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Conversão de Energia 1

1 - Relações Eletromecânicas Básicas

A conversão de energia entre as formas elétricas e mecânicas é realizada através


de campos magnéticos e elétricos. Campos magnéticos são capazes de causar ambos os
fenômenos elétricos e mecânicos. De um ponto de vista elétrico, são capazes de induzir
tensão em condutores. Do ponto de vista mecânico, são capazes de produzir forças e
conjugados de atração e repulsão. Portanto, o campo magnético, num dispositivo
eletromecânico é uma quantidade importante a ser estudada.
Um campo magnético é estabelecido pelo movimento de elétrons. A corrente i
num condutor elétrico estabelece um campo magnético ao seu redor. O campo tem as
propriedades de direção, densidade, e intensidade e é mais facilmente visualizado como
constituído de “linhas de fluxo”.

1.1. Lei de Ampère:

Lei básica que determina a relação entre corrente elétrica e campo magnético. A
integral de linha do vetor intensidade de campo magnético, em torno de uma trajetória
fechada, na mesma direção das linhas de campo, é igual a corrente total através da
G
superfície contida pela trajetória de integração de H e é uma quantidade escalar:
G G GG
∫ H .dl = ∫ J .n .dS (1.1)
Superficie

A expressão do lado esquerdo da equação (1.1) é uma integral de linha da


intensidade de campo magnético (H) ao longo do contorno fechado, na mesma direção
G
de H , num campo magnético. A expressão do lado direito é uma integral de superfície
da densidade de corrente J, a qual é realizada sobre a área da seção transversal S.

G G G G
n J dl H
θ

dS

Unidades em MKS:
J - é dado em ampère por metro quadrado [A/m2]
G
H - é dado por ampère-espira Gpor metro [A-esp/m] e sua direção é dada pela
G
G G
regra da mão direita. H ⋅ dl = H dl cosθ , sendo θ o ângulo entre H e dl , e
H dl cosθ a componente de H na direção do elemento de comprimento dl.
l - é o comprimento do caminho em [m].
S - é a área em [m2].

Esta lei é muito útil como um meio de obtenção da intensidade de campo


magnético em situações em que se tenha simetria no problema. Duas condições devem
ser atendidas: G
(1) Em cada ponto do percurso fechado, H deve ser tangencial ou normal ao
percurso.
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G G
(2) H tem o mesmo valor em todos os pontos do percurso onde H é
tangencial.

A intensidade de campo magnético H produz uma indução magnética (ou


densidade de fluxo) B em toda a região onde ela existe, de valor:
G G
B=μH (1.2)

A unidade de B é o tesla [T ou Wb/m2], 1 Wb = 108 linhas de campo magnético ou 108 maxwells, 1 T = 104 G (gauss).
Onde: μ é a permeabilidade do material (permeabilidade absoluta)

μ = μr μ0 { μ0 (permeabilidade no vácuo) = 4π×10–7 [Wb/Am ou H/m]}

Onde: μr é a permeabilidade relativa ao valor do vácuo = μ / μ0


μr para materiais ferromagnéticos usados em máquinas e transformadores varia
de 103 a 105.
Substituindo a equação 1.2 na 1.1, tem-se:
G G GK
∫ B.dl = μ ∫S J .n .dS (1.3)

Façamos a aplicação da lei de Ampère para o caso de um toróide imerso no ar,


ver exemplo a seguir. O circuito magnético apresentado na figura 1.1a é uma
configuração simétrica e permite a aplicação direta da lei de Ampère. A figura 1.1b é
uma seção transversal do circuito magnético apresentando as dimensões apropriadas.

i(t) aθ ri
+ . + r'i
r
e(t) N
- + r0
az
ar r'0

(a) circuito magnético simples (b) corte transversal do núcleo


B = μH
H μ 0 μ r H(ri)
μ0 μ0 μ r μ0
μ 0 H(ri)

r'i ri r0 r'0 r r0 r'0 r


r'i ri
(c) variação da itensidade de campo (d) variação da densidade de fluxo
magnético H com o raio r magnético B com o raio r
aθ e ar são vetores unitários na direção tangente ao circulo e na direção radial no plano do papel, enquanto az é
perpendicular ao plano do papel.

Figura 1.1 - Determinação de H e B numa bobina toroidal.

Foi escolhido um sistema de coordenadas cilíndricas e vetores unitários


G G G
a r , aθ e a z num raio r e num ângulo arbitrário θ. A direção da corrente é assumida
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como entrando (×) na página para r < ri e saindo (•) para r > r0. Considerando o
enrolamento consistindo de muitas espiras e de fios relativamente finos e próximos um
do outro, pode-se assumir densidade uniforme de corrente para a região ocupada pelo
enrolamento. Desta hipótese resulta uma configuração simétrica com relação ao ângulo
θ. A intensidade de campo magnético (H) na direção de θ, para ri < r < r0, é obtida pela
aplicação direta da lei de Ampère. Para uma trajetória circular de integração a um raio r
tem-se:
G G G G G G
∫ H .dl = ∫ (H r a r + H θ a θ + H z a z ) . (r dθ a θ ) = ∫0 H θ r dθ = 2 πr H θ

G G G G G G
Onde: a r .aθ = a z .a θ = 0 e aθ .aθ = 1 , e H é invariante com relação a θ conforme
as considerações de simetria. Quanto ao outro lado da equação (1.1), tem-se para a
trajetória considerada:
GG
∫S J .n .dS = N i

Abandonando o subscrito θ, a intensidade de campo magnético na direção de θ


dentro do núcleo será:
Ni
H=
2π r

Para vários caminhos de integração distantes de um raio r do centro tem-se:

r ≤ ri ' ⎯⎯ ⎯ ⎯⎯→ H = 0
N i r 2 − ri ' 2
ri ' ≤ r ≤ ri ⎯⎯ ⎯
⎯→ H =
2π r ri 2 − ri ' 2
Ni
ri ≤ r ≤ r0 ⎯⎯⎯→ H =
2π r
N i ⎛⎜ r 2 − r0 2 ⎞

r0 ≤ r ≤ r0 ' ⎯⎯⎯→ H = 1−
2 π r ⎜⎝ r0 ' 2 − r0 2 ⎟

r ≥ r0 ' ⎯⎯ ⎯ ⎯
⎯→ H = 0
A densidade de fluxo magnético B em Wb/m2 ou T esta relacionada com H por
meio da equação (1.2). Considerando que o material do núcleo seja ferromagnético a
densidade de fluxo magnético será desprezível na região fora do núcleo já que μ é da
ordem de 103 a 105 para materiais ferromagnéticos.
Na realidade, materiais ferromagnéticos exibem características não lineares,
onde o valor de μr depende do valor de H e de seu comportamento anterior. Serão
examinados alguns aspectos de seu comportamento mais a frente, mas como será
mostrado, um valor relativamente alto de μr permite-nos assumir um comportamento
linear em muitas aplicações.
Observa-se que não há limites para o valor de H que pode existir no ar ou no
espaço, seu valor é limitado praticamente pela J permissível nos condutores que
produzem o campo. Com condutores de cobre e alumínio, em temperaturas normais de
operação, as densidades de correntes (J) devem ser limitadas a cerca de 106-107 A/m2.
Bobinas super-resfriadas podem produzir densidades de fluxo (B) de 10 Wb/m2 ou mais.
Em comparação, é com grande dificuldade que um valor de B > 0.1 Wb/m2 pode ser
produzido usando bobinas normais à temperatura ambiente. Atualmente o modo mais
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fácil de produzir um valor de B de até 1.5 ~ 2.0 Wb/m2 é através do uso de materiais
ferromagnético.

Ex. : A figura 1.1.1 a seguir mostra uma bobina enrolada, em forma toroidal,
num anel de seção retangular. A bobina tem 200 espiras de fio de cobre cujo diâmetro é
3 mm.
300
dr

i(t)
+
e(t) 100 r
- dθ

Bθ 0 d
400

Figura 1.1.1 - Determinação de H e B numa bobina toroidal (dimensões em mm).

a) Para uma corrente de bobina de 50A, encontrar o fluxo magnético no diâmetro médio
da bobina.
• Obtenção da densidade de fluxo B no interior do toróide, através da lei de
Ampère.
Considerando uma trajetória circular dentro do toróide, cujo raio é r. Pela
simetria, vê-se que B será constante em todos os pontos da trajetória e sua direção será a
da tangente à trajetória em cada ponto.
G G
∫ B.dl = μ 0 N i A trajetória enlaça N vezes a corrente i, o que explica a
presença de N no lado direito da equação.
Como devido à simetria B é constante ao longo da trajetória de integração e sua
G G G G
direção é ao longo da tangente à trajetória em cada ponto, B = B θ0 e dl = r dθ θ0 .

μ NI G
∴ B ∫02 π rdθ = B 2πr = μ 0 NI → B = 0 θ0
2πr
G
θ0 - Vetor unitário na direção da tangente ao anel circular no plano do papel

Ou seja, B varia inversamente com o raio da trajetória e por conseguinte o valor


de B não é constante em todos os pontos de uma seção transversal do toróide. Quando o
diâmetro da bobina (espessura do toróide) é pequeno quando comparado com as demais
dimensões do toróide (ou seja, se d << r), então se pode supor, sem perda de precisão,
que B é constante em uma seção transversal e, portanto, em todos os pontos dentro do
toróide. Considerando o diâmetro médio:

μ NI 200 × 50 × 4 π10 −7
B= 0 = = 11,43 × 10 − 3 Wb/m 2
2 πr 2 π(0 ,35 2 )
B
H = ∴ H = 9095 A/m
μ
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1.2. Conceito de Circuito Magnético Linear


O conceito de circuito magnético é útil para a compreensão do comportamento
de diversos dispositivos eletromagnéticos práticos. Em muitas situações é útil ter um
modelo na forma de um circuito magnético equivalente análogo a um circuito elétrico.
A aplicação da lei de Ampère ao toróide do exemplo 1.1 conduziu a uma equação que
relaciona B com a corrente I:
NI NI
B = μ0 ou B = μ 0 (1.4)
2πr l
Da qual, após a substituição de B por μ0H conduz:
NI
H= ou H l = NI = ℑ (1.5)
l
A unidade de H é a de ℑ/comprimento [Aesp/m]. Ou seja, H é o gradiente de
potencial magnético. Onde l é o comprimento da trajetória do fluxo. Observa-se que da
aplicação da equação (1.3) para r > diâmetro externo do toróide e r < diâmetro interno
do toróide conduz a H l = N I = 0.
Considerando que o fluxo magnético φ através de uma área S é definido como:
G G
φ = ∫ B .dS [Wb] (1.6)
Com base na equação (1.6) e com a consideração de que todo o fluxo está
confinado no toróide onde, a menos de um pequeno erro percentual, ver a seguir, pode-
se considerar a densidade de fluxo constante e uniforme através da área S da seção
transversal. Assim, tem-se que o fluxo φ = B S, e que após a sua substituição na equação
(1.4) produz:
φ μ 0 NI φl NI
= ou NI = ou φ = (1.7)
S l S μ0 l

0

Pode-se ver a relação causa – efeito, onde a corrente de excitação I produz um


fluxo φ no núcleo. A quantidade NI é chamada força magnetomotriz ou f.m.m. (ℑ) e a
expressão l / μ0 S é chamada de relutância (ℜ) da estrutura magnética (definida como a
f.m.m por unidade de fluxo magnético). Define-se agora P a permeância que é o inverso
da relutância.
ℑ = NI [A - esp]
ℑ l
ℜ= = [A - esp/Wb] (1.8)
φ μ 0S
1 μ 0S
P= = [Wb/A - esp]
ℜ l
A fmm estabelece uma H, a qual, por sua vez, produz uma densidade de fluxo
magnético B no material. A integração de B sobre a área S do núcleo dá o φ. ℑ é a causa
e φ é o efeito. ℜ é determinado pelas propriedades magnéticas do material e as
dimensões do núcleo.
É interessante neste momento considerar o circuito elétrico a seguir que nos
permitirá efetuar uma analogia com as equações (1.8).
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I
+
V R = l / (σ S)
-

Para o circuito elétrico a corrente I é:


fem V
I= =
Resistência l
σS

Onde σ é a condutividade do material; l é o comprimento; e S é a área da seção


transversal
Comparando com a equação (1.7) observa-se claramente uma semelhança. É por
esta razão que se pode considerar um toróide como um circuito magnético, a equação
(1.7) é conhecida como a lei de Ohm para circuitos magnéticos. A analogia entre ambos
os circuitos é apresentada na tabela 1.1

Circuito Elétrico Circuito Magnético

I
+ Ι φ
V R = l / (σ S)
-
φ=ℑ/ℜ
I=V/R

l l
Resistência R = [Ω] Relutância ℜ = [A esp/Wb]
σS μS
V ℑ
Corrente I = [A] Fluxo φ = [Wb]
R ℜ
Tensão V = R I [V] Força magnetomotriz
ℑ = NI = ℜ φ [A esp]
Condutividade σ [S/m] Permeabilidade μ0 *
1 1
Condutância G = [S] Permeância P = [Wb/A esp]
R ℜ
R – Associado a perda de energia ℜ - Não está associado a perda de energia.
* supondo que o meio dentro da estrutura magnética seja o vácuo, ou um material não magnético.

Tabela 1.1 Analogia entre os circuitos elétrico e magnético.

A analogia entre os circuitos foi possível pelo fato do campo magnético


estabelecido pela corrente da bobina estar totalmente confinado ao (núcleo) interior do
toróide e também pelo fato do circuito magnético ser linear, isto é, μ = μ0 = cte. O
conceito de circuito magnético, embora desenvolvido para uma estrutura particular,
contendo ar ou vácuo, pode ser ampliado para estruturas magnéticas feitas de materiais
ferromagnéticos de alta permeabilidade, como será visto posteriormente.
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Diferença de Potencial Elétrico:

Para obter-se a queda de tensão entre dois pontos a e b de um toróide de cobre,


pode-se escrever:
Vab = ∫ab ε.dl = ∫ab dl =
E IR
l ab
l l
Onde: E = Tensão aplicada
l = 2πr = comprimento médio do toróide.
ε (gradiente de potencial elétrico) = E / l = E /2πr [V/m]
I l l
Vab = ρ l ab = Iρ ab = IRab onde Rab é a resistência do cobre entre a e b
l A A
Densidade de Corrente por definição: J = I / S = E / S R

J=
εl =
ε →ε = ρJ
S ρ (l / S ) ρ

Diferença de Potencial Magnético:


Queda de fmm entre dois pontos onde o fluxo flui:
ℑ φℜ φ l
Vab = ℑ ab = ∫ab H .dl = l ab = l ab = l ab = φℜ ab
l l l μS
Onde ℜab é a relutância do núcleo toroidal entre os pontos a e b.
Densidade de Fluxo
φ ℑ Hl B
B= = = = μH → H =
S Sℜ S (l / μ S ) μ

Observa-se que ambos os circuitos não são considerados como análogos em


todos os aspectos. Ex.: não existe isolante magnético análogo aos que existem para
circuitos elétricos. A relação entre a condutividade de um típico isolador elétrico e de
um bom condutor é da ordem de 10–16 ou mais (σcobre = 5,8×10–7, σmica = 5×1011),
enquanto a permeabilidade do ar para a permeabilidade de material ferromagnético
típico não é, naturalmente, superior a 10–6 (Permalloy). Também, quando a corrente
contínua é estabelecida e mantida num circuito elétrico, a energia deve ser suprida
continuamente, Uma situação análoga não predomina no caso magnético, onde o fluxo é
estabelecido e mantido constante.
Ex. 1.2: Considerando novamente a figura 1.1.1
a) Determinar a indutância da bobina, assumindo que a densidade de fluxo
dentro do toróide é uniforme e igual à do diâmetro médio, e calcule a
percentagem de erro produzido por tal hipótese. b) dado a resistividade (ρ)
do cobre (17,2 x 10–9 Ωm), determine os parâmetros do circuito elétrico
aproximado:
• Num raio r qualquer (0,15 < r < 0,20 m)
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A indutância, para um circuito magnético no qual exista uma relação linear entre
B e H, é definida como L = λ / I .
μ NI 4 π × 10 −7 × 200 × I
B= 0 =
2 πr 2 πr
20B (0 ,1)dr → λ = Nφ = 0 ,1 × μ 0 N 2 I 0 ,20 dr
φ = ∫00,,15 ∫0 ,15
2π r
0 ,1 × 4 π × 10 −7 × 200 2 ⎛ 0 ,20 ⎞ −3
λ= ln⎜ ⎟50 = 11,51 × 10 Wb esp
2π ⎝ 0 ,15 ⎠
λ 11,51 × 10 − 3
L= = = 0 ,2302 × 10 − 3 H
I 50

• Para a consideração de diâmetro médio: Bm = 11,43×10-3 Wb/m2


B

φ m = B S = 11,43 × 10 −3 × 0 ,1 × 0 ,05 = 57 ,15 × 10 −6 Wb


λ m = N φ m = 200 × 57 ,15 × 10 − 6 = 11,43 × 10 − 3 Wb esp
Lm = λ m / I = 11,43 × 10 − 3 / 50 = 0 ,2286 × 10 − 3 H
11,51 − 11,43
Assim: Erro = 100 ≅ 0 ,7%
11,51

πd 2 π × 3 2 × 10 −6
b) calculando o diâmetro do fio: dCu = 3 mm → S = = ,eo
4 4
seu comprimento total (da bobina): lfio = 200 × 2 × (0,1+0,05) = 60 m.

R = ρ lfio / Sfio = (17,2 ×10–9 × 200 × 0,3) / ((π×32×10–6) /4) = 0,1460 Ω


Outra forma de se obter Lm é:

λ Nφ N N μ 0 NI μ S N2
L= = = BS = S = N 2 0 = N 2P =
I I I I l l ℜ
ou
λ Nφ N N 2 N2
L= = × = φ=
I I N ℑ ℜ
Os parâmetros aproximado do circuito equivalente seriam: ℜ = 0,146 Ω e
L = 0,2286 mH

e = dλ / dt

v = R i + L di / dt

+
i

R
v
e
-
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1.3. Propriedades dos Materiais Ferromagnéticos:

Quando o núcleo do toróide é de ferro (por exemplo), o fluxo total produzido


pela mesma bobina de corrente é sensivelmente aumentado. Isto se deve ao fenômeno
de ferromagnetismo o qual é um fator muito importante ao processo de conversão de
energia pelas máquinas eletromagnéticas.
As propriedades dos materiais ferromagnéticos são:
1. Magnetizam-se fortemente na mesma direção do campo magnético onde estão
inseridos.
2. Sua densidade de fluxo nos materiais ferromagnéticos varia de forma não
linear com a intensidade magnética, com exceção de pequenas faixas onde a
variação pode ser considerada linear.
3. Apresentam saturação, histerese e retentividade.

1.3.1. Vetor Magnetização:

Quando o interior do toróide é preenchido por algum material ferromagnético, a


densidade de fluxo dada pela equação (1.4) passa a ser:

μ NI
B = 0 + M μ0 (1.9)
l

Onde M é a contribuição do material magnético à densidade de fluxo total.


Observações experimentais mostram que existe (em muitos materiais) uma relação entre
M e H (H é a excitação e M a resposta). Quanto maior o campo proveniente de correntes
reais, mais dipólos magnéticos se orientam, criando mais corrente de magnetização. M é
denominado vetor de magnetização (ou densidade de fluxo intrínseco) e só existe dentro
do material magnético. A relação entre M e H é dada pela equação:

M = χm H (1.10)

χm - é definida como susceptibilidade magnética (observação: no vácuo não há


dipólos magnéticos). Para materiais ferromagnéticos, χm é uma quantidade
variável, usualmente muito maior que a unidade.

Substituindo M da equação (1.10) na equação (1.9), obtém-se:

B = μ 0 H + μ 0 χ m H = μ 0 (1 + χ m ) H = μ 0 μ r H = μ H (1.11)

Onde μ é a permeabilidade do material, quantidade variável para materiais


ferromagnéticos e em geral muito maior do que μ0. Materiais magnéticos tem elevada
χm e μ, significando grande facilidade de orientação de dipólos magnéticos e
conseqüentemente a criação de elevadas correntes de magnetização. Se quando cessada
a excitação os dipólos continuarem orientados, H e M não guardarão uma relação de
proporcionalidade, não fazendo sentido portanto falar em χm e , embora a relação (1.9)
continue válida, a (1.11) não o será.

1.3.2. Histerese e Curva Normal de Magnetização (CNM):


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Os materiais ferromagnéticos exibem uma relação muito complexa entre a


indução magnética B e a intensidade de campo H, figura 1.2. O valor de B, além de
depender do valor de H, depende do modo pelo qual esse valor foi atingido . Isso
obviamente tem como implicação uma relação não biunívoca entre B e H. Nesse caso
não seria possível definir de modo simples uma característica de um indutor por
exemplo.

B laço de histerese
estabilizado B,λ
Bmax b Bmax
d
Br - curva normal de
magnetização

-Hmax -Hc Hc
c c' Hmax H Hmax H, i

- -Br
d'
-Bmax Br - retentividade: densidade residual de fluxo
b' Hc - coercitividade:fmm necessária para anular B

a) Laços de Histerese b) Curva Normal de Magnetização


Figura 1.2. Conjunto das trajetórias fechadas de histerese e a curva normal de magnetização para um material
ferromagnético.

Observa-se que (no ponto d) embora H seja nula, B não o é (é igual a Br). À B

medida que se diminui H gradualmente, B varia ao longo de b-d (para um dado valor de
H, o valor de B será maior quando H diminuir do que quando aumentar). Diz-se que B
se atrasa com relação a H. Esta característica dos materiais ferromagnéticos é conhecida
como histerese. A curva normal de magnetização é obtida (figura 1.2b) através da união
das extremidades (pontos dos laços de histerese) de uma família de laços de histerese.

Definições: Para um laço de histerese estabilizado, com simetria cíclica, pode-se


definir:
Remanência (Br) - é a densidade residual de fluxo, obtida para força
B

magnetizante nula; seu valor máximo é conhecido como


retentividade.
Coercitividade (Hc) - é o valor da força magnetizante necessária para levar a
densidade de fluxo a zero.

A área do ciclo de histerese corresponde à energia dissipada por unidade de


volume do material magnético durante o ciclo. As análises em que os fenômenos de
histerese são relevantes, apresentam extrema dificuldade, é o caso por exemplo de
máquinas de ímã permanente e máquinas de histerese. A característica típica B-H para
um ímã metálico permanente, comum, é apresentada na figura 1.3(a) (Alnico V: 51%
Fe, 24% Co, 14% Ni, 8% Al, e 3% Cu). Observa-se que embora a forma geral desta
característica seja similar à dos materiais magnéticos doces (fig. 1.3(b)), a força
coercitiva é da ordem de 1000 vezes maior, já a densidade residual é da mesma ordem
de magnitude da dos materiais doces.
Conversão de Energia 11

B B
[Wb/m2] [Wb/m2] ~
~ 2.0
1.25

50000 de 15 a 100
H [A esp/m] H [A esp/m]

a) material magnético permanente (duro) b) material magnético macios (doces)


Figura 1.3 - Densidades de fluxo magnético B versus intensidade de campo H.

Materiais que apresentam alto valor de Br (materiais retentivos) são empregados


B

na confecção de ímãs permanentes. Quanto maior for a indução residual, menor será a
seção necessária para o ímã; quanto maior o campo coercitivo, menor poderá ser o seu
comprimento. Os materiais magnéticos conhecidos como ferrites são não-metálicos e,
portanto, tem resistividade elétrica muito alta. A densidade residual de magnetos de
ferrites é somente cerca de 0.2 a 0.4 Wb. Forças coercivas excepcionalmente altas, da
ordem de 200.000 ampères/metro, podem ser obtidas. Quando a densidade residual tiver
sido estabelecida em tal material, uma energia da ordem de 60.000 joules/m3 de material
é necessária para removê-la. Os magnetos feitos destes materiais são, portanto,
particularmente estáveis.
Os materiais magnéticos destinados às máquinas elétricas geralmente são
submetidos a fluxos variáveis e por isto devem ter área pequena no ciclo de histerese a
fim de reduzir as perdas de histerese. São utilizados, portanto, nestes casos, os materiais
magneticamente moles (macios) os quais apresentam baixa força coercitiva (valor de H
para o qual B é zero). O material magnético mais comumente utilizado em máquinas e
transformadores é uma liga de ferro com uma pequena quantidade de silício (≅ 3.5%)
isto pela fato de se ter observado que a introdução de silício no ferro nestas
porcentagens, pode não só melhorar as características magnéticas do material (menor
ciclo de histerese) como também aumentar a resistividade elétrica com conseqüente
redução das perdas de Foucault (para o ferro puro ρ = 10–7 Ω m, a adição de 4% de
silício aumenta ρ para 6 ×10–7 Ω m). O uso de técnicas especiais de laminação permite a
obtenção de lâminas de material magnético nas quais os cristais estão orientados ao
longo da direção de magnetização desejada. Esses materiais comercialmente disponíveis
na forma de chapas finas, também conhecidas por chapas de grãos orientados, têm
propriedades magnéticas superiores quando o campo magnético é alinhado na direção
de laminação das chapas.
Para os materiais magneticamente moles a curva média, também conhecida por
curva de magnetização, não se afasta muito das curvas do laço de histerese. Admite-se
em geral como hipótese que as perdas por histerese são desprezíveis e a característica
do material é a curva média. Se os antecedentes históricos de um material magnético
não são relevantes para o estudo em questão, então todos os cálculos práticos do
circuito magnético podem ser realizados usando a curva normal de magnetização.

1.3.2.1 Mudança de escala da curva normal de magnetização (CNM)


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Muitas vezes torna-se necessário a representação da CNM em outras escalas,


pois isto permite a resolução de problemas onde a não linearidade deve ser levada em
conta. Por exemplo, se a ordenada da característica B-H é multiplicada por N S e a
abcissa por l/N, a característica λ-I é obtida. Também multiplicando a ordenada por B S
e a abcissa por l, obtém-se a característica φ-ℑ. Deve-se salientar que estas só se
aplicam nas situações onde se pode supor haver uniformidade do campo magnético.
1.3.3. Modelos Aproximados para Características B-H:
Várias aproximações simples e úteis poderão ser obtidas se o efeito de histerese
no material for desprezado. Conforme citado no item 1.3.2, a maioria dos materiais
empregados em máquinas e transformadores são os magneticamente mole, para os quais
a aproximação usada é a curva normal de magnetização (figura 1.2b). Esta curva é o
lugar geométrico dos vértices de um conjunto de trajetórias de histerese (figura 1.2a).
Várias técnicas são aplicadas na análise, as quais envolvem a curva normal de
magnetização (CNM): método numérico, linearização (inclusive que preservam o efeito
de histerese) e não lineares, nos quais se trabalha com as curvas de magnetização
fornecida pelo fabricante.

A - Método Numérico:
Exemplo: Considere o circuito da figura 1.4a no qual E é uma tensão constante
aplicado à uma bobina em t = 0. A bobina é representada por sua resistência R e pelo
fluxo concatenado λ versus a curva de corrente i (figura 1.4b) Deseja-se a i(t).

λ λ
i i

+ R λ i
E
-
e = dλ / dt
λ2 λ2
λ1 λ1
i1 i Δ t 2Δ t t

a) circuito b) curva λ - i c) fluxo concate nado λ(t) e i(t)


Figura 1.4 - Método numérico de análise.

E = Ri + dλ/dt. Para t = 0 → i = 0
e = dλ /dt = E, quando t = 0 e i = 0
Admitindo que dλ/dt permanece aproximadamente constante para um Δt: λ1 ≅ E Δt
Da curva λ-i obtém-se i1. A inclinação da curva λ-t, para t = Δt, pode agora ser
determinada como:
⎛ dλ ⎞
⎜ ⎟ = E − R i1
⎝ dt ⎠ t = Δt
A seguir determina-se λ2:
⎛ dλ ⎞
λ 2 = λ 1 + Δt ⎜ ⎟
⎝ dt ⎠ t =Δt
A repetição continuada deste cálculo resulta nos elementos para as curvas de λ e
i, como funções do tempo (figura 1.4c). Este método numérico de solução é simples e
adequado a muitos sistemas não lineares.
B - Linearização por partes da CNM.
Em muitas análises, a CNM, pode ser representada adequadamente pela fig. 1.5
Conversão de Energia 13

B
inclinação μ sμ 0
Bk para: -Bk < B < Bk Ln = λ / i = N 2 S μ n μ 0 / l [H]
para: | B | > Bk Ls= λ / i = N 2 S μ sμ 0 / l [H]
onde:
inclinação μ n μ 0 Ln - indutância não saturada
Ls - indutância saturada
l - comprimento médio da trajetória de fluxo
Hk N - número de espiras.
H

-Bk

Figura 1.5 - Linearização por partes da curva B-H.


Para
Hk l di
I ≤ Ik = ⎯
⎯→ e = R i + Ln
N dt
di
I ≥ I k ⎯⎯ ⎯ ⎯⎯→ e = R i + Ls
dt

A solução de ambas equações, nos respectivos intervalos (ver exemplo 1.4), são
exponenciais simples. Outras linearizações deste tipo são apresentadas na figura 1.6(a) e
(b). A da figura 1.6(a) é útil na análise de equipamentos que operam longe da região
saturada da curva B-H (reatores saturáveis), e a figura 1.6(b), nas situações onde a
indutância saturada Ls é desprezível, em relação aos outros parâmetros do sistema que
está sendo analisado.

B B
inclinação μ sμ 0 inclinação zero
Bk Bk

H H

-Bk -Bk

a) μ n = oo b) μ n = oo , μ s = 0
Figura 1.6 - Linearização da curva normal de magnetização.
C - Linearização em torno do ponto de operação:

Quando o material fica sujeito a um campo magnético constante a


permeabilidade do material é uma função da densidade de fluxo. A permeabilidade
incremental é a tangente a curva B-H calculada no ponto de operação, figura 1.7
Conversão de Energia 14

Δ B2 ΔB1
B μ1 = lim
B2 Δ
ΔH 1 ⎯⎯→ 0 H 1
Δ H2 ΔB1 ⎯⎯→ 0

Δ B1
B1
Δ H1 ΔB2
μ2 = lim
Δ
ΔH 2 ⎯⎯→ 0 H 2

H2 ΔB2 ⎯⎯→ 0
H1 H

Figura 1.7 - Permeabilidade variável de um material ferromagnético.

Ex. 1.3: Considere a curva B-H para o aço fundido, figura 1.8. Obtenha uma
aproximação para a curva e comente sobre as discrepâncias.
B
[T]
1.1

1.0
curva B-H
0.9

0.8

0.7

0.6
aproximação linear
0.5
(inclinação = μr μ0 )
0.4

0.3

0.2

0.1

0.0
100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000
H [A/m]
Figura 1.8 - Aproximação da curva de magnetização para o aço fundido.

A aproximação é aceitável para valores de B de até 0.9 T. Acima deste valor, as


imprecisões da aproximação que seriam introduzidas em qualquer cálculo tornar-se-iam
sérias. Dentro de uma faixa linear aceitável, a curva B-H seria descrita pela relação
B = μ r μ0 H = μ H [T]. O valor de μ r para o exemplo seria de aproximadamente 1350.

Ex. 1.4(ilustrativo): Como exemplo de análise linear por partes, consideremos o


circuito da figura 1.9, um circuito RL, em que a resistência é linear, mas a indutância
não. Sendo a indutância definida por:

L = N dφ/dt = dλ/dt (auto-indutância é a taxa de variação das linhas de fluxo


com relação à corrente)
Somente quando dφ/dt é constante e independente de φ ou i, a indutância será
constante, e a equação acima será linear.
Conversão de Energia 15

CH φ

φ2
i

+ R φ1
V
- L φ0

B
A
(NI )1 (NI )2 fmm
a) circuito RL não-line ar b) curva normal de magne tização
line arizadas por parte
Figura 1.9 - Circuito magnético não linear, submetido a análise linear por partes.

Considerando que a curva normal de magnetização possa ser aproximada por


duas regiões lineares A e B, com inclinação aproximadamente constante, define-se duas
indutâncias:
φ1
- Na região A: L A = N 2
( NI )1

φ 2 − φ1
- Na região B: LB = N 2
( N I ) 2 − ( N I )1

No instante t = 0 fecha-se o interruptor. Para o circuito RL linear, a equação


diferencial linear do circuito seria (fmm < (N I )1)

di
L + Ri = V (I)
dt

Na região A a solução da equação diferencial seria:

⎛ −⎜ R ⎟ t ⎞
⎛ ⎞
V⎜ ⎝ LA ⎠ ⎟
i = ⎜1 − e ⎟ (II)
R⎜ ⎟
⎝ ⎠

Se, por outro lado, a corrente de regime estacionário i = V/R resulta uma fmm
> (N I )1, então a solução da equação (I) deve considerar que inicialmente L = LA, mas
varia para LB quando N I torna-se maior que (N I )1. A solução aproximada pode ser
B

determinada em dois passos.


i) Na região A (conforme eq. (II)):

⎛ ⎛ R ⎞ ⎞
−⎜ ⎟t

V⎜ ⎜L ⎟ ⎟
i= 1− e ⎝ A ⎠ ⎟ 0 < t < t1 (III)
R⎜ ⎟
⎜ ⎟
⎝ ⎠

Para obtermos t1 (tempo necessário para i atingir um valor I1 = (N I )1/N),


fixamos i = I1 na equação (II), e resolvemos para t = t1:
Conversão de Energia 16

⎛ ⎛ R ⎞ ⎞
⎛ ⎞
⎜ −⎜ ⎟t ⎟
−⎜⎜ R ⎟ .t1
V⎜ ⎜ ⎟ 1 ⎟
I1 = 1− e ⎝
L
A ⎠ ⎟ ou e ⎝
L
A ⎠ = 1 − I1R
R ⎜ ⎟ V
⎜ ⎟
⎝ ⎠
R ⎛ I R⎞ L ⎛ I R⎞
− t1 = ln⎜ 1 − 1 ⎟ ou t1 = − A ln⎜ 1 − 1 ⎟ (IV)
LA ⎝ V ⎠ R ⎝ V ⎠

Onde t1 é o tempo necessário para o fluxo no indutor aumentar de zero para φ1,
ou para aumentar a fmm de zero para (N I )1.

ii) Encontrar i para t > t1. Faz-se i = I1 + id. Rescrevendo-se a equação (I):

+ R (I 1 + id ) = V , Onde : = d (já que I 1 é cte)


di di di
LB
dt dt dt
di
LB d + R id = V − R I 1
dt

Cuja solução é: id =
V − R I1
R
(
1 − e − ( R L B ) t' )
Onde t' = t – t1 e i = I1 + id

⎡⎛ V ⎞ −(R ) ⎞⎤
i = I 1 + ⎢⎜ − I 1 ⎟.⎛⎜ 1 − e
L .t'
B
⎟⎥
⎣⎝ R ⎠⎝ ⎠⎦
⎛ V ⎞ −(R )( ) ⎞ + V ; t ≥ t
L t −t
i = ⎜ I 1 − ⎟ ⎛⎜ e B 1
⎟ 1 (V)
⎝ R⎠ ⎝ ⎠ R

Portanto, para a região A se aplica a equação (III); na região B, se aplica a


equação (V). O tempo t1, expresso na equação (IV), é a linha divisória entre as duas
regiões. A figura 1.10 apresenta i × t para o circuito da figura 1.9(a). A descontinuidade
existente em t1 (interseção das equações (III) e (V)), é produzida pela descontinuidade
na curva de magnetização, a qual é resultante da aproximação linear por partes para a
curva de magnetização.

V/R
I1

A B

t1 t
Figura 1.10 - Corrente × tempo para o circuito RL não linear da figura 1.9b.
Conversão de Energia 17

Ex. 1.5: O circuito magnético da figura 1.11(a), tem dimensões An = 9 cm2, Ag =


2
9 cm , lg = 0.05 cm, ln = 30 cm, N = 500 espiras. A curva normal de magnetização é
dada na figura 1.11(b). Calcular a corrente i para Bn = 1 Wb/m2. B

B
2.2
Hn [Wb/m2 ] 2.0
1.8
i 1.6
1.4
+ 1.2
e N 1.0
0.8
lg 0.6
0.4
ln 0.2
0.0
0.1 1.0 10 100 1000
H [Aesp/m x (102 )]
(a) circuito magnético equivalente (b) curva normal de magnetização para
o aço M-19 processado, bitola 29.
Figura 1.11 - Circuito magnético e curva de magnetização do exemplo 1.5.

O valor de Hn para B = 1 Wb/m2 é obtido da figura 1.11(b) como: Hn = 160 A/m

A ℑn para o percurso no núcleo é: ℑn = Hn ln = 160×0.3 = 48 A

Bg l g 5 × 10 −4
A ℑg para o entreferro é: ℑg = Hg lg = = = 396 A
μ0 4 π × 10 −7

A corrente resulta: N i = ℑg + ℑn → i = 444/500 = 0.89 A

Se considerarmos a curva linearizada, da mesma forma que na figura 1.8, tem-se


que:
ΔB 1−0
μn = = = 6.25 × 10 − 3 → μ r = 4973.6
ΔH 160 − 0

Bn l n B g l g
N i = Hn ln + Hg lg → N i = +
μn μg

Como φ = BnAn = BgAg, a corrente será dada por:


B B

Bn ⎛ l n ⎞
i = ⎜⎜ + l g ⎟⎟ ≅ 0.892 A
μ0 N ⎝ μ r ⎠

Note que a relutância do caminho de 30 cm no ferro é apenas 0.6/5.0 = 0.12 da


relutância do entreferro de 0.05 cm.

1.3.4. Modelos Lineares que preservam o efeito de Histerese:

Útil nos casos de equipamentos (máquinas de ímã permanente e máquinas de


histerese) cuja operação depende da propriedade de histerese do material magnético. A
análise destes equipamentos também pode ser realizada pelo uso de métodos de
linearizações por partes (figura 1.12).
Conversão de Energia 18
B
inclinação = μ sμ 0
Br

inclinação = μ n μ 0

Hc H

Figura 1.12 - Trajetórias de histerese e um modelo linearizado aproximado das trajetórias (material
magnético doce).

A trajetória externa pode ser aproximada por quatro linhas retas, duas das quais
têm inclinação μrμ0, e as outras duas, uma inclinação μsμ0. As aproximações são
razoavelmente precisas, exceto nos vértices das trajetórias. As áreas envolvidas pela
trajetória real e seu modelo linearizado podem ser feitos aproximadamente iguais, por
uma escolha conveniente do modelo, resultando num que tenha a mesma perda por
histerese que a trajetória real.
Pelo uso de técnicas especiais de laminação, pode-se produzir lâminas de
material magnético nas quais os cristais estão orientados ao longo da direção de
magnetização desejada. Nestes materiais magnéticos de grãos orientados (figura 1.13),
os lados da trajetória são essencialmente verticais, e as porções saturadas aproximam-se
de uma inclinação incremental μ0.
B
[T]
1.6

1.2

0.8

0.4
H [A/m]
-20 -10 10 20
-0.4

-0.8

-1.2

-1.6
Figura 1.13 - Densidade de fluxo magnético B versus intensidade de campo H, para 50% de ferro e 50% de
níquel na composição do núcleo (deltamax).

Ex. 1.6 (ilustrativo): Suponha que um indutor tem uma característica idealizada
de histerese como a apresentada na figura 1.14(a). Considere como ponto de partida, o
ponto A, onde i = 0 e φ = –1. Com a forma de onda para corrente dada pela figura
1.14(b), determine a tensão v no indutor. Observa-se que

| i | > 3 Æ φ permanece constante,


| i | < 3 Æ φ pode assumir dois valores para cada i.

Para se obter a tensão no indutor, basta derivar a função φ(t), a qual, por sua vez,
é obtida, facilmente, observando a forma de onda para i e a característica φ × i para o
Conversão de Energia 19

material. Esta espécie de idealização e cálculo era usada comumente na análise de


amplificadores magnéticos e alguns circuitos de computador.

φ [Wb] i [A]
4
3
1
2
-3 -2 1 1 8 24
-1 2 3 I [A] -1
4 12 16 20
t [s]
-2
A
-3
-1
-4
(b)
φ [Wb]
(a)
1
1 11 17
3 9 19
t [s]
-1
(c)
v [V]
1
t [s]

1 3 9 11 17 19
-1
(d)

Figura 1.14 - a) Curva Característica; b) Forma de Onda de i(t); c) Forma de Onda de φ(t); d) Forma de onda
de v(t).
Conversão de Energia 20

1.4. Circuitos Magnéticos (Não Linear)

No item 1.2 fez-se uma introdução aos circuitos magnéticos lineares (no caso
toróide) nos quais uma expressão simples relaciona o fluxo com a fmm através da
relutância (equação 1.7) e que era conhecida como a lei de Ohm para circuitos
magnéticos.
Em máquinas elétricas, transformadores, reatores, instrumentos de medição, etc.,
é utilizado material magnético de diversos tipos e formas. Várias partes de uma
estrutura magnética ramificada são envolvidas por bobinas. Os circuitos
ferromagnéticos não são lineares porque a permeabilidade do meio é variável e é função
da densidade de fluxo magnético na estrutura. Uma aplicação direta da lei de Ohm é
impraticável, porque a relutância é uma função da densidade de fluxo.
Basicamente os cálculos envolvendo circuitos magnéticos com materiais
ferromagnéticos se dividem em duas classes:

i - Na primeira, o valor do fluxo é conhecido e se deseja encontrar a f.m.m.


necessária para produzi-lo. Esta é a situação típica do projeto de conversores
eletromecânicos (de energia), em corrente contínua ou alternada. Com base
na tensão nominal desejada para um gerador ou no torque nominal de um
motor elétrico a informação sobre o fluxo magnético necessário é
prontamente obtida. Então, com o conhecimento deste e da posse da
configuração magnética, a fmm total, necessária para se obter o fluxo, pode
ser determinada.

ii - Na segunda, conhece-se a fmm e o sistema magnético (geometria) e deseja-se


obter o fluxo. Uma aplicação típica é em amplificadores magnéticos (são
conexões de elementos magnéticos saturáveis e retificadores, usados para
controlar o fluxo de potência entregue a uma carga), onde freqüentemente é
necessário encontrar o fluxo magnético resultante produzido por um ou mais
enrolamentos de controle.

Dois sistemas magnéticos típicos e suas correspondentes representações em


circuitos magnéticos, são apresentados na figura 1.15. Basicamente têm-se um problema
complexo de campo tridimensional. Mas, pelo uso de suposições simplificadoras, o
sistema magnético pode ser substituído por circuitos magnéticos. Estas suposições
seriam:

a) Sua configuração geométrica é simétrica a certos eixos ou planos, de tal forma


que se pode representá-lo, como primeiro passo, por um diagrama
esquemático (figura 1.15(b) e (b’)).

b) Admite-se que, exceto no entreferro, todo o fluxo magnético está confinado


ao material magnético, ou seja, o fluxo de dispersão (φd) é considerado
desprezível.
Conversão de Energia 21

Núcleo
ferromagnético

φm I
I φm Bobina
Bobina
de φd Núcleo φd de
ferromagnético excitação
excitação entreferro2
entreferro1

armadura
pivô (ferromagnética)

(a) Estrutura magnética de um reator ou transformador ( a' ) Estrutura magnética de um rele eletromagnético

comprimento médio da
trajetória magnética, l m
φm φm
I I
φd φd seção transversal
do núcleo
pivô entreferro1

área A
seção transversal
entreferro2
da armadura
( b) Diagrama esquemático da estrutura magnética acima ( b' ) Diagrama esquemático da estrutura magnética acima

Relutância do
núcleo

φm Rc=fc (Bc ) Relutância do


+ Re 2 entreferro 2
φm F=NI
+
F=NI R Relutância Re 1 Ra =fa(Ba) Relutância da
variável fmm armadura

fmm Relutância do
entreferro 1

(c) Representação do dispositivo por meio de um ( c' ) Representação do dispositivo por meio de um
circuito magnético circuito magnético

Figura 1.15 - Sistemas magnéticos típicos.

Nem sempre se pode considerar o fluxo de dispersão como sendo desprezível.


Cada problema deverá ser examinado para se ter uma avaliação apropriada. É difícil
expressar-se o fluxo de dispersão em termos matemáticos exatos, uma vez que as
trajetórias que este fluxo percorre são, em geral, de difícil determinação. A título de
informação, a desconsideração do fluxo de dissipação introduz erros da ordem de 10%
no número total de ampères-espiras calculadas. O valor deste erro depende de quão
próximo da saturação está a substância magnética. Na prática o projetista baseia-se
principalmente na sua experiência, para efetuar a sua estimativa. Quando não se dispõe
de experiência prévia (ex. uma estrutura ainda não conhecida) a saída é construir-se um
modelo, e medir o fluxo de dispersão. Observa-se que o fluxo de dispersão embora não
seja útil de nenhum modo, terá de ser transportado pelo material magnético e com isso,
poderá acarretar saturação do meio e, consequentemente, introduzir um grande erro no
cálculo do número de espiras necessárias para o circuito. Quando deseja-se considerar o
fluxo de dispersão, faz-se uso de fórmulas empíricas.

1.4.1. Métodos de Análises de Circuitos Ferromagnéticos

Hipóteses assumidas:

a) A densidade de fluxo em qualquer seção transversal da estrutura pode ser


considerada uniforme, ou seja, φ = B × A.
Conversão de Energia 22

b) O comprimento médio da trajetória magnética pode ser usado em todos os


cálculos.
c) A equação (1.5) pode ser usada para calcular a fmm total requerida para
estabelecer uma quantidade específica de fluxo no circuito magnético. Ex.:

Na figura 1.15(b): fmm = N I = Hln


Na figura 1.15(b’): fmm = N I = Hclcm + Halam + He1le1m + He2le2m (1.12)

Em geral, ter-se-á: ℑ = N I = ∑ H j l jm (1.13)


j
Observa-se que ℑ = H l quando a intensidade de campo H é uniforme no trecho
de comprimento l. A equação (1.13) é análoga a lei de tensão de Kirchhoff para
circuitos elétricos. Em termos de quantidades magnéticas segue.

“Em um circuito magnético, a soma algébrica dos potenciais magnéticos em um


percurso fechado é igual a zero” ou
“Em um circuito série fechado, a soma das elevações de potencial é igual a soma
das quedas de potencial”.

d) Considerando-se uma região (numa estrutura magnética) onde os fluxos


magnéticos de várias partes se combinam (figura 1.16 abaixo):
superfície S infinitamente pequena
ao redor de P

Φ3 S Φ2
P

Φ1

Figura 1.16 - Figura mostrando a continuidade das linhas de fluxo em uma união de uma estrutura magnética.
G G
∫S B.dS = 0 (1.14)

Ou seja, que a soma dos fluxos que entram é igual a dos que saem.

A equação (1.14) é análoga a lei de Kirchhoff para correntes, nos circuitos


elétricos. Os fluxos de dispersão são considerados desprezíveis na equação (1.14).

1.4.2. Derivação de Circuitos Elétricos Equivalentes

Um circuito magnético equivalente, tal como o que é apresentado nas figuras


1.15(c) e 1.15(c’), é mais útil na análise e projeto de um equipamento. Contudo, se o
equipamento for conectado a outros elementos elétricos, será desejável ter um circuito
equivalente para o equipamento, do qual as relações entre as tensões e correntes
terminais podem ser obtidas diretamente.
Conversão de Energia 23

No circuito elétrico equivalente, as variáveis são a tensão e, entre os terminais da


bobina, e a corrente i, na bobina. De acordo com a lei de Faraday, se o campo
magnético varia com o tempo, produz-se um campo elétrico E no espaço dado pela
equação:

∫ E .dl =
d
(∫ B.dS ) (1.15)
dt S

Onde a integral de linha é calculada ao longo do contorno da superfície aberta


atravessada por B. A unidade de E é Volt/metro [V/m]. A lei de Faraday e a lei de Lenz
podem ser combinadas, e o resultado pode ser expresso, matematicamente, por:

d (N φ) dλ
e(t ) = − =− (1.16)
dt dt

O sinal negativo corresponde à convenção para gerador, ou seja, e(t) é


considerado uma fonte de tensão (*). Uma elevação de tensão e se opõe, em cada
instante de tempo, à variação da tensão. Eliminando-se o sinal negativo, está-se
considerando que a tensão induzida é uma queda de tensão. Para circuitos lineares
(onde o μ é constante ou para aqueles em que há predominância do entreferro):
λ Nφ
L= = (1.17)
i i
Que expressa em grandezas de campo:
N 2 B S N 2μ S N 2
L= = = = N 2P (1.18)
Hl l ℜ

d ⎛ ℑ N ⎞ d ⎛⎜ N 2 i ⎞⎟
∴ e = (L i )
d
e= ⎜ ⎟= ⎜ (1.19)
dt ⎝ ℜ ⎠ dt ⎝ ℜ ⎠ ⎟ dt

Para circuitos magnéticos como os das máquinas, a indutância pode ser variável
no tempo, e a equação (1.19) fica:
di dL
e=L +i (1.20)
dt dt

Para circuitos magnéticos estáticos a indutância é fixa, e a equação se reduz à


forma bem conhecida para circuitos:
di
e=L (1.21)
dt

(*) Da lei da indução magnética na forma da equação (1.16), conclui-se que,


para se obter uma fem de sentido constante, é necessário que o fluxo varie num só
sentido. Criar uma variação contínua de fluxo num sentido único, ao longo do tempo, é
impossível e, por conseguinte, é impossível obter uma fem contínua, meramente à custa
da variação da indução eletromagnética, sem comutar o circuito. Daí a impossibilidade,
por princípio, de construir uma máquina de corrente contínua sem coletor.
Conversão de Energia 24

Portanto, o parâmetro ℜ relutância, no circuito magnético, é substituído por um


parâmetro L de indutância no circuito elétrico equivalente. O valor da indutância é
inversamente proporcional ao valor da relutância.
Como visto anteriormente, se o parâmetro ℜ não for constante, ele pode ser
representado por uma curva relacionando ℑ e φ. A indutância não linear correspondente
pode ser representada por uma curva relacionando o fluxo concatenado λ com a
corrente i. Aproximações, como as apresentadas nas figuras 1.4(b), 1.6, 1.8, 1.12 e 1.14,
podem ser usadas para esta relação, onde forem apropriadas. A transformação de um
circuito magnético em um elétrico equivalente não será aqui apresentada com muito
rigor, apenas com um simples exemplo.

Ex. 1.7: Indutor com núcleo de dois materiais diferentes, figura 1.17

φ
I φ
+ λ=Nφ +
R1 +
1 R1
+ + + F =
F=NI
fator N L1
v e 2 N2
+ N +
R2
1
=
R2
1
L2 N2

( a ) Núcleo ( b ) Circuitos magnéticos

+ + +
v=e L2 L2

( c ) Circuito elétrico equivalente

Figura 1.17 - Transformação: circuito magnético em circuito elétrico.

ℑ = ℜ 1φ + ℜ 2 φ N i = ℜ 1φ + ℜ 2 φ
ℜ 1λ ℜ2λ 1 1
N 2 i = ℜ 1λ + ℜ 2 λ i= + = λ+ λ
2 2 L1 L2
N N
di ⎛ 1 1 ⎞ dλ
= ⎜⎜ + ⎟⎟
dt ⎝ L1 L2 ⎠ dt

Ex. 1.8: No sistema magnético apresentado na figura 1.18a, empregar a curva de


magnetização da figura 1.18b para determinar:
a) A corrente da bobina, necessária para produzir um fluxo total φ = 0.25×10–3 Wb.
b) A relutância de toda a trajetória de fluxo.
c) A permeabilidade relativa μ r, para cada material, nestas condições.
d) A relutância de cada parte, núcleo de ferro fundido e de aço fundido do sistema
magnético.
Conversão de Energia 25
B [ tesla ]
100 chapa de aço laminado padrão M36 29
2.0

1.8

25 1.6
Bf aço
ferro fundido
1.4 fundido

1.2
30
aço fundido 1.0
Ba
25 0.8
ferro
fundido
25 0.6
φ 12.5
0.4

0.2
I N = 500 I
dimensões em mm
25 0.0 500 1000 1500 2000 2500 3000
H [ A/m ]
( a ) sistema magnético ( b ) curva de magnetização

φ +
+ Rf
F= N I
+ ( c ) circuito magnético equivalente
Ra

Figura 1.18 - Sistema magnético de dois materiais diferentes, ex. 1.8.

Considere o fluxo de dispersão desprezível.

a) O sistema magnético pode ser representado pelo circuito magnético


equivalente da figura 1.18(c), onde ℜf é a relutância do ferro fundido e ℜa é a do aço
fundido. Assume-se que a densidade de fluxo é uniforme em cada parte do sistema e,
consequentemente, H também será uniforme em cada parte. Então pela lei circuital de
Ampère:
G G
∫ H .dl = H f l f + H a l a = N I [ A]

O valor de H necessário para produzir 0.25×10–3 Wb em cada parte, deve ser


determinada:

Af = 25×25×10–6 m2 Aa = 12.5×25×10–6 m2

φ 0.25 × 10 −3 φ 0.25 × 10 −3
Bf = = = 0 .4 T e B a = = = 0 .8 T
Af 625 × 10 −6 Aa 312.5 × 10 −6

Assim, da figura 1.18(b), Hf = 710 A/m e Ha = 480 A/m.


⎛ 25 + 12.5 ⎞ 2 × 25
l f = (80 − 25 ) + 2⎜ 100 − ⎟+ = 242.5mm = 0.2425m
⎝ 2 ⎠ 2
l a = 30 × 10 −3 m
H f l f + H a la 710 × 0.2425 + 480 × 30 × 10 −3
I= = = 0.373 A
N 500
Conversão de Energia 26

ℑ NI 500 × 0.73
b) ℜ = = = −3
= 746 × 10 3 A/Wb
φ φ 0.25 × 10
B 0 .4
c) μ r μ0 = =μ μ rf = = 448 , portanto, o ferro
H 4 π × 10 −7 × 710
fundido é 448 vezes mais eficiente que o ar na produção de um campo magnético desta
densidade de fluxo (B).
0 .8
μ ra = = 1330 , e o aço é mais eficiente que o ferro fundido.
4 π × 10 −7 × 480
lf 0.2425
d) ℜ f = = = 690 × 10 3 A/Wb
μ rf μ 0 A f −7 2 −6
448 × 4 π × 10 × 25 × 10

la 3 × 10 −2
ℜa = = = 57.7 × 10 3 A/Wb

μ ra μ 0 Aa 1330 × 4 π × 10 × 25 × 12.5 × 10
7 − 6

Teste: ℜ f + ℜ a = (690 + 58 ) × 10 3 = 748 × 10 3 = ℜ

Observa-se que o ferro necessita de uma fmm bem maior que a do aço para fazer
fluir o fluxo, o que se deve a baixa permeabilidade do ferro.

1.4.2.0 Efeito do Entreferro em Circuitos Ferromagnéticos

São bastantes comuns os circuitos magnéticos com pequenos entreferros de ar,


os quais ou são inerentes, ou são introduzidos intencionalmente. Ex.: no caso do relé da
figura 1.15 é obvio que o entreferro 1 é necessário e introduzido intencionalmente, já o
entreferro 2 é inerente à construção do relé, sendo introduzido pela presença do pivô.
Outro exemplo é o dos entreferros intencionais nos indutores de núcleo de ferro de
grande indutância. Para se obter uma grande indutância, é necessário o núcleo
ferromagnético, porém, pequenos entreferros são introduzidos intencionalmente para
obter-se uma indutância pouco sensível às mudanças de corrente na bobina de
excitação.
A introdução de entreferros ocasiona o espraiamento do fluxo, de modo que a
área efetiva de fluxo no entreferro é maior do que a área do núcleo adjacente, este seria
o efeito marginal. Também, a sua presença ocasiona o fluxo de dispersão, devida a alta
diferença de potencial magnético que pode existir, fluxo este, que não passará através
do entreferro. O efeito marginal faz com que B no entreferro seja menor que o do
material ferromagnético, visto que sua área efetiva seria maior. O cálculo desta área é
muito difícil, e na prática, faz-se uso de fórmulas empíricas, as quais fornecem um
resultado satisfatório, caso o comprimento do entreferro seja inferior a 15% ou 20% das
dimensões da seção transversal do núcleo ferromagnético no entreferro, e se suas faces
opostas são paralelas.
1. Considerando o núcleo de seção reta retangular, com dimensões a e b:
Conversão de Energia 27
espraiamento
b

le

Ae = (a + le )(b + l e ) (1.22)
Obs: Se o fluxo total no entreferro é conhecido, pode-se obter He e Hele
diretamente:
1 ⎛ φ ⎞ l φ
He = ⎜⎜ ⎟⎟ H e le = e
μ 0 ⎝ Ae ⎠ μ 0 Ae
2. Se os lados opostos do entreferro são paralelos, porém tem diferentes
dimensões em sua seção transversal, a área efetiva será dada por:
Ae = (a + 2l e )(b + 2le ) (1.23)
Onde a e b são as dimensões da seção transversal da face menor.

Para seções transversais circulares como no primeiro caso, o diâmetro é


incrementado pelo comprimento do entreferro, e no segundo, o diâmetro da seção
menor é incrementado pelo dobro do comprimento do entreferro.
Em muitos sistemas magnéticos bem projetados a relutância do material do
núcleo é pequena quando comparada ao do entreferro, e o problema se reduz a um
simples cálculo envolvendo somente as relutâncias do entreferro. Desde que a
permeabilidade do ar é uma constante, estas relutâncias são independentes do fluxo, e a
solução pode ser obtida diretamente. Contudo, se a relutância do núcleo é apreciável, a
não-linearidade entre φ e μ torna a solução um pouco mais complicada, exigindo na
análise as curvas características do material do núcleo.

Ex. 1.9: Determine o número de ampères-espiras requerida para produzir um


fluxo de 0.5×10–3 webers em um núcleo toroidal de seção transversal 10 cm2 e
comprimento médio 30 cm. Um entreferro de 3 mm é efetuado no núcleo, e o material
do núcleo é aço silício.
Conversão de Energia 28

B [Wb/m2]

H [A/m]
Obs: - a saturação é indicada pela semelhança entre as curvas do material e a do ar.
- a escala logarítmica é utilizada para a abcissa quando deseja-se apresentar uma grande variedade de
curvas de materiais magnéticos.
Figura 1.19 - Curva de magnetização aço-silício e do ar.
Desprezando o espraiamento no entreferro, a relutância do entreferro torna-se:
le 3 × 10 −7
ℜe = = = 2.38 × 10 6 A esp /Wb ,

μ 0 Ae 4 π × 10 × 10
7 − 3

e a fmm necessário ao entreferro:

ℑ = ℜ e φ = 2.38 × 10 6 × 0.5 × 10 −3 = 1.19 × 10 3 A esp

Para o núcleo, utiliza-se a curva da figura 1.19; a densidade de fluxo no núcleo


é:

φ 0.5 × 10 −3
Bn = = = 0.5 Wb/m 2 ,
An − 3
10
da curva de magnetização, a intensidade de campo requerida é: Hn = 70 Aesp/m.
A fmm requerida pelo núcleo é: ℑn = H n l n = 70(0.3 − 0.003) = 20.8 A esp .
A fmm total requerida para produzir o fluxo desejado é: ℑ = ℑe + ℑn =1210 Aesp.
Note que neste caso a fmm requerida pelo núcleo (ou a relutância do núcleo) é
desprezível quando comparada com a requerida pelo entreferro. Contudo, se o fluxo no
núcleo for de 1.5×10–3 Wb, a solução seria consideravelmente diferente. Desde que a
relutância do entreferro é constante, a fmm requerida pelo entreferro torna-se:
ℑe = ℜeφ = 2.38×106×1.5×10–3 = 3570 Aesp,
ou 3 vezes o valor original. O núcleo, contudo, está muito próximo da saturação. Uma
densidade de fluxo de 1.5 Wb/m2 exige uma intensidade de campo:

Hn = 2.8×103 Aesp/m

E a fmm torna-se: ℑn = 2800(0.3 – 0.003) = 830 Aesp


Conversão de Energia 29

Note que agora o núcleo requer uma proporção da fmm total muito maior do que
a anterior. A fmm do núcleo aumentou de 40 vezes, enquanto que a do entreferro,
apenas 3 vezes. Este tipo de comportamento é típico de materiais ferromagnéticos.

1.4.2.1. Efeito de linearização devido a presença de Entreferro

A curva de magnetização para circuitos magnéticos com entreferro é muito


diferente das de circuitos sem entreferros. Isto se deve à baixa relutância apresentada
por materiais ferromagnéticos de alta permeabilidade, quando submetidos a baixas
densidades de fluxo. Claramente, a forma da curva para baixas densidades de fluxo é
principalmente determinada pelo entreferro, e portanto, é uma linha reta. Já para altos
valores de fluxo, o núcleo torna-se um fator significativo, e a curva aplana-se ou satura.
A importância do entreferro é ilustrado na figura 1.20, que foi plotada para o núcleo do
exemplo 1.9. As curvas de magnetização para o entreferro, para o núcleo, e para o
circuito combinado, são apresentados com o intuito de comparação. Observe como a
característica do entreferro é dominante para valores de fluxo abaixo de 1×10–3 weber
(densidade de fluxo menor que 1 Wb/m2). Isto é típico de todos os circuitos magnéticos
contendo entreferros.
entreferro de
6 mm
entreferro de
3 mm
B [ Wb/m2 ]

2.0 Somente o núcleo

1.6

núcleo
1.2 +
entreferro

0.8

0.4

0 2000 4000 6000 8000 10000


fmm [ A-esp ]

Figura 1.20 - Curvas de magnetização de um núcleo toroidal de um aço-silício de comprimento médio 30 cm, e
seção transversal igual a 10 cm2.

Ex. 1.10 (ilustrativo): A figura 1.21 mostra a seção transversal de um sistema


magnético de uma máquina de corrente contínua tirada em ângulo reto ao eixo do rotor.
Em cada um dos quatro pólos do estator existe uma bobina de 500 espiras; e uma vez
que estas estão conectadas em série, conduzem a mesma corrente. Os pólos do estator
são feitos de muitas lâminas de chapas de aço M-36 (espessura: 0.356 mm); eles têm
100 mm na direção radial, 90 mm circunferencialmente, e 110 mm axialmente (ou seja,
perpendicular ao plano da figura). O rotor também é de chapas de aço e diâmetro igual a
200 mm. O comprimento axial efetivo do rotor é o mesmo dos pólos do estator. O
núcleo do estator é de aço fundido e tem um diâmetro médio de 460 mm e uma seção
transversal de 150×60 mm. Os entreferros são de comprimento igual a 1.5 mm.
Obs: o M-36 é uma designação AISI (American Iron and Steel Institute) para
determinadas chapas de aço-silício, e está relacionada à máxima perda no núcleo. O
Conversão de Energia 30

prefixo M significa que é um material para aplicações magnéticas; o número que


aparece em seguida está relacionado com a perda no ferro.

a) Desenhar o circuito magnético equivalente para este sistema.

O circuito magnético equivalente é apresentado na figura 1.22. Esta inclui


apenas dois dos pólos de campo. Os subscritos p, e, r e s indicam, respectivamente:
pólos, entreferro, rotor e estator.

b) Empregando as curvas da figura 1.23, determine a corrente na bobina


necessária para produzir uma densidade de fluxo de 1,0 tesla no entreferro.
As permeabilidades relativas das ferromagnéticas do sistema não são conhecidas
e serão, em todo o caso, funções da densidade de fluxo. Contudo, a lei circuital pode ser
aplicada a um dos caminhos, indicados pelas linhas, da figura 1.21. Então, para
qualquer um dos caminhos indicados na figura 1.21:
G G G G
∫ H .dl = ∫ J .dA (1)
Isto é,
pólo do estator
estator ( chapas de aço M36 )
( aço fundido )

φ
φ/2 φ/2
N

φ/2 φ/2 entreferro

φ S S φ

eixo

rotor
bobinas de campo ( chapas de aço )
Figura 1.21 - Seção transversal da máquina do exemplo 1.10.
Conversão de Energia 31

φ/2
F

Rp

Rs φ

Re
φ /2

Rr
φ/2 Rr φ/2
F Rp Re
φ φ
φ/2 Rr φ/2
φ/2 Rr

Figura 1.22 – Circuito magnético equivalente.


Conversão de Energia 31
B
[T]
2.0
chapa de aço
M36-29(bitola)
1.8

1.6
aço fundido
1.4

1.2

1.0

0.8
ferro fundido
0.6

0.4

0.2

0.0 H
210 500 1000 1500 2000 2500 3000 [A/m]
Figura 1.23 - Curva de magnetização.

2 H p l p + 2 H e le + H r l r + 2 H s l s = 2 N I (2)

Supondo que não há espraiamento (efeito de borda) no entreferro, a área da


seção transversal no caminho do fluxo no pólo será o mesmo do entreferro,
consequentemente, Bp = Be = 1.0 T, e o fluxo em cada pólo é:
B

φ = Be Ae = 1.0 × 0.11 × 0.09 = 9.9 × 10 −3 Wb (3)

Be 1,0
He = = −7
= 0.7958 × 10 6 A/m , (4)
μ 0 4 π × 10
da curva de magnetização da chapa de aço na figura 1.23: Hp = 210 A/m. No rotor, o
fluxo φ de cada pólo se divide igualmente entre os dois caminhos, conforme indicado na
figura 1.22. Assim, Br = φ/(2Ar). Assumindo que Ar = raio do rotor × comprimento axial
B

do pólo do estator, logo: Ar = 0.1×0.11 = 11×10–3 m2

9.9 × 10 −3
Portanto: Br = = 0.450 T . Da figura 1.23: Hr = 40 A/m.
2 × 11 × 10 −3

No estator, φ também é divido entre dois caminhos, e:

φ 9.9 × 10 −3
Bs = = = 0.550 T
2 As 2 × 0.15 × 0.06

Da figura 1.23, temos: Hs = 295 A/m


Conversão de Energia 32

2l e = 2 × 1.5 × 10 −3 = 3.0 × 10 −3 m
2l p = 2 × 0.1 = 0.2 m
πDr π × 0.2
lr ≅ = = 0.1571 m
4 4
πDs π × 0.46
ls ≅ = = 0.3613m
4 4
Substituindo na equação (2), tem-se:

210 × 0.2 + 0.7958 × 10 6 × 3 × 10 −3 + 40 × 0.1571 + 295 × 0.3613 = 2 × 500 i


→ 42 + 2387 + 6 + 107 = 1000 i

Note que o efeito predominante é do entreferro. Logo i = 2.54 A


Estes cálculos poderiam ser refeitos para uma série de valores de B no
entreferro. Assim, a curva de magnetização φ × i da máquina poderia ser obtida.
c) Calcular o fluxo concatenado nas bobinas de campo.
O fluxo concatenado total das 4 bobinas conectadas em série é:

λ = 4Nφ = 4×500×9.9×10–3 = 19.8 Wb


d) A indutância de todo o circuito de campo.
λ 19.8
Com base nas hipóteses de linearização especificadas, L = = = 7.80 H
i 2.54
e) A energia armazenada no sistema magnético.
1 7.8 × 2.54 2
WB = L i 2 = = 25.2 J
2 2
f) A energia armazenada no entreferro.
A densidade de energia no entreferro é:
2
1 Be 1 12
wB = = = 0.398 × 10 6 J/m 3
2 μ0 2 4 π × 10 −7

A energia armazenada nos 4 entreferros é assim:

WB = 4×0.09×0.11×1.5×10–3×0.398×10 6 = 23.6 J
B

Os resultados obtidos de e) e f) parecem dar a entender que a energia


armazenada nas partes ferromagnéticas do sistema é igual a 25.2 – 23.6 = 1.60 J.
Contudo, deve ser lembrado que o resultado de e) foi obtido com base na hipótese de
que a curva B-H para os materiais eram linhas retas passavam através da origem e dos
pontos das curvas da figura 1.23 correspondentes às densidades de fluxo reais nos
materiais. A área situada entre a curva B-H e o eixo B, apresentada na figura a seguir,
expressa a densidade de energia no material e desde que a característica verdadeira é
uma curva, a aproximação por uma reta fornece um valor alto para a energia
Conversão de Energia 33

armazenada nos materiais. Contudo, desde que os materiais do sistema estejam longe da
saturação, o erro envolvido será pequeno. O cálculo exato poderia ser obtido, pela
determinação das áreas da figura 1.23.
B H = fi(B) B
ΔWB1 ΔWB2 H = fd(B)
B2
B2

B1 B1

H1 H2 H H'1 H'2 H
(a) (b)
B2
(a) ΔW B
1
= ∫ HdB J/m 3 , aumento de energia no campo magnético quando a densidade B1 Î B2
B1
B1
(b) ΔW B
2
= ∫ HdB J/m 3 , diminuição de energia no campo magnético quando a densidade B2 Î B1
B2
Figura – Curvas B-H para material ferro-magnético.

Ex.: 1.11: O núcleo magnético de ferro fundido apresentado na figura 1.24 tem
área An = 4 cm2 e um comprimento médio de 0.438 m. O entreferro de 2 mm tem área
aparente Ae = 4.84 cm2. Determine o fluxo no entreferro.

F = 1000 A 2mm

Figura 1.24 - Sistema magnético.


Conversão de Energia 34
B
[T]
Aço fundido
1.6 Aço-silício
Liga de ferro-níquel

1.4

1.2

1.0

0.8 Ferro fundido

0.6

0.4

0.2

0.0
1000 2000 3000 4000 5000 6000
H [A/m]
Figura 1.25 - Curvas B-H.

+
φ
+ Rn
F +
Re
circuito magnético equivalente

Dados: Entreferro: (área equivalente do entreferro) Ae= 4.84 cm2 e le = 2 mm


Ferro fundido: An = 4 cm2 e ln = 0.438 m
Da lei circuital: ℑ = N I = 1000 A esp = H e l e + H n l n (1)

φ e = φ n ou Be Ae = Bn An (2)

Tem-se que encontrar φe = φn de maneira que satisfaça a equação (1). A


dificuldade se deve ao fato de que He e Hn dependem do fluxo, que é o valor a ser
encontrado.

- Método 1: Método da tentativa e erro.

1º. Passo: Suponha que a f.m.m. total (1000 Aesp) se encontra no entreferro.
1000
Hele = 1000 Aesp → H e = = 5 × 10 5 A esp /m
2 × 10 −3
Be = μ 0 H e = 4 π × 10 −7 × 5 × 10 5 ≅ 0.628 Wb/m 2
φ e = Be Ae = 0.628 × 4.84 × 10 −4 = 3.04 × 10 −4 Wb
Conversão de Energia 35

2º. Passo: Suponha que a fmm total se encontra na porção do material


magnético.
1000
H n l n = 1000 → H n = ≅ 2283.1 A esp /m
0.438
Da curva de magnetização: Bn = 0.6 T.
B

φ n = Bn An = 0.6 × 4 × 10 −4 = 2.4 × 10 −4 Wb

Os valores de φe e φn são os valores extremos. É obvio que o valor real do fluxo


é menor do que ambos.
3º. Passo: Suponha um valor de fluxo menor que os valores extremos obtidos.

φe = φn = 1.82×10-4 Wb = φ
Calcule as fmm nas várias partes da estrutura magnética.
φle
H e le = = 600 A
μ 0 Ae
φ
Bn = = 0.46 T → H n = 1340 A/m , e a queda no núcleo é portanto:
An
H n l n = 1340(0.438) = 587 A , e assim: H e le + H n l n = 1187 A

O que excede os 1000A de fmm da bobina. Por conseguinte, os valores de Bn, B

inferiores a 0.46 T devem ser testados até que a soma de ℑn e ℑe seja 1000A. Os valores
de Bn = 0.41 T e φ = 1.6 Wb, fornecem resultado bem próximos aos 1000A.
B

- Método 2: Método gráfico.

A fmm total ℑ é igual a soma das fmm’s do entreferro e do núcleo, ou seja:

ℑ = ℑn + ℑe
φ l
Como a ℑe = l e = ℜ e φ, onde ℜ e = e , substituindo ℑe por ℜeφ, tem-se:
μ 0 Ae μ 0 Ae

ℑn = ℑ − ℜ e φ

Que é a equação de uma reta que corta os eixos coordenados (ℑn,φ) nos pontos
(0, ℑ ℜ e ) e (ℑ,0), com inclinação (1/ℜe) em relação ao eixo das abcissas (ℑn). Esta reta
é conhecida pelo nome: “reta de entreferro negativo”.
Por outro lado, ℑn deve satisfazer à curva de magnetização do material
ferromagnético, φ × ℑn, obtida da curva Bn × Hn do material através das equações:
B

φn = BnAn e ℑn = Hnln e que para o nosso exemplo fica: φn = 4×10–4Bn B e


ℑn = 0.438 Hn
Conversão de Energia 36

φ[Wb] curva φn x Fn

(0, F)
Re
P solução do
φn = φ e problema
μ0 Ae
F reta de φe x Fe (invertida),inclinação P e
le

(F ,0)
0
Hnln Hele Fn[Aesp]
F = Hnln + Hele
Figura 1.26 - Ilustração do método gráfico.

Pode-se observar que P satisfaz simultaneamente a ambas as equações (1) e (2).


Na prática, não é necessário obter a curva φn × ℑn. Na figura 1.26, se as ordenadas são
divididas por An e as abcissas por ln, tem-se a figura 1.27.
B[T]
curva Bn x Hn
PeF
( 0, An )
P solução do
problema

Pe F
An
reta do entreferro ajustada

H[Aesp/m]

( F ,0)
0
Hn Hele
ln
ln
F
ln

Figura 1.27 - Ilustração do método gráfico modificado.

Pode-se resolver também, da seguinte forma:

Conhecidas as curvas Bi × Hi, determina-se as curvas φi × ℑi dos diversos


trechos do circuito magnético através de φi = BiAi e ℑi = Hili, pois Ai e li são conhecidos.
B

A seguir traçamos a curva φ × ℑ, onde ℑ = Σℑi, segundo as expressões ℑ = N I e N I =


ΣHili. Essa curva é denominada “curva de magnetização total” do circuito da figura
abaixo.
Conversão de Energia 37

φ [Wb] ferro fundido


entreferro
composição

0
F [Aesp]

Ex. 1.12(A): Resolva o exemplo 1.11 graficamente, usando o gráfico de φ × ℑ.

A primeira coluna da tabela 1.2 fornece valores de Hn de 700 a 1100 A/m; os


valores de Bn correspondente são encontrados na curva de ferro fundido da figura 1.25.
B

Os valores de φ e Hnln são calculados, e os de Hele são obtidos a partir de φle/μ0Ae de


modo que ℑ correspondente à soma de Hnln com Hele. Como o entreferro é linear, há
necessidade de apenas dois pontos.
Tabela 1.2
Hn [A/m] Bn [T] φ [Wb]
B Hnln [A] Hele [A] ℑ [A]
–4
700 0.295 1.18×10 307 388 695
–4
800 0.335 1.34×10 350 441 791
–4
900 0.365 1.46×10 395 480 874
–4
1000 0.400 1.60×10 438 526 964
–4
1100 0.420 1.68×10 482 552 1034
O fluxo φ para ℑ = 1000A, como se observa da figura 1.28, é aproximadamente
1.65×10–4 Wb. Este método é simplesmente um gráfico dos dados de tentativas e erros
usados no ex. 1.11. Entretanto, é útil caso haja a necessidade de se examinar diferentes
enrolamentos ou correntes em bobinas.

1.7
φ [Wb x 10-4 ]

o o o

1.6 o o

1.5
Ferro fundido o o
1.4
o o
1.3 Entreferro

1.2 o o o
Composição
1.1 Ferro fundido + entreferro
~
~
200 400 600 800 1000
F [A]
Figura 1.28 - Curva φ × ℑ do exemplo 1.12.

Ex. 1.12(B): Calcule o fluxo φ no núcleo, supondo ℑ de 800, 1000 e 1200A. Use
uma aproximação gráfica e a reta de entreferro negativa.
Conversão de Energia 38

A figura 1.29 apresenta o gráfico dos dados do item (A) de φ × Hnln, para o
núcleo de ferro fundido. O gráfico de φ × ℑ do entreferro é linear. Um dos extremos da
reta de entreferro de inclinação negativa para uma ℑ da bobina de 800A é em φ = 0, ℑ =
800A. O outro extremo assume Hele = 800A, pelo qual:
μ 0 ℜ e (H e l e )
φ= = 2.43 × 10 −5 Wb , o que localiza o extremo em: φ = 2.43×10–4 Wb e
le
ℑ = 0. Para maiores detalhes construtivos do gráfico, ver figura 1.29 abaixo.

o
φ [WB x 10 ]

2.4
-4

2.2

2.0
o Ferro fundido
o
1,8 o
o
1.6 o
o
1.4
o
1.2 Reta do entreferro
o (inclinação negativa)
1.0

0.8

0.6

0.4

0.2 Hn ln Hele
F [A]
0.0 o
200 400 600 800 1000 1200
Figura 1.29 - Método gráfico utilizando curva invertida do entreferro.

As soluções (pontos de interseção) por este processo seriam:


ℑ = 800 A → φ = 1.34×10–4 Wb; ℑ = 1000 A → φ = 1.62×10–4 Wb;
ℑ = 1200 A → φ = 1.85×10–4 Wb;

Ex. 1.12(C): Repita o item (A), porém, utilizando a curva B × H do ferro


fundido.

Neste processo não há necessidade de se construir φ × ℑ, basta desenhar a reta


do entreferro sobre a curva B×H do ferro efetuando os respectivos ajustes. Os cálculos
estão apresentados na tabela (1.3) e a solução gráfica na figura 1.30 (obtida conforme a
figura 1.27).
Tabela 1.3 – Tabela para ajuste da reta do entreferro.
Ae le ℑn l
Be (T) Be Bn = Be [T] He [A/m] Hn = − H e e [A/m]
He = [A/m] An ln ln ln
B

4 π × 10 −7
0.1 0.8×105 0.12 363 1920
0.3 2.39×105 0.36 1092 1192
0.5 3.98×105 0.61 1817 466
Obs.: ℑ / ln = 1000/0.438.
Conversão de Energia 39

Os dados da terceira e quinta colunas podem ser diretamente dispostos sobre a


curva B×H do ferro fundido, figura 1.30. O entreferro, por ser linear, necessita de
apenas dois pontos. A resposta é Bn = 0.41 T. B

0.8

B [T]
o 0.76
0.7

0.6
o
Ferro fundido
0.5

0.4 o
o o
0.3
o
0.2 o
Reta do entreferro ajustada o
0.1
H [A/m]
o
1000 2000 2283
Figura 1.30 - Método gráfico utilizando reta de entreferro ajustada e curva B×H do material.

O método apresentado neste exemplo pode ser utilizado para resolver circuitos
magnéticos envolvendo duas partes não-lineares, conforme exemplo a seguir.

Ex. 1.13: O circuito magnético da figura 1.31 é constituído de liga de ferro-


níquel na parte 1 onde l1 = 10 cm e S1 = 2.25 cm2, e aço fundido na parte 2, l2 = 8 cm e
S2 = 3 cm2. Calcule as densidade de fluxo B1 e B2. B B

Os dados referentes ao meio 2 de aço fundido devem ser convertidos sobre a


curva B×H da parte 1 da liga de ferro-níquel (ℑ/l1 = 400 A/m). A tabela 1.4 indica os
cálculos necessários.
Tabela 1.4 – Tabela para converter os dados da curva 2 para curva 1.
S2 l2 ℑ l
B2 [T] H2 [A/m] B1 = B2 [T] H2 [A/m] H1 = − H 2 2 [A/m]
B

S1 l1 l1 l1
0.33 200 0.44 160 240
0.44 250 0.59 200 200
0.55 300 0.73 240 160
0.65 350 0.87 280 120
0.73 400 0.97 320 80
0.78 450 1.04 360 40
0.83 500 1.11 400 0
Obs.: ℑ / l1 = 400 A/m.
A partir do gráfico da figura 1.33, B1 = 1.01 T. E, como B1S1 = B2S2.
B B B

⎛ 2.25 × 10 −4 ⎞
B2 = 1.01⎜⎜ −4
⎟⎟ = 0.76 T
⎝ 3 × 10 ⎠
Os valores de B1 e B2 podem ser comparados considerando a equação:
B B

ℑ = H1l1 + H2l2,
e as curvas D e B da figura 1.32 de onde se obtém os valores de H1 e H2.
Conversão de Energia 40

B [T]

1.2
C

1.0

0.8
B

0.6
A Ferro fundido
B Aço fundido
0.4 C Aço-Silício
D Liga Ferro-Níquel

0.2
A

100 200 300 400


H [A/m]
Figura 1.32 - Curvas B×H (H < 400 A/m).

B1 1.2
[T] o
o o
o Liga ferro-níquel
o
1.0 o
o

o o
0.8
o
Aço fundido;
0.6 curva ajustada o

o
0.4

0.2

100 200
H1 [A/m]
Figura 1.33 - Solução pelo método gráfico (curva ajustada para o aço fundido).

Ex. 1.14: O circuito magnético da figura 1.34a, apresenta a mesma área de seção
reta em todo o núcleo, cujo material é de aço-silício, e seu valor é An = 1.30 cm2. Os
comprimentos médios valem l1 = l3 = 25 cm. e l2 = 5 cm. As bobinas têm 50 espiras
cada. Dado φ1 = 90 μwb e φ3 = 120 μwb, calcule as correntes das bobinas.
Conversão de Energia 41

φ1
. φ3
.
a
+ φ1 + φ3 -
φ2 H1l1 H2l2 H3l3
F1 - - +
F3 - φ2 +
l2 F1 F3
+ -

l1 . l3 .b
(a) estrutura magnética (b) circuito magnético equivalente
Figura 1.34 - Circuito magnético paralelo.

Aplicando a equação 1.14 ao nó (a):


3

∑φ
i =1
i ⎯→ φ2 = φ3 − φ1 = 0.3 × 10 −4 Wb
=0⎯

φ1 90 × 10 −6
B1 = = = 0.79 T
A1 1.3 × .10 −4

Usando a curva B×H do aço-silício (figura 1.32), H1 = 87 A/m. Logo, H1l1 = 21.8 A.
Analogamente:

φ2 0.3 × 10 −4
B2 = = = 0.23T e H 2 = 49 A/m ∴ H 2 l 2 = 2.5 A
A2 1.3 × 10 −4

φ3 120 × 10 −4
B3 = = = 0.92T e H 3 = 140 A/m ∴ H 3 l3 = 35 A
A3 1.3 × 10 −4

Aplicando a equação 1.13 ao longo dos percursos fechados.

∑H l
j
j j = NI = ℑ

As equações que se seguem são para a queda N I entre os pontos a e b.


H 1l1 − ℑ1 = H 2 l2 e ℑ3 − H 3l3 = H 2 l2
21.8 − ℑ1 = 2.5 e ℑ3 − 35 = 2.5
De onde, ℑ1 = 19.3 A e ℑ3 = 37.5 A. As correntes são: I1 = 0.39 A e I3 = 0.75 A

Ex. 1.15: Considere um circuito magnético da figura 1.35. Determine as relações


entre Hn, Bn e Ln com entreferro e sem entreferro. Determine a indutância total.
B
Conversão de Energia 42

Hn
I

N
He μ0
le

μn ln

Figura 1.35 - Reator com entreferro.

1º Caso: Considerando o núcleo sem entreferro, ou seja, le = 0.


NI NI
ℑ = NI = H n ln → H n = Bn = μ n H n = μ rμ0 H n = μ rμ 0
ln ln
λ Nφn
φn = Bn An = μ rμ 0
An
NI Ln = =
A
→ Ln = μ rμ0 n N 2 (1)
ln I I ln

2o Caso: Consideremos o núcleo com entreferro.

∫ H .dl = N I
H n ln + H e l e = N I (2)
mas como φn = φe e supondo An = Ae, tem-se: Bn An = Be Ae → Bn = Be (3)
Mas, Bn = μ rμ0 H n e Be = μ0 H e , então:
H
μ rμ0 H n = μ0 H e → e = μ r (4)
Hn
Substituindo (4) em (2), tem-se:
H n ln + μ r H n le = N I
⎛ 1 l ⎞
H n l n μ r ⎜⎜ + e ⎟⎟ = N I
⎝ μ r ln ⎠
Definindo:
μ eq . N I N .I
μ eq .=
1
Hn = (5) ou Hn = (6)
1 le
+ μ r ln ln + μ r le
μ r ln

Lembrando que Bn = μr μ0 Hn
B

NI
Bn = μ eq .μ 0 (7)
ln
Substituindo (4) em (5):

NI
H e = μ eq . (8)
ln
Conversão de Energia 43

NI
e Be = μ 0 H e = μ 0 μ eq .
ln
Sabendo que: Nφ = LI
φ = Bn An = Be Ae
NI
LI = Nφ = NBn An = NAn μ eq .μ 0
ln
An 2
L = μ eq .μ 0 N (9)
ln
Portanto, com a introdução do entreferro, obteve-se:
μ eq .
i) (H n )com = (H n )entreferro
sem
entreferro μr
μ eq .
ii) (Bn )com = (Bn )entreferro
sem
entreferro μr
μ eq . μ eq .
iii) (L )com = (L )entreferro
Lm
sem =
μr
entreferro
μr
Conclui-se que se for usado μr e le/ln tão grande quanto o possível, consegue-se
μeq./μr tão baixo quanto se queira, a fim de se conseguir fazer com que a indutância
fique independente do material do núcleo. Entretanto, observa-se que H, B e L serão
reduzidos pelo mesmo fator, μeq./μr .
le 1 l
Se → → μ eq . = n
ln μr le

Com isto, seria necessário um material de alto μr, mas este não necessitaria ser
preciso ou constante. A indutância dependeria nestas condições, somente da geometria
utilizada.
Uma outra forma de se visualizar, seria através da análise do circuito elétrico
equivalente, ver figura 1.36.

I
φ + + In + Ie
+ R n +
F =NI
+
e Ln
Le
R e

( a ) Circuito magnético do ( b ) Circuito elétrico equivalente


indutor com entreferro do indutor com entreferro
Figura 1.36 - Circuitos magnético e elétrico da estrutura da figura 1.35.

A indutância do entreferro Le é constante, entretanto, a do núcleo não o é, sendo


expressa por Ln = Ln(i). Do circuito equivalente, obtém-se:

Ln Le ⎛ 1 ⎞
L= = Le ⎜⎜ ⎟ (10)
Ln + Le ⎟
⎝ 1 + Ln ⎠
Le
Conversão de Energia 44

Le L ℜ μ l S
Ou L = onde α = e = n = 0 n e
1+ α Ln ℜ e μ n l e S n
Considerando que Sn e Se são aproximadamente iguais resulta:

μ 0 ln
α≅ (11)
μ n le

Se considerarmos ln/le = 100 (menor valor que este implica na possibilidade de


aparecimento de não-linearidades), isto é, o comprimento do núcleo é da ordem de
grandeza de cem vezes o comprimento do entreferro, e supondo que a variação do μr do
material magnético está compreendido na faixa: 2000 ≤ μr ≤ 4000, o valor de α
resultará compreendido entre (eq. (11)): 0.025 ≤ α ≤ 0.05.
A equação (10) mostra que a indutância total estará compreendido entre os
valores:
Le Le
≤L≤ ⎯⎯→ 0.952 Le ≤ L ≤ 0.976 Le
1.05 1.025
Vê-se que, apesar da variação de 100% na permeabilidade do núcleo, L é
constante, a menos de um erro inferior a 3%.
A escolha apropriada da razão ln/le pode limitar a variação de L dentro de valores
preestabelecidos. Sem o entreferro teríamos uma indutância L total muito maior, porém
com uma grande variação. É possível dizer que o indutor inicialmente não linear, foi
linearizado mediante a introdução de um entreferro.
Apostila de Conversão de Energia - Página 1.5.1

1.5. Energia Armazenada num Núcleo Magnético Excitado por uma Fonte
Única

Evidências experimentais comprovam que para se criar um campo magnético, é


necessário uma certa quantidade de energia. Esta energia é armazenada pelo campo
magnético e a totalidade ou parte dela é devolvida à fonte quando se altera ou elimina-
se o campo (isto também ocorre para os campos elétricos). Com as hipóteses de 1 -
Densidade de fluxo uniforme; 2 - De que a resistência da bobina de excitação
concentrada em uma resistência externa (sua resistência é distribuída ao longa da
mesma) associada ao restante do circuito elétrico (portanto a bobina não apresenta
resistência elétrica) e 3 - Que o fluxo fica totalmente confinado ao núcleo (sem
dispersão), procura-se obter uma expressão para a energia armazenada pelo campo.
Quando a bobina é alimentada por uma fonte e há uma variação da corrente, se
estabelece um fluxo no núcleo e de acordo com a lei de Faraday, um f.e.m. se induz na
bobina durante a variação deste fluxo. A magnitude desta f.e.m. é dada por (eq. 1.16):

f.e.m. = e = dλ/dt = d(N.φ)/dt

Considerando a hipótese 3 acima, o fluxo irá enlaçar todas as N espiras da


bobina, logo:

e = N.dφ/dt = N.dφ/di.di/dt = L.di/dt

Excluindo a energia perdida na resistência externa R, a energia elétrica fornecida


pela fonte à bobina em um tempo dt, é:

dW = e.i.dt (1.24)

Substituindo nesta equação, o valor de e, tem-se:

dW = N.i.dφ = i.dλ = ℑ.dφ (1.25)

Da equação 1.25, observa-se uma relação importante:

dWcampo (λ)
i(λ) =

Que mostra que o conhecimento da energia magnética armazenada como função


de λ permite determinar a característica do indutor i = i(λ).
Se supõe que o φ e a corrente i iniciais são nulos e que no fim o fluxo é φ1 e a
corrente I1, a energia total fornecida à bobina será:

∫ ∫
λ1 φ1
Wφ = Wcampo = We = i. dλ = ℑ. dφ (1.26)
0 0

Esta equação nos diz que quando se incrementa o campo magnético associado
com um núcleo, a energia flui da fonte para o campo e ficará armazenada no campo
enquanto este permanecer no mesmo valor. Graficamente a equação 1.26 corresponde
Apostila de Conversão de Energia - Página 1.5.2

(ver figura 1.37) a área entre a curva de φ x ℑ e o efeito de fluxo (área quadriculada A1).
A outra área (A2) é denominada de coenergia e é dada pela expressão:
∫ ∫
ℑ1 I1
W' campo = φ. dℑ = λ. di (1.27)
0 0

A coenergia não têm um significado físico (não é armazenada e não é


recuperável), não desempenha um papel ativo no processo de conversão, porém é de
grande utilidade no cálculo de forças nos equipamentos eletromagnéticos.

Figura 1.37 -Energia armazenada e coenergia em um núcleo ferromagnético.

Coenergia Magnética:

A energia magnética armazenada W campo é função de λ, para sua determinação


deve-se conhecer a característica sob a forma i = i(λ).
Há casos em que se conhece λ em função de i e a inversão i = i(λ) é
analiticamente impossível. Exemplo simples disto é a função de λ como um polinômio
de alto grau (maior que 5) em i. Nestes casos, isto é, quando a variável independente é i
ao invés de λ, é preferível obter-se a energia armazenada através de uma outra função
de estado associada, denominada coenergia magnética, que é obtida da seguinte forma:

dW campo = i.dλ = d(i.λ) - λ.di ∴ d(i.λ - W campo) = λ.di

Define-se coenergia magnética W’campo, como:

W’ campo = i.λ - W campo

De modo que: dW’ campo = λ.di

Isto mostra que W’ campo é função de i:


i
W' campo = λ(i'). di' = W' campo (i)
0
Apostila de Conversão de Energia - Página 1.5.3

E é uma função de estado, aqui caracterizado pela variável i. A coenergia é


calculada por meio de λ quando se conhece a função λ(i).
Uma vez calculada a coenergia, a energia magnética armazenada é obtida da
equação:

W campo(i) = i.λ(i) - W’ campo

Que resultará aqui como uma função de i.

Desta maneira, o problema da inversão da função λ = λ(i) é contornado.


Nos casos em que o estado for caracterizado pela variável independente i, a
utilização da função de estado W’ campo será de extrema conveniência.
Convém mostrar que, devido ao seu duplo papel de variável de estado e variável
de vínculo, a corrente i é geralmente mais conveniente do que λ como variável
independente. Isso torna o uso da coenergia mais conveniente que o uso da energia.
Finalmente, não apenas a coenergia W’ campo pode ser calculada a partir do
conhecimento da característica λ = λ(i), como também a recíproca é verdadeira, isto é, λ
= λ(i) pode ser obtida a partir de W’ campo pela importante relação:

dW' campo (i)


λ(i) =
di

Com freqüência se expressa a energia armazenada e a coenergia em termos de


densidade de fluxo B e da força magnetizante H. Têm-se:

∫ ∫
B1 B1
Wcampo = H. l. A. dB = V. H. dB (1.28)
0 0

Onde V = A.l é o volume do núcleo. A densidade de energia (Wcampo/V) será:

Wcampo
∫0
B1
= H. dB (1.29)
V

Trabalhando a equação 1.27 da mesma forma, obtém-se:


H1
W' campo = V. B. dH (1.30)
0

E para a densidade de coenergia:

W' campo
∫0
H1
= B. dH (1.31)
V

A soma da energia armazenada e da coenergia do núcleo, é proporcional a área


do retângulo ℑ1.φ1 da figura 1.37. Se uma estrutura magnética consta de um número “n”
de trechos em série e/ou paralelo, o cálculo da Wcampo e da W’campo é efetuado em cada
Apostila de Conversão de Energia - Página 1.5.4

parte da estrutura onde a seção transversal é uniforme, sendo a seguir obtido os valores
totais:

n
∑V . ∫
Bi
Wtotal = i H i . dB
0
i =1
n
(1.32)
∑V . ∫
Hi
W' total = i B i . dH
0
i=0

Uma outra forma de apresentar a equação 1.26 é a que se obtém com a


consideração da indutância (L). No caso L (indutância ou coeficiente de auto-indução)
da bobina é dado a cada instante pela variação de λ por unidade de corrente (L = dλ/di).
A equação 1.25 fica:

dW = L.i.di

∫0
i
Logo: Wcampo = L. i. di (1.33)

Observa-se mais uma vez que L não é constante. Também, com as mesmas
considerações pode-se obter a equação de energia em função da relutância ou da
permeância do circuito magnético.

N2
∫0 ∫0 ∫ ∫
φ1 φ1 i i
Wcampo = (ℜ.φ). dφ = (φ P). dφ = (N . P). i. di = ( ). i. di
2
(1.34)
0 0 ℜ

Todas as equações até aqui são de aplicações gerais e de difícil avaliação,


havendo a necessidade do processo gráfico na resolução dos problemas. A equação 1.28
é, entre todas, a mais adequada, já que a relação entre H e B é obtida com maior
facilidade.

1.5.1. Caso Particular em que a Permeabilidade do Circuito Magnético é


Constante (Circuitos Magnéticos Lineares)

Todas as equações podem ser simplificadas, nestas condições, e correspondem


ao caso em que a energia e a coenergia são iguais. As equações 1.26 e 1.27 podem ser
representadas pelas seguintes equações:
φ φ1
(Se o μ é constante, então = , ou i = I 1 . φ φ )
i I1 1

φ N. I1 φ12
∫ ∫ ∫
φ1 φ1 N. I1 φ1
Wcampo = N. i. dφ = N. I1 . . dφ = . φ. dφ = .
0 0 φ1 φ1 0 φ1 2

I1 . φ 1 1 1 1 1
W' campo = Wcampo = N. = .ℑ.φ1 = .ℜ.φ12 = . P.ℑ12 = . L. I12 (1.35)
2 2 2 2 2

Igualmente as equações 1.29 e 1.31 podem ser representadas pela equação:


Apostila de Conversão de Energia - Página 1.5.5

∫ ∫ B 1

B1 B1 B1
Wcampo = H. dB = . dB = . B. dB
0 0 μ μ 0

1 1 B2 1
W' campo = Wcampo = . H1. B1 = . 1 = . μ. H12 (1.36)
2 2 μ 2

Graficamente a equação 1.36 corresponderia a um triângulo, de fácil


determinação.

1.5.1.1. Análise de Sistemas Magnéticos Não Lineares com Geometria


Variável

Considere um sistema magnético conforme apresentado na figura 1.38a, tal


sistema, de excitação única, o fluxo será função não só da corrente, como também do
comprimento do entreferro que aqui será considerado variável (a geometria não mais é
considerada como fixa). No item 1.4.2 foi apresentado a influência do entreferro nestes
sistemas. A figura 1.38b mostra a família de curvas compostas (ver ex. 1.12), para um
tal sistema, considerando diferentes valores de x (comprimento do entreferro). Em
geral, um conjunto de curvas deste tipo é descrito por uma equação da forma λ = f(i,x)
= λ(i,x). O fluxo concatenado será dependente tanto da corrente, como da coordenada
mecânica. Para avaliar a energia armazenada, aplica-se a equação 1.26 sujeita a
restrição de que x se manterá constante:

∫0
λ1
Wcampo = i. dλ (para x constante) (1.38)

Figura 1.38 - Sistema magnético não linear de geometria variável (variação do entreferro).

Fisicamente, isto significa que estar-se-ia computando a energia fornecida pela


bobina alternado a excitação enquanto se mantém a configuração mecânica, fixa de
acordo com a equação original (1.26). Subentende-se, simplesmente, que a energia do
campo pode ser obtida primeiramente colocando-se o sistema em configuração desejada
e subseqüentemente, levando-se a excitação ao nível desejado.
Na verdade, ao se desconsiderar a histerese está se considerando uma
configuração e um nível de excitação particular não importará, a energia sempre é a
mesma (o sistema é chamado de sistema conservativo, sua energia é uma função apenas
do seu estado, como descrito pelas variáveis independentes que descrevem o estado).
Em resumo, a energia correspondente a qualquer valor de φ é independente do modo
Apostila de Conversão de Energia - Página 1.5.6

como o sistema foi trazido a este valor de φ. Pode-se colocar a equação 1.38 numa
forma mais expressiva lembrando-se que λ = λ(i,x) pode ser resolvida para “i” e
produzir uma relação da forma i = i(λ,x) e, com isto:


λ1
Warm (λ, x) = i(λ, x). dλ (1.39)
0

Na equação apenas λ é a variável de integração; x é mantido constante.

Ex. 1.16: Considere um sistema no qual as curvas de magnetização são descritas


pela equação:

λ = K.x2.i(1/2)

Determine a energia deste sistema.

Figura 1.39 - Curvas de magnetização do exercício 1.16.

λ2 λ3
∫ ∫
λ λ
Wcampo = i(λ, x). dλ = . dλ = (joules)
0 0 k2 . x 4 3. k 2 . x 4

As curvas de magnetizações deste sistema são apresentadas na figura 1.39. A


energia de campo para λ = 2, x = 1 é indicada pela área hachurada.
Ao invés de se aplicar a fórmula de energia (eq. 1.39) poder-se-ia aplicar a da
coenergia que aparentemente seria direta:

∫0
i
Wcampo ' = λ(i, x). di onde i é a variável de integração.

∫0 k. x2 . i1 2 . di = k. x2 . ∫0 i1/2di = 23 . k. x2 . i3/2
i i
Wcampo ' =

O que se deseja é a energia e por ser um sistema não linear W´.


Apostila de Conversão de Energia - Página 1.5.7

Mas lembrando-se:

W + W' = i. λ
2 2
W = i. λ − W' = i. λ − . k. x 2 . i 3/2 = i.(λ − . k. x 2 . i 1/ 2 )
3 3
2 λ λ λ 2
λ3
W = i.(λ − . λ) = i. = . 2 4 ∴ W =
3 3 3 k .x 3. k 2 . x 4

Ex. 1.17: Uma curva típica de característica λ x i de um material ferromagnético


(figura 1.37) é representada na prática, sobre um intervalo limitado de λ, por uma
aproximação finita de uma série de potências:

i(λ) = a.λ + b.λ3 + c.λ5

E que obviamente não pode ser invertida. Determine a coenergia

A expressão se apresenta sob a forma adequada para o cálculo da energia:

∫0 ∫0 (a. λ + b. λ3 + c. λ5 ). dλ = a2 . λ2 + 4b . λ4 + 6c . λ6
λ λ
Wcampo = i(λ). dλ =

Para a determinação da coenergia seria necessária a inversão da função i = i(λ),


o que não é possível. Lançando-se mão da equação:

a 3 5
W' campo = λ. i − Wcampo = . λ2 + . b. λ4 + . c.λ6
2 4 6

Os resultados mostram claramente a diferença que existe entre W’arm e Wcampo


em sistemas não lineares.

Ex. 1.18: As características λ x i de um circuito magnético, como foi visto no


item 1.3.3.2, ser descrito com segmentos retilíneos como na figura 1.40. O circuito é
considerado linear até o ponto a e em saturação do ponto a ao b. Determine a energia e a
coenergia para o circuito magnético nos pontos a e b.

Figura 1.40 - Aproximação da característica λ x i por linearização por partes.


Apostila de Conversão de Energia - Página 1.5.8

Utilizando a semelhança de triângulos pode-se obter as equações das retas para


os respectivos trechos, λ = f(i).
λ − 0 1− 0
Trecho 0 - a: = = 1∴ λ = i (0 ≤ i ≤ 1)
i − 0 1− 0

λ − 1 1,2 − 1
Trecho a - b: = ∴ λ = 0,2. i + 0,8 (1 ≤ i ≤ λ)
i −1 2−1

Para i = f(λ):

Trecho 0 - a: i = λ 0<λ<1

i −1 1
Trecho a - b: = = 5 ∴ i = 5. λ − 4 (1 ≤ λ ≤ 1,2)
λ − 1 0,2

- Cálculo da energia dos respectivos trechos:

∫0 ∫0
λ 1
Wcampo (0 a ) = i(λ). dλ = λ. dλ = 0,5 Joule

∫1
1,2
Wcampo (ab ) = (5. λ − 4). dλ = 0,3 Joule

Logo a energia no ponto a é 0,5 joule e no ponto b é 0,8 joule e que corresponde
a energia do ponto a + a do trecho a-b.

- Cálculo da coenergia:

∫0 ∫0
i 1
W' campo (0 a ) = λ(i). di = i. di = 0,5 Joule

∫1
1,2
W' campo (ab ) = (0,2. i + 0,8).. di = 11
, Joule

Logo a coenergia no ponto a é 0,5 joule e no ponto b é 1,6 joule. Observe o


efeito da não linearidade se faz sentir na linearização por partes, isto é, W’campo(b) ≠
Wcampo(b).
Dentro do item de análise de sistemas magnéticos não lineares com geometria
variável cabe uma particularização em que considera-se o sistema linear mas com
geometria variável e que nos trará alguns conceitos importantes.

1.5.2. Sistemas Lineares com Geometria Variável (Influência na fem)

Considerando um sistema cuja geometria é fixa, exceto para uma parte


considerada móvel e cuja posição pode descrita instantaneamente por um deslocamento
x com respeito a um referencial fixo. Neste caso a parte mecânica do sistema exercerá
influência no desempenho elétrico. A descrição quantitativa deste efeito está contido na
Apostila de Conversão de Energia - Página 1.5.9

lei de Faraday para f.e.m. Assume-se que M é função das quantidades de campo
somente (e portanto uma função da corrente), com isso pode-se escrever:

λ = λ(i,x)

Nesta expressão indica-se explicitamente a dependência funcional de λ com as


variáveis i e x somente e que podem ser funções do tempo. Considerando a lei de
Faraday:

dλ(i, x) ∂λ di ∂λ dx
e= = . + . (1.41)
dt ∂i dt ∂x dt

Esta expressão ilustra algumas propriedades gerais de sistemas magnéticos. O


primeiro termo do lado direito da expressão (1.41) é proporcional a di/dt e é o resultado
da mudança da corrente. Este termo pode existir quando o sistema é mecanicamente
estacionário e é freqüentemente referido como tensão de transformador. O segundo
termo do lado direito da expressão é proporcional a dx/dt e que é a velocidade
mecânica. Este termo existe quando existe movimento relativo no sistema e é
convencionalmente referido como tensão de velocidade. O primeiro termo (conhecido
também como tensão de auto indução) é influenciado pelo movimento mecânico e que
se reflete na variação do coeficiente (derivada parcial de λ(i,x) com relação a i)
produzido por variações em x.
O segundo termo é exclusivo de sistemas eletromecânicos e é conhecido por
tensão de velocidade devido a sua dependência direta com a velocidade mecânica. Este
termo que é responsável pela transferência de energia entre o sistema elétrico externo e
os meios de conversão de energia.
Restringindo o sistema aos sistemas eletricamente lineares pode-se expressar a
equação 1.41 em termos da indutância do enrolamento:

λ = L(x).i (1.42)

Este sistema é eletricamente linear porque o fluxo concatenado é uma função


linear de i. A variação do fluxo com a geometria está incluso na função L(x). As
indutâncias, portanto, serão independentes das correntes, as variações que possam
ocorrer no decorrer do tempo poderão ser provocadas por alterações geométricas e do
meio, como modificação de posição relativa dos núcleos ferromagnéticos, etc, mas não
por efeito da variação da corrente. A tensão terminal tornar-se-á:

di dL(x) dx di dL
e = L(x). + i. . = L. + i. (1.43)
dt dx dt dt dt

O primeiro termo é a expressão já familiar da tensão em um indutor e o segundo


uma tensão adicional pela variação da indutância. A equação 1.43 é a mesma da 1.20 e
considerando casos em que a geometria é fixa (n constante) o segundo termo do lado
direito de 1.43 se anula e obtem-se a equação já conhecida 1.21.

e = L.di/dt

1.5.2.1. Energia Armazenada no sistema Linear com Geometria Variável


Apostila de Conversão de Energia - Página 1.5.10

O cálculo da energia Wcampo para um sistema cujo fluxo concatenado é dado


pela equação 1.42, é, conforme a equação 1.39, dado por:

λ λ2
∫ ∫
λ1 λ1
Wcampo = i(λ, x). dλ = . dλ = (1.44)
0 0 L(x) 2. L(x)

E a coenergia:

∫ ∫ 1
i i
W' campo = λ(i, x). di = i. L(x). di = . i 2 . L(x) (1.45)
0 0 2

Ex. 1.18: O sistema magnético da figura 1.41 (eletroímã) é a configuração


básica utilizada para acionar disjuntores, operar válvulas, e em outras aplicações nas
quais uma força relativamente grande deve ser aplicada a uma peça que se move numa
distância relativamente curta. Este sistema consiste de uma estrutura física feita de um
material magnético altamente permeável (μ >> μ0), e de um enrolamento de excitação
com N espiras. Um êmbolo móvel, também feito de material magnético altamente
permeável, fica restrito ao movimento na direção de x por intermédio de uma ????? de
material não magnético, e que serve de anel guia. Deseja-se calcular: a) Fluxo
concatenado(λ) com a bobina (como função das variáveis corrente I e deslocamento x),
b) Tensão terminal v para uma variação de I e de x (funções do tempo), c) Relutância
do circuito magnético.

Figura 1.41 - Eletroímã de êmbolo.

A análise deste sistema de modo mais tratável, mas ainda muito precisa, é feita
com base nas seguintes hipóteses:

1. A permeabilidade do material é suficientemente alta para que se possa


considerá-la infinita.
2. Os comprimentos dos entreferros g e x são considerados pequenos
comparativamente às demais dimensões transversais, g << w e x << d, de
forma que o espraiamento nas bordas dos entreferros podem ser
desconsideradas.
Apostila de Conversão de Energia - Página 1.5.11

3. O fluxo de dispersão é desprezível, isto é, todo o fluxo está confinado ao


núcleo, exceto nos entreferros g e x.

Considerando a corrente na bobina igual a I e que a hipótese 1 implica que:

B = μ.H, com μ → Infinito, portanto, com uma densidade de fluxo B, a


intensidade de campo H é nula dentro do material, sendo que H somente será não nulo
nos entreferros, onde M = 0 e B =μ0.H.
A aplicação da equação 1.1 na trajetória 2 mostra que as intensidades de campo
nos dois entreferros são iguais em módulo (H1) e opostos em direção (o que já era
esperado dada a simetria do sistema). Aplicando-se a equação 1.1 à trajetória 1, tem-se:

H1.g + H2.x = N.I (1)

Onde considera-se H2 positivo e H1 positivo de acordo com o indicado na figura.


Aplicando-se a equação 1.6, considerando uma superfície que envolva o êmbolo e passe
pelos entreferros, têm-se:

d
2. μ 0 . H 1 .(wb) − μ 0 . H 2 .(dh) = 0 → H1 = H 2 . (2)
2. w

Substituindo-se 2 em 1:

g. d 2. w. N. I d. N. I
. H 2 + x. H 2 = N. I → H 2 = e H1 =
2. w g. d + 2. wx g. d + 2. w. x

O fluxo total na perna central do núcleo é simplesmente o fluxo que atravessa o


entreferro x e é:

2. w. N. I 2. d. h. w. μ 0 . N. I
φ = B. A = μ 0 . H 2 .(d. h) = μ 0 . d. h. = (3)
g. d + 2. w. x g. d + 2. w. x

Com base na hipótese 3, o fluxo φ será concatenado com as N espiras e o fluxo


concatenado será:

2. d. h. w. μ 0 . N 2 . I
λ = N. φ = (4)
g. d + 2. w. x

Note que, como λ é uma função linear de I e o sistema é eletricamente linear e


pode-se escrever 4, como:

λ = L(x).I (5)

2. d. h. w. μ 0 . N 2
Onde: L(x) = (6)
g. d + 2. w. x
Apostila de Conversão de Energia - Página 1.5.12

2. d. h. w. μ 0 . N 2 L0
Ou, L(x) = = (7)
g. d.(1 + 2g.w.d.x ) 1 + 2g.w.d.x

Onde:
2. h. w. μ 0 . N 2
L0 = é a indutância da bobina com o entreferro fechado (x = 0).
g

b) Quando assume-se que a corrente I e o deslocamento r são funções do tempo,


pode-se avaliar a tensão terminal considerando a equação (1.43) e a (5):
L0 di L 0 . I. 2. w g. d dx
v= . − . (8)
1 + 2g.w.d.x dt 1 + 2g.w.d.x dt
O primeiro termo é a tensão de transformador que excitará quando x está fixo e I
variando. O segundo termo é a tensão de velocidade que existirá se I estiver fixo e x
variando.

c) A relutância dos vários entreferros podem ser computadas da equação (1.8):

x
ℜ1 (x) = (entreferro inferior)
μ 0 . d. h
g
ℜ2 (x) = (entreferro superior)
μ 0 . h. w

A relutância total (ℜt) do circuito magnético pode ser obtida quando se observa
que os dois entreferros superiores estão em paralelo e sua combinação está em série
com o entreferro inferior.

ℜ2 .ℜ3 x g 2. w. x + g. d
ℜ t (x) = ℜ1 + = + = (9)
ℜ2 + ℜ3 μ 0 . d. h 2. μ 0 . w. h 2. μ 0 . w. h

A partir da ℜt(x), pode-se obter a indutãncia Lt(x) de acordo com a equação:

N 2 2. μ 0 . w. d. h. N 2
L t (x) = = (10)
ℜt 2. w. x + g. d

E que é igual a obtida em (6).

Ex. 1.19: Para o sistema magnético da figura 1.41, calcule a energia magnética
armazenada e a coenergia.

A energia e a coenergia podem ser obtidas por meio das equações (1.44) e
(1.45), como segue:
Apostila de Conversão de Energia - Página 1.5.13

λ2 λ2 .(1 + 2. w. x / g. d)
Wcampo (λ, x) = =
λ. L(x) 2. L 0
1 i2 L0
W' campo (i, x) = . i 2 . L(x) = .
2 2 (1 + 2. w. x / g. d)
Conversão de Energia 63

1.6. Obtenção de um Circuito Equivalente para um Reator com Núcleo


Ferromagnético

A obtenção de um modelo matemático para um indutor, objetivando a análise de


seu comportamento, compreende dois estágios:
i – a obtenção de um sistema físico o qual, em geral, é muito complexo;
ii – a descrição de tal sistema por meio de equações matemáticas adequadas.

Com o intuito de obter tais equações tornam-se necessárias estabelecer algumas


hipóteses e aproximações simplificadoras. O primeiro passo neste sentido é o de decidir
quais de suas características podem ser ignoradas. A seguir determina-se quais
modificações podem ser assumidas para simplificar o modelo matemático sem
prejudicar a precisão desejada. Uma forma de se verificar a precisão do modelo é a
comparação, quando possível, entre os resultados obtidos pelo modelo matemático e os
de ensaios (medidas).
O quão preciso deve ser os resultados obtidos através do modelo dependem dos
propósitos a que se destinam. Para muitos dos propósitos de engenharia,
particularmente para o cálculo preliminar de sistemas e instalações, ‘suficientemente
preciso’ significa que as diferenças entre os resultados calculados e os medidos sejam
inferiores a 5%.
No extremo, adota-se hipóteses e aproximações que conduzem ao denominado
indutor ideal. Neste caso assume-se que:
i - Os campos elétricos produzidos pelos enrolamentos são desprezíveis.
ii - A resistência do enrolamento é desprezível.
iii - Todo o fluxo magnético está confinado ao núcleo ferromagnético, isto é, o
fluxo de dispersão (φl) é desprezível e o fluxo mútuo (φm) concatenando
todas as espiras do enrolamento.
iv - A permeabilidade relativa do material do núcleo, μr, é constante.
v – As perdas no núcleo são desprezíveis.

As hipóteses (iv) e (v) implicam que o laço B×H no núcleo ferromagnético pode
ser representado por uma linha reta através da origem (ver Fig. 1.8).
Se uma diferença de potencial v for aplicada aos terminais de seu enrolamento, a
força magnetomotriz ℑ de magnitude N×iφ produzirá um fluxo φ no núcleo e
estabelecerá um fluxo concatenado λ no enrolamento.
Se v variar no tempo, então iφ, φ e λ também variarão no tempo, e uma fem e será
induzida no enrolamento. Desde que a resistência do enrolamento é desprezível, esta
fem será, em módulo, igual a tensão aplicada v. Então:
dλ (t ) dφ(t )
v(t ) = e(t ) = =N [Volts ] (1.46)
dt dt
Desde que a permeabilidade do núcleo seja constante, o fluxo concatenado será
dado por:
λ = Lm iφ [Wb] (1.47)
onde Lm será a indutância do indutor, e:
Conversão de Energia 64

v = φm diφ /dt [V] (1.48)


O indutor pode, portanto, ser representado pelo elemento indutivo da figura
1.42.

.
φ m - fluxo
v e = dλ / dt Lm (b)
φm
.i
fonte
φ
+ . .
v e Iφ
. N
.
fonte
. .
V jXm E (c)
fonte
(a) sistema magnético
.
Figura 1.42 – Indutor Real.

1.6.1. Excitação Senoidal


O indutor projetado para uso em corrente alternada pode também ser chamado
reator indutivo. Desconsiderando o fluxo de dispersão, o fluxo concatenado será devido
apenas ao fluxo de magnetização principal φm. Assumindo que a resistência do
enrolamento é desprezível:
dλ(t ) dφ(t )
v(t ) = e(t ) = =N [Volts ]
dt dt
Supondo v(t) = Vmcos(ωt) = e(t) = Emcos(ωt), onde Vm = Em, onde e(t) é uma
queda de tensão (fcem)

V V
φ m (t ) = v(t )dt = ∫ Vm cos(ϖt )dt = m ∫ ϖ cos(ϖt )d (ϖt ) = m sen (ϖt )
1 1
N ∫ N ϖN ϖN
φ m (t ) = φ max sen (ϖt ) = φ max cos ϖt − 90 (
o
) (1.49)
onde φmax = Vm/2πfN (1.50)

Vmax 2 Vef
e que pode ser posto na forma: φ max = =
(2π )
2 fN 4,44 fN
(1.51)

Na forma fasorial tem-se:


V = E = Vmax 2 / 0 o = Vefx / 0 o
φ m = φ max 2 / − π 2 = φ efx / − π 2 (1.52)
Vm = jϖNφ m = jϖNλ m = jϖLm Iφ = jX m Iφ

Nestas condições, se uma tensão senoidal for aplicada a um enrolamento, deverá


estabelecer-se um fluxo no núcleo, variando senoidalmente, e cujo valor máximo φmax
satisfaça à exigência de que o valor eficaz de e(t) seja igual ao valor eficaz de v(t) da
tensão aplicada (Eq. 1.51). De acordo com a Eq. (1.51), o fluxo é determinado somente
Conversão de Energia 65

pela tensão aplicada, pela freqüência e pelo número de espiras do enrolamento. Esta
importante relação aplica-se não somente a reatores, mas também a qualquer dispositivo
funcionando com tensão senoidal aplicada, desde que a queda de tensão na resistência
do enrolamento seja desprezível. As propriedades magnéticas do núcleo determinam a
corrente de excitação. Ela deve ajustar-se de modo a produzir a fmm ℑ exigida para
estabelecer o fluxo requerido pela Eq. (1.51). Observa-se também que o fluxo
apresentará uma defasagem de π/2 radianos (conforme Eq. (1.52)). A força eletromotriz
está adiantada de 90o em relação ao fluxo. A Eq. (1.51) é útil para se realizar
estimativas preliminares de projeto. Assumindo-se uma densidade de fluxo uniforme em
toda a seção do núcleo An, tem-se:
φmax = An×Bmax B (1.53)
Considerando que as densidades máximas de fluxo em materiais
ferromagnéticos típicos são usualmente limitadas de 1 a 2 Wb/m2, pode-se determinar a
seção An, necessária para o núcleo, e o número de espiras N para uma tensão eficaz
especificada.

1.6.2. Forma de onda da corrente de excitação num núcleo ferromagnético


com fluxo senoidal

Devida a característica não linear entre B e H para materiais ferromagnéticos, a


corrente no indutor excitado com tensão senoidal não será senoidal. A análise deste
fenômeno será feita para o caso em que a resistência do enrolamento seja desprezível.

a) Caso Linear:
Se considerarmos as hipóteses (iv e v) do item 1.6, teremos uma característica
linear entre B e H, com isto o fluxo concatenado será dado por
L
φ = I (1.54)
N
E o diagrama fasorial correspondente poderá ser construído já que a corrente
também será senoidal, Fig. 1.43.
. .
B, φ V =E
.

.
H, I φ

(a) curva B×H ou φ×I (b) diagrama fasorial


Figura 1.43 – Corrente de excitação para o caso linear.
b) Caso não Linear sem Histerese:
Sabe-se que, em sua forma instantânea, a necessária para a produção de fluxo é
dada por:
φℜ mag = Ni φ → iφ = φℜ mag N
Conversão de Energia 66

O fluxo magnético é senoidal, N é constante, mas a relutância varia devido à


curva B×H. Com tais considerações, pode-se concluir que a parcela iφ não é senoidal.
Tal conclusão pode ser obtida da curva B×H da Fig. 1.44(a) na qual não foi considerado
o ciclo de histerese. A curva φ×i pode ser obtida da curva B×H por simples alteração
das escalas (φ = BA e iφ = Hl/N). Se o fluxo φ(t) é senoidal, pode-se obter a curva de iφ
ponto a ponto. Observa-se da figura que a forma de onda de iφ(t) apresentará uma forma
de sino, o qual será tanto mais aguda quanto mais saturado for o núcleo.

4 φ φ
3 5 5
4 iφ 4
3
6
2 6
e 3 5 iφ1 2

2 6 7 13
1 4' 7 8 12 t 7, 1,13 i
9 11
8 8
12
12
10 9
9 11
11
10 10
(a)
. .
V=E
iφ .
Iφ 1
v e Lm
.
φ
(b) (c)
Figura 1.44 – Corrente de excitação para o caso não linear, sem o laço de histerese.

Uma vez que a forma de onda não é mais senoidal não se pode construir o
diagrama fasorial. Por outro lado, se a corrente iφ for analisada por série de Fourier,
verifica-se que ela se compõe de uma fundamental e uma família de harmônicos
ímpares. Com a escolha conveniente dos eixos, a função será par ou ímpar, admitindo
respectivamente, apenas termos co-senoidais ou senoidais.
Na Fig. 1.44(a) pode-se ver a componente fundamental de iφ, iφ1. A título de
orientação, se apresentam os valores, resultantes de análises, em porcentagem do valor
da fundamental:
3o harmônico: 10 a 60%
o
5 harmônico: 0 a 30%
7o harmônico: 0 a 20%
Observa-se que a componente fundamental encontra-se atrasada de 90 graus em
relação à tensão de excitação. Considerando a corrente de excitação iφ representada
Conversão de Energia 67

apenas pela sua fundamental iφ1, pode-se traçar o circuito equivalente, bem como o
diagrama fasorial. Como iφ1 está a 90o de v(t), o enrolamento de excitação pode ser
representado por um indutor puro.

1.6.2.1 Perdas por Histerese

De acordo com a que. (1.28) demonstra-se que as perdas por ciclo de histerese é
dada por:
Wh / ciclo = Vnúcleo ∫ HdB = Vnúcleo Alaço ( B× H ) = Vnúcleo wh (1.55)

Onde wh é a densidade de energia no núcleo que é igual a ∫ HdB .


Na prática, é comum achar as perdas de energia por segundo. Se o número de
ciclos de magnetização completados por segundo for f (freqüência de variação da
corrente), então a perda num segundo, devido a histerese, será:
Ph = Vnúcleo wh f (1.55)

Devido à dificuldade de se avaliar a área do laço de histerese, dado a


característica não linear e não biunivoca entre H e B, Charles P. Steinmetz (1892) da
General Electric CO, realizou um grande número de ensaios e obteve para os materiais
empregados nas máquinas elétricas uma relação aproximada para a área A. A área do
laço B×H é igual a:
A = Kh(Bmáx)n
B (1,5<n<2,5) (1.57)
onde Kh e n são o coeficiente e o expoente (este usualmente suposto igual a 1,6) de
Steinmetz, respectivamente, e que são determinados empiricamente. Logo as perdas
serão dadas por:
Ph = K h Bmáx
n
f (1.58)

o valor de Kh dependerá do material ferromagnético e do volume do núcleo.


A perda por efeito de histerese do material corresponde ao consumo de energia,
irreversível, para vencer a reação interna das partículas do material ferromagnético de
se orientarem magneticamente num e noutro sentido, forçados pela excitação externa.

B B

perda por ciclo


devido à histerese
B2
B1
H H

1.6.2.2 Perdas por Foucault


Conversão de Energia 68

Na verdade, a chamada corrente total de excitação , que aparece nos reatores e


nos transformadores em vazio, é uma corrente i'φ(t), defasada de e(t) por um ângulo
entre 0 e 90o, e algo maior que iφ(t), pois, no núcleo, existe ainda a perda por Foucault,
que deve ser absorvida da linha, através de uma corrente iφ f(t) em fase com e(t):
P f = E ef I φ ef (1.59)
A existência destas perdas produzem como efeito um alargamento do laço de
histerese como pode-se ver na Fig. 1.46(a), a seguir.

φ isolação entre
φ2 c
c' as lâminas
d'
d

im3
im2
im3 -ic3 h
im2+ic2

.. e
e'
. . .b . b'.. i

im4 -ic4 im1 +ic1


im4 im1
φ1
B(t) b
a
a' anel estático e
f
f' anel dinâmico a

Figura 1.46 – Laços de histerese e núcleo laminado.

Este efeito pode ser explicado como segue. Quando a corrente iφ muda
rapidamente, surgem as correntes de Foucault no núcleo. Essas correntes produzem
uma ℑ, que tende a alterar o fluxo. Para manter o fluxo num dado valor φ1 (segmento f-
a-b-c do laço) que está aumentando a corrente terá que ser maior im + if. Já para o caso
de um fluxo φ1 que está decrescendo (segmento c-d-e-f do laço) as correntes de
Foucault aumentam no sentido de contrariar a variação do fluxo, com isso será
necessário uma corrente líquida, fornecida pela fonte, igual a im – if. O laço resultante
(pontilhado) é conhecido como laço C.A. ou dinâmico, enquanto o outro (traço cheio) é
conhecido por laço estático. As perdas no núcleo devido às correntes de Foucault,
proporcionais a Rif2, podem ser reduzidas por dois meios:
i – usando no núcleo, um material de alta resistividade. A adição de poucos
porcentos de silício (4%) no ferro aumentará a resistividade de forma
significativa.
ii – uso de núcleo laminados. As lâminas são isoladas umas das outras. A
laminação é feita no plano do fluxo, Fig. 146(b).
O valor da corrente de Foucault pode ser obtido de:
2
P f = K f ⎛⎜ fB máx e ⎞⎟ (1.60)
⎝ ⎠

onde Kf é uma constante que depende do material do núcleo,


Vol é o volume ativo do núcleo e é igual a Ke×(volume geométrico do
núcleo) = Ke×a×b×h.
Conversão de Energia 69

Ke é o fator de empilhamento e que para as chapas de 0,35 a


0,5 mm é da ordem de 0,92 a 0,95 (com isolação entre lâminas do
próprio óxido da laminação)

Espessura da lâmina (mm) fator de empacotamento (Ke)


0,0127 0,50
0,0254 0,75
0,0508 0,85
0,10–0,25 0,90
0,27–0,36 0,95
f é a freqüência.
Bmax é a densidade máxima de fluxo.
B

e é a espessura da laminação.

Da Eq. (1.60), pode-se observar que a freqüência e a indução influem nas perdas
Pf; sendo, pois, recomendável o trabalho com valores reduzidos daquelas grandezas.
Observa-se, ainda, que as perdas estão relacionadas com o quadrado da espessura do
núcleo, surgindo daí, como boa medida, a substituição de um núcleo maciço por
lâminas eletricamente isoladas entre si.
A laminação do núcleo é um meio adequado de limitar as correntes de Foucault
para freqüências de até 60Hz onde a laminação de até 25μm podem ser usadas. Para
freqüências mais altas, o núcleo pode ser feito de ferro pulverizado num material não
condutor. Normalmente, núcleo de ferrite que apresentam alta resistividade são
freqüentemente utilizados.

c) Caso não Linear considerando Perdas por Histerese e Foucault:

Consideremos agora o laço de histerese do núcleo, como apresentado na Fig.


145(a). A forma de onda iφ é obtida da forma de onda senoidal do fluxo e da
característica de histerese φ×i do núcleo. No caso tem-se uma análise mais próxima da
realidade do que o caso anterior, pois agora está se considerando as perdas por
histerese. Comparativamente ao caso b) observa-se:
Conversão de Energia 70

4 φ φ
4
3 5 iφ = ic + im 5
4 3
2 3
e 6 6
im 2
ic 2
1 5 13
7 12
1 4' 6 13 t 7 1,13 i
11
7 8

12 8 12
8 9
10 9
9 11 11
10
10
(a)
.
ie1 + ie3 Ic . .
V=E
ie1
.
Im .
ie3 Iφ
.
φ
(c)
ωt .
Iφ .
. Im
Ic
. .
V E Rc jXm

(b) (d)

Figura 1.45 – Corrente de excitação para o caso não linear, considerando o laço de histerese.

i. a curva passa a ser assimétrica com relação ao eixo 4-4’.


ii. a deformação eqüivale a um avanço (em direção a origem O) da curva iφ,
mantendo seu valor máximo no mesmo lugar (ponto 4).
iii. Não há perda de simetria com relação ao eixo do tempo.
iv. A forma de onda de iφ satisfaz a condição: iφ(t1) = −iφ(t1 + T/2) simetria de meia
onda, onde T é o período.
v. A função iφ não é nem par e nem ímpar.

1.6.2.3 Representação Matemática da Corrente de Excitação

A forma de onda de iφ(t) pode ser expressa por uma série de Fourier. Devido a
simetria de meia onda a função iφ(t) será representada por uma série de Fourier
contendo apenas harmônicos ímpares. Por não ser nem ímpar e nem par apresentará
termos em seno e em co-seno como segue:
Conversão de Energia 71

iφ (t ) = I a1 max cos(ωt ) + I a3 max cos(3ωt ) + " + I b1 max sen(ωt ) + I b3 max sen(3ωt ) + " (1.61)

onde ωt=2π/T. Expressando em termos de valores eficazes:

[
iφ (t ) = 2 I a1ef cos(ωt ) + I a 3ef cos(3ωt ) + " + I b1ef sen(ωt ) + I b3ef sen(3ωt ) + " ] (1.62)

Lembrando que v(t) = Vmcos(ωt) = 2 Vefcos(ωt), a potência instantânea p(t),


fornecida pela fonte à bobina será:

a1ef cos (ωt ) + I a 3ef cos(ωt )cos(3ωt ) + " + I b1ef cos(ωt )sen (ωt ) + ⎥
⎡I 2 ⎤
p(t ) = v(t ) iφ (t ) = 2Vef ⎢
⎢ I b3ef cos(ωt )sen (3ωt ) + " ⎥
⎣ ⎦

A potência média será dada por :


P = Vef I a1ef (1.63)

Todos os demais produtos não contribuem em nada para a integral. Somente a


componente Ia1efcos(ωt) da corrente de excitação iφ(t) contribui para o valor médio. Em
outras palavras, a única componente que contribuí para o valor médio, é a parcela da
corrente de excitação que está em fase com a tensão aplicada e tem a mesma freqüência.
Considerando que na análise a resistência da bobina foi considerada desprezível, a
potência média entregue a bobina é dissipada unicamente no núcleo, ou seja:
(perdas no núcleo) Pc = Vef I a1ef (1.64)

Por esta razão, o termo 2 Ia1efcos(ωt) na Eq. (1.62) é chamado de componente


de perdas no núcleo, da corrente de excitação. Os demais termos da equação
estabelecem o fluxo e, por conseguinte, constituem a componente de magnetização da
corrente de excitação. A componente de perdas no núcleo é representada por ic(t),
enquanto que a de magnetização, por im(t).

iφ(t)= im(t)+ ic(t) (1.65)

onde i m (t ) = 2 [I a3ef cos(3ωt ) + " + I b1ef sen(ωt ) + I b3ef sen(3ωt ) + "] (1.66)
e ic(t) = 2 Ia1efcos(ωt) (1.67)
Estas componentes podem ser vistas na Fig. 1.45(a).
Em muitas aplicações práticas, algumas vezes se podem desprezar as harmônicas
de maior ordem sem prejudicar a aproximação. Esta hipótese é satisfatória para os casos
que não envolvem os problemas referentes diretamente aos efeitos das harmônicas, pois
a corrente de excitação, por si mesma, é pequena. No caso dos transformadores típicos,
a corrente de excitação é cerca de 5% (ou um valor menor) da corrente de plena carga.
i. Transformadores novos com chapas de grão orientado, laminado a frio:

Iφ = 0,6 a 8% da I de plena carga (corrente primária nominal do trafo)


Iperdas = 1 a 15% de Iφ.
ii. Transformadores antigos com chapa laminada a quente:

Iφ = 4 a 14% da I de plena carga (corrente primária nominal do trafo)


Conversão de Energia 72

Iperdas = 5 a 14% de Iφ.


Conseqüente destes valores, os efeitos dos harmônicos usualmente são
sobrepujados pelas correntes senoidais de outros elementos lineares no circuito. Então,
a corrente de excitação pode ser satisfeita pela sua onda senoidal equivalente, que tem o
mesmo valor eficaz e a mesma freqüência, e produz a mesma potência média que a onda
real. Tal representação é essencial para a construção de um diagrama fasorial, e que
pode ser visto na Fig. 145(b). Da figura observa-se que:

Ic – está em fase com V e E , e leva em conta as perdas no núcleo.


Im – está em fase com φ e atrasada de 90 com relação a V e E , e leva em conta
o

magnetização do núcleo. Esta corrente é a mesma do caso b), em que se


despreza o laço de histerese.
Se as harmônicas de ordem superior não são desprezíveis então, a representação
fasorial não é valida. Entretanto, ainda pode se usar a representação fasorial se Im for
o valor eficaz de uma senóide equivalente im(t), dada por:

I m ef = (I a3 ef )2 + " + (I b1ef )2 + (I b3 ef )2 + " (1.68)

Ou seja, pelo valor eficaz de im(t) da Eq. (1.66). Observa-se, portanto, que a
validade desta representação decresce conforme se aumenta o valor das harmônicas de
im(t).
Também, a decomposição da corrente iφ(t) em suas componentes im(t) e ic(t) é
fictícia e se realiza apenas para facilitar a análise. Na realidade só existe uma única
corrente de excitação na bobina. Esta corrente, iφ(t), não é senoidal e está atrasada no
tempo em relação a onda senoidal de e(t). Como o comportamento do sistema
magnético da Fig. 1.42 é similar ao comportamento de uma rede indutiva, o sistema
magnético é freqüentemente referido como reator com núcleo de ferro.

1.6.3 Circuito Equivalente Aproximado de um Reator com Núcleo


Ferromagnético

Com base nas análises efetuadas e na decomposição da corrente de excitação


iφ(t) pode-se considerar o indutor, excitado por uma fonte de tensão co-senoidal, como
representado pelo circuito equivalente da Fig. 1.47(a), a seguir,. O circuito elétrico em
questão consiste de um resistor em paralelo com um indutor ideal (sem perdas). Neste
circuito a resistência do enrolamento e os harmônicos de corrente de excitação foram
desconsiderados. Tanto a resistência Rc, conhecida como resistência equivalente de
perdas no núcleo, quanto a reatância Xm, são elementos hipotéticos, não tem existência
física real. A importância na utilização desses parâmetros concentrados é que, para
efeitos de cálculos, tudo se passa como se houvesse realmente um reator conectado à
fonte de tensão. Ou seja, se o reator for substituído a fonte não perceberá a diferença. A
resistência Rc absorverá uma corrente ic igual à corrente de perdas no núcleo do reator
real, enquanto que a reatância Xm absorverá uma corrente im(t), atrasada 90o em relação
a e(t), igual a corrente de magnetização do reator real.
Conversão de Energia 73

. .
Iφ Iφ
. . . .
Ic Im Ic Im
Re
. . . .
V E Rc jXm V Rc jXm
E

Figura 1.47 – (a) Circuito equivalente (aproximado) de um indutor com núcleo ferromagnético
(b) inclusão de Re – resistência das perdas no núcleo.

1.6.3.1 Resistência Equivalente das Perdas no núcleo

Observa-se que embora as perdas por histerese nas chapas finas sejam a maior
parcela, uma aproximação razoável é fazer o expoente n na Eq. (1.58), igual a 2. O
expoente de Bmáx nas perdas de Foucault, Eq. (1.60), é também igual a 2. Assim, para
B

um determinado aço-silício empregado em lâminas de espessura constante, com


excitação a freqüência constante, ter-se-á para a potência total (Pc):

Pc = Ph + Pf ≅ K(Bmáx)2 B (1.69)
De acordo com a Eq. (1.51):

Vef = 4,44fNφmax

Segue que: φmax = S×Bmáx e Vef = K′×Bmáx


B B (1.70)
2
Consequentemente, Pc = K′'×( Vef) (1.71)
Então, o enrolamento do reator, ligado à fonte de tensão senoidal e(t), deve
absorver uma corrente Ic em fase com V e E para suprir a potência perdida no núcleo
sob a forma de calor. A partir daí, define-se Rc (hipotética) dada pela equação:
Rc = Vef2 / Pc (1.72)
ou
Rc = Vef / Ic (1.73)
O parâmetro Rc pode ser considerado constante para uma faixa de tensão Vef para
a qual valha, aproximadamente, a relação – perdas no núcleo proporcionais ao quadrado
de Vef, ou seja, ao quadrado de Bmáx. B

Na Fig. 1.47(b) foi incluído uma resistência Re, e que também é um elemento
concentrado, para levar em conta as perdas joule no enrolamento da bobina. As perdas
joule para uma corrente senoidal são dadas por:

Pj = Re (Iφ)2 (1.74)
A resistência Re é função da temperatura de funcionamento, e de acordo com o
coeficiente de aumento da resistividade do material (ρ) com a temperatura T:

ρ(T2) = ρ(T1)[1 + α( T2 – T1)] (1.74)

para o cobre α = 0,004(oC)–1; para o alumínio, α = 0,0039(oC)–1 (valores médios válidos


para a faixa de T de 10–100oC). Logo Re será dado por:

Re(T) = ρ(T)×l / Sc
Conversão de Energia 74

Onde l (comprimento) é dado pelo produto da quantidade de espiras do


enrolamento pelo perímetro médio das espiras e Sc a área da seção transversal do
condutor.
Nos enrolamentos com condutores circulares de pequenos diâmetros, os valores
das resistências em corrente contínua são bem representativos dos valores de
funcionamento em freqüência baixas (industriais). Nos condutores de grande seção, o
efeito pelicular e os efeitos de adensamento da corrente, devido ao fluxo de dispersão
sobre os condutores já são pronunciados, mesmo em 60Hz. Por isto as perdas joule em
funcionamento, isto é, em C.A. são maiores que em C.C., obrigando uma correção no
valor de Re, com um acréscimo em relação ao valor de C.C.. Essa resistência é chamada
de resistência aparente em C.A., e dá a perda joule em corrente alternada.

1.6.3.2 Reatância Equivalente de Magnetização

Se é necessário que o reator absorva uma corrente Im defasada de 90o com
relação E , para que ocorra o fluxo φ com densidade B, pode-se, a partir do que já foi
exposto definir a reatância Xm pela relação:

X m = E Im (1.75)

Este parâmetro é de natureza reativa indutiva, porque absorverá uma corrente


atrasada 90o em relação a que lhe foi aplicada. Na notação complexa:

E = jX m Im = X m Im ∠90 o (1.75)

1.6.3.2 Interpretação Geométrica do Ramo Rc // Xm (aproximação do laço de


histerese)

Conforme foi apresentado anteriormente, o núcleo ferromagnético introduz as


perdas de histerese e de Foucault no sistema. Também, se o fluxo concatenado com a
bobina é uma função senoidal do tempo, então a corrente de excitação iφ pode ser
dividida em duas componentes, uma de magnetização im e outra de perdas no núcleo ic.
Estas perdas podem ser representadas por um elemento resistivo Rc no circuito
equivalente, colocado em paralelo com o elemento indutivo Lm, conforme apresentado
na Fig. 1.47. Isto corresponde, como será demonstrado, à substituição do laço λ×iφ (Fig.
1.45) pela elipse da Fig. 1.48 a seguir. A área desta elipse é proporcional a λ2máx , isto é,
2 . Portanto, é apropriado que a potência dissipada em R seja
é proporcional a E máx c

proporcional a E2.
λ
^
λ


îφ

Figura 1.48 – Aproximação do laço λ×iφ por uma elipse


Conversão de Energia 75

Ex. 1.20: Determine a natureza da característica λ×iφ quando o indutor é representado


pelo circuito equivalente da Fig. 1.47.
A corrente total no ramo paralelo será dada por:
1 dλ λ
iφ = ic + i m = +
Rc dt Lm

Seja λ = 2 Esen (ωt ) → dλ = 2 Ecos(ωt )


ω dt
R i ωλ
cos(ωt ) → cos(ωt ) = c c e sen (ωt ) =
2E
ic =
Rc 2E 2E
2 2
⎛ ωλ ⎞ ⎛R i ⎞
Então: ⎜⎜ ⎟ + ⎜ c c ⎟ = sen 2 (ωt ) + cos 2 (ωt ) = 1
⎟ ⎜ ⎟
⎝ 2E ⎠ ⎝ 2E ⎠

Logo λ e ic satisfazem a equação de uma elipse.


y, λ x2 y2
+ =1
a a2 b2
2
1 ⎛ ω ⎞ 2E
b = ⎜⎜ ⎟
⎟ ∴a =
a 2 ⎝ 2E ⎠ ω
x, ic
2
1 ⎛ R ⎞ 2E
= ⎜⎜ c ⎟⎟ ∴b =
b2 ⎝ 2E ⎠ Rc

A corrente im está relacionada com λ por: im = λ / Lm = ωλ / Xm.


E que é uma relação linear. A relação entre λ e im+ ic pode ser desenvolvida
graficamente como na Fig. 1.49, a seguir.
λ λ λ
2E Xm / ω
ω

ic + im
2E iφ = ic +im
Rc

Figura 1.49 – Interpretação do laço λ×iφ por uma elipse

1.6.3.3 Indutor Real

É usual o uso de indutores que sejam lineares dentro de uma faixa de operação.
Para isso, na prática, os indutores são construídos com um entreferro no núcleo,
conforme Fig. 1.50. Estes entreferros, conforme já se discutidos no item 1.4.2.1, têm o
efeito de linearização. O resultado é que o indutor pode, freqüentemente, ser
representado satisfatoriamente pelo circuito equivalente da Fig. 1.42(c). Contudo, o
indutor da Fig. 1.50 ainda difere do comportamento ideal devido a presença do fluxo de
dispersão φl que surge devido ao aumento da relutância do caminho do fluxo principal
φm. Este fluxo φl toma a trajetória da relutância Rl através do ar ao redor da bobina, ao
invés do caminho através do núcleo. O fluxo total φ concatenando a bobina, pode ser
dividido em duas componentes:

φ = φl + φl → (dispersão) (1.76)
Conversão de Energia 76


φ m - fluxo
Re
φm Ll diφ
iφ dt
+ dλ
entreferro v e=
v e ic im dt
φl φl
N Lm diφ
fonte Rc
dt

Figura 1.50 – Indutor Real

Conforme se mostrou no Ex. 1.9, a relutância do núcleo será, na prática, bem


menor que a do entreferro , então uma boa aproximação:
φm = ℑ ℜ ge φl = ℑ ℜl
Onde ℑ = Niφ
As indutâncias de magnetização e de dispersão podem ser definidas como segue:

Nφ m =
( )
N Niφ
= Lm iφ e Nφ l =
( )
N N iφ
= Ll iφ
ℜg ℜl
que substituídas na Eq. (1.76):
λ = Nφ = Nφ m + Nφl = Lm iφ + Ll iφ (1.77)

dλ diφ diφ
= Lm + Ll (1.78)
dt dt dt
A partir disto pode-se modificar o circuito equivalente da Fig. 1.47(b), para o da
Fig.1.50(b). O circuito equivalente da Fig. 1.50(b) raramente é necessário para se obter
uma representação mais precisa do efeito do indutor no sistema. Quais elementos do
circuito podem dispensados fica à critério do projetista. Entretanto, o modelo da Fig.
1.50(b) será de grande utilidade na análise do comportamento do transformador.

1.6.3.4 Determinação dos parâmetros do circuito equivalente de um reator


com núcleo de ferro

Modelo 1: Quando se dispuser de um reator para a realização do ensaios para se


determinar Re, a resistência do enrolamento representando as perdas joule, se usa de um
amperímetro, de um voltímetro e de uma fonte de corrente contínua. O quociente
tensão/corrente será o valor da resistência do enrolamento. A resistência assim
encontrada deve ser corrigida para levar em conta seu aumento quando na presença de
corrente alternada (efeito pelicular). A 60Hz é usual considerar-se:
Re = 1,1 a 1,25 Rcc (1.79)
Para a determinação dos elementos do ramo de magnetização (Rc e Xm) se faz
uso do circuito da Fig. 1.51. A bobina é excitada com uma fonte de tensão senoidal de
amplitude e freqüência conhecida. Medem-se a tensão Vef, a corrente Iφef e a potência P,
respectivamente.
Conversão de Energia 77

Iφ ef Pativa Reator
A W
+
v V
Vef

Figura 1.51 – Esquema para determinar Rc e Xm de um indutor

Como a resistência do enrolamento já foi determinada, se conhece a perda de


potência na resistência da bobina, Re(Iφ)2. As perdas no núcleo são Pc = Pativa – Re(Iφ)2.
Supondo que a queda de tensão em Re seja pequena compara a tensão induzida na
bobina, pode-se escrever:
Pc = (Vef)2/Re = Pativa – Re(Iφ)2

De onde: Re = (Vef)2/( Pativa – Re(Iφ)2) (1.80)


O valor eficaz da componente Ic da corrente de excitação, correspondente às perdas no
núcleo, será:
Ic = Vef/Re (1.81)
O valor eficaz da componente Im da corrente de excitação, correspondente à
magnetização do núcleo, será:

I m = I φ2 + I c2 (1.82)
Xm = Vef /Im (1.83)
Modelo 2: Com freqüência é útil e algumas vezes necessário conhecer as
características de operação de um reator antes de estar completamente construído e
pronto para ensaio. Isto é possível se for conhecido os parâmetros do circuito
equivalente.
No caso de excitação em corrente contínua é suficiente a curva B×H do material.
Entretanto, quando se tratar de C.A. não só a relação B×ℑ, mas também se torna
necessário o conhecimento das perdas no núcleo como função da densidade de fluxo e
freqüência. As relações se complicam porque tanto B como ℑ são funções do tempo, e
para uma variação senoidal da densidade de fluxo, ℑ não variará senoidalmente. Por
esta razão a relação entre as quantidades é expressa em termos de Bmáx e Hef (Fig. B

1.52(a)). Essas curvas são conhecidas por curvas de magnetização aparente em C.A. ou
curvas de magnetização em valores eficazes, sendo fornecidas pelos fabricantes.
A curva de perdas no núcleo é traçada como uma função de Bmáx, mantendo a B

freqüência constante. Uma família destas curvas podem ser construídas para uma faixa
de freqüência, Fig. 1.52(b).
Conversão de Energia 78
1.6

1.4

Densidade de Fluxo, B máx [Wb/m2]


1.2

1.0

0.8

0.6

0.4

40 100 200 300 400 1000


Hef [Aesp/m]
Figura 1.52(a) – curva Bmáx×Hef do aço USS, bitola 24.
B

1.8

1.6
25Hz 30Hz
Densidade de Fluxo, B máx [Wb/m2]

1.4
50Hz 60Hz

1.2

1.0

0.8

0.6

0.4
0.1 1.0 2 3 4 5 6
Perdas no Núcleo [W/lb] (1Kg = 2,205 lb (massa))
Figura 1.52(b) – curvas de perdas no núcleo Pc×Bmáx, para o aço USS, bitola 24. B

A seguir apresentam-se alguns exemplos de uso destas curvas.

Ex. 1.21: Considere o reator de núcleo de ferro da Fig. 1.42. O comprimento da


trajetória é 50 cm e a área efetiva da seção transversal do núcleo é 10 cm2. O número de
espiras da bobina é 300. Obter os valores de Rc e Xm do circuito equivalente se a tensão
de operação é v(t) = 150sen(377t). Desprezar a queda de tensão em Re. O material do
núcleo é o aço USS bitola 24.O peso do núcleo é 0,02lb/cm3. As características de
magnetização C. A. para este material são dadas na Figs. 1.52(a) e 1.52(b). A seção
transversal do núcleo é retangular e suas dimensões são 4cm×2,5cm. (1Kg =
2,205lb(massa))
Conversão de Energia 63

1.7. Transformadores

Introdução: Com o advento da industrialização e o crescimento das cidades,


exigências técnicas e econômicas impuseram a construção de grandes usinas elétricas
que, em geral, encontram-se situadas muito longe dos centros de aproveitamento,
originando assim, o fator “transmissão de energia” que encarece os custos finais.
A seguir apresenta-se, esquematicamente, um sistema de potência, onde tem-se:
geração, transmissão, distribuição e transformação de energia elétrica.
Geradores Subtransmissão / Distribuição
consumidor de média tensão
linha de trafo abaixador
trafos elevadores
de tensão transmissão de tensão } linha de média tensão

MT trafo de
AT MT distribuição } consumidores
baixa tensão
de

440V, 380V, 220V


MT- Média Tensão : 11 kV, 13.8 kV, 35 kV (de 2.3 a 35 kV) cabine de 110V
AT- Alta Tensão : 115 kV, 138 kV, 230 kV transformação BT
EAT- Extra Alta Tensão : 245 kV, 500 kV, 765 kV
UAT- Ultra Alta Tensão : acima de 1000 kV.
Figura 1.7.1 - Sistema de energia elétrica.

Num sistema de energia é imprescindível a manipulação do nível de tensão, quer


por motivos de segurança quer por motivos econômicos, ou por ambos. Isto é possível
graças a um equipamento estático, de construção simples e rendimento elevado,
chamado transformador. Como se vê na figura 1.7.1, a energia elétrica, até chegar ao
ponto de consumo, passa pelas seguintes etapas:
a) Geração: onde a força hidráulica dos rios ou a força do vapor superaquecido é
convertida em energia elétrica nos chamados geradores. Entretanto,
problemas de projeto limitam o nível de tensão nos terminais do gerador a
valores relativamente baixos (no máximo 30kV).

b) Transmissão: os pontos de geração normalmente encontram-se longe dos centros


de consumo. Torna-se necessária a transmissão da energia através de linhas
de transmissão que chegam a ter centenas de quilômetros. A figura 1.7.2
apresenta o gráfico do custo em função da tensão, de onde pode se observar
que as perdas decrescem com o aumento da tensão. Isto pode ser
compreendido através do exemplo a seguir.

Ex. 1.7.1: Analisar as perdas em uma linha em função do nível de tensão.


As perdas na linha e a seção dos fios, crescem com o crescimento da corrente, isto é:

Considere: LT1: R1 ; I1 e S1 e LT2: R2; I2 e S2

Sendo ambas de mesmo material e comprimento: 1 = 2 e ρ1 = ρ2, logo:


Conversão de Energia 64

ρl
R1 S S
= 1 = 2
R2 ρl S1
S2
Quanto às perdas: perdas LT1 = P1 = R1 I12, e perdas LT2 = P2 = R2 I22
S I P S S I P I
Admitindo 1 = 1 (1), logo 1 = 2 1 1 ∴ 1 = 1 (2)
S2 I 2 P2 S 1 S 2 I 2 P2 I 2

Conclui-se de (1) e (2) que a transmissão deve ser feita em AT, diminuindo-se
com isso as perdas e a seção dos condutores. Torna-se necessário elevar a tensão no
ponto de geração, para que os condutores possam ser de seção limitada, por fatores
econômicos e mecânicos, e reduzir as perdas. Já, junto de centros de consumo se faz
necessária uma redução da tensão por questões de segurança.
O transformador elevador é usado para elevar o nível da tensão gerada até um
nível considerado satisfatório para a transmissão, e um transformador abaixador é usado
junto à distribuição com intuito de satisfazer os critérios de segurança. Para uma mesma
potência, a elevação da tensão implica numa redução proporcional da corrente e
conseqüentemente na bitola dos condutores, bem como nas perdas. Alguns sistemas
apresentam um nível médio de tensão considerado como subtransmissão (23, 34.5 e 69
kV (kVolts)).
Custo

Custo total

construção

perdas

ponto ótimo nível de tensão


Figura 1.7.2 - Determinação da tensão ótima (aproximada) de transmissão.

c) Distribuição: A tensão é diminuída, por questões de segurança, junto aos pontos


de consumo. O nível de tensão desta primeira transformação, porém, não é
ainda o de utilização, uma vez que é mais econômico distribuí-la em média
tensão. Então, junto ao ponto de consumo, é realizado uma segunda
transformação, a um nível compatível com o sistema final de consumo
(baixa tensão).

1.7.1. Definição
Chama-se transformador a uma máquina elétrica, sem partes em movimento
(estática), que por meio de indução eletromagnética, transfere energia elétrica de um ou
mais circuitos (primário) para outro ou outros circuitos (secundários, terciários),
mantendo a mesma freqüência, podendo haver, entretanto, alteração dos valores da
tensão e corrente.
Conversão de Energia 65

Quanto à aplicação, o transformador é usado para ajustar a tensão de saída de


um sistema à tensão de entrada do seguinte, alterar correntes, isolar eletricamente os
circuitos entre si, ajustar a impedância entre dois estágios (casamento de impedância
objetivando a máxima transferência de potência).

1.7.2. Classificação

1.7.2.1. Quanto à finalidade


a) Transformador de potência (usado conjuntamente com geradores para uma
transmissão eficiente de energia):
a1 - de força: potência nominal acima de 500kVA
a2 - distribuição: potência nominal inferior à 500kVA
b) Transformador de comando
c) Transformador de corrente e de potencial (tensão) - transformadores de
medidas.
1.7.2.2. Quanto ao enrolamento
a) Transformadores de dois ou mais enrolamentos.
b) Auto-transformador.

1.7.2.3. Quanto aos tipos construtivos


I - Quanto ao material do núcleo:
a) Com núcleo de ar: apresentam fraco acoplamento magnético, utilizado,
algumas vezes, em circuitos eletrônicos de baixa potência.
b) Com núcleo ferromagnético: apresentam forte acoplamento magnético,
altas densidades de fluxo, utilizados em sistemas de energia elétrica.
II - Quanto ao número de fases:
a) Monofásico.
b) Polifásico (principalmente trifásico).
III - Quanto à forma do núcleo:

a) Tipo núcleo (nucleado, núcleo envolvido) - figura 1.7.3.1(a) - os


enrolamentos são enrolados ao redor de duas pernas de um núcleo magnético
de forma retangular. Utilizam laminações do tipo L ou em formas
retangulares com o intuito de diminuir as perdas de material (retalhos);
facilitar a estampagem que pode ser efetuada com cortadeira comum; facilitar
a montagem das bobinas sobre o núcleo, as bobinas são previamente
executadas em máquinas de enrolar. A desvantagem principal é a introdução
de entreferros que podem ser minimizados através do empilhamento
(empacotamento) alternado, figura 1.7.3.1b.
Conversão de Energia 66
enrolamento da isolamento da 1 acamada 2 acamada
baixa tensão baixa tensão

b) disposição das juntas nas lâminas


das camadas adjacentes

isolamento da enrolamento da
alta tensão alta tensão
a) disposição das bobinas no núcleo c) formato em L das lâminas

Figura 1.7.3.1 - Transformador tipo núcleo (core type).

b) Tipo núcleo envolvente (encouraçado, blindado) - figura 1.7.3.2(a): os


enrolamentos são enrolados ao redor da perna central de um núcleo
magnético de três pernas. Utilizam laminações em formas de E e retangulares
pelas mesmas razões anteriores.
isolamento 1 a camada 2 a camada
do núcleo

isolamentos

bobina da alta b) disposição das juntas nas lâminas


tensão das camadas adjacentes
bobina da baixa tensão
a) disposição das bobinas no núcleo
Figura 1.7.3.2 - Bobinas e núcleos de transformador do tipo blindado.

Nos dois tipos, as bobinas são montadas sobre a mesma perna com o intuito de
se minimizar o fluxo de dispersão e portanto a reatância de dispersão. Se o enrolamento
de alta tensão ficasse próximo do núcleo, seria necessário isolá-lo tanto do lado do
núcleo como do lado do enrolamento de baixa tensão, e necessitar-se-ia de duas
camadas independentes de isolante para alta tensão. Dispondo-se do enrolamento de
baixa tensão junto ao núcleo será necessário só um isolante para alta tensão, aplicado
entre ambos os enrolamentos.
(1)
(1)
(2)
(2)

(1) bobina de baixa tensão (2) bobina de alta tensão


(a) enrolamento alternado (b) enrolamento concêntrico
Figura 1.7.3.3 – Tipos de disposição dos enrolamentos.
Conversão de Energia 67

IV - Quanto ao tipo de isolação classificam-se em:


a) Transformador a sêco - aquele cujo núcleo e enrolamentos estão imersos no
ar.
b) Transformador em líquido isolante - aquele cujo núcleo e enrolamentos
ficam imersos em dielétrico líquido, empregando-se como dielétrico, óleo
com características especiais.
V - Quanto ao tipo de resfriamento, classificam-se em:
a) Resfriamento natural a ar.
b) Resfriamento por circulação forçada de ar (em particular para os do tipo em
líquido isolante).
c) Resfriamento do líquido isolante à água.
d) Resfriamento do líquido isolante por circulação forçada.
e) Resfriamento do líquido isolante por circulação forçada e ventilação forçada.
1.7.3. Transformador ideal

O transformador consiste de um núcleo com um mínimo de dois enrolamentos,


figura 1.7.4, os quais são concatenados por um fluxo variável no tempo. Sua função é a
transferência de energia elétrica de um circuito a outro, normalmente sem qualquer
conexão entre os dois circuitos. O núcleo pode ser linear (por exemplo, núcleo de ar) ou
não linear (p. ex., núcleo ferromagnético). Em geral, a diferença de potencial na qual a
energia deixa um circuito é diferente da diferença de potencial na qual ela entra no
outro. Portanto, tudo o que se faz necessário para que ocorra a ação de transformação, é
que duas bobinas estejam posicionadas de forma que parte do fluxo produzido pela
corrente numa bobina, concatene algumas das espiras da outra bobina. O arranjo da
figura 1.7.4(a), portanto, constitui um transformador, e alguns transformadores
utilizados em comunicação não são mais elaborados que isto. Entretanto, nos
transformadores de potência, é necessário assegurar o mínimo de perdas. Com isso, as
bobinas são arranjadas em um núcleo ferromagnético de forma a maximizar o fluxo
concatenado com as bobinas.
Como se deseja analisar o comportamento do transformador, procura-se obter
então, um modelo matemático adequado. O primeiro modelo a ser obtido, será o do
transformador ideal, para o qual são assumidas as seguintes características:
i - Os campos elétricos produzidos pelos enrolamentos são desprezíveis.
ii - As resistências dos enrolamentos são desprezíveis.
iii - Todo o fluxo magnético está confinado no núcleo.
iv - A permeabilidade relativa do material do núcleo é tão alta, que uma força
magnetomotriz (ℑ) desprezível é necessária para o estabelecimento do fluxo
no núcleo.
v - As perdas no núcleo são desprezíveis.
Conversão de Energia 68
φ m - fluxo mútuo

φm i2
i1
+. .+
i N1
v1 e1 e2 v2 carga
fonte
N2
primário secundário

(a) - trafo e le me ntar com dois (b) - trafo e le me ntar com dois e nrolame nto
e nrolame nto. e núcle o fe rromagné tico.
Figura 1.7.4 - Análise do transformador ideal.

Se uma tensão v1 é aplicada aos terminais do enrolamento com N1 espiras,


circulará por este uma corrente i1. A força magnetomotriz resultante ℑ1 = N1i1 produzirá
o fluxo φm no núcleo e um fluxo concatenado λ1 no enrolamento N1. Se v1 variar no
tempo, então i1, φm e λ1 variarão no tempo, e uma tensão será induzida no enrolamento
1:
dλ 1
e1 = (1.7.1)
dt
Se ambos, i1 e φm estão aumentando, a força eletromotriz se oporá a mudança da
corrente e atuará como uma força contra eletromotriz (f.c.e.m, e1). De acordo com a
hipótese (iii), o fluxo φm concatena todas as espiras do primário:

dλ 1 dφ
e1 = = N1 m (1.7.2)
dt dt
Além do mais, de acordo com a hipótese (ii):
v1 = R1i1 + e1 = e1 (1.7.3)
O fluxo φm também concatenará as N2 espiras do secundário (enrolamento 2). Se
o fluxo estiver aumentando, uma f.e.m., e2, será induzida e atuará na direção indicada na
figura 1.7.4(b), sendo dada por:
dλ dφ
e2 = 2 = N 2 m (1.7.4)
dt dt
Como as resistências dos enrolamentos são desprezíveis:
v 2 = e2 (1.7.5)
Portanto, de acordo com as três primeiras hipóteses:
v1 e1 N 1
= = =k, (1.7.6)
v 2 e2 N 2
onde k é a relação de transformação.
Esta equação indica que as tensões nos enrolamentos de um transformador ideal
são diretamente proporcionais aos números de espiras dos enrolamentos. Em outras
palavras, para obter-se uma tensão determinada a partir de outra, bastará se dar um
número adequado de espiras a cada enrolamento. Observa-se também, que de acordo
com a equação (1.7.6), o transformador possibilita a interligação de sistemas de
Conversão de Energia 69

diferentes níveis de tensão num sistema elétrico de potência. Vejamos alguns exemplos
aplicativos.
Ex.: 1.7.3.1.: Quer-se enrolar um transformador para as tensões 2200/220V -
60Hz. Dispõe-se de um núcleo de material ferromagnético com seção reta de 20 cm2 e
fator de empacotamento 0.9. A máxima densidade de fluxo permissível é de 12000
gauss. Pede-se quantas espiras devem ter os enrolamentos?
- Cálculo do φmáx permissível (obs.: 1 Wb/m2 = 104 gauss)
φmáx = Bmáx (S.Ke) = 1.2 (20×10–4×0.9) = 0.00216 Wb
B

- Cálculo do número de espiras do primário (N1): de acordo com a equação (1.51):


E1 2200
N1 = = = 3823 espiras
4.44 fφ max 4.44 × 60 × 0.00216
- Cálculo do número de espiras secundárias (N2):
E2 220
N2 = = ≅ 382 espiras
4.44 fφ max 4.44 × 60 × 0.00216

ou, de acordo com a equação (1.76), N2 = N1 × v2 / v1 = 3823 × 220 / 2200 ≈ 382 espiras.

Ex. 1.7.3.2.: Dimensionar uma linha para alimentar, sob tensão de 220V-60Hz,
uma carga de impedância igual a 0.01Ω e fp., cos(φ)= 0.8, a partir de um gerador, 220V-
60 Hz, situada a 10 Km de distância, admitindo-se uma queda de tensão na linha, de
20V.
linha de transmissão
comprimento l = 10 Km

carga | z | = 0.01, cos(φ) = 0.8


(0.8 + j0.61)10 -2, 220 V

- Cálculo da intensidade de corrente:


220
I= = 22 kA
0.01
- A queda de tensão na linha é dada por:
ρl
ΔV = 2 I , onde ρcobre = 17.654 Ωmm2/Km
S
2lρI 2 × 10 × 17.654 × 22000
∴S = = = 388388 mm 2
ΔV 20

Adotando-se condutores de 1000MCM, cuja seção é de 506.7 mm2, em paralelo.


O número de condutores em paralelo é dado por:
388388/506.7 = 767 condutores em paralelo,
verificando-se desde já a impossibilidade prática de execução dessa linha. Outro aspecto
que inviabiliza a construção, é o peso do cobre a ser empregado (cabo 1000MCM pesa
4592kg/Km), assim:
2×10×767×4590 = 70364700 kg
Conversão de Energia 70

Considere agora a possibilidade do uso de dois trafos; o primeiro, o elevador,


próximo do gerador, elevando a tensão de 220V para 220kV, e o segundo trafo,
abaixador, próximo à carga, que abaixa a tensão de 220kV para 220V. Considere trafos
ideais:
22 kA 22 A
22 kA
220V 220 kV
220V

l=10Km
trafo 1 trafo 2
Como não há perdas, potência fornecida à carga = potência absorvida da linha
donde: Vcarga Icarga =Vlinha Ilinha, (VA)
Vc arg a
220
isto é: I linha = I c arg a =
22000 = 22 A
Vlinha 22000
2 × 10 × 17.654 × 22
Com isso a seção dos condutores será: S = = 388.388 mm 2
20
Adotando-se um condutor de 750 MCM resulta na necessidade de dois cabos
com um peso de: (no de cabos×comprimento da linha×no de condutores em paralelo) =
2×10×2×3450 = 138000kg. Quanto às perdas:
17.654 × 2 × 10
para o 1000MCM: P = ( 22 k ) 2 = 439956 W
388388
17.654 × 2 × 10
para o 750MCM: P = ( 22 )2
= 439.96 W
388.388
Ex. 1.7.3.3 Um núcleo de transformador monofásico para uso a 50Hz, exibe a
seguinte característica magnética na freqüência nominal:

Bmáx
B 0.8 1.0 1.1 1.2 teslas
H 128 168 209 297 Aespira eficaz/m
Perdas totais no 1.23 1.85 2.2 2.23 watts/kg
núcleo
curva de magnetização
1.2
Bmax[T] ou [Wb/m2]

1.0

0.8
100 200 300
H r m s[Ae sp/m]

1.0 2.0 3.0


perdas totais [watts/kg]

Área da seção transversal do núcleo é de 17500mm2, o comprimento médio da


trajetória magnética é 1.6m, e a densidade do aço é 7500kg/m3.
Se uma relação de tensão a vazio de 6600/231 é requerida , escolha um número
adequado de espiras primária e secundária tal que a máxima densidade de fluxo não
Conversão de Energia 71

exceda 1.2T. Com estas espiras, calcule a corrente a vazio e o fp a tensão nominal.
Admita por volta de 50 Aesp a mais para suprir os entreferros junto às juntas (ver item
1.7.2.3).
O número de espiras deve ser um número inteiro, e um ajuste mais frio pode ser
efetuado para atender a relação de espiras, sendo que este pode ser efetuado com o
enrolamento de maior número de espiras. Com isso, o número de espiras do
enrolamento de BT deve ser escolhido primeiro. Da equação (1.51):
E1 N 1
N1 = ⇒ 1 =
4.44 f Bmax Area E1 4.44 f Bmax A
Algumas observações quanto a esta fórmula são:
i - A equação estabelece o máximo fluxo (ou densidade de fluxo) mútuo
permissível a uma dada freqüência e a uma dada tensão. Assim, os trafos
projetados para a operação a uma dada freqüência não podem ser
operados a outra freqüência sem as correspondentes alterações na tensão.
ii - Há uma dependência entre a seção do núcleo magnético (A) e o número de
espiras dos enrolamentos, isto é, aumentando a seção reduz-se o número de
espiras e vice-versa.
A escolha de um núcleo muito grande traz o emprego de poucas espiras e,
por conseguinte, um aproveitamento não equilibrado do trafo. Um núcleo
pequeno obriga o uso de enrolamento com muitas espiras, o que
provavelmente não facilitará (ou impossibilitará) sua entrada na janela do
trafo. A área da janela é uma característica das lâminas dos transformadores,
pois dela dependerá o número de espiras e a seção dos condutores que irão
constituir a bobina do trafo. O núcleo bem escolhido é aquele que permite o
emprego de bobinas que entram justas nas janelas.
iii - A relação 1/[(4.44fBmax )A] = K1 / A, onde K1 é uma constante para uma dada
freqüência e uma dada Bmax, é conhecida por “espira por volt”, ou seja, o
B

número de espiras dos enrolamentos para cada volt através delas. A relação
é a mesma para ambos os enrolamentos. A figura a seguir mostra um
exemplo de gráfico de espiras/Volt versus área do núcleo para várias
freqüências.
Conversão de Energia 72
(1) (2)
1.5 30 Gráfico de espiras/Volt
a
versus área do núcleo para
espiras / volt [N/V]
várias freqüências.
1.0 20

b
B = 75000 maxwells
1 maxwell = 10–8 Wb
c A em (polegada)2
0.5 10 1 polegada = 2.54 cm
d V 5
= para 60 Hz
N A
0.0 0
V 12
1.0 2.0 3.0 = para 25Hz
Área do núcleo [polegada]2 N A
curva a - 400Hz (escala 1)
curva b - 25Hz (escala 2)
curva c - 1000Hz (escala 1)
curva d - 60Hz (escala 2)

iv - O número de espiras N será muito menor a 20kHz do que, por exemplo, a


60Hz. De outra forma, a altas freqüências, a área A do núcleo pode ser
muito menor para um dado número de espiras. Em altas freqüências, os
trafos são menores e mais leves.
Continuando o exercício:
E2 231
N2 = = = 49.6 espiras
4.44 fBmax Area 4.44 × 50 × 1.2 × 17500 × 10 − 6
O número inteiro mais próximo é escolhido para manter o fluxo abaixo do
limite, isto é, N2 = 50 espiras e portanto:
231
Bmax = = 1.19 T
4.44 × 50 × 50 × 17500 × 10 − 6
6600
- Cálculo de N1: N 1 = 50 = 1430 espiras
231
Das curvas plotadas, para Bmáx =1.19 → H = 280 Aesp/m e perdas = 2.66 watts/kg:
B

fmmtotal magnetização: Hln + 50 = 280×1.6 + 50 = 498 Aesp ∴Im = 498/1430 = 0.348 A


Perdas no núcleototal =2.66×17500×10–6×1.6×7500 = 559W∴Ic = 559/6600 = 0.085 A
⇒ Iφ = 2
Im + I c2 ⇒ Iφ = 0.359 A

fp a vazio = 0.085/0.359 = 0.237

Continuando a análise do transformador ideal, a fmm (ℑ) líquida atuando no


núcleo em qualquer instante será:
ℑ = N1 i1 – N2 i2 (1.7.7)
De acordo com a hipótese (iv) → μ = ∞:
N1 i1 – N2 i2 = 0 (1.7.8)
Conversão de Energia 73

Relembrando, esta hipótese é equivalente a representar o laço λ-i por uma linha
reta coincidente com o eixo λ, na figura abaixo.
λ

Da equação (1.7.8): i1 = (N2/N1)i2 = i2 / k (1.7.9)


As correntes nos enrolamentos são inversamente proporcionais às espiras dos
enrolamentos. Observa-se também que se mais corrente for absorvida pela carga, mais
corrente será suprida pela fonte. É esse balanço de fmm (eq.1.7.8) que faz com que o
primário sinta a presença da corrente no secundário (na carga). Das equações (1.7.6) e
(1.7.9):
v1 i1 = v2 i2 (1.7.10)
Isto é: potência instantânea de entrada = potência instantânea de saída
Isto já era esperado já que todas as perdas foram desprezadas (hipóteses i,ii e v).
Observe também que, embora não exista conexão física entre a carga e a fonte, tão logo
a potência é consumida pela carga, a mesma potência é suprida pela fonte. O trafo,
portanto, prevê uma isolação física entre a carga e a fonte enquanto mantém a
continuidade elétrica.
Se a fonte supre tensão v1 senoidal, então as equações (1.7.6), (1.7.9) e (1.7.10)
podem ser escritas em termos dos valores eficazes:
V1 N 1
= =k (1.7.11)
V2 N 2
I1 N 2 1
= = (1.7.12)
I 2N1 k
V1 I1 = V2 I2 (1.7.13)
E o sistema pode ser representado pelo diagrama da figura 1.7.5, onde o trafo
ideal é representado simplesmente como duas bobinas, primário e secundário, com N1 e
N2 espiras cada uma, respectivamente. A omissão do núcleo na figura 1.7.5 elimina a
informação dada pela figura 1.7.4(b), no que se refere ao sentido de enrolamento das
bobinas no núcleo. Essa informação é suprida na figura 1.7.5 pelos pontos (z) ao lado
dos enrolamentos. As tensões serão simultaneamente positivas nos terminais com
pontos.
. trafo ideal .
.
.
I1
. . I2

.
.
V1 V2 ZL = Z2
fonte carga
. N1 N2
.
Figura 1.7.5 - Trafo ideal.
1.7.3.1. Impedância de Transferência

Considere o caso de uma tensão aplicada senoidal e uma impedância de carga Z2


no secundário, como na figura 1.7.6(a).
Conversão de Energia 74

. .
. I1
. . I2
. .
. . .
V1 V2 Z2 V1 Z2' = k2 Z2
fonte
. N1:N2
. .
(a) (b)
Z2' impedância Z2 referida ao primário
Figura 1.7.6 - Impedância de transferência num transformador ideal.
.
A impedância de um dispositivo é definida como a relação entre os fasores V e
.
I , logo no secundário, tem-se:
V
Z2 = 2 (1.7.14)
I 2
No primário tem-se:
2
V kV2 V ⎛N ⎞
Z1 = 1 = = k 2 2 = k 2 Z 2 = ⎜⎜ 1 ⎟⎟ Z 2 = Z '2 , (1.7.15)
I I k I
1 2 2 ⎝ N2 ⎠
onde Z2' é a impedância do secundário transferida para o primário.
De acordo com essas equações, uma impedância Z2 conectada ao secundário
parecerá ter um valor Z2' quando vista do primário. O circuito da figura 1.7.6(b) é,
portanto, equivalente ao da figura 1.7.6(a). Uma impedância pode ser transferida do
secundário para o primário se seu valor for multiplicado pelo quadrado da relação de
espira (k). Uma impedância do primário pode ser, também, transferida para o lado do
secundário, e neste caso, seu valor tem que ser dividido pelo quadrado da relação de
espiras.
Z
Z 1' = 1 (1.7.16)
k2
Onde Z1' é a impedância do primário transferida para o secundário.
Esta impedância de transferência é muito útil, porque elimina um circuito
acoplado e substitui por um circuito elétrico e, portanto, simplifica o circuito.
Observa-se que a relação de transformação pode ser empregada para mudar a
impedância efetiva de uma carga imposta à uma fonte. Esta propriedade do trafo pode,
portanto, ser explorada para obter-se o máximo de transferência de potência de fontes
que por si só apresentam uma alta impedância interna Zs. A fim de se obter a máxima
transferência de potência da fonte de impedância Zs à uma carga de impedância resistiva
ZL, é necessário escolher uma relação de espiras tal que:
2
⎛N ⎞
Z L ' = ⎜⎜ 1 ⎟⎟ Z L = Z s [Ω] (1.7.17)
⎝ N2 ⎠
Já no caso de ZL ser complexo:
Z 2 ' = Z *s [Ω] (1.7.18)

Ex. 1.7.3.: Um alto falante de 9Ω, impedância resistiva, é conectado à uma fonte
de 10V e impedância interna de 1Ω. Pede-se:
a) Determinar a potência absorvida pelo alto falante.
Conversão de Energia 75

b) Para maximizar a potência transferida ao alto falante, um trafo de relação de


espiras 1:3, é usado entre a fonte e o alto falante. Determine a potência
absorvida pelo alto falante.
. .
I I

1Ω 1Ω
alto-falante alto-falante
R2 = 9 Ω R2 = 9 Ω
10 V 10 V
1:3

(a) (b)
10
a) Da figura (a) acima: I = = 1A e P = 12×9 = 9W
1+ 9
b) Da figura (b) acima, se a resistência do alto falante é referida ao primário, sua
resistência é:
2
' 2 ⎛1⎞
R2 = k R2 = ⎜ ⎟ 9 = 1 Ω
⎝3⎠
10
I = = 5 A e P = 52×1 = 25W
1+1
Ex. 1.7.4: Um sistema de potência, monofásico, consiste de uma fonte de 480V e
60Hz, suprindo uma carga ZL = 4 + 3j Ω através de uma linha de transmissão de
impedância ZLT = 0.18 + 0.24j Ω. Responda:
a) Se o sistema de potência é o apresentado na figura (a), a seguir, qual será a
tensão na carga? Quais são as perdas na LT?
b) Suponha que um trafo elevador (1:10) seja colocado junto ao gerador e um
abaixador (10:1) junto à carga no final da LT. Quais serão, agora, a tensão na
carga e as perdas na LT?
0.18 Ω j 0.24 Ω

. ZLT
.
Ig Icarga
. . (a)
V = 480/ 0 o V Vcarga ZL = 4 + 3j Ω

. 0.18 Ω j 0.24 Ω
Ilinha
N1 : N2 N3 : N4 .
. (b)
V = 480/ 0 o V 1 : 10 10 : 1 Icarga
.. .. . ZL = 4 + 3j Ω
T1 T2 VL

a) Ilinha = V 480∠0º 480∠0º


= = = 90.8 ∠− 37.8º A
Z linha + Z c arg a (0.18 + j0.24 ) + (4 + j 3) 4.18 + j 3.24
∴Vc arg a = I Z = (90.8∠− 37.8º )(4 + j 3 ) = 454 ∠− 0.9º V
linha L

E as perdas na linha: PLT = (Ilinha)2 ZLT = (90.8)2(0.18) = 1484 Volts


b) Para analisar o sistema da figura (b), é necessário convertê-lo a um mesmo
nível de tensão. Seguem-se dois passos:
1- Elimina-se o trafo T2, referindo a carga para o nível da tensão de linha:
Conversão de Energia 76

Z 'L = k 2 Z L = (10 / 1)2 (4 + j 3 ) = 400 + j 300 Ω


A impedância total do secundário de T1 será agora:
Zeq = ZLT + Z´L = 400.18 +j300.24 = 500.3∠36.88º Ω
. 0.18 Ω j 0.24 Ω
Ilinha
N1 : N2
. .
V = 480/ 0 o V 1 : 10 Icarga
..
T1 ZL' = 400 + 300j Ω

circuito equivalente

A impedância Zeq será agora refletida através de T1 ao nível de tensão de


gerador:
'
Z eq = k 2 Z eq = (1 / 10 )2 [(0.18 + j0.24 ) + (400 + j 300 )] = 5.003∠36.88º Ω

. 0.0018 Ω j 0.0024 Ω
Ilinha
.
Ig

ZL" = 4 + 3j Ω
.
V = 480/ 0 o V

circuito equivalente

480 ∠0º
Ig = = 95.94 ∠− 36.88º A
5.003∠36.88º

Conhecendo-se I g , pode-se obter Ilinha e Ic arg a :


N
Ilinha = 1 Ig =
1
(95.94∠− 36.88º ) = 9.594∠− 36.88A
N2 10
N
Ic arg a = 3 Ilinha =
10
(9.594∠− 36.88º ) = 95.94∠− 36.88A
N4 1

Logo: Vc arg a = Z L Ic arg a = 5∠36.88º × 95.94∠− 36.88 = 479.7 ∠− 0.01V

E as perdas na linha: PLT = ( Ilinha )2 Rlinha = (9.594)2 (0.18) = 16.7 Watts


Observa-se a diminuição das perdas, reduzida de um fator aproximadamente
igual a 90. Também a queda de tensão até a carga é reduzida com a inclusão dos trafos.
Este exemplo ilustra as vantagens do uso de LT de alta tensão como a importância do
transformador nos sistemas de potência.

1.7.4. Circuito Equivalente Linear de um Transformador de Dois


Enrolamentos

O transformador ideal não é um modelo suficientemente preciso para todas as


análises; e quando são exigidos resultados mais precisos sobre o comportamento do
transformador, há a necessidade de um novo modelo. Isto implica em hipóteses e
aproximações menos radicais que as efetuadas na obtenção do modelo de trafo ideal.
Conversão de Energia 77

Um modelo capaz de fornecer resultados mais precisos do comportamento do trafo para


diversas condições de operação é obtido quando as seguintes hipóteses são feitas:
i - Os campos elétricos produzidos pelos enrolamentos são desprezíveis.
ii - As resistências dos enrolamentos podem ser representadas por parâmetros
concentrados nos terminais dos enrolamentos.
iii - A curva B-H do núcleo é linear, μ r é constante e de valor finito. Portanto a
f.m.m. não é nula.
iv - Os fluxos estabelecidos pelas correntes não estão inteiramente confinados no
núcleo, ele pode ser dividido em duas partes distintas
a) Os fluxos de dispersão (φl) concatenam todas as espiras do enrolamento
que o produziu, porém não concatena nenhuma espira do outro
enrolamento.
b) Fluxo mútuo (φm) concatenando todas as espiras de ambos enrolamentos.
v - Perdas no núcleo desprezíveis.
As hipóteses (i) e (v) são idênticas às feitas para o trafo ideal. As conseqüências
das hipóteses (ii) e (iv) são ilustradas na figura 1.7.7(a), onde o sistema magnético do
diagrama representa o transformador, cujos enrolamentos não apresentam resistências,
as quais são consideradas por parâmetros concentrados (R1 e R2), fora dos enrolamentos.
Conversão de Energia 77

(B) ou φ
R1 φm
i1 . . i2 R2 iL
+ + + +
φ l2
v1 e11
φ l1 e22 v2 carga (H) ou i
N1 N2
gerador φ m - fluxo mútuo
φ l - fluxo de dispersão
(a) - circuito com trafo não ideal (conseqüente hipóteses ii e iv). (b) - curva de magnetização
(conseqüente das hipóteses iii e v).
Figura 1.7.7 - Transformador não ideal com núcleo linear.

Antes de prosseguirmos, vamos formular algumas convenções examinando a


figura 1.7.7.
i - Os fluxos serão considerados positivos quando forem no sentido horário.
ii - Correntes positivas são aquelas que estabelecem fluxos positivos. Ao
escolher esta convenção, tanto v1 quanto v2 são consideradas como fonte de
tensão independente.
Entretanto, na prática uma das tensões depende da outra e sendo o enrolamento 2
conectado a uma carga, e11 será uma força contraeletromotriz (fcem), enquanto e22 uma
força eletromotriz (fem). Também, nestas condições a corrente secundária terá o sentido
de i1 e não de i2, ou seja, i2 = – i1. A vantagem de se tomar os sentidos positivos para as
correntes e tensões, em ambos os enrolamentos, no mesmo sentido com relação ao
fluxo, é que, como será visto mais a frente, os sinais algébricos em ambas as equações
das tensões serão os mesmos. Estas equações das tensões, assim obtidas, se aplicam ao
transformador, independentemente do sentido da circulação da potência, isto é,
independentemente de ser o enrolamento 1 ou o 2 que atue como secundário.
Aplicando a Lei de Kirchhoff para os enrolamentos 1 e 2, tem-se:
dλ 1 dφ
Enrolamento 1: v 1 = R1 i1 + e1 = R1 i1 + = R1 i1 + N 1 1 (1.7.19)
dt dt
dλ 2 dφ
Enrolamento 2: v 2 = R 2 i 2 + e 2 = R 2 i 2 + = R2 i 2 + N 2 2 (1.7.20)
dt dt
Estas equações não são de uso prático, a menos que os fluxos φ1 e φ2 sejam
relacionados à configuração geométrica do trafo e às correntes dos enrolamentos. Há
duas formas de se proceder:
1 - Análise do ponto de vista dos fluxos mútuo e de dispersão (ou ainda do ponto
de vista de sistemas de potência): neste método estabelece-se as chamadas
equações de funcionamento do trafo a partir de dois fluxos de indução
relacionados com cada enrolamento, sendo esses fluxos o de dispersão e o
mútuo resultante no núcleo. É a análise mais usual e preferível para os
transformadores de força ou potência, com núcleos ferromagnéticos.
2 - Análise do ponto de vista das indutâncias próprias e mútuas (ou do ponto de
vista de circuitos acoplados): método preferido para o cálculo de circuitos e
para pequenos transformadores, para os quais a componente de corrente de
perdas no núcleo é desprezada face à corrente de magnetização, pois os
núcleos são considerados, praticamente, como isentos de perdas. Este método
Conversão de Energia 78

consiste em estabelecer as equações de funcionamento do trafo a partir de


dois fluxos relacionados com cada enrolamento, ou seja, o fluxo que seria
produzido pela corrente de um enrolamento agindo isoladamente e o fluxo
que seria produzido pelo outro enrolamento e que se soma algebricamente ao
primeiro. Neste caso são introduzidas as indutâncias próprias e mútuas.
Observa-se que os métodos não são mutuamente exclusivos e levam aos mesmos
resultados, quer seja nas equações de funcionamento, quer seja nos circuitos
equivalentes.
1.7.4.1. Análise do Ponto de Vista dos Fluxos Mútuos e de Dispersão
Com relação à figura 1.7.7(a), suponha que no enrolamento 1 circule uma
corrente i1 e que i2 seja nula. Nestas condições tem-se as figuras 1.7.8(a) e (b).
φ 21
i1 . . i2 = 0
φl1 φ21
+ +
φ l1 φ11
v1 e11 pl1 pm
F1 = N1i1
N1 N2

pl1 - permeância da trajetória de φ l1


pm - permeância do núcleo
(a) - trafo não ideal com núcleo linear, com i1 =/ 0 e i2 = 0 (b) - circuito magnético.
Figura 1.7.8 - Análise do transformador não ideal, com i1 ≠ 0 e i2 = 0.

O fluxo total produzido pela corrente i1 será:


φ 11 = φ l 1 + φ 21 (1.7.21)
Onde: φ11 - fluxo total
φl1 - fluxo de dispersão, só enlaça as N1 espiras.
φ21 - parte do φ11, confinado no núcleo, que concatena as N2 espiras do
enrolamento 2.
Da figura 1.7.8(b), tem-se:
φL1 = Pl1N1i1 (1.7.22a)
φ21 = Pm N1i1 (1.7.22b)
Substituindo (1.7.22(a) e (b)) em (1.7.21):
φ11 = (Pl1 + Pm)N1i1 = P11N1i1 (1.7.23)
i1 = 0 . . i2
φ l2
+ pl2
v2 pm
F2 = N2 i2
N1 N2 φ12 φl2 φ22
φ 12
pl2 - permeância da trajetória de φ l2
pm - permeância do núcleo
(a) - trafo não ideal com núcleo linear, com i1 = 0 e i2 =/ 0 (b) - circuito magnético.
Figura 1.7.9 - Análise do transformador não ideal, com i1 = 0 e i2 ≠ 0.
Conversão de Energia 79

Procedendo de forma análoga para i1 = 0 e i2 ≠ 0, figura 1.7.9, tem-se:


φ 22 = φ l 2 + φ12 (1.7.24)
φl2 = Pl2N2 i2 (1.7.25a)
φ12 = PmN2i2 (1.7.25b)
Logo: φ22 = (Pl2 + Pm)N2 i2 = P22N2 i2 (1.7.26)
Considerando-se agora, a circulação de ambas as correntes (i1 ≠ 0 e i2 ≠ 0) tem-
se a figura 1.7.10(a) e (b). Os enlaces totais de fluxos nos enrolamentos serão:
φ m = φ 21 + φ 12
φ m = φ 21 + φ 12
i1 . . i2
φl1
+ + φ l2 pm
φ l1 + + φ1 F2 = N2 i2
v1 e 11 pl1 pl2
e22 v2
N1 N2 F1 = N1i1 φl2 φ2

φ m - fluxo mútuo
(a) - trafo não ideal com núcleo linear, com i1 =/ 0 e i2 =/ 0 (b) - circuito magnético.
Figura 1.7.10 - Análise do transformador não ideal, com i1 ≠ 0 e i2 ≠ 0.

Enrolamento 1: o fluxo φ1 concatenando as N1 espiras será:


φ1 = φ11 + φ12 = φl1 + φ21 + φ12 = φl1 + φm (1.7.27)
Onde φm é o fluxo mútuo que concatena a ambos enrolamentos sendo produzido
pela força magnetomotriz resultante:
ℑ1 + ℑ 2
φm = = P m (ℑ1 + ℑ 2 ) (1.7.28)
ℜm
Enrolamento 2: o fluxo φ2 concatenado com as N2 espiras do enrolamento 2, será:
φ2 = φ22 + φ21 = φl2 + φ12 + φ21 = φl2 + φm (1.7.29)
Substituindo-se estes fluxos nas equações (1.7.19) e (1.7.20), tem-se:
dφ l 1 dφ m
v 1 = R1 i1 + N 1 + N1 (1.7.30a)
dt dt
dφ dφ m
v 2 = R2 i 2 + N 2 l 2 + N 2 (1.7.30b)
dt dt
Desde que a maior parte da trajetória do fluxo de dispersão é através do ar, e
desde que o ar tem uma relutância constante muito maior que a do núcleo, os fluxos de
dispersão, φl1 e φl2 serão diretamente proporcionais às suas respectivas correntes i1 e i2.
Definindo-se agora as indutâncias de dispersão:
dφ l 1 N 1 φ l 1 N 1
Ll 1 = N 1 = = P l 1 N 1 i1 = N 1 2 P l 1 (1.7.31a)
di1 i1 i1
dφ N φ N
Ll 2 = N 2 l 2 = 2 l 2 = 2 P l 2 N 2 i 2 = N 2 P l 2
2
(1.7.31b)
di 2 i2 i2
e as fem induzidas nos enrolamentos pelo fluxo mútuo φm por:
Conversão de Energia 80

dφ m
e1 = N 1 (1.7.32a)
dt
dφ m
e2 = N 2 (1.7.32b)
dt
Substituindo-se as equações (1.7.31a e b; 1.7.32a e b) nas equações (1.7.30a e b),
obtém-se:
di
v 1 = R1 i1 + Ll 1 1 + e1 (1.7.33a)
dt
di
v 2 = R 2 i 2 + Ll 2 2 + e 2 (1.7.33b)
dt
e1 N 1
Das equações (1.7.32a e b): = =k (1.7.34)
e2 N 2

1.7.4.2. Circuito Equivalente Parcial

Considere o circuito da figura 1.7.11, onde o sistema magnético do diagrama


representa o trafo desprovido agora, de resistências do enrolamento e indutâncias de
dispersão. As equações do circuito, baseadas na L.K.V., para os enrolamentos são as
mesmas das equações (1.7.33a e b), ou seja, as da trafo da figura 1.7.7. Por esta razão
este circuito é o “circuito equivalente parcial” do trafo não ideal. “Parcial” porque a ℑ
líquida no trafo ideal é nula, enquanto que agora já não é mais (ver equações 1.7.8 e
1.7.28); “equivalente” porque visto dos (quatro) terminais, tanto o circuito da figura
1.7.11, quanto o trafo da figura 1.7.7 apresentam as mesmas condições externas
(observe que um circuito equivalente não descreve as condições internas do equivalente
real).
R1 φm
i1 Ll1
. . Ll2 R2
i2
+ + + + +
φ l1
+
e11 e1 φ l2
v1 e2 e22 v2
N1 N2
fonte

Figura 1.7.11 - Introdução das indutâncias de dispersão.

Segue algumas observações à respeito do fluxo de dispersão e de sua representação


por uma indutância Ll1 e Ll2, em série com os respectivos enrolamentos, 1 e 2:
a) Os fluxos φl1 e φl2, não concatenam as suas respectivas N1 e N2 espiras na sua
totalidade, conforme representado na figura 1.7.7(a). Existem linhas que
concatenam um número de espiras menor do que aquelas N1 e N2. Seja φl1’,
por exemplo, o fluxo de dispersão do enrolamento 1 que concatena a N1’
espiras, φl1’’ o que concatena a N1’’ espiras, etc. Logo:
φ l 1 ' N 1 ' + φ l 1 ' ' N 1 ' ' +... = N 1 φ l 1
Considera-se dessa forma um fluxo φL1, fictício, de dispersão, o qual,
idealmente, concatena a todas N1 espiras, conforme a figura 1.7.7a.
Conversão de Energia 81

b) Na representação da figura 1.7.7(b), a bobina primária (por exemplo) não


mais é responsável pela produção de φl1, posto que este será produzido, agora,
por uma outra bobina cuja indutância é Ll1, com o mesmo número de espiras
que a do enrolamento 1 (ou seja, N1). Esta bobina, colocada em série com a
do enrolamento 1, será dimensionada de forma a produzir, ao circular uma
corrente i qualquer, o mesmo fluxo φl1, que tal corrente i (ou im) produziria na
do enrolamento (no que se refere ao fluxo de dispersão φl1). Esta hipótese,
referente ao mesmo número de espiras de N1, não é indispensável, porém é
útil do ponto de vista didático. Além disso, tal separação traz como vantagem
de se colocar em evidência que o fluxo φm se refere a um circuito
ferromagnético (não necessariamente linear), enquanto φl1 pode ser
considerado, praticamente, com circuito não ferromagnético (ou seja o ar, que
é linear), o que possibilita assumir Ll1 e Ll2 constantes, dadas pelas equações
1.7.31(a) e (b).
c) A menos que o núcleo se sature, os fluxos φl1 e φl2 permanecem proporcionais
às correntes i1 e i2, respectivamente, responsáveis por sua produção, com isso:
i - Suas fases não mudam.
ii - φl aumenta com a carga.
d) A tensão e1 difere, agora, de v1 devido às quedas em R1 e Ll1, mesmo em vazio (sem
carga). Entretanto, na prática R1 e L1 apresentam-se da ordem de 0.002 a
0.06% de v1 quando de circulação o im (em vazio). Consequentemente, com
boa aproximação, pode-se aceitar v1 = e1.
1.7.4.3. Corrente de Magnetização e Circuito Equivalente Exato
A - Trafo em vazio - diagrama vetorial
Dando prosseguimento ao desenvolvimento do circuito equivalente, observa-se
que o circuito da figura 1.7.11, tem que ser modificado para levar em conta o fato de
que a ℑlíquida ≠ 0 neste caso (μr não é infinito), ou seja, N1i1 + N2i2 ≠ 0. Ambas as
correntes não podem ser nulas ao mesmo tempo, a não ser que se desconecte a fonte e a
carga ao mesmo tempo. O transformador apresentará as mesmas características de um
reator quando o secundário for mantido em vazio (sem carga, aberto), e uma tensão v1
for aplicada ao primário (enrolamento 1). Nestas condições, irá requerer uma corrente
de magnetização para estabelecer o fluxo φ11 no núcleo. Nestas condições ter-se-á :
ℑ1 + ℑ 2 ℑ1
φm = = = φ 21 (1.7.35)
ℜm ℜm
Se uma tensão alternada senoidal for aplicada pode se desenhar o diagrama
fasorial, figura 1.7.12. I1 será a corrente de magnetização produzindo, φ 11 que se
encontrará em quadratura com V1 (desprezando a queda em R1). As duas componentes
de fluxo φ l 1 e φ 21 estão em fase com I1 . Será mostrado posteriormente que quando no
secundário circula uma corrente, o fluxo mútuo resultante φ não mais permanecerá em
m

fase com I1 devido à reação da ℑ2. Contudo a fase de φ l 1 não mudará.
A componente de dispersão pode ser representada pelo fasor jωLl1 I1 = jXl1 I1
(adiantado 90º em relação a I1 ). E 1 estará defasado 90º (adiantado) com relação a φ m .
Conversão de Energia 82

Como E 1 está adiantado de 90º com relação a I1 , pode-se representá-lo por: jXm I1 ,
onde Xm = ωLm . Em geral, E 1 está sempre em quadratura com φ m , mas não com I1 .
.
j Xl1 I1
. N1 dφ l1 . .
E2
dt . e2
I1 = Im
N2 dφ 21 V1
dt . N1 dφ 11 v1
E1 dt . Xl1
N1 dφ 21 . e1 . j Xl1 I1
dt
.
I1
. .
i1
V1
. . . . .
tempo j Xm I1 = E1 E2
φ 21 = φ m φ l1
Xm
φ 21 = φ m=
. = φmsenwt
φ 11

(a) diagrama fasorial (b) variações instantânea (c) circuito equivalente

Figura 1.7.12 - Transformador não ideal (linear) em vazio (sem carga).

B) Trafo não-ideal - em carga

Considere-se que agora circule pelo secundário uma corrente il = –i2 ≠ 0. Ou


seja, ao conectar-se ao secundário do trafo (enrolamento 2) uma carga qualquer (Z2 = R2
+ jX2), estando o primário (enrolamento 1) excitado por uma tensão variável com o
tempo, v1, a tensão induzida no secundário, e2, fará com que circule uma corrente de
carga il, cujo módulo e fator de potência será determinado pela impedância ZL. Segue-se
que:
i) com a circulação de i2, uma nova força magnetomotriz ℑ2(=N2i2) atuará no
núcleo. Em vazio tinha-se que φm = ℑ1/Rm, ou seja, φm = φ21. Com o surgimento
de ℑ2 (observe que i2 = –iL) haverá uma mudança do fluxo mútuo φm,
reduzindo seu valor de pico e conseqüentemente o de e1. Observe, também, que
agora:

ℑ1 + ℑ 2 ℑ1 − ℑ L N 1i1 − N 2 i L
φ 12 + φ 21 = φ' m = = = = P m ( N 1i1 − N 2 i L )
Rn Rn Rn

ii) devido às quedas de tensão na impedância primária ser pequena, uma


pequena alteração de e1 causará um aumento apreciável da corrente do
primário, de Im para um novo valor:
V − E 1
I1 = 1
Z1
Conversão de Energia 83

Observa-se que v1 não se alterará, por ser uma fonte de tensão (constante).
Também, que a queda de tensão no primário (Z1 I1 ), nos trafos de potência, são da
ordem e 0.002% a 0.06% de V1 quando a vazio e da ordem de 0.2% a 6% de V1 , à plena
carga. Destas observações pode-se concluir que:
a) E será aproximadamente igual a V
1 1

b) O aumento da corrente primária cancela, praticamente, a ℑ2. Assim o fluxo


mútuo sofre uma leve modificação e requer, dessa forma, a mesma fmm N1im que
requeria em vazio. A ℑ1 aumentará de uma quantia igual a N1 i2′ necessária para
neutralizar ℑ2 = N2 i2, ou seja:
N 1im' = ℑ n = ℑ1 + ℑ 2 = N 1i1 + N 2 i2 = N 1i1 − N 2 i L
N2 N (1.7.36)
i1 = im' + i L = im' − 2 i2 = im' + i2'
N1 N1
onde i′m é a corrente que seria requerida no enrolamento 1 para produzir o fluxo mútuo
φ′m. Esta pode ser chamada de corrente de magnetização referida ao enrolamento 1 (N1
espiras).
Desde que i′m é uma corrente responsável pela criação de fluxo, esta deverá
circular num circuito indutivo. Então as equações (1.7.34) e (1.7.36) podem ser
consideradas como correspondendo a um circuito constituído de um trafo ideal com
uma indutância Lm, conectada aos terminais do enrolamento 1, pela qual circulará i′m.
Este circuito está apresentado na figura 1.7.13. A exigência de que a ℑ resultante no
núcleo do trafo ideal seja nula, é, dessa forma, atendida:
⎛N ⎞ ⎛N ⎞
N 1 i2' + N 2 i2 = N 1 ⎜⎜ 2 i2 ⎟⎟ + N 2 i2 = 0 = N 1 ⎜⎜ 2 i2 ⎟⎟ − N 2 i L (1.7.37)
⎝ N1 ⎠ ⎝ N1 ⎠
' '
i2 N 1 i 1
=− 2 =− ou 2 = (1.7.38)
i2 N1 k i2 k
A corrente i′2 é chamada componente primária da corrente de carga, ou corrente
secundária referida ao primário. O sinal negativo resultou do fato de as duas correntes
na figura 1.7.7(a) serem positivas, e significa que para o trafo alimentar uma carga, não
pode ser as duas correntes positivas ao mesmo tempo.
Observa-se que V1/V2 ≈ k quando se tratar de cargas leves e, que I1/I2 ≈ 1/k,
tratando-se de cargas pesadas (nominal). A impedância Lm pode ser definida como:
N 1 φ m N 12
= = Lm (1.7.39)
im' Rm

R1 Ll1 Ll2 R2
i1 -i'2 N1 : N2 i2
+ + i'm + .. + + +
v1 e11 e1 e2 e22 v2
Lm

trafo ideal
Figura 1.7.13 - Circuito equivalente completo do trafo não ideal e núcleo linear da figura 1.7.7(a).

Observação:
Conversão de Energia 84

⎛ N ⎞
( ) ( )
φ m = ( N 1i1 + N 2 i2 )P m = P m ⎜⎜ i1 + i2 2 ⎟⎟ N 1 = N 1 i1 − i2' P m = N 1 im' P m ⇒
⎝ N1 ⎠
a vazio
λ ⎛λ ⎞ N 12
⇒ N 1φ m = λ m = N P i 2 '
∴ Lm = ' m = ⎜⎜ 1 ⎟⎟ = N 12P m =
ℜm
1 m m
im ⎝ i1 ⎠

1.7.4.4 - Análise do Ponto de Vista de Circuitos Acoplados


O trafo de dois enrolamentos da figura 1.7.7(a) pode, também, ser representado
por um circuito linear consistindo de dois ramos com uma indutância mútua entre eles.
Este circuito alternativo pode ser desenvolvido considerando que o fluxo mútuo φm, que
concatena todas as espiras de ambos enrolamentos, consiste de duas componentes,
sendo uma produzida por um enrolamento e a outra pelo outro enrolamento. Referindo-
se às figuras 1.7.10 (a) e (b) , os enlaces de fluxo totais dos enrolamentos são φ1 e φ2,
quando i1 ≠ 0 e i2 ≠ 0.
φ1 = φ11 + φ12 (1.7.40)
onde: φ11 - fluxo próprio, devido a i1
φ12 - fluxo mútuo, componente de fluxo devido a i2 , que enlaça o enrolamento 1
Das equações (1.7.23) e (1.7.25b):
φ1 = P11 N1 i1 + P m N2 i2 (1.7.41)
Analogamente para o enrolamento 2:
φ2 = φ22 + φ21 (1.7.42)
onde: φ22 - fluxo próprio, devido a i2
φ21 - fluxo mútuo, componente de fluxo devido a i1, que enlaça o enrolamento 2
Das equações (1.7.22b) e (1.7.26):
φ2 = P 22 N2 i2 + P m N1 i1 (1.7.43)
Substituindo as equações (1.7.40) e (1.7.42) nas equações (1.7.19) e (1.7.20):
dφ 11 dφ
v1 = R1 i1 + N 1 = N 1 12 (1.7.44a)
dt dt
dφ 22 dφ
v 2 = R2 i 2 + N 2 = N 2 21 (1.7.44b)
dt dt
Definindo:
dφ 11 φ λ
- indutância própria do enrolamento 1: L11 = N 1
= N 1 11 = 11
di1 i1 i1
dφ φ λ
- indutância própria do enrolamento 2: L22 = N 2 22 = N 2 22 = 22
di2 i2 i2
dφ λ
- indutância mútua do enrolamento 1 com relação ao 2: M 12 = N 1 12 = 12
di2 i2
dφ λ
- indutância mútua do enrolamento 2 com relação ao 1: M 21 = N 2 21 = 21
di1 i1
As equações (1.7.44a) e (b) podem, agora, ser escritas como:
Conversão de Energia 85

di1 di
v1 = R1 i1 + L11 + M 12 2 (1.7.45a)
dt dt
di2 di
v 2 = R2 i2 + L22 + M 21 1 (1.7.45b)
dt dt
Expressando as indutâncias próprias e mútuas em função das permeâncias:
N 1 φ 11 = λ 11 = P11 N 12 i1 ⇒ L11 = P11 N 12 (1.7.46a)
N 2 φ 22 = λ 22 = P12 N 22 i2 ⇒ L22 = P22 N 22 (1.7.46b)
N 1 φ 12 = λ 12 = Pm N 1 N 2 i2 ⇒ M 12 = Pm N 1 N 2 (1.7.46c)
N 2 φ 21 = λ 21 = Pm N 2 N 1 i1 ⇒ M 21 = Pm N 2 N 1 (1.7.46d)
Das duas últimas equações: M12 = M21 = M. Logo:
di1 di
v1 = R1 i1 + L11 +M 2 (1.7.47a)
dt dt
di2 di1
v 2 = R2 i2 + L22 +M (1.7.47b)
dt dt
Estas duas equações descrevem o trafo não ideal de núcleo linear da figura 1.7.7
e podem ser usadas para construir o circuito da figura 1.7.14 (a) e (b).
R1 M R2 R1 L11 - M L22 - M R2
i1 i2 i1 i2
+ + .. + + + +
e11 L11 L22 e 22 v1 v2
v1 v2 M

(a) - circuito equivalente acoplado magnéticamente (b) - circuito equivalente acoplado condutivamente
(acoplamento mútuo)
Figura 1.7.14 - Circuitos equivalentes do trafo não ideal com núcleo linear
(sem perdas por histerese ou Foucault)

Este modelo é freqüentemente usado para representar um trafo de dois


enrolamentos com núcleo de ar. Este é raramente usado para trafos com núcleo
ferromagnético porque a permeabilidade do núcleo é muito alta, levando a baixos
valores de relutância e portanto a altos valores de L11, L22 e M. Se o núcleo for assumido
como perfeito (μr = ∞) todas as indutâncias tornam-se infinitas e as equações (1.7.47a e
b) tornam-se indeterminadas.
A diferença entre este circuito equivalente e o outro, é que este não tem trafo
ideal e os elementos indutivos da figura 1.7.14 (b) não têm nenhum acoplamento
magnético entre si. Observa-se que neste circuito, nos casos de forte acoplamento
(trafos de núcleo de ferro), ter-se-á quase sempre uma ou outra (L1 = L11 - M ou L2 = L22
- M) negativa, já que M está, usualmente, entre os valores das indutâncias próprias.
Mesmo que isto possa ser um problema físico de exeqüibilidade, matematicamente essa
indutância negativa não traz problemas na solução do circuito. No caso de baixo
acoplamento (núcleo de ar, por exemplo) elas são, mais comumente, ambas positivas.
Nota-se ainda que os parâmetros e variáveis desse circuito não são referidos a
nenhum dos lados. v1, i1 e v2, i2 são os valores verdadeiros do primário e secundário.
Os circuitos equivalentes das figuras 1.7.13 e 1.7.14, obtidos por dois métodos
diferentes, não são mutuamente exclusivos e levam aos mesmos resultados, quer seja
nas equações de funcionamento, quer seja nos circuitos equivalentes. Para demonstrar
essa afirmação, serão necessárias algumas definições e suposições básicas.
Conversão de Energia 86

1.7.4.5 - Coeficiente de Acoplamento e Constantes Associadas a um


Transformador de Núcleo Linear
- Coeficiente de Acoplamento (Ka): Das equações de definição das indutâncias
próprias e mútuas, tem-se:
M 2 − L11 L22 = N 12 N 22P m2 − N 12 N 22P11P 22 (1.7.48)
Quando não há dispersão, Pm = P11 = P22 , tem-se, nestas condições, o trafo
perfeito para o qual:
M2 - L11 L22 = 0
Se os fluxos de dispersão são diferentes de zero, P11 > Pm e P22 > Pm, ter-se-á
uma desigualdade:
M 2 − L11 L22 = N 12 N 22 (Pm2 − P11 P22 ) < 0
Esta desigualdade desaparece quando se introduz uma constante Ka (0 < Ka < 1)
M 2 − K a2 L11 L22 = N 12 N 22 ( P m2 − K a2P11P 22 ) = 0

ou M = K a L11 L22 , (1.7.50a)


Pm
Ka = <1 (1.7.50b)
P11 P22
A constante Ka é chamada de coeficiente de acoplamento. Para um trafo perfeito,
Ka =1. O valor de Ka depende somente das permeâncias das trajetórias e dos fluxos
- Indutâncias de Dispersão em Termos das Indutâncias Própria e Mútua:
Multiplicando a equação 1.7.21 por N1 / i1, obtém-se:
N1 N N
φ 11 = 1 φ l 1 + 1 φ 21
i1 i1 i1
N1 N N N N N
ou φ l 1 = 1 φ 11 − 1 φ 21 = 1 φ 11 − 1 2 φ 21
i1 i1 i1 i1 N 2 i1

De acordo com as equações de definição das indutâncias própria, mútua e de dispersão:


N1
Ll 1 = L11 − M = L11 − kM (1.7.51a)
N2
onde k = N1/N2 é a relação de transformação. Procedendo de forma similar a partir da
equação do fluxo próprio do enrolamento 2, obtém-se:
1
Ll 2 = L22 − M (1.7.51b)
k
1.7.4.6 - Formas Modificadas dos Circuitos das Figuras 1.7.13 e 1.7.14(b)

O objetivo aqui é o de mostrar que ambos circuitos são idênticos e obter as


equações que relacionam os parâmetros de ambos, entre si. Começar-se-á pela
modificação do circuito da figura 1.7.13 com o intuito de se eliminar o trafo ideal. A
seguir, se obterá uma forma mais generalizada do circuito da figura 1.7.14(b), e se
Conversão de Energia 87

mostrará que esta forma geral não é mais que uma das formas modificadas da figura
1.7.13.
A - Circuito equivalente referido ao primário
Considere a equação (1.7.33b) multiplicada por k = N1 /N2:
di2 i di / k
kv2 = kR2 i2 + kLl 2 + ke1 = k 2 R2 2 + k 2 Ll 2 2 + ke2
dt k dt
Da equação (1.7.38), –i′2 = i2/k, e da equação (1.7.34), e1 = ke2, logo:
di' 2
e1 = ke2 = kv2 + k 2 R2 i' 2 + k 2 Ll 2 (1.7.52)
dt
Substituindo esta equação na (1.7.33a):
di1 di'
v1 = R1 i1 + Ll 1 + kv2 + k 2 R2 i' 2 + k 2 Ll 2 2 (1.7.53)
dt dt
Esta equação junto com a equação (1.7.36) permite obter o circuito da figura
1.7.15(a), no qual todos os parâmetros são referidos ao enrolamento 1 (primário) do
trafo; elimina-se com isto o trafo ideal. Este poderia ter sido obtido usando a idéia de
impedância de transferência; ver item 1.7.3.1.
i1
R1 Ll1 2
i'2 = -i2 /k k Ll2 k 2 R2 R1 / k 2 Ll1 / k 2 Ll2 R2
ki1 i2
+ i'm + + ki'm +
e1 Lm
v1 e1 Lm ke2 kv2 v1 / k e2 v2
k k2

(a) - circuito equivalente referido ao primário. (b) - circuito equivalente referido ao secundário.

Figura 1.7.15 - Circuitos equivalentes do trafo não ideal da figura 1.7.13

B - Circuito equivalente referido ao secundário (figura 1.7.15(b)):


Usando a teoria de trafo ideal, pode-se refletir as correntes do primário de
acordo com a equação (1.7.9), i2 = k i1, logo:
i′1 será a corrente i1 refletida para o secundário: i′1 = k i1
i″m será a corrente i′m refletida para o secundário: i″m = k i′m
Quanto às impedâncias (indutâncias e resistências), de acordo com a equação (1.7.16):
R′1 = R1 / k2 L′l1 = Ll1 / k2 L′m = Lm / k2
Com estas transformações pode-se construir o circuito da figura 1.7.13(b).
C - Circuito equivalente acoplado (figura 1.7.14) modificado:
Considere o circuito equivalente da figura 1.7.14. As equações (1.7.47a e b)
descrevem este circuito. Rescrevendo as equações na forma:
di1 di 1
v1 = R1 i1 + L11 + kM 2 (1.7.54a)
dt k dt
Conversão de Energia 88

i2 d ⎛i ⎞ di
k v 2 = k 2 R2 + k 2 L22 ⎜ 2 ⎟ + kM 1 (1.7.54b)
k dt ⎝ k ⎠ dt

Pode-se obter o circuito modificado da figura 1.7.16 abaixo:


i1
R1 L11 - kM k 2 (L22 - M / k) k 2 R2 i2 /k
+ i'm = (i1 + i2 /k) +
v1 e1 kM
e'2 = e1 kv2

Figura 1.7.16 - Forma modificada do circuito da figura 1.7.14

Comparando as figuras 1.7.15(a) e 1.7.16 observa-se que são idênticos,


excetuando as indutâncias paralelas Lm e kM, já que se demonstrou no item 1.7.4.5 que
Ll1 = L11 - kM e Ll2 = L22 – M / k. Resta demonstrar a igualdade entre Lm e kM.
Suponha que o lado 2 do trafo (figura 1.7.7) está em aberto e uma tensão v1 é
aplicada ao enrolamento 1. A indutância total (auto-indutância) do enrolamento 1 é L11.
Agora, no circuito equivalente da figura 1.7.15(a), v1 estará aplicado a Ll1 + Lm. Já no
circuito da figura 1.7.16, v1 é aplicado a L11. Logo:
Ll1 + Lm = L11 (1.7.55)
Mas, da equação (1.7.51a): Ll1 = L11 – kM
Logo: L11 – kM + Lm = L11 ⇒ Lm = kM (1.7.56)

Observação (de outro modo): Da equação (1.7.39): Lm = N12Pm


E da equação (1.7.46c), M12 = N1 N2 Pm
Logo: Lm = N1 N1 Pm = N1 M12 / N2 = kM12 = kM
Fica desta forma estabelecida a identidade completa dos circuitos das figuras
1.7.15a e 1.7.16.
O circuito da figura 1.7.13 (baseado nos conceitos de fluxos de dispersão)
apresenta um quadro realista do fenômeno físico que se apresenta num trafo. Tem como
vantagem a possibilidade de se visualizar as imperfeições do trafo real. As resistências
dos enrolamentos e as indutâncias de dispersão introduzem quedas de tensão no
primário e secundário, o que faz com que a relação entre as tensões v1 e v2 seja diferente
do quociente N1 / N2; o mesmo acontece com as correntes. Outro aspecto é que os
efeitos de não-linearidade podem ser considerados apenas em cima da indutância Lm
(que não seria constante neste caso). Lembra-se que exceto pela corrente de excitação
circulante em Lm, o trafo com núcleo de ferro tem essencialmente as propriedades de um
circuito linear, já que R1, R2, Xl1 e Xl2 são aproximadamente constantes.
Num trafo com núcleo ferromagnético, o fluxo mútuo resultante é
aproximadamente igual ao fluxo no núcleo e portanto se supõe que a não-linearidade
das características magnéticas do núcleo só afetam a relação entre este fluxo mútuo
resultante e a corrente de magnetização. Se esta for fraca frente à componente de carga
de corrente do primário ( i′2), ou se a amplitude da variação do fluxo mútuo resultante é
relativamente pequena, os efeitos da não-linearidade magnética são relativamente pouco
importantes, e, em tais condições, o trafo com núcleo de ferro se comporta como um
elemento de essencialmente linear.
Conversão de Energia 89

A vantagem do outro circuito, figura 1.7.14, é que são utilizados apenas


elementos passivos os quais não tem acoplamento magnético entre os elementos. Este
circuito encontra grande utilidade na análise de transitório de trafos. É útil também para
a determinação das características externas de um trafo como elemento de circuito
quando se desconsideram as perdas no núcleo e a não-linearidade magnética. Não
conduz entretanto a um conceito físico tão claro dos fenômenos internos do trafo com
núcleo de ferro.

Variáveis e parâmetros Trafo real Trafo ideal


Resistências ôhmicas dos Não nulas Nulas
enrolamentos
Fluxo φm em carga a) ligeiramente diferente do existente em Igual ao de vazio
vazio, nos trafos de forte acoplamento
magnético
b) muito diferente nos de fraco
acoplamento, como trafos de núcleo de ar
Fluxos de dispersão φl a) pequenos no caso de forte acoplamento Inexistente
b) relativamente grande nos de fraco
acoplamento
Indutâncias de dispersão Não nulas; relacionadas diretamente com Nulas
dos enrolamentos o item anterior
fem e1 e e2 e1 ≠ v1 ; e2 ≠ v2 ; e1 /e2 = N1 / N2 ; e1 = v1 ; e 2 = v 2 ;
v1 / v2 ≠ N1 / N2 e 1 2 = v1 / v2 = N1 /N2
/e
Impedância interna Diferente de zero Nula
Corrente de curto Finita Infinita
Permeabilidade magnética Finita Infinita
do núcleo
Corrente de magnetização a) pequena nos casos de núcleos Nula
ferromagnéticos
b) alta nos núcleo não ferromagnéticos
(p.ex : ar)
Perdas Joule Proporcionais às resistências efetivas dos Inexistentes
enrolamentos
Perdas no núcleo a) diferentes de zero, embora Inexistentes
relativamente pequenas
b) inexistentes no caso de núcleo de ar (Rc
infinita)
R1 Ll1 L'l2 R'2

Circuito equivalente
v1 Rc Lm v'2 v1 v'2

Tabela 1.7.1-Sumário comparativo entre trafo real e trafo ideal.

O trafo ideal serve, muitas vezes, para o desenvolvimento da teoria do trafo real.
Parte-se do aspecto totalmente ideal, introduzindo-se, gradativamente, os fenômenos
reais de perdas, de magnetização do núcleo, etc. Serve também como elemento de pré-
cálculo e de anteprojeto, seja para o usuário, seja para o projetista de médios e grandes
Conversão de Energia 90

transformadores de força, pois estes aproximam-se bastante do trafo ideal,


principalmente quando outros componentes do sistemas possuam, relativamente a ele,
maiores perdas, impedâncias, etc.

1.7.4.7- Circuito Equivalente de Trafos com Núcleos Ferromagnéticos (não


lineares)

Considerando que não há muitos trafos com núcleos lineares, mas sim com
núcleos ferromagnéticos, os quais, como foi visto, possuem características de saturação
e histerese, procura-se agora, obter um circuito equivalente o qual considere tais
características. É difícil obter-se um circuito equivalente para um trafo de núcleo de
ferro que represente, com suficiente precisão, as condições terminais do trafo sob
diferentes condições de operação. Entretanto, a maioria dos trafos de núcleo de ferro
são submetidos a uma excitação senoidal e operados, a maior parte do tempo, no regime
(estado estável ).
As perdas no núcleo ocorrem, num trafo, exatamente pelas mesmas razões que
ocorrem num reator indutivo, e este processo já foi descrito nos itens ( (1.6.1) (II) até
(1.6.3.4)). Além disso, um trafo em vazio comporta-se simplesmente como um reator
indutivo de alta impedância ( sem entreferro ). Nestas condições a corrente de excitação
do trafo é similar à de um indutor, sendo composta de duas componentes :
Im - componente de magnetização
Ic - componentes de perdas no núcleo
Um elemento de circuito (Rc) pode ser adicionado ao circuito equivalente do
trafo para absorver a potência correspondente à dissipada como perdas no núcleo. Este
elemento , portanto, é o mesmo apresentado no item 1.6.3 e é adicionado em paralelo à
indutância Lm. A figura 1.7.17(a) apresenta o circuito modificado. Da mesma forma que
se procedem com o trafo linear, os parâmetros do circuito equivalente do trafo com
núcleo ferromagnético podem ser referidos a qualquer lado.
. R1 . . jwLl2 R2
I1 jwLl1 -I'2 N1 : N2 I2
.
Iφ ..
. . . .
jwLm Rc V2
V1 . E1 E2
. Ic
Im
trafo ideal
(a) - circuito equivalente para um trafo de núcleo ferromagnético em regime senoidal.

. . . . 2
jwLl1 / k 2 . R2
I1
R1 jwLl1 I'2 = I2 /k jk 2 wLl2 k 2 R2 kI1 R1 / k I2 jwLl2
. .
Iφ kIφ
. . jwLm Rc .
. Rc V2
V1 jwLm kV2 V1 2 k2
. . k . .
Im Ic k kIm kIc

(b) - circuito equivalente para um trafo de núcleo ferromagnético com (c) - circuito equivalente para um trafo de núcleo ferromagnético com
parâmetros referidos ao primário (enrolamento 1) (circuito T) parâmetros referidos ao secundário (enrolamento 2) (circuito T)

Figura 1.7.17 - Circuitos equivalentes para o trafo de núcleo ferromagnético - operação em regime senoidal

Quando a diferença de potencial v1, aplicada ao enrolamento 1, for uma função


senoidal no tempo, e uma rede linear for conectada aos terminais do enrolamento 2,
então o sistema inteiro pode ser representado pelos circuitos da figura 1.7.17, nos quais
as grandezas tensão e corrente são fasores cujos módulos são os valores eficazes, e as
indutâncias são representadas por reatâncias calculadas para a freqüência de operação.
Conversão de Energia 91

A redução do circuito equivalente referindo as grandezas do enrolamento 1 (ou


2) é uma operação de grande utilidade nos estudos de sistemas com vários níveis de
tensão (ver exemplo 1.7.4), pois reduz o estudo ao de outro sistema ideal, trabalhando a
uma só tensão. Outra razão é que facilita o traçado de diagramas fasoriais de trafos com
níveis de tensão primária / secundária muito diferentes (por exemplo, 22000 / 220,
relação de transformação k igual a 100 / 1) para os quais o uso de uma mesma escala
para representação das grandezas tensão e corrente, tanto primária quanto secundária,
resultariam (para o secundário do exemplo citado) em vetores de tensão muito pequenos
e de corrente muito grandes. Com a redução, os valores do secundário, por exemplo,
ficam multiplicados por k (e k 2 no caso das impedâncias) no caso das tensões e por 1/ k
no caso das correntes, com isso, as grandezas passam a ter valores próximos, tornando
cômoda a representação usando uma mesma escala. Observa-se também que esta
redução não acarreta mudanças com relação às potências, fatores de potência e ângulos,
já que a tensão V′2 = k V2, a corrente I′2 = I2 / k e a impedância Z′2 = k 2Z2 , logo:

P′dissipada = R′2(I′2)2 = R2 k2(I2/k)2 = R2(I2)2 = PR2


P′ativa = V′2 I′2 cosφ2 = kV2(I2/k)cosφ2 = V2 I2 cosφ2 = P2
Qreativo = V′2 I′2 senφ2 = kV2(I2/k)senφ2 = V2 I2 senφ2 = Q2

Isto já era esperado devido à conservação de potência.

1.7.4.8 - Diagramas Fasoriais do Transformador

Como um trafo opera a maior parte do tempo no estado de regime senoidal, é


útil traçar-se o diagrama fasorial para o caso do transformador alimentando uma carga
(de impedância ZL). Estes diagramas podem ser usados para determinar a diferença
entre as tensões em vazio e a plena carga, ou para calcular o fp (fator de potência) de
entrada do trafo. Considere o circuito equivalente apresentado na figura 1.7.18 (o
mesmo da figura 1.7.17(a), acrescido da carga ZL), mostrando o suprimento de energia
do trafo a uma carga de impedância ZL.
. R1 . jwLl2 R2 .
I1 jwLl1 -I'2 N1 : N2 I2
.
Iφ .. .
IL
. . . . ZL(carga)
jwLm Rc V
V1 . E 1 E 2 2
. Ic
Im
primário k = N1 / N2 secundário
Figura 1.7.18 - Trafo de núcleo ferromagnético transferindo energia para uma carga (ZL)

Os diagramas fasoriais para ambos os lados do trafo são traçados separadamente,


na figura 1.7.19, considerando-se que ZL é indutiva (fp atrasado). Adota-se V2 na
referência e a partir deste traça-se IL = − I2 ( I2 é a corrente de referência positiva) e
obtém-se I2' :

N I
I2' = 2 IL = L
N1 k
Conversão de Energia 92

Na figura 1.7.19(a), o fasor E 2 , representando a tensão induzida no enrolamento


2, é obtido ao se adicionar a queda na impedância Z2 (R2 + jXl2) à tensão V2 . O fasor φ m
é traçado 90° atrasado com relação a E 2 (já que e2 = dλ2/dt = N2 dφm/dt). Na figura
1.7.19(b) traçam-se os fasores do primário. E1 , φ m e I2' estão em fase com E 2 , φ m e
IL da figura 1.7.19(a), respectivamente, e ⏐ E1 ⏐ = k⏐ E 2 ⏐ e ⏐ I2' ⏐ = ⏐ IL ⏐/ k.
A componente de perdas no núcleo ( Ic ) está em fase com E1 e a componente de
magnetização ( I ) está atrasada 90° de E (em fase com φ m). A corrente I é a soma
m 1 1

de Iφ com I . O fasor V1 é a soma de E1 com a queda de tensão na impedância do
'
2

primário, Z 1 I1 . Em favor da clareza, os valores relativos aos R I e jX I , bem como de


I e I , foram exagerados.
m c

Os diagramas também podem ser traçados usando-se os circuitos equivalentes,


referidos ao primário ou ao secundário, como apresentado nas figuras 1.7.19 (c) e (d),
respectivamente.
.
V1 (N1 dφ 1 /dt)
. .
E1 =kE2
. .
E2 jXl1 I1
. . .
. Ic R1 I1
. . jXl2 IL .
θL V2 . . θL kV2 . .
. R2 IL . . jk2 Xl2 IL
IL Im I. IL /k .
φ k 2 R2 IL k
.
φm . k
. I1
φm
(a) - lado s e cundário (lado 2). (c) - re fe rido ao primário.
.
. . . V1 /k
V1 E2 =E1 /k .
. . . jXl1 k I1
Ic . jXl1 I1 kIc
. . R1 I1 . . k2
E1 =kE2 . .
. θp . . . jXl2 IL R1 k I1
θL V2
Im . . . . R2 IL
I2' = IL /k kIm IL k2
.
Iφ .
. . . kIφ .
φm I1 φm kI1

(b) - lado primário (lado 1). (d) - re fe rido ao s e cundário.

Figura 1.7.19 - Diagrama de fasores para trafo com núcleo ferromagnético suprindo energia a uma carga
indutiva ZL de fp = cos θL

Comentários sobre os Diagramas Fasoriais

- Correção do cos θ2 = cos θL, da carga (ver diagramas (a) e (b) da figura 1.7.19)
Se corrigirmos o cos θL, o fasor IL irá se aproximar de V2 . Tem-se que:
Conversão de Energia 93

1 - Se a potência ativa P da carga permanecer inalterada, esta corrente IL


diminuirá de valor.
2 - O triângulo de quedas girará no sentido anti-horário e diminuirá de tamanho.
A queda interna no secundário diminui.
3 - No primário ter-se-á uma corrente I2' menor e mais próxima de V1 .
4 - O fator de potência do primário cosθP aumenta, pois a corrente I1 aproxima-
se de V1 , diminuindo também de valor.
5 - A potência aparente S1, entregue pela rede primária, diminuirá. Ter-se-á um
melhor aproveitamento da capacidade aparente do trafo.
6 - A queda no primário também diminui. O triângulo de quedas diminui e gira
no sentido anti-horário.
7 - Com a correção do cosθL da carga, verifica-se que as correntes I1 e I2
diminuíram. Logo, as perdas no cobre diminuirão e, consequentemente, as
perdas totais.
8 - O rendimento do trafo aumentará.
9 - Na realidade a corrente Iφ é bem menor que a representada no diagrama. O
cosθP, mesmo que o cosθL seja unitário, permanecerá menor que a unidade.
10 - Somente se obterá cosθP = 1 quando a corrente I2 estiver adiantada de um
certo valor com relação a V2 (carga capacitiva).

1.7.4.9 - Circuitos Equivalentes Aproximados

É conveniente, para trafos com núcleo ferromagnético, fazer aproximações,


desde que razoáveis, nos circuitos equivalentes. A principal finalidade é poupar trabalho
e complexidade onde a precisão não é o principal requisito.
Pouco erro será introduzido se o ramo de magnetização for transferido para os
terminais primários (figura 1.7.20), isso porque a maioria dos trafos de força (ou de
potência) são operados a 60 ou 50 Hz e absorvem correntes de excitação da ordem de 2
a 4% da corrente nominal, o que implica em queda de tensão pequena e com isso
⏐ E1 ⏐=⏐ V1 ⏐. Isto simplificará os cálculos já que os ramos de magnetização e o de
carga estarão diretamente conectados à tensão V1 . Também pode-se transferir o ramo de
magnetização para a esquerda, figura 1.7.20(b).
Os circuitos equivalentes resultantes são conhecidos como circuitos equivalentes
aproximados. Na figura 1.7.20(a) a resistência equivalente do trafo referida ao lado 1 é:

Req1 = R1 + k2R2 (1.7.57a)

A reatância de dispersão equivalente do trafo referido ao lado 1 será:

Xeq1 = ω(Ll1 + k2Ll2) = ωLeq1 (1.7.57b)

Analogamente na figura 1.7.20(b):

Req2 = R1/k2 + R2 (1.7.58a)

Xeq2 = ω(Ll1/ k2 + Ll2) = ωLeq2 (1.7.58b)


Conversão de Energia 94

Aproximações adicionais podem ser feitas pela remoção do ramo de


magnetização, figura 1.7.20(c) e 1.7.20(d).
. . . Req 2 jXeq 2 .
I1 Req 1 jXeq 1 kI1 IL
IL / k
. .
Iφ kIφ
. . . jXm Rc .
V1 jXm Rc kV2 V1 V2
. . 2
k . k2
Ic k .
Im kIm kIc

(a) - circuito equivalente simplificado com parâmetros (b) - circuito equivalente simplificado com parâmetros
referidos ao primário. referidos ao secundário.

. . . Req 2 jXeq 2 .
I1 Req 1 jXeq 1 kI1 IL
IL / k

. . . .
V1 kV2 V1 V2
k

(c) - circuito equivalente simplificado com parâmetros (d) - circuito equivalente simplificado com parâmetros
referidos ao primário. referidos ao secundário.
Figura 1.7.20 - Circuitos equivalentes aproximados para trafos de potência.

1.7.4.10 - Determinação dos Parâmetros do Circuito Equivalente

Os modelos do trafo (figura 1.7.13, 1.7.14 e 1.7.17) podem ser utilizados para
prever o comportamento do trafo. Para se utilizar estes modelos, os seus respectivos
parâmetros devem ser conhecidos, ou seja, k, R1, Xl1, R2, Xl2, Rc, Xm, M, L11 e L22. Tais
parâmetros podem ser calculados quando se dispõe das dimensões e propriedades dos
materiais usados. Por exemplo, as resistências dos enrolamentos (R1 e R2) podem ser
calculadas da resistividade do cobre, comprimento total dos fios e da seção transversal
do enrolamento (dos fios). A indutância de magnetização Lm pode ser calculada do
número de espiras do enrolamento e da relutância do circuito magnético. O cálculo da
indutância de dispersão envolverá considerações a respeito do fluxo de dispersão e,
portanto, será complicada. Contudo, fórmulas são disponíveis quando se deseja uma
determinação confiável de tais parâmetros (Ll).Tais parâmetros podem ser diretamente e
mais facilmente determinados efetuando-se ensaios que envolvem pouco consumo de
potência.

A) Medição dos Parâmetros de um Trafo de Núcleo Linear

Os parâmetros de interesse são: a resistência, as indutâncias próprias e mútua


dos enrolamentos. Estes podem ser obtidos através do ensaio em circuito aberto.
Conversão de Energia 95

lê Ioc1 lê Poc1

.
IOC1
. A . .. ..
W
. N1 : N2
.. .
. .
VOC1 lê Voc1 V1 EOC2 V2 lê Eoc2

. . trafo de núcleo
.
linear

Figura 1.7.21 - Ensaio de circuito aberto do trafo.

Os trafos são usados para operar a tensão e correntes nominais, usualmente


colocados em placa anexa ao trafo. A relação de espiras do trafo é igual à relação das
tensões nominais dos enrolamentos, p. ex., dados de placa: 10 KVA, 1100/110V indica
trafo de 2 enrolamentos (um a 1100V e outro a 110V) e que a relação de transformação
k = V1/V2 = 10. Também, 10 KVA nominais significa que cada enrolamento é projetado
para 10 KVA, logo, se a corrente nominal para o enrolamento de alta tensão (1100V) é
10000/1100 = 9.09A e para o de baixa tensão (110V) é de 10000/110 = 90.9A. Quando
circular 90.9A no enrolamento de baixa, circulará 9.09A no de alta. Como em vazio é
muito pequena a queda de tensão na impedância do primário, devido à baixa corrente de
excitação, o quociente das tensões terminais em vazio é, com boa precisão, a relação de
transformação (ou seja, k = VOC1 / EOC2).
Como o núcleo é linear e sem perdas, a potência consumida POC1 e a dissipada
no enrolamento 1, logo o valor de R1CA será dado por:

R1 = POC 1/I 2OC1 (1.7.59)

A impedância própria do enrolamento 1 será:

Z11 = VOC1/IOC1 (1.7.60)

A indutância própria do enrolamento 1 será:

1
L11 = Z 12 − R12 (1.7.61)
2 πf

onde, f é a freqüência da tensão utilizada. A indutância mútua do trafo será:

1 EOC 2
M = (1.7.62)
2πf I OC 1

Os parâmetros R2 e L22 do enrolamento 2 do trafo se obtém de maneira similar,


ao realizar-se o ensaio de circuito aberto com o enrolamento 1 em vazio e aplicando
uma tesão senoidal (sem exceder o valor nominal) no enrolamento 2.
As equações 1.7.51 (a) e (b) são utilizadas para o cálculo das indutâncias de
dispersão dos enrolamentos.
Conversão de Energia 96

Ex. 1.7.5: Os seguintes dados são obtidos dos ensaios de circuito aberto nos dois
enrolamentos de um trafo de núcleo linear. A relação de espiras k = 0.5. Quando com o
enrolamento 2 em aberto se aplicam 20V eficazes no enrolamento 1, a freqüência de
100Hz, a corrente é 4A, VOC2 = 16V e a potência é de 64W. Quando com o enrolamento
1 em aberto se aplicam 60V eficazes ao enrolamento 2, a uma freqüência de 100Hz, a
corrente é de 3A e a potência 144W. Determine as resistências R1 e R2, as indutâncias
próprias L11 e L22, a indutância mútua M, as indutâncias de dispersão Ll1 e Ll2, e o
coeficiente de acoplamento Ka do trafo.
Solução
Usando o circuito equivalente do trafo, apresentado na figura 1.7.14(b).
Ensaio 1 (enrolamento 2 aberto) : impedância própria do enrolamento 1:
V 20 P 1 64
Z 11 = OC 1 = = 5Ω resistência : R1 = OC
2
= =4Ω
I OC 1 4 I OC 1 16
3
ωL11 = 5 2 − 4 2 = 3 Ω ∴ L11 = = 4.78 mH
2π100
indutância mútua :
E 16 4
ωM = OC2 = =4Ω ∴ M= = 6.38 mH.
I OC1 4 2π100

Ensaio 2 (enrolamento 1 aberto) : impedância própria do enrolamento 2:

V2 60 POC 2 144
Z2 = = = 20 Ω resistência : R2 = 2
= = 16 Ω
I OC 2 3 I OC 2 9
12
ωL22 = 20 2 − 16 2 = 12 Ω ∴ L22 = = 19.1 mH
628
M
coeficiente de acoplamento : K a =
L11 L22
6.38 N1
Ka = = 0.668 k= = 0.5
(4.78)(19.1) N2
indutâncias de dispersão :
M
Ll1 = L11 − kM = 4.78 m - 0.5 × 6.38 m = 1.6 mH Ll2 = L22 − = 6.34 mH.
k
kEOC 2
Lm = kM = 0.5 × 6.38 mH = 3.19 mH ou Xm = = 0.5 × 16 / 4 = 2Ω = 2π100 Lm
I OC 1

B - Medição dos Parâmetros de um Trafo de Núcleo de Ferro

Os parâmetros a se determinar são:

i) resistências (em corrente alternada) dos enrolamentos 1 e 2: R1 e R2


ii) as indutâncias de dispersão Ll1 e Ll2
iii) a resistência Rc (perdas no núcleo) e a reatância de magnetização

No caso dos trafos de núcleo linear não é necessário se realizar os ensaios nos
valores nominais de tensão, corrente e freqüência, porque os valores dos parâmetros
Conversão de Energia 97

serão independentes destas quantidades. Entretanto, os parâmetros de um trafo de


núcleo não-linear (núcleo de ferro), e em particular Rc e Lm, são afetados pela condição
de operação. Os valores de Rc e Lm determinados a uma certa densidade de fluxo e
freqüência não permanecerão constantes se a densidade de fluxo e/ou a freqüência são
variadas, como se apresentou, os valores das perdas e a corrente de magnetização são
afetados pelos efeitos de histerese e saturação. Consequentemente, os valores dos
parâmetros de um trafo de núcleo de ferro são determinados nas suas condições de
operação nominais, ou seja, à tensão, corrente e freqüências nominais de operação, já
que se espera que o trafo trabalhe a maior parte do tempo em tais condições, ou muito
próximo delas.
O projetista de trafos está capacitado a estimar, de seu projeto, os parâmetros do
circuito equivalente, bem como a capacidade do trafo de dissipar calor em função do
método de resfriamento escolhido, e está, portanto, capacitado a predizer a potência
admissível de qualquer projeto e seu desempenho detalhado. Entretanto, uma vez
construído, contudo, é desejável confirmar a precisão das predições, o que pode ser feito
através de ensaio para determinar os parâmetros do circuito equivalente.
Os ensaios podem ser realizados utilizando-se qualquer um dos enrolamentos
como primário, e isto dependerá da tensão de projeto do enrolamento e das fontes
disponíveis. Nos ensaios é sempre preferível trabalhar com tensões que não sejam nem
muito altas e nem muito baixas. As tensões altas são perigosas, já as muito baixas são
inconvenientes. Para os ensaios realizados a tensão nominal, é freqüentemente
conveniente o uso do enrolamento de baixa tensão, uma vez que se disporá mais
facilmente de uma fonte adequada. Para os ensaios feitos a uma tensão reduzida, é
freqüentemente conveniente usar o enrolamento de alta tensão, uma vez que,
novamente, se disporá mais facilmente de fontes adequadas.
É possível a determinação experimental dos parâmetros do trafo. Uma
aproximação adequada destes parâmetros pode ser obtida com somente dois ensaios, o
ensaio de curto-circuito e o ensaio em vazio (circuito aberto).

B.1- Ensaio em Vazio

Este é utilizado para a determinação do ramo de magnetização (Rc e Lm). O


circuito é apresentado na figura 1.7.21 para transformador linear, pode ser também
utilizado para trafos de núcleo ferromagnético. Entretanto, a interpretação dos
resultados e o procedimento do ensaio é diferente.
Como o núcleo não é linear e tem perdas, os parâmetros de Rc e Lm dependerão
das condições de operação, tensão e freqüência nominais são utilizadas neste ensaio.
Consiste em se alimentar um dos lados do transformador por uma fonte de
tensão, preferivelmente ajustável para que as medidas de potência, corrente e tensão não
sejam feitas apenas nos valores nominais, mas numa faixa mais ou menos larga para
possibilitar o levantamento das curvas Iφ = f(V) e Pvazio = f(V). Isto possibilitará a
apreciação do estado de saturação do núcleo. A freqüência da fonte de tensão alternada
senoidal deve ser mantida na nominal do transformador.
Quando o transformador possuir um dos lados de tensão considerada baixa, é
preferível, por questões de segurança e disponibilidade de fontes e instrumentos de
medida, alimentá-lo desse lado, mantendo-se isolados e inacessíveis ao operador os
terminais de alta tensão. É claro que a corrente nominal do lado de baixa tensão de um
transformador de força, bem como a potência, podem ser elevados, mas Pvazio e Iφ são
Conversão de Energia 98

parcelas tão pequenas dos valores nominais, que quase sempre se encontra num
laboratório, instrumentos de medidas adequadas a esses valores.

Ex.: Se um transformador de 1100/110 Volts for ensaiado, tensão será aplicada


no enrolamento 110 Volts, porque fontes de 110 Volts são mais fáceis de se dispor, do
que uma de 1100 Volts.

No ensaio em vazio, portanto, um dos lados do transformador será conectado a


uma fonte de tensão ajustada para a tensão nominal de enrolamento em questão,
enquanto o outro terminal é mantido em aberto. Observa-se que as medidas obtidas
fornecerão, portanto, os parâmetros do circuito equivalentes referidos ao lado em que
foram efetuadas as medições. Nas descrições que segue as medidas serão feitas no
enrolamento que chamaremos de primário.
Considere o circuito da figura 1.7.22(a) a seguir. Com o secundário em aberto.

.
.
lê Ioc

A
lê Woc
. .. .. .
R1 jXl1
.
Iφ ..
I2=0 jXl2 R2
.
. Iφ
Rc . .
V1O jXm E1O E2O V
V V1O lê Voc1 . .

. . Im Ic
N1 : N2
. lê E2o

(a) - conexão do trafo para o ensaio em vazio.

V
Iφ =f(V)
.
Ioc Vvazio
.
Iφ .. nominal
Pvazio = f(V)

. jXm Rc . .
V1O . E1O E2O
. Ic
Im Pvazio nominal Pvazio


nominal
(b) - circuito equivalente para o ensaio em vazio.
(c) Iφ x V e Perdas x V

Figura 1.7.22 - Considerações sobre o ensaio a vazio

Somente circulará Iφ, corrente de magnetização, como os elementos em série R1


e Xl1 são muito pequenos em comparação com Rc e Xm, ter-se-á uma queda de tensão
desprezível nestes elementos. Sendo assim, toda a tensão de entrada V1O estará sobre o
ramo de magnetização, E1O = V1O, dessa forma, o modelo aproximado, sem R1 e Xl1, ,
do circuito equivalente apresentado na figura 1.7.22(b) é plenamente justificável para
os trafos normais de núcleo ferromagnéticos.
A curva de excitação Iφ= f(V) lembra o aspecto da curva de magnetização, em
corrente alternada figura 1.2, do material do núcleo, pois normalmente, Im é bem maior
que Ic , e V1O é praticamente igual a E1O , que é proporcional ao fluxo. Por sua vez,
Pvazio = f(V) é aproximadamente parabólica, pois Pvazio é praticamente igual às perdas no
núcleo, que variam aproximadamente com (V1O)2 , figura 1.7.22(c).
O modo mais fácil de calcular os valores de Rc e Xm é obter primeiro a
admitância do ramo de magnetização Ym. A condutância correspondendo às perdas no
núcleo será:
Gc = 1/Rc (1.7.63a)
Conversão de Energia 99

E a susceptância de magnetização é dada por:


Bm = 1/(wLm)
B (1.7.63b)
Desde que os dois elementos estão em paralelo, suas admitâncias se somam, e a
admitância total de magnetização Ym será:
Ym = Yoc = Gc - jBm = 1/Rc - j/Xm (1.7.63c)
Seu módulo (referido ao primário) será:

I CO I
YM = YOC = = φ (1.7.63d)
VCO V1O

O ângulo da admitância é obtido do fp de circuito aberto (fpOC):


POC W
fpOC = cos θOC = = (1.7.63e)
VOC I OC V1O I φ
⎛W ⎞
∴ θ OC = cos −1 ⎜ OC ⎟ (1.7.63f)
⎜V I ⎟
⎝ 1O φ ⎠

O fpOC é sempre atrasado para o transformador real, portanto, o ângulo de


corrente sempre é atrasado do ângulo da tensão de θ OC graus. Logo a admitância será:

YM = ∠ − θ OC (1.7.63g)
V1O

De (1.7.63c) e (1.7.63g), é possível determinar os valores de Rc e Xm. Também


pode-se obter de:
2
VOC V12O
RC = = (1.7.63h)
POC W
2
V RC2 Z m
De (1.7.63d) tem-se: Z m = 1O logo: Xm = (1.7.63i)
RC2 − Z m
2

Caso o ensaio tenha sido realizado com as medições no secundário e no primário


em aberto, deve-se referir os parâmetros ao primário modificando-os por k2. Pode-se
usar também as fórmulas:

V12O W V
RC = , IC = , I m = I φ2 − I C2 , X m = 1O (1.7.63.j)
W V1O Im

Observa-se que também pode-se obter k através de:

V1O
k≅ (1.7.63k)
E2O

B.2 - Ensaio de Curto-Circuito


Conversão de Energia 100

Consiste em se alimentar o transformador por um lado, curto-circuitando-se o


outro. A alimentação nos grandes trafos é feita, preferivelmente, pelo lado de alta
tensão, pois a corrente será menor e a tensão a ser aplicada para se manter essa corrente
de curto-circuito é uma pequena fração da nominal.
O objetivo neste ensaio é o de determinar os parâmetros R1, Xl1, R′2 e X′l2.
Quando colocamos o secundário em curto (RL = 0) a tensão V2 será praticamente nula.
Em tais condições, toda a fem secundária deve vencer exclusivamente a impedância
secundária (R2 + jXl2) e a corrente secundária resulta defasada em atraso com relação à
E 2 cc do ângulo θcc definido por:
X
tgθ2cc = l 2
R2

Querendo-se que a corrente secundária adquira uma intensidade prefixada I2, a


fem secundária deve ter o valor E2cc = Z2I2. A fem assim definida é chamada fem
secundária de curto-circuito relativa à prefixada corrente I2 . O fluxo φcc que é
necessário para gerar essa fem constitui o fluxo de curto-circuito e correspondentemente
tem-se a fem primária de curto-circuito definida por:

E 1cc = E 2 cc k

Essa tensão somada à queda de tensão no primário, representa a tensão que se


deve aplicar nos bornes primários, para fazer circular no secundário fechado em curto-
circuito, a prefixada corrente secundária, I2.
Quanto ao valor dessa corrente prefixada observa-se que, como o objetivo do
ensaio é o de determinar os parâmetros (R1 e R2 , Xl1 e Xl2) nas condições normais de
operação, deve-se procurar fazer com que circule as correntes nominais nos
enrolamentos, pois desta forma teremos a queda de tensão, nas impedâncias Z1 e Z2,
iguais às de operação em regime, bem como as perdas que são proporcionais às
correntes R1(I1)2 + R2(I2)2.
Normalmente, o valor prefixado será IL igual ao I2 nominal e como a circulação
de corrente nominal por um dos enrolamentos implica na circulação de corrente
nominal no outro (pela relação de transformação) enrolamento obtém-se nestas
condições as perdas Joules nominais.
Na linguagem técnica, chama-se de ‘tensão de curto-circuito’ do transformador
a tensão V1cc, que se deve aplicar no primário para fazer circular no secundário fechado
em curto-circuito, a corrente normal de plena carga de transformador. Sendo muito
pequena as quedas internas do transformador, esta tensão resulta sempre muito pequena
e da ordem de 5% a 10% da tensão nominal. Isto quer dizer que também E1cc e E2cc
serão muito pequenas com relação aos valores de regime normal e, portanto, é pequeno
também o fluxo no núcleo. O fluxo de curto-circuito φcc relativo à corrente secundária
de plena carga varia entre 2% e 5% do fluxo correspondente ao regime normal de
exercício do transformador. Deste fato resultam as duas propriedades importantes
relativas ao funcionamento em curto circuito do transformador.

1 - Como φcc é muito pequeno também o será a Fm necessária para produzi-lo:


quer dizer que nestas condições F1 e F2 são praticamente iguais. I1 será
composto apenas pela corrente de reação I′2 sendo a Imcc, necessária a
produção de φcc, absolutamente desprezível. Consequentemente, no
Conversão de Energia 101

funcionamento em curto-circuito I1 e I2 satisfazem quase exatamente a


relação: I2 I1 = k = N1 N 2 .
2 - Nas condições de curto, as perdas no ferro se tornam completamente
desprezíveis, pois Bm é muito pequeno. Sendo V1cc igual a 1/10 de V
B

nominal, φ será reduzido de 10 vezes (ver equação (1.51)). Com isto, as


perdas por histerese ficarão reduzidas de 101.6 = 40 vezes, e, as perdas por
Foucault de (10)2 = 100 vezes (ver equação (1.58) e (1.68),
respectivamente), o que nos leva a concluir que as perdas no núcleo são
desprezíveis face as no cobre, no ensaio em curto. Portanto, toda a potência
entregue ao transformador em curto estaria sendo dissipada por efeitos Joule
no cobre do transformador. Indicando tal potência, lida num wattímetro
inserido no primário, por Wcc obter-se-á:
Wcc = R1(I1)2 + R2(I2)2 (1.7.64a)
E como I1 = k I2 :
Wcc = (R1 + k2 R2 ) (I1)2
Wcc = Req1(I1)2 = Req (I1cc)2 (1.7.64b)
WCC W
logo: Req1 = 2
= 2 CC (1.7.64c)
I 1CC I 1no min al

onde, Req1 seria a resistência equivalente referida ao primário (enrolamento 1 aqui).


O circuito usado para este ensaio encontra-se na figura 1.7.23(a). Pode-se incluir
um amperímetro para medir a corrente no enrolamento em curto. Aplica-se uma tensão
senoidal (freqüência nominal) e se ajusta seu valor até que circulem I1n e I2 n . O
circuito equivalente aproximado, para o circuito de ensaio em curto, da figura 1.7.23(b)
é aceitável dentro do exposto anteriormente. Observa-se que o ramo de magnetização
foi desconsiderado. A resistência equivalente será dada pela equação (1.7.64c),
enquanto que a impedância de dispersão equivalente do transformador referida ao
primário será:
V1CC
|Zeq1| = (1.7.64d)
I 1no min al

A reatância de dispersão equivalente referida ao primário será:


2
X eq 1 = Z eq 1 − Req2 1 = X l 1 + k 2 X l 2 (1.7.64e)
Conversão de Energia 102

.
.
lê I1CC

A
lê WCC
. .. .. .
R1 jXl1
.
I'φ ..
I2nom jXl2
R2
.
. I1nom
Rc . . A
V1CC jXm
V V1CC lê Voc1 . . E1O E2O
fonte
. . I'm I'c
N1 : N2
. lê I2nom

(a) - conexão do trafo para o ensaio de curto.

I1CC
I1CC = f(V1CC)
R1 jXl1 jk 2 Xl2 k 2 R2
I 1nom P1CC = f(I1CC)
.
I1nom
.
V1CC
fonte P1CC nom P1CC
V1CC
V1CC
nominal
(b) - circuito equivalente para o ensaio de curto. (c) curvas I1CC x V1CC e I1CC x P1CC
Figura 1.7.23 - Considerações sobre o ensaio em curto

Algumas observações finais com relação ao ensaio de curto:

1 - Os motivos de se alimentar a alta tensão são:


i - sendo as correntes iguais às nominais, aquela referente a baixa tensão
normalmente tem um alto valor que, talvez, a fonte não tenha condições de
fornecer.
ii - como a tensão de curto-circuito é da ordem de 5% da nominal, dependendo
do valor da baixa tensão, pode-se ter valores muito pequenos e, portanto,
sujeito a erros. Ex.: VAT = 2.200 V e VBT = 110 V
VccAT = 110 V (valor fácil de ser obtido e medido)
VccBT = 5.5 V (valor muito pequeno)

2 - O wattímetro registra a potência dissipada numa resistência que é a


resistência efetiva do circuito equivalente. Essa resistência já leva em conta
o efeito pelicular.

3 - Este ensaio possibilita a determinação da impedância série total (referida ao


lado onde são feitas as medidas), mas não há nenhum modo fácil de obter-se
as componentes primárias e secundárias da impedância. Felizmente, tal
separação não é necessária para solucionar os problemas.

Quando se deseja a separação em termos de R1, R′2 e Xl1 e X′l2, a fim de poder-se
montar um circuito equivalente completo com o ramo de magnetização no centro, faz-se
uso de dois métodos:

i - no primeiro método, faz-se as seguintes suposições:


a - os enrolamentos tem o mesmo comprimento por espiras;
b - a área da seção transversal do condutor é proporcional à corrente nominal do
enrolamento,
c - a trajetória magnética dos fluxos de dispersão (φl) dos enrolamentos é
essencialmente a mesma. Nestas condições:
Conversão de Energia 103

R1 = k2R2 e Ll1 = k2Ll2 (1.7.65a)


Das equações (1.7.64c, 1.7.64e e 1.73.65a):
R1 = Req1/2 e R2 = Req1/2k2 (1.7.65b)

Analogamente: ωLl1 = Xeq1/2 e ωLl2 = Xeq1/2k2 (1.7.65c)

ii - No segundo método, as resistências ôhmicas de corrente contínua dos


enrolamentos são determinadas pelo método do voltímetro e amperímetro.
Supõe-se então que:
R1 Lll R
= = CCont 1 (1.7.65d)
R2 Ll2 RCCont 2

Usando esta relação, demonstra-se que:


R1 = K1 Req1 e R2 = K2 Req2
X1 = ωLl1 = K1 Xeq1 e X2 = ωLl2 =K2 Req2 (1.7.65e)
RCCont 1 RCCont 2
Onde: K1 = e K2 = (1.7.65f)
RCCont 1 + k 2 RCCont 2 RCCont 1 + k 2 RCCont 2

4 - Na figura 1.7.23(c), encontram-se as curvas de I1cc x V1cc, e que é


praticamente uma reta pois Z1 e Z2 são praticamente lineares, e a I1cc x P1cc
e que deve variar com (I1cc)2 pelas mesmas razões.

Ex.:1.7.6: Os dados da tabela abaixo são de um transformador de núcleo de


ferro de 100 kVA, 1000V/200V e 60Hz. Os valores de tensão e corrente são dados em
valores eficazes.

Ensaio tensão (V) corrente (A) potência (W) observação


curto-circuito 100 100 2000 baixa tensão em curto
em vazio 200 20 1000 alta tensão em circuito aberto

Calcule as resistências e reatâncias de dispersão dos enrolamentos, a resistência


de perdas Rc e a indutância Lm. Desenhe um circuito equivalente exato referido (a) ao
lado de alta tensão e (b) ao lado de baixa tensão, e indique em cada caso os valores dos
parâmetros do circuito. O sub-índice 1 será usado para alta tensão (AT) enquanto que o
2 para baixa (BT).
k = N1/N2 = 1000/200 = 5 = V1 Nominal/V2 Nomonal
As correntes nominais dos enrolamentos são obtidas pela divisão da potência
nominal do trafo pelas respectivas tensões nominais de cada enrolamento.
I1N = 100k/1000 = 100A
I2N = 100k/200 = 500A
- Ensaio de curto: Como o lado de BT está em curto e todas as medidas são
realizadas no lado de AT, os valores dos parâmetros, calculados a partir deste ensaio,
são referidos ao lado de AT.
A impedância de dispersão equivalente, referida ao lado de AT:
Conversão de Energia 104

Zeq1 = V1cc/I1n = 100/100 = 1Ω


A resistência equivalente:

Req1 = Wcc/ (I1N)2 = 2000/1002 = 0.2Ω


A reatância de dispersão equivalente:

Xeq1 = ((Zeq1)2 – (Req1) 2)1/2 = 0.98Ω


Das equações (1.7.65b) e (c):

R1 = 0.1Ω e R2 = 0.004Ω
Xl1 = 0.49Ω e Xl2 = 0.0196Ω

- Ensaio em vazio: Como o lado de AT está aberto e todas as medidas foram


feitas no lado de BT, os valores dos parâmetros, obtidos deste ensaio, são referidos ao
lado de baixa tensão BT.

⏐Ym⏐ = IOC / VOC = Iφ / V1O = 20/200 = 0.1 S


fpOC = cosθOC = POC /(VOC IOC) = WOC /V1O Iφ = 1000/(200×20) = 0.25
θOC = 75.52° (atrasado)
Ym = 0.1 ∠ –75.52° = 0.025 – j0.097 S
∴ Gc = 0.0252 S e Bm = –0.097 S
B

logo: Rc = 40 Ω e Xm = 10.33 Ω
ou: Rc = V1O2/W = 2002/1000 = 40 Ω
e: Xm = {[40 2(200/20)2] / [40 2 – (200/20)2]}1/2 = 10.33 Ω
ou ainda:
Ic = W/V1O = 1000/200 = 5 A
Im = (20 2 – 52)1/ 2 = 19.635 A
Xm = V1O/Im = 10.33 Ω
ou ainda:
GC = W/(V1O)2 = 1000/2002 = 0.025 S
Bm = –(Ym2 – Gc2)1/2 = –(0.12 – 0.0252)1/2 = – 0.097 S
B

Com isso tem-se:


Gc1 = Gc/k2 = 0.001 S
Rc1 = k2 Rc = 1000 Ω
Bm1 = Bm /k2 = –0.0039 S
B

Xm1 = k2 Xm = 258.25 Ω

Observe que há diferença ao referirmos uma impedância (ou resistência, ou


indutância) para o primário, que fica multiplicada por k2, ou ao referirmos admitância
(ou condutância, ou susceptância) que fica multiplicada por 1/k2.
Os circuitos equivalentes estão apresentados nas figuras a seguir. Observando os
circuitos equivalentes assim obtidos pode-se questionar quanto o efeito das perdas
produzidas em R1 quando no ensaio em vazio? Poderiam elas afetar de forma
significativa o valor dos parâmetros Xm e Rc? Observe que a leitura do wattímetro ficaria
alterado(para mais) quando as perdas em R, não são desprezíveis, assim como a queda
Conversão de Energia 105

de tensão no primário afeta E1O, que não mais seria igual a V1O (leitura do voltímetro).
Se for este o caso, os cálculos devem ser refeitos como segue:

Pc = PNúcleo = W – R1 Iφ2 (1.7.66a)


E1 = V1O ∠0° – (Iφ ∠θOC)(R1 + jX1) (1.7.66b)

onde: θOC = cos –1 (W/(V1O Iφ)) (1.7.66c)


θOC - ângulo de fator de potência em vazio.
Rc = (E1O)2/Pc (1.7.66d)
Ic = Pc/E1O (1.7.66e)
Im = (Iφ2 – Ic2)1/2 (1.7.66f)
Xm = E1O/Im (1.7.66g)

. R =0.1 2
I1 1 jXl1 =0.49j jk 2 Xl2 =0.49j k R2 =0.1
. .
Iφ I2 /k
. .
jBm1 = -0.0039j Gc1 =0.001 kV2
V1 .
.
Im Ic

circuito equivalente exato para um trafo de núcleo ferromagnético com


parâmetros referidos ao primário (enrolamento 1) (circuito T)

. 2 2
kI1 R1 / k =0.004 jXl1 / k = j 0.0196 jXl2 = j 0.0196 R2 =0.004
. .
kIφ I2
. .
V1 jBm2 = - j0.097 Gc2 = 0.025 V 2
k . .
kI m kI c

circuito equivalente exato para um trafo de núcleo ferromagnético com


parâmetros referidos ao secundário (enrolamento 2) (circuito T)

Vamos considerar que R1 seja razoável a ponto de alterar os parâmetros.


Recalculando os parâmetros, Rc e Xm (observe que as leituras em vazio, foram efetuadas
em B.T.).

Pc = WCC – R2(Iφ )2 = 1000 – 0.004×202 = 1000 – 1.6 = 998.4 W


E2 = V1O ∠0° – (Iφ ∠θOC)(R2 – jX2)
E2 = 200 ∠0° – (20∠–75.52°)(0.004 + j0.196) = 200 – 0.4 ∠ 2.943°
E2 = 199.601 ∠6×10–3 °
Rc = 199.62 / 998.4 = 39.9 Ω , Ic = 998.4 / 199.6 ≅ 5.002 A
Im = 20 2 − ( 5.002 )2 ≅ 19.3644 A ⇒ Xm = 199.6 / 19.3644 = 10.31 Ω

Não houve alteração suficiente e a revisão foi desnecessária. Observa-se


entretanto, que no caso de pequenos trafos, não só são justificados esses cálculos como
também pode ser que, dependendo das características dos instrumentos de medidas
empregados, as impedâncias e o consumo de potência dos instrumentos devem ser
levadas em conta para se obter valores reais de tensão, corrente e potência nos terminais
Conversão de Energia 106

do trafo. A posição dos instrumentos apresentadas na figura a seguir, usualmente,


resultam erros numéricos nos ensaios efetuados a tensões muito baixas.

A .. .. . .
W
..
V

. . trafo de núcleo
circuito de medição em curto. ferromagnético

Observação: no ensaio em vazio a posição ótima (para minimizar erros) dos


instrumentos é diferente, as bobinas de corrente imediatamente adjacentes aos terminais
do trafo.
Conversão de Energia 108

1.7.4.11 - Valores Nominais

De acordo com as normas brasileiras define-se:


- Potência Nominal Contínua: potência nominal em KVA que o trafo pode
fornecer funcionando em regime permanente, com tensão secundária e
freqüências nominais, sem exceder os limites de temperatura.
- Tensão Secundária Nominal de um trafo de força ou distribuição: tensão no
enrolamento secundário com a qual o trafo foi projetado para operar com
potência nominal.
- Tensão Primária Nominal de um trafo de força ou distribuição: tensão que se
obtém multiplicando ou dividindo a tensão nominal secundária, pela relação de
transformação.
- Corrente Secundária Nominal de um trafo de força ou distribuição:
intensidade de corrente no secundário que se obtém dividindo-se o valor da
potência nominal e VA, pelo valor da tensão secundária nominal e pelo fator
correspondente ao número de fases.
É uso corrente, para qualquer máquina elétrica, dizer-se que a “máquina está a
plena carga”, quando fornece a potência nominal. Também, a potência fornecida é
expressa em percentagem da nominal.
Observa-se que a potência nominal representa a condição de carga para a qual o
equipamento foi projetado para uso contínuo, isto é, operando-se com a máquina
fornecendo a potência nominal, esta aquecer-se-á até a temperatura especificada.
Destaca-se ainda que se a carga absorver a potência superior a nominal, o aquecimento
será maior que o cálculado e a temperatura de regime atingirá um valor tanto maior
quanto maior for a sobrecarga, atingindo no limite um valor tal que compromete a
isolação dos enrolamentos.
1.7.4.12 - Valores percentuais e “p.u.”(por unidade) de transformadores
Tratando-se de trafos de potência é de uso corrente exprimirem-se os valores das
correntes e tensões em percentagem (valor percentual), ou como uma fração (valor por
unidade, p.u.), dos valores nominais do trafo (valores de base). Assim, por exemplo, a
corrente de vazio de um trafo é expressa como uma determinada percentagem, ou fração
da corrente nominal(In) desse mesmo enrolamento, isto é :

Iφ% = (Iφ1 / In1).100% (1.7.67a)

Iφ = Iφ 1 / In1 (1.7.67b)
Onde In1 - corrente nominal do enrolamento 1
Os valores acima independem do enrolamento que se considere, pois:

N2 N2
I φ1 = I φ2 e I n1 = I n2
N1 N1

( 1 / k )I φ 2 I φ2
logo: Iφ% = 100 = 100 (1.7.67c)
( 1 / k )I n 2 I n2
Conversão de Energia 109

Além disso, o valor percentual permite avaliar o valor da corrente em vazio


independentemente da potência do trafo. Analogamente, referem-se todas as quedas de
tensão nos elementos do circuito equivalente, quando percorridos pela corrente nominal,
como uma percentagem da tensão nominal (Vn), isto é, definem-se resistência, reatância
e impedância equivalentes percentuais como sendo :

I n1 I
Req1 % = Req1 100 = Req 2 n 2 100 = ΔVRe q % (1.7.68a)
Vn 1 Vn 2

Onde: Vn1 - tensão nominal do enrolamento 1

I n1 I
X eq1 % = X eq1 100 = X eq 2 n 2 100 = ΔV Xeq % (1.7.68b)
Vn 1 Vn 2
I n1 I
Z eq1 % = Z eq1 100 = Z eq 2 n 2 100 = ΔVZeq % (1.7.68c)
Vn1 Vn 2

Em outras palavras, a impedância equivalente de trafo corresponde a queda de


tensão percentual que se verifica quando o trafo é percorrido pela corrente nominal.
Os conceitos acima, podem ser estendidos à potência aparente e a real. Assim
define-se, p. ex., perda no ferro percentual como sendo a potência consumida no núcleo
de ferro expressa em percentagem da potência aparente nominal, isto é :

PC
PC % = 100 (1.7.69)
Pnom

onde : PC - perda no núcleo(watts)


Pnom - potência aparente nominal do trafo (VA).

Escolha de bases

Os valores p.u. são os percentuais dividido por 100. Para se estabelecer um


sistema p.u. é necessário escolher os valores base (referência) entre as quantidades:
potência, tensão, corrente e impedância. A escolha de apenas duas das grandezas é
suficiente, as outras duas podem ser obtidas a partir daquelas. Usualmente as duas
grandezas são potência e tensão. Embora as grandezas de base possam ser quaisquer,
adotam-se, geralmente, os valores nominais do trafo.
Pbase e Vbase adotado, ficam estabelecidos :

Pbase
I base = (1.7.70a)
Vbase

2
Vbase Vbase
Z base = Rbase = X base = = (1.7.70b)
I base Pbase

adotam-se: Sbase = Pbase = volt-ampère nominal (VA)


Vbase = tensão nominal (V)
Pbase é o mesmo para o primário e o secundário. Já os Vbase são diferentes.
Conversão de Energia 110

Lado primário: Vbase = VB1 = Vn1 tensão primária nominal


Ibase = IB1 = In1 corrente primária nominal
Zbase = ZB1 = Vn1 / In1
(p.u.)Zeq1 = Zeq1pu = Zeq1 / ZB1 = Zeq1 In1 / Vn1
Lado secundário: Vbase = VB2 = Vn2 tensão secundária nominal
Ibase = IB2 = In2 corrente secundária nominal
Zbase = ZB2 = Vn2 / In2

Z eq1 / k 2
logo: Zeq2 pu = Zeq2 / ZB2 = = Zeq1 / ZB1 = Zeq1 pu (1.7.70c)
Z B1 / k 2

Portanto, a impedância do trafo em p.u. é a mesma independente do lado a que


foi referida. Esta é uma das vantagens do sistemas em p.u.. O mesmo vale para corrente
e a tensão :

I1 I I /k I
I 1, pu = = 1 = 2 = 2 = I 2 , pu
I B 1 I n1 I n 2 / k I n 2
V1 V kV2 V
V1, pu = = 1 = = 2 = V2 , pu
VB 1 Vn1 kVn 2 Vn 2
PCOBRE , PLENA−CARGA = Req1 I n21

Req1 I n21 Req1 I n21 Req1 Req1


PCO , pc( pu ) = = = = = Req1, pu (1.7.71)
Pbase Vn 1 I n 1 Vn 1 / I n 1 z B1

Portanto a resistência do trafo expressa em p.u., também representa as perdas no


cobre, a plena carga, quando expressa em p.u. O valor em p.u. da resistência é portanto
mais útil que seu valor ôhmico na determinação do desempenho do trafo.
A representação de uma impedância dada em p.u. de uma base (base velha)
numa nova base (base nova), é dada por :
2
( VAnova −base )( Vbase − velha )
Z PU ( BASE − NOVA ) = 2
Z pu ,base −velha (1.7.72)
( VAbase −velha )( Vbase − nova )

Na prática costuma-se expressar a tensão de curto circuito (ver definição na


página 101) VCC em valores percentuais em relação a Vn1, desta forma tem-se a tensão
de curto circuito percentual.

V1CC V
VCC % = 100 = 2 CC 100 (1.7.73)
Vn 1 Vn 2

Da mesma forma, define-se os chamados parâmetros percentuais (do ensaio de


curto), ver equações (1.7.68a, b e c). Considerando-se que :
Req1 = WCC / (In1)2
Req2 = WCC / (In2)2
Tem-se, substituindo Req1 e Req2 na equação (1.7.68a):
Conversão de Energia 111

WCC I n1 W W
Req1 % = 2
100 = CC 100 = CC 100 = Req % (1.7.74a)
I n 1 Vn 1 I n1Vn1 Pn
WCC I n 2 WCC W
Req 2 % = 2
100 = 100 = CC 100 = Req % (1.7.74b)
I n 2 Vn 2 I n 2V n 2 Pn

V1CC Z eq1
Também: Z eq1 = logo: Z eq 1 %= CC
100
CC I n1 CC z B1
I n1 V
Z eq % = Z eq1 % = Z eq1 100 = 1CC 100 = VCC % (1.7.74c)
CC CC Vn 1 Vn 1

De forma similar:

I n2 V V /k
Z eq % = Z eq 2 % = Z eq 2 100 = 2 CC 100 = 1CC 100 = VCC % (1.7.74d)
CC CC Vn 2 Vn 2 Vn1 / k

Assim: X eq % = Z eq2 % − Req2 % (1.7.74e)

Vê-se que as impedâncias expressas em percentagem são mais significativas que


os seus valores ôhmicos. Indicam em percentagem a queda de tensão referida a nominal,
quando pelo elemento circula a corrente nominal.
Observações:

1- Tendo Req % (embora sem unidade) um significado de resistência, seu valor


sofre alteração com a temperatura. Como na realização do ensaio não há
tempo suficiente para o aquecimento do trafo, justifica-se a sua correção para
75°C para trafos de classe de temperatura de 105 a 130°C e para a
temperatura de 115°C para as classes de temperatura de 155 a 180°C,
aplicando para tanto :
R% 75° = KT Req % (1.7.74f)
onde:
KT (coeficiente de correção de temperatura) = (K + Tnominal) / (K + Tensaio),
K = 234.5 para o cobre recozido;
R% 75°°- resistência percentual a 75°;
Req % - resistência percentual à temperatura do ensaio (Tensaio)
O valor de Xeq % não sofrerá variação, e, Zeq % também deverá ser corrigida:

Zeq % 75° = (Req %75° ) + (X eq % )2 (1.7.74g)


onde:
Zeq% 75° - impedância percentual a 75°;
Zeq% - impedância percentual à temperatura do ensaio.
2 - Quando somente um trafo está sendo analisado, seus valores nominais são a
base. Nestas condições, as características dos trafos de distribuição e de
potência pouco variarão para uma faixa de tensão e potências nominais.
• a corrente de excitação, usualmente está entre : 2 a 6 %
Conversão de Energia 112

• a resistência equivalente está entre : 0.5 a 2 %


os valores menores se aplicam a grandes trafos
• a reatância equivalente está entre : 1.5 a 10 %
os valores maiores se aplicam a grandes trafos de alta tensão
• a reatância de magnetização está entre : 1000 a 4000 %
• perdas no núcleo está entre : 0.5 a 2 %

De um modo geral a corrente de excitação, a resistência equivalente e a perda no


núcleo diminuem com o aumento da potência nominal ao passo que a reatância
equivalente aumenta com a tensão nominal. Este aspecto é importante do ponto de vista
de limitação das correntes de curto circuito. As correntes de curto são importantes para
o projeto de trafos e para as instalações pois produzem, conseqüente de sua circulação
pelos enrolamentos do trafo, efeitos de origem térmica e solicitações dinâmicas as quais
o trafo deve suportar, e sua proteção eliminar.
Por definição, “corrente de curto circuito” é aquela que circula pelo
enrolamento secundário, quando este enrolamento está curto circuitado e entre os
bornes do primário existe o valor nominal de tensão primária (Vn1).
Supondo-se que o curto seja externo ao trafo e que o mesmo esteja ligado a uma
rede que pode fornecer qualquer corrente, mantendo a tensão constante (barramento
infinito), então, nestas condições, os únicos fatores limitantes da corrente seriam Req e
Xeq, ou seja, Zeq.
Req1 jXeq1
SCC = OO
.
I1cc
.
Vn1 curto

Tem se que : ZCC = Zeq1 = Vn1 / I1CC


Também do ensaio de curto : Zeq = VCC / In1
Assim :
Vn1 VCC V
= ⇒ I 1CC = n1 I n1
I 1CC I n1 VCC
Porém :
V I
VCC % = CC 100, então : I 1CC = n1 100 (1.7.75a)
Vn 1 VCC %

Como Zeq % = VCC % então :


100 100
I 1CC = I n1 = I n1 (1.7.75b)
VCC % Z CC %

Para o secundário, de forma similar:


100
I 2 CC = I n2 (1.7.75c)
Z CC %
e: I2CC = k I1CC (1.7.75f)
Conversão de Energia 113

Desta forma, calcula-se facilmente os níveis de curto-circuito no primário e


secundário do trafo. A corrente calculada dessa forma é chamada de “corrente
permanente de curto-circuito”. Seus efeitos são térmicos, provocando sobre-
aquecimento nos componentes do trafo. Porém, quando ocorre o curto existe uma
parcela transitória, a “corrente de curto-circuito dinâmica (Idin)”. Na prática, utiliza-se a
relação:
Idin ≅ 1.8 ICCmax ≅ 1.8 1.8 2 I CCef ≅ 2.5 I CCef
A corrente dinâmica produz solicitações eletrodinâmicas muito intensas, que
podem provocar danos severos ao trafo.
Exemplo:
1. Transformador 100 kVA, 10000/500 volts, VCC% = 4%
In1 = 10 A I1cc = (100/4)10 = 250 A
In2 = 200 A I2cc = (100/4)200 = 5000 A
2. Transformador 10000 kVA, 30000/6000 volts, VCC% = 5%
In1 = 333.3 A I1cc = (100/5)333.3 = 6666 A
In2 = 1666.6 A I2cc = (100/5)1666.6 = 33333 A
3. Transformador 10000 kVA, 30000/6000 volts, VCC% = 10%
In1 = 333.3 A I1cc = (100/10)333.3 = 3333 A
In2 = 1666.6 A I2cc = (100/10)1666.6 = 16666 A
Considerando que os efeitos térmicos e dinâmicos crescem segundo o quadrado
da intensidade das correntes, compreende-se o porquê do interesse em evitar altos
valores de I. Vê-se do exemplo 3 que duplicando-se o valor VCC% (para 10%),
consegue-se uma redução para metade da corrente e para quarta parte dos efeitos
térmicos e dinâmicos. Este é o motivo pelo qual, nos grandes trafos, utilizam-se de
valores mais altos de VCC% que nos pequenos trafos.
3 - Quando se adota a representação p.u., os valores (V, I e Z) têm os mesmos
valores, quer sejam referidos ao primário ou ao secundário. Com a escolha
das tensões nominais de primário e secundário como bases, o processo de
referir as impedâncias de um lado para outro fica automático.
Ex.:1.7.7: Um trafo monofásico apresenta os seguintes dados de placa :
- potência nominal : S = 15 kVA;
- tensão da alta tensão : V1 = 13.8 kV (AT);
- tensão da baixa tensão : V2 = 220 V (BT);
- impedância percentual a 75oC : Zeq % = 3.5% = Z%;
- freqüência = 50 Hz;
- perdas no ferro : PC = 160 W;
- perdas totais na carga a 75o : Ptotais = 350 W.
Determinar para este trafo :
a) perdas no cobre : PCO ;
b) tensão de curto circuito (ou de impedância) : VCC ;
c) corrente de curto circuito : I1CC e I2CC ;
d) impedâncias equivalentes de AT e BT ;
e) resistências equivalentes de AT e BT ;
f) reatâncias equivalentes de AT e BT ;
g) resistência e reatância percentuais.
Conversão de Energia 114

Solução
a) PCO = Pt – PC = 350 –160 = 190 W
b) V1CC = In1Zeq1 = (Z% /100)Vn1 = (3.5/100)13800 = 483 Volts
c) I1CC = (Vn1 / V1CC)In1 = (13800/483)(15000/13800) = 31.1 A
ou : I1CC = (100/Z%)In1 = (100/3.5)(15000/13800) = 31.1 A
I2CC = kI1CC = (13800/220)31.1 = 1948.1 A
ou : I2CC = (100/Z%)In2 = (100/3.5)(15000/220) = 1948.1 A
V1CC V1CC 483
d) Z eq1 = = Vn 1 = 13800 = 444.36 Ω
I n1 S 15000
Z % Vn1 Z % Vn21 3.5 (13800 )
2
ou : Z eq1 = = = = 444.36 Ω
100 I n1 100 S 100 15000
2
1 ⎛ 220 ⎞
Z eq 2 = 2 Z eq1 = ⎜ ⎟ 444.36 = 0.113 Ω
k ⎝ 13800 ⎠
P 190
e) Req 1 = OC = = 160.82 Ω
I n1 ⎛ 15000 ⎞ 2
2

⎜ ⎟
⎝ 13800 ⎠
P 190
Req2 = CO = = 0.0409 Ω
I n 2 ⎛ 15000 ⎞ 2
2

⎜ ⎟
⎝ 220 ⎠
f ) X eq1 = Z eq2 1 − Req2 1 = ( 444.36 ) 2 − ( 160.82 ) 2 = 414.24 Ω
2
X eq1 ⎛ 220 ⎞
X eq 2 = = X eq1 ⎜ ⎟ = 0.1053 Ω
k2 ⎝ 13800 ⎠
I n1 S 15000
g ) Req % = Req 1 100 = Req1 2 100 = 160.82 100 = 1.27 %
Vn 1 Vn 1 (13800 )2
S 15000
X eq 1 % = X eq 1 2
100 = 414.24 100 = 3.263 %
Vn 1 ( 13800 ) 2

1.7.4.12.1 - Regulação de Tensão para Transformadores


A regulação de tensão de uma máquina mede a variação de tensão em seus
terminais devido à passagem do regime a vazio para o regime em carga. No caso
específico de trafos, a regulação (Reg) mede a variação de tensão nos terminais do
secundário, quando a este se conecta uma carga.
A necessidade do estudo da regulação se deve ao fato de que muitas das cargas
conectadas ao secundário de um trafo operam essencialmente à tensão constante. Tais
cargas (ex.: lâmpadas, motores, estufas, etc) funcionam mais eficientemente à tensão
nominal. Uma tensão elevada tenderá a reduzir a vida útil destes equipamentos,
enquanto que, por outro lado, uma tensão inferior à nominal ocasionará, p. ex. , uma
redução do iluminamento, do conjugado dos motores e um funcionamento inadequado
das estufas.
Define-se como “regulação de um trafo”, para um determinado cosθL , a
variação de tensão secundário ao passar do estado em vazio ao funcionamento em
Conversão de Energia 115

carga, permanecendo constante a tensão aplicada ao primário bem como a freqüência.


Esta variação de tensão é expressa como uma fração do valor nominal do secundário
(V2n), ver figura 1.7.24(a).
V2( semc arg a ) − V2 n
Re g % = 100 (1.7.76 a)
V2 n

Os módulos são usados para indicar que é a variação nas magnitudes que é
importante para o desempenho da carga. Como, em geral, a corrente de excitação é
pequena comparada com a corrente nominal de um trafo de núcleo ferromagnético, o
ramo de magnetização é desconsiderado no cálculo da regulação. O circuito equivalente
simplificado referido ao secundário é representada na figura 1.7.24(b). O diagrama
fasorial, para uma carga indutiva, encontra-se na figura 1.7.24(c).
Quando o trafo está entregando a corrente nominal IL2 para uma carga de fator
de potência cosθL , a tensão de carga será V2. A correspondente tensão de entrada será
V1 k , referido ao secundário. Quando a carga for removida, mantendo-se a tensão de
entrada constante, a corrente de carga passará a ser IL2 = 0, logo a tensão nos terminais
da carga será V1 k . Reescrevendo a equação (1.7..76a), tem-se:

V1 k − V2
Re g% = 100 (1.7.76b)
V 2

onde: V1 k = V2 + IL 2 ( Req 2 + jX eq 2 ) 1.7.76c)


Os termos V2 e IL 2 são os valores nominais.

Nas análises pode ser utilizado o circuito equivalente referido ao primário


(enrolamento 1) ou, também, pode-se trocar as posições da carga e da fonte. As outras
três possíveis situações encontram-se na figura 1.7.25.

Req2 jXeq2
N 1 : N2
.
I1
.. .
IL2
.
IL2
. . . .
V1 V2 ZL2 V1 / k V2 ZL2
fp = cosθ L (indutivo) fp = cosθ L (indutivo)

k = N1 / N2
(b) circuito equivalente aproximado referido ao secundário.
(a) trafo de núcleo ferromagnético, alimentando
carga indutiva, fp = cosθ L.

.
V1 /k
.
jXeq2IL2
δ φ
.
θL V . θL
. 2 Req2IL2 .
IL2 .
φ = φ CC V2 = V2 / 0 o , foi adotado como referência.

(d) - diagrama fasorial do circuito equivalente da figura (b).


Figura 1.7.24 - Estudo da regulação em trafo de dois enrolamentos com núcleo ferromagnético
Conversão de Energia 116

Do diagrama da figura 1.7.24(c), quando se especifica a carga e o fp (logo


conhece-se IL2, V2 e θL), e se conhece Req2 e Xeq2, a tensão entre os terminais do
primário referida ao secundário é dada por:

V1 
k
( )
= V2 + IL 2 ∠ − θ L Z eq 2 = V2 + IL 2 (cos θ L − j sen θ L )(Req 2 + jX eq 2 )

V1
= V2 + IL 2 Req 2 cos θ L + IL 2 X eq 2 sen θ L + j IL 2 X eq 2 cos θ L − IL 2 Req 2 sen θ L
k
V1 k = A + jB (1.7.76d)

Onde: A (parte real de V1 k ) = V2 + IL 2 Req 2 cos θ L + IL 2 X eq 2 sen θ L (1.7.76e)
B (parte imaginária de V1 k ) =
IL 2 X eq 2 cos θ L − IL 2 Req 2 sen θ L (1.7.76f)

Observe que θL é positivo para corrente atrasada (indutida). O módulo de



V1 k será:
V1
2
⎛B⎞
= A 2 + B 2 = A 1 + ⎜ ⎟ = A 1 + x 2 = A( 1 + x 2 )1 / 2 (1.7.76g)
k ⎝ A⎠

Req1 jXeq1
(a) carga no enrolamento
. . 2 - circuito equivalente
. referido ao 1. | V2 | e | IL2 | são valores nominais.
IL2/k . . .
. .
V1 kV2 2 V1 = k V2 + (IL2/k) ( Req1 + jXeq1)
k ZL2
. .
Reg% = |V1| - |kV
. 2| 100 (1.7.76h)
|kV2|

Req1 jXeq1
(b) carga no enrolamento
. .1 (secundário) - circuito equivalente
. referido ao 2. | V1 | e | IL1 | são valores nominais.
IL1 . . .
. .
kV2 V1 ZL1 kV2 = V1 + IL1 ( Req1 + jXeq1)
. .
Reg% = |kV2| -. |V1| 100 (1.7.76i)
|V1|
Req2 jXeq2
(c) carga no enrolamento 1 (secundário)
. . - circuito equivalente
. referido ao 2 (primário). | V1 | e | IL1 | são valores nominais.
kIL1 . . .
. .
V2 V1 ZL1 V2 = V1 /k + kIL1 ( Req2 + jXeq2)
k k2 . .
Reg% = |V2| - |V
. 1 / k | 100 (1.7.76j)
|V1 / k |

Figura 1.7.25 - Outros circuitos equivalentes possíveis para o cálculo da regulação de tensão.

A expressão (1 + x2)1/2 pode ser aproximada por meio de um polinômio


aplicando o Teorema de Taylor:
Conversão de Energia 117

f(x) = f(x0) + f i (x0)(x– x0) + (1/2!)f ii (x0)(x – x0)2 + (1/3!)f iii (x0)(x – x0)3 + ...
Considerando x0 = 0 e f (x) = (1 + x2)1/2 : f(0) = 1

( )
f i (0 ) = x 1 + x 2
−1 / 2
=0x =0

f ii (0 ) = [(1 + x ) − x (1 + x ) ]
2 −1 / 2 2 2 −3 / 2
x =0 =1
f iii (0 ) = [− 3 x(1 + x ) + 3 x (1 + x )
2 −3 / 2 3 2 −5 / 2
] x =0 =0
f iv (0 ) = [− 3(1 + x ) + 18 x (1 + x )
2 −3 / 2 2 2 −5 / 2
(
− 15 x 4 1 + x 2 )
−7 / 2
] x =0 = −3

Logo: (1+x2 )1/2 = 1+½ x2 – (1/8) x4 + ...


V1 ⎡ 1 ⎛ B ⎞2 1 ⎛ B ⎞4 ⎤
Com isso: = A⎢1 + ⎜ ⎟ − ⎜ ⎟ ⎥ + ... (1.7.76k)
k ⎣⎢ 2 ⎝ A ⎠ 8 ⎝ A ⎠ ⎦⎥

Cabe aqui uma observação com relação à aproximação a ser efetuada:


i - Como B/A geralmente será muito menor que a unidade, a série infinita
converge rapidamente; por conseguinte, pode ser efetuada uma aproximação,
sem perda de precisão, considerando-se apenas os dois primeiros termos da
série infinita (quando B = 0.3A, o erro será inferior a 0.1 %).
Uma vez que B é pequeno com relação a A, o módulo de V1 k é, quase,
exatamente igual a:

V1
2
B
= A+ (1.7.76l)
k 2A

Substituindo (1.7.76l) em (1.7.76b):


B2 
A+ − V2
Re g % = 2A 100
V2
Como V2 = Vn 2 , e de (1.7.76e):

A = Vn 2 + IL 2 Req cos θ L + IL 2 X eq sen θ L = Vn 2 + C ⇒ A − Vn 2 = C




C
⎡ B2 ⎤ 100
Re g% = ⎢C + ⎥ (1.7.76m)
⎣ 2(Vn 2 + C ) ⎦ Vn 2

Uma outra aproximação é feita agora considerando que Vn 2 >> C , vejamos um


exemplo:
Para grandes trafos, Xeq% é da ordem de 10%, logo de acordo com a equação
(1.7.68b):
⎡V ⎤ 1 V
X eq 2 = ⎢ n 2 X eq % ⎥ = 0.1 n 2 , a resistência equivalente Req% será de 0.5 % e
⎣ I n2 ⎦ 100 I n2
será desconsiderada por ser pequena com relação a Xeq%. De acordo com isso, C será:

C = | IL 2 | Req2 cos θL + | IL 2 | Xeq2 senθL = In2 Xeq2 senθL


Conversão de Energia 118

Na pior hipótese, senθL = 1 (carga puramente indutiva) e C = In2 Xeq2 , e com a


substituição de Xeq2 , tem-se: C = In2 0.1 (Vn2 / In2) = 0.1 Vn2
Prosseguindo com (1.7.76m):

⎡ B 2 ⎤ 100
Re g% = ⎢C + ⎥
⎣ 2Vn 2 ⎦ Vn 2

Substituindo-se os respectivos valores de C e B na expressão anterior, obtém-se:


⎡ I L 2 Req 2 I L 2 X eq 2 1 ⎛ I L 2 X eq 2 I L 2 Req 2 ⎞ ⎤
2

Re g % = 100 ⎢ cos θ L + sen θ L + ⎜⎜ cos θ L − sen θ L ⎟⎟ ⎥ (1.7.76n)


⎢⎣ Vn 2 Vn 2 2 ⎝ Vn 2 Vn 2 ⎠ ⎥⎦

Nesta análise a carga foi suposta indutiva. Se θL é considerado positivo quando a


carga é indutiva, então, é negativa para cargas capacitivas. Para cargas capacitivas,
basta substituir θL na equação acima por –θL (lembre-se de que cosθL = cos(–θL) e sen(–
θL) = –senθL):

⎡ I L 2 Req 2 I L 2 X eq 2 1 ⎛ I L 2 X eq 2 I L 2 Req 2 ⎞ ⎤
2

Re g % = 100 ⎢ cos θ L − sen θ L + ⎜⎜ cos θ L + sen θ L ⎟⎟ ⎥


⎢⎣ Vn 2 Vn 2 2 ⎝ Vn 2 Vn 2 ⎠ ⎥⎦

Com cargas indutivas, θL é positivo e a regulação também é positiva, i.é., a


tensão do secundário cresce ao se retirar a carga e manter constante a tensão do
primário. Por outro lado, com cargas capacitivas, θL é negativo, V1 k pode ser menor
que V2 n , ver figura a seguir; a regulação pode ser negativa e a tensão do secundário
pode diminuir ao se retirar a carga.
. .
V1 /k jXeq2IL2
.
IL2 .
θL .
δ Req2IL2 .
. V2 = V2 / 0 o , foi adotado como referência.
V2
Figura 1.7.26 - Diagrama fasorial para carga com fp adiantado (capacitivo)

A equação (1.7.76n) expressa a regulação em função das quedas de tensão na


resistência e na reatância equivalentes, da tensão e do fator de potência. Observe que
para valor nominal da tensão IL2 Req2/Vn2 e IL2 Xeq2 / Vn2 são, simplesmente, os valores
p.u. das quedas de tensão na resistência e na reatância equivalentes. Logo, quando se
expressam estas quedas em percentagem, a equação se reduz a:

Re g % = U R % cos θ L + U X % sen θ L +
1
(U X % cos θ L − U R % sen θ L )2 (1.7.76o)
200
Req 2 I L 2 X eq 2 I L 2
Onde: U R % = 100 e U X % =
100
Vn 2 Vn 2
Para a corrente nominal, estas quedas de tensão serão iguais aos valores em
porcentagem da resistência e da reatância equivalente. Observa-se que assim as
equações (1.7.76n) e (1.7.76o) fornecem o mesmo resultado quer se considere o lado de
alta tensão ou o de baixa tensão como secundário. Portanto, para corrente nominal:
Conversão de Energia 119

Re g% = Req % cos θ L + X eq % sen θ L +


1
200
(
X eq % cos θ L − Req % sen θ L )2 (1.7.76p)

Onde Req% e Xeq% são obtidos das equações (1.7.68 (a) e (b)).

Dando procedimento ao desenvolvimento da equação (1.7.76p), pode-se


P
substituir Req% = Zeq% cosφCC e Xeq% = Zeq% senφCC, onde φCC = cos −1 cobre 100 ,
S n Z eq %
(Pcobre = perdas no cobre), e obter-se:
⎡ Z eq % ⎤
Re g% = Z eq % ⎢(cos φCC cos θ L + sen φCC sen θ L ) + (sen φCC cos θ L − cos φCC sen θ L )2 ⎥
⎣ 200 ⎦
⎡ Z eq % ⎤
Re g% = Z eq % ⎢cos(φCC − θ L ) + sen 2 (φCC − θ L )⎥ (1.7.76q)
⎣ 200 ⎦

Ou como VCC% = Zeq%:

⎡ ⎤
Re g % = VCC % ⎢cos (φ CC − θ L ) + CC sen 2 (φ CC − θ L )⎥
V %
(1.7.76r)
⎣ 200 ⎦
Observa-se que nas equações (1.7.76) os valores de IL e Vn são os valores
nominais; para corrente de carga diferente da nominal considera-se o índice fc (fração
de plena carga) = IL2 /In2 , neste caso a regulação será dada por:
2
⎡ ⎤
Re g % = f c ⎢U R cos θ L + U X sen θ L + c (U X cos θ L − U R sen θ L )⎥
f
(1.7.76s)
⎣ 200 ⎦

As equações encontradas até aqui são para aplicação geral. Para trafos até
2MVA para os quais Ux tem um valor por volta de 4%, as equações podem ser
simplificadas:

Para corrente secundária nominal In2:

Reg % = URcosθL + UXsenθL = Z%cos (φCC + θL) (1.7.76t)


Para uma corrente secundária qualquer IL2:

Reg % = fc (URcosθL + UXsenθL) = fc Z%cos (φCC + θL) (1.7.76u)


Estas equações (1.7.76t e 1.7.76u) não são usadas em casos de baixos fp
indutivos. A equação (1.7.76u) permite um estudo da variação da regulação com
alterações de IL2 e θL. Para diferentes valores dessas grandezas, é comum traçar curvas,
tais como:

Reg % = função (IL2) para θL constante


Reg % = função (cosθL) para IL2 constante
Entretanto, tais curvas não são necessárias, pois, com o uso do Diagrama de
Kapp para cada condição de funcionamento, determina-se ΔV e , com isso, a regulação.
Conversão de Energia 120

Observações:
i - O cálculo da regulação pode ser efetuado rapidamente através nomogramas
(ábacos) como o apresentado na figura abaixo. Se as grandezas a serem
introduzidas para o cálculo de Reg % forem diferentes das existentes no
ábaco, pode-se imaginar a existência de uma escala (de redução ou
ampliação). Por exemplo, se Req% = 8 e Xeq% = 12, então pode-se considerar
um fator de redução igual a 10, entrando com Req% = 0.8 a Xeq% = 1.2.
Quanto ao resultado obtido, o mesmo deverá ser multiplicado por este fator.

Figura 1.7.27 - Ábaco para o cálculo da regulação

ii - Quando a carga é capacitiva , a regulação será negativa e, portanto, a sua


tensão será maior que a fem induzida (V1 / k) no trafo, Este fenômeno é
chamado de “Efeito Ferranti”, e pode acontecer em todos os casos em que
existem cargas capacitivas.
iii - Ao analisarem-se as expressões de regulação, vê-se que um grande valor de
regulação significa grande diferença entre V1 / k e V2 , ou seja, grande
queda de tensão. Se ao contrário, o valor da regulação é pequeno, há uma
pequena queda de tensão; portanto, unicamente sob o ponto de vista de
regulação, diz-se que:
- boa regulação - pequeno valor
- má regulação - grande valor
iv - pelas expressões apresentadas, nota-se a grande influência da reatância
percentual na regulação, principalmente com baixos fp. Nota-se que a pior
regulação ocorre quando (ver eq (1.7.76t)) cos(φCC – θL) for igual a 1, ou
seja, φCC = θL = cos-1 (R% / Z%) ou cosθL = R% / Z%. Nesta condição
Reg % =Z% (pode-se dizer que a pior regulação ocorre no curto, ou seja,
cos θL = cosφCC ).

Logo, quando deseja-se uma boa regulação, o trafo possuirá uma reatância com
valores baixos, porém, essa situação apresenta uma séria desvantagem: um trafo com
Conversão de Energia 121

uma reatância de 2%, p.ex., sujeita-se a ser seriamente danificado caso ocorra um
curto-circuito no sistema, ainda mais se o sistema for de grande porte. Os esforços
mecânicos no trafo são proporcionais ao quadrado da corrente que flui por seus
enrolamentos. Durante o curto-circuito, a corrente varia inversamente com Z%. Estes
esforços podem ser 6 vezes maiores num trafo com 2% que em um com 5%. Na
determinação da impedância que um trafo possuirá (no projeto), haverá uma questão a
decidir: considera-se a segurança ou a obtenção de boa regulação para todos os fatores
de potência? Esta questão torna-se cada vez mais importante devido às grandes
extensões dos sistemas elétricos.

.
V1 /k . .
Zeq2 IL jXeq2 IL
.
.
Req2 IL
.
V2 .
θL
IL = IL / 0 o , foi adotado como referência.
.
IL

Adotando IL = IL ∠0º = IL


V2 = V2 ∠θ L = V2 (cos θ L + j . sen θ L )
θL > 0 carga indutiva
θL < 0 carga capacitiva
Conversão de Energia 122

V1 
= V2 + Z eq IL
k
V1
= V2 (cosθ L + j sen θ L ) + I L (Req 2 + jX eq 2 )
k
V1 V1
k k
(
= = (V2 cosθ L + Req 2 I L ) + (V2 sen θ L + X eq 2 I L )
2 2
) 1
2

Re g % =
((V cosθ 2 L + Req 2 I L ) + (V2 sen θ L + X eq 2 I L )
2 2
) 1
2
− V2
100
V2
1
⎛⎛ R I ⎞
2
⎛ X I ⎞
2
⎞ 2

Re g % = ⎜ ⎜⎜100 cosθ L + 100 ⎟⎟ ⎟


I I
100 ⎟⎟ + ⎜⎜100 sen θ L + − 100
eq 2 L n2 eq 2 L n2
⎜⎝ V2 I n 2 ⎠ ⎝ V2 I n 2 ⎠ ⎟⎠

(
Re g % = (100 cosθ L + f c Req % ) + (100 sen θ L + f c X eq % )
2 2
)
1
2
− 100

Re g % = ((100 cosθ + f c Z eq % cos φ CC ) + (100 sen θ L + f c Z eq % sen φ CC ) ) 1


− 100
2 2 2
L
1
⎛100 2 cos 2 θ L + f c2 Z eq2 % cos 2 φ CC + 200 f c Z eq % cos φ CC cosθ L + ⎞ 2

Re g % = ⎜ ⎟ − 100
⎜100 2 sen 2 θ + f 2 Z 2 % sen 2 φ + 200 f Z % sen φ sen θ ⎟
⎝ L c eq CC c eq CC L ⎠
(
Re g % = 100 2 + f c2 Z eq2 % + 200 f c Z eq % cos(φ CC − θ L ) ) 1
2
− 100
Re g % = 100 2 + 200 f c Z eq % cos γ + f c2 Z eq2 % − 100
Conversão de Energia 123

Xeq2IL cos θ L - Req2IL sen θ L


S
.
V2 = V2 / 0 o , foi adotado como referência.
θL

.
V1 /k

φ CC N
O . P Q
θL V2 M θL .
. . jXeq2 IL2
IL Req2 IL2 . .

Req2ILcosθ L + Xeq2ILsenθ L

O P = O M + MN + N P (
O S = O P 2 + PS 2 )
1
2

O Q = O P + PQ PQ = O S − O P
⎛ V1 k − V2 ⎞ MQ O Q − O M O P + P Q − O M
Re g % = ⎜ ⎟= = =
⎜ V ⎟ V2 n V2 n V2 n
⎝ 2 ⎠
MN + N P + O M + P Q − O M MN + N P + P Q
Re g % = 100 = 100
V2 n V2 n
⎛R I X I PQ ⎞ PQ
Re g % = ⎜⎜ eq 2 L cos θ L + eq 2 L sen θ L + ⎟⎟100 = U R % cos θ L + U X % sen θ L + 100
⎝ 2n
V V2n V2 n ⎠ V2 n

(
PQ = O P 2 + PS 2 ) 1
2
−OP
P Q ⎡ 2 (V2 n + Req 2 I L cos θ L + X eq 2 I L sen θ L ) (X eq 2 I L cos θ L − Req 2 I L sen θ L )2 ⎤ −
2

100 = ⎢100 + 100 2



V2 n ⎢⎣ V22n V22n ⎥⎦
(V + Req 2 I L cos θ L + X eq 2 I L sen θ L )
100 2 n
V2 n

100
PQ
= (100 + U R % cos θ L + U X % sen θ L )2 + (U X % cos θ L − U R % sen θ L )2 − 100 − U R % cos θ L − U X % sen θ L
V2 n
Re g % = (100 + U R % cos θ L + U X % sen θ L )2 + (U X % cos θ L − U R % sen θ L )2 − 100
Re g % = (100 + f Zc eq %(cos φCC cos θ L + sen φCC sen θ L )) + f c2 Z eq2 %(sen φCC cos θ L − cos φCC sen θ L ) − 100
2 2

2
⎛ ⎛ ⎞⎞
⎜ ⎟
Re g % = ⎜100 + f c Z eq % cos φ CC − θ L ⎟ ⎟ + f c2 Z eq2 % sen 2 (φ CC − θ L ) − 100

⎜ ⎜ 


⎟ ⎟
⎝ ⎝ γ ⎠⎠
Re g % = 100 2 + 200 f c Z eq % cos γ + f c2 Z eq2 % − 100

1.7.4.13 - Rendimento de um Trafo (η)


Conversão de Energia 124

Para utilização de um trafo num sistema elétrico, uma série de requisitos são
desejados. Além de outros tais como a regulação, será analisado aqui o rendimento.
Observa-se que para os trafos de força é sempre exigida uma baixa regulação com um
alto rendimento, ao passo que nos trafos utilizados em circuitos eletrônicos, o
importante é a fidelidade de reprodução de um sinal.
Os trafos, como qualquer máquina, apresentam perdas ao transferir a energia de
um a outro circuito, mantendo a freqüência constante e variando os valores de corrente
e tensão. As perdas seriam: no núcleo (Ph + Pf), nos enrolamentos (PCobre) e como
constatou-se estas dependem da construção do trafo (material das chapas, espessura,
etc) e do regime de funcionamento (tensão, corrente, etc). Dessa forma, ter-se-á uma
diferença entre a potência de entrada e a de saída, P1 e P2 respectivamente, as quais
podem ser obtidas de um trafo alimentando uma carga, através de dois wattímetros
conectados, um junto aos terminais de entrada (W1) e outro aos de saída (W2). A relação
entre W1 e W2 vem expressa pelo denominado rendimento, cuja definição vem a ser:

W2 P
η% = 100 = 2 100 (1.7.77a)
W1 P1

onde: W1 - potência fornecida ao trafo


W2 - potência entregue pelo trafo

O η é função da carga que o trafo alimenta (IL2), visto que as PCobre dependem da
mesma, e que tais perdas são preponderantes, PCobre >> PNúcleo. Num trafo há
dificuldade em obter o η através da leitura de W1 e W2 pois, para estes, o rendimento
pode chegar até 99%, e, nestas condições, a diferença das potências de entrada e saída é
muito pequena, superando a classe de precisão dos aparelhos de medida, os quais
forneceriam valores iguais. Para contornar o problema, lança-se mão de:
P1 = P2 + Pcobre + Pnúcleo
Tem-se ainda que :
P2 = V2 IL2 cosθ L e
Pcobre = R1 I12 + R2 I22 = Req 2 I2L2

Com isso P1 será dado por :

P1 = V2 IL2 cosθ L + Req2 I2L2 + Pnúcelo


A corrente IL2 é qualquer, de modo a generalizar o problema. Substituindo na
equação (1.7.77a):

V2 I L 2 cos θ L
η% = 100 (1.7.77b)
V2 I L 2 cos θ L + Req 2 I L22 + PC

Esta equação é válida para qualquer situação de carga; porém em trafos bem
projetados, a tensão V2 é praticamente constante, mesmo variando-se I2. Supondo-se o
fp(cosθL) também constante, pode-se alterar a equação (1.7.77b) multiplicando e
dividindo alguns termos por In2 (corrente secundária nominal):
V2 I L 2 cos θ L (I n 2 / I n 2 )
η% = 100
V2 I L 2 cos θ L (I n 2 / I n 2 ) + Req 2 I l22 (I n 2 / I n 2 ) + PC
2
Conversão de Energia 125

V2 I n 2 cos θ L f c
η% = 100
V2 I n 2 cos θ L f c + Req 2 I n22 f c2 + PC

Considerando-se as suposições acima sobre V2 e cos θL, pode-se escrever:

V2 In2 cosθ L = Pn2 (potência nominal), valor constante;


Req2 I2n2 = PCC (perdas no cobre nominais), valor constante;
fc = IL2 / In2 (fator de carga), fornece as cargas instantâneas em relação à carga
nominal.
Logo, o rendimento será dado por:
f c Pn 2 fc
η% = 100 = 100 (1.7.77c)
f c Pn 2 + PCC f c2 + PC fc + fc
P
2 CC
+
PC
Pn 2 Pn 2

Esta equação é interessante, pois somente fc é variável e facilita a obtenção do


rendimento para qualquer corrente de carga.
Observações:
i) A parcela referente às perdas, que ocorrem durante a transferência de potência,
como se viu, subdivide-se em dois tipos:
- perdas fixas (perdas no núcleo - PC): as perdas no núcleo são dependentes da
freqüência e da densidade de fluxo. Tais perdas são praticamente constantes
desde vazio até a plena carga. Esta afirmação é reforçada pela suposição de
que V2 e f (freqüência) são mantidas constantes, já que se analisa uma
operação em regime senoidal estável.
- perdas variáveis (perdas no cobre - PCo): é função da corrente de carga. A
potência útil de saída (P2) também é função da corrente de carga.
ii) Segundo a ABNT, o rendimento fornecido pelo fabricante deve se referir às
condições nominais e fp da carga, de valor unitário. Este rendimento é então
referido às condições nominais de funcionamento, com o modo e o local de
emprego especificados. Deve-se lembrar que o que fixa a potência nominal do
trafo é sua temperatura, assim para obter-se o rendimento fornecido pelo
fabricante, deve-se operar em regime nominal e à temperatura fixada.
iii) Para determinação do rendimento de um trafo é suficiente a colocação de um
wattímetro no secundário, um amperímetro (lê IL2), e o conhecimento de Req2
(ensaio em curto) e PC (ensaio em vazio).

Ex.: 1.7.8: Um trafo de distribuição de 20 kVA, 60 Hz, 2200/220 Volts, está


sendo posto á prova para determinação de seu rendimento e de sua regulagem.

Ensaio Tensão [V] Corrente [A] Potência [W] Observação


Conversão de Energia 126

curto circuito 74 9.1 270 BT em curto


em vazio 220 4.2 148 AT em aberto
Determine: Req2, Xeq2, Reg% para fator de potência 0.8 (indutivo), η% a plena
carga e a meia carga.

Cálculo de Req2:
2
1 270 ⎛ 220 ⎞
Req 2 = Req1 2 = ⎜ ⎟ = 0.0326 Ω
k 9.12 ⎝ 2200 ⎠
W 270 Req 2 S n 20000
Req 2 % = Req % = CC 100 = 100 = 2
100 = 0.0326 100 = 1.347 %
Sn 20000 Vn 2 220 2
Cálculo de Xeq2:
2
⎛ 74 ⎛ 220 ⎞ 2 ⎞
X eq 2 = Z eq 2 − Req 2 = ⎜
2 2
⎜ ⎟ ⎟ − (0.0326 )2 = (0.0813 )2 − (0.0326 )2 = 0.0745 Ω
⎜ 9.1 ⎝ 2200 ⎠ ⎟
⎝ ⎠
20000
∴ X eq2 % = 0.0745 100 = 3.079 %
220 2
20000
Z eq2 = 0.0813 Ω ∴ Z eq2 % = 0.0813 100 = 3.36 %
220 2

Cálculo da regulação para fp = 0.8 indutivo :


Reg % = 3.36(cos(66.37o – 36.87o) + (3.36/200)sen2(66.37o – 36.87o))
Onde 66.37o = cos–1 (R % / Z %) e 36.87o = cos–1 (0.8)

Reg % = 3.36(0.8703 + 4.074×10–3) = 2.94 %

Ou Reg % = Z %cos(φCC – θL) = 2.924 %


considerando a expressão para a regulação :

Reg % = ((100)2 + 200Zeq %cos(φCC – θL) + Z2eq %)1/2 – 100

Reg %= 102.937 –100 = 2.94 %→ não há diferença comparado com o resultado


obtido com a equação 1.7.76(r).
Sendo V2 a tensão nominal do secundário (com carga aplicada) a tensão V1/k será :

100
(V1 / k ) − V2 n = 2.94 ∴
V1 2.94
= V2 n + V2 n =
2.94
220 + 220 = 226.5 V
V2 n k 100 100
Ou a tensão primária, sem carga, seria : V1 = 226.5×10 = 2265 V, ou seja, no
secundário do trafo quando a carga for removida, surgirá uma tensão de 226.5 Volts.
A verificação pode ser feita a partir da equação :
Conversão de Energia 127

V1
k
( )
= V2 + (I L 2 ∠ − θ L )Z eq 2 = 220 + 90.9 ∠ − 36.87 o (0.0326 + j0.0745 )

V1
k
( )( )
= 220 + 90.9 ∠ − 36.87 o 0.0813∠66.37 o = 220 + 7.39 ∠29.5 o

V1
= 220 + 6.43 + j 3.64 = 226.43 + j 3.64 = 226.46 ∠0.92 o
k

20000 × 0.8 × 100 f c cos θ L 100


η% = = 97.46% =
20000 × 0.8 + (90.9 ) × 0.0326 + 148
2
Req % Gc %
f c cos θ L + f c2 +
100 100
1 20000 × 0.8 × 100 0.4 × 100
η% = 2
= 97.38% =
1 20000 × 0.8 +
270 0.25 0.74
2 2
+ 148 0.4 + 1.347 +
2 100 100
Na figura 1.7.28, tem-se um ábaco para o cálculo do rendimento do trafo em
função das perdas no núcleo e no cobre para diversas correntes de carga. Notar que as
perdas deverão entrar com valor em porcentagem da potência do trafo. Como exemplo,
calculando-se o rendimento para um trafo que apresenta perdas no cobre da ordem de
1.5% da potência nominal, e perdas no núcleo da ordem de 0.45% da mesma potência
nominal. Para plena carga (4/4), o η=98%

1.7.4.14 - Condição de Máximo Rendimento

É natural, na operação com qualquer componente de um sistema, que o mesmo


apresente o maior rendimento no ponto de funcionamento nominal (onde permanece por
mais tempo). Assim, considere um trafo de força, que seria instalado, por exemplo,
numa subestação (SE) ou numa usina junto a um gerador. Devido ao seu funcionamento
quase que constantemente próximo da potência nominal, é interessante que o máximo
rendimento ocorra para tal potência (que corresponde a corrente fornecida próxima da
nominal). Por outro lado, o funcionamento de um trafo de distribuição se dará a maior
parte do tempo com subcarga e com isso deve ser projetado para ter um máximo
rendimento nestas condições.
kW

Potência
nominal

Metade da
potência
nominal Δ tj

6 12 18 24 horas do dia
T

Figura 1.7.29 - Curva de carga de uma rede de distribuição.


Conversão de Energia 128

Na figura 1.7.29 vê-se uma curva de carga de uma rede de distribuição, de onde
pode-se observar que o trafo fica na maior parte do tempo alimentando uma carga
correspondente a, por exemplo, metade de sua carga normal (In2/2). Portanto, neste
caso, é mais interessante o funcionamento com o máximo rendimento para I2 = In2/2. De
modo a verificar-se como isto se processa, considere o desenvolvimento a seguir.
Considere a equação (1.7.77c) de onde se constata que o único elemento variável
é fc = IL2/In2. Derivando, portanto, a equação de η% em relação a fc e igualando a zero,
tem-se:


2 ⎞
(
Pn 2 ⎜ f c' Pn 2 + PCC f c' + PC ⎟ − f c' Pn 2 Pn 2 + 2 PCC f c'

)
100 2
⎛ ' '2 ⎞
⎜ f c Pn 2 + PCC f c + PC ⎟
⎝ ⎠
2 2
f c' Pn 2 − PCC f c' + PC − f c' Pn 2 − 2 f c' PCC = 0
2 I V Pnúcleo
− f c' PCC + PC = 0 ⇒ f c' = L 2 × n 2 = (1.7.77d)
I n 2 Vn 2 Pcobre ,no min al

Que nos permite dizer que o máximo rendimento a plena carga ocorre quando as
perdas no cobre forem iguais às no núcleo. Substituindo o fc assim obtido na equação
(1.7.77c), tem-se:
100 100
ηmáx % = = (1.7.77e)
2 PCC PC 2 PCC PC
1+ 1+
Pn 2 S n cos θ L

E que mostra que o rendimento máximo está compreendido entre os valores 0 e


100
, respectivamente, para cos θL = 0 e cos θL = 1.
2 PCC PC
1+
Sn
A confirmação de que a equação (1.7.77d) fornece um ponto de máximo é obtida
da d2η%/dfc2 que é sempre menor do que zero:

d 2 η%
=
100 Pn 2
[− P 2
]
− 4 PCC PC f c − PC Pn 2 < 0
( )
CC Pn 2 f c
df c2 f c Pn + PCC f c2 + PC
3

A curva de rendimento terá o aspecto da figura 1.7.30.

ηpu
fp=1
0.98
fp=0.8

0.96

corrente de carga
1 1
/2
plena carga = 1 p.u.
Figura 1.7.30 - Curvas de rendimento para fp = 1 e fp = 0.8 onde as perdas a plena carga
no cobre e no núcleo são iguais.
Observações:
Conversão de Energia 129

i) A curva de rendimento versus corrente de carga é bastante plana na vizinhança


do ponto de máximo, não sendo pois uma condição crítica..
ii) O termo carga refere-se à corrente de carga, não aos kW, embora desde que a
tensão é substancialmente constante, também terá o significado de kVA.
iii) Para qualquer corrente em específico, as perdas serão virtualmente as
mesmas qualquer que seja o fp, pois Pc e PCC independem do fp.
iv) O rendimento máximo absoluto ocorre para o fp = 1.
v) É possível na fase de projeto ajustar os pesos de cobre e de ferro para alterar o
balanço entre as perdas no ferro e no cobre e então escolher a carga para a qual
ocorrerá o máximo rendimento. No caso de um trafo de distribuição, conforme
já comentado, o trafo deverá ser projetado para ter um rendimento máximo
num valor bem menor que a de plena carga, dependendo do ciclo de trabalho
da variação de carga num período de 24 horas.
vi) O fator de potência da carga (cosθL) determina o valor do termo potência útil
secundária na equação (1.7.77c). Para o mesmo valor de IL2, uma redução no fp
é acompanhada pela correspondente redução no fator rendimento de potência.
vii) Observa-se, também, que sob cargas relativamente leves, as perdas fixas são
elevadas em relação à saída e o rendimento é baixo. Já para cargas pesadas
(além da nominal), as perdas variáveis (no cobre) são elevadas em relação à
saída e o rendimento é novamente baixo. A curva de rendimento, portanto,
eleva-se desde zero (com potência de saída nula, a vazio) até um máximo,
caindo novamente para cargas pesadas (acima da nominal).

1.7.4.15 - Rendimento Cíclico (ou Diário)

Como dito anteriormente, não é interessante obter-se um rendimento máximo a


plena carga, pois, seguramente, o trafo passará muitas horas funcionando a vazio. Por
exemplo, um trafo que alimenta um grupo de residências estará solicitado durante o
período que vai do crepúsculo até cerca de 22 horas por uma carga de iluminação de
valor elevado. No período das 22 horas às 5 horas o trafo funciona praticamente em
vazio voltando em carga no período da manhã (carga de iluminação e eletrodomésticos).
Sendo assim, do ponto de vista do consumo, o conhecimento do rendimento durante um
ciclo completo de trabalho é mais interessante. Entende-se por ciclo de trabalho os
períodos sucessivos de tempo durante os quais as condições de trabalho repetem-se
integralmente.
O rendimento cíclico é definido como a relação entre a energia total entregue
pelo trafo à carga pela energia total recebida pelo trafo; durante o ciclo de
funcionamento em questão; matematicamente:

ηc% = (EC / ER)×100 (1.7.77f)

Onde EC - energia entregue à carga no ciclo


ER - energia recebida pelo trafo no ciclo

ou: ηc% = [(ER – EP) / ER]×100 = 100 – 100EP /(EC + EP), (1.7.77g)

sendo EP a energia perdida pelo trafo no ciclo.


Considere o ciclo de carga da figura 1.7.29. Dividindo o período T (24h) em
intervalos Δtj , tais que I2 e cosθ2 sejam constantes:
Conversão de Energia 130

m
EC = ∑ V2 I 2 cos θ2 j Δt j (1.7.77h)
j =1

Supondo o trafo constantemente ligado à rede, à tensão aplicada constante, V2 =


V2n = cte; então:
m m
EC = V2 n ∑ (I 2 cos θ2 Δt ) j = V2 n I 2 n ∑ ( f c cos θ2 Δt ) j (1.7.77i)
j =1 j =1

Analisando a energia perdida, tem-se que:


EPnúcleo = EPc = PC × T, (1.7.77j)
onde PC×T é a energia perdida no núcleo; PC são as perdas em vazio (constantes, já que
a tensão aplicada é constante) e T é o período do ciclo.
A energia perdida no cobre (EPCO) será:
m
E Pco = ∑ f cj2 PCCn Δt j ou
j =1
m
EPco = PCCn ∑ fc2 Δt j ,
j =1
( ) (1.7.77k)

onde fCj é o fator de carga para cada intervalo Δtj, e PCCn é a perda normal no cobre.
Substituindo (1.7.77i), (1.7.77j) e (1.7.77k) em (1.7.77g), obtém-se:

PCT + PCCn ∑ f c2 Δt j
j =1
m
( )
ηC % = 100 − 100
m
I 2 nV2 n ∑ ( f c cos θ2 Δt ) j + PCT + PCCn ∑
j =1
m

j =1
( )
f c2 Δt j

Porém, Pn = V2nI2n (potência nominal) e fc = I2/I2n; então:

P
SN
P m
100 C T + 100 CCn ∑ f c2 Δt j
S N j =1
( )
ηC % = 100 − 100

j =1
m
100 ∑ ( f c cos θ2 Δt ) j + 100
PC
SN
T + 100
PCCn m 2
∑ f c Δt j
S n j =1
( )
m
T × PC % + PCCn % ∑ f c2 Δt j
j =1
( )
ηC % = 100 − 100 , (1.7.77l)
m
100 ∑ ( f c cos θ2 Δt ) j + PC % × T + PCC % ∑
j =1
m

j =1
( f c2 Δt j)
que é a expressão de rendimento cíclico mais fácil de ser utilizada.

Ex. 1.7.9: Um trafo de distribuição de 500 kVA, 60 Hz, 2300/208 V, teve seus
testes de aceitação constando de um ensaio a vazio e um de curto circuito, antes de ser
Conversão de Energia 131

colocado em serviço como trafo abaixador. A partir dos ensaios, devem-se calcular sua
regulação e seu rendimento. Os dados obtidos dos ensaios são :

A vazio : VOC = 208 V, Iφ = 85 A, POC = 1800 Watts


Curto-Circuito : VCC1 = 95 V, ICC1 = 217.5 A, PCC = 8200 Watts
Pede-se :
a) Req1, Req2 , PCO em vazio, PC ;
b) podem as perdas a vazio, obtida do ensaio respectivo, ser usada como perdas
no núcleo ?;
c) o η% para carga resistiva pura (fp = 1) correspondente a 1/4, 1/2, 3/4, 1, 5/4
da carga nominal. Tabele todas as perdas, potência de saída e de entrada em
função da carga;
d) repita o item c) para as mesmas condições de carga, mas sendo fp = 0.8 em
atraso;
e) a corrente de carga para qual ocorre o η% máximo, independente do fp e a
fração de carga (fc) respectiva;
f) o máximo η% para fp = 1;
g) Supondo que o trafo seja submetido ao seguinte ciclo de carga para um
período de 24 horas :
- a vazio, duas horas
- 20 % da carga nominal, cos θ2 = 0.7, durante 4 horas
- 40 % da carga nominal, cos θ2 = 0.8, durante 4 horas
- 80 % da carga nominal, cos θ2 = 0.9, durante 6 horas
- carga nominal, cos θ2 = 1, durante 6 horas
- 125 % da carga nominal, cos θ2 = 0.85, durante 2 horas
Admitindo constante a tensão de alimentação e as perdas no núcleo,
calcule :
g1 - as perdas no núcleo durante o período de 24 horas;
g2 - a perda total perdida durante o período de 24 horas;
g3 - a energia total entregue durante o período de 24 horas;
g4 - o ηc%
a) A partir do ensaio de curto :
P 8200
Req1 = CC = = 0.173 Ω
2
I cc (217.5 )2
0.173 0.173
Req2 = 2
= 2
= 1.417 mΩ
k ⎛ 2300 ⎞
⎜ ⎟
⎝ 208 ⎠
Req 2 2 1.417 x10 − 3
PCOvazio = Iφ = (85) 2 = 5.125 W
2 2
PC = POC − PCOvazio = 1800 − 5.125 = 1794.9 W
b) Sim, a potência obtida no ensaio a vazio pode ser usada como perda no
núcleo. O erro é aproximadamente 5/1800 = 0.00278 ou 0.278 %. Isto está
dentro da margem de erro permitida aos instrumentos usados no ensaio. Pode-
se, pois, admitir que as perdas no núcleo são de 1800 W.
Conversão de Energia 132

c) e d) - perdas no núcleo = perdas fixas = 1800 W, do ensaio a vazio


- perdas no cobre para a carga nominal = perdas variáveis = 8200 W, do ensaio
de curto
- potência de saída a plena carga = kVA×cosθ2 = 500 kVA × 1 = 500 kW.

Fração de Perdas no Núcleo Perdas no Cobre Perdas Totais Potência Saída Potência Entrada η
carga fc Pc (W) Pco (W) (W) (kW) (kW) (%)
(da carga fp = 1 fp = 0.8 fp = 1 fp = 0.8 fp = 1 fp = 0.8 fp = 1 fp = 0.8 fp = 1 fp = 0.8 fp = 1 fp = 0.8
nominal)
1/4 1800 1800 512.5 512.5 2312 2312 125 100 127.31 102.31 98.20 97.74
1/2 1800 1800 2050 2050 3850 3850 250 200 253.85 203.85 98.48 98.11
3/4 1800 1800 4612. 4612 6412 6412 375 300 381.41 306.41 98.32 97.90
1 1800 1800 8200 8200 10000 10000 500 400 510.0 410.0 98.10 97.60
5/4 1800 1800 12812 12812 14612 14612 625 500 639.6 514.6 97.70 97.16

e) corrente de carga :
PC S P 500000 1800
I L2 = I n2 = n . núcleo = = 1126.8 A
PCO Vn 2 Pcobre 208 8200
I
f c = L 2 = 0.469 ≅ 0.47 (próximo a 1/2 carga)
In

f)
fc
η% = 100
PCC PC
fc + f c2 +
V2 n I 2 n cos θ 2 V2 n I 2 n cos θ 2
0.47
η% = 100 = 98.48 %
8200 1800
0.47 + (0.47 ) 2 +
500000 500000
ηpu

100 fp = 1.0
rendimento em percentagem

fp = 0.8
fp = 0.6
fp = 0.4

fp = 0.2

50

fração da carga nominal (fc)


0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 1.2
Figura I
Obs:
- da figura vê-se que embora o η seja zero a vazio ( I2 = 0 e a potência de saída
V2I2cosθ2 = 0), ele se eleva rapidamente com uma pequena aplicação de carga ao
secundário. Conforme vê-se da figura o η% é maior que 97 % para 1/4 da carga
nominal.
- o ηmáx% ocorre aproximadamente à 1/2 carga. Estabelecendo-se o máximo
rendimento para estes valores de carga, permite-se que o trafo mantenha um η
Conversão de Energia 133

razoavelmente alto para cargas pequenas abaixo daquele valor e para cargas pesadas
acima daquele valor. O trafo, assim, mantém seu elevado rendimento através de uma
larga faixa de valores de carga, conforme figura acima.
- para o mesmo IL2 , o efeito da diminuição dos valores do fp é uma pequena
diminuição do η, conforme mostra as curvas da figura. Observe que, a cada acréscimo
de carga, o η é maior para os maiores fp.
- a carga para qual ocorre o ηmáx, entretanto, para cada curva apresentada na
figura, permanece a mesma, porque as perdas no núcleo e as perdas variáveis no cobre
(Req2I22) são independentes do fp.
g1)- EpC = PCT = (1800 × 24)/1000 = 43.2 kWh, energia total perdida no núcleo
incluindo as 2 horas em vazio.
g2)- A PCO à carga nominal é 8.2 kW. A tabela I a seguir, apresenta o total dessa
energia perdida para períodos de 24 horas.
Carga Nominal % Perdas de Período de Perda de
Potência Tempo (h) Energia
(kW) (kWh)
2
20 (0.2) × 8.2 4 1.312
2
40 (0.4) × 8.2 4 5.248
80 (0.8)2 × 8.2 6 31.488
100 8.2 6 49.20
2
125 (1.25) × 8.2 2 25.625
Perda Total de Energia durante o período de 24 horas (excluindo 2 horas a vazio) =
112.873 kW
Tabela I - Perda de energia no cobre.

g3) A energia fornecida durante um período = 24 horas (está apresentada na


Tabela II):
Carga Nominal % cos θ2 kVA×cos θ2
Período Energia [kW]
de Tempo entregue
(h) (kWh)
20 0.7 0.2 × 0.7 × 500 70 4 280
40 0.8 0.4 × 0.8 × 500 160 4 640
80 0.9 0.8 × 0.9 × 500 360 6 2160
100 1.0 1.0 × 500 500 6 3000
125 0.85 1.25 × 0.85 × 500 531.25 2 1062.5
Energia Total requerida pela carga em 24 horas (excluindo 2 horas a vazio) = 7142.5 kW
Tabela II

g4)
Energia entregue 7142.5
ηC % = 100 = 100 = 97.86 %
Energia entregue + Energia perdas 7142.5 + 43.2 + 112.873

outra forma :
ηc % = 100 −
0.36 × 24 + 1.64(0.2 2 × 4 + 0.4 2 × 4 + 0.8 2 × 6 + 1 × 6 + 1.25 2 × 2)100
100 (0.2 × 0.7 × 4 + 0.4 × 0.8 × 4 + 0.8 × 0.9 × 6 + 1 × 6 + 1.25 × 0.85 × 2) + 0.36 × 24 + 64 (0.2 2 × 4 + 0.4 2 × 4 + 0.8 2 × 6 + 1.25 2 × 2)

8.64 + 1.64 × 13.765 31.2146 × 100


η C % = 100 − 100 = 100 − = 100 − 2.1384 = 97.86 %
100 (14.285) + 8.64 + 1.64 × 13.765 1459.7146
Conversão de Energia 134

Nota-se que, apesar das condições de fp e de variação da carga, o η energético


total de um trafo de distribuição, durante um período de 24 horas, é relativamente alto.
Isto já poderia ter sido observado na figura I, que mostra um η relativamente alto para
uma ampla variação da carga a fp’s relativamente elevados. Somente a falta completa de
carga ou a operação a fp’s extremamente baixos resultaria num baixo ηc para trafos
reais de distribuição.

1.8. O Transformador Trifásico


1.8.1. Considerações Preliminares
As redes monofásica são limitadas aos sistemas de tração elétrica e ramais
secundários derivados de trifásicos, assim, é interessante um estudo sobre as
transformações trifásicas. A transformação trifásica é obtida pelo princípio da
transferência de energia de um sistema elétrico a outro, alterando-se ou não os níveis de
tensões e correntes, mantendo-se a freqüência constante. Consta de um primário e um
secundário (podem possuir terciários, etc) em conexão trifásica equilibrada, podendo
ocorrer de duas formas:
a) Três transformadores monofásicos independentes unidos entre si em ligação
trifásica;
b) Um único transformador trifásico que englobe os três monofásicos.
Apesar de toda a teoria desenvolvida até o presente momento aplicar-se
integralmente aos transformadores trifásicos (estudando-se como vários sistemas
monofásicos), deve-se atentar que no sistema trifásico, como conjunto, surgem novos
problemas como: harmônicas de tensões, polaridade, defasagens angulares, etc, que
serão estudados com detalhes.
1.8.1.1. Transformação Trifásica com Banco de Transformadores Monofásicos
A forma mais intuitiva de conseguir-se uma transformação trifásica é a
utilização de três transformadores monofásicos com seus enrolamentos acoplados em
conexão trifásica. Desta forma, as possibilidades são as conexões Y ou Δ, ou seja:

. . . . . .

(Y) (Δ)
Salienta-se que existe a possibilidade de outras ligações nos bancos de
transformadores monofásicos, como a Scott, T-T e V-V. Assim, nas conexões em Δ e Y
pode-se ter as seguintes possibilidades de trifásicos:
Primário Δ Δ Y Y
Secundário Δ Y Δ Y
Erro! A entrada de AutoTexto não foi definida.

SUMÁRIO DO MÉTODO DE TRANSFORMAÇÃO FASORIAL

A transformada fasorial foi introduzida para servir de ferramenta para a determinação da resposta

em circuitos com geradores senoidais. Observa-se que a transformada fasorial não se limita à Teoria de

Circuitos, mas pode ser usada na determinação da solução particular de qualquer equação diferencial

linear a coeficientes constantes com uma excitação senoidal. Transformadas fasoriais são ferramentas

poderosas em teoria de circuitos senoidais em regime permanente porque permitem a representação no

domínio da freqüência de circuitos com impedâncias e admitâncias, resultando em técnicas de solução

que são idênticas àquelas usadas em circuitos resistivos. Conseqüentemente, a matemática oferece uma

visão qualitativa, ausente em outros métodos.

Um resumo dos procedimentos empregados na transformação fasorial está na Figura A-1. Depois

de ter usado transformadas fasoriais por algum tempo, é comum trabalhar principalmente no domínio da

freqüência sem partir da representação explícita do circuito no domínio do tempo, e será raro se efetuar

uma transformada fasorial inversa. A razão está no fato de se passar a pensar em fasores em termos do

que eles representam no domínio do tempo, sem no entanto escrever esta representação. Por exemplo, é

automático encarar o módulo de um fasor como sendo a amplitude da senóide correspondente no domínio

do tempo dividida por 2 . O resumo destas correspondências úteis está na Figura A-2.

Anexo A-1
Erro! A entrada de AutoTexto não foi definida.

Anexo A-2
Erro! A entrada de AutoTexto não foi definida.

Anexo A-3
Erro! A entrada de AutoTexto não foi definida.

Anexo A-4
Erro! A entrada de AutoTexto não foi definida.

POTÊNCIA NUM CIRCUITO RL COM EXCITAÇÃO SENOIDAL

Veremos aqui algumas características fundamentais da potência em CA.

Consideremos o caso de um circuito RL em que a tensão e a corrente sejam senoidais.

v(t) = Vmáx sen(ωt + φ) (A.1)

i(t) = Imáx sen ωt

A potência transmitida será dada pela seguinte expressão:

p(t) v(t) i(t) = Vmáx Imáx sen ωt sen(ωt + φ)

ou

[ cosφ − cos(2ωt +φ)]


Vmax I max
p( t ) = (A.2)
2

Considerando os valores eficazes de tensão e corrente, dados por:

1
VΔ V (A.3)
2 max

1
IΔ I
2 max

pode-se escrever

p( t ) = V I [cosφ − cos(2ωt + φ)] (A.4)

A potência transmitida pulsa (Fig. A-3) em torno da potência média ( V I cos φ) com freqüência

angular dupla 2ω. Durante certos períodos a potência torna-se negativa, indicando que, durante esses

intervalos, a energia flui no sentido negativo.

A equação (A.4) pode ser transformada em

p( t ) = V I cos φ (1 − cos 2ωt ) + V I sen φ sen 2ωt


(A.5)
I II

Anexo A-5
Erro! A entrada de AutoTexto não foi definida.
Na realidade a potência foi decomposta em duas componentes (designadas por I e II na Fig. A-3):

a primeira pulsa em torno do mesmo valor médio, porém nunca fica negativa. E a segunda tem valor

médio nulo. Introduzimos então as seguintes grandezas:

P Δ V I cosφ potência ativa ou real (A.6)

Q Δ V I sen φ potência reativa

e então podemos escrever a Eq. A.5 de maneira mais compacta.

p( t ) = P( 1 − cos 2 ωt ) + Q sen 2 ωt (A.7)

Esses conceitos são de importância fundamental, sendo apropriado dizer algumas palavras sobre

seu significado:

1- A potência ativa P é definida como o valor médio de p(t) e, portanto, significa fisicamente a potência

útil que está sendo transmitida. Seu valor depende muito do fator de potência.

2- A potência reativa Q é, por definição, igual ao valor máximo (de pico) daquela componente da

potência que caminha para trás e para frente na linha, resultando em média zero, e, portanto, incapaz

de realizar um trabalho útil.

P e Q têm a dimensão watt (W) porém, para enfatizar o fato de que a última representa uma potência

“não-ativa” ou “reativa”, ela é medida em voltampères reativos (VAr). O quilovar (kVAr) e o megavar

(MVAr) são unidade maiores e mais práticas, sendo relacionadas com a unidade básica por

1 MVAr = 103 kVAr = 106 VAr

A tabela A-1 indica resumidamente, as representações nos domínios do tempo e da freqüência, de

alguns tipos de carga mais comumente encontrados. Note, em particular, que uma carga indutiva absorve

Q positivo. Dizemos, neste caso, que um indutor consome potência reativa. Por outro lado, uma carga

capacitiva absorve Q negativo; dizemos que o capacitor gera potência reativa.

Anexo A-6
Erro! A entrada de AutoTexto não foi definida.

Tabela A.1- Representação nos domínios do tempo e da freqüência.

Anexo A-7

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