiro encontro. Medalha de ouro para mim.

Depois que as perfurações foram limpas e seladas com ataduras de

borboleta, ela removeu e guardou as joias que havia tirado da caverna de

Bane e amarrou um saco plástico em volta da coxa. Então, ela banhou o

sangue e a sujeira.

Sua dor aumentou, e ela se apressou a elaborar um plano

decente. Descanse, se puder. Resista ao pior momento. Descubra seu

próximo passo.

Ela saiu do chuveiro e se enxugou. Exausta, escovou os dentes e vestiu


uma camiseta que dizia Careful, I Bite14, um par de shorts curtos e chinelos

de coelhinho fofos.

Segurando um balde como um bote salva-vidas, mancou para a cama

e relaxou debaixo das cobertas. Tenho um círculo completo. A viagem para

a Rússia começou e terminou nesta sala. Aqui, ela e Vale haviam se deitado

e planejado todos os detalhes. Elas conversaram, riram e sonharam, sem

saber dos momentos que as aguardavam.

Lágrimas se juntaram e caíram, molhando os lençóis. Infelizmente, o

sono se mostrou impossível, sua dor era simplesmente muito grande. Uma

febre devastou seu interior, usando seus órgãos como combustível. Ela

alternou entre suar e tremer, um incêndio e uma tempestade de gelo a

atormentando em intervalos alternados. Um gemido escorregou de seus

lábios comprimidos. Seu coração batia mais rápido e com mais força, depois

acelerou e apertou. Seu peito se contraiu, achatando os pulmões.

Na tentativa de se distrair, ela pegou o telefone e verificou seu e-

mail. Muitas mensagens de seus chefes, perguntando onde estava. Ela

respondeu, pedindo desculpas pela falta de comunicação e pedindo mais

tempo de folga. O dono da padaria e o editor da revista responderam em

minutos – para demiti-la. Seu senhorio também procurou informá-la que o

14 Careful, I Bite: Cuidado, Eu Mordo!


aluguel estava atrasado e ela tinha uma semana para pagar ou ele a

expulsaria.

Ele enviou a mensagem três dias atrás. Então, ela tinha quatro dias

restantes. A menos que ele quisesse dizer uma semana útil, caso em que o

tempo seria reduzido pela metade.

Perder sua casa? Ela olhou ao redor do quarto e tentou vê-lo como

Bane. As paredes eram rosa pálido e cobertas com fotos emolduradas de

Vale e Carrie. Uma pontada de dor. A maquiagem espalhava-se pela

superfície da penteadeira, e romances dominavam sua mesa de

cabeceira. Laços brancos e finos cobriam os quatro pôsteres da cama.

Com babados e feminino demais para os gostos de Bane?

Trágico e sexy Bane, que ela queria mais a cada dia. Antes, ela

considerou fazer algo para ajudar a consertar seu coração partido. Agora não

tinha certeza de que poderia se proteger no processo.

Passos bateram, sacudindo a casa inteira. Desejando não ter perdido

sua adaga enquanto corria de Drogo, ou que estivesse com uma faca da

cozinha em seu travesseiro, Nola ficou tensa. Erik a encontrou? Ou Bane e

sua besta? Zion? Vale? Ela deveria tentar se teletransportar ou se esconder?

Menos de uma hora atrás, ela enfrentou um dragão e sobreviveu. Por


que correr agora? Por que ter medo de uma pessoa, de outro mundo ou

mesmo da morte?

— Nola? — Um Zion armado entrou no quarto, seu passo longo e

forte. Ao vê-la enrolada na cama, ele embainhou os punhais e exalou

aliviado.

— Estou feliz em vê-lo, — disse ela, e quis dizer isso. No entanto, parte

dela desejava que Bane tivesse entrado pela porta. — Estou feliz por você

ter sobrevivido ao ataque.

— Como escapou do armário sem abrir a fechadura da porta? —

Perguntou, indo direto ao assunto.

— Estou feliz em vê-la também, Nola. — Disse ela, fazendo sua melhor

representação dele. Em algum momento, ela chutou as cobertas, fornecendo

a ele uma linha direta para as manchas vermelhas em seu curativo.

Ele ficou imóvel, a fúria explodindo em seus olhos.

— Quem machucou você?

De jeito nenhum ela permitiria que ele retaliasse contra Bane. Então, o

que poderia dizer a ele? Pense! Mas seu cérebro confuso e lento se recusou a

trabalhar.
Por que não dizer a verdade? — Eu não posso explicar. Literalmente,

não posso. Algo sempre me para. Mas eu vou ficar bem — afirmou, depois

correu para mudar de assunto. — Como você me achou?

Ele abriu as pálpebras, uma promessa silenciosa de voltar ao assunto

original – em breve. — Encontrei a cabana nas montanhas, aquela em que

você e sua irmã habitaram depois que você se perdeu. Eu vasculhei o interior

e desenterrei um papel pequeno e duro com sua foto e um endereço.

Ah! A carteira de motorista dela. Ela e Vale deixaram suas

identificações no balcão da cozinha ao lado de uma nota, solicitando ajuda.

Zion relaxou ao lado dela, desconfiado. — Eu venho trazendo

notícias. Enquanto estávamos separados, Erik sequestrou sua irmã. Mas,

com a ajuda de Knox, ela conseguiu uma fuga bem-sucedida.

O coração de Nola despencou, depois disparou. — Isso é

maravilhoso...

— No processo, centenas de humanos foram mortos e os executores

terráqueos levaram Vale presa.

— ...e terrível. — Tantas pessoas massacradas, vítimas de uma guerra

que nada sabiam. A polícia havia tratado Vale como agressor ou vítima? —

Ela está presa?


— Sim, mas não será prejudicada. Ela será libertada. Em

breve. Quando ela matou Celeste, de alguma forma absorveu a capacidade

do combatente de encantar as pessoas ao seu redor.

Verdade?

— Todos os combatentes absorvem as habilidades de suas vítimas?

— Não. Ela foi a única. Todos os outros têm acesso à arma do soldado

derrotado, nem mais nem menos.

Então, por que Vale era diferente? E como Nola poderia ajudá-la? —

Quem emboscou nossa casa segura?

— Erik e seus homens — explicou Zion. — Eles estão te seguindo e

atualmente estão estacionados fora desta casa. Ou eles estavam. Eu os

despachei.

E ela não tinha ideia!

— Erik percebeu que você é especial para o Adwaewethian —

acrescentou. — Ele planeja usar você contra Bane. E a mim, desde que

expressei interesse em seus cuidados. Na próxima Assembleia de

Combatentes, devo convencê-lo – e a todos os outros – de que você está

morta. Sua irmã também. A reação dela às notícias deve ser genuína.
— De jeito nenhum — ela balançou a cabeça. — Não vou machucá-la,

mesmo para me poupar um pouco de dificuldade.

— Um pouco? — Ele perguntou, sobrancelha levantada. — Como você

sugere que procedamos, então?

Ela pensou por um momento, uma ideia cristalizando. — Você tem o

celular que eu te dei?

— Tenho. Coloquei seu endereço, exatamente como você me ensinou,

e encontrei fotos chocantemente detalhadas de sua casa, permitindo-me

entrar aqui.

— Vamos dar o celular para Vale. Vou enviar uma mensagem de texto,

dizendo a ela para não acreditar no que você diz. Dessa forma, ela descobrirá

a verdade após sua reação inicial à sua bomba da morte.

Antes que ele concordasse, Nola começou a digitar uma mensagem, o

número já programado em sua agenda. Desculpe, a nossa conversa foi

interrompida. Faça o que for necessário para sobreviver e não se preocupe

comigo, ok? Estou bem e vou ficar assim. As meninas de Lady Carrie para

sempre! Ah, e não acredite em Z. Repito. NÃO ACREDITE NELE.

Lady Carrie, o nome da loja de donuts gourmet que elas abririam – ou

não. Prova de sua identidade.


Enviar.

Decidindo usar sua “fragilidade” em seu proveito – uma garota tem

que usar as armas em seu arsenal, certo? – Nola golpeou seus cílios para

Zion, dizendo: — Por favor, faça isso por mim. Você é tão grande e forte, e

te devo uma.

Ele apertou os lábios, mas assentiu. — Farei isso, e sim, você me

deve. Como pagamento, você me ajudará a recrutar Bane para parar Erik. O

viking preservou os campos de base que conhecia e plantou bombas e outras

armadilhas. Ele assistia enquanto escapávamos da prisão de gelo, nos

afastando. Ele e seu povo haviam colocado câmeras nas montanhas e foi

assim que encontrou minha dimensão.

O desconforto formigou a parte de trás do pescoço, o estômago

realizando uma série de movimentos.

— Ele poderia estar assistindo e ouvindo agora.

— Visitei sua casa a cada poucas horas desde a nossa separação e já

procurei nos quartos — disse. — Não há evidências de adulteração.

OK. Tudo certo.

— Agora — seu tom endurecendo. Ele respirou fundo, segurou-o e

depois expirou lentamente. — Eu tenho tolerado seus segredos. Com calma,


até. Mas devo tomar medidas para me proteger e ao meu reino. Sinto muito,

Nola, mas os homens que confiam nos outros são os primeiros a morrer.

Um pressentimento se juntou ao desconforto, varrendo através

dela. — Onde você quer chegar?

Ele desembainhou um de seus punhais. — Preciso da verdade sobre

sua conexão com Bane, e só há uma maneira de obtê-la. Sinto muito, —

repetiu, — mas isso vai doer.

****** ******

PRECISO CHEGAR ATÉ NOLA.

Quase desesperado, Bane colocou os óculos de proteção no pescoço,

amarrou a espada de Valor nas costas e ancorou um pedaço do cinto de

Union em torno de cada um de seus bíceps. A fera cortou o elo pela metade,

transformando uma arma em duas. Para sua surpresa, ambas

funcionavam! A força zumbia dentro de seus ossos e fluía em seus

músculos. Mais força do que ele jamais sentiu.

Devemos chegar a Nola. Devemos protegê-la.

Não devemos machucá-la.


A fera protestou, apenas para ficar quieta, como se não tivesse certeza

da melhor maneira de proceder. Essa foi a primeira vez.

O covil havia sido destruído. A ilha ensolarada tinha sido o último

lugar que alguém deveria ter pensado em procurá-lo. Então, como Union

descobriu sua localização?

Bane só tinha uma certeza: Se um combatente o tivesse encontrado,

outros o fariam também. E assim por diante. Mas ele não tinha mais para

onde ir. Onde estava Nola? Quão terrivelmente ele a machucou? Quanto ela

o odiava?

Quando Bane se transformou, algo chocante aconteceu. Ele

permaneceu ciente quando o animal o alcançou. Outra primeira vez. Talvez

porque tenha lutado mais do que nunca, determinado a salvar sua princesa.

Ele aprendeu que a ferida no ombro também incomodava a fera, uma

vulnerabilidade que mal poderiam suportar.

Um desenvolvimento mais chocante? A bravura inabalável de Nola.

Ela enfrentou a fera, inflexível. E, embora tivesse sido atormentada

pela dor, não emitira ordens. Em vez disso, acariciou o focinho do demônio

e ofereceu amizade.

A fera – agora chamada Drogo, aparentemente – não havia se decidido


por ela. Ele estava confuso e irritado com isso.

Bane subestimou severamente essa preciosa fêmea, com seu coração

amável e determinação destemida. Sua força quieta explodiu em sua

mente. Ela tinha algo que ele invejava: a capacidade de permanecer calma

enquanto o mundo desmoronava ao seu redor – ou quando um dragão

contemplava as várias maneiras de acabar com sua vida.

Carrancudo, Bane andava debaixo da lona, lembrando de Nola se

arrastando. Se Drogo não tivesse decidido deixá-la ir, ela teria morrido. E

teria morrido mesmo e Bane teria sido incapaz de salvá-la.

Não posso perdê-la. Ela não.

Ele gaguejou. Eu me preocupo com a mulher que controla o meu

futuro? Sim.

Droga! A partir de agora, teria que permanecer em guarda emocional.

Desde que a transformação rasgou suas roupas em pedaços, Bane

caminhou até o baú e vestiu um par de couros e botas de combate. Assim

que colocou o eixo atrás do zíper, buscou por Nola.

Cadê você, Pombinha? Pombinha? O carinho o deixou sem graça, e

ainda assim lhe convinha: pequena, delicada e graciosa. O animal está

enjaulado. Você não tem nada a temer de mim, eu juro.


Uma pausa prolongada. Então...

— Estou em casa.

Sua voz ofegante encheu sua cabeça, acendendo uma luxúria poderosa

e fervente. Ele disse a si mesmo: devo permanecer em guarda.

Então, empurrou a voz na cabeça dela mais uma vez, dizendo: Não

vou machucá-la novamente, você tem a minha palavra. Diga-me para ir até

você. Por favor. Ela faria isso? Deixe-me ensinar-lhe como lutar, como

liderar seus soldados e como me ajudar a derrotar Aveline. Você pode gritar

comigo pelo que Drogo fez. Em seguida, Bane iria falar com ela de sua

interação. Ou beijá-la por isso.

Não! Nada de beijar Nola. Nada de tocá-la também.

Mais uma vez, a voz dela passou pela mente dele. Zion está aqui. Ele

está fazendo algo comigo. Algo de que não gosto, embora não saiba o que é.

Um rosnado retumbou no peito de Bane. Zion estava fazendo algo com

Nola, então Zion pagaria. Deixe-me ver através dos seus olhos. Deixe-me ver

o que ele está fazendo com você.

— Como?

A explicação veio rapidamente dele, com um senso de urgência, mas


colocando os pés em chamas. Para se comunicar telepaticamente, uma

rainha e seu guerreiro devem estar ligados. Você tem a capacidade de

aprofundar nossa conexão.

Quando ele sentiu um alfinete no cérebro, ele disse: Sim,

mergulhe. Bem desse jeito.

De repente, o mundo ao seu redor escureceu. Ele piscou, outro mundo

aparecendo. Ele viu um quarto pequeno, com muito rosa e renda, e móveis

gastos indignos de uma rainha.

Isso estava funcionando! Satisfação o socou.

Olhe para Zion, ele ordenou.

Ela obedeceu, esticando a cabeça para o lado. Zion estava sentado na

cama, perto demais do gosto de Bane. O macho tinha um diamante

ensanguentado preso entre os dedos – um diamante que ele havia arrancado

do torso, a julgar pelo buraco sangrento deixado para trás. Ele pressionou a

pedra na testa de Nola, e Bane soube. O combatente esperava capturar seus

pensamentos com manipulação de energia.

Com um rosnado, Bane passou o polegar sobre os Rifters para abrir

um portal. Tendo visto o ambiente, ele agora podia viajar para lá a qualquer

hora que desejasse.


No outro extremo da lona, duas camadas de ar se desprendiam,

revelando um vislumbre ao vivo do quarto. O cheiro de madressilva e

jasmim flutuava em suas narinas, manchado pelo cheiro metálico do sangue.

A fúria explodiu através dele, seus músculos tensos. Pronto para

assassinar, Bane marchou para a frente...


CAPÍTULO DEZESSETE

Ele quer mais ou você está se enganando?

NUM SEGUNDO NOLA conversava com Bane, no próximo ouvia

uma riqueza de ruídos. Vidro quebrado. Grunhidos de dor. Um apito de

metal, um baque pesado e um estrondo. A raiva animalesca eletrificou o

ar. O que tinha...

Percepção: Zion havia parado o que estava fazendo em sua mente e

agora lutava em combate. Será que era com Bane?

Sim. Definitivamente com Bane. Nola reconheceu seu cheiro e se

acalmou. Ele se apressou em defendê-la, sua segurança era uma prioridade

para ele, exatamente como alegou, e gostava dele por isso.

Que idiota. Ele não salvou Nola; ele salvou a realeza terráquea que

entregaria sua vingança. Ele desejaria mais do que vingança?

Quando o mundo voltou ao foco, suas dores haviam

desaparecido. Bane, minha doença e cura. O quarto dela estava em ruínas,

os móveis virados, pedaços de gesso e vidro espalhados por toda parte. O


sangue manchava o edredom esfarrapado.

Cortinas de janelas estavam no chão, raios de sol se infiltrando na

sala. Uau. A noite tinha passado. Zion ocupava a luz, enquanto Bane

permanecia nas sombras. Eles estavam a centímetros de distância, ofegantes

e mais sangrentos que o cobertor, no meio de uma encarada épica.

Tirar o olhar de Bane provou-se impossível, a visão dele queimando

sua alma. E preocupante. O corte permanente no ombro havia piorado,

espalhando-se sobre a clavícula. Se ele e Zion lutassem novamente...

Com quem ela estava brincando? Eles lutariam novamente,

certamente. Bane projetava raiva ardente, sua intensidade fazendo seu

coração palpitar, enquanto Zion demonstrava determinação gelada. Logo

eles iriam entrar em erupção e dessa vez, não parariam até que alguém

terminasse morto.

— Chega! — Ela chamou, saltando de pé. Milagre dos milagres, com

as pernas firmes, as feridas curadas. Nem as crostas permaneceram. Zion a

curou, ou ela própria? Antes, seus cortes e contusões sempre se reparavam

a uma taxa normal.

Estou me tornando imortal, meu corpo se preparando para o Rito de

Sangue? Como devo me sentir sobre isso?


Descobrirei isso mais tarde.

Com os nervos a flor da pele e o coração galopando uma milha por

minuto, Nola se moveu entre os guerreiros, os braços estendidos para afastar

os dois predadores raivosos.

— Chega — repetiu, olhando de um homem para o outro. —

Recuem. E nem pensem em discutir comigo. — Toda vez que ela se

concentrava em Bane, outra camada de seu exterior ardente queimava. Logo,

apenas a sensualidade crua permaneceria.

Seus pensamentos momentaneamente se apagaram. O que mais ela

queria dizer? Oh sim. — Vocês me devem, os dois. Bane, lembra quando

você me insultou, rasgando minha autoestima em pedaços e machucando

minha perna? Zion, lembra quando você tentou invadir minha mente?

Bane estremeceu um pouco, e Zion ergueu o queixo, sem

arrependimento.

— Ela é minha, e eu nunca compartilho. — Com uma velocidade muito

rápida para os olhos humanos seguirem, Bane apertou o pulso, puxou e

girou-a atrás dele, colocando seu peito nas costas dele. Ele agarrou um braço

forte e musculoso ao redor dela, segurando-a no lugar.

Aquelas palavras surpreendentes... essa afirmação inabalável...


calafrios percorreram sua espinha. Que diferença nele! Seu coração já havia

começado a curar. Isso foi... isso... eu posso ter essa coisa na bolsa.

Zion ergueu as mãos, palmas a mostra e recuou, sua fúria gelada

reduzida a uma ligeira irritação. — Não sinto muito por ter tomado medidas

para garantir minha segurança, Nola. Mas sinto muito ter traído sua

confiança para fazê-lo.

— Desculpas não aceitas — disse, destacando-se de Bane e indo para o

lado dele. — Que segredos você descobriu da minha mente? — Teria Zion

aprendido sobre sua herança alienígena ou sua conexão com o

Adwaewethiano?

— Nenhum. Você tem algum tipo de bloqueio — disse Zion.

Verdadeiramente? Ponto para mim! Bane disse uma vez o mesmo.

Quando ela encontrou o olhar dele, ficou presa. Não conseguia desviar

o olhar, o resto do mundo esquecido. A consciência crepitante estalou entre

eles. Sua barriga tremia, a necessidade que ela vivia desde que o encontrara

na caverna exigindo o pagamento.

— Princesa? — Bane perguntou, sua voz tensa e rouca do que o

habitual. Ele sentiu isso também?

Foco. Respire fundo, expire. Merda! O cheiro dele se intensificou e


agora infundia suas células. Ela podia senti-lo dentro dela.

— Minha oferta permanece — disse Zion a Bane. — Vamos trabalhar

juntos para matar Erik e seus acólitos.

Bane olhou entre ela e Zion, com os olhos arregalados.

— Sabe quem sempre perde a All Wars? Os combatentes que são tolos

o suficiente para confiar na competição.

— Faça assim mesmo — disse Nola, formando uma torre com as

mãos. — Por favor. — O que convenceria alguém como Bane? — Podemos

derrotar mais concorrentes, ganhar mais armas e realizar o que queremos

realizar. Se você não percebeu, estamos meio que perdendo agora. —

Espere. E se Zion planejasse enganar Bane?

Não, não, não. Zion tinha segredos, certamente, mas no fundo, ele era

um bom homem.

Bane olhou para ela, raiva crescente. Mas ele disse:

— Eu farei isso. Concordo com uma trégua temporária. — Ele voltou

sua atenção para Zion, acrescentando: — Mas você não fará mal a Nola. Não

tentará ler os pensamentos dela. Não a tocará. Se você fizer, eu terminarei a

trégua com seu coração na palma da minha mão.


Mais uma vez, ele apostou nela. Mais uma vez, calafrios percorreram

sua espinha. O sangue dela se transformou em champanhe e sua cabeça o

embaçou, o prazer a deixando tonta.

Zion rosnou, estilo sou tão feroz, só faço o que quero. Mas, como Bane,

ele retrucou:

— Muito bem. Temos uma trégua temporária. — Olhou para Nola. —

Farei o prometido e passarei o celular para Vale. Vou tentar recrutar ela e

Knox para a nossa causa, novamente.

— Obrigada — disse ela.

— Não tenho dúvida de que Knox tentará me matar novamente.

— Vocês dois vão ficar bem, tenho certeza disso. — Desesperada em

ver sua irmã, disse: — Eu vou com você e...

— Não — rugiu Bane ao mesmo tempo em que Zion disse:

— Não posso convencer outros combatentes de que está morta se for

vista viva. Você deve ficar com Bane.

Ah. Uma morte falsa. Sábio. Bane inclinou a cabeça, sua versão de um

aceno de cabeça. — A esconderei antes que outro combatente nos

encontre. Tenha cuidado ao entrar no portal. Ou não. Vou montar


armadilhas.

Exasperada, ela exclamou: — Posso opinar sobre isso?

— Não — eles responderam em uníssono.

Em vez de se intrometer nas táticas dos homens das cavernas, ela

sorriu, presunçosa. — Olhe para vocês dois. Já trabalhando juntos. Sou um

bom cupido, ou não?

Bane revirou os olhos, mas suas pupilas aumentadas sugeriram que a

coragem dela o surpreendeu e o encantou. Ela fingiu.

Zion mandou um beijo para ela, depois disse a Bane: — Mostre-me

como você é bom em esconder e montar essas armadilhas, e mostrarei como

sou bom em rastrear e evitar problemas. — As palavras eram meio gabar,

meio ameaçar.

— Você verá. — Disse Bane.

Zion sorriu e passou o polegar sobre os Rifters, um portal que se abriu

em seu quarto. A julgar pelo cenário montanhoso, com tufos de algodão

flutuando em uma brisa quente, o portal levou de volta ao Colorado.

O vento soprava em seu quarto, forte o suficiente para sacudir os

pedaços de vidro quebrado no chão.


Ele atravessou e girou para encará-los. Pensativo, ele olhou de Nola

para Bane até o portal fechar.

Sozinha com Bane. Seu perfume perverso encheu seu nariz, e seu calor

queimou sua pele. Sua intensidade impressionante a iluminou por

dentro. Ele a beijaria? Ela deixaria?

Ele rondou mais perto dela, a ação sem pressa languidamente

sensual. Seus olhos magníficos brilhavam de fome. — O que a fera fez com

você... — ele levantou o queixo e ergueu os ombros. — Sinto muito,

Pombinha.

Pombinha. Esta poderia ser a terceira vez que ele a tratava com

carinho, e ela não tinha certeza do que deveria significar.

— Você estava ciente em forma de animal?

— Eu estava. — Massageou a parte de trás do pescoço. — Ele te odeia,

mas também está intrigado com você. Você poderia ter emitido um

comando. Ele queria isso. Quando não o fez, você o surpreendeu e o

confundiu.

Ela surpreendeu e confundiu Bane também? Talvez até... o tenha

impressionado? Ela queria perguntar, mas não o fez. Eu prefiro mulheres

guerreiras. Ok, então, não há necessidade de perguntar. Um pequeno ato


não provaria sua coragem. Embora houvesse uma chance, isso a ajudaria a

esgueirar-se pelas defesas dele.

— Eu posso ser uma princesa, — disse, — mas não sou uma rainha. Eu

nunca machuquei Drogo, ou você, e estou cansada de ser punida pelos

crimes de outros membros da realeza. Se você me atacar novamente, farei o

que for necessário para me salvar, assim como você faria qualquer coisa para

se salvar.

Ele continuou seu avanço, rondando mais perto, forçando-a a andar

para trás... até que ela bateu na parede. Ele achatou as mãos perto da

têmpora dela, enjaulando-a. Com sua altura imponente e ombros largos, ele

quase a envolveu. Ela engoliu em seco e tremeu, mas não com medo.

— Por que você não fez o que era necessário na ilha? Em vez de

ordenar que Drogo se afastasse, você o acariciou.

Ela puxou a gola da camisa dele, dizendo: — Eu não queria suprimir o

seu, o dele, livre arbítrio, como outras rainhas fizeram.

Um momento se passou, depois outro, o silêncio quase

insuportável. Seus traços chocados novamente. Ele perguntou calmamente:

— O que eu vou fazer com você, Nola Lee?

— Confiar em mim? — Se apaixonar por mim? — Eu nunca vou ceder


ao meu... lado sombrio como os outros membros da realeza. — Ela levantou

as mãos, levantou e segurou as laterais de seu rosto requintado. Um abraço

de amante. Sua barba fazia cócegas em sua pele, ondas de desejo dançando

através dela.

— Eu não vou mudar, — disse ele, com a voz rouca. — Já passei muito,

minha vontade é de ferro.

Quando ele colocou os dedos deliciosamente calejados em torno de

seus pulsos, ela esperou um empurrão gentil para separar seus corpos. Em

vez disso, ele a puxou para mais perto, cruzando os braços em sua nuca. Os

seios dela bateram contra o peito duro como pedra, os mamilos enrugando.

— Para onde estamos indo? — Ela perguntou.

Ele passou a língua sobre um incisivo. — Erik quer matar Zion e eu.

Devemos permanecer em movimento.

Planejava fingir que seu membro não estava endurecendo entre as

pernas dela? OK. — Vou fazer uma mala, assim que você me soltar.

****** ******
DEIXAR NOLA IR quando queria a segurar para sempre? Não! Mas

Bane fez, de qualquer maneira. Soltou os pulsos dela, cortando o contato e

recuou. Mantê-la segura permaneceu a prioridade principal, e seu perfume

de madressilva-jasmim agitou a fera. Todo o resto agitou Bane. O calor

dela. Sua suavidade. Aqueles olhos estrelados. Aqueles lábios

rosados. Aquela voz ofegante. Aquela carnalidade chocante.

Ele queria Nola. Seu olhar foi para a cama. Ele queria Nola agora. Ele

ardia de desejo, suas células como brasas, fumaça de paixão o enchendo, sua

pele esticada, pronta para explodir nas costuras. Seu coração disparou e o

eixo palpitou.

Pensar claramente se tornara um sonho inatingível. Talvez fosse a

mesma razão pela qual concordou com uma aliança com

Zion. Certamente! Porque ele queria Nola protegida a todo custo, não

importava o perigo para si mesmo, e dois guerreiros eram melhores que

um. E certamente não porque Bane estava desesperado por um amigo,

alguém que o protegeria, mesmo que por pouco tempo. Fazer amigos e

confiar nos outros só o colocaria em problemas.

— Leve-me ao banheiro — disse ele.

Ela lambeu os lábios, arrancando um rosnado do fundo dele, depois se

virou para liderar o caminho. Um kit de primeiros socorros esperava na pia,


já aberto. Panos ensanguentados repousavam no fundo de uma lixeira. O

sangue de Nola, devido aos ferimentos que Drogo haviam causado.

Bane pressionou a língua no céu da boca. — Vá em frente e faça suas

malas enquanto me limpo.

Balançando de um pé para o outro, silenciosa, ela o observou, perdida

em pensamentos. Finalmente, assentiu e saiu do banheiro, deixando-o

sozinho. Ele fechou a porta. Depois que limpou e enfaixou o ombro - a ferida

havia piorado com os socos fortes de Zion – ele agarrou a borda da pia e

olhou seu reflexo no espelho. Cabelos dourados despenteados e manchados

de sangue. Olhos fortes, mas também brilhando com... emoção? Não,

absolutamente não. Provavelmente aborrecimento. Restolho dourado

decorava sua mandíbula. Cortes e machucados cobriam seu peito.

— Recomponha-se — ele exigiu em voz baixa. Mas droga! Nola o fez

querer coisas que ele não deveria querer. Uma família. Um futuro. Coisas

que ele não podia pagar.

Devo purgar esse desejo ardente. Não posso perder outra

pessoa. Apenas... não posso.

Cabeça alta, ombros para trás, ele saiu do banheiro.

— Quase pronta — disse ela, andando pelo quarto, reunindo as coisas


que desejava levar.

A curiosidade o atraiu para o corredor, onde fotos de Nola e Vale

cobriam as paredes. Uma foto chamou sua atenção mais do que qualquer

outra. Um close do rosto de Nola. O sol brilhava atrás dela, criando uma

auréola sobre seus cabelos azul-pretos. Seus olhos brilhavam e rosa

pintavam suas bochechas. Ela irradiava pura alegria. O tipo de alegria que

ele conheceu com Meredith. O tipo de alegria que ele nunca pensou em

experimentar novamente.

O peito dele se apertou. Não faça o que você está pensando em

fazer. Não – Bane tirou a foto da parede, jogou a moldura no chão e colocou

a imagem dobrada no bolso. Ok, você fez.

Envergonhado por si mesmo, mas ainda cheio de curiosidade sobre a

mulher com uma “vontade de ferro”, ele examinou o resto da casa. Pequena,

mas bem cuidada, com inúmeros toques femininos. Renda aqui, rosa ali. Na

mesa de café havia vasos de esmalte transbordando de flores secas. No

balcão da cozinha, ele encontrou uma pilha de revistas do Oklahoma Love

Match. Não havia edições repetidas, mas o nome de Nola ocupava uma

pequena parte de cada capa.

Como Ir de Inimigos a Amantes.

Os Cinco Passos Para Qualquer Mulher Solteira Procurando Amor.


Então dormiram juntos. E agora?

Nola já havia mencionado ser uma padeira e uma autora. Ela escreveu

esses artigos?

Não ouse. Olhou por cima do ombro. Nenhum sinal dela. O mais

silenciosamente possível, rasgou o artigo sobre ir de inimigos a amantes,

dobrou o papel ao meio e o enfiou no bolso, ao lado da foto. O que sua

princesa disse sobre os modos de sedução? Talvez, se ele soubesse, pudesse

proteger melhor seu coração contra o fascínio dela. Porque já que ele tinha

feito um trabalho de merda para guardar seus desejos; eles ficaram fora de

controle.

Por que resistir a ela sexualmente? Ele não tinha vontade. A esse

respeito, ela o quebrara, sua arma de escolha, um espírito indomável, nada

e ninguém poderia destruir.

Eu a quero e a terei.

O alívio acompanhou a decisão. Finalmente, ele teria o que desejava.

Os ouvidos dele se contraíram, registrando o ruído suave de seus

passos. Ele tentou não assistir quando ela entrou na sala, uma visão de

beleza em uma blusa rosa, jeans e tênis, os cabelos escuros escorrendo até a

cintura em ondas brilhantes. Mas observe, quando ele a viu, seu corpo
entrou em chamas. Devo tê-la em breve.

— Para onde estamos indo? — Ela perguntou, parando diretamente na

frente dele para deixar cair uma bolsa aos seus pés. — Porque eu tenho uma

ideia.

A proximidade dela afetou-o. Seu sangue ardeu como fogo e as tripas

se contorceram. Ele bateu na têmpora e empurrou suas próximas palavras

em sua mente. Erik pode ter câmeras escondidas aqui.

Ela lambeu os lábios e assentiu em entendimento. - Acho que devemos

ir para Roswell, Novo México. Cerca de setenta anos atrás, algo caiu

lá. Muitas pessoas acreditam que era uma nave alienígena. Agora o governo

guarda a área, mas... e se houver armas que não encontraram? Armas que

somente outros alienígenas podem ativar? Se as adquirirmos, teremos uma

grande vantagem sobre o Erik.

Interessante. Poucos outros mundos usavam naves espaciais. De fato,

Bane só conseguia pensar em um. Forêt. O governante de Forêt quebrou as

regras como Aveline e enviou guerreiros para cá?

Bane procurou seus arquivos mentais. Na Guerra Terráquea, Halo era

o combatente de Forêt, e ele trouxe um par de asas de metal

destacáveis. Uma obra-prima da tecnologia. Enquanto Halo estava em

combate, as asas guardavam seu flanco.


Ele disse a Nola: Roswell, então. Você tem fotos da área?

- Não quero portal até lá. Eu quero ir de carro.

Por quê?

- Na estrada, continuaremos em movimento. Ninguém será capaz de

identificar a nossa localização.

Ele a olhou, percebendo só então que estava passando os dedos pelos

cabelos dela. Bane apertou os fios, inclinando o rosto da maneira que gostava

de inclinar melhor a boca de Nola na dele, mas não se deixou beijá-la. Não

há nada que você não possa fazer, Pombinha? Até agora, você libertou

homens do gelo, enganou um animal e levou vários guerreiros pelas

bolas. Agora você está superando um viking. Sim, vamos dirigir.


O nº 1 essencial para qualquer viagem!

NOLA E BANE entraram no balde enferrujado de um carro e

dirigiram para a cidade, onde ela penhorou as joias que havia levado da

caverna dele. Tudo, menos as manoplas. Minhas. Eu nunca vou

compartilhar! Ela quis dizer o que disse. Ela as estimaria, agora e sempre. Na

verdade, elas estavam indo com ela em sua viagem.

Precisando de algumas outras coisas, ela levou seu deus dourado à um

balcão único para caçadores. Embora uma sensação interminável de

urgência a esfaqueasse, decidiu agir como se fosse um dia normal, como se

eles dois fossem pessoas normais em seu primeiro encontro. Por que não se

divertir? Eles estavam lutando por suas vidas, sim, mas morrer sem

experimentar a verdadeira alegria parecia-lhe errado.

No caminho para a loja, ela se moveu à frente de Bane para alcançar as

portas automáticas primeiro. Em homenagem à sua decisão de aproveitar o

tempo que passaram juntos, ela fingiu abrir aquelas portas com magia,

acenando com a mão e dizendo:


— Hocus-pocus.

Ele ficou boquiaberto, surpreso. — Que poder estranho é esse?

Ela explodiu em um acesso de riso. A luxúria escura eclipsou o espanto

em seus olhos, e ela se aquietou.

— Sua risada — disse ele, sua voz suave, mas áspera. Feroz. — Me.

Deixa. Insano.

Uh lá lá. Ele está duro de novo.

Enquanto fazia compras, Bane permaneceu ao seu lado, silencioso e

estoico, tenso quando alguém se aproximava. As pessoas o olhavam,

algumas admirando, mas todas com medo.

Alguém tirou uma foto dele. Para postar online, provavelmente, e ela

poderia imaginar a legenda. Pãezinhos amanteigados

quentes. #DoMeBaby15.

Ok, era melhor ela se apressar nessa viagem de compras. Se Erik

monitorasse as mídias sociais, saberia a localização de Bane. Acelerando o

passo, jogou itens diferentes na cesta. Mochilas, camisas XL, outro kit de

primeiros socorros, calças camufladas, material de acampamento, lanches,

15 Transe comigo, baby


facas, até uma pistola e uma caixa de balas.

Quando chegou a um corredor repleto de fantasias de Halloween, ela

fez uma pausa. O feriado seria em apenas alguns dias. E fale sobre a

camuflagem perfeita! Por uma única noite, eles poderiam ir a qualquer lugar

e fazer qualquer coisa, e ninguém suspeitaria de suas identidades. Ela pegou

três fantasias e foi experimentar.

Avistando um de seus ex-namorados – James – ela parou gelada. Ele

estava na fila, colocando seus itens na correia transportadora do caixa. Que

droga! Quais eram as probabilidades? Por que ele estava aqui? Por que

agora?

No início deste ano, ela deixou um de seus colegas de trabalho na

revista juntá-la com um primo. Eles foram jantar e assistir a um filme, com

grandes esperanças. Ele segurou sua mão e não sentiu nenhuma

doença. Então, quando ele a acompanhou até a porta e se inclinou para beijá-

la, ela não resistiu... e acabou vomitando em um canteiro de flores. Depois

disso, ficou com vergonha de responder às chamadas e texto dele.

— Nola. — Disse James quando a notou. Ele sorriu e se inclinou,

planejando abraçá-la.

Bane se colocou entre ambos, dizendo a James: — Você não tocará na

garota. — O deus dourado se elevou sobre o humano.


Cor drenando das bochechas de James, ele recuou, mãos para cima. —

Desculpe. Foi mal.

— Você não fez nada errado. — Nola assegurou, lançando um olhar

de comportamento a Bane. — Prazer em vê-lo novamente, James. —

Querendo que todos se afastassem, em vez de rastejarem, ela se mudou para

outra fila.

Bane seguiu em um ritmo muito mais lento, sua agressão

aumentando. Se ele perdesse o controle de seu temperamento, se

transformaria em Drogo. As pessoas publicariam fotos e vídeos em toda a

Internet, e os combatentes não seriam os únicos a seguir a trilha.

Para manter seu guerreiro calmo, ela acariciou sua espinha,

acariciando-o da mesma maneira que fez com seu animal. Mas ela não fez

bem, seus músculos se contorciam de tensão.

— Seu ciúme é fofo e tudo, — ela disse com um tom de provocação, —

mas eu prometo que não estou planejando cair no pênis dele... tão cedo.

Bane apertou os lábios. — Me fale sobre ele.

— Não há nada para contar. Só fomos a um encontro.

— Eu deveria tê-lo matado. — Assobiou Bane.


— Shh. — Com uma voz suave, mas feroz, ela disse: — Você não pode

sair por aí ameaçando inocentes. Ou matando inocentes!

— Na verdade, eu posso. Você que prefere que eu não faça. — Ele

empurrou o carrinho e eles subiram a fila. — Esse é o tipo de homem que

você costuma achar atraente?

Foi uma vez, sim. Mas, se estivesse sendo sincera, admitiria que as

coisas haviam mudado. Ela ansiava por intensidade e calor. Fogo. Deusa

ajude!

— Por que você se importa? — Ele diria a verdade?

Ele trabalhou sua mandíbula. Em vez de responder à pergunta dela,

mudou de assunto novamente. — Uma vez mencionou que escrevia. Você

escreve o que é verdadeiro ou falso?

Por que ele queria discutir o trabalho dela? — Eu escrevo o que meu

chefe me disser. Ou escrevia. Ele me demitiu. De qualquer forma. Escrevi

coisas que as pessoas esperam que sejam verdade, mas poderiam ser

ficção. Não tenho certeza.

Bane ficou parado. — Um homem queimou16 você?

16 Ele se confunde porque fired significa demitir/queimar.


Suspiro. — Eu quis dizer que meu chefe me disse que não podia mais

trabalhar para ele.

Ele relaxou um pouco. — Você escreve o que acredita ser verdade?

As bochechas esquentaram, ela admitiu: — Eu nunca testei minhas

teorias.

— Mas você quer?

Depois que ela desistiu do amor? Não. Mas aqui, agora? — Sim. — Tão

mal. — Por quê?

Ele não disse mais nada. Ela não disse mais nada, a tensão era grande

demais.

Eles pagaram pelos suprimentos, carregaram tudo através das duas

portas e se estabeleceram em seus assentos, com Nola ao volante. Apesar da

hora, o sol permanecia escondido atrás de grossas nuvens cinzentas, uma

tempestade se formando. Uma brisa fria continha uma carga elétrica e trazia

o cheiro da chuva que caía. Melros voaram para postes e empoleiraram-se

nos fios. Além deles, as planícies se estendiam por quilômetros, até onde ela

podia ver.

Eles tinham uma viagem de dez horas pela frente. Tempo suficiente

para planejar e replanejar seu caminho para Roswell?


Depois de forçar Bane a apertar o cinto, Nola se fundiu na estrada.

—Você está calado. Eu não gosto disso.

— Só pensando. — Ele respondeu.

Oh-oh. Seu tom áspero havia retornado.

Ele tinha as compras empilhadas ao seu redor, com pacotes cheiros de

roupas, equipamentos de camping e manoplas. Por mais distraído que

parecesse, ela teve a sensação de que ele continuava ciente de absolutamente

tudo ao seu redor, e até cronometrava suas ações.

Quando ele não ofereceu mais nada sobre seus pensamentos, ela

perguntou: — Pensando em quê?

Bane ofereceu um encolher de ombros, depois abriu o kit de primeiros

socorros para curar seu ombro.

Argh! Homem frustrante! Ela suspirou. Esperar por algo – a história

de sua vida.

Várias horas após, depois de tentar e não conseguir conversar com

Bane, ela viu uma placa e decidiu provocá-lo.

— Olha, Bane! — Ela fingiu um grito. Um museu falológico. — Eles

exibem pênis falsos. Vamos. Nós podemos? Por favor, por favor, por
favor. Somente um homem com um pênis muito pequeno diria não.

Ele abriu a boca, depois a fechou sem dizer uma palavra, e ela tentou

não sorrir.

— Nenhum comentário? — Ela perguntou.

— Esta é a sua vingança, não é? Bem, excelente trabalho. É desonesto

e eficaz. Devo lembrar-me de ficar em guarda, para que meu ego não sofra

mais esfolamentos.

Ela bateu no nariz e apontou para o peito dele. — Ding, ding,

ding. Pare de me ignorar, e não vou levá-lo a uma vala.

— Eu nunca te ignorei, Nola. Desde o começo, eu quis você. Todo dia,

toda hora, todo minuto, lutei muito para manter minhas mãos longe do seu

corpinho exuberante. E estou lutando pelo controle agora.

Ela respirou fundo. Não puxe o carro para o lado da estrada. Não suba

no colo dele.

— Você sabe que também quero você — disse ela, sua voz como

cascalho.

— Eu sabia que estava atraída por mim, não que você me quisesse...

tão desesperadamente.
— O que! Eu? Desesperada?

Ele se recostou no banco, todo homem satisfeito. — Desta vez, eu

provoquei você.

Ela o teria dado o dedo, mas ele só pensaria que ela se considerava sua

fã número um.

— O que fez você concordar em sair com ele? — Bane perguntou. — O

que ele fez para ganhar você?

— James? — Ela perguntou, parando. Respire fundo, expire. Se ela

tivesse que derramar as coisas para seguir em frente, ela derramaria. — Ele

é primo do meu colega de trabalho. Ele veio vê-lo um dia. Nenhum de nós

sabia que ele o convidaria simplesmente para nos apresentar. Conversamos,

rimos e ele perguntou se eu queria pegar algo para comer. Eu disse sim.

— E?

— E o que?

— O que mais ele fez?

— Nada — disse ela, franzindo a testa.

— Mas você é da realeza. Você é linda, inteligente, corajosa e

espirituosa. É um prêmio. Ele não lhe deu presentes, cortejando-a


adequadamente?

Os elogios dele ecoaram dentro de sua cabeça, a doçura

intoxicante. Antes que ela pudesse responder, um portal se abriu na estrada,

a poucos metros de distância, revelando uma floresta sombria. Horror a

socou. Tarde demais para desviar!

O horror deve ter atingido Bane também. Ele gritou o nome dela. Ela

gritou o dele quando o carro atravessou o portal.

E bateu em um banco de árvores.

Metal triturado, vidro quebrado e galhos retorcidos forçaram seu

caminho para dentro do veículo. O impacto a jogou para frente, o cinto de

segurança impedindo que ela fosse ejetada. Um airbag foi acionado,

impedindo o rosto de bater no volante.

Embora a adrenalina a invadisse, entorpecendo os efeitos do chicote e

da dor – por enquanto – um lado do rosto empolou, como se ela tivesse

descansado a bochecha em um prato quente. Queimaduras químicas da

detonação do airbag, sem dúvida. Um estrondo alto soou em seus ouvidos,

e sua visão ficou turva.

— Nola! — A voz de Bane parecia distante, mas a preocupação

irregular soou alta e clara.


Ela abriu a boca para que ele soubesse que havia sobrevivido, por

enquanto, mas sangue escorria por sua garganta, sufocando-a. A escuridão

invadiu, sujando seus pensamentos...

Piscadas.

De repente, ela estava sentada no banco de trás de um sedan, saudável,

íntegra e em seu perfeito juízo. Os pais dela estavam na frente, conversando

em voz baixa. Ao lado dela, havia um assento de carro segurando a criança

Nola. Ela estava lembrando o outro acidente novamente? Caramba, não! Ela

precisava voltar para Bane. E se ele estivesse machucado?

— Ela é um monstro. — Seu pai sussurrou. — Devemos nos

esconder dela, não com ela.

Ela quem? Não a Nola bebê. De jeito nenhum, não como... certo?

— Ela brincou no fogo sem queimar, — sua mãe respondeu, olhando

para Nola com uma expressão preocupada. — Isso não faz dela um monstro.

Espera. Eles estavam falando sobre ela, não estavam? Monstro... Seu

estômago afundou.

O pai dela segurou o volante com tanta força que a cor sangrou pelos

nós dos dedos. Com a voz trêmula, ele sussurrou: — Ela adora tirar sangue

dos outros. Ela adora brincar de sangue. Ela é má, querida, e você sabe disso.
Não chore. Não ouse.

— Ela é minha filha. — Disse a mãe.

Protetora, apesar das falhas de Nola. Lá vai outro pedaço do meu

coração.

Como antes, um homem alto e musculoso estava no meio da estrada,

e o pai de Nola desviou-se. A próxima coisa que ela soube foi que ela teve

um caso grave de vertigem quando o carro capotou.

Aquelas botas de couro desgastadas se aproximaram do veículo

amassado... seu dono se abaixou, sua pele dourada aparecendo primeiro,

seguida por seus cabelos dourados e seus olhos dourados.

Quando a sua mãe implorou por misericórdia e pela vida de Nola, ele

lançou um olhar através do carro, exalando satisfação quando viu a criança.

A Nola Real se arrepiou, lembrando-se do modo que ele a alcançou

dentro do carro e arrancou a mãe dela.

Sua mãe encontrou o olhar do bebê Nola brevemente, depois

concentrou-se totalmente no homem. — Não há bebê no carro. Você não a

ouve. Você não a vê.

Isso não aconteceu da última vez. Claro, ela só viu os destaques


então. Mas outros pequenos detalhes também mudaram. Nola havia afetado

o passado e o calendário dos eventos?

— Salve-se, mamãe. — Nola implorou. Para o homem, ela rosnou: —

Não ouse tocá-la!

Ele não deu nenhuma indicação de que a ouviu quando esfregou o

dedo sobre um dos seus anéis masculinos. De repente, uma luz brilhou nos

pedaços de vidro quebrado na estrada.

Enquanto Nola gritava, ela perdeu alguns trechos da conversa que o

homem estava tendo com... alguém.

Ela se forçou a ficar quieta, a ouvir.

— Ela é a única? — Ele perguntou a alguém que Nola não podia ver.

— Sim. — Uma mulher assobiou. Voz desconhecida.

Nola franziu a testa. Ninguém estava ao lado do Adwaewethiano, ou

perto do carro, mas o volume da mulher sugeria que ela estava por perto.

— Remova o coração e a cabeça dela, depois mate a criança. —

Ordenou a mulher, quase alegre agora.

— Não há criança. — Ele respondeu.


Nola ofegou. Ele obedeceu à mãe dela. Sua mãe também era da

realeza, capaz de comandar bestas. Ela pode não ter sabido, mas os instintos

a levaram neste dia. Se ao menos tivesse dito ao homem para ir embora.

Lutando contra as lágrimas, Nola mergulhou na frente do veículo. O

guerreiro passou através de Nola para pegar sua mãe pelo pescoço e puxou-

a para a rua, puxando-a através da vidraça quebrada.

Com um grito, Nola saiu da mesma maneira. — Deixe-a ir!

— Acalme-se, Pombinha. — O barítono profundo de Bane penetrou

em sua consciência. — Por favor acalme-se. Se debater não é bom para seus

ferimentos.

Lesões? Ela se sentia bem... mais ou menos. Quando piscou, o passado

diminuiu e seu deus dourado apareceu. Ele estava correndo pela floresta,

manobrando em torno de árvores, segurando-a perto de seu peito. Dois

pacotes estavam ancorados em seus ombros, por cima do machucado, e

batiam nas suas costas a cada passo.

Oh droga. Ela estava socando e arranhando Bane em vez do assassino,

e o rosto dele suportava o peso de sua obra. Ele tinha um olho roxo, um nariz

sangrando e um lábio partido.

Embora ela tivesse parado, seu coração continuou acelerado. Uma


lança de dor a atravessou. Um arauto do que estava por vir. Um instante

depois, dores excruciantes assolaram seu corpo. — O que aconteceu?

— Nós caímos. Depois que tirei você do veículo, seu corpo se

transformou em névoa, como na ilha.

Quando a violência terminaria? — Você está machucado?

— Estou bem, mas preciso que você permaneça imóvel. — Disse ele,

ainda correndo. — Há um pedaço de metal cravado ao lado do seu coração.

O que! Ela estendeu a mão. Quando colocou os dedos em torno de um

pequeno cachimbo de metal, um gemido escapou.

— Eu vou levá-la para a segurança, e você vai se curar. — Ele correu,

desespero e preocupação tingindo sua voz irregular. — Você entende? Você

vai curar. Diga.

— Eu vou me curar. — Ela sussurrou, as palavras arrastadas. Ela

iria? Mais frio a cada segundo. Estremecimentos a balançaram contra ele,

agravando os músculos ao redor do cano. — Onde estamos?

— Não sei. Mas sei onde estaremos.

— Estamos sendo perseguidos? — O portal da estrada... ela não se

lembrava de ter visto alguém de pé dentro ou perto dele, mas alguém


o abriu.

— Estamos. Ronan e Petra são combatentes trabalhando juntos. Talvez

namorando. Ronan tem uma espada brilhante capaz de cegar

temporariamente seus oponentes, e Petra tem uma espada capaz de criar

paredes instantâneas a partir de qualquer material que

tocar. Metal. Gelo. Osso.

Lembrou-se de ambas as armas na batalha da caverna, especialmente

a de Petra. A bela mulher balançou em Bane e uma parede de gelo cresceu

do chão.

Seu lado escuro sussurrou, eu quero o casal morto, morto por minha

mão. Eu quero arrancar seus corações e festejar. Quero pegar as armas deles

e matar o homem que assassinou meus pais. Quero segurar o coração deles

em minhas mãos e me alegrar enquanto o órgão executa sua última batida.

Nola... concordou. Seus membros ainda vibraram com emoção. Me dê.

Só então, ela entendeu o desejo de vingança de Bane de uma maneira

que ela não tinha antes.

— Bane — ela ronronou. A tentativa de sua vida foi outro pecado que

estava na porta do casal. Um pecado que seu lado sombrio usou como

combustível, ganhando novo terreno dentro de sua mente... e seu coração?


— Sim, Pomba?

— Seja bom e mate os dois, mas guarde o coração deles para mim.

— Eu poderia usar um lanche.


O que fazer quando ele é o rei do apego

A BESTA bateu no crânio de Bane, ansiosa por escapar quando

acelerou através de uma densa floresta enluarada. Os galhos das árvores

arranhavam seu rosto e braços. O suor umedeceu sua pele, e ele trabalhou a

cada respiração, os danos internos causados pelo acidente de carro o

inundando de dor. Com uma mão, ele apertou Nola perto. Com a outra,

continuamente cortava a palma da mão na lâmina do punhal e jogava o

sangue sobre a folhagem para criar uma trilha perceptível para os

perseguidores seguirem. Ele tinha um plano.

Seus instintos mais violentos exigiam que ele parasse e lutasse. Farei

Ronan e Petra pagar! Ai de mim. O bem-estar de sua princesa importava

mais.

Nola notou que tinha pedido para ele matar o casal e salvar seus

corações? O instinto real exigia que ela comesse os órgãos para absorver a

força de seus inimigos? Toda rainha experimentava o desejo em algum

momento.
Ele havia se convencido de que Nola seria diferente, que sua vontade

de ferro poderia salvá-la de desejos tão mórbidos, que ela não desejaria o

ato, como Aveline e os outros membros da realeza haviam feito. Agora...

Ele rangeu os dentes. Se ele realizasse o Rito de Sangue, perderia a

Nola doce, generosa e apaixonada.

Não posso perdê-la. Ela não.

Droga! A mulher era mais perigosa do que jamais imaginara. Ela fez o

que ninguém mais podia: escapou das defesas dele, ultrapassou o arame

farpado interno e entrou na prisão de segurança máxima conhecida como

seu coração.

Ele a amava? Não. Ele não amava. Não amava! Ele não queria, não

poderia, e nem deveria. Amor sem força era miséria. Mas ele se importava

com ela.

Não posso perdê-la, ele pensou novamente. Também não posso

renunciar à minha vingança. Até o pensamento o fez sentir como se tivesse

arrancado sua caixa torácica e exposto seus órgãos. Por mais que Bane

desejasse Nola – freneticamente, desesperadamente – ele não podia permitir

que Aveline vivesse. Ela apenas torturaria e atormentaria seus irmãos. Não

permitiria que ela aproveitasse a vida enquanto suas vítimas apodreciam em

seus túmulos.
Coloque Nola em segurança. Descubra o seu próximo passo.

A princesa gemeu e murmurou: — Dói. — Quanto sangue ela havia

perdido? A palidez amarelada da pele e o tom azulado dos lábios sugeriam

muito.

Ele exclamou: — Eu sei, Pomba. — E deu um beijo rápido na testa

dela. — Se você puder, descanse. Vou fazer você melhorar assim que

despachar nossos perseguidores. — Se o plano dele falhasse...

Não deixe falhar.

E se ela se tornasse névoa de novo?

Por que virar névoa em primeiro lugar? Tinha que ser uma habilidade

sobrenatural única. Mas qual era o seu propósito?

Quando ele sentiu que estava a uma distância perfeita do caçador – o

tempo importava – ele abriu um portal para um campo de lavanda no

exterior... também um acampamento base que pertencia a Ranger, um

guerreiro selvagem capaz de vomitar fogo nas pontas dos dedos.

Se Ranger tivesse retornado ao acampamento, ele poderia despachar

Ronan e Petra. No mínimo, Ranger poderia manter o casal ocupado

enquanto Bane cuidava de Nola.


Na esperança de convencer Ronan e Petra de que ele havia passado

por aqui, jogou sangue nos caules de lavanda. Tenho que trabalhar, tenho

que trabalhar. Então, se escondeu nas imediações. Ele colocou Nola no chão

o mais gentilmente possível, tomando cuidado para não empurrar o metal

que se projetava do ombro dela e apalpou dois punhais. Ela estava bem

acordada, com os traços apertados, a pele mais pálida do que antes,

pequenas chiados deixando-a com toda exalação forçada.

Com a voz baixa, mas rouca, ele disse:

— Fique o mais quieta possível, Pomba. O portal permanecerá aberto

entre cinquenta a sessenta segundos.

A impaciência roeu seus nervos enquanto esperava Ronan e Petra

aparecerem. Quarenta, trinta.

Vinte.

Nola não respondeu nem se mexeu uma polegada. O medo e a

impaciência se transformaram em pânico que tudo consome.

— Só mais um pouco, Pomba. — Sussurrou, sentindo como se tivesse

acabado de engolir um bocado de unhas enferrujadas. — Espere por mim.

Quinze. Quatorze. Treze.


A fera continuou batendo em seu crânio, agitada além da medida, e

Bane não sabia se seu dragão queria matar Ronan e Petra, ou atacar Nola

enquanto tinha a chance. Ou ambos.

Ela está fora dos limites, agora e sempre.

Dez. Nove.

Por fim, o casal entrou em sua linha de visão. Eles seguiram a trilha de

sangue, como esperado.

Sete. Seis.

Eles conseguiriam passar a tempo?

Sim! Com apenas dois segundos de sobra, os tolos dispararam através

do portal. A abertura se fechou.

Sabendo que eles poderiam voltar a qualquer momento, Bane

interrompeu toda a emoção e montou na cintura de Nola. Uma lasca de luar

banhou seu rosto precioso, permitindo que ele observasse sua expressão

enquanto passava a mão por seu cabelo. Com a outra mão, ele vestiu uma

camiseta nova em folha.

Suas íris vidraram com angústia.

— Eu sei o que você está planejando, e não quero que faça isso.
Mesmo diante de dores excruciantes, ela se recusou a fazer uma

exigência. Não era à toa que ele se importava com essa mulher incrível. Ela

era um unicórnio raro e maravilhoso. E eu estou prestes a fazê-la sangrar.

— Sinto muito, Pomba, mas você não pode começar a se curar até que

o cano seja removido.

— Por favor, leve-me a um hospital. Eles vão me anestesiar e...

Com um puxão feroz, ele removeu o cano e pressionou a camisa

amassada contra a ferida aberta deixada para trás. Quando ela curvou as

costas e gritou na noite, os pássaros voaram. Pelo menos o material absorveu

os jatos de sangue arterial.

Tremores atormentaram Bane, apertando o peito. — Sinto muito,

Pomba, mas devo fazer mais.

— O que você quer dizer com mais? — Ela chorou quando a resposta

se cristalizou. — Por favor não. Eu estou te implorando. Isso não iniciará o

Rito de Sangue?

Aperte, aperte. — Vou tomar cuidado.

— Bane.

— Sinto muito, mas devo cauterizar sua ferida ou você sangrará. Eu


estou te implorando. Quando a dor atingir, não lute contra o desejo de

desmaiar.

Ela ficou quieta, com lágrimas escorrendo pelo rosto.

Odiando-se, Bane usou a mão livre para arrancar seu top

arruinado. Seu estômago se rebelou ao ver sua pele pálida e vermelha.

Ele foi responsável por isso. Ela colocou sua vida em suas mãos, e Bane

falhou em protegê-la. Ela deveria odiá-lo também. Quando terminar de

consertá-la, ela poderia.

Prefiro que ela viva me odiando do que morra me agradecendo.

— Sinto muito. — Repetiu. Sem opções, ele inclinou a cabeça, deixando

a fera cuspir fogo em sua garganta.

— Por favor. — Ela plantou os pés no chão e tentou afastar todo o corpo

de Bane, mas por causa da fraqueza, ela se moveu apenas uma polegada, e

claramente a agonizou. — Não...

Endurecendo seu coração, ele se inclinou e soprou em seu

ferimento. Brasas crepitaram de sua boca, derramando sobre músculos e

carnes rasgados. Uma das alças de seu sutiã foi carbonizada. Ela curvou as

costas novamente e soltou outro grito. Um verdadeiro quebra-vidros.


Sua voz falhou. Ela gemeu e caiu no chão. Mesmo agora, permaneceu

acordada, toda força silenciosa e coração corajoso.

Ele reajustou as mochilas e abriu um portal para a estrada de onde

haviam saído anteriormente, depois pegou Nola em seus braços. Uma

tempestade se formou, o ar úmido. Um trovão ecoou ao longe, relâmpagos

dividindo o céu escuro.

Com um tom hesitante, ela perguntou: — Como os combatentes

identificaram nossa localização?

— Não sei, mas vou descobrir depois de conseguir outro transporte.

Ele sinalizou um veículo e removeu o proprietário à força. Utilizando

as habilidades que adquiriu assistindo Nola, dirigiu mal, mas o suficiente

para abandonar sua localização atual.

Ele lançou um olhar para ela, aliviado ao ver que seus ferimentos

começaram a curar sobrenaturalmente. No momento ideal pois o céu se

abriu e martelou a terra com uma chuva forte.

Ele dirigiu uma boa distância, conversando sem parar para distrair sua

princesa de sua dor.

— Aposto que você está curiosa sobre Adwaeweth. O reino inteiro é

composto de seis mundos. Ganhei dois deles em uma All Wars. Em cinco
desses mundos, os cidadãos vivem sob uma cúpula mística. O sexto é escuro

como breu e não precisa de sol. Dentro de cada mundo, existem vários

territórios governados por princesas sujeitas a Aveline. Minha mãe era

criadora e escolheu meu pai como companheiro. Eles tiveram três meninos,

incluindo eu, e uma menina. Mas, dentro de um período de vinte anos, meu

pai ofendeu Aveline, e ela... comeu o coração dele. Minha mãe se recusou a

escolher outro companheiro, então Aveline comeu seu coração apenas dois

meses depois. Meus dois irmãos foram mortos em uma All Wars, e minha

irmã morreu no parto, junto com seu bebê. Depois de cem anos, e eu me

recusei a lutar na terceira All Wars, então Aveline matou Meredith.

Meredith tinha sido sua luz brilhante.

— Tanta tragédia. — Nola murmurou do banco de trás.

— Tragédia após tragédia, perda após perda. — Não tenho certeza de

quantas mais eu posso suportar.

— Não admira que você prefira mulheres guerreiras. — Ela lutou para

uma posição ereta.

— Cuidado. — Disse ele, a preocupação obscurecendo seu alívio. — O

que quer dizer?

Ombros rolando, com um tom triste, ela disse:


— Você admitiu que não pode sobreviver a outra perda. Então, agora

escolhe as pessoas com maior probabilidade de sobreviver a quaisquer

dificuldades futuras.

A observação dela fez sentido. O fato de que ela o viu, que começou a

descobri-lo...

— Veja tudo o que você sobreviveu. O que você vai sobreviver.

Um clarão vívido de relâmpago momentaneamente iluminou o

veículo inteiro, refletindo-a. Ele a examinou pelo espelho retrovisor. A dor

gravava cada centímetro de seu lindo rosto, mas também admiração.

Admiração? Tão fora de lugar. O que causou a emoção?

Quando a tempestade diminuiu, ele abandonou o carro. Executores

humanos poderiam já estar em busca disso. Ele levou Nola para um parque

de trailers nas proximidades. Em algum momento, ela adormeceu, o ruído

forte da chuva criando a canção de ninar perfeita.

Ele tirou uma camiseta de uma mochila para cobrir o rosto e o peito de

Nola. Então, usando o dinheiro que ela ganhou com a venda das joias,

comprou um trailer mais antigo. Ele deve ter pago em excesso, porque o

proprietário viu a pilha de dinheiro e gritou.

Depois de colocar Nola na cama, tirou seus sapatos e calças, mas


deixou as roupas de baixo no lugar. Ele procurou uma casa sob rodas, ideal

para descansar – pequeno, mas funcional. Havia um sofá com estampa floral

e uma grande tela preta. A pequena cozinha tinha fogão e pia, balcão, uma

mesa e cadeiras dobráveis. Na parte de trás, o menor banheiro do mundo e

o único quarto.

Nola permanecia enrolada sob as cobertas, cabelos sedosos espalhados

sobre um travesseiro. Pingos de chuva se acumularam em seus cílios. Ou

aquelas gotinhas eram lágrimas? Aperto. Felizmente, suas feridas estavam

completamente fechadas. Parte da área carbonizada havia desaparecido de

sua carne. Ela se recuperaria totalmente. Então, por que estava tremendo,

suas defesas desmoronando? Por que ele não conseguia superar o quão

perto esteve de perdê-la?

Não haveria mais espera, decidiu. Ele a queria, queria tudo o que Nola

tinha para dar, e lutaria por ela com todas as armas em seu arsenal. Se

pudesse fazer com que ela se desprendesse de Vale no processo seria... ainda

melhor.

Bane se arrastou para o sofá e esvaziou os bolsos. Ele passou a ponta

do dedo sobre a fotografia da jovem Nola, o peito contraído mais uma

vez. Mais difícil. Ela irradiava tanta alegria. Alegria que ele tocaria...

possuiria, mesmo que por pouco tempo.


Enquanto lia o artigo que ela havia escrito, um meio sorriso

apareceu. As três principais dicas de Nola para passar de inimigos a

amantes? 1) concentre-se no positivo, mas não se coíba de discutir sobre o

negativo. 2) troque insultos por elogios. 3) termine todo argumento com um

beijo.

Obrigado pelo conselho, Pombinha. Vou prestar atenção a cada

palavra.

Bane desistiu de resistir a seus desejos.

****** ******

NOLA ESTICOU SEUS braços acima da cabeça, arqueou as costas,

endireitou as pernas e abriu os olhos. Uma leve dor no ombro a fez

estremecer... e desencadear uma riqueza de memórias. O acidente. Bane

fazendo o papel da enfermeira Ratched17 carregando-a através da chuva e

17 Enfermeira Ratched é uma sociopata, tirana, cruel e sádica mulher que controla seus pacientes com
punho de ferro. Ao ser contrariada por algum deles, de forma sutil usa seus métodos de humilhação como punição.
Outras formas de agir são usar terapia de choque e lobotomia. Ela se tornou um estereótipo do enfermeiro como um
machado de batalha. E também se tornou uma popular metáfora para a influência corruptora do poder e autoridade em
burocracias como a instituição para doentes mentais em que o romance é ambientado. Foi interpretada por Louise
Fletcher no filme Um Estranho no Ninho e a interpretação garantiu a atriz o Oscar.
dirigindo até ao parque de trailers.

Com o coração batendo forte, ela se levantou e fez um balanço

entorno. Um quarto, com uma cama e duas mesinhas de cabeceira, nada

mais. Havia uma única janela, relâmpagos filtrando através de uma fenda

nas cortinas. A tempestade não tinha diminuído, o ar elétrico.

— Bane? — A porta do quarto estava aberta, deixando-a deslizar o

olhar sobre o resto da casa móvel. Não havia muito espaço, mas o que havia

era limpo. Nenhum sinal de seu guerreiro.

Ela se olhou em seguida. Usava o sutiã preto com uma alça

arrebentada, calcinha combinando e sangue seco. Seu ferimento havia

fechado, até a ferida desapareceu, graças às ministrações de Bane e à cura

sobrenaturalmente rápida.

Ele tinha gostado da dor da sua futura rainha? Certamente não hesitou

em arrancar a haste ou cuspir fogo em seu ferimento. Mas...

Sinto muito, Pomba. A angústia havia saturado sua voz. Não, ele não

tinha gostado de seu sofrimento. A realização abraçou seu coração. Mas se

aquele pedacinho de seu fogo já tinha machucado tanto assim – ah, e

machucou – quão pior o Rito de Sangue seria?

Nola cambaleou da cama. Seus joelhos tremiam, mas não cederam. Ela
procurou em uma mochila, pegou uma barra de cereais e comeu. Precisava

de energia. Ela checou o telefone, esperando ver uma mensagem de Vale ou

Zion. Bane também, mesmo que ela ainda não o tivesse ensinado as coisas

tecnológicas.

Boo. Nem uma mensagem.

Ela juntou produtos de higiene pessoal e roupas limpas, tomou banho,

escovou os dentes, vestiu uma blusa e um par de shorts. Ainda nenhum sinal

de Bane. Ele estava atrás de Ronan e Petra?

Mate os dois, mas guarde seus corações para mim.

Outra lembrança veio à tona e Nola respirou fundo. Ela realmente

havia proferido aquelas palavras para Bane, planejando e “esperando”

comer os órgãos?

Cambaleando, ela se jogou na beira da cama. As rainhas

Adwaewethianas costumavam comer o coração de outras pessoas?

Rainha de Copas, eu?

Bem, Nola teria que usar sua vontade de ferro para garantir que nunca

cedesse ao desejo. Porque eca. Se eu colocar minha mente em algo, o

realizarei.
Dobradiças gemeram quando a porta da casa móvel se abriu.

A antecipação a levou a seus pés, seu coração batendo com força no

peito.

Bane entrou, e o trailer repentinamente ficou mil vezes menor, as

paredes parecendo se fechar. Ele a viu e parou abruptamente; o punho do

coração começou a socar suas costelas.

Mechas de cabelo molhado estavam grudadas na testa e nas

bochechas. Ele usava uma camiseta e couro, as duas roupas ensopadas e

agarradas ao seu corpo musculoso. O aroma da chuva se misturava com sua

fragrância inata de almíscar masculino e especiarias exóticas. Nunca vou

conseguir o suficiente. Uma cinta de couro bifurcava em seu peito,

ancorando a espada nas costas, o punho subindo acima do ombro largo.

Um raio brilhou atrás dele, dando-lhe uma auréola

temporária. Tremulações irromperam em sua barriga. A maneira como ele

se movia, tão fluido quanto a água, tão gracioso quanto um gato da selva,

cada centímetro dele pulsava com a fome de um predador noturno. Seus

olhos ardiam de desejo. E ele estava duro. Talvez latejante.

Ela estremeceu e se abraçou.

Com um tom áspero nas bordas, ele perguntou:


— Você está bem?

— Graças a você, estou. — Ela mudou de um pé para o outro. — E

você? Onde esteve? — Parecia uma namorada chorona.

Espera. Lembrou-se de um artigo que escrevera. A pesquisa que

fez. Quando você estava em um relacionamento, era 100% aceitável querer

saber onde estava sua pessoa, e não havia nada de lamentável ou irritante

nisso.

— Estava supervisionado nossas defesas. — Ele deslizou seu olhar

sombrio e quente sobre ela lentamente, languidamente. — Estava

preocupada comigo?

Ela detectou prazer em sua expressão?

A excitação fervilhava em suas veias e o resto do mundo

desapareceu. Uma série de arrepios mais fortes percorreu sua

espinha. Como ela poderia o querer tanto? Como poderia

querer tanto alguém?

Quando ele deu um passo à frente, a porta se fechou atrás dele,

selando-os dentro do trailer. Sozinhos. Ele deu outro passo. Fechou e abriu

as mãos, dizendo:

— Gosto da sua mente...quando ela decide obedecer a todos os meus


comandos.

O tom estava rouco, o tom provocante desta vez. Pelo menos, ela

pensou que ele tentou deixar sua voz brincalhona. Parecia mais faminto.

O trovão explodiu, sacudindo todo o trailer. Seu pulso martelou. —

Obrigada, eu acho?

— Eu gosto do seu corpo, sempre. — Continuou. Ele deu outro passo

mais perto, tirou e jogou a camisa para fora, revelando um banquete de

músculos e tendões. — Mas não gosto que você esteja usando tantas roupas.

Não gosto que você esteja tão longe. Não gosto que suas pernas não estejam

ao meu redor. — O passo final.

Cada nova palavra era mais cruel que a anterior. Um sinal de sua

crescente excitação?

Finalmente, Bane ficou em frente a ela, uma torre de beleza

masculina. Quando estendeu a mão, seu coração quase explodiu em seu

peito. O que planejava fazer? O que ela queria que ele fizesse?

Fácil – quero que ele faça tudo.

Os nós dos dedos roçaram seu umbigo, a barriga tremendo. Quando

ele começou a brincar com o zíper, a respiração parou nos pulmões.


— Agora — disse, — diga-me o que você não gosta em mim. E

depressa. Assim que terminar, podemos encerrar nossa discussão

corretamente – com um beijo.


Quantos orgasmos você deve esperar?

A EXCITAÇÃO CONSUMIA NOLA, chocando-a, os hormônios uma

vez ignorados. Sua respiração acelerou e estava superficial, dando boas-

vindas a um ataque de tontura. O que quer que tenha causado essa mudança

em Bane...

Eu gosto!

Enquanto sua mente não tinha certeza do que estava acontecendo, seu

corpo dizia: sim! Eu sei. Ele me quer loucamente! Quase tanto quanto o

quero. A paixão, primitiva e selvagem, desviou o olhar. Seu calor e perfume

agiram como inflamados. Arrepios se espalharam por seus membros,

sensibilizando sua pele.

Um toque íntimo, e ela pode disparar como um foguete.

— Eu não gosto... eu... — Para dizer o que ela “não gostava” nele,

precisou pensar direito. Ele arruinou meu cérebro.


Novos relâmpagos iluminaram o veículo com um suave brilho

âmbar. Um curativo cobria a ferida no ombro e elos de metal circulavam seu

bíceps. Gotas de água escorriam pelo seu abdômen. Uma trilha dourada de

pelos apontava para baixo, onde sua ereção esticava o tecido. Como um

mapa da perfeição.

Parecia uma pintura que chegava à vida escaldante.

— Você não vê defeitos em mim? — Ele perguntou, um de seus peitos

pulando. — Acha que sou perfeito do jeito que sou?

— Não, claro que não. — Era assim que os Adwaewethianos

flertavam? — Você tem inúmeras falhas. Incontáveis!

— Errado. Eu tenho uma falha e é uma total falta de falhas.

Ela cuspiu por um momento, apenas para começar a rir.

Ele ficou tenso, olhando-a como se pudesse ler todos os segredos

escondidos atrás dos olhos dela. A agressão ecoava dele.

Sua diversão morreu com uma respiração estrangulada.

Procurando seu olhar, ele lentamente mergulhou a cabeça até que seus

lábios pairaram sobre os dela. — Permita-me contar mais sobre minhas

aversões.
— Tudo bem.

— Eu não gosto que você não esteja naquela cama, aceitando meu pau

enquanto te preencho com cada centímetro latejante.

Calor. Mais arrepios. As dores mais maravilhosas. Ela experimentava

tudo isso e muito mais.

Sexo com Bane, o homem que ela ansiava mais que água para

beber. Havia complicação e haveria consequência. Agora, ela não se

importava, sua necessidade era grande demais.

— Sim. — Ela sussurrou. Esperou uma vida inteira por este momento,

este homem, e nada a impediria de apreciá-lo.

— Concordamos então. — Rosnou, desejo espumando em seus

olhos. — Agora nos beijamos e fazemos as pazes. — Com uma mão em sua

nuca e outra em sua cintura, Bane a puxou contra a linha dura de seu corpo

e pressionou sua boca contra a dela.

Concordamos? Seus pensamentos se embotaram e ela derreteu contra

ele, abrindo a boca ansiosamente, encontrando o impulso da língua dele com

uma chupada e um beliscão. Ele tinha gosto de chuva e excitação, e ela não

conseguia o suficiente, uma loucura terrível e maravilhosa a consumindo.

Seu gemido tentador acendeu um fogo profundo em sua barriga, uma


febre se espalhando rapidamente. Quantas noites ela jazia na cama, envolta

pela escuridão, faminta pelo toque de um homem?

Bane acalmou sua fome... e a piorou ao mesmo tempo.

Com um puxão em seu cabelo, ele aprofundou o beijo. Mais duro, mais

rápido, todo desejo não realizado que já teve, imergindo através dela de uma

só vez, exigindo satisfação agora, prontamente, imediatamente. Seu coração

batia forte e seus seios se preparavam para ele, com as pontas

distendidas. Entre as pernas, ela doía ainda mais.

Ele levantou a cabeça e pressionou a testa na dela. Ofegante, disse: —

Eu quero ver você.

O fogo em seus olhos... ela ficou bêbada só de olhar para ele. Voz como

seda, respondeu: — E eu quero me mostrar para você.

Não precisando de mais incentivo, Bane puxou a blusa e jogou-a para

o lado. As pupilas dele queimaram quando o cabelo dela caiu no

lugar. Então ele voltou sua intensidade para o sutiã dela, dando o mesmo

tratamento que a camiseta.

Arrancar. Soltar.

O ar fresco roçou sua carne quente, atraindo mais arrepios para a

superfície. Quando seus mamilos enrugaram, ele soltou uma maldição.


O fogo se intensificou. O poder feminino flutuou através dela,

deixando-a mais bêbada. Ela revirou os ombros para levantar os seios.

Ele soltou outro rosnado. — Pequenas belezas perfeitas. — Reverente,

a segurou e amassou, passando os polegares sobre os picos.

— Bane!

Quando ele voltou ao beijo, um frenesi tomou conta dos dois. Talvez

porque seus seios nus pressionaram contra o peito dele, pele quente

esfregando contra pele quente. Cada respiração puxava seus mamilos para

cima, depois para baixo e depois para cima novamente, provocando um

atrito mais surpreendente. O êxtase e a agonia a bombardearam, e ela não

conseguiu formar um pensamento completo, apenas fragmentos.

Querer. Necessidade. Mais. Por favor. Sim. Sim. Sim. — Bane!

Bane arrancou a boca da dela, arrastando um gemido irregular para

fora. Ele estava ofegante, a angústia esfriando o fogo em seus olhos. — Não

deveria ser tão bom. Com qualquer uma. Nunca.

Pensando em abandoná-la? Vamos ver se consigo fazê-lo mudar de

ideia. Ela ficou na ponta dos pés, segurou os cabelos dele e arreganhou os

dentes. — Eu preciso vir. — Ela disse suavemente. — Me faça vir. Isso não é

uma demanda, mas um pedido desesperado.


— Eu irei. Sim. — Com um rosnado, a girou e arrancou o botão da

bermuda, escancarando os dois lados do zíper. Ele enfiou a mão em sua

calcinha.

Ela arqueou a coluna, estendendo a mão para cima e para trás para

pentear as unhas através dos cabelos sedosos dele. Uma vez, duas vezes, ele

fundamentou sua ereção nas costas dela enquanto traçava o dedo médio

através da sua umidade. Provocando seu clitóris. Amassando o

peito. Provocando, massageando.

Suas mãos marcavam, queimando seu corpo e alma. Enquanto o êxtase

afogava Nola em ondas cada vez mais intensas, seu hálito quente abanava

seu pescoço, imitando uma carícia. Ela sentiu esse homem incrível em suas

células, sua medula.

Ele beliscou o lóbulo da orelha, beliscou o mamilo e sussurrou:

— Você me responde como ninguém nunca fez, como se fosse um

canal para o meu prazer. Eu dou, e você pega, depois devolve para

mim. Sempre me dando mais.

Belas palavras. Inebriantes. A grande e má fera estava como massa nas

mãos da virgem, o conhecimento mudava a vida. Mas...

— Menos conversa, mais toques. — Depois da conversa, Nola agarrou


o pulso dele e ergueu os quadris, tentando enfiar o dedo médio dentro dela.

Sua risada sombria abanou seus ouvidos, provocando arrepios em

todas as suas partes favoritas. — Minha Pomba precisa ser preenchida? —

Perguntou, circulando seu clitóris com crescente pressão.

— Sim! — Circulando, mas nunca muito forte. Gritos lamentáveis a

deixaram. Quando ela virou a cabeça para beliscar sua mandíbula, ele

desceu e a beijou novamente. Cada golpe de sua língua exigia rendição total

– rendição que ela dava.

Por fim, pressionou o dedo contra o coração de sua necessidade.

— Bane! — Ruptura. Felicidade. Satisfação.

Nola gritou, queimando, por dentro e por fora, estrelas piscando atrás

de suas pálpebras. — É bom. Tão bom. Nunca quero que pare... — O prazer

sublime a atingiu, despertando euforia total. Sua mente saiu de férias e seu

corpo subiu nas nuvens.

— Este é apenas o começo. — Ele murmurou. Quando as paredes

internas dela se fecharam, ele mergulhou um dedo grosso dentro de seu

aperto, e seu clímax se aguçou.

Outro grito se soltou.


— Você é quente o suficiente para queimar e forte o suficiente para me

enlouquecer para sempre. — Empurrou outro dedo, esticando-a,

trabalhando-os dentro e fora, dentro, fora. — Eu vou amar te foder.

Sua linguagem rude a excitou, a necessidade dele, por isso, voltando à

vida surpreendente. Ela choramingou.

— Alguma doença, Pomba? — Ele parecia tão calmo.

— Nenhuma. Mas eu posso morrer se você parar.

— Isso é bom, porque eu preferiria morrer a parar. — Ele deslizou os

dedos nela, dentro e fora, depois a girou para encará-lo.

O homem era de tirar o fôlego. Uma gota de suor escorria por suas

têmporas, as linhas de tensão apertavam a pele ao redor dos olhos. Ela

deslizou as palmas das mãos pelos sulcos musculares do abdômen

deleitando-se quando suas narinas se abriram. Suas respirações eram

superficiais e irregulares, como se ele tivesse que empurrar o ar através de

algum tipo de pista de obstáculos. Suas íris eram de ouro derretido, com

chamas estalando por toda parte.

— Eu vou... — Arrancou seus shorts e calcinha, depois removeu e

soltou os elos que estavam ao redor de seus bíceps. Apertando a cintura

dela. — Viciar seu corpo no meu.


— Considere a missão cumprida.

— Sim, mas tenhamos certeza duplamente. — Ele a jogou na

cama. Quando ela pulou para cima e para baixo, ele tirou as botas,

desabotoou a calça e empurrou a roupa para o chão. Metal tilintou. Não

havia como dizer quantas armas ele havia escondido.

Liberado do confinamento, seu eixo balançou, uma vara enorme com

uma fenda úmida. Ele agarrou a base e acariciou uma vez, duas vezes, o

movimento rítmico hipnotizando-a.

Quando ela ronronou, tonta, ele apertou seus tornozelos e a puxou,

deslizando-a para a beira da cama. Por um momento longo e silencioso,

espiou o coração de seu desejo. Ele lambeu os lábios. — As coisas que eu

quero fazer com você. As coisas que quero que você faça comigo. E nós

faremos isso. Tudo isso. Até as coisas proibidas em Adwaeweth.

— Sim. — Resmungou. — Eu quero fazer tudo com você. Com a gente,

nada é proibido.

Ele piscou com espanto, antes que um olhar de admiração

deslumbrante descesse sobre suas feições. O peito dele estava cheio de

orgulho – dela! — Você me desfaz, Pomba.

Eu acho que meio que... sim.


Ele caiu de joelhos e assobiou. — Gostosa. Bela.

O brilho voraz em seus olhos... Uma promessa de delícias perversas.

De repente, Nola se sentiu como Chapeuzinho Vermelho, com um lobo

grande e mau entre as pernas.

****** ******

Com as mãos tremendo, Bane empurrou os joelhos de Nola mais

distantes. Mais longe ainda. O novo centro do meu mundo.

A culpa veio à tona. Se ele fizesse isso, se levasse Nola, Meredith não

seria mais a última mulher que ele havia dormido. Ainda...

Eu não posso ir embora.

Sua madressilva de dar água na boca e o perfume de jasmim

eliminaram qualquer dúvida persistente. A dor em seu ombro – que

dor? Seu desejo por Nola eclipsou todo o resto. Ele queria essa mulher mais

do que jamais quis alguém ou qualquer coisa. Até o animal a

queria. Sexualmente, pelo menos. Bane suspeitava que ela... seduziu o

demônio.
Ele nunca se sentira tão ligado a Drogo, como se eles fossem um ser e

não dois, desenhado um ao outro igualmente, criando o equilíbrio. Um

desenvolvimento que ele não entendia, mas não questionou. Ainda

não. Satisfação acenou. Pressão construída.

O corpo que ela possuía... esbelto e macio. Intoxicante. Feito para

isso. Feito para mim. Sua vulnerabilidade fez seu eixo pulsar com mais

força. Tudo nela fazia seu eixo pulsar com mais força.

Desenhando círculos na parte interna da sua coxa, ele murmurou: —

Você me anseia, Pomba? Você precisa de outro beijo?

— Sim! — As pálpebras estavam encapuzadas, os lábios entreabertos,

uma febre de paixão espalhada por sua pele. — Beije-me, deslize dentro de

mim. Faça um, faça os dois. Apenas faça alguma coisa. Por favor!

Mais uma vez, ela o encheu de admiração. — A necessidade da minha

princesa é tão grande que ela mal consegue contê-la.

Eu amo minha vida.

Bane se inclinou, mas não a beijou. Quando ela estremeceu, apertando

os lençóis e se contorcendo contra o colchão, ele esfregou a barba contra a

coxa dela, no mesmo local em que seus dedos haviam desenhado aqueles

círculos.
Ele assobiou. Ela gemeu.

Vou levar o que é meu! Bane baixou a cabeça, lambeu a umidade e

quase rugiu com a exatidão. Pura e doce perfeição. Realeza deliciosa.

Bane começou com uma vingança

lambendo. Sugando. Beliscando. Ela gritou e revirou os quadris,

perseguindo a língua dele, deixando-o selvagem. Nunca, em todos os seus

dias, ele se cansaria dessa mulher.

Entre incursões arbitrárias com a boca, disse: — Nunca me negue

isso. Eu quero todos os dias.

Ela proferiu uma resposta incoerente, música para seus ouvidos. Ele

chupou seu clitóris e afundou um dedo dentro de sua vagina quente e

molhada.

— Sim! — Ela gritou, puxando os cabelos dele para segurá-lo no

lugar. — Bane! É seu, sempre seu.

Como recompensa, ele afundou outro dedo. Trabalhando os dois como

uma tesoura, espalhando-os repetidamente, esticando e preparando-a.

Quando ela veio, gritando seu nome, ele tocou o canal uma vez, duas

vezes, imitando sexo. Ela gritou o nome dele.


Desesperado por se libertar, beijou-a, passando a língua pelo umbigo

dela, antes de subir de novo. Um após o outro, ele lavou seus mamilos.

Nola vasculhou suas costas com as unhas. A primeira vez para ele,

porque nenhuma amante jamais havia se deitado debaixo dele. O fato dele

estar no topo, prendendo-a na cama, seu corpo um berço para ele... melhor

do que eu jamais sonhei.

— Está pronta para mim, Pomba?

— Muito pronta!

Ele alcançou entre seus corpos e posicionou a ponta de sua ereção na

entrada dela. Nunca quis tanto alguém. Estou no controle... — Eu quero

levá-la assim.

Entre respirações pesadas, ela disse: — Nua? — Ela mordeu o lábio

inferior. — E um preservativo? Controle de natalidade? Doença?

— Nenhuma doença, juro. — Ele quase não conseguiu expressar as

palavras, sua necessidade era grande demais. — E não posso engravidar.

— Nunca? Deixa pra lá. Diga-me depois. Eu preciso de você dentro de

mim. Só assim. — Empurrou o rosto dele para o dela e o beijou, os dentes

tilintando, as línguas emaranhadas. — Rápido! Por favor. Agora.


Agora. Sim. Com a mente devastada pela excitação torturante, ele

começou a relaxar dentro dela. A princípio, ela o recebeu ansiosamente, lisa

e quente. Mas quanto mais fundo ele deslizava, mais resistência ele

encontrava. Muito apertado.

Nola circulou seus quadris. Novamente. E de novo. Ele trabalhou seu

eixo mais profundo a cada vez. Suor derramava dele. A necessidade

frenética o instou a empurrar rápido, firme e ao máximo. Seus músculos

ficaram tensos quando ele resistiu. O oxigênio chamuscava sua garganta a

cada inalação.

Bane manteve o olhar no rosto dela, consciente de suas

reações. Quando encontrou a evidência de sua virgindade, ela se encolheu,

e ele se forçou a ficar quieto, certamente a coisa mais difícil que já havia feito.

— Dói? — Ele resmungou.

— Sim, mas não me importo. — Ela respirou as palavras contra seus

lábios, urgente. — Estou esperando por você há tanto tempo... não me faça

esperar mais.

Esperando... por ele... Ele e só ele.

O desejo de mergulhar profundamente o dominou. Não prejudique

esta preciosa fêmea. Bane afastou os quadris, preparando-se para


empurrar. Ele fez uma pausa, provocando seu clitóris, forçando-a a

perseguir seu dedo, a balançar seus quadris.

Gemidos a deixaram em um fluxo contínuo.

Ela está pronta para mim.

Respirando fundo, Bane avançou, afundando seu pênis,

profundamente dentro dela.

Nola gritou, chegando, apertando seu eixo, quase torcendo seu

prazer. Sua mente momentaneamente empalideceu, dominada por uma

sublime felicidade. Não venha. Quando ele chegasse, isso terminaria. Lute

contra a necessidade!

Mais uma vez ele pensou: nunca me cansarei.

Dando-lhe tempo para se adaptar à sua invasão, ele inalou, expirou. —

Sinto muito por te machucar. Diga-me que você está bem.

— Isso foi incrível. — Ela mexeu os quadris antes de assentir. — Estou

quase pronta para mais. — Mexendo, o circulando e gemendo alto.

— Diga-me quando estiver pronta. Então e só então eu vou me mover.

— Ou morrer. O que viesse primeiro.

Depois de envolver as pernas em volta dele – outra nova alegria – ela


deu aos quadris outro movimento, este menos hesitante. Um gemido mais

alto. Urgente. Ela achatou as mãos no seu peito – mãos quentes abrasadoras,

queimando a pele. Ele rosnou baixinho.

— Ok, sim. Mova. Mexa-se! — Ela implorou.

Ele fez, duro. Mais duro do que pretendia, saindo e depois batendo. A

cama tremia, a cabeceira batendo contra a parede. E ela deve ter

adorado. Gemendo cada vez mais alto, Nola ondulava com mais e mais

vigor. Então ela o abraçou também, agarrando-o. Bane acelerou o passo,

martelando dentro e fora dela. Dentro e fora. O veículo inteiro tremeu.

Ela bateu em cima da cama e limpou a pele dele com as unhas, o tempo

todo ficando mais úmida e quente. Naquele momento, ela era tudo o que ele

sempre quis, tudo o que sempre precisou e milhares de coisas que não sabia

que poderia ter. Pressão, muita pressão. Tensão. O desejo de possuir e ser

possuído.

Então seu anel de comunicação vibrou.

Bane proferiu uma maldição sombria. Aveline solicitava uma

videoconferência agora? A cadela deve ter sentido seu prazer e decidiu

arruiná-lo. Maldita seja ela! Ele tinha ordens estritas para atender o chamado

dela, desde que não estivesse envolvido em batalha. Ele precisava parar e

lidar com ela.


Vamos! Vamos. Pare!

Ele teve forças para se afastar de Meredith; ele deveria ter forças para

se afastar de Nola também.

Bane lutou com todas as fibras de seu ser. Uma veia pulsou em sua

testa. Músculos ficaram rígidos. Mas... Nola engasgou seu nome e agarrou

sua bunda, e ele empurrou com mais força. A necessidade o dominou, para

fazê-la gozar. Resistir? Impossível.

A culpa viveu e morreu em um único batimento cardíaco, assassinada

pela resposta desinibida de Nola a ele. Mais. Dentro,

fora. Batendo. Dirigindo para ela. Retirando. Dentro, fora.

Quando sentiu os testículos se fecharem, pressionou o polegar contra

o clitóris dela. Como um botão mágico, ela entrou em erupção pela segunda

vez, gritando com abandono selvagem, suas paredes internas apertando em

seu comprimento.

Demais, demais. Ele jogou a cabeça para trás, inclinou as costas e

soltou um rugido selvagem. A fera se juntou a ele.

Isso era euforia. Seu último pensamento coerente quando estremeceu,

e viu estrelas. O arrebatamento...

Quando as estrelas desapareceram, ele caiu em cima de Nola. Bufou


pela respiração com o coração ainda acelerado.

Enquanto ela suspirava com satisfação, uma sensação estranha

acendeu, desconcertando Bane. Ele pensou que poderia estar contente.

Nola tinha explodido sua mente sempre amorosa. Ela não o deixou

chegar ao topo – insistiu nisso. Um não dominou o outro. Os dois

compartilharam o comando, e ele adorou. Outra memória queimou em meu

cérebro. Uma que ele apreciaria para sempre.

Como ele poderia desistir dessa mulher? Nunca!

Ele não conseguiria.

Não posso perdê-la. Não vou. Não para as circunstâncias, e certamente

não para a morte.

Ele planejara acabar com sua própria vida após a derrota de Aveline,

mas a ideia havia perdido seu apelo. Deixar Nola sem guarda? Não! Nunca

mais experimentar essa felicidade? De jeito nenhum.

Ele poderia ficar na Terra – e estar sujeito à sua vontade, se alguma vez

decidisse aplicá-la. E se ela mudasse, se tornando como qualquer outra

rainha, como ele temia? A coisa comedora de coração... deve ter sido um

acaso, ele decidiu.


Além disso, ela vale o risco.

Com o pensamento, a realização amanheceu e o pânico atingiu.

Eu acho que estou me apaixonando por ela.


Transforme seu pós-brilho em uma festa para dois!

Lá fora, a tempestade continuava com raiva. Nola lutou para acalmar

a respiração ofegante, enquanto Bane a olhava com uma expressão de

choque, e rolou para o seu lado. Que pensamentos passaram por sua

cabeça? O que ele faria a seguir? Levantaria e iria embora sem dizer uma

palavra ou se aproximaria para um aconchego?

Ela esperou atordoada com tudo o que tinha acontecido, esperando a

opção A, mas esperançosa pela B. Sua primeira experiência foi melhor do

que jamais imaginara. Feliz. Uma avalanche de prazer após outra. Uma

comunhão de corpos e almas, louca, quente e... perfeita. Mas ela nunca se

sentiu mais vulnerável.

Esperando...

Ela tinha mil perguntas para ele. Ou seja, o sexo tinha sido tão

devastador com todo mundo com quem ele já esteve? Quanto tempo até que
pudessem fazê-lo novamente? Da próxima vez, ela queria beijar, acariciar e

chupá-lo. Ele sentia como se suas defesas tivessem desmoronado, e não

passasse de uma ferida aberta também? Acho que sim! A expressão de

choque não tinha diminuído.

Ainda esperando...

Bane não a puxou para perto, mas também não se levantou. Entre

respirações ofegantes, sua voz rouca, disse: — Preciso entrar em contato com

Aveline. Ela tentou me alcançar enquanto estávamos ocupados.

Nola colou um pequeno sorriso para esconder sua decepção. — Faça o

que precisar. — Disse, e uau, seus gritos haviam arranhado sua voz. Ela

poderia trabalhar em uma linha direta de sexo e ganhar milhões!

Ele passou por uma metamorfose bem diante dos olhos dela, tenso,

como se um peso muito pesado tivesse caído sobre ele. Em seguida passou

um braço sobre os olhos para fechar o resto do mundo – para

fechar Nola. Então ele projetou uma quantidade impressionante de culpa e

arrependimento.

Ótimo! Justo quando o sol começou a nascer em sua vida, afugentando

a escuridão, ele convocou um eclipse.

O calor drenou de seu corpo, deixando-a inundada por um frio


estridente. De alguma forma, ela também se sentia escaldada. Apenas

alguns minutos atrás, estava resplandecente, uma mulher adorada por seu

homem. Agora estava presa em um miasma de confusão e contradição.

Poderosa, porém indefesa. Certa, porém sem noção. Capaz de fazer

qualquer coisa e nada, seu coração cheio e vazio. Esperançosa para o futuro,

mas aterrorizada com o que estava por vir.

Todo mundo se sentia como uma montanha russa de emoções depois

do sexo, ou apenas os alienígenas?

Por que ela e Bane não podiam ser um casal em um romance, sua

vagina mágica curando suas feridas, todos os seus problemas?

Ela fez algum progresso com ele? Seu coração tinha reparado uma

quantia mínima?

Tremendo cada vez mais perceptivelmente, Nola dobrou as cobertas

sobre as pernas... tronco... seios. Um tipo de armadura, ela supôs. Proteção

contra suas próprias vulnerabilidades.

Enquanto vasculhava seu cérebro em busca de um tópico de conversa,

ou talvez um plano de ação, Bane se mexeu e estremeceu, e ela notou as

manchas de sangue no curativo dele.

— Sua ferida. — Disse, sem fôlego. — Está aberta novamente.


— Eu fico mais consciente disso a cada minuto. — Ele apertou as mãos

e abaixou o braço. O que quer que estivesse em sua mente, obviamente

tomou uma decisão monumental, sua expressão determinada. — Nola...

Pomba...precisamos conversar.

Suas esperanças despencaram. — Olha, se você estiver preocupado

que vá ficar pegajosa, pare. Não sou mais virgem. Aposto que posso estar

com outra pessoa. — Não quero estar com mais ninguém.

— Não! — A negação explodiu dele. Ele apertou o braço dela e a

manobrou em cima dele, deitado de bruços. Sem perder tempo, ele inverteu

as posições, prendendo-a. Pairando sobre ela, declarou suave, mas com

firmeza: — Você estará comigo e com mais ninguém. Matarei qualquer um

que tocar em você, depois matarei as famílias deles e varrerei os nomes da

história!

Bane não lhe deu a chance de responder. Se levantou, todo o colchão

tremeu e foi até o banheiro. A porta permaneceu aberta, o som da água

corrente à deriva para a cama.

Sozinha, ela abraçou um travesseiro e sorriu, o ciúme dele como um

bálsamo calmante. Ele poderia largá-la, poderia até dar a ela o discurso “não

é você, sou eu”, mas inconscientemente mostrou suas cartas. Estava tão

confuso quanto Nola, tão irremediavelmente atraído por ela, talvez até se
apaixonando pela futura rainha.

Futura rainha. Rainha Nola. Rainha Nola Lee. Uma vez, o título

pareceu errado. Afinal, ela sentia como se tivesse um propósito genuíno ou

uma grande paixão. Ela deveria saber que “sentir” não era tudo ou o fim de

tudo. Os sentimentos mudavam. Eles geralmente não eram confiáveis e às

vezes mentiam. Todo mundo tinha um propósito, o que eles foram criados

para fazer. Uma razão pela qual nasceram – uma razão maior que eles

mesmos.

Nola nasceu para governar animais com bondade, compreensão e

amor.

Seu instinto gritou, sim!

Até agora, ela falhou em ajudar seu povo de qualquer maneira. Ela

nem sequer tinha pensado neles. Não lutou pelo privilégio de governar,

secretamente com medo de falhar mas ela deveria tentar. Quantas vezes

fosse necessário. Através de seus fracassos, ganharia a força necessária para

ter sucesso.

Apenas uma fração de segundo depois, sua excitação explodiu como

um balão. Até Bane realizar o Rito de Sangue, ela não podia governar. Nola

deveria forçar a questão ou esperar que ele decidisse que era a hora certa?
Bane desligou a água e voltou para a cama, parando ao seu lado. Na

escuridão, ela tinha problemas para entender as minúcias de seus traços, mas

sentiu... alguma coisa. Terror? Não, isso não poderia estar certo.

Um relâmpago o destacou por um momento, revelando olhos

assombrados, vidrados com – sim, terror. Mas o que ele temia?

— Posso? — Ele perguntou, levantando um pano molhado.

Ele queria limpar os fluídos que deixara em Nola. Um ato

extremamente íntimo. Ela lambeu os lábios e disse: — Eu... acho?

Ele tirou as cobertas e sentou-se ao lado dela, acariciando gentilmente

o pano entre suas pernas. Tom suave, ele perguntou: — Eu machuquei você?

Suas bochechas esquentaram. — Durante o sexo? Só por um momento.

Depois? Um pouco mais. Eu sei que você quer falar sobre acabar conosco

antes que tenhamos realmente a chance de começar.

Ele fechou os olhos, como se rezando por força. Quando voltou a se

concentrar, jogou o pano e aconchegou-se a ela, passando um braço ao redor

de seu meio para puxá-la contra ele. O calor do corpo dele a envolveu, e ela

quase – quase! – derreteu. Parecia bom demais.

E se ela se acostumasse a dormir com ele e Bane decidisse continuar

com o despejo?
— Cinco minutos atrás, — ela disse, empurrando seu peito sem

sucesso, — você estava pronto para me dar um pé na bunda. Agora você está

me abraçando. O que há?

— Nós aliviamos à vontade. Não deveríamos precisar um do outro

novamente. — Ele apoiou o queixo na coroa dela e prendeu as pernas dela

entre as suas, deixando o seu traseiro embeber sua ereção.

— Por que você está me afastando, Bane?

— Por minha sanidade, devo fazer isso.

— Deixe-me ir então. Vá embora.

Uma pausa concisa. Gloriosamente gentil, ele afastou os cabelos da

testa dela. — Sou forte o suficiente para matar um exército inteiro, mas fraco

demais para resistir ao desejo de abraçá-la.

A admissão gutural estragou suas emoções, enviando-a para outra

montanha-russa. E se ele seguisse adiante e se recusasse a dormir com ela

novamente?

Queria segurá-lo e nunca o deixar ir, fugir o mais rápido possível. Já

estava apaixonada por ele. Nunca se apaixone por ele, meu coração deve ser

guardado por cães do inferno.


— Diga-me o seu plano para derrotar Aveline. — Pediu ela para

mascarar sua tristeza.

Ele arrastou a mão da coxa até a garganta e a agarrou levemente. Não

de maneira ameaçadora, mas altamente sexual, cortesia de um homem

extremamente dominante. — Planejo passar as próximas duas semanas

ganhando as armas que nos ajudarão a combater Aveline.

— Tal como?

— Zion tem uma varinha mágica. Knox carrega uma espada de cura,

mas alguém insiste que eu deixe os dois viverem. — Ele resmungou.

— Ela parece inteligente. — Nola balançou sua bunda contra sua

ereção, murmurando: — Além disso, já temos uma vara mágica curativa.

Ele inclinou a cabeça para passar o lóbulo da orelha dela entre os

dentes. — Minha Pomba acabou de fazer uma piada de pênis?

— Na verdade, acabei de proferir a declaração de um fato. — Ela

respondeu com um arrepio.

Sua risada rouca fez cócegas em seu couro cabeludo.

Bane... rindo... Nola manobrou para o outro lado, encarando-o, mas

seu sorriso já havia diminuído. Que droga!


Pegando a conversa de onde ele havia parado, disse: — Depois disso,

convenceremos Vale, Zion e Knox a sair da guerra. Então, no final das duas

semanas, participarei de uma Assembleia de Combatentes e vencerei a All

Wars. O Conselho Superior enviará exércitos de Executores para destronar

os líderes do seu mundo. É quando vou realizar seu Rito de

Sangue. Enquanto esperamos a chegada de Aveline, treinarei você. Com sua

ajuda, ela vai morrer. Finalmente, você governará Terra. — Ele acariciou

seus cabelos e caiu em silêncio.

Nola suspeitava que ele havia se perdido em seus pensamentos, vários

minutos passando em paz. O cansaço a atingiu e ela fechou as pálpebras

pesadas, prestes a cair...

— Diga-me o que acontece quando você se transforma em névoa. —

Disse ele, e ela quase pulou fora de sua pele.

Cansada demais para debater mentalmente os riscos e recompensas de

compartilhar essas informações pessoais, ela explicou o que havia

revivido. Quão real tinha sido, como ela não se sentia verdadeiramente ali,

sentada ao lado de sua criança. Como seus pais se preocuparam em se

esconder de uma monstra. Como uma guerreira Adwaewethiana estava na

estrada, causando um terrível acidente antes de assassinar sua mãe.

— O fato de seu corpo se transformar em névoa... eu me pergunto se


você realmente volta. — Disse Bane, quase zumbindo de emoção. — Se você

tem a oportunidade de mudar o passado.

— Você quer dizer viagem no tempo? — De jeito nenhum. Apenas de

jeito nenhum. Impossível. Exceto que nada era impossível, era? Ela era uma

alienígena híbrida, que estava na cama com um alienígena de sangue puro

capaz de respirar fogo e literalmente se transformar em uma fera. E se

ela pudesse voltar e salvar seus pais?

— Eu disse a você que cada rainha tem uma habilidade única, — sua

emoção já mais pronunciada. — Essa pode ser a sua. Uma habilidade contra

Aveline!

Por que ele iria querer que Nola voltasse ao passado?

A resposta a golpeou com força impressionante, deixando-a

ofegante. A esposa dele, Meredith. Ele queria que Nola salvasse a outra

mulher.

Ela não é a outra mulher. Eu sou.

Nola engasgou com um grito de angústia, desmoronando por

dentro. Um momento que Bane não foi capaz de obter o suficiente dela, no

próximo ele esperava usá-la para recuperar a mulher que ele realmente

amava.
Por que sou tão descartável?

Bane se levantou, arrastando-a com ele, em seguida, emoldurou suas

bochechas com as mãos. — Você pode tentar voltar ao acidente de

propósito. Você poderia? Precisamos saber o que exatamente você pode

fazer. — A esperança cintilou em seus olhos, mais brilhante que o sol.

As lágrimas se reuniram mais uma vez. Não chore. Não ouse. Acene

em vez disso. Bom, isso é bom.

Ele sorriu, a expressão que ela sonhava em ver, e era tão magnífica

quanto suspeitava. Uma exibição requintada de felicidade não diluída – com

uma covinha.

— Obrigado, Nola. — Ele a puxou para perto e beijou seus lábios.

Um selinho rápido, sem língua, e ela sentiu como se tivesse sido

eviscerada. Ele sabia o quão terrivelmente a estava machucando agora? Ele

se importaria se soubesse?

Incapaz de suportar olhar para ele por mais tempo, fechou as

pálpebras, respirou fundo e soltou-o lentamente. Embora doesse, ela forçou

sua mente a revisitar o acidente. Dirigindo pela estrada... a conversa

silenciosa entre seus pais...

Quando a cama saltou, ela ofegou, as pálpebras se abrindo. Não a


cama, ela percebeu, mas o carro. Ela realmente fez isso de propósito!

Na visão, ou o que quer que fosse, ela se sentou ao lado da cadeirinha

da pequena Nola. O bebê mexeu os braços e as pernas. Não havia sinal de

Bane, nem mesmo uma pitada de seu cheiro. Um alívio necessário. Ela usaria

esse tempo no passado para ganhar o controle de suas emoções no presente.

Será que ela realmente viajava no tempo? E se pudesse apenas ver o

passado, não o mudar?

Aveline matava com um toque, e Nola tinha a capacidade de... viajar

em lembranças. Quão especial.

Ela estendeu a mão, os dedos passando pela criança. Como poderia se

tornar sólida?

Mais uma vez, o homem apareceu na estrada. Nola se preparou. O

carro capotou e finalmente ficou de cabeça para baixo. Ele se aproximou e se

agachou, como antes, e teve uma conversa com a mulher invisível. Quando

ele puxou a mãe em pânico do carro, Nola não entrou em pânico. Não dessa

vez. Ela se arrastou dos destroços, deslizando pela porta mutilada como um

fantasma – bem a tempo de ver o guerreiro embainhar suas adagas, pegar

um cano de metal e enfiá-lo na garganta de sua mãe.

Assim, sua mãe ficou quieta, seu corpo relaxado.


Chiando de horror, Nola apertou a mão com a boca. Seus joelhos

tremiam, ameaçando ceder.

Seu coração batia de forma rápida.

Tum.

Tum.

Tum.

Lágrimas brotaram novamente, momentaneamente obscurecendo sua

visão. O peito dela – cru. O estômago dela – torcido. A crueldade das ações

deste homem... a selvageria... Ele não tinha compaixão, misericórdia ou

cuidado. Ele acabou com uma vida o mais violentamente possível.

E não terminou.

Ele agarrou a mãe pelos cabelos e a jogou de volta no carro.

As lágrimas de Nola transbordaram, picando suas bochechas. Não

posso deixá-lo fugir com isso.

Ele levantou a mão, revelando uma infinidade de anéis. Um triângulo

de luz brilhava de um, a imagem de uma beleza de cabelos louros no centro.

— Está feito, minha rainha. — Disse ele, seu tom entediado.


Os músculos de Nola se transformaram em pedra. Rainha?

A mulher sorriu, além de superior. — Você será generosamente

recompensado, Micah. Prometo a você.

Micah. Finalmente, Nola tinha um nome. Ele pagará.

Com um tom baixo e íntimo, ele disse: — Você me convida para voltar

para sua cama, doce Aveline?

Nola respirou fundo. Aveline. Essa beleza de cabelos louros era

Aveline, a rainha de Bane e a assassina de Meredith. A responsável pela

herança de Nola e pela dor subsequente. Aquela que enviou Bane para sua

vida.

Raiva bateu nela, e bateu forte, seu lado escuro assumindo

totalmente. Eu matarei a rainha e seu soldado. E todos os membros de suas

famílias!

— Vamos discutir isso após o seu retorno.

— Muito bem. — Disse ele. — Ela é a única?

— Sim. — Aveline sibilou, claramente tonta. — Remova o coração e a

cabeça dela, depois mate a criança.

— Não há criança. — Afirmou ele.


Com um rosnado, Nola se aproximou. Mais próximo. Cuidado. Não

chame a atenção deles.

Muito tarde. Aveline olhou para ela. O queixo da rainha caiu. Ela me

vê?

Ande, depressa! Corra, agora. Finalmente, Nola bateu em Micah.

Não, ela bateu dentro de Micah e ficou parada.

Ela possuía o corpo dele? Ela tinha controle? Ela poderia forçá-lo a

agarrar uma adaga e se esfaquear até a morte? Talvez, talvez não, mas foi

expulsa antes de descobrir.

Carrancudo, ele girou, seu olhar disparando loucamente. — O que

aconteceu? — Exigiu. Ele sentiu a presença dela, ou não?

Ansiosa, quase espumando pela boca, Nola tentou pular de volta para

dentro dele... e acabou deitada de costas, seu mundo ficando escuro.

Ela ouviu Aveline dizer: — Havia uma garota. Uma realeza com

longos cabelos negros, olhos escuros e pele pálida. Vá. Encontre-a antes que

ela encontre você. Mate-a.

— Quem é ela? — Micah perguntou.

— Quem não é tão importante quanto quando.


Ela sabe que viajei no tempo?

— Nola!

A voz de Bane. Ela piscou e abriu os olhos para espiar, vendo um Bane

suando acima dela. Estava ofegando também, com o batimento cardíaco

irregular.

Sua testa franziu em confusão. Eles estavam no chão do trailer, nus

como gaivotas. — E-eu não entendo.

— Como névoa, você se jogou contra uma parede. Você deveria ter

passado por isso, mas se recuperou, como se estivesse amarrada à

sala. Quando você tentou fazer outra corrida, eu pisei na sua frente. Você

não se recuperou, mas feriu-me, apesar de sua intangibilidade. — Cortes

desfigurando seu rosto, pingando sangue. — Conseguiu evitar o acidente?

O horror de tudo o que ela testemunhou retornou rapidamente,

quebrando seu coração em um milhão de pedaços pequenos demais para

serem reunidos.

Havia tanta coisa para desfazer nas malas. Mais tarde. Agora, a lâmina

figurativa que Bane afundou em seu peito torceu. A dor aumentou e um

gemido irregular escapou. Quanto uma garota poderia suportar antes de

acenar a bandeira branca?


— Há um guerreiro. Micah. — Ela disse, e Bane ficou rígido. — Ele está

vindo para mim. — Seu erro. Quando ele me encontrar, ele morre.

Ela não descartou o pensamento assassino. Não, ela deixou sair e se

acomodar, ficando confortável. Sim. Vou matá-lo da mesma maneira que ele

matou minha mãe.

— Vou protegê-la de Micah. — Disse Bane com os dentes cerrados.

— Eu não... não quero sua ajuda. — O homem que pediu a sua amante

para salvar sua esposa morta não conseguia bancar cavaleiro de armadura

brilhante. A vingança é minha! Ela empurrou e empurrou, cada vez mais

frenética. — Saia de cima de mim. Agora!

Finalmente recuando. Com as sobrancelhas cerradas de preocupação,

ele disse: — Pomba, por favor, me diga o que há de errado. Aconteceu

alguma coisa?

Compartilhar suas mágoas mais profundas com seu caso de uma

noite? Não, obrigada.

Novas lágrimas brotaram e caíram, sua imagem embaçada. Com a voz

tão quebrada quanto o coração, ela disse: — Não me chame de Pomba. Não

me chame de nada! Apenas... afaste-se de mim. Por favor, apenas saia.

Quando ele recuou um pouco mais, ela rolou para o lado, enrolou-se
em uma bola e soluçou.
O segredo para baixar a guarda!

O que TINHA ACONTECIDO COM Nola?

Bane a pegou o mais gentilmente possível. As lágrimas dela choveram

sobre seu peito, ardendo como ácido, e ela estremeceu com intensidade

crescente. Embora o peso dela mal tenha sido registrado, o corte no ombro

dele rasgou, ficando mais longo, mais largo. Ele não se importou.

O bom humor de Nola havia sobrevivido a uma jornada pelo Ártico,

sequestro – duas vezes! –, separação de sua irmã, explosões de bombas e o

mau tratamento de Bane. Até agora, nada a havia quebrado.

O que ela viu? Ele conseguia adivinhar a razão pela qual Micah estava

lá – Aveline o havia escondido na Terra para matar toda e qualquer família

real.

A raiva ferveu nas veias de Bane, um grito de fúria subindo pela


garganta; mas ele cerrou os dentes, abafando o som. A cadela só havia

deixado a destruição em seu rastro.

Em duas semanas, a guerra terminaria e a queda de Aveline começaria.

Quatorze dias. Um piscar de olhos e uma eternidade.

Em três passos fáceis, ele levou Nola para a cama e a colocou sobre o

colchão. Inclinando o corpo para o lado, ela derramou sua miséria em um

travesseiro.

Quando menino, ele testemunhou sua mãe e irmãzinha

chorando. Durante o curso de seu relacionamento com Meredith, ela chorou

apenas uma vez, quando Aveline a espancou por ousar “falar fora de hora”.

Antes daquele dia fatídico, as lágrimas de uma mulher não o

incomodavam; ele sabia que poderia resolver o problema, qualquer que

fosse. Isso o estripava. Como poderia reparar um passado que não podia

visitar e uma habilidade que não entendia?

Durante momentos de agitação emocional, Meredith sempre pedia sua

ausência. Com Nola, ele não pediu permissão. Simplesmente se sentou em

cima do colchão, apoiou as costas na cabeceira arruinada e a colocou contra

o peito. Para sua surpresa, ela não resistiu.

Quando ele acariciou seus cabelos sedosos e arrulhou bobagens em seu


ouvido, ela se acalmou. No entanto, o oposto se mostrou verdadeiro para

Bane. Ele continuou a se lembrar da dor devastadora que vira nos olhos

dela. O que ela viu?

Embora, se ele fosse honesto, admitiria que ela experimentara

dor antes de viajar para o passado. Ele repetiu a última hora em sua

cabeça. Depois de seu clímax, ela tinha sido feliz. Brilhando. Eles falaram de

sua capacidade de viajar no tempo e...

Compreensão.

Ali. Foi quando essa dor terrível apareceu pela primeira vez. Porque,

depois de se separar de sua virgindade, seu amante pediu que ela salvasse

sua esposa. Agora, o arrependimento o emboscou.

Após o retorno de Nola, a dor havia aumentado. Então, algo que ela

descobriu havia total e completamente perturbado seu mundo.

Nunca deveria ter pedido para ela voltar. Ele deveria ter deixado o

passado –Meredith – sozinho. Drogo protestou por suas ações e sua

ausência. Alto. O animal queria Nola, embora ele ainda não tivesse certeza

de que gostava dela.

Bane estava cansado de arrastar tanta bagagem. Uma garra de culpa

porque ele falhou em salvá-la. Um constante fervor de remorso. Tristeza sem


fim. Se Nola salvasse Meredith, tudo desapareceria. Poof! Ele poderia

compensar seus erros.

A outra parte dele também sentia culpa, mas não pela mesma

razão. Ele amaria Meredith o tempo todo, mas ele já não... a desejava do jeito

que já desejou um dia. Cercado pelo doce perfume de Nola, ele sabia que os

desejos nunca voltariam. Seu corpo a queria, somente ela.

Amaldiçoado se eu salvar minha esposa, amaldiçoado se não o fizer.

Não, não. Se Meredith entrasse na sala, ele ficaria muito feliz.

Veria uma amiga perdido há muito tempo.

Droga! Uma pontada irregular rasgou através dele. Ele não tinha ideia

de quando isso ocorreu, mas uma parte dele já havia se despedido de

Meredith. O desejo de estar com Nola o consumiu.

Sem registrar conscientemente um comando para se mover, Bane

cingiu seu aperto. Ela o transformou em um canal por prazer. Quanto mais

seu verniz civilizado se despojava, mais ela adorava. Ela até implorou por

mais.

A mulher o havia seduzido ou era a novidade de tudo isso?

Não há necessidade de ponderar. Absolutamente a mulher. Ela fazia


piadas sobre o pênis e olhava para ele como se fosse morresse sem o seu

toque. Ria com abandono e se preocupava com o bem-estar dele como

homem, não apenas como um guerreiro. Sua força silenciosa o surpreendeu

constantemente. Ela o fez querer um futuro.

Ele a subestimou – e Aveline também.

Soltando um suspiro, Nola caiu contra ele.

— Sinto muito, Nola. Eu não deveria ter pedido para você voltar.

Ela desprezou o pedido de desculpas, dizendo: — Eu... estou pronta

para lhe contar o que vi. — Sua voz era pouco mais que um coaxar.

Ansiando por ela e tudo o que havia sofrido, Bane beijou sua

têmpora. — Conte-me tudo. Cada detalhe. Deixe-me compartilhar sua fúria

e dor.

Uma lágrima solitária caiu em seu esterno. — Um guerreiro chamado

Micah entrou no centro da estrada, e meu pai desviou para não o

atropelar. O veículo capotou. — Estremecendo a respiração. Então, ocorreu

uma transformação. Seus tremores diminuíram e suas lágrimas secaram. A

tensão vazou dela, expulsa pelo gelo emocional.

Nola tinha acabado de desligar. Algo que ele fez inúmeras vezes. Um

mecanismo de defesa que usou para se ajudar a vencer todas as guerras. O


fato de Nola estar fazendo o mesmo, seu tormento tão grande que não podia

se dar ao luxo de sentir qualquer coisa... ele teve que combater o desejo de

transformar o trailer em sucata – com suas garras.

Com a voz desprovida de emoção, ela recitou o resto como se estivesse

lendo um livro. — Meu pai morreu com o impacto, mas minha mãe

sobreviveu. Micah se aproximou do carro. Ele usava anéis como o seu. Um

deles produziu um feixe de luz, e Aveline apareceu no centro. — Lá, no final,

a tristeza ignorou seu embargo emocional e escapou. — Antes disso, ele

arrancou minha mãe do veículo e a esfaqueou na... na... garganta. Depois

disso, Aveline ordenou que ele a decapitasse.

Bane estremeceu. O que Aveline disse a ele antes? Ah sim. Há pouco

mais de vinte anos, enviei Micah para Terra em segredo, com ordens para

matar todos os membros da realeza que ele encontrasse, além de procurar

você e Cayden.

— Sinto muito, Pomba. — Outra falha para colocar aos meus pés. Ele

continuou mexendo com ela, continuou machucando-a, e isso teria que

parar. Ela merecia muito melhor.

Ele a balançou de um lado para o outro, oferecendo conforto, mas

buscando-o também.

Fungou. — Estou arrependida. Bane, duvido que possa salvar


Meredith. Eu sou névoa aqui e ali. Tentei possuir o corpo de Micah, para que

ele pudesse se matar, mas ele me expulsou assim. — Ela estalou os dedos.

Pensamentos giraram. — Com a prática, aposto que

você pode controlar as ações dele e mudar o passado.

— Sim, mas como isso ajuda você? Não sei bem como viajo para o meu

próprio passado. Como vou viajar para o seu?

Fácil. — Nós estamos ligados. Nos falamos telepaticamente e vemos

através dos olhos um do outro. Portanto, é lógico que você também pode ver

minhas lembranças. — Mas a mesma pergunta permaneceu – deixaria o

passado de lado ou avançaria? Ele desejaria sua esposa novamente se ela

estivesse aqui em carne e osso? — Se você viajar de volta para o dia em que

Aveline assassinou Meredith, possui Aveline e salva Meredith, a rainha não

envia Micah para Terra. Seus pais não vão morrer.

Seus lábios se curvaram, mas o sorriso foi ofuscado por outro

soluço. — Nunca entrarei em um orfanato, nunca encontrarei Vale ou

Carrie. Eu não serei eu.

— Mas você sofreu em um orfanato, não foi?

— Sofri. E não posso justificar o que alguns dos pais e irmãos fizeram

comigo e com Vale. Mas não seria a pessoa que sou hoje sem essas
provações. Eu não seria tão forte – e não se atreva a me dizer que sou fraca.

— Confie em mim, Pomba, eu já aprendi minha lição.

Ela bufou, mas continuou. — Por mais que eu precisasse da Vale, ela

precisava de mim. Se mudar o passado significa estragar tudo, eu não farei

isso. Nem agora nem nunca.

Se Bane não tivesse concordado em lutar na Guerra Terráquea, nunca

teria conhecido Nola. Nunca teria apreciado sua marca de diversão. Nunca

teria aprendido seu gosto ou sentir o fecho quente e úmido de suas paredes

femininas. Essas memórias foram feitas para serem saboreadas, não

apagadas.

Sem ele, outro Adwaewethian seria enviado para Terra. Esse

representante não hesitaria em assassinar Nola, como ordenado. Ele

endureceu. Ela estava certa; mudar o passado significava destruir o futuro

dela.

Ou melhorar? Que bem Bane realmente fez por ela? Ele pressionou a

língua no céu da boca. Outro guerreiro pode premiá-la desde o início.

— E se ela te trair, escolhendo Knox?

— Tantos livros e filmes retratam amigas como secretamente más e

maliciosas entre si, mas isso não é a vida real. Conheço Vale, eu a amo e ela
me ama. Prefiro morrer a machucá-la, e ela prefere morrer a me machucar.

— Enrijecendo, acrescentou: — Embora eu não vá mexer no meu passado,

vou mexer no seu. Quero dizer, eu conquistei você. Farei o mesmo com

quem for enviado em seu lugar.

Nola, com outro Adwaewethian de sangue puro? Cabeças vão rolar!

— Vou fazer isso. — Acrescentou ela. — Voltarei ao dia em que sua

esposa morreu.

Seu peito se apertou mais do que nunca. Tão forte que ele tinha certeza

de que uma costela estava quebrada. — Por que você concorda com isso?

— Deixando-me ir sem luta.

O conhecimento o irritou. E caramba, o conhecimento doeu como o

inferno. Mesmo que ele fosse o culpado!

Silêncio. Crepitando com a tensão.

— Você e sua esposa queriam ter filhos? — Ela perguntou suavemente.

Aperto. — Queríamos. E você? Você quer filhos?

— Eu nunca me permiti pensar sobre isso, com muito medo de

transmitir minhas doenças.

Ele ouviu tristeza e desespero, e descansou duas juntas sob o queixo


para inclinar a cabeça para trás. Um relâmpago iluminou seu rosto adorável,

revelando cílios úmidos e bochechas rosadas e manchadas. Mas os olhos

dela...

Eles o quebraram. Suas pupilas dilatadas, suas íris um abismo de dor,

antigas e novas. Ele queria matar seus dragões e oferecer suas cabeças como

presentes.

— Antes de qualquer All Wars, — ele explicou, — a rainha emite um

comando “sem filhos” e meu corpo obedece automaticamente. Dessa forma,

mãe e filho não podem ser usados contra mim. Após a minha vitória e

retorno, ela retira a ordem.

— Isso é triste. E horrível. E horripilante! Sinto muito. — Ela bateu os

olhos lacrimejantes com as costas do pulso, o peito dele se apertando

novamente. — Você tentará fazê-la reverter a ordem antes que ela morra?

Ele balançou sua cabeça. — Quando você for rainha, você pode

reverter isso.

— Mas não antes?

— Não antes. — Confirmou.

Ela pensou por um momento. — Deixe-me descansar e recarregar,

então vou tentar navegar pelas suas memórias.


Ele precisava de mais tempo para acertar seus pensamentos. —

Primeiro, preciso treiná-la para lutar. — Problema: se ele a treinasse da

maneira como foi treinado – da melhor maneira, na sua opinião, teria que

quebrar seus ossos repetidas vezes, para que ela aprendesse a empurrar

através da agonia. Um rugido de negação se formou no fundo de sua

garganta. — Por enquanto, descanse o necessário. Não deixarei que nada de

ruim aconteça com você.

Ela fechou os olhos, resmungando: — Você impede minhas crises de

abstinência e ameniza os efeitos das doenças, mas apenas quando você está

perto. Gostaria de saber se o próximo guerreiro fará o mesmo. — Suspiro

pesado, músculos relaxando. Se afastando... respiração leve.

As palavras o destruíram. Ele sentiu como se Zion tivesse perfurado

seu peito e apertado seu coração. As emoções são inconstantes, lembra?

Nunca conhecer Nola Lee? Bane sacudiu violentamente a cabeça.

Confuso com o dilúvio conflituoso de emoções que o derramava, ele

continuou acariciando seus cabelos. Embora quisesse abraçá-la e nunca

desistir, ele forçou a conversa de sua mente, um homem em uma

missão. Bane se retirou do emaranhado de seus membros e se levantou.

Depois de colocar as cobertas em volta dela e alisar uma mecha de

cabelo de sua bochecha úmida, seu coração nada mais que um bloco de
concreto oco, ele caminhou até a sala de estar designada para o veículo.

Hora de responder à ligação de Aveline.

O medo deslizou através dele, e o animal rosnou em protesto. Não

podia mentir para ela, mas também não queria admitir a verdade. Ele teria

que ser esperto e guardar suas palavras.

Bane pressionou o polegar contra o anel de comunicação que

derramou luz e Aveline apareceu. A cadela ordenava que seus homens

matassem pais e filhos, mas ela parecia angelical, um vestido branco

moldando suas curvas.

Ela olhou para ele, estalando: — Você me ignorou. Algo que você só

pode fazer se for pego em uma batalha. No entanto, não ouvi relatos da

morte de um combatente.

O animal afiou as garras e bateu contra o crânio.

Bane lutou para manter uma expressão neutra. — Nem todas as

batalhas exigem derramamento de sangue. — Verdade. — O que você quer,

Aveline?

— Micah entrou em contato comigo. Ele estava sendo mantido

prisioneiro por um viking chamado Erik, O Criador de Viúvas.


Bane amaldiçoou, mas apenas em seus pensamentos. — Como Micah

escapou?

— Cerca de uma hora atrás, a lembrança de uma princesa híbrida

parecia ter entrado em sua mente. Ele berrou xingamentos por ela,

prometendo matá-la, e Erik decidiu deixá-lo ir.

A apreensão misturou-se com presságios, sufocando Bane. Micah

tinha “lembrado” o que Nola tinha feito quando ela viajou de volta no

tempo. Aveline também.

— Há menos de uma hora, acordei com a mesma memória. —

Continuou ela. — A princesa é uma manipuladora de memória, uma

habilidade usada por Jayne, a pior rainha da nossa história. — O medo

misturava seu tom. Duvido que se lembre dela. Jayne usava suas memórias

para mudar o passado e o futuro.

Não sorria. Não ouse — Jayne. — Disse ele, fingindo procurar

informações sobre ela.

A mãe de Aveline havia matado Jayne enquanto ela dormia e roubado

o trono. Então Aveline havia assassinado sua própria mãe para fazer o

mesmo.

— Você está tentando dizer que uma princesa híbrida é a reencarnação


de Jayne? — Ele teria rido se não estivesse ocupado estremecendo. Os

rumores sempre foram abundantes, é claro, afirmando que as rainhas mais

fortes encontraram uma maneira de renascer e recuperar seus tronos, mas

Bane nunca havia encontrado uma.

Nola era uma reencarnação? Ela tinha duas coisas em comum com

Jayne. Finalmente! A doença antes da intimidade e sua habilidade.

— Ou isso, ou a princesa e a antiga rainha compartilham um parente.

— Disse Aveline. — Embora eu acreditasse que tivéssemos descoberto e

matado todos na linhagem de Jayne.

De jeito nenhum Nola tinha vivido uma vida passada. Ele teria

percebido. Ela teria lembrado disso. Sem dúvida, a segunda suposição de

Aveline era verdadeira. Uma das criadoras veio da linhagem de Jayne.

— No momento, a capacidade da garota é fraca, — persistiu

Aveline. — Tudo o que ela pode fazer é andar espiritualmente. Se ela não for

detida, aprenderá a matar qualquer pessoa que desejar, a qualquer

momento, e não saberemos até que seja tarde demais.

Como Jayne. A resposta surgiu do fundo de suas memórias. Antes de

viajar de volta, ela teve que fazer um sacrifício de sangue.

Ele respirou fundo. As implicações disso...


Se Nola fizesse um sacrifício humano, ela poderia viajar de volta em

forma sólida, em vez de dividir o espírito do corpo, deixando os dois

intangíveis. Para salvar alguém, outro tinha que perecer. Sangue por sangue,

vida por vida. Mas ela não era uma assassina a sangue frio, e ele não podia

– não queria – pedir que ela fosse.

Portanto, ela não voltaria para salvar Meredith.

Decisão tomada. Um tsunami de alívio o inundou, a culpa cortando

seus calcanhares.

Eles seguiriam em frente, como planejado originalmente.

Bane tinha muito em que pensar e muito a fazer. Ou seja, manter Micah

longe de Nola.

Pronto para encerrar a ligação e levá-la à segurança, ele disse a

Aveline: — Estou em perigo. — Verdade. Ele estava sempre em perigo. —

Preciso ir.

Quando ela protestou, ele pressionou o polegar contra o anel. A luz

morreu.

Sem tempo a perder, Bane correu para fora para soltar o trailer,

exatamente como o proprietário anterior o havia instruído. Depois, sentou-

se no banco do motorista, programou o GPS, também como ensinado, fechou


o carro e ligou o motor. Minutos depois, eles estavam na estrada, indo para

Roswell, Novo México, mas também não eram mais alvos fixos para Micah.

****** ******

NOLA ACORDOU SOZINHA. Não, não era verdade. Ela tinha suas

memórias. Bane, fazendo doce amor com ela. Bane, quase implorando para

que salvasse sua esposa. Bane, segurando-a enquanto chorava sobre os pais

assassinados.

Ele era um homem maravilhoso, com um passado trágico, um grande

coração e um corpo fumegante – literalmente! Mas...

Nosso relacionamento romântico acabou. Ela não dormiria com um

homem que mudaria o céu, a Terra e Adwaeweth para ressuscitar sua esposa

morta. Meredith sortuda. Sua mulher guerreira. A fêmea capaz de lutar ao

seu lado. Como Nola poderia competir?

Eu queria consertar o coração dele e, nesse processo, quebrei o meu. A

dor a escaldou.
Ela respirou fundo e fixou seus pensamentos no trailer. A luz solar

escorregava através de uma fenda nas cortinas, revelando um quarto

saqueado. Quatro marcas perfeitas de garras marcavam a cabeceira da

cama. As roupas salpicadas de sangue, estavam espalhadas pelo chão.

A vontade de se enrolar em uma bola e dar a melhor festa de piedade

da cidade a atingiu. Em vez de comparecer, Nola se forçou a ficar de pé e

com as pernas trêmulas foi vaguear. Uma infinidade de armas cobria a mesa

da cozinha. Armas, facas, uma besta. Bane deve ter reunido mais enquanto

dormia. Sem dúvida, estava cuidando das defesas deles agora.

Preocupada com ele, ela foi ao banheiro escovar os dentes, tomar

banho e vestir uma camiseta rosa e jeans skinny. — Este é um novo dia. —

Ela disse ao seu reflexo. Nola não estava no meio de um surto doloroso e

nem lutava contra a abstinência. Como Bane, ela tinha objetivos. Quando ele

a treinasse, ela aprenderia os movimentos mais sujos e sinistros que ele

conhecia. Eu serei como um vírus. Eu vou me esgueirar nela, rasgar seu

corpo e deixar a destruição no meu caminho. Ela nunca saberá o que a

atingiu.

Antes, Nola não esperava o assassinato de Aveline. Agora?

Morra, cadela.

Nola voltou para a sala, apoiou um joelho no sofá e se inclinou para


frente para espiar as ripas da janela. Ela fez uma careta. Pestanejou. Sacudiu

a cabeça. Ela adormeceu em um parque de trailers, mas acordou em uma

planície cheia de terra. Onde eles estavam e por que Bane os trouxe aqui?

Ela tirou uma foto com o celular, caso as habilidades de rastreamento

de Zion não provocassem os resultados desejados.

Dobradiças gemeram quando a porta se abriu. Um Bane com capuz

pisou no trailer. Ele usava os óculos e uma jaqueta de couro também, mas os

removeu e jogou os dois no sofá. Os couros que usava continuaram.

Pronto, ajustado, vá. Seu coração disparou em uma corrida louca.

Seus olhares se encontraram, e ele ficou imóvel, a tensão zumbindo

dele. — Sua tristeza permanece. — Disse ele, uma declaração, não uma

pergunta.

— Sim. — Ela sussurrou. Por que mentir?

A última vez que ele entrou no trailer assim, fizeram sexo. Agora, seu

corpo esperava isso. Exigiu. Viciado... Agora que sabia a felicidade de ser

preenchida, sentia-se vazia sem ele.

Seus mamilos frisaram e pressionavam contra o sutiã, as pequenas

prostitutas fazendo o possível para chamar sua atenção. A barriga tremeu e

os joelhos enfraqueceram, o calor líquido acumulado entre as pernas.


Uma camiseta branca lisa moldava seu corpo musculoso, e aquelas

calças de couro preto abraçavam suas coxas. Seu cabelo loiro estava torto, a

barba dourada mais espessa do que antes.

— Tsc, tsc. — Disse ele. — Você está com lascívia no olhar.

— Oh. Sinto muito. Eu irei parar.

— Não se atreva! — Sua tensão aumentou quando a olhou de cima a

baixo. Seu eixo endureceu, pressionando contra a calça.

A visão a deixou com água na boca.

— Você está dolorida? — Ele perguntou.

Bom trabalho, prostitutas! Não. Mau trabalho. Mau! Um rubor se

espalhou por suas bochechas. — Um pouco.

Ele passou a mão sobre a boca, como se precisasse limpar a baba. —

Há muito que precisamos discutir, mas agora eu tenho um uso melhor de

nossas bocas. — Ele deu um passo em sua direção.

Ela lambeu os lábios e caminhou para trás. — Nós não podemos ficar

juntos. De novo não.

— Não podemos? — Como uma bala, ele disparou através do trailer

para aparecer na frente dela. — Explique.


Então, comandando. Tão intenso. Do jeito que gostava dele. — Você

não superou sua esposa. Quando ela voltar, provavelmente faremos um

triângulo amoroso. Não, obrigada. — Não diga mais nada. — Espero que

você saiba que você é um tolo! Quer você goste ou não, eu sou incrível para

você. Você precisa de diversão assim como a maioria das pessoas precisam

de ar, e sou sua fonte.

Ok, então ela disse algo mais.

— Meredith não vai voltar. — Ele estendeu a mão para prender uma

mecha de cabelo atrás da orelha dela, tão casual como se tivesse anunciado

que estavam tomando salmão no café da manhã.

— Eu não entendo.

— Ficarei feliz em explicar... depois.

Tremores a percorreram, seu perfume provocando seu nariz. O calor

do corpo dele pulsava sobre a pele dela.

Ele quis dizer depois do sexo? — Não posso substituir Meredith, —

disse ela, projetando o queixo. — Não serei “a outra”, apenas para ser

deixada de lado quando ela voltar.

— Você não é substituta de ninguém. — Muito rápido para rastrear,

Bane segurou sua bunda e a puxou contra ele. Seu coração batia no ritmo do
dela, uma revelação chocante. Ela o deixou nervoso e carente. — A razão

pela qual não quero que ela volte não importa. Você me quer? — Perguntou.

— Sim. — Ela sussurrou. — Mas...

Ele se inclinou, ao mesmo tempo em que a levantou na ponta dos

pés. Suas bocas se esmagaram, suas línguas se entrelaçaram

freneticamente. Outra elevação, e ela colocou as pernas em volta da cintura

dele, usando-o como uma âncora.

Ele a abaixou para o sofá, o comprimento de sua ereção pressionado

contra seu núcleo dolorido. Um gemido rouco o deixou enquanto ela gemia

uma oração de agradecimento. Como sentiu falta do peso dele.

Talvez ela tenha sido muito rápida para decidir que eles não deveriam

dormir juntos novamente. Talvez, se ela lutasse bastante, pudesse tê-lo...

para sempre? Ela poderia ter isso para sempre.

Para sempre... com Bane...

Eu quero, ela percebeu. Mais do que tudo!

Mas uma esposa real versus uma esposa amada? Mesmo que ele

alegasse que Meredith não voltaria, as chances não estavam a favor de

Nola. Mas, se ela o queria, não deveria lutar por ele, não importando o

resultado?
Ele aprofundou o beijo, empurrando sua língua com mais força em

uma corrida louca para alcançar a linha de chegada. O resto do mundo

começou a desaparecer... até todo o trailer tremer, os pratos

chacoalhando. Um Bane ofegante levantou a cabeça, terminando o beijo.

Um terrível som de raspagem soou e ela se encolheu. —

O que é isso? Um terremoto?

Ele ficou de pé, amarrou várias armas e enrolou dois elos de corrente

em volta da cintura dela. — Você sabe como disparar uma arma?

Trepidação deslizou por sua espinha, arrancando suas terminações

nervosas. — Sim, sim. — Como parte do treinamento de autodefesa ela e

Vale fizeram um curso sobre segurança e manuseio de armas.

— Bom. Porque Aveline entrou em contato comigo e confirmou a

ordem de lhe matar para Micah. Ele está aqui e está caçando você.

Sorrindo, ela ronronou: — Deixe-o vir. Nola Sombria tem uma

surpresa para ele.

Bane olhou duas vezes. — Eu acho que ele está aqui, e acho que está

em forma de animal. — Ele colocou uma semiautomática na mão dela e

depois levantou uma bateria... pistola de pregos? — Fique aqui enquanto eu-

De repente, o teto do trailer foi arrancado do veículo e jogado para o


lado, o ar frio e a sujeira chicoteando ao redor deles quando um animal

grande e terrível era revelado.


Reforma da personalidade!

BANE VAIOU QUANDO A LUZ DO sol o banhou, os olhos

lacrimejando e borrando, o corpo tremendo. Devo parar Micah. Devo

proteger Nola, não importa o custo.

Apenas alguns segundos atrás, Bane se deleitava com a excitação

primordial, necessitando de sua mulher mais do que respirar. Ele precisava

dela... sempre.

Eu a estou mantendo. Nunca a deixarei ir.

Drogo rondou em sua mente, enfurecido com a visão do outro

predador.

Micah morreria em sangue e dor. Mas primeiro, Bane teria que se

transformar. Para derrotar um animal, ele deveria se tornar um

animal. Apenas os dentes e as garras de outra fera podiam cortar aquelas

escamas de aço com uma polegada de espessura. Ainda não. Espere... Ele

não se arriscaria a prejudicar Nola ou suas armas.


— Fique longe! — Nola gritou para Micah, saborosa em seu

tom. Estava claro que ela queria machucá-lo, que ansiava por vingança...

como uma verdadeira rainha. Bane não tinha certeza do que pensar, ou do

que sentir, todos os seus pensamentos estavam de cabeça para baixo e de

dentro para fora.

O animal pairava acima deles, observando, sem dúvida tentando

entender o que estava vendo: um camarada de armas guardando um

inimigo.

— Você não pode detê-lo com seus comandos. Apenas o desacelera. —

Disse Bane, empurrando-a atrás dele. — Suas ordens contradizem as de

Aveline. Como uma rainha que matou centenas, milhares, ela é muito mais

forte que você. Como um guerreiro dedicado à sua causa, Micah não é como

eu. Ele não deseja se alinhar com você, então você não terá nenhuma

influência real com ele.

O animal de Micah tinha um focinho mais longo que o normal e uma

fileira extra de dentes, suas escamas eram vermelhas e não verdes. Garras

negras expandiam nas patas da frente e de trás.

Quando o bastardo inclinou a cabeça para trás, preparando-se para

vomitar fogo, Bane calculou as facetas do plano do outro homem. O fogo não

causaria danos a Bane. Mas à Nola...


Asas explodiram nas costas de Bane. Em uma tempestade de fúria, ele

pegou um saco de armas, Nola e voou para cima, saindo do trailer

dizimado. Eles pousaram a vários metros de distância – e foram chutados de

volta ao ar quando todo o transporte explodiu em chamas.

Ao aterrissarem novamente, Bane empunhou a primeira arma em que

conseguia colocar a mão livre – uma máquina que atirava pequenos pedaços

afiados de metal conhecidos como “pregos”. Ele pressionou o gatilho,

apontando para a boca da besta para desencorajar outra corrente de fogo.

O bastardo disparou pelo céu, ziguezagueando para evitar mais

ferimentos, mas Bane nunca parou de atirar. A fera não tinha para onde

correr. Ou voar. Bane havia escolhido esse local por sua falta de

cobertura. Sem cobertura, sem esconderijos.

Apesar de uma inundação quente de adrenalina, o ombro de Bane

irradiava dor por cada centímetro de seu corpo. Ainda assim, ele continuou

pressionando o gatilho. — Teletransporte. Agora! Eu preciso me

transformar. — Enquanto ele lutava sentiu vontade de mudar migrando

para seus ossos, seu corpo se preparando. Prefiro morrer a machucar

Nola. — Você está em perigo.

— Então? Estou em perigo desde o momento em que nos

conhecemos. Eu posso ajudá-lo — ela insistiu, e gritou quando Micah lançou


um círculo de fogo de seis metros em torno deles. O suor escorria de sua

testa. — O fogo dele não vai me matar, certo?

O suor escorria da testa de Bane também. Sobre cada centímetro dele,

despejando riachos enquanto fios de fumaça espessavam o ar, protegendo

seus olhos e pele sensíveis dos raios severos da luz do sol. — As chamas dele

começarão seu Rito de Sangue, enfraquecendo você para que ele possa matá-

la mais facilmente. Uma vez iniciado, não pode ser parado. Vá. Por favor. —

Ele abriu um portal através das chamas.

Quando ele a conduziu, emergindo do outro lado, ela ofegou: —

Retardá-lo é melhor que nada.

O sorriso que ela exibiu momentos atrás passou por sua mente. Frio,

impiedoso e poderoso. Magnífico. Ela impressionou o inferno fora

dele. Agora, ela se recusava a correr, exibindo zero medo, exatamente o que

Bane pensava que queria da garota doente que conhecera pela primeira vez,

e ele temia pela vida dela.

Mergulhando com velocidade sobrenatural, Micah desencadeou outro

fluxo de fogo. Merda! Nenhum lugar para ir. Bane envolveu Nola em suas

asas, as chamas dançando sobre ele.

Se ela não quisesse ir por conta própria, ele teria que abrir um

portal. Mas para onde a mandaria, sem tropeçar nas bombas de Erik? Ou
Micah a perseguindo?

Numa corrida mental, Bane elaborou um novo plano. Abriria um

portal para Micah. Ele entraria no portal de volta, sim, mas a essa altura,

Nola estaria escondida. Sim!

Bane esfregou os Rifters, abrindo um portal para águas infestadas de

tubarões. Seu local favorito de despejo de combatentes. O outro homem

ainda não havia notado.

— Não solte minha mão. Entendeu? — Bane disse enquanto ligava os

dedos com os de Nola. Ele não esperou a resposta dela, apenas a levou de

volta ao trailer, contornando-o. A fera os perseguiu.

Dez segundos... trinta... cinquenta. Agora! Bane conduziu a fera na

direção do portal. Naturalmente, Micah percebeu e parou no ar. Muito

tarde. Durante a jornada, Bane colocou as mãos na besta e disparou uma

flecha, acertando a fera nos olhos, fazendo-o girar para trás. Ele desapareceu

no portal – água espirrando.

Whoosh. O portal foi fechado.

A qualquer momento, o bastardo retornaria. Bane teria que enviar

Nola para algum lugar em que nunca esteve, um lugar que só tinha visto em

foto. Como... a foto da jovem Nola, com seu sorriso brilhante.


— Qual é o plano? — Nola perguntou.

— Isso. — Sem tempo de sobra, ele abriu um portal para o playground

e a empurrou dentro.

Um Micah encharcado correu através de um portal próprio, avistou o

outro portal e tentou dar um zoom nele.

Bane disparou no ar e bloqueou com um balanço de sua espada – uma

espada que ele jogou no portal, seguida por seus óculos e correntes. —

Mantenha-os a salvo! — Gritou para Nola.

Ela aterrissou em um pedaço de grama e agora deu um salto, seu olhar

furioso fixo em Bane. — Não ouse tirar isso de mim! — Um passo, dois, ela

correu para frente.

A visão dela, tão determinada, tão feroz, quase o derrubou. — Eu serei

sua mão de vingança, princesa.

— Bane! — O portal se fechou antes que ela chegasse e seu rosto

escurecido pela raiva foi a última coisa que ele viu.

Envie Micah para seu túmulo, vá para Nola.

A sede de sangue fervia em suas veias. Alimentado por adrenalina e

com sua fúria aumentando, Bane parou de lutar contra sua


transformação. Largando a pistola de pregos, atacou em direção ao

inimigo. Drogo o alcançou ao longo do caminho, emergindo com um rugido

bestial.

Que comece a batalha.

****** ******

Nola tomou um momento para ver onde estava. Bane a deixou em

Oklahoma, nos arredores de um parque que ela e Vale costumavam

frequentar quando meninas. A luz do sol e as árvores cercavam a área, uma

brisa fria gelando seus ossos. As crianças riam enquanto subiam nas barras

de macaco. Pais, babás e guardiões empoleirados nos bancos, vigiando suas

crianças, quase todos vestindo algum tipo de fantasia.

Por que... certo. Os dias se passaram e o Halloween

chegou. Felizmente, ninguém lhe deu atenção.

Nola juntou os itens que Bane atirou para ela e se escondeu nas

sombras de um banco de árvores. Embora as dores aumentassem, e seu

estômago ficasse enjoado, ela segurou os elos de metal nos braços, ajustou

os óculos de proteção ao redor do pescoço e ancorou a espada nas costas. O


tempo era seu maior inimigo agora. Se ela começasse a vomitar, não teria

forças para se teletransportar.

Desejou que já ter passado pelo Rito de Sangue. Desejou possuir a

capacidade de curar Bane totalmente, não apenas parte dele. Desejou poder

derrotar Micah.

Sim, Bane tinha sido inteligente em mandá-la embora. Em seu estado

de espírito anterior, ela teria desafiado o bastardo e perdido. Mas.... Ela

poderia lutar contra Micah de outras maneiras. Ao contrário de Bane,

ela poderia usar as ordens de Aveline contra Micah.

Frenética para voltar, Nola fechou os olhos e concentrou-se no vínculo

mental deles... sim! Ela pegou fragmentos emocionais. Raiva

espumante. Ódio escaldante. Dor incomparável. Frustração

irregular. Preocupação que consumia tudo. De repente, ela podia ver através

dos olhos de Bane. Um céu coberto de fumaça, olhos vermelhos de néon e o

brilho de escamas.

A urgência vibrou nos ossos de Nola e ela sacou o celular. Digitou uma

mensagem apressada para Zion, anexou a foto do deserto e pediu

ajuda. Zion poderia provar suas habilidades de rastreamento do outro dia.

A base aos seus pés desapareceu. Por um momento, ela flutuou, sem

peso. Então, uma nova fundação apareceu.


Ela fez isso! A fumaça encheu seu nariz e ela tossiu, com os olhos

ardendo e lacrimejando. O piscar rápido limpou sua linha de visão.

O horror a devorou, um pesadelo vivo se desenrolando.

Apenas alguns minutos se passaram, mas tudo mudou.

Fluxos de fogo queimaram trechos de terra, mechas de fumaça

subindo, subindo e afastando-se. Bane estava em forma de animal, as duas

criaturas se rasgando com dentes e garras. Predadores cruéis em guerra.

Micah arranhou o corte no ombro de Drogo. Com um grito agonizado,

Drogo recuou. As duas asas dele estavam mutiladas, a esquerda pendurada

em um ângulo estranho. A visão a deixou enjoada. Ele era um animal, sim,

mas era o animal dela.

Com o coração galopando, ela gritou: — Micah! — As duas bestas

giraram, prendendo-a com o peso de seus olhares vermelhos neon. Ela

manteve o olhar em Micah. Lembre-se, suas ordens não podem contradizer

as de Aveline. Muito bem. — Você ignorará a fera de Bane

completamente. Não importa o que ele faça, você só tentará me matar, a

princesa.

As duas bestas correram em sua direção, o Drogo ferido um pouco

mais devagar. Para seu choque e deleite, Micah a obedeceu, concentrando-


se apenas em Nola.

Alerta vermelho! Dragão assassino a caminho.... Ela ficou de pé,

queixo erguido, ombros altivos, e o estômago revirando de

medo. Aproximando-se... Quanto mais perto eles chegavam, mais ela

cheirava fuligem e cinza. Melhor ela ver assassinato nos olhos deles.

Ela cometeu um erro terrível?

Para que isso funcionasse, Drogo tinha que querer Micah morto mais

do que queria terminar o reinado de uma princesa. Quase ao alcance,

impressionante... Ele ainda queria terminar o seu reinado?

Micah inclinou a cabeça para trás, preparando-se para assá-la viva. Se

o Rito de Sangue começasse, que seja. Ela tinha que acreditar que Bane

encontraria uma maneira de destruir Micah e terminar o trabalho,

garantindo sua sobrevivência. Mas pouco antes de Micah poder expelir uma

única brasa, Drogo apertou o rabo na mandíbula de Micah e usou todo o

corpo para arremessar a fera no céu, para longe dela.

Sim! O plano dela estava funcionando! Drogo estava livre para atacar

quando quisesse, sem qualquer resistência.

Ele caiu, aterrissando vários metros na frente dela, todas as suas ações

rígidas e pesadas, sem um pingo de graça. O olhar que ele deu a ela... feroz,
angustiado. Seu coração gaguejou, depois pulou uma batida.

Micah recuperou o pé e bateu com as patas no chão, espalhando

pedaços de terra atrás dele, furiosos como um touro. Então, atacou mais uma

vez.

Drogo atacou, os dois colidindo no meio do caminho. Mais uma vez,

para sua completa alegria, Micah não prestou atenção à Drogo, mesmo

quando...

Oh, que bom. Drogo – totalmente – livre. Sangue pulverizado e ossos

estalaram. Pedaços de músculo caíram no chão. Um globo ocular rolou para

longe do corpo. Quando ele mordeu as mãos de Micah – sim, esses dragões

tinham mãos – ele usou sua cauda afiada como navalha para cortar a barriga

vulnerável do macho.

Apesar de sua crescente lista de lesões, Micah fez o possível para ir até

ela. Mas, independentemente do dano sofrido por Drogo, ele sempre a

bloqueava, protegendo-a.

Outro golpe das garras de Drogo mutilou o olho restante de Micah,

cegando-o. A fera golpeou seus tocos em seu rosto sangrando, e seu lado

escuro se emocionou, adorando a vista.

O homem que matou meus pais sofre. Assim como deveria.


Nola começou a se perguntar se tinha mais em comum com Nola

Sombria do que pensou; ela se perguntou se elas talvez... se

equilibrassem? Se Nola Sombria era um tipo de animal que tinha que

aprender a controlar, da mesma forma que Bane aprendeu a controlar

Drogo.

Com um rugido animalesco, Drogo conteve o outro animal,

prendendo-o no chão e batendo com o punho na cavidade torácica de Micah

para remover seu coração palpitante.

E assim, a batalha terminou.

Após a morte, o soldado de Aveline voltou à sua forma humanoide; as

escamas desapareceram e os ossos encolheram.

Quando a metamorfose terminou, um homem nu coberto de sangue

permaneceu.

Nola engoliu uma onda de bile.

Drogo recuou e caiu, e desta vez não se levantou. Consternada e

preocupada, ela correu, derrapando no meio do caminho. Enquanto

gentilmente manobrava a cabeça dele em seu colo, ele soltou um rosnado

baixo, mas não a mordeu então... vitória!

— Fique à vontade, garoto feroz. — Ele estava com dor, e ela odiava
isso.

O que Carrie costumava dizer? Se você quer um resultado diferente,

precisa fazer algo diferente. Em vez de resistir a Nola Sombria, ela tirou sua

confiança.

Ta-rã! A resposta, o “algo diferente”, veio para ela rapidamente. Ela

precisava emitir um comando. Isso não mudaria. Mas se ela mudasse a

perspectiva da coisa...

Acariciando seu focinho, ela disse: — Em um momento, eu vou curá-

lo. Mas, como você sabe, tenho que emitir um comando para fazê-lo.

Todo o seu corpo estremeceu. Ele respirou fundo, depois outro, seus

grandes olhos escuros selvagens e inundados de fúria.

— Eu preciso que você escute, ok? Eu sou sua rainha. Ou serei. —

Continuou ela o mais gentilmente possível. Acariciando, sempre

afagando. — Acho que isso me faz sua pré-rainha. Então prepare-se, porque

você não vai gostar do que vem a seguir. Uma pré-rainha não se torna menos

poderosa porque os outros têm medo do que ela pode pedir. Não. Um

guerreiro se levanta e cumpre seu dever. Então, estou pedindo que você se

mostre forte, para que eu possa fazer o mesmo. Não alimente um ego

machucado, nem jogue dragtrum que é uma “birra de dragão” para

leigos. Em vez de atacar toda realeza, conheça-nos como indivíduos. Deixe-


me provar que sou digna de seu desprezo ou do seu respeito.

Ele bufou outra respiração, esta mais profunda, mas não tentou

fugir. Drogo poderia não gostar do tom ou das palavras dela,

mas estava ouvindo.

— Você ganhou essas feridas me salvando. Seria uma honra ajudá-lo a

se curar. Seria a minha maneira de dizer obrigada.

Mais uma vez, ele não fugiu.

Respire fundo, expire. Aqui vai. — Eu ordeno que você cure

rapidamente e sem dor.

Tremores grandes e solavancos o sacudiram, as escamas perdidas

crescendo novamente. Suas asas se endireitaram e se realinharam. Carne

rasgada voltou a tecer. Até a ferida do ombro se curou um pouco,

encolhendo em comprimento e largura, assumindo seu tamanho

original. Doce! Mas também... caramba!

— Pronto. — Ela disse. — Isso não é melhor?

A fumaça ondulava em suas narinas, mas ele projetava pouca

malícia. Que progresso incrível para os dois! Ela até sentiu seu vínculo com

Bane e Drogo amplificando.


Quando duas camadas de ar se afastaram alguns metros, ela ficou

tensa. Uma nova ameaça? Ou Zion? Quando Nola ficou de pé e

desembainhou a espada de Bane, Drogo pulou para uma posição vertical e

rugiu com volume “ensurdecedor”.

Alto, moreno e robusto, Zion atravessou o portal. Um alívio quente

caiu sobre ela, apenas para relaxar quando ele a viu e a besta. A cor sumiu

de suas bochechas. — Afaste-se da fera, Nola, e eu vou-

Drogo pulou entre eles e rugiu com mais agressão, pontilhando a parte

superior de Zion com saliva.

— Não! — Ela correu entre os dois, estendendo os braços. — Por favor,

não se machuquem. Somos aliados, lembram-se? Guardamos as costas um

do outro, não nos matamos!

Zion olhou entre ela e a besta, seus olhos se arregalando. Ele não fez

uma jogada contra Drogo, e Drogo não fez uma jogada contra ele. A

besta que a envolvia com um braço, alisando com gentileza suas garras

contra sua barriga, tão gentil, puxando-a contra ele. Uma ação possessiva

que gritou: Ela é minha, e eu prefiro matar você do que compartilhar.

Cara, domei uma fera que geralmente despreza a realeza. Eu. Prazer

misturado com mais poder feminino, correndo direto para sua

cabeça. Delicioso.
— Você veio. — Disse ela a Zion. — Obrigada.

Ele manteve o olhar fixo em Drogo, a maior ameaça. — Há um

rastreador nas botas de Bane. Erik os plantou em um cadáver da caverna,

onde ele te prendeu. Foi assim que os combatentes localizaram Bane a todo

momento. — Ele voltou sua atenção para Nola. — Você ficará satisfeita em

saber que eu passei o telefone para Vale.

Oh, graças a Deus! Agora, quando Zion e Bane informassem a todos

sobre a “morte” de Nola, Vale finalmente saberia que estava viva.

— Mais combatentes estão a caminho. — Concluiu Zion. — Eu estaria

aqui mais cedo, mas tive que impedir que outros chegassem primeiro.

Nola disse a Bane: — Você deveria jogar as botas em um portal que

leva a um lugar seriamente perigoso. — Qualquer combatente que

perseguisse Bane merecia o que recebia.

Por meio do vínculo, ele disse a ela: — Vá com Zion. Devo me desfazer

do corpo, para que seu povo não inicie uma investigação ou aprenda que

alienígenas andam entre eles.

Não quero deixar você, ela respondeu. Espere. A voz de Bane havia

sussurrado em sua mente, não a de Drogo. Bane permaneceu no comando,

apesar da transformação? Ela cresceu em força, e ele também. Porque eles


estavam conectados, a rainha e seu guerreiro escolhido.

Drogo-Bane roçou a nuca. — Faça assim mesmo. Quando terminar,

irei até você. Esteja pronta, pois pretendo terminar o que começamos.
Como chutar uma terceira roda para o meio-fio

BANE RETORNOU PARA A FORMA humanoide e cuspiu um

bocado de sangue. Drogo rosnava no fundo de sua mente o tempo

todo. Mas... ele e a besta pareciam ser... um. Um ser. Uma mente consciente,

com um objetivo – a proteção de Nola através da obliteração de Micah.

Com uma nuvem de fumaça se acumulando no alto, protegendo sua

pele do sol muito forte, Bane cortou o corpo do homem em pequenos

pedaços. — Que seus gritos de dor ecoem na eternidade.

Ele abriu um portal acima daquelas águas infestadas de tubarões – um

local que voara antes e depois da prisão – e jogou as peças para dentro. Suas

botas receberam o mesmo tratamento.

Um frenesi de comida irrompeu, água espirrou, o cheiro de sal pesado

no ar.

Ele vasculhou sua mochila e após vestir roupas limpas, considerou

ficar por perto para emboscar quaisquer combatentes tolos o suficiente para
persegui-lo.

Mais tempo longe de Nola? Não está acontecendo.

Quando sua pequena beleza enfrentou Micah, Bane quase caiu de

joelhos para adorar a seus pés. Mulher

guerreira? Melhor. Princesa guerreira. Mais forte do que ele já havia

percebido. Mais corajosa também, com coragem de sobra. Espirituosa,

divertida e brilhante. Formidável. Fiel. Honesta.

E certa.

Uma vez ela disse uma verdade muito dura. Somente um hipócrita

admiraria a força em si mesmo, mas desprezaria aqueles que eram mais

fortes... e apenas um hipócrita a desprezaria por ter autoridade sobre ele ao

fazer uso dessa autoridade a qualquer momento que necessitasse de ajuda.

Quando ele considerou o quão terrivelmente a tratara, como uma vez

a julgara pior que Aveline... Bane caiu de joelhos e jogou a cabeça para trás,

rugindo para o céu até que seus pulmões esvaziassem e sua voz falhasse.

Ele tinha sido um tolo, cego por seus preconceitos. Suas habilidades,

as mesmas habilidades que a odiava por exercer, ajudariam a mantê-la viva

nos intermináveis anos à frente. Ele poderia tê-la – poderia mantê-la, a morte

incapaz de roubá-la facilmente.


Bane poderia ter tudo o que ele sempre quis. Uma mulher amorosa ao

seu lado. Uma família para amar e cuidar. Para sempre.

Atordoado, ele se recostou. Uma família. Com Nola. Quero tanto isso.

O que ela quer?

Frenético com a necessidade, Bane ficou de pé. Ele usou o link para

espiar através dos olhos dela. Ele viu... uma nuvem de vapor?

Duro como aço, ele abriu um portal e entrou em um banheiro espaçoso,

com acessórios cromados e azulejos em preto e branco, as roupas sujas de

Nola empilhadas no chão. Dentro do box, a água escorria de um bico, a

névoa embaçando a porta de vidro. O cheiro de madressilva e jasmim

ameaçava desgastar o que restava de seu controle.

— Como está se sentindo, Pomba?

— Bane? — Ela passou a mão sobre a porta, limpando uma camada de

névoa. Alívio pulsou. — Eu não fique tão doente desta vez. Estou ficando

melhor.

Ou o vínculo entre eles havia se fortalecido, permitindo-lhe tirar mais

dele a distâncias maiores? — Onde estamos? Onde está Zion? — Ele confiava

no outro homem, em parte, caso contrário, nunca teria colocado a vida de

Nola nas mãos do outro guerreiro.


— Estamos em Los Angeles. — Disse ela. — Uma suíte de cobertura

sofisticada em um hotel ainda mais sofisticado. Não é glorioso? Ah, e Zion

mencionou que ele tem algum tipo de presente para você.

Você é o único presente que desejo. — Não se preocupe com

Zion. Quer companhia? — Ele perguntou, enquanto puxava a camisa para

cima.

— Você não está com raiva de mim? — Perguntou, hesitante.

Ele tentou esconder sua vacilada. Ela espera que eu volte à minha

configuração padrão e a castigue por emitir comandos. — Sou grato a

você. Você nos salvou. Estou feliz que você tenha se teletransportado de

volta, se colocando em perigo? Não. Minha vida é dispensável. A sua não é.

Os olhos dela se arregalaram. — Sua vida não é descartável, e se eu

ouvir você falar uma mentira tão repugnante de novo, farei danos!

O jeito que ela defende minha honra. Seu peito se curvou com

orgulho. Ajoelhou-se sobre um joelho e abaixou a cabeça, dizendo: — Muitas

vezes, de muitas maneiras, julguei você de forma errada. A partir deste

momento, farei o que é certo. Você pode ser uma princesa, mas é minha

rainha. Eu confio em você, Nola, e seu comando é meu privilégio.

— Eu... você... o quê? — Pouco antes da névoa voltar para a porta,


protegendo o rosto – uma farsa que ele não podia suportar – ela ficou

boquiaberta, boquiaberta. — OK. Você está absolutamente, positivamente

convidado a participar do meu banho. Aviso justo, espero que você apague

meu fogo.

Apagar... um incêndio? Seu tradutor forneceu o significado um

momento depois. Transar. Mambo horizontal. Sexo. Ahhhh. Sua luxúria

real ainda o desejava, e ele sentiu vontade de bater os punhos contra o

peito. — Eu vou te defender, Pomba, mas você me deve.

Ela bufou. — Ei! Você está mudando nossos papéis. Nesse

relacionamento, você é o pedaço quente de mal caminho e eu sou a

engraçada, inteligente e linda. — Os olhos dela se arregalaram. — Uh-

oh. Você está prestes a surtar? Ou talvez você meio que... goste da ideia?

— Adoro a ideia.

Suas palavras foram recompensadas. Um sorriso brilhante e feliz que

ele desejava ver todos os dias pelo resto da eternidade. — Eu sou sua e você

é meu? Eu tenho que ficar com você?

— Você diz que tem... eu digo que deve. — Ele deu de ombros. — Não

vou deixar você ir. — Ele percorreu o resto do caminho, tirando a roupa e

entrou no box. Calor e vapor o envolveram. — Espero que você esteja

pronta, Pomba. Estou prestes a passar por uma linha de montagem de


orgasmos.

Nola estava do outro lado da água, encostado na parede, nua, corada

e úmida, requintada além da medida, vendo ele observá-la.

— Se eu conseguir uma linha de montagem dos seus orgasmos, você

terá o melhor show da sua vida. — Ela segurou os seios e deslizou uma mão

pela barriga plana.

Enquanto seus dedos brincavam com o tufo de cabelos escuros entre

as pernas, ele engoliu um gemido. Quando uma gota de água escorreu de

seu mamilo, o gemido escapou, de qualquer maneira.

Com a voz crua e sedução sombria, ela disse: — Eu nunca fiquei suja

enquanto tomava banho. Isso deve ser divertido.

A menor sugestão de um sorriso apareceu. — Você está com saudades

de mim?

— Mais do que já tive de alguma coisa. — Ele espreitou sob a água

quente e a puxou contra ele. — Por acaso você sabe por que eu me apressei

para alcançá-la?

— Mmm. — Ela passou as mãos pelo peito dele. — Sim, sim. Mas isso

me surpreende também.
Sentindo-se duro e latejante, ele encaixou o nariz na cavidade do

pescoço dela e respirou profundamente. Como inalar sexo. — Eu não gosto

que você se coloque em perigo — disse ele, passando os dedos pelos cabelos

molhados. — Mas estou satisfeito com o resultado. Sua coragem é louvável.

Ela sorriu para ele. — Bem, eu vim a gostar de Drogo. Eu deslizaria

totalmente para a direita para ele. E você também! Dois pelo preço de um.

Segundo o tradutor, “deslizar para a direita” significava que ela

achava Bane e sua besta sexualmente atraentes. Ele sorriu, beliscou seu

lóbulo da orelha e sussurrou: — Isso me agrada mais ainda..

Brincalhona, ela falou: — Tudo o que peço é que você não se apaixone

por mim. Tem muito no meu prato para lidar com um perseguidor imortal.

As palavras foram ditas em tom de brincadeira, e ainda assim, aquele

sorriso...

Compreensão. Já estou meio apaixonado por ela.

Atordoado, Bane lavou cada centímetro dela., suas curvas o

enlouquecendo. O latejar em seu eixo piorou, mas ele não fez nenhum

movimento para amenizá-lo. Bane devia muito a essa mulher. Ele não queria

tomar esse tempo; ele queria dar.

Respirando o calor frenético do desejo, ele lavou e condicionou o


cabelo dela, vacilando entre êxtase e agonia.

Enquanto ela o lavava, ele se agarrava ao seu controle frágil. Então

seus dedos escorregadios acariciaram seu comprimento...

Talvez ele levasse um pouco.

Com um grunhido, ele a pressionou contra a parede e bateu a boca de

Nola, empurrando sua língua contra a dela.

Ela o beijou de volta, esfregando e arranhando, sem segurar nada. —

Você me faz sentir tão bem. — Ela respirou contra os lábios dele.

— Você me faz melhorar. — Ele a girou, colocando-a de volta em seu

peito, sua ereção descansando na fenda de sua bunda. Amassando seus

seios, ele virou a cabeça para receber outro beijo.

Nola apertou as costas contra seu eixo. Um convite. Ele deslizou uma

mão para baixo, para baixo, para segurar seu monte. Enquanto ela

choramingava, o tom do beijo mudou. Controle de desgaste. Ele deslizou

um dedo profundamente em seu núcleo quente e liso. Suas paredes internas

o apertaram, depois se esticaram para acomodar um segundo dedo.

— Farei qualquer coisa que você mandar. — Ele soprou em seu ouvido.

— Mas você fará qualquer coisa que eu pedir. Você não vai, Pomba?
— Vamos descobrir. — Ela arqueou as costas e enfiou os dedos nos

cabelos dele. — Me peça uma coisa. Qualquer coisa.

— Não dessa vez. Hoje à noite, eu lhe darei o que você deseja. — Ele

enfiou os dedos dentro e fora, dentro e fora. — Tão quente. Tão

apertada. Tão molhada.

Ofegando, Nola olhou para ele por cima do ombro, o lábio inferior

fazendo beicinho. — O que desejo é a sua fantasia.

— Você é minha fantasia. — Sua boca beliscou o lóbulo da orelha,

lambeu e chupou. — Qual é a fantasia que você gostaria que eu cumprisse?

— Para pontuar suas palavras, ele mexeu os dedos dentro dela.

Sua cabeça caiu para trás e ela gemeu. — Tão bom! — Mas ela girou,

radiante, e apoiou as mãos nos peitorais dele. Com um empurrão gentil, ela

pediu que ele andasse para trás.

Seus joelhos atingiram o banco e ele se sentou. O brilho perverso em

seus olhos estrelados incendiou suas células.

— Se você não me contar sua fantasia, — disse ela, espiando o

comprimento dele, — acho que vou ter que encenar a minha. Ela lambeu os

lábios.

Respire. Sua fantasia... ela desejava chupá-lo, como ele sempre


desejou? Gerencie suas esperanças. Ela deseja outra coisa. Certamente!

Intenção perversa brilhava em seus olhos quando ela se ajoelhou entre

as suas pernas e pressionou seus joelhos.

Ela pretendia fazer isso. A fantasia dela é a minha.

Bane cambaleou. A ternura varreu-o, corroendo quaisquer escudos

que ele conseguisse construir em torno de seu coração. Um coração agora

exposto ao mundo.

Instintos de proteção diziam para ele ficar de pé, correr, se afastar e

nunca mais voltar. Se continuasse nesse caminho, sentiria angústia,

transformando seu passado em férias e seu futuro em miséria. Mas...

O medo não iria decidir por ele.

Ele não poderia viver sem essa mulher. Ele não faria.

Bane não estava meio apaixonado por ela. Ele estava totalmente,

completamente, loucamente, apaixonadamente, inteiramente

apaixonado. Ele queria tudo.

E ele não pararia até ter.


****** ******

NOLA ESTAVA à beira da loucura. Mais uma vez, algo mudou em

Bane. Desde sua chegada, ele a olhou com reverência, tocou-a como se ela

fosse um tesouro inestimável e sussurrou as coisas mais doces em seus

ouvidos.

O pensamento de chupar seu membro, de bebê-lo, a excitou ao

extremo. Uma ação que ela às vezes se perguntava no escuro da noite. — Eu

nunca fiz isso. — Disse, seu corpo fixo entre as coxas robustas e fortes

dele. — Se eu estragar tudo, prometo que tentarei melhorar com a prática.

Seus olhos enrugaram nas bordas. Lutando contra um sorriso? — Eu

nunca tive isso. — Ele admitiu. — Mas quero isso de você.

Nem Meredith conseguiu aproveitar essa experiência com ele? Uma

sensação de possessividade se desenrolou, percorrendo cada centímetro

dela. — Você esperou o suficiente, bebê. E eu também.

Inclinando-se, Nola começou a se ajoelhar e beijou sua coxa,

aproximando-se lentamente do objeto de seu desejo. Através do escudo de

seus cílios, ela observou o rosto dele. Suas feições se apertaram; ele parecia

um homem no limite, os tendões de ambos os lados do pescoço inchados, as


veias nos bíceps distendidos. Molhado, seu cabelo parecia mais escuro que

o normal. Ele ainda tinha que se barbear, uma camada de pelos dourada

espanando sua mandíbula.

O olhar dele permaneceu colado no rosto dela, como se não pudesse se

forçar a desviar o olhar. Ele sacudiu. Ora, ora, a pequena e doce Nola Lee fez

esse homem incrivelmente poderoso tremer, e o conhecimento foi direto

para sua cabeça. Como uma droga.

— Pronto? — Ela ronronou.

Ele ficou tenso? — Além. — Murmurou.

Tremendo de excitação, ela lambeu a coroa do pau dele, provando uma

pitada de sal. Seu corpo estremeceu, um gemido irregular o deixou. O

sabor... esse gemido... perfeição. Suas pálpebras ficaram pesadas, seus

pensamentos escurecendo. Mais.

— Nola. — Ele resmungou, os dedos nos cabelos dela. — Não pare. Por

favor, não pare.

Agora ele me implora. Meu precioso. — Nunca. — Ela chupou a

cabeça por um tempo, desenhando rosnados irregulares. Então ela se abriu

e devorou o máximo de seu comprimento possível. A ponta atingiu o fundo

de sua garganta, e ele estremeceu mais uma vez, apertando as laterais do


banco, como se estivesse com medo de ser muito duro com ela.

Nola queria bruto.

Ela o engoliu, um pouco desajeitada no começo, mas ele se divertiu

com tudo o que ela fez, sons roucos derramando dele. Sons que ficaram mais

altos quando Nola acelerou o passo, trabalhando a boca para cima e para

baixo, para cima e para baixo.

— Isso é... nunca soube... Preciso... todos os dias... — A dureza de sua

voz só a fez piorar a fome.

Nola o queria fora de si com excitação. Como eu estou. Seu núcleo doía

e seu sangue fervia. Ela detectou o batimento cardíaco dele ao longo do

vínculo, acelerando e batendo?

Quando ela segurou seus testículos – eles estavam tão apertados –

Bane soltou seu grunhido mais rouco ainda.

— Mais. — Implorou.

Cima, baixo. Mais rápido.

— Ah, Pomba, você me faz... eu preciso gozar. Se você não quiser...

Ela chupou mais. Meu! Ela ganhou cada gota e não se contentaria com

nada menos.
Quando Nola puxou suas bolas, ele jogou a cabeça para trás e berrou

sua satisfação, jatos quentes de prazer açoitando sua garganta. Ela engoliu

em seco e, sim, sim, sim. Melhor do que um coquetel de

drogas. Instantaneamente alto, sua excitação subiu nas paradas.

Nola abandonou seu eixo com um estalo audível. — Bane. —

Suplicou. O ato tinha sido tudo o que ela esperava e muito

mais. Melhor. Com os lábios formigando, ela balançou de volta. Tremores a

atormentavam. A necessidade a dominou.

Com a expressão infinitamente macia, ele gentilmente acariciou dois

dedos ao longo de sua mandíbula. — Você não poderia ser mais preciosa,

Pomba. Obrigado.

— Bane. — Repetiu. O que queria dizer não sabia como articular. Ela

nunca quis, precisou, desejou, ansiou alguém ou qualquer coisa do jeito que

queria, precisava, ou desejava Bane. — Por favor.

O eixo dele endureceu diante dos olhos dela. Acariciando-se, ele disse:

— Você precisa do seu homem.

Ela assentiu, isso, sim, e ele deslizou as mãos sob os braços dela,

forçando-a a se levantar. Ele abaixou a mão nos quadris dela e a girou,

depois se levantou e colocou as palmas das mãos contra os azulejos.


— Você me terá. Tudo de mim. — Ele disse e chutou as suas pernas. —

Não saia desta posição.

O ar frio beijou seu lugar mais íntimo, tremores balançando seu corpo

sensibilizado. — O que você vai fazer?

— Qualquer coisa que eu desejar. — Ele apertou seus seios, beliscou

seus mamilos e passou as mãos pelos lados dela antes de provocar seu

clitóris. — Você nunca esteve tão molhada. Adorou me chupar, não é?

— Sim. — Por que jogar de tímida? — Estou pronta para mais.

Bane acomodou seu eixo na abertura dela. — Você é a forja e eu sou a

espada. Eu te faço mais forte, você me faz melhor. Juntos, podemos realizar

qualquer coisa.

Tudo dentro dela suavizou para este homem. — Oh, Bane.

Ele deu um beijo carinhoso no canto do olho dela, na bochecha. Então...

Ele mergulhou dentro dela.

A combinação de suas ministrações ternas e ferozes a empurrou para

o limite. Outro clímax atingiu tão rápido e com força que ela só pôde jogar a

cabeça para trás e gritar.

Prazer. Felicidade. Êxtase. Ele a encheu, esticando-a. Ele a possuía...


assim como ela o possuía?

Mas o idiota parou de se mexer. Por que ele parou de se mover? —

Bane! Eu não acabei. Quero mais!

— Eu nunca terminarei. — Ele se afastou, quase todo o caminho, e ela

choramingou. Então ele mexeu os quadris e mergulhou mais uma vez. E de

novo. E de novo. Sim! Sim! Mais forte. Mais rápido. Ele foi impiedoso, cruel,

perfeito. Ela arqueou as costas, encontrando cada impulso interior dele. —

Enquanto seu clímax se enfurece, suas paredes internas apertam meu

pau. Você está me matando de prazer...

— Por favor!

Ele bateu nela com força contundente, e ela adorou, precisando

disso. Enfiando, metendo. Mais forte, mais rápido, mais veloz. Peles batendo

juntas. Ela gemeu e ofegou, cada respiração difícil, seu coração trovejando,

o desejo a ultrapassando como um raio. Ela sabia que seu coração trovejava

também, suas reações sincronizadas.

Um homem, uma mulher, duas metades de um todo. Um pensamento

fantasioso, sim, mas também realidade. Isso... ele... fazia a vida valer a pena.

Ele passou os dedos pelos cabelos dela e inclinou a cabeça para o

pescoço nu. Mergulhando, mordeu o cordão do pescoço dela, enviando


ondas de choque a atravessando.

— Bane! — Outro clímax explosivo a atravessou, seu corpo cantando.

Com um impulso final e violento, ele a seguiu até o limite, rugindo,

marcando-a com sua semente.

A mente de Nola ficou momentaneamente em branco. No momento

em que as luzes acenderam, ela e Bane estavam ofegantes, o peito dele

descansando contra suas costas. Seus músculos estavam relaxados, seus

membros desossados. A qualquer momento, ela entraria em colapso,

embarcando em um coma de satisfação.

Ele beijou sua têmpora e depois voltou para o banco, arrastando-a com

ele. Enquanto ela se enrolava em uma bola no colo dele, tentava não se

preocupar com a reação dele ao ato sexual.

E foi isso que eles fizeram, certo? Amor.

Se ele ficar tenso e se sentir culpado novamente...

— Eu tenho perguntas intermináveis para você. — Disse ele, beijando

sua têmpora. — Gostaria de conhecê-la melhor e aguardo ansiosamente

todos os detalhes sobre sua vida.

Verdadeiramente? Ela passou as mãos pelo peito dele. Pele macia,


músculos duros. Não afundar as unhas na pele dele, mantendo-o no lugar

para que ele não decidisse fugir, exigia toda sua força de vontade. Ela estava

saciada e trêmula, genuinamente satisfeita pela primeira vez em...

sempre. Um sentimento tão selvagem e maravilhoso! Claro, com a sorte

dela, não duraria.

Um zumbido de presságio chamou sua atenção, e ela quase gritou de

frustração. Nem aqui, nem agora.

Muito ruim, tão triste.

Pensamentos vieram e eles carregavam forquilhas e tochas. Em algum

momento, Bane lembraria que Nola tinha a capacidade de recuperar sua

esposa do passado e conceder a ele a vida que sempre sonhou em ter. O

ressentimento surgiria como uma doença? Será que ele a desrespeitaria?

Por que não o lembrar e iniciar o processo várias vezes?

— Você odeia rainhas. — Disse ela, dando o pontapé inicial.

— Odeio? — Com um tom de provocação, ele respondeu: — Não acho

você tão censurável agora.

— Uh la lá. Eu não sou censurável. — Ela revirou os olhos, dizendo: —

Pare, antes que seus elogios cheguem à minha cabeça.


Ele mordeu seu lóbulo da orelha.

— Vejo que os orgasmos falharam em melhorar seu humor.

Ela levantou a cabeça, chocada ao encontrá-lo completamente à

vontade, sem nenhum sinal de estresse. A luz provocadora até migrou para

seus olhos, iluminando suas íris douradas.

— Esqueceu o que posso fazer? Quem eu posso salvar?

— Tenho tudo o que desejo...

— Mas.

O idiota começou a fazer cócegas nela. Nola riu histericamente

enquanto tentava pedir misericórdia. Mas quanto mais ela ria, mais a

expressão dele se maravilhava, até que ela nunca quisesse terminasse.

— Diga-me o que você mais gosta, e por quê. — Ele pediu. — Só então

o tormento irá parar.

Tem que terminar antes que eu faça xixi em mim! — Ok, ok. — Este

lado brincalhão de seu guerreiro ultra sério estava fazendo coisas estranhas

e agitadas em seu interior. — Minhas coisas favoritas. Vamos ver. Cor - ouro.

— Como eu.
— Como joias.

Ele fez beicinho, e ela riu.

— Estação. — Disse, retomando de onde parou, — Inverno. Quando

eu estava de cama e nevava, a escola de Vale fechava e ela ficava comigo,

assistindo filmes. Comida – rosquinhas. Deliciosa! De fato, Vale e eu

planejamos abrir uma loja de donuts juntas. E você? Quais são seus

favoritos?

— Espera. Você planejava vender doces?

— Sim.

Seus lábios se curvaram, tornando toda a vibração pior. — Sempre que

você quiser vender rosquinhas, estou disposto a comprar. Beijos são a minha

moeda.

— Você ouviu a parte sobre gostar de joias, certo? Só aceito pedras

preciosas e ouro.

O sorriso aumentou. — Os orgasmos são mais valiosos e tenho um

suprimento infinito para dar.

— Então, a loja de guloseimas da Nola está aberta para negócios.

Uma risada explodiu dele, e ela quase desmaiou como uma donzela
vitoriana.

— Devo-lhe minhas coisas favoritas. — Disse ele. — Cor? Azul.

Estação? Escuro e tempestuoso, não importa a época do ano. Não temos

estações alternadas em Adwaeweth. A cúpula controla o

clima. Comida? Você. — Ele mordeu queixo dela. — Porque... deliciosa.

Ela sorriu. E derreteu. Quando esse cara decidia mostrar um romance

feminino, ele realmente mostrava um romance feminino. — Alguém está me

esmagando forte, hein?

— Minhas desculpas. — Ele a levantou e a recolocou, deixando-a

envolver as pernas em volta da cintura dele. — Melhor?

Divertida e encantada, ela riu. Ele fez cócegas e provocou os problemas

diretamente dela. — Esmagar forte alguém é uma figura de linguagem. Isso

significa que você gosta de mim. Cavando minha vibração. — Nola

suspirou.

— Você pode me culpar? A inteligência brilhante... sorriso reluzente...

calor sedutor... e perfume viciante. Esse rosto requintado... seios

empinados... mmm, o portal melado para o paraíso. — Todos os lugares que

mencionou, ele tocou, fazendo-a gemer. — Eu nunca tive chance. Ninguém

teria. Nem é justo.


Esses elogios... mexendo com minha cabeça. Uma onda de carinho caiu

sobre ela. — Como se você não estivesse embalando uma tonelada de calor,

garoto mau. A intensidade incrível... um sorriso matador... a sagacidade

seca. Esse rosto deslumbrante... os lábios macios... músculos duros... seu

almíscar de dar água na boca, seu sorriso devastador e uma risada linda. Seu

toque incomparável. — Seguindo o exemplo dele, ela tocou as partes do

corpo que mencionou. — E, uma jumbotron de ereção.

Sua mandíbula afrouxou. Ele engoliu em seco. — Diga-me sua

memória favorita.

— Bem, este segundo. — Escovando a ponta do nariz contra o dele, ela

disse: — E você?

— Bem este segundo. — Ele ecoou com um aceno de cabeça. — Sinto

que este dia será marcado em minha memória e ressuscitado, toda vez que

eu chegar ao clímax.

Ela ofereceu a ele o sorriso mais atrevido que conseguiu. — Eu sou sua

forragem de banco de palmadas? Aw. Estou honrada. — Este homem é tão

bom quanto e é meu. Nola Lee tem um namorado genuíno! — Ok, eu não

pretendo estragar nosso brilho pós-sexo ou algo assim, mas estou muito

curiosa. O que aconteceu com Micah depois que fui embora? — Essa

mudança nele...
— Simplesmente percebi que você nunca foi a indigna. Eu fui. Eu não...

não te mereço, mas quero e preciso de você. — Ele segurou suas bochechas,

encontrando seu olhar com toda a intensidade que ela elogiou. — Você é -

Um leve toque soou na porta. — A julgar pelos gemidos que ouvi, acho

que Bane voltou. — Disse Zion. — Agora que você terminou sua reunião,

saia e veja o presente que eu tenho para você.


O refúgio romântico acabou. E agora?

MALDITO ZION E SUA INTERRUPÇÃO FORA DE HORA.

Com o coração como um trem de carga, montando suas costelas como

trilhos, Bane desembaraçou-se de Nola e levantou. Embora tivesse

experimentado satisfação completa apenas alguns momentos atrás, com os

nervos crus e expostos, o resto dele ficou fora de controle. A queria de volta

em seus braços. Ela era o centro da tempestade. A calma dele. Mas também

era a própria tempestade.

Para resistir à tentação primordial, ele teve que recorrer a uma força

que reservara para emergências. Não ajudou que o animal a quisesse de

volta em seus braços também, e golpeava o seu crânio em protesto. Nunca o

demônio reagiu dessa maneira. Faminto por uma mulher específica,

possessivo e vulnerável a ela. Totalmente fora de controle. Selvagem e com

medo.

Se alguma coisa acontecesse com ela...


Nada vai acontecer. Protegerei a vida dela com a minha.

Ela se levantou e apoiou a cabeça no ombro dele, como se não pudesse

suportar se separar dele. Sentiu um aperto no coração. Quando ele a

abraçava assim, não podia se arrepender das dificuldades que haviam os

unido.

Para experimentar esse tempo com ela, sofreria com prazer qualquer

coisa.

— Eu esperava te abraçar dessa vez — disse ele, curvando-se para

beijar sua nuca. No local do contato, arrepios surgiram.

— Tudo bem — expôs ela. — O que aconteceu com o meu estoico urso

resmungão?

Urso resmungão? — Ele conheceu você. — Segurando seu lindo rosto,

roçou a ponta do nariz contra o dela, depois deu um beijo carinhoso nos

lábios inchados e amados. — Estou mantendo você, Nola. Você entende o

que isso significa?

Os olhos dela se arregalaram. — Acho que sim. Talvez. — Gotas de

água grudavam em seus cílios, e um rubor manchou suas bochechas. —

Quero dizer, você está me olhando como se eu fosse sua próxima refeição, e

atualmente não quer que eu volte por Meredith.


— Atualmente? — Ela acha que eu vou mudar de ideia?

O calor desceu sobre sua espinha, rapidamente se espalhando por seus

membros. — Eu nunca vou querer que você volte. — Perdoe-me, Meredith.

Quando sua esposa mais precisou dele, Bane falhou com ela. Ele

desejou que ela tivesse vivido, mas mesmo se Meredith tivesse se

materializado aqui, agora, suspeitava que as coisas seriam diferentes entre

eles.

A admissão estripou-o. Os anos separados o mudaram. Ele não era o

homem que Meredith amava, e ela não era a mulher que ele... precisava.

Ele não podia mais ser um prisioneiro de seu passado. Cometeu erros,

sim, e ganhou punições, mas uma sentença eterna não era necessária.

Chegara a hora de perdoar a si mesmo. Deixar ir e dizer adeusa sua

esposa, finalmente. Só então ele poderia realmente abraçar um futuro com

Nola. E ele ansiava por um futuro com ela. Antes que ela entrasse em sua

vida, ele não tinha nada além de um coração cheio de ódio.

Sabendo que Zion esperava do lado de fora da porta, mas não

sentindo-se disposto a se separar de sua rainha, Bane disse: — Tenho uma

confissão. Várias de fato. Depois de lidarmos com Zion, vou comer minha

sobremesa. Mas não vamos lidar com Zion até que eu lhe diga que você já
mudou o passado. Quando revisitou a memória da morte de seus pais,

Aveline te notou. Ela comparou você a Jayne, uma ex-rainha capaz de

manipular memórias e mudar o passado. Para fazer isso, no entanto, ela

tinha que realizar um sacrifício humano. Acho que você deve fazer o mesmo,

porque acredito que você vem da linhagem de Jayne.

Nola empalideceu. — Você está dizendo que eu posso viajar no tempo

em forma corporal se eu matar alguém?

Ele segurou o olhar dela e assentiu.

Ela cuspiu um pouco antes de reclamar: — Quem? Por quê? Como?

— Quem – qualquer um. Porque – sangue é vida, vida é poder. Como

– como você quiser.

Ela tropeçou de volta. — Agora eu realmente não entendo. Um único

assassinato desprezível, e você pode ter sua esposa de volta. Assim, eu posso

pensar em uma tonelada de pessoas que merecem servir como sacrifício.

Assassinato desprezível? — Quando eu disse que queria você, só você,

eu realmente quis dizer isso.

A confusão desenhou um vinco entre as sobrancelhas. — Mas por quê?

Ele a tinha insultado tantas vezes, de tantas maneiras, que seus elogios
não haviam sido registrados? A culpa... — Pomba, você é a mulher mais

bonita que já vi. A mais forte, e mais corajosa. A mais doce e espirituosa. Eu

poderia arrancar você de uma multidão de milhões.

Com os olhos arregalados novamente e as pupilas se expandindo, ela

olhou para ele. O vapor a envolveu em uma névoa sonhadora, e Bane se

aproximou.

— Mas, — ele acrescentou, — Meredith não gostaria que um

assassinato cometido a sangue frio a trouxesse de volta. Ela acreditava em

batalha, honra e consequências.

— Quem disse alguma coisa sobre sangue frio? Eu poderia fazer isso

durante o calor da batalha, do jeito que ela prefere. Caramba, até posso usar

Aveline quando ela aparecer.

O tempo todo em que ela falou, ele balançou a cabeça com

determinação selvagem e, sim, crescente fúria. Ele tomou uma decisão e não

a reverteria. Por que Nola continuava a insistir nisso?

Pronta para se livrar de mim?

Ele poderia culpá-la? Não. Mas lutou com seu temperamento, de

qualquer maneira.

Antes de sair deste banheiro, ele consolidaria o relacionamento deles.


Toc-toc-toc. — Meu presente tem um prazo. — Disse Zion. — Confie

em mim quando digo que você não quer perder. — Um toc mais forte. Uma

rachadura apareceu na porta, a madeira não era páreo para sua luva de

metal. — Eu não ouço você lutando aí dentro. Talvez não tenha me deixado

claro. Tempo. Limite.

Muito bem. Os desejos pessoais de Bane podiam esperar. —

Conversamos mais tarde, sim?

— Sim. — Sussurrou, um pouco engasgada.

Depois de desligar a água, ele a limpou e depois se secou – sem beijar

todas as suas partes favoritas. Uma verdadeira farsa.

Bane vestiu uma camiseta preta e calças de camuflagem com bolsos,

observando Nola colocar um sutiã de renda no lugar e vestir uma calcinha

combinando.

Mais tarde, arranco a calcinha com os dentes.

Ela cobriu as roupas íntimas com jeans e uma camiseta rosa que dizia

Pré-milionário. A graça de seus movimentos transformou o simples ato de

vestir-se em uma dança de sedução, e ele permaneceu extasiado.

Nola se jogou na tampa do vaso para amarrar seus tênis. De novo e de

novo ela abriu a boca como se tivesse algo a dizer, apenas para mudar de
ideia.

— As coisas vão melhorar agora. — Disse ele gentilmente. — Aconteça

o que acontecer, nós vamos superar isso. — Ele se agachou em sua frente

para terminar de amarrar os cadarços, seus ombros mantendo afastando os

joelhos dela. — Juntos.

Ela assentiu, mas manteve o olhar abatido, incitando uma sensação de

urgência nele.

— Nola? O que há de errado?

— Eu só... me sinto um ioiô. Para cima e para baixo. Feliz um segundo,

certo de que algo terrível está prestes a acontecer no próximo.

Aperto.

— Eu não vou deixar nada ruim acontecer com você.

— Não estou falando de mim. — Resmungou.

— Eu? — Bane bateu no peito, só para ter certeza. Ao seu aceno de

cabeça, o aperto piorou. — Eu tenho algo para viver. Não

deixarei ninguém tirar o melhor de mim. — Ele levou o pulso à boca, beijou-

a com força e depois se levantou, puxando-a para ficar de pé.

Com um beijo final na testa dela, conduziu sua linda fêmea para o
quarto. Uma breve olhada, e ele memorizou o ambiente, um hábito que todo

combatente desenvolveu para ajudar na sobrevivência. Uma cama grande

coberta por um edredom macio. Duas mesinhas de cabeceira, uma mesa,

uma televisão e três luminárias, tudo preto, branco ou prata e brilhante.

Armado com o punhal na mão, Bane entrou no corredor, onde Zion

esperava. Ele não olhou para Nola, provando que entendia que a cooperação

de Bane era condicional. Olhe para a garota, e a aliança deles termina. —

Vamos ver esse presente. — Um truque?

— Por aqui. — Zion usava calça de pijama leve de algodão e um

sorriso. Embora não exibisse ferimentos visíveis, respingos de sangue

molharam sua pele e roupas.

Bane e Nola seguiram, cortando a sala de estar. Mais uma vez, ele

memorizou o ambiente apenas com um olhar. Dois sofás, duas cadeiras. Um

piano em um canto de janela, ao lado de um bar molhado.

Em seguida veio a cozinha. Mesa grande, sete cadeiras. Bane apertou

os lábios. Zion tinha quebrado a oitava?

Eles entraram em um quarto diferente, metade do tamanho do outro e

mobiliados da mesma forma. Exceto por um pequeno detalhe. Zion havia

usado a cadeira, colocado uma lona plástica por baixo... e acorrentado um

humano a ela. Desenvolvimento interessante.


Um dos olhos da vítima estava fechado e inchado, o outro estava

vermelho de lágrimas e vidrado de medo. O sangue endurecia sua boca e

queixo, ruídos sufocantes o deixando.

Zion havia removido a língua do homem.

Nola se enterrou no lado de Bane, seu corpo atormentado por

tremores. — Quem é? Por que você fez isso, Zion?

O humano a viu e silenciosamente pediu ajuda.

Um grunhido ecoou de Bane, atraindo o olhar do homem de volta para

ele, e o medo aumentou.

— Não olhe para ela. Nunca olhe para ela.

— A próxima assembleia é daqui a duas semanas — disse Zion, dando

um tapinha na cabeça do humano. — Esse homem lidera um exército

humano empregado por Erik. Ele e seus homens planejam comparecer à

reunião de longe e nos tirar do alto das montanhas. Eles devem ser

neutralizados.

— Então, por que você não o matou? — Nola perguntou, derramando

parte de seu desconforto.

Bane passou a mão de um lado para o outro, acidentalmente roçando


a parte de baixo do peito. Merda! Tocá-la havia sido um erro, mas deixá-la ir

se tornara uma impossibilidade. — Eu posso adivinhar. A varinha. — Ele

disse. — Somente Zion pode manejá-lo.

Ela fez uma careta. — A varinha mágica? Você não estava brincando

sobre isso?

— Não é brincadeira. — Zion bateu nos diamantes embutidos em sua

pele, em uma ordem específica, depois estendeu a mão. Uma fina vara de

madeira apareceu no centro.

A mente de Bane zumbiu. A arma poderia curar seu ombro ou não?

— Você pode querer se virar para isso. — Disse Zion a Nola.

— Estou bem. — Afirmou, mas se aproximou de Bane, buscando

conforto.

Seu peito estava cheio de orgulho. Ela está se apaixonando por mim. —

Faça. — Disse ao outro homem. — Nola pode lidar com qualquer coisa.

Agora seu peito estava cheio de orgulho, e ele quase sorriu.

Zion se moveu atrás do cativo trêmulo, colocou a ponta da varinha

contra um sulco entre o crânio e a espinha - e empurrou. A madeira

mergulhou no cérebro do homem.


Nola fechou os olhos com força quando a vítima grunhiu, empurrou e

caiu, a cabeça inclinada para a frente. Seus olhos permaneceram abertos,

uma luz brilhante brilhando deles. Mais brilhante. Imagens formadas.

— Estamos assistindo a um filme, através dos olhos de um morto? —

Nola ofegou.

— Tudo é energia. — Disse Zion, — até nossos pensamentos. A

varinha pode extraí-los e projetá-los, permitindo-nos ver qualquer parte de

sua vida que escolhermos.

À luz, uma versão cinematográfica de Erik passeava em um armazém

cheio de centenas de soldados que eram atraídos por todos os seus

movimentos. Um armazém que Bane e Zion agora podiam entrar, mas não

deveriam. Considerando que estavam lidando com o viking, tinha que haver

inúmeras armadilhas. Sprays e gases venenosos, provavelmente, com piso

eletrificado. Esse era o conjunto preferido de armadilhas de Bane, de

qualquer maneira. Sem dúvida, havia armadilhas específicas para

guerreiros específicos. Como luzes mais brilhantes para Bane, talvez?

— Seu trabalho é simples. — Disse Erik. — Uma semana antes da

reunião, cem dos nossos melhores atiradores de elite vão viajar para o

Ártico. Eu tenho uma cabine lá, com um abrigo subterrâneo embaixo. Os

atiradores permanecerão escondidos até que a montagem comece. Então,


eles se agacharão escondidos no topo das montanhas e matarão qualquer um

que me desafie. Balas não os matam, mas tudo bem. Cegue-os, diminua-os,

o que puder, e meus aliados cuidarão do resto.

— Era isso que eu queria que você visse. — Zion puxou a varinha, o

sangue pingando no chão. — Pensamentos? Questões?

— Eu nunca soube do bunker. — Nola murmurou. — Teria sido útil!

— Se usarmos um portal nas proximidades e entrarmos furtivamente

no armazém — sugeriu Bane, — você pode congelar todos no local e eu

poderei matá-los, garantindo que nunca cheguem à assembleia.

Novos tremores a sacudiram, mas ainda assim sua mulher ofereceu

apoio. — Deveríamos invadir o armazém hoje à noite. É Dia das Bruxas e

poderemos carregar todas as armas do nosso arsenal sem causar pânico. Os

espectadores não vão nos dar uma segunda olhada. E, porque eu queria ver

você e Zion vestidos como guerreiros dothraki, peguei suas fantasias quando

fiz compras com Zion, para que vocês dois estejam prontos para rodar por

aí.

-— Dothraki?18 — Disse Zion, agachando-se para limpar a arma da

lona.

18 Povo Nômade do Mar de Dothraki da série Game of Thrones. E sim, os melhores guerreiros!
— Apenas os guerreiros mais ferozes de todos os tempos. — Ela

colocou a mão no peitoral de Bane, sua pele branca e quente, e o músculo

saltou. — Você será Khal Drogo, o líder dothraki.

Drogo, o nome que ela dera à sua besta — Concordo. — Disse. Para

ela? Seria qualquer coisa.

— Eu também serei esse Khal Drogo — anunciou Zion. — Somos

líderes.

— Claro. — Nola olhou entre os dois. — Mas talvez devêssemos

descartar o corpo antes de irmos?

Seu orgulho ganhou novo terreno. Com que rapidez ela se adaptou aos

problemas. — Permita-me. — Bane abriu um portal para suas águas

favoritas infestadas de tubarões e jogou fora o corpo.

— Antes que alguém diga à pequena mulher para ficar para trás, —

disse Nola, — eu provavelmente deveria informar aos dois que vou junto, e

isso é final. Minha missão? Garantir que o outro Drogo não queime o mundo

inteiro. Como vocês, eu vou estar vestindo uma fantasia. — Não lhe dando

uma chance de protestar, ela correu para fora da sala.

Colocar voluntariamente sua preciosa vida em risco? Nunca. Mas ele

não podia deixá-la aqui e não afundar na loucura. A preocupação por ela o
distrairia.

— Você pode usar a varinha para curar meu ombro? — Ele perguntou.

— É claro. — Zion não hesitou em enfiar o graveto no ombro de Bane.

Ele sibilou, machucado, mas permaneceu no lugar. Cabeça para trás,

mãos cerradas, duradouras. Na esperança. Qualquer sangue deixado pelo

humano não o afetaria.

Quando Zion soltou a arma, Bane olhou para baixo...

Nada havia mudado. Ele lançou uma corrente de maldições.

Zion olhou para a madeira, depois para a ferida e franziu o cenho. —

Isso deveria ter funcionado.

Ele seria forçado a lidar com o corte para sempre? Com o perigo a Nola

esquentando, qualquer tipo de fraqueza não podia mais ser tolerada. —

Esqueça o ombro. Quando invadirmos o armazém e despacharmos o

exército, voltarei minha atenção para Gunnar de Trodaire.

— Gunnar está morto. — Mais uma vez, Zion se agachou para limpar

a varinha. — Por Knox.

Ele beliscou a ponta do nariz. — Vou escolher outra arma, então. —

Mas qual? As algemas de pulso de Emberelle ainda estavam no topo da


lista. Mas, como Nola, ele agora temia brincar no passado.

Um barulho estranho chamou sua atenção, seus ouvidos

tremendo. Nola estava... cantando? Bane nunca a ouvira cantar antes, mas

ele lembrou que ela alegou que Vale gostava de se referir à sua voz como

Gatos sendo assassinados. Uma descrição precisa.

Bane pressionou a mão sobre a boca para silenciar uma risada. O calor

se espalhou por seu peito. Isso deve ser alegria.

Dedos estalaram na frente de seu rosto e ele piscou. Zion estava diante

dele.

Ele fez uma careta, se perdera em suas reflexões na presença de um

combatente. Sim, ele confiava em Zion – até certo ponto – mas eram dois

homens com o mesmo objetivo. Sobrevivência. Como as coisas estavam

atualmente, apenas um deles poderia vencer.

— Quando você examinou seu cérebro antes, você viu o lado de fora

do armazém? — Perguntou Bane.

— Sim. Por uma fração de segundo.

— Uma fração de segundo é tempo suficiente. — Passou a mão sobre

suas feições cansadas. — Vamos fazer um portal nas proximidades, então.


Zion assentiu em concordância.

— Esteja pronto. Partimos em uma hora. — Com isso, Bane se afastou

para se juntar a Nola. Ele queria conversar, mas quando entrou no quarto e

viu que ela usando roupas de baixo rendadas, esses planos mudaram.

Ele fechou a porta e girou a fechadura com um clique ameaçador. Zion

poderia esperar.

— Não se atreva a tentar me impedir de acompanhar vocês. — Disse

ela. Estava de costas para ele, sua bunda em exibição magnífica.

— Cara. Singular. — Ele quase respondeu.

Ela girou, de frente para ele, espiou sua ereção esticada e abanou suas

bochechas. — Bem, meu deus dourado não está aqui para discutir. Está aqui

para me seduzir a ficar parada.

— Não. Ele está aqui para seduzi-la e ponto final. — Afirmou. E então

ele fez.

****** ******
NOLA NÃO PODIA SUPERAR o quão sexy Bane estava em seu traje

de Game of Thrones. Ele a deixou trançar várias mechas de cabelo e manchar

algumas faixas negras no rosto e nos ombros. Ele vestia braceletes de braço

e pulso, colocou um cinto grosso de couro no meio e puxou um pano de pele

sobre os couros. Finalmente completou o traje com altas botas marrons. A

espada repousava contra suas costas e punhais pendiam ao seu lado.

Como ela suspeitava, ninguém olhou duas vezes para suas armas. As

pessoas, no entanto, deram várias voltas ao corpo dele e enxugaram a baba.

Desejou ter escolhido a fantasia de Mãe dos Dragões para si

mesma. Como uma piada interna, foi como uma alienígena sexy, colorindo

sua pele de verde e tremendo em um vestido prateado ultrafino. Em sua

cabeça havia uma banda com duas antenas de bulbo erguendo-se dos lados.

Zion também parecia bem, é claro, mas não podia se comparar com

Bane.

Agora, eles andavam pelas ruas de Nova Orleans, a caminho do

armazém. A noite tinha caído, multidões iluminadas por uma variedade de

postes de rua enquanto as pessoas celebravam o feriado. Até agora, ela viu

uma criada, Pantera Negra, Deadpool, Thor e várias versões de

Aquaman. Havia também enfermeiras, gatos sensuais, mulheres das

cavernas, policiais, coelhinhas da Playboy, unicórnios e um esqueleto


sedutor. Ninguém parecia se importar com a temperatura congelante. Luzes

coloridas brilhavam aqui e ali. O riso ecoava, a bebida passava. No ar,

diferentes perfumes colidiam com o cheiro de frituras e escapamentos de

carros.

— Eu sei que estamos aqui para cometer assassinatos e tudo — disse

ela a Bane, — mas coloquei meu phaser19 por diversão.

Um homem bêbado em um vestido de noiva passou por eles. Bane a

puxou para mais perto dele. Qualquer um que tivesse olhado duas vezes

para ela logo ficou cara a cara com um enorme deus dourado pronto para

vomitar fogo.

— Quando terminarmos essa noite, — ele disse, — meu phaser

mostrará a você toda a diversão que deseja. Eu sempre quis dormir com uma

alienígena verde.

Ela riu, os arrepios mais decadentes percorrendo sua espinha. Ele

estava dizendo as coisas mais doces e românticas. E, depois de terem feito

outro mambo no hotel, ele a abraçou, como prometido.

Uma sensação de satisfação continuou tentando varrê-la para longe,

mas ela continuou a resistir, com medo de apenas se preparar para o coração

19 Phaser: Pistola de laser


partido. Antes que pudesse pensar em uma eternidade com Bane, ela tinha

que contar sobre Nola Sombria. Como ele reagiria? Iria odiá-la novamente,

como ela temia?

— Sempre... significando as últimas duas horas? — Ela perguntou,

mexendo as sobrancelhas.

— Não ria, Pomba. — O aperto em seu quadril tornou-se contundente,

e ela adorou, quando sua intensidade saiu para brincar. — Você sabe que

isso aniquila meu controle.

Ah sim. Ela sabia. — Talvez eu goste do que acontece quando você não

tem controle.

Ele parou para abaixar a cabeça, prestes a beijá-la...

— Você tem uma escolha, Bane, — disse Zion do outro lado —

continue se deixando distrair, colocando em risco você e sua mulher em

público, enquanto eu invado o armazém sozinho ou me ajude como

planejado. Você não pode fazer as duas coisas.

Sentindo-se irritadiça, Nola virou-o. — Vocês dois entram juntos e

guardam as costas um do outro. E é melhor você voltar para mim ou haverá

consequências terríveis. Entendido?

Ela adorava que os dois guerreiros fossem meio que amigos


agora. Suspeitava que nenhum dos dois havia desfrutado de muitas

amizades em sua longa e longa vida, sem nunca saber em quem

confiar. Porém a menos que encontrassem uma maneira de parar a guerra

ou Zion pegasse a Marca da Desgraça, a amizade deles não duraria.

Ignore a sensação de pressentimento - que não havia fugido, apenas

ficado mais forte. Ignore seu estômago agitado.

Zion lançou um olhar rápido a Bane. Com a voz cheia de diversão, ele

disse: — Você não deveria colocar sua mulher na linha?

— Dificilmente. — Brincou Bane. — O homem que coloca sua mulher

na linha é o homem que dorme sozinho.

Nola o recompensou com um beijo espontâneo no pescoço, onde seu

pulso disparou. — Estou tão orgulhosa. Você aprendeu rápido.

Os dedos dele apertaram o osso do quadril dela enquanto ele lhe dava

um olhar estranho – um olhar suave, deixando-a nervosa.

Quando um homem obviamente bêbado a empurrou, ela ofegou,

assustada. Se não fosse o forte abraço de Bane, ela teria girado contra sua

bunda.

— Você está bem? — Ele exigiu.


— Sim, estou bem.

— Bom. — A próxima coisa que soube foi que ele estava correndo atrás

do homem bêbado.

Para exigir um pedido de desculpas, ou não? — Não, Bane. Não. Por

favor, volte — ela chamou, optando por não o seguir. Ele atenderia ao

pedido dela ou seguiria adiante mesmo assim? Claro que foi em frente. Ele

agarrou o agressor pela algema e o arrastou para o outro lado da rua, longe

dela. Obrigada Senhor! Matar Micah foi legítima defesa e vingança. Matar

Erik, que continuava colocando em risco Vale, Bane e Zion, seria uma

legítima defesa. Isso teria sido assassinato a sangue frio.

Zion aproveitou a oportunidade para dizer baixinho: — Você está tão

à vontade com Bane, e ainda assim meu sonho profético não mudou. Um dia

você o matará.

— De jeito nenhum. — Balançando a cabeça com força suficiente para

sacudir o cérebro, ela respondeu: — Eu não vou. Seu sonho deve ser símbolo

de outra coisa.

Uma careta. Um canto da cabeça dele. — Como você pode ter tanta

certeza disso?

— Apenas sei. — Seus sentimentos por Bane eram muito profundos.


Ele voltou para o lado dela, estreitando os olhos enquanto olhava entre

ela e Zion. Sentiu a nova tensão? De qualquer maneira, não fez nenhum

comentário. Ele não conseguiu pois haviam chegado ao seu destino. Um

armazém aparentemente abandonado.

As luzes estavam apagadas e ninguém estava no local. Barras cobriam

as janelas, vidro quebrado espalhado pelo chão.

Eles se mudaram para as sombras, ao lado de uma lixeira. Zion

apontou para o armazém, dizendo: — As câmeras estão lá, ali e ali. As portas

estão lá e ali. Janelas lá, ali, ali e ali.

Bane ergueu um olhar duro para Nola e apertou duas mechas do

cabelo. Um poço de possessividade. — Você vai ficar aqui? Você jura?

— Eu vou. Juro. — Se ela insistisse em entrar, não seria capaz de detê-

la. Mas ele ficaria distraído, preocupado em mantê-la segura, e seu rude

guerreiro estaria em maior perigo. — Você jura que vai voltar para mim?

— Sim. Eu juro — ele disse. — Você tem sua arma?

— Sim. — O phaser ancorado ao cinto era na verdade uma

semiautomática pintada com spray.

Ele a beijou, outra breve pressão de seus lábios contra os dela, depois

girou nos calcanhares. — Vamos fazer isso, Zion.


— Eu voltarei também. Não que você tenha se importado o suficiente

para me fazer jurar. — Disse Zion com um rolar de olhos.

— Ótimo. — Ela respondeu. — Talvez me traga uma lembrança.

Bane bufou, um som bobo, mas fez seu coração disparar.

Quando os dois caminharam em direção ao prédio, encobertos pelas

sombras e quase imperceptíveis, ela perdeu a vibração de “tudo vai ficar

bem”. O medo a sufocou.

E se algo acontecesse com os caras dela?

Sim, eles treinaram para a guerra. Sim, sabiam como lutar, como

sobreviver no pior cenário. Sim, isso precisava ser feito, ou o exército de Erik

jogaria contra eles na assembleia. Uma jogada contra Vale e Knox

também. Mas havia centenas de soldados lá, que haviam treinado com a

mesma firmeza.

Estou começando a odiar Erik. Se ele não tivesse como alvo seus

amigos, Nola o teria perseguido como um aliado. Era um companheiro

terráqueo, afinal. Nascido e criado aqui. Mas ele continuou a atacá-los e

conquistou o primeiro lugar na lista de eliminação dela.

Sons diferentes assaltaram seus ouvidos. O pop, pop de tiros, vazando

e fluindo em ondas. Gritos irromperam. Maldições também. Depois o


triturar de metal. Qualquer pessoa próxima consideraria o armazém uma

casa mal-assombrada. Mas ela sabia melhor.

A batalha havia começado.

Não vou vomitar, não vou, não vou, não vou.

Um som estridente chamou sua atenção. Veio de dentro da lixeira. Ela

ficou tensa, aquecendo o sangue, congelando os ossos.

Ela deveria gritar por Bane?

Melhor não o distrair. Pelo que sabia, um rato poderia ter causado o

barulho.

Quando a tampa se abriu, ela pressionou a mão sobre a boca para

silenciar um grito. A respiração ficou nublada na frente de seu rosto.

Não era um rato e não era um verdadeiro recipiente de lixo - uma

escotilha de fuga? Um homem de camiseta preta e calça jeans saiu, entrando

em um raio de luar. Sangue manchava seu rosto e mãos. Ele olhou do

armazém para a rua mais próxima, provavelmente decidindo correr ou

voltar para ajudar seus amigos.

Com as palmas úmidas, ela tropeçou para trás e pegou sua arma. O

movimento chamou sua atenção, e ele apalpou e mirou uma


semiautomática. Enquanto a mão dela tremia, a dele permanecia firme.

Onde estava Nola Sombria quando precisava dela?

Era isso? O fim? Negação gritou dentro de sua cabeça. Havia muito

mais que ela queria fazer. Com Bane. Com Vale. Com seu maldito povo. Ela

tinha bestas para despertar!

Finalmente, Nola Sombria se aproximou da superfície e agarrou sua

língua. — Guarde a arma, antes que eu faça você a comer.

Ele arreganhou os dentes. — Eu te conheço. Você está com eles. Os que

tentam dominar nosso planeta — dito isso, ele puxou o gatilho.

Nola se preparou, esperando dor. Bane apareceu do nada, a bala

acertando-o no peito. Quando o corpo dele estremeceu, ela gritou na noite

fria.

Ele levou um tiro por mim. Morreria por mim.

Quando ela cambaleou – uma ocorrência comum em sua presença –

ele agarrou o pescoço do atirador. Intestino. Virilha.

Tão brutal. Tão selvagem. O homem desmaiou. Sangue se acumulou

ao redor dele... e ela adorou a visão. Tão lindo.

A boca dela estava realmente molhada.


— Você pensa em machucar minha mulher? — Bane cuspiu no

cadáver.

Tão feroz. Tão meu.

Zion apareceu em seguida e avaliou a situação com uma varredura

visual. — Bom trabalho. — Ele abriu um portal e jogou o corpo para dentro,

dizendo: — Parceiros.

Sua adrenalina caiu e seus dentes bateram. — Podemos ir agora?

— Sim. — Bane a aproximou.

Um alarme gritou para a vida.

— Nós realocamos suas armas — explicou ele. — Agora, só temos mais

mil coisas para fazer.


CAPÍTULO VINTE E SEIS

Como sobreviver ao grande dia

DURANTE AS PRÓXIMAS duas semanas, Nola ficou em casa com

seus protetores bárbaros e lindos.

Todas as manhãs, trocavam de hotel e frequentemente de estados. Às

vezes até trocavam de país. Eles preferiam locais para estadias prolongadas

com cozinhas.

Enquanto estavam em movimento, Nola gostava de cozinhar para seus

homens. O que quer que ela fizesse, eles devoravam. Especialmente

caçarolas. No resto do dia Bane e Zion caçavam combatentes, criavam

estratégias e armadilhas.

Erik causaria problemas. Ele e seus aliados tinham um desejo ansioso

por feras assadas.

À noite, eles treinavam Nola, ensinando-a a lutar com os punhos,

espadas, punhais, armas e qualquer objeto inocente que estivesse por

perto. Como canetas, travesseiros e xícaras.


Tudo correu bem, até que Zion acidentalmente lhe deu uma

cotovelada no queixo, fazendo-a morder a própria língua. O sangue escorria

de sua boca e Bane quase quebrou o vidro com seu rugido, quase se

transformando em Drogo naquele momento.

Acalmá-lo envolvia beijos, sexo e horas de aconchego. O homem que

levou uma bala por ela tinha um grande amor por abraços.

O relacionamento deles continuou a evoluir, Bane sorrindo e rindo

mais, apesar do relógio da contagem regressiva, que sempre fazia seu

coração disparar. Todos os dias, ele se tornava um pouco mais protetor,

muito mais feroz e um megaton mais apaixonado. Ela adorava dormir na

segurança de seus braços, e ele se deliciava em sussurrar tudo de mais doce

em seu ouvido.

Sua força me surpreende.

Sua coragem me humilha.

Sua beleza me enlouquece.

Agora, o medo agravava seus nervos. Hoje, o relógio zerou, um novo

começo. Em menos de três horas, a Assembleia dos Combatentes

começaria. Tick-tick-tick. Bane já havia começado a se preparar.

— Ninguém levou a Marca da Desgraça — comentou ela, andando na


frente dele. — Nem mesmo Vale.

Apenas o nome dela provocou uma pontada de saudade de casa. Nola

sentia muita falta da irmã. O que não daria para abraçá-la. Chorar com

ela. Para conversar e rir com ela. Discutir tudo o que havia acontecido e as

dificuldades de namorar um combatente da All Wars. Para cozinhar sua

refeição favorita, do jeito que Nola estava cozinhando para Bane e Zion.

— Você não pode terminar a guerra depois da reunião — ela terminou.

— Eu sei — respondeu, e para sua surpresa, ele não parecia nem um

pouco chateado. Se sentou à mesa, afiando uma espada – uma arma que ela

estava proibida de tocar. Aquela que foi responsável por sua ferida no

ombro. Ele deslizou algum tipo de pedra sobre a borda da lâmina. Para cima

e para baixo.

— Você não fará o Rito de Sangue até que a guerra termine, o que

significa que sua vingança deve esperar.

— Eu sei — ele repetiu, ainda não chateado.

Foda-se ele. Por que diabos ele não estava estressado? Algo que ela não

conseguia parar de fazer! Quando o romance deles floresceu, o mesmo

ocorreu com seu pressentimento. Nunca, em toda a sua vida, ela conseguiu

guardar algo que gostava. Ela havia perdido os pais, Carrie e até Vale, pelo
menos por um tempo. Por que Bane seria diferente? Um dia, também o

perderia.

— Diga-me novamente o que fará enquanto estiver fora. — Disse

ele. Para cima e para baixo. Para cima e para baixo.

— Além da preocupação? — Nas últimas horas que passaram juntos

– ele voltará, ele voltará – os dois se trancaram no quarto principal de sua

mais nova suíte de cobertura. Um quarto lindo com paredes com janelas e

uma cama enorme.

— Você não deve se preocupar com seu homem. — De cima a baixo.

Lentamente. Ritmicamente. — Eu serei forte para nós.

Nós. Uma palavra, três letras, tremores infinitos. Andando de um lado

para o outro, ela disse: — Ficarei onde você me colocou, não conversarei, não

confiarei em ninguém e não farei nada.

— Muito bom.

Ele a deixaria em um quarto de hotel, em um estado diferente. Os

combatentes estariam ocupados demais para atacá-la e qualquer um que

Erik tivesse contratado não saberia para onde olhar ou como alcançá-la. —

Sua vez — disse ela. — Lembre-me do que você estará fazendo.

— Além de sobreviver? — Para cima, para baixo.


— Obviamente. — O futuro deles dependia do resultado dessa

assembleia estúpida.

— Protegerei Vale e trabalharei com Zion para ganhar uma arma. De

preferência um anel de propriedade de Colt.

Nola ouviu todas as vezes que Bane e Zion discutiam a guerra ou

aprimoravam seu plano mestre. Mais recentemente, eles decidiram alvejar

um guerreiro chamado Colt.

Aparentemente, Colt possuía um anel capaz de invadir centenas de

pequenos robôs que podiam se esconder sob a pele de outras pessoas,

permitindo que ele os rastreasse e/ou os matasse com facilidade.

Se Bane controlasse o anel, ele seria imparável! Bônus: ele poderia usar

os robôs para destruir os órgãos internos de Aveline.

— Por que Colt ainda não colocou um robô em vocês? — Ela se

perguntou em voz alta.

— Ele se esconde da guerra, nunca se envolve em batalhas.

— Então, por que foi escolhido como representante?

— Talvez seja o mais corajoso da sua espécie? Soberanos raramente

compartilham suas razões.


Ou Colt tinha uma habilidade secreta que ninguém sabia? Seu

estômago torceu em nós. — Eu odeio isso!

Em seu próximo passo pela mesa, Bane colocou as ferramentas de lado,

empurrou as armas para trás e depois passou um braço em volta dela para

puxá-la para mais perto. A levantou sobre a mesa, prendendo os joelhos em

ambos os lados dele.

Ela usava camisa e calcinha, nada

mais. Correção: calcinha encharcada. Seus mamilos enrugaram enquanto

seu núcleo esquentava e doía.

Ele treinou o corpo dela para reagir ao seu menor toque.

— Você sentirá minha falta? — Ele traçou os dedos pelas coxas nuas

dela, agarrou seus quadris e desenhou círculos preguiçosos em sua barriga

com as pontas dos polegares.

Saudades dele? Apenas com todas as fibras do meu ser. — Há uma

pequena chance de eu sentir.

Um sorriso brincou em sua boca – outro para adicionar à minha

coleção – suavizando as rugas ásperas de seu rosto. — Vou sentir muito

a sua falta — disse ele, com as pálpebras pesadas. — E você não precisa se

preocupar com o meu bem-estar, Pomba. Nem um pouco. Sabendo que você
está me esperando, seu corpo faminto pelo meu, não deixarei nada me

impedir de voltar para você.

E há doçura em tudo. Quando ele dizia coisas assim, ela caía um pouco

mais. Se isso continuasse, os cuidados logo se aprofundariam no amor. Tem

certeza de que ainda não o fez?

Espere. A verdade por trás de suas palavras registrada. — Você vai me

distrair antes de pegar a estrada, não é?

Ele levantou o olhar, demorando-se em seu núcleo feminino, depois

em seus seios, antes de encontrar seus olhos. Um brilho perverso iluminou

aquelas profundezas douradas enquanto ele brincava com o elástico na

calcinha dela. — Vou te envolver tão loucamente que você ficará faminta

pelas próximas semanas.

****** ******

FINALMENTE. A ASSEMBLEIA DOS COMBATENTES tinha

chegado.
Bane e Zion decidiram chegar separadamente, com Bane indo

primeiro. Deixar Nola se mostrou mais difícil do que nunca, o desejo de

voltar à ela implacável. A mulher o enfeitiçara e o deixara fascinado, e ele

não se arrependia.

No entanto, sob afeto e excitação havia um poço interminável de

medo. Uma vez jurou que nunca mais precisaria de outra pessoa, mas ele

precisava de Nola como um homem sedento precisava de água. Ela fazia o

mundo dele melhor. Se alguma coisa acontecesse com ela...

Suas garras se alongaram. Sem a presença dela, o animal ficou

frenético, rondando e rosnando com mais vigor.

Depressa, depressa. Acabe com isso. Bane havia colocado um portal

perto dos restos da prisão. O que costumava ser os restos, de qualquer

maneira. Alguém havia limpado a área. Provavelmente o Executor, Seven.

Ventos frígidos agitados, cacos de gelo picaram suas bochechas. No

meio de um vale de gelo, paredes invisíveis de energia formavam um amplo

círculo. Um punhado de combatentes já esperava dentro dele. Numa túnica

preta com capuz, rosto obscurecido pelas sombras, Seven ficou de

lado. Como um Ceifador de lendas, carregava uma foice.

Os executores eram proibidos de interagir com combatentes fora das

assembleias e cerimônias como a Marca da Desgraça – não tinham permissão


para interagir com ninguém, ponto final. Eles eram ferramentas usadas pelo

Conselho Superior, nunca permitidos a viver suas próprias vidas. Ou ter

nomes. Eles recebiam designações numéricas, de um a dez, e havia centenas

de milhares de cada número. Quanto maior o número, mais cruel era o

indivíduo.

Com a cabeça erguida, Bane se aproximou. Quando passou por

aquelas paredes de energia, formigamentos percorreram todo o corpo e seus

óculos pararam de funcionar. Nada com um componente místico

funcionava até a conclusão da reunião.

— Olhe para o pequeno garoto feroz — Ronan chamou. — A notícia é

que uma mulher terráquea removeu suas bolas.

— Quem disse que ele veio para Terra com bolas? — Petra respondeu.

Eles provocavam com palavras em vez de atacar, lutar era proibido

imediatamente antes ou durante uma assembleia. Era a única vez que um

combatente não precisava se preocupar em ser emboscado ou enganado.

A dupla causou o acidente do trailer, colocando a vida de Nola em

risco. Um dia eles pagariam. Infelizmente, não se permitiu matá-los hoje à

noite. As circunstâncias não haviam mudado. Até que decidisse terminar a

guerra, teria que garantir que muitos combatentes sobrevivessem a cada

batalha.
Enquanto os outros combatentes faziam suas próprias provocações,

Bane os desligou, deixando seus pensamentos voltarem para Nola. Não

havia melhor momento para refletir.

Por duas semanas, viveram juntos. Quando se atreveu a dormir,

conseguiu segurá-la. Ele fez amor com ela de mil maneiras diferentes,

abraçou-a e conversou por horas. Ela preparou refeições que fizeram seu

paladar chorar de alegria.

Se Nola era sua razão de viver, Aveline era sua razão de raiva. A rainha

o chamara repetidamente. Com medo de que ela ordenasse que machucasse

Nola, ele não respondeu. Mas...

Ele pensou ter sentido a rainha por perto. O que tinha que ser um

erro. Certamente! De maneira alguma, Aveline arriscaria a ira do Alto

Conselho ou a desqualificação de Bane, vindo a Terra antes que um vencedor

fosse declarado.

De jeito nenhum? Por favor. Ela faria isso em um piscar de

olhos. Qualquer coisa para alimentar sua necessidade de mais poder. Ele

pressionou a língua no céu da boca. Se ela tivesse vindo para Terra, ele teria

que realizar o Rito de Sangue de Nola imediatamente, independentemente

da guerra. Não podia permitir que Aveline despertasse os animais

terráqueos. Estes caçariam e matariam Nola, e ele não seria capaz de detê-
los.

Quando novas provocações soaram, Bane limpou sua mente de

qualquer detrito. Mais combatentes chegaram. Em dez minutos, a chamada

começaria. Eles estavam sentindo falta de Zion, Knox, Vale, Colt e Carrick,

um príncipe que possuía uma adaga capaz de transformar sangue em lava.

Risque isso. Carrick chegou em seguida.

Onde estavam Knox e Vale? Bane sabia o quanto Nola desejava

informações sobre sua irmã, e ele mal podia esperar para ser seu herói. Se

algo tivesse acontecido com o casal...

Bane soltou um suspiro aliviado quando Knox entrou no círculo, Vale

apenas alguns metros atrás dele. Os dois não se tocaram, nem se

entreolharam, mas também não se afastaram.

Fisicamente, Vale não havia mudado. Ela tinha o mesmo cabelo preto

e branco, corpo esbelto e beleza dura, mas etérea, como antes. Mas ela se

comportou de maneira muito diferente, a confiança flutuando nela. Ela até

alterou a maneira como andava adotando uma arrogância sensual que

desafiava.

Em uma de suas sessões noturnas, Nola contou a ele como Vale a

ajudara durante todas as doenças, garantindo que ela comesse, ajudando-a


a ir ao banheiro e dando-lhe um motivo para continuar. Agora, Bane se

sentia em dívida com a outra mulher.

— Eu não sabia que era o dia de trazer sua prostituta para o trabalho

— disse Carrick.

Knox se irritou, mas não disse nada, silenciosamente furioso.

Vale abriu os braços e disse: — O que faz você pensar que estamos

dormindo juntos? E notícias voam. A prostituta não é exatamente um insulto

ao meu modo de pensar. Você acabou de sugerir que eu gosto de sexo e

dinheiro. Adivinha? Eu faço. Ah, e boas notícias. Essa prostituta está

trolando seus clientes. Esta noite é a grande inauguração da Casa dos

Horrores da Vale, e todos estão convidados. Dou boas decapitações,

gratuitamente.

Bane quase sorriu. De várias maneiras, Vale o lembrou de

Nola. Espirituosa e sem vontade de deixar alguém ganhar a vantagem.

A conversa sobre bobagens aumentou, mas Bane perdeu a noção. Colt

tinha acabado de entrar no círculo, com a cabeça baixa.

A antecipação atingiu a represa do controle de Bane, provocando uma

onda de impaciência.

Finalmente, Zion chegou e Bane assentiu com a cabeça. O homem tinha


sido um aliado surpreendentemente bom, mantendo o fim da barganha. Em

todas as batalhas recentes, eles guardavam as costas um do outro, muitas

vezes sangrando um pelo outro. Bane até gostava dele.

Outro vento gelado surgiu, assobiando em jorros. Carrick disse:

— Você foi quem fugiu com a outra humana, não é mesmo, Zion? Não

recebeu o memorando? Você deveria trazê-la aqui para nosso prazer.

Bane deixou o queixo cair no esterno, o olhar estreitado fixando-se no

fabricante de lava. Ele pagará por isso.

Zion cruzou os braços sobre o peito, preparando-se para entregar sua

bomba. — Desculpe, eu não poderia a obrigar. Assim que terminei com ela...

eu a matei.

Ondas de choque caíram sobre os outros. Embora Vale tivesse recebido

um texto dizendo a ela para não acreditar em nada que Zion dissesse,

empalideceu, emanando horror. Lágrimas encheram seus olhos e caíram por

suas bochechas.

Por um momento, Bane se perguntou como teria reagido se as notícias

fossem verdadeiras. Perdendo Nola...

Ele bateu os punhos no crânio, arrancando os cabelos e caiu de

joelhos. Jogando a cabeça para trás, rugiu para o céu. O sol havia
desaparecido atrás das montanhas, luzes brilhantes começando a

resplandecer no céu.

Houve um debate, alguns guerreiros acreditando em Zion, outros

duvidando dele. Seven não prestou atenção a ninguém, deslizando para o

centro do círculo para alojar sua foice no gelo.

A assembleia havia começado oficialmente.

Em quinze minutos, Seven terminaria com a chamada e um banho de

sangue irromperia.

Erik deslizou para frente, o bastão na mão. Gelo brilhava em sua

barba. Embora já tivesse falado nórdico antigo, ele usava a língua de Nola

hoje. — Esta é sua chance, sua única chance, de se juntar à minha

causa. Enquanto estava preso, usei minha liberdade em meu proveito. As

medidas que tomei para garantir a vitória são vastas. Eu fiz coisas que você

não pode imaginar. Coisas contra as quais você não pode se proteger.

— E, no entanto, continuamos vivos — alguém disse, e as risadas

abundavam.

Bane acreditava que o bastardo planejava ganhar a confiança de tantos

combatentes quanto possível e matá-los quando menos esperassem. O

viking não tinha rei para comandá-lo, nenhuma razão para parar a
guerra; mas ele tinha todos os motivos para vencê-la.

Com um sorriso sem humor, Erik acrescentou: — Se quer viver aqui o

resto de seus dias, se odeia seu reino por forçá-lo a lutar e ameaçar seus entes

queridos, você cessará de matar e garantirá que um vencedor nunca seja

declarado. Se quiser vencer a guerra para que seu reino possa escravizar o

meu, eu irei atrás de você e te derrotarei.

Um debate soou, Bane estava desinteressado em ouvir.

No final, outros dois se juntaram à equipe de Erik. Bold, que

empunhava um martelo capaz de quebrar todos os ossos do corpo de

alguém com um único golpe, e Ryder, que tinha uma habilidade estranha de

permanecer em um local, criando uma segunda versão de si mesmo para

lutar em seu nome.

Erik fez quatro aliados no total, Adônis, Rush, e os outros dois.

Bane permaneceu de joelhos, cabeça baixa, boca fechada, aguardando

o tempo. Cinco minutos até a chamada terminar...

Mais insultos foram revelados.

Quatro... Ele apertou e abriu os punhos, seu ombro latejando mais do

que nunca. Teve o cuidado de evitar mais lesões nos últimos dias.
Três... Ele olhou para seu alvo – Colt – e apalpou os punhais que

trouxe. Ele deixou a espada de Valor escondida com Nola. Ganhe o anel,

proteja melhor sua rainha.

Dois.... Seus ouvidos pegaram um leve barulho de passos. Muitos

passos. Franzindo a testa, ele levantou a cabeça, olhou para cima e viu

vermelho. Homens vestidos de preto agachados ao longo das

montanhas. Droga! Erik havia reunido um novo exército.

Falta um minuto...

O silêncio entrou em erupção, a agressão pesando no ar. Bane contou

os segundos. Cinquenta e nove, cinquenta e oito. Ele rolou a cabeça, os

ombros, preparando os músculos para a ação, depois se agachou. Ele teria

que evitar os tiros de cima... enquanto ajudava Zion, Vale e Knox a fazer o

mesmo... enquanto evitava ataques de seus concorrentes.

Ele pegou o olhar de Zion e apontou para os soldados.

Zion os viu e fez uma careta.

Eles compartilharam um momento de comunicação: Erik morre hoje.

Foco. Nenhuma batalha era tão importante. Não importa o que, Bane

não podia deixar-se transformar em Drogo. Duas armas seriam destruídas.


Cinco. Os guerreiros se posicionaram.

Quatro.

Três.

Dois.

Seven bateu sua foice no gelo uma segunda vez. As paredes invisíveis

de energia desabaram com um sussurro.

Por um momento suspenso, ninguém se mexeu.

Então todo o inferno entrou em erupção. Gritos de guerra perfuraram

a noite, misturando-se com o barulho de aço enquanto os guerreiros se

lançavam em uma briga total.

Bane se esquivou, abaixou-se quando necessário e atacou qualquer

pessoa em seu caminho, indo direto para Colt. Colt primeiro, Erik

segundo. O sangue de alguém jorrou, borrifando seu rosto. Queimando seu

rosto. Sua visão ficou embaçada.

Vá! Pare e morra. Sua visão clareou a tempo de ver um chicote

brilhante, agarrando seu pulso. Bane lutou contra o fluxo instantâneo de

agonia, usando o chicote contra Thorn, seu manejador, puxando o macho

para mais perto. Um golpe de suas garras, e Thorn caiu, gritando.


Olhou rápido para Vale. Tudo bem. Zion? Aproximando-se de Colt.

Knox? Lutando para voltar à Vale.

Seguindo em frente... Petra girou na direção de Bane, a espada

levantada. Recordando o acidente de carro que quase acabou com a vida de

Nola, ele jogou um cotovelo, acertando-a na mandíbula. Ronan correu para

proteger sua parceira, mas tinha Carrick nos calcanhares.

Carrick alcançou Ronan antes que o outro guerreiro chegasse a

Bane. Os dois estavam distraídos. Bane sorriu – e separou o braço de Carrick

do soquete com um rápido arranhão. Quando o príncipe presunçoso caiu,

sangue preto jorrando de seu ferimento, Bane voltou sua atenção para

Ronan, mas o homem já havia se envolvido com outro.

Seguindo em frente mais uma vez. Colt, onde estava Colt? Sangue,

vísceras e membros cortados cobriam seu caminho. Grunhidos e gemidos

forneceram uma trilha sonora macabra.

Um grito distinto surgiu acima dos outros – o de Vale. Sem hesitar,

Bane mudou de direção; Knox não voltaria para a garota a tempo.

As coisas que faço pela minha mulher.


Dicas e truques para destruir sua vida

NOLA ESTAVA EM UMA cama de hotel desconhecida, inundada por

uma dor indescritível, quente demais, fria demais, soluçando e

tremendo. Ela praticamente vomitou todos os seus órgãos internos. Seu

coração batia muito forte e muito rápido, suas articulações haviam inchado

e todos os ossos de seu corpo palpitavam.

Seu vínculo com Bane havia enfraquecido de alguma forma? Ou algo

terrível aconteceu com ele?

Não, não, não. Não com Bane. Ele era muito forte, muito astuto. Mas,

mas... por que estou tão doente?

O medo a invadiu, se espalhando como bactérias devoradoras de

carne. Ela cobriu a boca, esperando afastar a próxima rodada de tosse seca.

E se Bane tivesse mudado? Drogo não hesitaria em prejudicar Vale,

Zion e Knox.
Agora o terror a invadiu, deslizando por sua espinha.

Deveria ter acompanhado os caras ao Ártico. Ela poderia ter se

escondido perto do local da reunião e acalmado Bane ao primeiro sinal de

uma transição.

Nola Lee, domadora de dragões. Oh, que ironia. Ela podia parar uma

fera sanguinária com uma palavra, mas não podia entrar no banheiro para

fazer xixi, seu corpo simplesmente fraco demais. De fato, se Bane não

voltasse na próxima hora, provavelmente ela molharia a cama.

A humilhação formigou sob sua pele.

Ela tentou embaçar e viajar de volta no tempo para revisitar uma

lembrança favorita, qualquer coisa para distraí-la da dor, mas a fraqueza

afetava suas habilidades tanto quanto sua forma física. Tudo o que ela

conseguiu fazer? Viajar no tempo à moda antiga – também conhecida como

lembrança.

Desesperada, ela se lembrou um pouco mais, fechando os olhos para

reviver o tempo em que sentou em um balanço na varanda com Carrie e

Vale, tomando um chá doce.

Naquele dia, Carrie dissera:

Você acha que uma nota de vinte dólares vale menos se estiver suja e
amassada? De jeito nenhum! Você pode ser um pouco grosseira, mas ainda

não tem preço.

Ela passou a acrescentar:

Na água fervente, a batata amolece, o ovo endurece, mas o poderoso

grão de café muda a água. Não deixem que tempos difíceis enfraqueçam ou

endureçam vocês, meninas. Levantem-se e mudem a situação.

Agradecida. Mas como?

Nola lembrou o tempo em que estivera muito doente para comparecer

ao baile e pobre demais para pagar um vestido, então Vale deu uma festa na

casa de Carrie.

Ela repetiu a última vez que ela e Bane fizeram amor. Ele estava no

topo, prendendo-a. Uma posição “baunilha” para muitos, mas um prazer

proibido para eles.

— Ei, ei, Pombinha. — A voz de Bane acariciou seus ouvidos. O lado

da cama mergulhou. — Estou aqui agora e não vou deixar você de novo.

Ele voltou!

— Você está aqui. — Lágrimas brotaram, borrando seu rosto. Seu calor

e perfume a envolveram, oferecendo conforto. Suas dores desapareceram, e


ela jogou os braços em volta dele. — Você sobreviveu!

— Vale e Zion também. Uma bala acertou Knox na espinha,

paralisando-o temporariamente, mas vai passar. — Bane a abraçou, usando

seu corpo para protegê-la do resto do mundo. — Você provavelmente

adoeceu porque eu estava preso dentro do círculo com paredes de energia

que desabilitaram minhas habilidades místicas.

— Eu não me importo com a minha c-condição. — Um soluço

irrompeu dela. — Fiquei tão preocupada com você e eles e, e, e...

Bane acariciou seus cabelos, dizendo: — Se você quiser ver o que

aconteceu, posso usar nosso link para mostrar.

Ela gostaria?

— Você pode ver a força do seu homem.

Ok sim. Ela gostaria. — Por favor e obrigada. Mas primeiro eu

realmente preciso fazer xixi. — Ela tentou ficar... não. Ainda não

conseguia. Apesar do alívio da dor, ela estava muito fraca. Bochechas

queimando, ela sussurrou: — Preciso da sua ajuda.

Como um cavaleiro de armadura invisível, ele a carregou para o

banheiro e a segurou com uma mão enquanto puxava os shorts e calcinha

com a outra. Até a ajudou a se sentar gentilmente.


— Isso é humilhante — reclamou. Ela manteve o olhar no chão,

envergonhada demais para encará-lo.

— Considere isso um favor. Um dia, vou me machucar e você terá

que me levar ao banheiro.

Até parece. — Desculpe, querido, mas se esse dia chegar, vou colocar

você em uma fralda.

Ele riu, o som mais bonito que ela já ouvira.

Com as costas da mão trêmula, enxugou os olhos. Clareando a visão,

ela lentamente ergueu o olhar. No momento em que viu sua condição, ela

fez uma careta. Pobre e querido Bane. Ele tinha sérios cortes em todo o

corpo. — Cure-se rapidamente e sem dor, Bane. E, vire-se, por favor?

Ele acariciou sua bochecha antes de apresentá-la de costas. — Você

acha que uma função corporal me fará pensar menos em você?

— Não. É que você não assinou para ser meu cuidador. — Ela arrastou

os pés. Vamos! Mas sua bexiga excessivamente cheia era tímida, recusando-

se a cooperar.

— Na verdade, eu assinei para ser seu tudo.

Choque afrouxou sua mandíbula. Bane de


Adwaeweth não tinha acabado de dizer a coisa mais romântica de todos os

tempos. — Você deixou claro o quanto admira a força e as mulheres

guerreiras em particular. Olhe para mim. Não! — Ela se apressou a

acrescentar quando ele começou a girar. — Na verdade, não olhe para

mim. Só quis dizer que não sou o seu tipo habitual de guerreira. Sim, você e

Zion me treinaram bem, e fiquei muito boa em golpes de pouso. Sim, sou

incrível de mil maneiras diferentes. Mas sou apenas... eu.

Ele acertou os ombros e endireitou a coluna. — De várias maneiras,

você provou que o estado do corpo de alguém não tem nada a ver com o

nível de força deles. Não importa quantas vezes você tenha sido derrubada,

você ficou de pé, pronta para partir novamente. Essa é a marca registrada de

um grande guerreiro.

Quaisquer defesas restantes finalmente desmoronaram, ternura a

envolvendo.

Estou apaixonada por esse homem.

O conhecimento cantou dentro dela, acompanhado por um dilúvio de

excitação e um tsunami de pavor. Ela fez isso. Nola o amava. E entregou seu

coração a Bane, tudo isso, cada pedaço, nada contido. Ela o amava em sua

intensidade. Sua inteligência e sua ferocidade. Adorava seu toque e suas

belas palavras. A força dele. Sua teimosia, no entanto...


Nah, ela amava isso também. Seu lado teimoso o levou a Nola, dando-

lhe séculos de propósito após o assassinato de sua esposa.

Como Bane se sentia sobre ela? Sabia que ele desejava seu corpo. A

protegia a todo custo. Falou sobre mantê-la para sempre e ele até aceitou seu

status real. Mas...

Suas emoções seriam mais profundas?

Um dia em breve, ela perguntaria.

Com seus elogios ecoando em seus ouvidos, ela superou a timidez da

bexiga e, oh, uau, alguma coisa já foi tão maravilhosa?

Depois que terminou, Bane apertou o cotovelo para ajudá-la a se

levantar. — Ducha ou direto para a cama? — Perguntou.

— Chuveiro, por favor e obrigada.

Ele a beijou e tirou sua roupa. No box, a água quente chovia e o vapor

flutuava no ar, criando um refúgio sonhador.

Por uma boa medida, Nola escovou os dentes duas vezes. Ela não falou

de novo, mas ele também não.

Nola sabia por que permanecia quieta – nunca se sentira tão

vulnerável ou exposta. Bane sentiu o mesmo?


Depois que se vestiram, ele a levou para a cama. Nua, ela se acomodou

debaixo das cobertas. Ele checou as fechaduras das janelas e fechou as

cortinas para que ninguém espiasse lá dentro. Todas as suas ações

destacavam a construção muscular de seu corpo e a graça

deslumbrante. Quando Bane terminou, ela estava ofegante.

Ele caminhou de volta para a cama, seus olhares bloqueados. A

consciência brilhou entre eles. Estavam sozinhos e nus... A luz da lâmpada

derramou sobre ele, que estava duro como uma rocha.

A respiração dela ficou presa. Com um movimento de dedos, ele

desligou a lâmpada. A escuridão desceu sobre a sala.

Deslizando na cama, ele a puxou para perto, um braço debaixo da

nuca, um na barriga. Ela se aconchegou nele, necessitada.

— Bane — disse ela, e mordeu o lábio inferior. Sua voz estava

arrastada, graças à potência de seu desejo?

Sua respiração parou, uma reação reveladora tão maravilhosamente

enlouquecedora quanto o calor escaldante. — Você almeja o seu homem?

— Sim!

— Mais do que você deseja ver o que aconteceu na assembleia?


— Mais do que tudo.

Ele a beijou, mais suave e gentil do que nunca. Mais sujo também.

— Seu corpo... eu quero — ela implorou. — Me dê isto.

— Com prazer. — Ele a rolou e colocou os braços acima da cabeça,

amarrando os pulsos no colchão com uma única mão. Ele amassou seus

seios, seu toque mais suave e gentil também, quase reverente. Não, quase

não. Definitivamente. Ele a adorava, toda carícia transmitindo uma

mensagem para suas células: você é adorada.

Ele pode realmente... me amar de volta. A possibilidade a atingiu como

uma injeção de morfina.

Se contorcendo em prazer sublime, beijou, lambeu e acariciou-o de

volta, seus corações batendo em perfeita sincronia. Mas quanto mais

excitada ficava, mais se perguntava como seria ficar no topo. Uma das únicas

posições que eles nunca tentaram.

— Quero tentar alguma coisa, — disse ela entre respirações

ofegantes. Ela deu um empurrãozinho nele, mas ele não se mexeu.

Bane levantou a cabeça, um desejo selvagem estalando em suas íris,

linhas de tensão se ramificando em torno de sua boca. —Você quer estar no

topo. — Uma declaração, não uma pergunta.


Ela mordeu o lábio inferior mais um pouco e assentiu. — Eu quero

tentar tudo com você.

Por um longo tempo, segurou o olhar dela, em silêncio. Logo quando

ela começou a se contorcer, ele esfregou a ponta do nariz contra a ponta

dela. — Em Adwaeweth, a mulher está sempre no topo.

— Oh. — A decepção aumentou. — Então você não tem interesse em

fazer isso comigo?

Em vez de uma resposta, ele rolou de costas, permitindo que ela se

erguesse sobre ele e subisse em sua cintura. Apoiando as mãos nos joelhos

dela, gemendo quando ela segurou seus seios.

— Posso estar no topo, mas você está no comando — disse. — Você me

diz o que fazer, e eu farei. Para você... para mim mesma. Com a gente, nada

está fora dos limites.

Ele ficou tenso debaixo dela, seu aperto esmagador. — Nunca diminua

sua força para acalmar meu ego, Pomba. Nós somos iguais, sim?

— Sim. Mas não estou diminuindo minha força, ou acalmando seu

ego. Estou experimentando, aprendendo o que gosto.

Ele sorriu devagar e com certeza. — Bem então. Fico feliz em ajudar.
****** ******

Excitação DEVORAVA Bane. Ele tinha uma linda mulher empoleirada

em cima dele, sua para comandar.

A vida só melhorava.

Drogo ronronou em aprovação, pronto para estar dentro dela

novamente. Ainda não, ainda não. Ele a arrastou pelo tronco, de modo que

o núcleo encharcado pairou sobre sua boca.

— Vamos prepará-la. Grite por mim, amor — ele instruiu... pouco

antes de enfiar a língua em sua doce bainha feminina, bebendo seu doce mel.

Ela gritou. — Bane! — Segurando a cabeceira da cama, ela

descaradamente montou em seu rosto, a cabeça jogada para trás, o peito

curvado, o longo comprimento de seus cabelos negros como cócegas em seu

umbigo. Seus aromas se misturavam, criando um almíscar intoxicante,

envolvendo a cabeça em uma névoa sensual.

Esta mulher... Ela o deixou selvagem, manteve-o no limite,

atormentando e encantando com a mesma medida. No entanto, ele sentiu


como se finalmente tivesse encontrado um lar. Suas prioridades e objetivos

haviam mudado. Um futuro com Nola importava mais do que sua vingança.

Ele lambeu e chupou até ela balbuciar incoerentemente. Outro grito

saiu dela quando ele a levou a um clímax rápido. O gosto dela adoçou, e o

controle dele quebrou. Além do reparo.

Tremores a atormentavam enquanto ela lutava para recuperar o

fôlego. — Isso... isso foi... incrível.

— Isso foi apenas o começo. — Ele a deslizou para baixo, até que ela

montou em sua cintura mais uma vez. Explosões irracionais de prazer o

atingiram. — Me leve para dentro. Preciso de você. Preciso de você agora.

— Sim. — Deslocando o peso para os joelhos, ela se levantou.

Ele inclinou a ponta de sua ereção na entrada ensopada

dela. Contato. Quando ela deslizou, ele empurrou para cima, entrando nela

em um poderoso suspiro, enchendo-a.

Nola, perdida na agonia, soltou outro grito e chegou ao clímax mais

uma vez.

Bane assobiou ar entre os dentes, o suor escorrendo pelo rosto. O

prazer... demais, mas não o suficiente. Por que ele havia resistido a essa

posição com ela?


Ele tinha acesso fácil a todas as suas partes favoritas. Ele poderia até

chegar para agarrar sua bunda... ou dedilhar seu clitóris até que ela gritasse

seu nome. Ele podia ver seu lindo rosto enquanto o prazer a cercava. Com

seus sentidos sobrenaturais, ele podia medir o pulso na base do pescoço

dela; quando fizesse algo que ela gostasse, aceleraria.

Não demorou muito para descobrir que ela gostava rápido, duro e

áspero. Sua preferência também. Ela gostou quando chupou sua pele ou

apertou um pouco demais, deixando uma marca. Uma marca

de reivindicação. Ele gostava de saber que ela o sentiria mais tarde, toda vez

que se mexesse, se lembraria de tudo o que ele havia feito com ela.

Nola chicoteou seus quadris, e seus pensamentos pararam. O prazer...

— Eu vou gozar, querida. Estou tão perto... — Nola lambeu seu

caminho em sua boca, e ele se abriu, incapaz de resistir. Nunca

desistindo. Quando Nola chicoteou os quadris novamente, seus mamilos

enrugados esfregaram nos dele e ele resmungou.

— Eu esperei por você hoje. Não me faça esperar mais. Por favor, Bebê.

Bebê. Como ele amava o carinho, um tipo de afirmação. — Chega de

espera. Goze para o seu homem.

Segurando o olhar dele, ela chicoteou os quadris novamente. E de


novo. O prazer se intensificou, aumentando a pressão. Eles se entreolharam,

perdidos, nunca querendo ser encontrados.

Ele pegou as mãos dela, entrelaçando os dedos e ergueu os braços,

esticando-a sobre ele. O resto do mundo desapareceu de sua existência. As

respirações quentes dela acariciaram sua pele. Respirações que vinham cada

vez mais rápido, aumentando o ritmo, para acompanhar o ritmo de suas

investidas.

— Bane... bebê... — Suas unhas se encaixaram na pele dele quando ela

jogou a cabeça para trás e gritou. As paredes internas dela ordenhavam seu

comprimento, exigindo sua rendição, e ele a deu.

Cada. Última. Gota. Ele veio apressado, elogios derramando de seus

lábios.

Ela caiu em cima dele, ofegando e tremendo, com a bochecha apoiada

no ombro ileso. Ele soltou as mãos dela e recostou-se, depois manobrou

ambos de lado.

Eles se abraçaram por um longo tempo, em silêncio, deixando seus

corpos se acalmarem. Embora não estivesse certo de que seu corpo se

acalmaria novamente. Tudo o que sentia por Nola era ampliado – atração,

ternura e carinho. Ela se encaixava nele de todas as maneiras. Até sua

aparência delicada. Era a armadura dela. Ninguém suspeitava que uma


guerreira estivesse escondida embaixo desta fachada.

Uma que havia tirado suas defesas. Estou me apaixonando por ela.

Não, não. Ele não podia amá-la. Não até ela sobreviver ao Rito de

Sangue e Aveline estiver morta. Se ele se deixasse amá-la e ela morresse, não

sobreviveria à perda dela.

Você acha que vai sobreviver de qualquer maneira? Idiota!

Desesperado por uma distração, ele disse: — Pronta para ver a batalha

através do nosso link?

Ela traçou um coração sobre o dele. Aperto.

— Estou — disse ela.

— Aviso justo. Será sangrento.

— A mesma razão pela qual eu preciso ver. Quero testemunhar o que

você e os outros passam nessas assembleias.

****** ******
BANE COLOCOU SUAS mãos sobre as têmporas de Nola, e fechou os

olhos. Quando expirou, ela inspirou e vice-versa. Formigamentos roçaram

em sua mente, seu elo aquecido. Gradualmente, as imagens apareceram e

brilharam. Em um vale gelado entre duas montanhas, mais de vinte

guerreiros, homens e mulheres, estavam em círculo, Bane entre eles. Um

ceifador legítimo apareceu no lado, vestido com uma túnica preta e

segurando uma foice. Onde estava ela? Ali! Vale. Uma linda guerreira com

um sorriso arrogante. Não, uma guerreira, ponto final, e Nola choramingou

de alívio. A última vez que estiveram juntas, Vale estava faminta,

congelando e assustada. Agora, sua irmã usava couro preto, parecia em

forma, saudável e pronta para qualquer coisa – qualquer coisa, menos um

anúncio sobre a morte de Nola. Vale desmoronou, e a visão partiu o coração

de Nola.

Minutos depois, algum tipo de campainha tocou. Os guerreiros

entraram em ação, atacando um ao outro. Como Bane havia avisado, havia

muito sangue. Houve violência e dor. Para sua admiração e espanto, Vale se

manteve contra todos os oponentes. Sempre que ela precisava de ajuda, Bane

corria para o resgate. Não que ela ou Knox tenham percebido.

Movendo-se com a graça controlada de um gato da selva, Bane matou

qualquer um que visse o casal, mesmo quando teve que ferir Knox para

removê-lo da linha de fogo. Mesmo quando sua própria vida estava em


perigo, com diferentes guerreiros brincando com sua cabeça e um exército

escondido no topo das montanhas, disparando rifles de longo

alcance. Quando as balas atravessaram Bane e Zion, o estômago de Nola

agitou-se.

— Erik reuniu outro exército — disse ela, horrorizada.

— Sim. — Respondeu Bane, cerrando os dentes.

Na memória, Bane atacou um homem que estava se aproximando de

Zion. Os dois caíram, a ferida no ombro de Bane se aprofundando. A perda

de sangue diminuiu seus reflexos e apagou seu controle.

Um chicote brilhante envolveu seu pulso e o puxou para trás. Ele

estremeceu, parecendo estar preso em uma grande convulsão. O chicote teve

uma carga elétrica.

Nola teve que se lembrar que Bane havia sobrevivido, e ele estava com

ela agora. Mas oh, se ela pudesse mergulhar na memória e matar aquele com

o chicote, faria isso com um sorriso. A dor que seu garoto bestial deve ter

experimentado enquanto lutava para se libertar.

Quando aquela bruxa causadora de naufrágios Petra desafiou Bane e

Vale, as coisas ficaram arriscadas. Knox correu para ajudar sua irmã, mas

Petra bateu a espada no chão. Uma torre de gelo cresceu, bloqueando seu
progresso. Infelizmente, a torre conveio de serviço duplo, escondendo

Ronan, que espreitava cada movimento de Knox, esperando o momento

perfeito para atacar. Bane o viu, no entanto.

Apenas empurrar Knox para fora do caminho não seria bom; o cara era

muito forte. Então, Bane fez a única coisa que pôde. Ele cortou Knox com

suas garras. A ferida fez o guerreiro cair no chão, a espada de Ronan

balançando sobre sua cabeça.

Vale correu em volta da torre, viu o que Bane havia feito e assumiu o

pior. Soltando um grito de guerra, ela o esfaqueou no estômago. E ele

deixou. Porque a alternativa era machucá-la.

Nola gemeu, uma mão flutuando em sua boca. — Oh, Bane. Eu sinto

muito.

— Havia algum tipo de veneno em sua lâmina. Fiquei imóvel por

alguns segundos, incapaz de me mover.

Sim, ela viu quando Knox levantou uma espada, com a intenção de

remover a cabeça imóvel de Bane, mas Zion salvou o dia.

— Colt escapou — disse Zion, saltando de pé. Ele também sofreu

incontáveis lesões.

Colt não foi o único a escapar. Dois guerreiros arrastaram um Erik


inconsciente, que deixou um rastro de sangue em seu caminho. Alguém

amputou um de seus pés.

— Eu peguei o pé. — Disse Bane na vida real. — Teria conseguido mais

se um homem, Pike, não tivesse se concentrado em sua irmã.

— Obrigada — repetiu. Era uma dívida que talvez nunca fosse capaz

de pagar.

Não, não é verdade. Ela poderia pagar. Com o coração de Aveline.

E ela faria.

A paralisia de Bane foi temporária, como ele havia assegurado. Ele

ficou parado. — Vá. Leve-o para fora e ganhe os robôs. — Ele se abaixou,

sentindo uma falta dele por pouco. Sem perder o ritmo, esfaqueou o agressor

com um soco rápido na garganta. — Estou quase me transformando. Devo

chegar a Nola.

As imagens desapareceram, Bane da vida real abaixou as mãos e rolou

de costas.

— Odeio que você tenha que passar por isso todos os meses. — Ela

estremeceu e se aconchegou mais perto, descansando a bochecha na

cavidade do pescoço dele, passando os dedos ao redor da crosta deixada pela

espada de Vale.
Ele a beijou na testa. — Gostaria de ter feito mais progresso. Gostaria

de ter ganho mais, feito mais. Estamos ficando sem tempo. Eu... a sinto,

Nola. Eu sinto Aveline. Suspeito que ela fez o impensável e veio para Terra,

mas reze para que eu esteja errado.

Pânico e urgência colidiram, entrelaçando seus músculos. — Não

podemos esperar, então. Nós devemos realizar o Rito de Sangue.

— Não — ele balançou a cabeça, inflexível. — Não.

— E se ela acordar os híbridos?

— Ela pode produzir bloqueios, como você. Ela não vai despertar os

animais ainda e a menos que queira. E não vai querer até o final da guerra.

— Não podemos esperar — repetiu Nola, sentando-se. — Vamos fazer

o Rito de Sangue hoje. Agora.

— Não, — falou. Tormento gravado em cada linha de seu rosto. —

Você esteve doente, preciso do seu corpo mais forte.

— Amanhã então.

Ele parecia agoniado. — Duas vezes na minha vida, perdi tudo. Como

um homem mais jovem, eu amei Aveline. Nós cortejamos, pensei que

casaríamos. Em seguida, ela passou o Rito de Sangue e tornou-se o monstro


que assassinou a mulher que eu me casei.

— Você ainda acha que eu vou mudar? — Ela perguntou. Coaxando,

realmente. — Você ainda acha que eu vou me tornar um monstro?

— Nem um pouco. Mas você é tudo o que tenho, tudo o que quero e

recuso – recuso! – te perder também. Eu lhe disse que estava mantendo você,

Nola Lee, e quis dizer isso.

Palavras bonitas, sentimento adorável. Mas, se Nola não derrotasse

Aveline, ela e Bane se tornariam Romeu e Julieta dos dias

modernos. Condenados.
Como amá-la e ir embora.

NOLA DEMOROU para dormir, Bane agarrou-a perto.

— Bane! — A voz de Aveline cresceu, fazendo-o estremecer de choque

e fúria. — Pare o que estiver fazendo e venha até mim.

Palavras familiares. Isso não pode estar acontecendo.

— Agora! -

Ele sibilou uma maldição imunda. A única maneira de se comunicar

sem o anel...

Ela veio a Terra, como temia, trazendo mil consequências, ou a rainha

se fortaleceu exponencialmente. De qualquer maneira, sua fúria matou seu

choque. Suas esperanças de um amanhã melhor implodiram uma a uma.

Não, não! Ela estragou séculos de sua vida. Já bastava. Ela não tiraria

Nola dele também.


Usando seu vínculo com Nola, criou um bloqueio interno, assim como

sua princesa havia feito tantas vezes. Deve ter funcionado, porque parou de

ouvir a voz de Aveline.

O que eles deveriam fazer com ela? Se a assassina tivesse vindo à

Terra...

Nola estava certa. Precisavam realizar o Rito de Sangue. Uma

perspectiva que ele achava emocionante e terrível ao mesmo tempo.

Começaria a caçar Aveline. A encontraria e espionaria

secretamente. De alguma forma, precisava testar o poder dela sobre ele.

Desde que cortou a comunicação com ela, Aveline sabia que seu

domínio sobre ele havia enfraquecido consideravelmente.

O suficiente para me deixar derrubá-la?

Talvez pudesse escolher um horário e local e convocá-la, testando as

águas, e quando chegasse a hora, poderia agir. Nola não precisaria se

envolver.

O pensamento o acalmou. Tudo ficaria bem.

Ele enfiou o nariz nos cabelos dela e a respirou, depois se afastou,

contente...
****** ******

NOLA DESPERTOU pouco tempo depois, sua mente em tumulto.

Ela sabia o quão desesperadamente Bane queria ser a pessoa que

mataria a rainha, mas o instinto dizia que apenas uma realeza poderia matar

outra realeza. Ela e Aveline iriam lutar.

Deveria se preparar para a guerra. Conclusão: o destino de Bane estava

nas mãos do vencedor.

Seu medo aumentou. E se ela realizasse o Rito de Sangue?

Nola considerou o pouco que sabia sobre a cerimônia. 1) deve usar o

sangue de um inimigo. 2) deve queimar em cinza. 3) posso ressuscitar.

Inimigo... inimigo... quem se qualificava além de Aveline? Tente a

lúpus e fibromialgia.

Espere. Ela poderia usar seu próprio sangue, você sabe, se matar? Seu

coração começou a pulsar com mais força. As doenças eram seus piores

inimigos há anos. E queimar em cinzas seria angustiante, mas não seria

difícil de fazer. Nascer novamente... Sim, este item colocava sérios


obstáculos. Isso ocorreria automaticamente ou algo específico teria que

acontecer primeiro?

Isso importava? Depois que iniciasse o Rito de Sangue, ninguém

conseguiria detê-lo. De fato, Bane seria forçado a terminar. Se ela começasse

e o alertasse, ele teria que terminar ou vê-la morrer.

Já pensando como uma rainha fria e insensível.

A coisa triste? Pela primeira vez, não conseguiu distinguir a Nola

Sombria da Nola Original. Elas estavam se transformando em uma só.

Eu posso descobrir isso. Sem nenhum conhecimento consciente de

Adwaeweth, ela se ligou a Bane, teletransportando-se e misturando-se em

memórias. Eu posso fazer qualquer coisa.

O estômago de Nola tremeu, quebrando o véu do silêncio.

Depois que eu comer. Antes disso, estava muito doente para segurar

até água.

Com cuidado para não acordar Bane, ela desembaraçou os membros

deles, certamente uma das coisas mais difíceis que já havia feito – tão

quente! – e saiu da cama.

Vestiu uma camiseta longa, calcinha limpa e calça de moletom. Mas


não foi para a porta e como uma viciada, voltou para a cama para outro

golpe de sua morfina.

A visão de Bane a deixou chocada. Seus cabelos dourados estavam

despenteados, suas feições macias, sua tensão desaparecida. Era quase...

infantil.

Se seu estômago não tivesse retorcido novamente, ela teria voltado

para a cama, apenas para estar perto de seu amor. Em vez disso, foi na ponta

dos pés até a cozinha... e encontrou Zion sentado à mesa, bebendo um copo

de uísque. Um candeeiro de lâmpada pendia acima, banhando-o em raios

dourados. Ele usava camisa preta e couro, o cabelo úmido de um banho

recente. Na mão dele havia um anel que ela nunca tinha visto antes – o anel

de Colt. Era de metal, com um topo prateado arredondado.

— Estou surpreso que você possa andar. — Disse ele, com o tom seco.

Calor infundido em suas bochechas. — Você está com ciúmes das

minhas sexcapadas? — Quando um músculo saltou sob seus olhos, ela riu e

disse: — Vou aceitar isso como um sim.

Ele afastou as palavras dela, bebeu o uísque e serviu outra dose. —

Estava esperando que você aparecesse sozinha. Precisamos conversar.

Seu pressentimento voltou e redobrou, seu estômago vazio se encheu


de ácido. Precisando de um momento, ela caminhou até o frigobar,

selecionou uma barra de chocolate e um saco de amendoins, depois

derramou um copo de água antes de se sentar no banco em frente a ele.

— Tudo certo. Despeja — disse e colocou um punhado de nozes na

boca.

— Despejar em você? — Ele empalideceu. — Não farei tal coisa.

Gah! A barreira do idioma ainda era um sério incômodo. — Eu quis

dizer, diga o que você precisa me dizer.

Ele suspirou. — Meu sonho, — ele derrubou o mais novo tiro — se

tornará realidade. — Derramado. Abatido. — Muito, muito em breve. Em

questão de semanas. Talvez dias.

— Errado. — Ela balançou a cabeça. — A previsão dos seus sonhos é

um fracasso desta vez.

— Meus sonhos nunca estão errados, doce dreki. — Ele desistiu

de tomar em doses e bebeu direto da garrafa. — Nunca menti para você e

não vou começar agora. Você o matará.

Ela continuou balançando a cabeça, inflexível.

— Nunca vou machucá-lo.


Com o olhar sombrio, disse: — No começo, eu precisava de mais tempo

com ele, tempo para derrotar Erik. Agora, passei a gostar e admirar Bane. Ele

é um concorrente feroz, muito forte e é bom para você. Tão bom para você

quanto você é para ele. Eu... — ele passou a mão pelo rosto. — Você sabe que

me recuso a lutar com mulheres, sim?

— Sim.

Sua expressão adquiriu um tom amargo. — Ganhei três All Wars, um

feito que poucos entendem, desde que nunca matei uma mulher. Ninguém

sabe, mas sonhei com os que iriam lutar e matar as fêmeas. Eu apenas tive

que colocar o assassino no caminho deles.

Momento do entendimento. Ou melhor, novos troncos lançados no

fogo de seu momento de raiva. — Foi por isso que me resgatou. Então você

poderia me usar como arma contra Bane. — Respire, apenas respire.

Enquanto ela estava ocupada se apaixonando por Bane, Zion estava

ocupado supervisionando seu eventual assassinato.

O bastardo ofereceu outro aceno. — Nos meus sonhos, você pega uma

adaga. A lâmina pega fogo e você apunhala o Adwaewethian no peito. Ele

cai e não se mexe.

A testa dela enrugou. — Bane é impermeável ao fogo.


— Por fora, sim.

Suas esperanças aumentaram, depois caíram. Mas e os órgãos

internos?

Se não fosse por Nola Sombria, teria descartado as preocupações de

Zion. Mas ela e seu lado sombrio eram uma só coisa agora, e estava ficando

mais difícil resistir às menores tentações.

Ela estremeceu. — Bane não é um homem que deixa alguém aparecer

e esfaqueá-lo pelas costas. Ele se defende, sempre. Violentamente.

A menos que ela ordenasse que permanecesse imóvel. Então ele não

poderia se defender.

Já havia pensado no assunto antes, mas desta vez não podia descartá-

lo. Porque lá no fundo, Nola Sombria e

Original, instintivamente concordaram.

Eu farei. Mandarei Bane permanecer imóvel e o esfaquearei com uma

lâmina ardente.

Pelo bem do meu reinado, eu matarei.

Sangue escorria de sua cabeça e rugia em seus ouvidos. Ela poderia

realmente se arriscar com a vida de Bane?


Seus ombros rolaram. — Eu vou embora e vou ficar longe dele. — Bane

não a deixaria ir de bom grado. Sua promessa ecoou – eu estou mantendo

você. Ele quis dizer isso... na época. Depois que descobrisse as facas, ele

poderia mudar de ideia.

Poderia? Ha! Embora, ele tivesse reagido a sua confissão sobre Nola

Sombria da maneira mais doce, mais gentil possível.

Na época, Nola Sombria não era uma situação de vida ou morte.

Tudo mudou.

— Vou levá-la para sua irmã e Knox, — disse Zion. — Você estará mais

segura com eles.

— Sim. Ok. — Más notícias: ela adoeceria novamente. Boas notícias: o

link com Bane seria bloqueado assim que o fizesse. Ele não seria capaz de

olhar através dos seus olhos, falar, visitar ou tocá-la.

Não ouse chorar. Você é da realeza. Aja como uma! Suba acima para o

bem maior!

— Você não precisa se preocupar. Vou trabalhar com Bane até a

batalha final. Protegerei sua irmã. — Zion se levantou, a mínima sugestão de

dor brilhando sobre suas feições.


— Você está ferido? — Ela perguntou, preocupada.

— Knox me apunhalou e ainda tenho que me curar. O bastardo deve

ter envenenado sua lâmina. — Ele passou o polegar sobre o anel de Colt,

dizendo: — Marquei sua irmã com um robô. Posso encontrá-la em qualquer

lugar, a qualquer hora.

Então seu tempo com Bane acabou. Por que adiar o inevitável?

— Apenas... me dê um minuto. — Nola lutou contra aquelas lágrimas

estúpidas enquanto andava na ponta dos pés na sala, procurando um pedaço

de papel e uma caneta.

Enquanto escrevia um bilhete de despedida, quase desabou mil

vezes. Várias gotas de lágrimas escaparam, molhando o papel. Mais uma

vez, a vida mudou rapidamente, e não para melhor.

Embora desejasse voltar ao quarto e ficar com Bane uma última vez,

ela voltou para Zion. Uma olhada no amor de sua vida, e ela não teria forças

para sair.

— Pronta? — Seu amigo perguntou.

Ele era amigo dela, não era?

Sons de farfalhar saíram do quarto principal. Bane estava


acordado. Porcaria! Ela sussurrou: — Vamos, vamos.

Zion abriu um portal em um quarto desconhecido, com uma cama de

latão, colcha colorida e lustre de cristal. No chão de madeira, um bonito

tapete rosa.

Uma mulher alta e elegante, com cabelos preto e branco, estava em

uma alcova com janelas, estudando o campo de lavanda abaixo.

Vale! O coração de Nola tropeçou dentro de seu peito.

Zion entrou mais fundo na sala, e Nola o seguiu, lançando um último

olhar por cima do ombro, imaginando se iria dar uma olhada final em

Bane. Não tenho tanta sorte. No segundo em que a fenda se fechou, as dores

irromperam.

— Olá, Vale. — A voz de Zion ecoou pela sala.

Vale largou um telefone celular e girou, apalpando uma espada. Então

fez uma pausa. — Zion? O que você está fazendo aqui?

— Ele está comigo. — Nola reuniu forças para sair da sombra do

grande bruto.

Os olhos de Vale se arregalaram quando se encheram de esperança. —

Nola? Você está aqui? Você está realmente aqui?


Mesmo quando suas dores se intensificaram e seus membros ficaram

fracos... mais fracos... ela ofereceu um sorriso vacilante – pouco antes da

escuridão a engolir.

NOLA ABRIU os olhos e fez um balanço. Ela estava deitada em um

sofá estranho, em uma sala de estar desconhecida, com móveis chiques do

campo. Vale estava sentada ao seu lado, corada e saudável, bonita em todos

os sentidos e cheirando como a melhor sobremesa em qualquer

padaria. Nenhum sinal de Zion. Sem dúvida, ele estava procurando

armadilhas na casa.

— Aí está você. — Disse Vale com um sorriso largo e cheio de

dentes. Ela estendeu a mão para apertar a mão de Nola. — Senti tanto sua

falta.

— Eu também senti sua falta. — Ela torceu os dedos e segurou firme,

com medo de a deixar ir. — Knox tem sido bom para você?

— Muito bom. Ele é... Nola, ele é o cara. — Uma expressão sonhadora

surgiu. — Todo dia, ele arrisca sua vida para proteger a minha. Ele me

adora.

— Oh, Vale. Estou tão feliz por você. — E talvez com um pouco de
inveja. Eu quero um futuro com meu Bane! Ele encontrou o bilhete?

Vale acrescentou: — Vamos encontrar uma maneira de parar a guerra

e ficar juntos.

A guerra poderia ser parada? — Você reconsiderou levar a Marca da

Desgraça? Ouvi dizer que...

— De jeito nenhum. — Vale balançou a cabeça. — Não posso permitir

que uma raça alienígena governe nosso mundo. Se a guerra não puder ser

parada, eu vencerei.

E matar Bane e Zion? Nola quase gritou uma negação. — E o Knox?

— Ele vai levar a marca. Ou encontraremos outra maneira de salvá-lo.

— Ela disse, depois mudou de assunto. — Zion foi bom com você?

— Sim... E Bane também. — Seu mutismo seletivo permitiu-lhe admitir

que Bane a sequestrara algumas vezes, mas não mais. Tão frustrante! Ela

nunca precisou tanto do conselho de sua irmã e odiava não poder

compartilhar algumas das melhores coisas que já lhe

aconteceram. Bane. Realeza! Sexo. Saúde. Tropeçando na posição vertical,

disse: — O que vocês estão fazendo aqui?

— Existem bombas no campo de lavanda. Knox está deixando um

rastro de migalhas de pão para Erik seguir.


Agradável. Que ele morra gritando.

— Está tudo bem no momento. — Disse Zion, entrando na sala e

apoiando-se no sofá ao lado de Nola. Ele inclinou a cabeça para o lado e

franziu a testa. — Acredito que Knox chegará em três... dois...

Knox entrou pela porta, um bruto gigante vibrando com

malícia. Sangue seco riscava sua pele bronzeada, a visão quase obscena.

Zion levantou-se, apontou uma semiautomática para o peito e

sorriu. — Que bom que você pode se juntar a nós, Knox. Temos muito o que

discutir.

A traição estragou os traços de Knox. Olhou para Vale antes de

enfrentar o outro homem. Eles gritaram insultos um ao outro, desgastando

os nervos já surrados de Nola.

Vale pulou e ficou entre eles. — Rapazes. Por favor — disse ela,

estendendo os braços. — Falar primeiro, matar depois. Se estamos todos

vivos, temos opções.

Pronta para fazer a diferença, Nola se forçou a levantar. Ela apertou o

pulso de Zion, dizendo: — Se você machucar o namorado da minha irmã,

ficarei extremamente descontente.

— Pela primeira vez, estou disposto a arriscar. — Zion manteve sua


atenção em Knox. — Seu corte deixou uma ferida na minha perna que não

cicatrizou. Não estou me divertindo. — Apesar de suas palavras, ele abaixou

a arma e cutucou Nola com o ombro. — Sente-se, mortal, e não se levante

novamente.

Mortal? Por que agir tão formal?

Em um tom mais calmo, ele acrescentou: — Se você se aproximar de

um combatente raivoso novamente, ou entrar no meio de uma luta iminente,

eu vou... eu irei...

Ah, foi por isso. Ele foi atacado! Nola arqueou uma sobrancelha e

respondeu: — O que, não há ameaça ruim o suficiente?

— Há sim. Vou contar a Bane.

Ai. Golpe baixo. — Ele pode não se importar. — Nola mandou um

beijo para ele com o dedo médio, depois se acomodou no sofá.

Vale e Knox discutiam abertamente sobre confiar ou não em Zion.

— Afaste-se e confie em mim — disse Vale. — Não vou arriscar sua

vida, nem a da minha irmã, nem nossa chance de vencer. E sim, percebo o

quão contraditório pareço, considerando que estamos presos em uma

situação de assassinato – todos estamos, mas espero que sobrevivamos a

isso.
Nola abriu a boca para admitir que sabia da situação de Vale como

combatente, mas uma mentira saiu espontânea. — Espere. Você é um

soldado na guerra deles? Como pode ser isso? — O que?

Nola Sombria não queria admitir o que sabia? Ou, de alguma forma,

uma admissão convidaria perguntas sobre Bane?

— Vou explicar mais tarde — disse Vale, depois se concentrando em

Knox. — Por favor, confie em mim. Quero estar com você. Uma família, não

apenas sobreviver, mas prosperar.

Uma família. Vale e Knox. Nola, uma observadora externa

amigável. De repente, seu interior pareceu ter sido jogado em um

formigueiro. Primeiro perdi Bane. Agora estou perdendo Vale.

Os pensamentos mesquinhos a envergonharam.

Knox se encolheu. Mas apenas alguns segundos depois, se suavizou,

sua raiva completamente evaporada, revelando uma fonte infinita de dor.

Nola não teve que se perguntar por que. Reconhecia o brilho nos olhos

dele: sonhos despedaçados. Ele acabara de realizar algum tipo de

relacionamento com Vale, e isso não era bom.

Com um tom gentil, Knox terminou o desacordo com quatro frases. —

Minha trégua está com você, Valerina da Terra. Agora e sempre. Mas não
vou lutar ao seu lado. Hoje nos separamos e eu tiro combatentes das

sombras, aonde pertenço.

Vale entrou em si mesma, claramente desmoronando por dentro. O

coração de Nola se partiu. Knox estava deixando a irmã do jeito que Nola

deixou Bane. Ele deve pensar que a machucaria se ficasse. Ele a amava?

Knox olhou para Zion e disse: — Vou garantir que Vale chegue aos

finalistas. Contanto que você esteja a protegendo, não vou mirar em você. Se

tentar me impedir ou machucá-la de alguma forma, tornarei sua morte uma

história de advertência, e até Seven estremecerá de repulsa.

Aí sim. Ele a amava e pensou que a machucaria se ficasse. Ele decidiu

colocar o bem-estar de Vale acima de sua própria felicidade, e Nola o

adorava por isso.

— Concordo — disse Zion com um aceno de cabeça, e Nola pensou se

ele também tinha sonhado com Knox.

Knox não perdeu tempo. Se afastou, sem olhar para trás, deixando a

forte e outrora intocável Vale perto das lágrimas. Ela olhou para a saída, os

olhos arregalados e feridos.

Era assim que Bane tinha lido a nota de Nola? Ela engoliu em seco,

culpa cortando suas boas intenções em fitas. — Sinto muito, Vale, — disse
ela, desejando a sua amada irmã. — Além disso, me perdoe.

— Nola! -

A voz frenética de Bane explodiu em sua cabeça e ela quase pulou de

sua pele. Em sua nota, ordenou que ele não a contatasse. Lição

aprendida. Ordens tinham que ser faladas.

Inalar, exalar. Tremia, esperando, com medo de ouvi-lo novamente –

assim como com medo de não ouvir. A esperança e o medo foram para a

guerra. Mas ele não falou de novo e o medo venceu.

Você sabe que é o melhor.

Vale vestiu um rosto corajoso e acenou com a mão com desdém. —

Nada para se desculpar. Boa viagem, certo?

Zion olhou para a porta que Knox havia usado, pensativo. — Se não

tivesse visto com meus próprios olhos... esse homem te ama.

Inequivocamente. Knox olhou para Vale da mesma forma que Bane

olhava para Nola. Bem, costumava olhar para Nola. Como a olharia agora?

E o medo ganhou novo terreno.

Com um tom sem emoção, Vale disse: — Eu não concordo. Mas mesmo

se você estivesse certo, isso não importaria. Às vezes o amor não é


suficiente. E realmente, não temos tempo para sentimentos. — Sem emoção,

e ainda assim sua dor era palpável. — De qualquer forma, já falamos o

suficiente sobre Knox. Você marcou outros combatentes com um robô?

— Não houve oportunidade. — Zion ajudou Nola a ficar de pé. — Se

Knox criou uma trilha para o chalé, outros concorrentes chegarão em

breve. Ele provavelmente ficará lá para pegá-los, mas não vou arriscar que

os soldados passem e machuquem Nola. Nós devemos escondê-la em algum

lugar seguro.

— Onde posso ir? — Ela perguntou. — Seu acampamento base está

comprometido. — Com Erik por perto, todos os campos básicos, casas e

dimensões seguras são inseguras.

— Há um túnel embaixo da casa. Vamos. — Vale marchou para a

cozinha, Nola e Zion seguindo.

Na despensa, sua irmã chutou um tapete manchado de terra para

revelar uma escotilha secreta. Tão legal! Toda casa precisava de uma

escotilha de fuga.

Zion desceu a escada primeiro, estremecendo sempre que colocava

peso na perna. Nola foi a seguir, seu corpo gritando em protesto, e Vale

reivindicou a retaguarda. A escuridão os envolveu – até que as pontas dos

dedos de sua irmã pegaram fogo, sem queimá-la.


Oh. Uau. Puxa – disse Nola. — Você percebe que é a pessoa mais legal

que conheço, certo? Como isso é possível?

— Um dia, em breve, vamos nos sentar e ter uma boa conversa. — Vale

beijou sua bochecha e caminhou para pegar uma lanterna.

Zion estendeu a mão para pegar a maçaneta –

Estrondo!

O chão tremeu, derrubando cada um deles. Como sua irmã estava bem

embaixo da escotilha, ela foi atingida pelo pior incêndio, um inferno

lambendo-a. Brasas queimaram buracos em suas roupas, mas não

machucaram sua pele. Madeira, concreto e pedaços de utensílios de cozinha

caíram sobre ela. Enquanto ela gritava, angustiada, Zion mancou, tirou os

blocos do caminho e a ajudou a se levantar.

— O que aconteceu? — Nola disse entre ataques de tosse. A fumaça

picou suas narinas e fez cócegas na garganta.

— Explosão de bomba, — respondeu Vale, com os olhos cheios de

medo e preocupação. — Você está bem?

Outra bomba, cortesia de Erik, sem dúvida. Mais uma prova de que a

vida pode mudar em um instante. Como se ela precisasse de algum

lembrete. — Eu - eu estou bem. — Ela não tinha forças para resistir. —


Vocês?

— Tudo bem. — Disse Vale, soando tudo menos bem.

— Erik está atacando, eu sei — Zion cuspiu.

— Não devemos esperar pelo próximo truque — disse Vale. — Vamos.

— Gente — começou Nola, mas Zion entendeu.

Ele a pegou nos braços fortes e correu para a saída. — Quando

estivermos acima do solo, — disse ele a Vale, enquanto acompanhava o

ritmo ao seu lado, — você ficará com Nola e eu enfrentarei Erik.

— Estratégia não é seu forte, é gostosão? — Uma espada saltou das

costas de Vale. — Nola ficará no túnel. Você e eu vamos sair juntos e lutar

lado a lado, protegendo um ao outro.

Adoro ser discutida como se não estivesse presente. Mas a coisa

verdadeiramente triste? Eles estavam certos. Ela tinha poder sobre seus

animais e guerreiros, mas não sobre outros. Se ela tentasse combater

combatentes, morreria fácil.

Vale continuou. — Devo ser a única a matar combatentes. Eu absorvo

suas habilidades e memórias, aprendendo seus planos e esconderijos.

Como e por que Vale absorvia habilidades, mas outros combatentes


não?

— Recordações? Verdadeiramente? — Sua testa franziu em confusão,

mas assentiu. — Muito bem. Você fará as mortes.

Por que ele que havia mudado de ideia? Se Vale matasse, Zion não

seria capaz de ativar as armas. Além disso, Vale se fortaleceria. Ficaria

muito mais forte. Não que Nola estivesse reclamando. Ela queria sua irmã

invencível. Mas também queria seus homens.

Quando chegaram à saída, Zion a pôs de pé e disse: — Por todas as

vezes que te salvei, você me deve, Nola, e espero que continue aqui.

— Não se preocupe. Eu vou atender seus desejos. Por enquanto. —

Porque ela não tinha forças para fazer o contrário. Preciso recarregar e

descobrir meu próximo passo. Tinha que haver algo que pudesse

fazer, qualquer coisa além de ficar sentada à toa enquanto seus entes

queridos arriscavam suas vidas.

— Você vai ficar bem. — Vale a abraçou. — Eu te amo. Nunca se

esqueça.

— Não estou preocupada comigo. — Só com todo mundo. — Só... é

melhor você voltar. Viva, caso eu não esteja sendo clara.

Vale sorriu, mas nenhum humor brilhava em seus olhos. — Eu voltarei


viva. Sou uma super-heroína. A Garota Inatingível, marca registrada

pendente. Tenho pena dos nossos adversários.

Eles subiram a escada, emergindo à luz do dia para enfrentar seus

inimigos, deixando uma Nola enfraquecida na

caverna. Sozinha. Fria. Receosa. Uma metáfora para o passado dela.

Mas e seu futuro?


Como domesticar sua fera em um dia

Vá para NOLA. Encontre Nola agora! Bane estava rastreando há horas,

com a nota repetida em sua mente.

Caro Bane, também conhecido como deus dourado, também

conhecido como menino-bestial, também conhecido como pão quente com

manteiga,

Você tocou minha vida de várias maneiras. Amo e odeio você, seu

animal maravilhoso e terrível! Está certo, eu te amo. Mas te odeio porque

tenho que deixar você e isso dói. Isso dói tanto. Mas há uma razão para

isso. Você está pronto? Aqui vai. Zion teve um sonho psíquico do futuro. Ele

afirma que vou esfaquear e matar você. Não quero arriscar que ele esteja
certo. Você significa muito para mim. Então, não sei se isso vai funcionar,

mas aqui vai. Estou ordenando que você não venha atrás de mim ou entre

em contato comigo. Eu pretendo matar Aveline e salvar Meredith. E sei que

você disse que está me mantendo, mas pense! Você terá o amor de sua vida

de volta e não se lembrará de mim. A All Wars acontecerá, mas a nova rainha

enviará um Adwaewethiano diferente para a Terra. Nós nunca vamos nos

encontrar, mas talvez seja melhor assim? Você não pode perder o que nunca

teve, certo?

Com amor, Nola.

PS: Este é o meu pior dia.

Suas lágrimas tinham manchado o papel.

Agora, ele se sentia esfolado vivo. Nunca a conhecer? Não é uma vida

que vale a pena viver. Respirava por essa mulher, e ela pensou em deixá-lo,

porque temia uma previsão? Pensou em colocar uma nova rainha no poder,

alguém que enviaria um guerreiro diferente para lutar, um homem disposto

a matar Nola na primeira oportunidade? Nola deve ter percebido a verdade,

mas planejara se sacrificar de qualquer maneira. Por Bane. Porque ela o


amava. Ama.

Vá para Nola. Basta chegar a Nola.

Para dar uma ordem, uma realeza tem que expressá-la, então não tinha

nenhuma obrigação de obedecer a sua nota. Ele já havia tentado espiar

através dos olhos dela e falar em sua mente, mas falhou, encontrando

bloqueio após bloqueio. Decidiu segui-la pelo cheiro; o jasmim e

madressilva seriam um verdadeiro guia. Ele a encontraria. Ninguém o

impediria de ficar com Nola, nem ela mesma. Quanto à previsão de Zion,

Bane não se importou. Então sua princesinha poderia esfaqueá-lo. E daí? O

que quer que acontecesse, eles negociariam.

Confiar em Zion havia sido um erro. O bastardo abriu um portal e

levou Nola embora. Portanto, ele morreria.

Bane aumentou o passo, correndo através de um emaranhado de

árvores. A luz do sol brilhava em uma longa extensão de terras agrícolas, um

punhado de casas espaçadas entre diferentes pastagens carregadas de

animais. Os animais o sentiram e entraram em pânico, dando

voltas. Compreensível. Com a adrenalina inchando em seus músculos, Bane

se transformou parcialmente, seus dentes mais longos e mais afiados do que

o habitual. A fera bateu em seu crânio, exigindo sangue.

Estrondo! O chão tremeu, árvores balançando, membros batendo


palmas.

Cerca de um quilômetro adiante, algo havia explodido.

— Erik, — ele rosnou. A fumaça flutuava no ar, trazendo um aroma

estranho e doce. O perfume de Vale, que ela adquiriu depois de matar uma

combatente. Nola estava com sua irmã. Se sua princesa tivesse sido ferida...

Um rugido veio de Bane. Quanto mais inalava seu perfume, mais seu

sangue queimava com luxúria. Foco. Sons diferentes chamaram sua

atenção. Grunhidos, gemidos e batidas. Maldições. Ao passar por outro

emaranhado de árvores, avistou pelo menos vinte homens armados em meio

a violentos combates com Vale e Zion. Knox também, embora ele lutasse do

outro lado de um campo queimado.

Lidarei com Zion mais tarde. Os homens armados foram apanhados

pelo perfume de Vale. Estavam mais interessados em foder os combatentes

do que matá-los.

Onde estava Nola? Nenhum sinal dela.

Acho que vou lidar com Zion agora. Bane atravessou o exército mortal,

jogando soldados fora de seu caminho – depois de arrancar seus membros,

é claro. — Nola — ele rosnou para o macho, meio homem, meio animal. —

Devolva. Nola. Para. Mim.


— Ela se afastou para seu próprio bem. Quer viver? Afaste-se dela. —

Zion jogou um mortal em seu caminho, depois disparou, desaparecendo nas

árvores. Indo atrás de Nola?

Frenético, Bane o perseguiu. Ele não se incomodou em tirar as pessoas

do caminho, apenas bateu nelas, derrubando-as. Mas Knox entrou em seu

caminho, e ele não foi tão fácil de despachar.

Por alguma razão, o homem estava igualmente frenético e

selvagem; ele deu um soco e Bane se abaixou, raspando as garras no torso

de Knox, tirando sangue. Ponto.

Em vez de golpear com os punhos, Knox apontou um revólver e bateu

no gatilho. Pop, pop, pop. Dor aguda e calor escaldante explodiram em

diferentes partes do corpo de Bane.

Drogo rugiu e bateu em seu crânio, e foi nesse momento que Bane

percebeu que seu animal estava ajudando-lhe o tempo todo, dando as

ferramentas que Bane precisava para sobreviver. Garras. Asas. Força

superior. Ensinando-o a lutar através da dor e da distração. E, quando as

coisas pareciam sombrias, a besta assumia o controle para garantir sua

sobrevivência. Eles eram o mesmo.

Bane atacou Knox. Mais balas. Mais dor. Ele bateu no outro homem,

que plantou os pés e não se mexeu. Não importa. Bane agarrou seu colarinho
e tremeu. — Onde. Está. Nola?

Um fio de fumaça ondulava no cano do revólver. — Ajude-me... a

matar os mortais. — Knox ordenou. — Eles devem morrer. Faça doer.

— Onde está Nola? — Bane não se importava com mais nada.

A distância, Vale chamou: — Ei, garoto feroz. Olhe aqui. Olhe para

mim Bane. Você quer saber sobre Nola? Você terá que lidar comigo.

Com um rugido, ele girou para encará-la. Suas palavras... verdade ou

mentira? De um jeito ou de outro, ele descobriria.

— Venha me pegar, Bane. — Ela sorriu e torceu o dedo para ele, antes

de fugir, chamando: — Por aqui. Isso mesmo. Eu tenho o que você procura.

— Vale... — Knox sussurrou, seu choque claro. — Ela vive. Minha

Valina Vive!

Quando Bane deu um passo à frente, Knox fez o possível para detê-

lo. Desta vez, Bane contornou-o, recusando-se a atacar, e correu atrás da

mulher. Ao longo do caminho, ele cheirava madressilva e jasmim, e quase

chorou de alívio.

Mas Vale virou na direção oposta, afastando-se do cheiro. Ele

continuava a segui-la, para capturar e interrogar Vale, ou seguiria a trilha


com o perfume de Nola?

Nola. Sempre seria Nola.

Ele virou, capturando o cheiro dela. Bane a encontraria. Nada e

ninguém o parariam. Então, começaria o Rito de Sangue.

Estava decidido, tinha sido um tolo por esperar. Ela se tornaria forte o

suficiente para esfaqueá-lo e matá-lo, como previsto, mas não se importava.

Ele preferia ter mais alguns minutos com Nola do que uma eternidade

com outra pessoa.

****** ******

— ELE ESTÁ VINDO — ZION apareceu na escada, entrando no túnel

escurecido. Agarrou Nola e correu.

Seu coração acelerou. Ele — Bane? — Maldito seja! Será que não leu a

carta dela? Não sabia que ela planejava salvar sua esposa?

Ou talvez não saiba ler em Português?

Merda! E sim, tudo bem, ele disse uma vez a Nola que não queria que
ela viajasse no tempo, que preferia um relacionamento entre os dois, mas

vamos lá! Se Nola e Meredith estivessem lado a lado, vivas e bem, ele

escolheria Meredith, a escolha segura.

Mentindo para si mesma agora? Você sabe que ele largou seus

preconceitos. — Onde está Vale? — Ela perguntou, sua voz pouco mais que

um grunhido.

— Ajudando Knox.

Eles emergiram em um pesadelo total. A fumaça engrossou, o ar e

formava um dossel no alto, criando um cenário pós-apocalíptico. Com um

comichão na garganta, ela tossiu.

Zion a colocou no chão e pegou a mão dela. — Por aqui.

Eles deram cinco passos, apenas cinco, antes que um borrão de

movimento caísse neles, derrubando os dois no chão – não, apenas Zion, que

a soltou quando caiu. No entanto, o impulso a fez tropeçar para trás, caindo

em uma pedra e tombando. O impacto forte o bastante para trazer estrelas

piscando através de sua visão e areia enchendo sua boca.

Ela piscou rapidamente e ofegou. Não tropeçou em uma pedra, mas

em um corpo. Um homem. Um homem humano. Havia outros também. Na

verdade, uma trilha de corpos, cada um deles saturado da nova fragrância


inata de Vale.

O suor umedeceu a testa de Nola, seu sangue esquentando com... não,

certamente não. Mas sim, não havia como negar, seu sangue esquentou com

uma excitação escaldante, como se tivesse passado as últimas horas beijando

Bane.

Tremendo, Nola verificou a pulsação de um dos homens

inconscientes. Fina e irregular, mas perceptível. Talvez os outros também

estivessem vivos.

Se esses homens tivessem atacado sua irmã no campo de lavanda... se

tivessem ajudado a bombardear a casa... eles também poderiam ser os que

tinham se escondido nas montanhas, atirando em combatentes durante a

assembleia. Crimes cometidos sob o comando de Erik. Por encomenda.

O pagamento tornou esses homens mercenários. Pelo preço certo, os

mercenários atacariam Vale várias vezes. E não apenas ela, Bane, Zion e

Knox também. Portanto, os mercenários não podiam sobreviver ao dia.

Nola olhou para o peito dele com água na boca. Finalmente, ela teria o

prazer de comer o coração de alguém...

Tão perto...

Um grunhido de dor a deteve, erguendo o olhar viu que Zion e Bane


estavam de pé, encarando-se, dois predadores rosnando, sedentos de

sangue. Como pode perdê-los de vista, mesmo por um momento?

Ela se endireitou, avaliando. Um véu de fumaça protegia a pele

sensível de Bane do sol. Ele parecia estar vários centímetros mais alto e

vários centímetros mais amplo, seus músculos maiores do que nunca. Ele

não estava apenas nervoso; ele estava com raiva.

E eu estou tão excitada. Que dói... Ele nunca pareceu tão bonito.

Sombrio. Monstruoso. Sanguinário. A ferida no ombro se abriu novamente,

escorrendo sangue pelo peito nu.

Ele apontou um dedo acusador para Zion. — Você não a rouba e

esconde de mim.

— Você deseja morrer? — Zion berrou. — Fique com ela, e esse é o

futuro esperando por você.

— Todo mundo morre. Prefiro morrer do que viver sem ela. — Bane

olhou para o outro homem enquanto apontava para Nola. — Se você voltar

a aparecer entre nós, nossa trégua acabou. Mato você sem hesitação. — Bane

olhou para ela, estalando: — Vamos fazer o Rito de Sangue hoje.

Ela balançou em pé. Isso está realmente acontecendo?

Hoje? Outra imposição que mudaria sua vida. Uma que ela queria. E
ainda... Muitas mudanças, muito rápido. — Você não pode estar falando

sério, Bane.

Sua raiva parecia aquecer outros cem graus. — Quando nos

conhecemos, você concordou em fazer isso quando eu acreditasse que era a

hora certa. Está na hora. Você manterá sua palavra.

Mas... — E Meredith? Eu posso salvá-la...

— Claro que pode, mas você não vai — ele interveio. — Ouça, porque

eu não direi isso novamente, porque é muito doloroso. Não quero que ela

volte.

Lágrimas brotaram. — Você não sabe o que está

dizendo. Pense! Você... — Um pensamento ocorreu a Nola, e ela olhou entre

os dois combatentes. — Como podemos falar disso na frente de Zion? —

Apenas uma hora atrás, não tinha sido capaz de contar a Vale, uma das

pessoas mais importantes em sua vida.

Surpresa derrubou Bane de volta. — Você é um Adwaewethian, — ele

cuspiu em Zion. — Um híbrido. Em algum momento no passado, uma

rainha Adwaewethiana enviou criadores para o seu planeta. Você não

sonhou apenas com Nola. Você sentiu o status real dela, assim como eu.

A mente de Nola explodiu.


— Você está certo. E errado — disse Zion. — Sou parte Adwaewethian,

é verdade, mas não vim de um criador e não sou um metamorfo. Fui criado

em um laboratório, com componentes genéticos retirados de diferentes

raças. O melhor dos melhores e o pior dos piores.

Isso fazia um tipo estranho de sentido. Pensando bem, ela percebeu

que nunca havia experimentado mutismo com ele. Ela assumiu que não

podia compartilhar, então nem sequer tentou.

— Você está sujeito à vontade de uma realeza? — Por que

perguntar? Por que não descobrir por si mesma? — Eu ordeno que você se

cure da ferida de Knox.

— Isso não vai funcionar com... — Zion apertou os lábios, ficando em

silêncio. Choque consumiu sua expressão quando olhou para baixo. — Está

funcionando. Estou curando, posso sentir os músculos voltando juntos.

Ela afofou os cabelos e voltou a se concentrar em Bane. — Tem certeza

de que deseja prosseguir com o Rito de Sangue? Você sabe sobre a previsão

agora. E se, depois do Rito do Sangue, eu ordenar que

você me deixe apunhalá-lo?

— Tenho certeza que você terá um bom motivo. — Respondeu Bane. —

Mas aconteça o que acontecer, ficaremos juntos. Nós não iremos nos separar,

é isso é para sempre. Compreendido?


Ele lutou para alcançá-la. Lutaria para ficar com ela. Sempre. Ele a

amava; com certeza! A próxima coisa que Nola fez foi correr para Bane,

jogando os braços em volta do pescoço dele. — Sinto muito por ter deixado

você para trás. Eu deveria ter falado com você, admitido tudo, mas estava

com muito medo que você voltasse a me odiar novamente.

— Eu nunca vou te odiar. — Apegando-se a ela, ele disse: — Eu sou

seu, e você é minha.

— Mas, — Nola continuou, — mesmo que não haja razão suficiente

para eu esfaqueá-lo, não quero arriscar.

— Confie em si mesma, amor. Você tem algo que as outras rainhas não

têm. Você sabe o que é?

Ele acabara de chamá-la de “amor" em vez de “Pomba”? — Você é

meu?

Um sorriso fugaz. — Sim. Mas você também tem um coração forte. —

Ele pressionou a testa na dela e passou os polegares sobre suas bochechas. —

Você amou e perdeu muitas coisas na vida, além de conhecer bem a sua

mente. E o que mais importa, você sobreviveu a pesadelos e prosperou em

cima disso. Eu confio em você.

Suas belas palavras a despedaçaram. Mas ele não compreendia a


gravidade da situação deles. — Talvez você não deva. Estou me fundindo

com meu lado sombrio, Bane. Estamos nos tornando uma.

Ele não reagiu. — A única maneira de aliviar seus medos sobre

isso? Atravesse o Rito de Sangue. Você verá que estou certo. — Bane lhe deu

um beijo rápido. — Tudo ficará bem, amor. Não permitirei nada menos.

Este mal-humorado, sua máquina de sexo, deixou Nola chocada ao

chamá-la de “amor”. Ternura brotou apesar de sua confusão interna.

— Tudo bem. — Um pouco animada, e com muito medo, assentiu. —

Vou fazer isso. Se algo acontecer comigo...

— Nada vai acontecer com você. Nada! — Sua civilidade se

dissolvendo, ele a agarrou pelos braços e a sacudiu. — Você não vai me

deixar de novo e vai sobreviver a isso!

Outro aceno. Ela disse: — Eu vou sobreviver.

— Eu vou ajudar. — Disse Zion.

Bane olhou para ele, mas não respondeu. Depois de outro beijo rápido

nos lábios de Nola, abriu um portal para um quarto de motel com duas

camas individuais. O mobiliário estava limpo, mas era genérico. Ele já havia

guardado as mochilas, as manoplas dela dentro.


Ansiosa por atualizar Vale, ela se sentou na cama e digitou um

texto. Todo mundo viu a reação de Vale pela morte de Nola, dando-lhe uma

aura de legitimidade, o que a deixava livre para conversarem

novamente. Certo? Certo.

Você está viva e bem? MELHOR VOCÊ ESTAR VIVA E BEM! Estou

com Bane e Zion e estamos bem. (Desculpe, meu Bane arranhou seu Knox,

mas ele fez isso para salvar a vida do seu homem). E sim, Bane é meu! Estou

o mantendo. Estamos trabalhando juntos. Sério. Parceiros iguais e tudo

isso. Gostaríamos de trabalhar com você e Knox. Erik criou zonas de risco

para nossas casas seguras, então a Equipe Zibanola não tem onde ficar.

A resposta de Vale veio em minutos: Sou a orgulhosa dona de um

bunker subterrâneo. (Knox me deu. Um presente de compensação por ser

um idiota na casa da fazenda.) Venha e fique comigo, sinto sua falta como se

tivesse perdido um braço. Mas você precisa abandonar os caras

primeiro. Desculpe, ou não. Eles estariam ansiosos demais para remover

minha cabeça.
Nola: Eu não posso largá-los. Bem, posso, mas não irei. Eu os amo, V.

Eles fazem parte da minha família.

Ela tentou digitar, contar que ela e Bane eram um casal, que logo

governaria uma raça de metamorfos, mas seus dedos se recusaram a

trabalhar.

Então. O mutismo estúpido parava toda a comunicação de qualquer

tipo. Bom saber.

Vale: Acho que Knox tem uma segunda casa segura que Erik não

conhece. Ninguém sabe onde fica porque não se pode ver esse local. Vocês

querem essa?

Ela levantou o olhar. Zion estava sentado na mesa, limpando as

armas. Bane passeava, perdido em pensamentos. — Que tal uma trégua com

Vale e Knox? — Ela perguntou. — Quero dizer, vocês já estão lutando para

protegê-los. Por que não ganhar sua proteção em troca? Para adoçar a

panela, eles estão dispostos a nos dar uma casa segura que Erik não conhece.
Nola se preparou, esperando recusas imediatas no volume máximo.

— Muito bem. — Concordou Bane com um mergulho do queixo.

Zion persistiu, ainda passando o pano sobre a adaga. — Acho o arranjo

aceitável também.

Ela cuspiu por um momento, confusa. — Tão fácil? Sério? Vocês não

vão me fazer criar uma lista de prós e contras ou querer uma apresentação

do PowerPoint?

Bane agachou-se diante dela, suas mãos quentes e calejadas

descansando em suas coxas. — No campo, Knox colocou-se na linha de fogo

para salvar Vale. Eu posso trabalhar com ele, porque estou confiante de que

não fará nada para prejudicar a família de sua mulher.

Nola procurou seus olhos e soube que Bane quis dizer cada palavra. O

amor por ele dobrou, triplicou. — Vou avisar Vale.

Ela digitou: SIM!!!!!! Nós aceitamos. Por favor e obrigada.

Vale: Vamos nos encontrar em uma hora. Em algum lugar que outros

combatentes não pensam em olhar. Vamos ver, vamos ver. Oh! Eu sei. O
lugar que juramos nunca visitar – o pior lugar da Terra.

Ahhh. O local em que alguns de seus amigos do ensino médio haviam

perdido a virgindade.

Nola: Combinado. Até breve, mana!

— Nós vamos encontrá-los em uma hora. — Anunciou.

Bane sustentou o olhar dela e assentiu. Sua expressão sombria e

determinada, disse: — Tempo suficiente para se preparar para o seu Rito de

Sangue.

****** ******

— INDO PARA O pior lugar do mundo, — disse Nola, abrindo os

braços. — Sob as arquibancadas do estádio de futebol do meu rival no ensino

médio, Blueberry Hill High. — Embalagens de barras de chocolate

enrugadas, bitucas de cigarro e copos de plástico abundavam ali.


O trio dela acabara de passar por um portal, cinco minutos

adiantados. Knox e Vale já estavam lá, esperando. Excelente!

Nola e Vale correram. Elas se encontraram no meio, se abraçando,

rindo e depois se abraçando um pouco mais.

Vale sussurrou: — Vou encontrar uma maneira de te tornar imortal

sem entrar na guerra. Considerando todas as armas sobrenaturais

flutuando, tem que haver uma maneira.

— Os meninos também estão trabalhando nisso. — Sussurrou de volta,

desejando explicar o Rito de Sangue. Tentando... e falhando. Que

droga! Talvez, depois de sua coroação, pudesse compartilhar com

Vale. Uma garota pode ter esperança, de qualquer maneira.

Aumentando o volume, Vale acrescentou: — Tem certeza de que quer

ficar com Zion e Bane? Você é minha irmãzinha inocente, e eles...

— Ela tem certeza. — Zion retrucou. Nervoso com a aproximação do

Rito de Sangue? Entre para o clube. Ele segurava uma mochila e Bane

segurava a outra.

— Cuidado com seu tom. — Knox retrucou. — Você fala com Vale com

respeito ou não fala com ela.

Claramente lutando contra um sorriso, Vale ergueu os ombros. —


Sim. Respeito.

Nola também teve que conter um sorriso. Parecia que os dois haviam

combinado. Não era surpreendente. Vale estava tão... à vontade com

Knox. A maioria dos homens que namorou a considerava muito impetuosa

e muito nervosa, por um bom motivo. Afinal, ela era impetuosa e

nervosa. No entanto, poucas pessoas cavavam a superfície para ver a garota

vulnerável debaixo da bravata. Uma garota cujo pai a abandonou após a

trágica morte de sua mãe. Ninguém merecia mais um parceiro cuidadoso.

Bane arqueou uma sobrancelha, o equivalente Adwaewethiano de

revirar os olhos. — Ela te chamou de inocente? — Ele perguntou a Nola. —

É como chamar um dragão de pássaro.

Dragão. Ah! Nola deu uma cotovelada no estômago dele. — Não sou

tão ruim.

— Você está certa. — Seus olhos brilhavam com alegria inesperada e

uma pitada de luxúria. — É pior.

Mmm. Luxúria. Ele olhou para os lábios dela e lambeu os seus. O calor

chiou entre eles.

— Você sabe, se todos saírem desta expedição com apenas ferimentos

leves, considerarei uma vitória — disse Vale. — Com quem estou


brincando? Se todo mundo se afastar, será uma vitória.

Nola pegou as rédeas da conversa, retornando à pergunta original de

sua irmã. — Sim, tenho certeza que quero ficar com esses malucos. Eu gosto

de ter esses colírios imortais para os meus completamente às minhas ordens.

— Bem, você é a única razão pela qual meu colírio imortal ofereceu sua

casa de hóspedes. — Vale sorriu para Bane e Zion. — Seus companheiros

nos devem. Grande momento.

Knox assentiu. — Como pagamento, você nos ajudará a acabar com

Erik, mas você não matará. Vale vai. Isso é inegociável.

Zion estalou a mandíbula, mas também assentiu. Bane resmungou: —

Muito bem.

— Então, nós estamos fazendo isso? — Vale sorriu e bateu palmas. —

Estamos formando uma aliança “chutadores de bundas"?

— Eu gostaria disso. Nunca tive verdadeiros aliados. — Com a cabeça

erguida e os ombros largos, o orgulho estampava cada centímetro do corpo

de Knox. — Se você mantiver sua palavra, cumprirei a minha. Vou lutar para

salvá-lo, em vez de destruí-lo. Quando Erik e seus aliados forem retirados,

podemos reavaliar a aliança. Com os guerreiros das outras duas guerras se

juntando à nossa, talvez tenhamos que nos unir por mais tempo do que o
previsto.

Zion encheu seus pulmões e disse: — Vou ficar com você.

— Vou ficar com você também. — Bane apertou a mão de Nola.

Ela quase derreteu. Meu querido homem.

— Vamos abrigá-los em sua nova casa segura. — Knox abriu uma

fenda, depois fez sinal para os outros entrarem.

Zion entrou primeiro, seguido por Nola e Bane. Knox e Vale

reivindicaram a retaguarda. Quando terminaram, Bane e Zion se moveram

para o lado de Knox para agir como vigia, guardando a fenda fechar.

Nola verificou as novas instalações – uma caverna com paredes de

pedra calcária. Um leito rochoso desabara, formando um lindo cenário, a

água tão clara que ela podia ver peixes nadando abaixo da

superfície. Cristais brilhavam no teto, quase tão deslumbrantes quanto

estrelas, e embora o ar tivesse um leve cheiro de mofo, não havia sinal de

podridão ou decadência.

— Cuidado. — Advertiu Knox. — Os túneis são vastos. Eu não estive

aqui desde antes de nossa prisão, então não tenho ideia do que

aconteceu. Acima da caverna está um templo. Ao redor do templo é uma

selva. Não há saídas físicas em nenhum lugar aqui embaixo. Você deve
entrar e sair através de portais.

— Obrigada. — Disse Nola. — Nós apreciamos isso. — Ela cutucou

Bane, depois Zion. — Certo?

— Obrigado. — Zion e Bane resmungaram em uníssono. Nola

suspeitava que, por mais entusiasmados por trabalhar com Knox, eles não

gostavam de dever um favor ao homem.

Knox ficou rígido, seu medo palpável quando olhou para o anel.

— O que há de errado? — Vale perguntou, empalidecendo. — Ansel

está solicitando uma reunião?

Ansel?

— Você pode ignorá-lo? — Sua irmã perguntou.

Deve ser um rei.

Knox levou a mão de Vale aos lábios para beijá-la. — Temos que voltar

para casa. Agora.

Embora a preocupação pulsasse por Vale, ela fez uma cara de brava e

piscou para Nola. E, embora não tivesse ideia do que estava acontecendo, o

coração de Nola estava partindo. Ela colocou um rosto corajoso também e

piscou de volta. Então Knox arrastou sua irmã para outra antecâmara para
ir para casa, deixando Nola sozinha com seus homens. E seus nervos.

Um passo mais perto do Rito de Sangue...


Sempre use a coroa!

— O TEMPO ESTÁ ACABANDO. — Bane anunciou. Ele tinha entrado

e saído do acampamento base subterrâneo, movendo tudo o que havia

reunido antes da reunião para as novas escavações. Por “tudo”, ela quis

dizer soldados inconscientes. Ele amarrou os homens com corda e criou um

círculo de corpos ao redor de Nola. Terminando, ele olhou para Zion. —

Você manterá guarda. Não deixe ninguém interferir.

— Pode contar comigo. — Zion se mudou para uma alcova, aquela

com a melhor vista da caverna, e enfiou os ossos no pescoço, pronto para

qualquer coisa.

Os nervos superaram Nola. Logo o Rito de Sangue começaria, e ela se

tornaria rainha, experimentando todo o seu poder. Se ela sobrevivesse. Eu

irei, irei, irei. Mas a incerteza ameaçava deixá-la louca. E se...

Basta! Mantenha sua mente em branco.

— Você, vire-se. — Bane instruiu Zion. — Não importa o que ouça, não
olhe para trás.

Merda. Isso soou mal. — O que eu precisarei fazer? — Ela chiou. Você

está prestes a ser uma rainha. Aja como uma. Seja, você sabe, digna ou algo

assim.

Oh! Ela conseguia pensar em uma maneira de ajudá-la a se sentir

rainha. — Espere.

— Nola.

— Eu não mudei de ideia. Mas há algo que preciso fazer primeiro. —

Ela correu para as mochilas e pegou suas luvas. Uma vez ancoradas às mãos,

voltou ao círculo. — Veja? Melhor. — Ela já se sentia mais digna.

— Permita que seus instintos a guiem, e você saberá o que fazer. —

Gentil, calmo – adorando – ele passou dois dedos ao longo de sua

mandíbula, oferecendo conforto, antes de sair do círculo e apagar sua

expressão. Com todas as arestas duras e determinação inabalável, ele disse:

— Pronta?

Suas mãos suavam, e seu estômago protestou, mesmo assim Nola

assentiu. Ele apalpou uma adaga e então... começou a se mover pelo círculo,

dando saltos, giros e agachamentos – cortando o pescoço de cada homem. O

sangue jorrou de suas feridas, acumulando-se aos pés dela.


A violência não a perturbava mais; a visão e o cheiro da morte não a

deixavam mais enjoada. Em vez disso, ajudava a combater seu nervosismo,

e ela começou a cantarolar com antecipação e prazer.

O instinto entrou em ação – Bane estava certo sobre isso – e ela soube

o que tinha que fazer a seguir.

Bane arqueou uma sobrancelha, esperando que ela agisse.

Nola espiou Zion que levou o aviso de Bane a sério e não se

virou. Muito bem. Tremendo, ela seguiu suas instruções internas e despiu-

se, ficando nua, removendo tudo, exceto as manoplas. O ar frio acariciou sua

pele enquanto ela se ajoelhava.

Despreocupada com qualquer doença, ela molhou as mãos na poça de

sangue e esfregou o vermelho sob os olhos, o coração e a barriga. Gotas

deslizaram para baixo, riscando o resto dela, empolando sua carne.

Bane continuou pulando e girando, seus movimentos graciosos e

poderosos. Hipnótico. O ar estalou, relâmpagos piscando.

A tontura invadiu, atrapalhando seu equilíbrio, mas ela se endireitou

e se moveu de maneira semelhante. Enquanto dançava, o sangue atraiu os

raios. Ela absorveu a energia, até que suas células estalaram também. A força

se infiltrou em seus músculos... ossos... medula. Força gloriosa. E ela


soube. Aqueles relâmpagos estavam acontecendo dentro de sua mente, não

ao seu redor.

Seus animais estavam despertando!

Mais. Todos! Fraca? Não mais. Nunca mais alguém machucaria seus

entes queridos. Nunca mais alguém ameaçaria sua vida ou família sem

sofrer por isso. Nunca mais alguém a faria fazer algo que não queria.

À distância, ela ouviu um rugido bestial, suave, mas ganhando

tração. Então ela ouviu outro. E outro. A música mais doce, cantada por

milhares de guerreiros, ganhando vida. Finalmente.

Conexão.

Nola os sentiu, espírito, alma e corpo, um elo se formando assim como

o que ela compartilhou com Bane, mas mais fraco; os animais alimentavam

sua força, e ela sabia, tinha certeza de que nunca mais experimentaria

retraimento, nunca mais lidaria com outra doença. O passado era o passado,

morto e desaparecido, e um novo futuro foi forjado.

Abruptamente, Bane ficou imóvel. Sua cabeça estava inclinada para

trás, com faixas vermelhas bifurcadas na garganta. Quando o vermelho

sangrou seus olhos, ele passou pelo círculo de cadáveres para cobrir as suas

bochechas e colocar a boca sobre a dela. Uma ação que ele havia realizado
muitas vezes no passado, trocando paixão por paixão. Agora, um rio de calor

escorreu por sua garganta. Muito quente, muito quente! A dor!

Ela gritou contra a boca dele, mas não recuou, nem mesmo quando a

dor se transformou em agonia, o pior que já experimentara. Não posso

parar. Parar é igual a morte.

A fumaça flutuava entre eles, e ela respirou fundo, deixando gavinhas

encherem seus pulmões. Aquecendo... queimando... fervendo...

derretendo. Poder.

Assim que as chamas irromperam sobre Nola, nenhuma parte sua

ilesa, Bane saltou para trás. O sangue manchado em sua pele, cortesia dos

soldados mortos, agia como algum tipo de combustível vital, fornecendo

outra dose de força. Força que ela precisou desesperadamente quando as

chamas a dominaram.

Não apenas queimando... a velha Nola estava morrendo, uma nova

Nola prestes a nascer. Deixe acontecer. Não resista. Uma vez que isso

terminasse, ela teria tudo o que sempre quis. Um homem que a amava. Uma

família. Um reino para governar.

Quando seu corpo não passava de uma pilha de cinzas, seu espírito –

névoa – permaneceu no círculo. A dor desapareceu, seu mundo escuro e

frio. Um batimento cardíaco. Dois. Três.


— Volte para mim, amor.

A voz de Bane invadiu sua mente, mais clara e mais alta do que nunca.

Determinada, ela chutou e arranhou, tentando abrir caminho para sair

do vazio. Um sinal de luz acenou, e ela lutou mais. Só um pouco mais...

Formigamentos irromperam em seu torso, rapidamente se espalhando

por seus membros. Por um momento, seus sentidos se embaralharam. Ela

provou o fogo, cheirou sons, ouviu uma batida de emoção e sentiu o toque

suave de cores contra sua carne.

À medida que a luz brilhava, as dobras desapareceram e seu corpo foi

refeito. A percepção atingiu: sua mente não tinha apenas se ligado aos seus

guerreiros. Sua mente também estava ligada a uma colmeia de rainhas do

passado. O conhecimento delas, de qualquer maneira. Tanta coisa para

absorver! E ela poderia. Tinha tempo agora.

Nola fez isso, ela sobreviveu! Mexeu os dedos das mãos e pés,

experimentando o movimento. Não surgiram problemas. Até a frieza

desapareceu de sua consciência, o sangue se foi. Em vez disso, desenhos

brilhantes e rodopiantes – runas – gravavam sua pele, como pequenos rios

de ouro derretido. Quando o brilho diminuiu, um contorno fraco das runas

permaneceu. Tão lindo.


Bane ficou do lado de fora do círculo, os ombros erguidos, a coluna

reta, as pernas separadas. Preocupação e alívio dominavam seus traços. O

amor brilhava sobre a conexão deles... uma conexão agora fortalecida, como

ela. Sabia que ele me amava.

Ajoelhou-se diante dela, inclinando a cabeça. — Todos saúdam a

rainha Nola.

Rainha Nola. Rainha. Finalmente! Devo guardar meu título a todo

custo.

A todo o custo?

No fundo, ela sabia que o instinto levaria outras princesas a tentarem

roubar sua posição. Sabia que usariam seu amor por Bane, Vale e Zion contra

ela. Talvez seja melhor cortar todos os laços e...

Não! Ela lançou os pensamentos da cabeça. O amor era força. O amor

era poder. Deixe outra realeza tentar desafiá-la. Elas não teriam sucesso.

— Levante-se. — Disse ela, e franziu a testa. Sua voz... suas palavras

tinham peso agora, cada uma como um soldado armado em uma

missão. Eles a deixariam com um propósito, e lutariam para que isso

acontecesse.

Bane obedeceu com um sorriso crescente. — Você fez isso, amor. —


Curvando-se, ele pegou o vestido largado e lhe entregou. Ele fechou a

distância e deslizou o material sobre sua cabeça. — Você sobreviveu.

— Algo não está certo. — Anunciou Zion, interrompendo o

momento. — Eu sinto alguma coisa. Alguém. Uma mulher, e não consigo

impedir a abordagem dela, por mais que eu tente.

Como Nola havia esquecido a presença do outro homem?

— Ela é uma combatente? — Perguntou Bane.

Ela franziu a testa e esfregou o peito. — Espere. Também sinto isso. —

Um formigamento de consciência. — Não é um combatente.

Bane amaldiçoou. — Aveline. — Ele rosnou.

Entre um piscar de olhos e outro, uma mulher loira se teletransportou

entre eles. E oh sim, era Aveline. Ela examinou o túnel, absorvendo tudo,

depois chutou Nola no estômago e sorriu maldosamente para Bane. — Olá,

guerreiro. Você está com saudades de mim?

****** ******
BANE LIBEROU UM JURAMENTO CURTO. — Aveline.

Ela trançou os cabelos dourados em uma coroa e optou por usar um

vestido escarlate com inserções de malha para proteger seus órgãos

vitais. Rubis adornavam seu pescoço e pulsos.

Parecendo um fio de fúria, Nola ficou de pé, suas manoplas brilhando

à luz das tochas. — Você matou minha mãe, matou a esposa de Bane. Você

cometeu um erro, vindo aqui. Hoje você morre.

Aveline lançou lhe um breve olhar e a dispensou como sem

importância. — Tsc-tsc. — Disse, olhando para Bane. — Alguém tem sido

um garoto travesso. Em vez de matar a princesa, você fez dela uma rainha.

Puxando uma espada, Zion se moveu em direção a Bane para oferecer

ajuda.

Aveline apontou um dedo para o guerreiro de cabelos escuros. —

Fique onde está. Não se mexa.

O poder que unia suas palavras... Embora Zion se esforçasse para dar

um passo à frente, como evidenciado pela veia saliente em sua testa, ele

permaneceu no lugar.

Bane e Aveline se circundaram, Nola aparentemente esquecida. Tão

forte quanto Aveline era, ela não tinha medo de uma rainha recém-criada. —
Como você me encontrou? — Ele perguntou. Pense! Melhor curso de ação?

— Posso te encontrar em qualquer lugar, a qualquer hora, querido. Eu

sou sua rainha, apesar de tudo, apesar do que você fez hoje. Uma vez fui sua

amante. — Aveline deu outro sorriso lento. — Suspeitava que você tivesse

me traído, então vim fazer o seu trabalho por você. Um rápido trabalho de

entrada e saída. Ninguém nunca saberá o que aconteceu, pois serei a única a

deixar esse... — Ela examinou os túneis e fez uma careta. — Casebre.

— Você não é a minha rainha. — Ele rosnou. — Não mais. E lamento

o dia em que fomos amantes.

— Então, você está certo. — Dois punhais deslizaram para debaixo das

mangas, os dedos envolvendo as mangas. — Eu não sou mais a sua rainha.

Então serei a sua carrasca.

****** ******

NOLA TROPEÇOU AO TENTAR VOLTAR, quando Bane e Aveline

caíram em um emaranhado de violência. A velocidade e graça de Aveline a

surpreendeu.
Ela deveria interferir? Afinal, era isso que Bane queria o tempo todo. A

vingança que ele ansiava desde o começo.

Bane bloqueou os desvios da rainha com agressividade

alucinante. Ferozmente. Mas quando iria fazer um ataque, ele parava sem

contato.

Nola apertou o estômago, confusa. Agora que ganhou todo o seu

poder, Bane deveria ser capaz de prejudicar outra realeza, certo? Ou,

secretamente, ele não queria prejudicar sua namorada de infância?

Oh, ele queria machucá-la, tudo bem. Sua frustração era palpável, sua

fúria crescendo aos trancos e barrancos.

Mas, por que ele parou, então?

Respostas baixaram diretamente no cérebro de Nola. Ele não podia

machucá-la. Seus instintos estavam certos. Somente uma rainha poderia

matar outra rainha.

A incapacidade de causar danos seria sua queda. Aveline acertou

golpe após golpe furioso.

Nola teve que assumir. — Bane! — Ela gritou, prestes a soltar seu

primeiro comando como rainha. Bem, o primeiro comando que ele não

gostaria de obedecer. Ele poderia se ressentir dela por isso – Bane virou –
mas ele viveria.

Sangue e suor o encharcavam. Cortes e machucados espalhados por

todo o corpo. Seus reflexos estavam diminuindo.

Antes que pudesse declarar o resto de seu comando, Aveline

pressionou sua vantagem, trabalhando atrás de Bane. Ela desceu e enfiou a

lâmina nos tendões de Aquiles.

Quando ele caiu de joelhos, encarando Nola, a outra rainha jogou uma

das lâminas.

Tarde demais para se esquivar. O metal embutiu no coração de Nola,

que caiu, a dor excruciante. Toda vez que o órgão batia, a ferida ficava mais

longa, mais larga, rasgando os ventrículos. Seus pulmões se encheram de

sangue, afogando-a. Não consigo respirar. Preciso respirar.

Um manto de escuridão apareceu em sua mente, mas ela ainda tinha

uma visão panorâmica, enquanto Aveline punha as palmas das mãos nas

bochechas de Bane.

— Não deixe de assistir. — A outra rainha disse a ela. — Este é o

destino que também acontecerá com você.

Pequenas linhas de preto se espalharam pelas feições de Bane, uma

visão realmente horrível. Estamos perdendo e Aveline está ganhando.


Lágrimas brotaram quando Nola encontrou o olhar de Bane. — Sinto

muito. — Ela murmurou. A fraqueza marchou através dela, ganhando

terreno novo a cada minuto.

— Sinto muito. — Ele murmurou de volta, e seu coração ferido

apertou.

O que você está fazendo? Desistindo? Você é uma rainha! Líder de

dragões, sua palavra é lei. Você é poderosa. Vá salvar o seu homem em

perigo!

Sim! Ela não estava morta. Bane também não estava morto, mas estaria

em breve a menos que ela agisse. Formou-se um plano de batalha, cortesia

da colmeia em sua mente. Na verdade, cortesia de uma rainha em

particular. Jayne... a antepassada de

Nola. Elas estavam relacionadas. Alguns dos descendentes de Jayne haviam

sobrevivido.

O que Jayne queria que ela fizesse... era um plano arriscado, terrível,

horrível, devastador e totalmente insano. Nola queria chorar e vomitar e

passar alguns milhares de anos pensando em todos os aspectos primeiro. Se

alguma coisa desse errado...

Não deixe nada dar errado.


Lutando contra o dilúvio de dor - sua especialidade - ela se arrastou

para mais perto de Bane. Teve que deixar a lâmina embutida no peito, para

não sangrar antes de completar sua missão. Quase lá...

Aveline riu. —Você não pode me parar, garota.

Não era de admirar que Bane odiasse rainhas. A arrogância. A

presunção. A fome de poder que corroía a humanidade de Aveline.

Uma adaga ardente jazia no círculo de chamas, próximo aos pés de

Bane. Nola sabia que teria apenas uma chance. Na esperança de distrair

Aveline com suas palavras, mantendo a atenção da outra mulher afastada

de suas ações, ela disse: — Eu vou... — Agarrando sorrateiramente o punho

da adaga — ... matar...

Ainda rindo, Aveline voou para o lado, fora da zona de ataque de

Nola, sem soltar Bane. — Você vai me matar? Quando você nem consegue

me alcançar? Tsc-tsc. Mas vá em frente. Tente por favor. Será divertido para

mim.

Nola olhou para Bane. O olhar dele permaneceu nela. Linhas pretas

bifurcavam seus olhos. Ele estava morrendo.

— Te amo. — Bane murmurou desta vez.

Ele me ama! A confissão deu a Nola a força necessária para lutar de


joelhos.

Tomou tudo o que tinha para permanecer em pé. — Perdoe-me. — Ela

sussurrou, e mergulhou a adaga em seu coração.

Ele jogou a cabeça para trás e rugiu, as chamas se espalhando por ele,

visíveis sob a superfície de sua pele. Ele caiu de cara no chão, batendo com

um baque pesado, os olhos encarando o nada.

Nola choramingou. Seu lindo deus dourado estava morto. Morto por

sua mão. Assim como Zion havia previsto. A lâmina que ela

segurava? Encharcada com o sangue de seu amante.

Aveline deu outro passo para o lado, colocando mais distância entre

elas. Ela não estava mais rindo. — Por quê? — Exigiu.

Nola se permitiu um sorriso. — Não se preocupe. Você nunca vai se

lembrar que isso aconteceu.

A cor sumiu do rosto da outra mulher e ela atacou Nola. Muito

tarde. Nola já havia manchado o sangue de Bane em suas mãos. Ela fechou

os olhos e recuou em sua cabeça, fixando-se nos momentos anteriores ao Rito

de Sangue.

A base sob seus pés desapareceu. Tonta. Tonta. Viajando de volta no

tempo...
Quando uma nova fundação apareceu, ela abriu as pálpebras. Lá

estava ele. Bane. Nola correu e abraçou-o, soluçando: — Você está vivo!

— Claro que sim. — Ele a envolveu com seus braços musculosos, e ela

percebeu que era tangível. Essa Nola do futuro se fundiu com a Nola do

passado. Ou seja, estavam enganados sobre as porcas e os parafusos da

habilidade.

Isso? Ela gostava mais. Era o equivalente a pressionar um botão de

rebobinar.

Zion ficou de lado, assistindo os procedimentos. O que significava que

Bane ainda não o havia instruído a virar as costas.

Deveria ter voltado mais? Provavelmente. Mas essa foi uma primeira

tentativa, e ela estava aprendendo à medida que avançava. Além disso,

estava cansada, fraca e ferida.

— O que há de errado, amor? — Bane perguntou.

— Aveline veio, — Ela correu para fora. — Você não conseguiu dar um

golpe. Ela foi capaz de colocar você de joelhos e drená-lo com seu toque

mortal, então eu o matei com uma adaga ardente, exatamente como a visão

de Zion. Eu sinto muito! Mas usei sua morte para viajar no tempo e mudar

o futuro. Sinto muito. — Ela repetiu. — Zion, ela ordenou que você
permanecesse imóvel, e você não pôde desobedecer.

Ambos os homens absorveram a notícia, parecendo que mal podiam

conter sua consternação e fúria.

— Sinto muito que você tenha passado por isso. — Disse Bane,

acariciando a bochecha de Nola.

— Não se desculpe. — Ela respondeu, doendo por ele. — Você foi

quem morreu em agonia pela minha mão.

— Vamos culpar quem é verdadeiramente responsável. Aveline.

— Concordo. — Embora ela quisesse segurá-lo para sempre, o

soltou. — Não temos muito tempo. Não voltei muito antes. — E agora Nola

estava em seu corpo antes do Rito de Sangue. Eles teriam que fazer a

cerimônia novamente. A dor...

Mínimo no grande esquema das coisas.

— Desta vez, temos uma vantagem. — Disse ele. — Entre no círculo.

Ele realizou a cerimônia novamente, todos os movimentos e palavras

iguais. Só que ambos demonstraram mais estresse e tensão. Não importava.

Permaneceram conscientes e prontos para a chegada de Aveline.

Devo ganhar desta vez. Devo ganhar. O seu instinto dizia: você não
pode voltar ao mesmo momento duas vezes.

Nola surgiu das cinzas, mais determinada do que nunca. Eles não

perderam tempo com conversas. Ela colocou o vestido e guardou as duas

adagas. Ele a ajudou.

— Preciso que você fique lá com Zion. — Disse ela, apontando para a

parede oposta. — Confie em mim para fazer isso, Bane. Por favor. Serei a

mão da sua vingança, juro.

— Sua vida é tudo o que importa para mim. — Ele respondeu

ferozmente. — Aconteça o que acontecer, sobreviva ou me mate novamente

para viajar de volta.

Voltar a um tempo ainda mais distante? Arriscando esse futuro? Se

algo mudasse mais para trás, eles talvez não chegassem a esse momento pela

segunda ou terceira vez. Não, Aveline tinha que morrer nesta rodada.

Ele esperou até que ela respondesse com um breve aceno de cabeça,

depois seguiu para o lado de Zion, conforme solicitado.

Nola fortaleceu sua determinação e –

Aveline se teletransportou para o túnel, como antes. Antes que a outra

mulher tivesse tempo de se orientar, Nola bloqueou sua audiência, soltou

um grito de guerra e investiu contra sua oponente.


Usando as habilidades que Bane e Zion lhe ensinaram, travou a coxa

de Aveline como um banquinho, passou uma perna em volta dos ombros e

colocou um joelho na garganta. Então, deixou cair a metade superior para a

frente, abaixando-se e jogando Aveline de costas.

No segundo em que a outra mulher caiu, perdendo o fôlego, Nola

estava em cima dela, sem piedade. As manoplas protegiam seus dedos dos

dentes de Aveline, enquanto as garras rasgavam sua carne. Sabia que eu

precisaria delas.

Aveline tentou se livrar dela e foi reprovada. Foda-se, puta.

Aguarde. Não, Aveline não resistiu. Ela manobrou as pernas para

cima, cruzando as pernas ao redor de Nola e a jogou no chão. Imediatamente

Aveline se levantou, invertendo suas posições. Com os joelhos prendendo

os ombros dela, Aveline atingiu Nola.

Estrelas brilharam através de sua visão e náuseas agitaram seu

estômago. A adrenalina subiu, ajudando a obstruir as terríveis

sensações. Quando a próxima série de socos de Aveline tocou a campainha,

um dos olhos de Nola se fechou. A tontura a consumiu, mas outra ideia

também.

Como rainha, ela tinha mais poder do que como princesa. Para se

teletransportar, ela só tinha que pensar onde queria estar.


Uau. O que foi aquilo?

Aveline colocou as mãos quentes nas bochechas de Nola. A dor se

espalhou, seguida por um frio gélido.

Compreensão a atingiu. Ela está me drenando até a morte.

Nola tentou se teletransportar. Falhou. Estava fraca demais. Preciso de

força. Como?

Bane!

Ela recuou em sua mente, encontrou o elo entre eles e os híbridos,

começou a tirar suas forças. Algo que posso fazer, mas ela não pode.

Aveline cometera um grande erro ao vir para a Terra. Ela não podia

drenar dos seus guerreiros em casa, também não podia drenar dos

guerreiros de Nola.

Nola sorriu. Antes de alimentar Aveline com mais energia, ela

executou um teletransporte perfeito – atrás da bruxa malvada. A outra

rainha caiu no chão. Antes que ela pudesse se teletransportar, Nola deu um

soco em suas costas, através de suas costelas, e arrancou seu coração ainda

batendo.

Enquanto o sangue quente cobria sua mão, Aveline ficou mole.


Nola chiou com poder. Eu fiz isso! Eu venci!

Ela não pensou em suas próximas ações, apenas seguiu aqueles

instintos duramente conquistados que a haviam guiado tão bem e mordeu o

órgão.

O gosto era ruim, mas não se importava. Novos raios de poder a

atingiram, e ela jogou a cabeça para trás para gritar.

Mas cedo demais, o poder e a força se esgotaram, seu corpo queimando

como combustível. Tudo o que tinha feito, tudo o que tinha acontecido tinha

cobrado um preço enorme.

Ela ofegou, a escuridão retornando para envolver sua mente. — Bane.

— Nola sussurrou, sua voz arrastada. — Cure rapidamente.

A escuridão a engoliu inteira.

****** ******

ELA TINHA CONSEGUIDO. Nola ganhou! A reverência cantou

dentro de Bane, uma melodia que carregaria para sempre. Até curou o

ombro dele antes de desmaiar.


Ele a levantou nos braços, segurando-a perto. Seu coração disparou

contra o dele.

— Nola vai se recuperar? — Zion perguntou, preocupado.

— Sim. — Ele respondeu, empurrando a palavra entre os dentes

cerrados. Ela irá. Aveline tinha drenado grande parte de sua força vital,

então Nola tinha muito a recuperar.

— E a outra rainha? Ela pode regenerar um coração? — Zion caminhou

até o corpo de Aveline.

— Não vamos nos arriscar.

— Gosto de como sua mente funciona. — O homem balançou uma

espada, cortando a cabeça de Aveline com um único golpe.

Uma visão maravilhosa de se ver. Certa vez, Bane teria insistido em

executar a ação ele mesmo. Agora, com Nola nos braços, tinha coisas

melhores para fazer.

— Vou dar a vocês dois um tempo sozinhos. — Disse Zion, abrindo

um portal.

— Obrigado... amigo. Por tudo.

O outro homem assentiu, depois caminhou pela porta.


Bane levou seu precioso embrulho para uma parede e a desceu. Rochas

o sustentaram quando ele embalou seu amor perto. — Retire de mim,

amor. Pegue o que você precisar.

Quanto tempo passou antes que ela abrisse os olhos, Bane não

sabia. Mas não demorou muito e as feridas dela sararam diante dos olhos

dele.

— Bane? — Ela disse. As memórias devem tê-la inundado, porque ela

ofegou e pulou na posição vertical.

— Estou aqui, amor. Eu peguei você. — Bane a incentivou a voltar e

beijou sua sobrancelha. — Nunca deixarei você ir.

— Conseguimos. Nós ganhamos!

— Você ganhou. Eu te amo, Nola Lee, minha eterna rainha.

Ela caiu contra ele, respirando fundo.

— Você me ama? Ainda? Quero dizer, sou uma rainha agora, e posso

ordená-lo por aí, tipo, grande momento. Isso não vai mudar.

— Não estou reclamando. Quis dizer isso. Amo toda você, até suas

ordens.

Com um gemido de rendição, ela se aconchegou mais perto.


— Eu também te amo, Bane. Muito. Quero governar com você, e estar

com você, para sempre. Nada menos é aceitável.

— Então governaremos juntos. Eternamente. — Repetiu.

Quando ele veio para Terra, estava consumido com ódio e vingança. A

escuridão encobria sua alma. Mas essa mulher resoluta o provocou e o

atormentou desde o primeiro minuto, empurrando-o constantemente para a

luz.

— Não acredito que Aveline esteja morta. Não posso acreditar o quão

perto cheguei de te perder para sempre. — Um soluço a deixou, fazendo

todo o seu corpo tremer, mas nenhum outro o seguiu. — Eu posso acreditar

que fizemos isso. Nós somos incríveis!

— Você continua me incluindo, mas foi você. Você fez isso, eu apenas

assisti. Foi a visão mais espetacular que já tive. — Ele riu com alegria

irrestrita e ficou de pé, levando-a com ele. — Você é incrível, amor.

Ele plantou um beijo quente nos lábios dela. — Não consigo agradecer-

te o suficiente.

— Não, amor. Foi graças a você. Você ajudou e confiou em

mim. Agora está me dando a vida que sempre sonhei ter.

— Confiei em você, sim, e fui recompensado por isso. Você me deu


vida, ponto final. Antes de você, eu estava morto de todas as maneiras que

importavam. Mas você me reviveu e se tornou meu coração. — Ele a beijou

novamente. Não podia não a beijar.

— Você estava certa antes. Encontraremos uma maneira de parar a

guerra para que todos possamos sobreviver. Eu sei que vamos. Veja tudo o

que realizamos até agora. Agora que estamos trabalhando juntos, podemos

fazer muito mais. E nós vamos.

— Você está certo. Conseguimos muito em pouco tempo. Você está

livre da regra tirânica de Aveline. Ganhei uma coroa, poderes e um

exército. Mas iremos em breve. Acho que os animais estão me procurando.

— Oh, eles estão. Eu não tenho dúvidas.

— Talvez eles possam ajudar durante assembleias e batalhas. Você

sabe, fazer algum exame para nós. Talvez até sejam treinados para emboscar

o Alto Conselho e seus Executores? Alimento para reflexão, de qualquer

maneira.

— Excelentes ideias. Mas agora, só quero cuidar de você, mantê-la só

para mim. — Ele levou a mão dela à boca e beijou seu pulso, lavando seu

pulso martelando com a língua. — Não sei se já estive tão feliz,

especialmente durante uma guerra.


Com um suspiro contente, ela beijou um ponto logo acima do coração

dele.

— Depois que pararmos a guerra, talvez possamos visitar Adwaeweth

e ajudar nosso povo.

— Nosso povo. — Disse ele com um sorriso. — Sim. Gostaria

disso. Onde quer que estejamos, faremos milagres juntos. Mas primeiro,

preciso de você. Uma promessa física de sua devoção. Desde que eu sou seu

rei e tudo.

Ela sorriu para ele.

— O que meu rei quer, meu rei recebe.

— O que minha rainha, meu tesouro quiser... — Ele agarrou seus

quadris, moendo seu núcleo contra sua ereção. — Vou providenciar.

Eles olharam nos olhos um do outro, e ele soube. Eles encontrariam

uma maneira de fazer esses milagres. Os combatentes não teriam chance,

nem o Conselho Superior.

— Espero que você esteja preparado. — Ela arrancou o vestido,

revelando o corpo que ele amava além da razão. — Esta rainha estimada vai

abalar o seu mundo.


— Você já fez amor. Você já abalou.

Nola sorriu. — Baby, você ainda não viu nada.

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