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Por um espaço institucional para a participação das trabalhadoras e trabalhadores do conhecimento na

PCTI
Setorial de C&T e TI do PT
Parece existir no âmbito do Grupo Temático da CTI da transição, e também em outros como o das
trabalhadoras e trabalhadores do MCTI, uma disposição para retomar atividades que, quando de sua criação
no início do primeiro governo Lula, foram atribuídas à Secretaria de Ciência e Tecnologia para a Inclusão
Social (SECIS).
Usando os termos fundacionais através dos quais denominamos essas atividades – (1) as relacionadas às
agendas de ensino, pesquisa e extensão visando à geração de C&T para o desenvolvimento social, e (2) as
ações de popularização da ciência – fizemos uma breve avaliação do que foi feito até o golpe de 2016 com a
relativamente escassa dotação de recursos materiais e humanos que recebeu a SECIS.
São bem conhecidos os problemas que ocorreram em relação às atividades do tipo 1.
Aquelas que visavam ao estabelecimento de arranjos de utilização dos resultados dessas agendas junto ao
movimento social, que predominaram no primeiro período de sua operação, se notabilizaram pela utilização
inapropriada do pouco recurso de que dispunha a Secretaria para sua operação. Prejudicou seu funcionamento
uma coalizão pouco usual entre as corporações que costumam existir no âmbito da PCTI e movimentos
sociais.
Aquelas outras, também pertencentes a este tipo 1, que visavam à instalação de infra estruturas passíveis de
serem utilizados pelos mais pobres como os centros vocacionais e os telecentros, que predominaram no
segundo período, foram alvo de práticas igualmente questionáveis. Neste caso, instaurou-se um mecanismo de
alavancagem de emendas de parlamentares para o favorecimento de “suas” comunidades.
Generalizando, pode-se dizer que parece ter vigorado em relação às atividades do tipo 1 uma prática de tipo
clientelista. Algo associado àquilo que Bresser Pereira há muito tempo identificou como sendo um pacto
tácito entre a tecnocracia e a classe política que colocava as “políticas sérias” - aquelas que promoviam o
nacional desenvolvimentismo - a salvo do clientelismo e do oportunismo, mas que facultava a esta última
operar sobre as “políticas sociais”.
Uma avaliação das atividades de tipo 1 segundo critérios usuais de eficiência, eficácia e efetividade, tenderia a
apresentar um resultado negativo.
Em relação às atividades do tipo 2, aquelas relacionadas às ações de popularização da ciência, o resultado foi
bem distinto. Sua menor complexidade de implementação e a experiência acumulada com atividades deste
tipo, que por razões sabidas muito interessam à nossa elite científica e cuja necessidade é mundialmente
consensual, permitiu que elas fossem melhor planejadas e implementadas. Neste caso, mesmo que se
houvessem formado coalizões similares às anteriores, a consolidação e capilarização da comunidade de seus
pesquisadores e a importância dessas atividades para reforçar junto à população os valores e interesses da elite
científica que hegemoniza a PCTI, é provável que elas tivessem sua ação obstaculizada.
Uma avaliação das atividades de tipo 2, segundo os critérios e indicadores convencionais usados na área de
divulgação e popularização da ciência, tenderia a apresentar resultados positivos (os quais talvez não o fossem
tanto caso os critérios estivessem influenciados pelo objetivo da vertente da participação pública da ciência
que é hoje, principalmente nos países centrais, a mais influente).
O exposto indica que se essa trajetória for avaliada a partir de um critério baseado nos resultados, as
atividades do tipo 2 tenderiam a ser privilegiados.
A reunião organizada em 24/11 pelo companheiro Ildeu Moreira, que foi o coordenador dessas atividades e
que é o membro do GT da transição encarregado de pensar as questões relativas à C&T para o
desenvolvimento social, pareceu estar orientada segundo um critério dessa natureza. As características das
pessoas convidadas (quase todas dedicadas à popularização da ciência), dos assuntos tratados e dos
encaminhamentos acordados parecem alinhar-se àquela tendência.
Não obstante, pela sua importância para a consecução das metas econômicas, sociais, ambientais e políticas
(inclusive de governabilidade) do futuro governo, e pela velocidade e crescente consistência programática
como vem acontecendo, três movimentos relacionados às atividades do tipo 1, deverão estar representados na
estrutura institucional do MCTI.
No âmbito da demanda de conhecimento tecnocientífico para atender as necessidades por bens e serviços para
promover o desenvolvimento social, destacam-se os movimentos que estão tendo lugar nas áreas de: (1)
Economia Solidária e sua proposta de reindustrialização solidária; (2) Inclusão social e dimensões regional e
ambiental.
No âmbito da oferta de conhecimento para atender aquela demanda tecnocientífica sobressai o que vem
ocorrendo na área de: (3) Tecnologia Social e Tecnociência Solidária, com a geração de conhecimento
interdisciplinar - ciências exatas e humanas – em universidades, na Rede de IFs, instituições de pesquisa, etc.
Nossa constatação de que é ainda relativamente pequena a atenção dedicada pelo GT aos dois assuntos aqui
tratados nos leva a sugerir providências para que a proposta de Reconstrução e Transformação não seja
colocada em risco por um déficit de conhecimento tecnocientífico para o desenvolvimento social.
Entendemos que nosso potencial tecnocientífico, instalado como nos países centrais para satisfazer a uma
hipotética demanda das empresas “brasileiras”, é cronicamente por elas subutilizado. E que por isso é
imperativo e urgente mobilizá-lo, mediante a ação de uma PCTI orientada por outros valores e interesses, para
satisfazer a demanda tecnocientífica embutida nas necessidades por bens e serviços coletivos
Em consequência, ressaltamos a necessidade de que seja aumentada na elaboração (formulação,
implementação e avaliação) da PCTI a influência das trabalhadoras e trabalhadores do conhecimento das
nossas instituições de ensino e pesquisa e dos órgãos gestores que viabilizam essas atividades.
Sua histórica capacidade de mobilizar o cronicamente subutilizado potencial tecnocientífico público para,
através do Estado, lograr os raros êxitos que conhecemos, atesta sua competência cognitiva. Seu majoritário
apoio ao futuro governo e sua inserção junto aos movimentos populares, privilegiando demandas cognitivas
cuja satisfação é condição de justiça e governabilidade, são garantia de sua eficácia. Sua organizada,
sistemática e cada vez mais qualificada participação no processo decisório da PCTI e na definição das nossas
agendas de ensino, pesquisa e extensão, embora ainda incipiente, é um aval da efetividade do que
reivindicamos.
A criação de um espaço institucional para a permanente e sistemática consulta e participação das
trabalhadoras e trabalhadores do conhecimento na elaboração da PCTI é imprescindível para encarar os
desafios tecnocientíficos que o nosso momento histórico exige. Mais além daquelas missões que há vinte anos
foram atribuídas à SECIS, e para que elas possam ser de fato cumpridas evitando os problemas aqui arrolado,
nossa PCTI está a demandar a incorporação de novos valores e interesses na sua elaboração. Sem isso, será
muito difícil a construção do futuro que queremos.

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