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APOSTILA DO CURSO

ESPECIALIZAÇÃO EM
FOLCLORE
ÁRABE
ESKANDARANI

MARINA PERETTO
QUEM SÃO
A palavra Eskandarani significa "de Alexandria", logo
já entendemos a quem esse folclore se refere.

Alexandria é uma cidade litorânea, porém, também


já foi a capital do Egito, e isso faz dela um grande
centro com muita infraestrutura.

Em Alexandria também é onde fica a maior


biblioteca do Egito abrigando museus, auditórios,
laboratórios e até mesmo um planetário.

Para os egípcios, essa é uma das praias mais


frequentadas, principalmente pelas pessoas que
moram no Cairo, por ser uma cidade grande.
O "ir à praia" dos egípcios não é tão diferente quanto
o nosso "ir à praia". Eles também escolhem uma
data (final de semana, feriado, férias), entram no
carro e dirigem ao litoral, prontos para alugar uma
casa para passar os dias.

Alexandria é uma praia muito frequentada pelos


egípcios (havendo poucos turistas a beira-mar), isso
faz com que os costumes com as roupas de banho
dos nativos seja muito bem observado.

Isso tudo podemos


observar nos dias de
hoje, porém, o recorte
temporal que este
folclore representa se
dá em meados de
1900, em uma época
em que o acessório
Millayah Laff estava
muito em alta em
todo o Egito.
MILLAYAH LAFF
O Millayah Laff foi um acessório tão importante que
até hoje o nome desta dança é confundido com o
nome do acessório.

Mas para entendermos a história deste acessório


precisamos voltar ainda mais no tempo, para o
século 19 quando Edward William Lane escreveu o
seu livro “The Manners and Customs of Modern
Egyptians”, nele ele fala sobre um acessório
chamado "Habarah", que seria uma primeira versão
do que viria a ser o Millayah, colocarei aqui o trecho
original do livro (a versão traduzida se encontra no
slide da apresentação da aula):

“(…) composed of two breadths


of glossy, black silk, each
ellwide, and three yards long:
these are sewed together, at or
near the selvages (according to
the height of the person); the
seam running horizontally, with
respect to the manner in which
it is worn (…)”

E a ilustração ao lado se refere


ao Habarah.
No mesmo livro ele diz que a havia uma versão de
algodão chamada “mileyah” que era usada pelas
mulheres "não tão pobres". Esta versão de algodão
podia ser com tecido xadrez azul e branco ou com
listras cruzadas, e não se sabe quanto tempo ao
certo levou para o Millayah se tornar como o
conhecemos hoje.

Millayah Laff significa "lenço


enrolado". As mulheres do
Egito todo usavam diversas
amarrações e ele se tornou
um acessório extremamente
popular entre 1930 e 1940.

Nesta época também era


muito comum as mulheres
utilizarem o Yashmak/Burqu'
no rosto, porém, este acessório
de rosto perdurou menos
tempo na moda, enquanto o
Millayah Laff permaneceu por
muitos anos.

Como o Millayah era usado por


todo o Egito, é muito problemático chamarmos esta
dança de "Millayah Laff", pois não indica
necessariamente, que você estará representando as
mulheres de Alexandria.
A DANÇA
Diferentemente de todos os outros folclores que
estudamos até agora, o Eskandarani é uma dança
100% cênica, já que as mulheres de Alexandria não
saiam dançando nas ruas.

A primeira pessoa responsável por estudar os


movimentos das mulheres, afim de extrair
inspiração na criação de passos de dança foi
Mahmoud Reda.

Reda percebeu como as mulheres se comportavam,


usando a sua beleza e charme nas ruas juntamente
com o Millayah Laff.
A linguagem não verbal das mulheres foi o principal
elemento de inspiração para Mahmoud Reda criar
este número "de Alexandria" = Eskandarani.

A linguagem não verbal das mulheres foi o principal


elemento de inspiração para Mahmoud Reda criar
este número "de Alexandria" = Eskandarani.

Neste trecho do livro Ibn Al-Balad de Sawsan Messiri,


é relatado um pouco de como as mulheres usavam
o Millayah Laff nas ruas (versão traduzida nos slides):

"Bint el balad will wrap the milaya laff in such a way


that her midriff and hips are clearly outlined to show
the shapeliness of her figure. The overwrap allows
aaa
part of the body to show, like a bare arm, while the
other is covered (…) the scarf is supposed to cover
her hair however, it is usually left loose enough so as
to slip continuously half off, necessitating frequent
stops to adjust it and the milaya. Thus in the middle
of the street bint el balad can take off her scarf, tie it
again around her hair, then re-­wrap the milaya
around her body, all of which allows her perform a
series of alluring gestures by which to attract the
attention of passers by(…)"
A MÚSICA
A música deste folclore são as músicas de artistas
locais de Alexandria ou que falem de Alexandria,
geralmente é uma música bem "apressadinha" e
carregam palavras como Iskandariya, Iskandarani e
Millayah (lembrando que sempre é bom ver a
tradução da música pra ver se essa palavra esta no
CONTEXTO de uma música de Alexandria.

Algumas palavras que nos ajudam a identificar são


palavras do "dialeto" de Alexandria como:

Aeywa = Sim
Aeiyu = Wow

Essas palavras são usadas apenas pelas pessoas de


Alexandria, sendo que existem outras palavras em
árabe que podem ter o mesmo significado usados
nas outras regiões.
O FIGURINO
O figurino feminino é o vestido. É um vestido mais
curto por conta de estarmos representando o litoral,
com muito mais liberdade quando comparado com
a cidade grande.

São vários modelos de vestido possíveis para este


folclore:
Estes vestido são curtos, porém cuidado! Observe as
referências para ver que ele fica mais ou menos até
o joelho (ele apenas é curto quando comparado
com uma galabia).

Outra coisa importante do figurino é um shorts em


baixo do vestido (com a altura de meia coxa pelo
menos). Isso garante que, se a saia subir, ainda
temos o shorts ali. Preferencialmente da cor do
vestido.

O Millayah é um item indispensável! O tamanho


varia de pessoa para pessoa, pois ele precisa cobrir
todo o vestido. O comprimento dele pode ser 2,50m
e a altura vai ser diferente para cada um. Ideal é se
enrolar em um pano e ir testando, mas em média
entre 1,10m e 1,30m deve ser o ideal para
Eskandarani.

Existe Millayah menor, e usam da mesma forma,


porém é um pouco mais complicado de fazer os
movimentos que envolvem girar ele, por exemplo.

Quanto às pastilhas nas pontas, o mais tradicional é


sem pastilhas, mas para Eskandarani pode ter as
pastilhas sim, é uma modernização bem aceita
neste folclore, pois naquela época algumas
mulheres usavam com as pontas bordadas (não
com pastilhas, mas imita bem o brilho)
Já o Yashmak ou Burqu', que é
esse acessório no rosto de
crochê, é um excelente
acessório para usar com este
folclore, já que fazia parte da
moda nesta época.

Não é obrigatório, pois saiu de


moda antes do Millayah, mas é
um acessório recomendado.

Ele pode ser com o crochê mais


aberto ou mais fechado e o seu comprimento
normalmente é até o peito. Os mais compridos são
os turcos.

Os pompons também são um fator fundamental, já


que são marca de Alexandria.

Podendo ser de vários tamanhos e estilos.

O sapato, em especial o tamanco é outro acessório


indispensável, pois as mulheres só usavam o
Millayah na rua, não justificando os pés descalços.
Os tamancos eram a sua marca registrada, porém,
não sendo possível (até porque é muito
desconfortável dançar de tamanco), um sapato de
dança já serve. É possível também entrar de
tamanco e tirá-los para dançar, porém, sempre
entrar com os pés calçados.

Por fim, os acessórios como brincos e kholkhel


(tornozeleira).

Melhor brinco Brinco OK


O Kholkhel típico egípcio é
este de moedas, porém,
qualquer tipo de tornozeleira
serve (lembrando de colocar
no pé direito).

Tornozeleiras muito delicadas


não são recomendadas por
não aparecerem muito bem.
VÍDEOS
Neste tópico os vídeos estarão na pasta que irei
compartilhar com você e vou me referir a estes pelo
nome do arquivo de vídeo, mas também teremos
links do Youtube:

https://www.youtube.com/watch?v=c5c9AXmMQis
Este vídeo é um dos registros coreográficos da Reda
Troupe. Por ser uma das primeiras criações do Reda,
esta filmagem é muito boa pra gente entender um
pouquinho mais da visão dele sobre Alexandria.

https://www.youtube.com/watch?v=2uD3tUVm62U
Bailarina icônica Dina, egípcia. Que ela tem um jeito
próprio de dançar nós já sabemos, porém, se
atentem à interpretação dela com a música. Isso é
algo muito comum no Eskandarani, é quase um
musical, onde há dança e canto.

https://www.youtube.com/watch?v=qLt_VGGQFDE
Neste vídeo já dá pra ver um pouco mais da parte
masculina, como eles interpretam os pescadores,
mais adiante chegam as meninas, e vale lembrar
que o Millayah deve ser preto, porém elas devem ter
um motivo por estarem com um Millayah azul com
os bordados. Essa é uma das muitas troupes de
folclore do Egito apresentando no Teatro Romano
no Cairo.
https://www.youtube.com/watch?v=1VKpB3mZtjk
Neste vídeo também demonstra um pouco mais da
participação masculina, e ressalta uma das
características fundamentais deste folclore, que é o
flerte. Neste vídeo Amira Elshaphey Alghoury dança
com homens da Reda Troupe.

https://www.youtube.com/watch?v=pyg_ixmzAOA
Este vídeo é de uma Libanesa, Amani. Ela interpreta
uma música muito significativa para Alexandria,
Baheya. A roupa que ela usa é um pouco diferente
em respeito a música que é mais pesada.

https://www.youtube.com/watch?v=ri6ccSIE4Hg
Neste vídeo temos a interpretação de Mohamed
Shahin, outro artista egípcio com a sua
interpretação do que é este folclore.

Millayah 1
Este vídeo é da Troupe oficial de Alexandria
"Alexandrian dance troupe". Neste vídeo os passos
tem muito de Dança Árabe, inclusive sem o
Yashmak e nem o adorno de pompons na cabeça.
Essas "modernizações" contextualizam conforme o
objetivo da performance que, como eu sempre digo,
vocês precisam saber qual história vocês querem
contar.

Millayah 2

https://www.youtube.com/watch?v=o0SYbVd7lUU
Millayah 2
Mais uma referência de troupe folclórica, e nesta o
único comentário que eu tenho a fazer é sobre o
fundo, que tem as ondas do mar, lembrando do
contexto "praia" deste folclore. Fora isso, é mais uma
referência de qualidade pra acrescentar no
repertório.

https://www.youtube.com/watch?v=o0SYbVd7lUU
Este vídeo é um desabafo da Farida Fahmy, falando
sobre o Millayah, apesar do vídeo estar em inglês, é
possível ativar as legendas automáticas em
português (não é precisa, mas ajuda). Este vídeo fala
por si só, assistam! Para complementar este vídeo,
tem o artigo da Farida nas referências.
REFERÊNCIAS
FAHMY, Farida. Dancing with the Millayah Laff, 2014.
Farida Fahmy - The Art of Egyptian Dance and Culture.
Disponível em: http://faridafahmy.com.

AZIZ. Tamer. Alexandrian dance, 2021.

EMAM, Khaled. Egito - tradição e arte, VISEU, 2018.

SAID, Edward W. Orientalismo: o Oriente como


invenção do Ocidente. Editora Companhia das Letras,
2007.

MESSIRI, Sawsan. Ibn Al-Balad: A Concept of Egyptian


Identity. Editora Brill Academic Pub, 1997.

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