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Gestão de

distribuição logística
Material Teórico
Gestão de estoques

Responsável pelo Conteúdo:


Profa Ms Giovana Gavioli

Revisão Textual:
Profa Ms. Fatima Furlan
Gestão de estoques

• Estoques: definição e estratégias

• Tipos e classificações de estoque

• Custo de estoque

• Estratégias de estoque

• Gerenciamento de estoque

• Responsividade e eficiência na gestão


de estoques

• Estoque e armazenagem

• Classificação ABC

• Resumindo

Nesta unidade veremos diversos aspectos da Gestão de Estoque.


Iniciaremos com seu conceito e tipologias e passaremos para
uma análise dos principais custos e estratégias na gestão
de estoques. Veremos também os principais indicadores de
desempenho utilizados para orientar as decisões de estoque,
que se relacionam com os conceitos de trade-off, nível de
serviço, responsividade e eficiência nas operações.

Vamos iniciar esta unidade assistindo ao vídeo disponível no cenário da prática que dá uma visão
geral sobre a Gestão de Estoques. Logo em seguida, leia o conteúdo teórico, que auxiliará no
acompanhamento da vídeoaula, que deve ser assistida na sequência.
Programe-se para realizar as atividades de sistematização dentro do prazo e participe da discussão
no fórum cujo tema é responsividade e eficiência.
Se tiver alguma dúvida, além de entrar em contato com o seu tutor, você pode reler o material teórico
e assistir à aula narrada para lembrar-se dos principais conceitos vistos na unidade.

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Unidade: Gestão de estoques

Contextualização

Nesta unidade vamos explorar diversos aspectos da Gestão de Estoques.


Para se familiarizar sobre o assunto, assista ao vídeo:

http://www.youtube.com/watch?v=rmQnVTLwc3E

Nele, você conhecerá os principais temas da gestão de estoques, seus impactos nos custos
da empresa, o papel dos estoques, lotes, frequência de pedidos e outras abordagens que serão
mais aprofundadas no conteúdo teórico.

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Introdução

O dia a dia de qualquer empresa sofre influência de diversos fatores, também chamados de
variáveis. Falhas de fornecedores, mudanças na economia, ações da concorrência e alterações
nos volumes de compra de seus consumidores caracterizam diversas incertezas com as quais a
empresa deve lidar em sua operação. Organizações que têm como objetivo principal garantir
um ótimo nível de serviço aos seus clientes e garantir a sua disponibilidade de produto e serviço
optam por manter materiais, sejam eles matérias-primas ou produtos acabados, em estoque.
Veremos nesta unidade quais as principais estratégias de estoque utilizadas pelas empresas
assim como seu gerenciamento e controle, por meio de indicadores de desempenho que auxiliam
na tomada de decisão e na redução dos custos.

Estoques: definição e estratégias

Sabemos que:

Diálogo com o Autor

“A demanda é a possível aquisição do produto por parte do consumidor, em determinado período e


a determinado preço”. (TAYLOR, 2005, p.25)

Podemos identificar que a definição de demanda traz a palavra “possível” com relação à
aquisição, seja de produto ou de serviço, por parte do consumidor. Essa incerteza com relação
à efetiva aquisição do consumidor é o que gera a necessidade de manter materiais guardados,
ou seja, em estoque. Portanto:

Diálogo com o Autor

Slack (2002, p.20) define: “Estoque é a acumulação armazenada de recursos materiais em um


sistema de transformação”

Manter materiais em estoque significa estar pronto para as incertezas da demanda que,
quando efetivada, poderá ser atendida de acordo com as necessidades do cliente, ou seja:
··Na quantidade correta;
··Na hora certa;

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Unidade: Gestão de estoques

··No prazo desejado;


··Com a qualidade especificada e;
··Ao preço que o consumidor esteja disposto a pagar.

Os estoques também auxiliam a empresa na prevenção contra incertezas, não somente da


demanda, mas também por parte do fornecimento. Crises de abastecimento, falência de um
fornecedor e até mesmo catástrofes naturais podem prejudicar a obtenção de produtos no
mercado. Ao manter estoques, a empresa se protege contra essas flutuações e pode conseguir
manter um nível de serviço de excelência para seus consumidores, obtendo, assim, vantagem
competitiva.
Mesmo com um método preciso de previsão de demanda ou contratos de volumes fixos com
seus fornecedores, entre outras práticas, que poderiam reduzir a incerteza, muitas empresas
preferem ter estoques, para evitar impactos de variáveis como alterações na economia, problemas
produtivos, ações dos concorrentes, entre outros. Neste caso, a empresa deve analisar e pesar
as vantagens e desvantagens em se possuir um estoque. Veja os fatores a serem considerados
na Tabela 1:

Tabela 1: Vantagens e desvantagens do estoque

Vantagens Desvantagens

·· Oferecimento de melhor nível de serviço ·· Custo em material que não proverá


ao cliente, atendendo às suas necessidades rendimento (dinheiro fica parado
prontamente; aguardando a sua venda efetiva);
·· Maior flexibilidade para mudanças ou ·· Estoques podem encobrir problemas mais
alterações de itens no pedido, mantendo as graves como problemas na área produtiva
mesmas datas de entrega; ou de qualidade;
·· Redução de custos de transporte e distribuição ·· Ocupação de grandes espaços e gastos;
tanto interna quanto externa;
·· Riscos de obsolescência e deterioração dos
·· Redução de compras emergenciais, materiais, tanto em termos físicos (produtos
usualmente mais caras. perecíveis) como em tecnologia.

Fonte: Adaptado de Ching (2010)

Cabe à empresa estudar cuidadosamente as vantagens e desvantagens e optar por manter


materiais em estoque ou não mantê-los. Esta decisão pode ser chamada de trade-off e definida
pela figura 1.

Você Sabia ?
O trade-off ou troca compensatória significa um balanço de fatores não acessíveis ao mesmo tempo,
se caracterizando uma ação compensatória, na qual qualquer sentido provoca melhoria de uma
variável em detrimento de outra. Veja mais em: http://wmsalogistica.wordpress.com/2012/09/19/
trade-off-logistico/

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Figura 1: Troca compensatória nas decisões de estoque.

Fonte: Elaborada pela autora.

Podemos avaliar na figura 1 o trade-off em estoques analisando as duas metas de uma


empresa. Por um lado, ela deve aumentar o seu capital de giro, o que pode ser alcançado
com a redução de custos, e por outro, a empresa deve proporcionar um ótimo nível de serviço
aos seus clientes, por meio do atendimento no prazo certo, quantidades corretas etc. como já
comentamos no início.
O levantamento dessas informações e a opção pela manutenção de produtos em estoque
podem abranger diversos tipos de materiais.

Tipos e classificações de estoque

A empresa pode optar por manter diferentes tipos de materiais em estoque, dependendo de
sua avaliação de trade-off e das características de fornecimento e demanda e suas incertezas:
··Estoque de matérias-primas: empresas que tem uma grande incerteza no fornecimento
podem optar por manter estoques de matérias-primas a serem utilizadas na sua produção.
Outra estratégia para este tipo de estoque também é a diminuição do custo, uma vez
que estoques de matérias-primas, em geral, são mais baratos que estoques de produtos
já industrializados. Esse tipo de estoque também serve para serviços. Um restaurante,
por exemplo, mantém um estoque de matérias-primas que servirão para a preparação
de seus pratos.
··Produto em processo: também conhecidos como estoques WIP (Work in Progress), os
materiais desse tipo já passaram por parte do processo produtivo e aguardam entre seus
estágios até que possam ser considerados produtos acabados. O mesmo vale para os
restaurantes que, além das matérias-primas, mantém alguns tipos de molhos prontos ou
carnes pré-assadas que serão somente misturados no prato final, depois de efetuado o
pedido do cliente;

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Unidade: Gestão de estoques

Explore

Você sabia que a postergação, também conhecida como postponement, se relaciona com a
industrialização exclusivamente de produtos em processo. Ela consiste, por exemplo, em realizar a
montagem final de produtos cujas peças já estejam produzidas; costurar etiquetas de produtos têxteis
que serão encaminhados para diferentes lojas; adicionar manuais de instrução em diferentes línguas,
dependendo de qual país tenha sido comprado. Saiba mais em: https://www.metodista.br/revistas/
revistas-unimep/index.php/cienciatecnologia/article/viewFile/992/677

··Produtos acabados: estoque de materiais prontos, industrializados, ou seja, que já


passaram por todo o processo produtivo e ficam estocados até que a compra seja
efetivada pelo consumidor final. Roupas, eletroeletrônicos, calçados, joias, são exemplos
de produtos acabados. De forma geral, o custo de estoque de produto acabado é maior
que o de matéria-prima ou produto em processo, pois ao custo do produto, adicionam-
se os gastos produtivos como salário dos trabalhadores, gastos com máquinas, custos
com finalização e acabamento do material, entre outros.
·· Peças de manutenção: também considerado como um tipo de estoque, o estoque de
manutenção possui itens que não fazem parte do produto acabado, mas que contribuem
para seu processo produtivo, como lubrificantes, peças para manutenção de máquinas,
produtos para limpeza etc.
··Estoque em trânsito: produtos (matéria-prima ou produto acabado) que ainda estejam
em deslocamento para a empresa ou dela para seus clientes são considerados como
estoques em trânsito e devem também ter seus custos computados pela gestão de
estoques.
··Estoque em consignação: o estoque em consignação pode ser qualquer um dos tipos
anteriores (matéria-prima, produto em processo ou produto acabado). Sua principal
característica é que ele está localizado nas dependências de outra empresa, mas sua
posse ainda é da empresa fabricante. Como exemplo, um atacadista pode manter
estoque da empresa fabricante em consignação que, caso não seja comercializado, pode
ser devolvido à empresa fabricante, após o período combinado entre as empresas.

Independente de seu tipo, ao optar por manter estoques, a empresa aumenta seus custos,
contudo proporciona melhores resultados de atendimento aos clientes, ou seja, no nível de
serviço. É uma decisão estratégica a ser realizada pela empresa, principalmente quanto à
avaliação do que efetivamente compõem os custos, como veremos a seguir.

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Custos de estoque

Entendemos que a análise de custos é muito importante para a empresa que deseja optar
pelo estoque. Vamos entender que custos são estes, conforme tabela 2:

Tabela 2: Custos de Estoques

Custos Descrição
Custos de materiais Valor dos materiais estocados na empresa, em consignação ou em trânsito.
Custo mensal de toda a mão-de-obra envolvida na atividade de estoques
Custos de pessoal
(manutenção, controle e gerenciamento) inclusive encargos trabalhistas.
Custos de equipamentos São as despesas mensais para manter estoques, incluindo a depreciação
e manutenção dos equipamentos, máquinas e instalações e despesas a eles associados.
Custos de Edificação Refere-se ao custo anual do m2 de armazenamento.
Contabilização do valor investido em estoques que poderia render se
Custo de Oportunidade
alocado no mercado em ações ou em investimentos.
São custos fixos e variáveis referentes ao processo de emissão de um
pedido. Os fixos são os salários do pessoal envolvido na emissão dos
pedidos e as variáveis estão nas fichas de pedidos e nos processos para
Custos de Pedido
envio de solicitações aos fornecedores. O custo de pedido está diretamente
relacionado com o volume das requisições ou pedidos que ocorrem no
período.
No caso da falta do produto, falha no atendimento do prazo de entrega
ou do pedido pode ocorrer multas ou até o cancelamento do pedido,
Custos de Falta reduzindo o volume de vendas e prejudicando a imagem da empresa. Este
problema acarretará um custo elevado e de difícil medição relacionado com
a recuperação da imagem e confiabilidade da empresa.
Fonte: Elaborada pela autora

Os custos de materiais, pessoal, equipamentos, manutenção e de edificação são considerados


como custos para a realização dos processos de Armazenagem e Movimentação de Materiais.
Para que esses processos sejam realizados eles demandam enormes espaços físicos, controles
com sistemas de armazenagem e equipamentos de movimentação. Também devem ser
adicionados custos relativos aos impostos e seguros contra incêndio e roubo. Diversos autores
de armazenagem na logística estimam que esses gastos representem aproximadamente 25% do
valor médio dos produtos em estoque.

Estratégias de estoque

Caso a empresa, mesmo após a avaliação dos custos, opte por manter produtos em estoque,
ela poderá adotar algumas estratégias:
··Estoque Pulmão: esse tipo de estratégia transforma o estoque em regulador do fluxo

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Unidade: Gestão de estoques

logístico. Neste caso, ele funciona como um amortecedor das incertezas, reduzindo a
influência das variáveis da oferta e da demanda.
··Estoque Especulativo: o estoque especulativo é utilizado por empresas que operam como
agentes financeiros, adquirindo produtos quando os preços estão em baixa, para vendê-
los quando os preços estiverem em alta. Para esse tipo de estoque é necessário que a
empresa conheça muito bem o seu mercado de atuação e tenha uma visão antecipada
dos acontecimentos.
··Estoque Estratégico: é realizado quando existe algum risco de caráter extraordinário, o
estoque pode assumir a função de uma resposta contingencial, reduzindo o impacto da
falta de oferta. Por exemplo, em caso de cheias ou geadas, que impactam na produção
agrícola, a empresa pode realizar um estoque estratégico para evitar seu desabastecimento.

A sazonalidade de determinados produtos também impacta na estratégia de estoques


da empresa. Produtores de biquínis, por exemplo, podem iniciar sua fabricação na
época de inverno para que suas peças fiquem prontas para a época de verão. Saiba
mais sobre sazonalidade e seus impactos da oferta e na demanda em: http://www.
youtube.com/watch?v=y83HVE9eqF0

Gerenciamento de estoque

Manter materiais em estoque exige que a empresa tenha um bom sistema de gerenciamento,
controlando suas operações com diversos indicadores.

Você Sabia ?
O indicador é uma medida, geralmente quantitativa, aplicada como forma de se obter um
significado dos elementos observados e captar informações que podem ser úteis para as decisões
da empresa.

A gestão de estoques conta com indicadores específicos da área, aplicados em forma de


fórmulas e gráficos. Os principais indicadores e suas fórmulas são:
- Emax = ES + Q onde Emax = estoque máximo; ES = estoque de segurança, Q = lote
de compra.

- EM = ES + Q/2 onde EM = estoque médio; Q = lote de compra.


O estoque médio também pode ser calculado pela fórmula: (EI+EF)/2 onde EI = estoque
inicial; EF = estoque final.

- PP = (TA x D) + ES onde PP = ponto de pedido; TA = tempo de atendimento (lead


time); D = demanda.

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- N = D / Q onde N = número de pedidos; D = demanda; Q = lote de compra.
- IP = 1/N onde IP = intervalo entre pedidos; N = número de pedidos. A fórmula do
intervalo entre pedidos resulta em anos, semestres, meses ou dias.

Pense

Vamos aplicar os indicadores de estoque? Leia o problema abaixo e acompanhe a resolução:


O material A115 é comprado pela Indústria de Materiais SP. Sua demanda é de 500 unidades por
mês e a empresa determinou que se mantivesse 80 unidades como estoque de segurança. O lote
de compra do fornecedor é de 2.000 unidades e o tempo de entrega é de cinco dias úteis. Pede-se
determinar os indicadores de estoque correspondentes, para um mês com 20 dias úteis.
A partir do problema proposto, temos que calcular: Emax, EM, PP, N e IP.
Para calcular o Emax, temos:
Emax = ES + Q

Sabemos que o estoque de segurança é de 80 unidades e que o lote de compra é de 2000 unidades,
portanto:
Emax = 80 + 2000 = 2.080 unidades

Para o EM, temos:


EM = ES + Q/2
EM = 80 + 2000/2

Primeiro dividimos o lote de compra por um e depois somamos ao estoque de segurança, portanto:
EM = 80 + 1000 = 1.080 unidades

Para calcular o Ponto de Pedido (PP), temos a fórmula:


PP = (TA x D) + ES

É importante destacar que, para a correta resolução das fórmulas, todas as informações devem estar
na mesma medida, portanto, para a fórmula de Ponto de Pedido, temos que transformar a demanda
dada no problema (500 unidades/mês) em dias, já que o tempo de atendimento é dado em dias
(cinco dias). O inverso também poderia ser feito, ou seja, transformar o tempo de atendimento
proporcionalmente dentro do mês. Para a resolução, a primeira proposta foi realizada e a fórmula
ficou preenchida conforme abaixo:
PP = (5 x 25) + 80.

Perceba que a demanda está 25, ou seja, 500 dividido por 20 (dias úteis indicados no problema).
PP = 205 unidades, ou seja, quando o meu estoque estiver em 25 unidades, devo emitir um novo
pedido ao meu fornecedor.

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Unidade: Gestão de estoques

Agora vamos calcular N e IP:


N=D/Q

N = 500/2000
N = 0,25
IP = 1/N

IP = 1/0,25
IP = 4

Interpretando os resultados, entendemos que, como a demanda é de 500 unidades/mês e o lote de


compra é de 2000 unidades, a cada novo lote de compra, a empresa tem estoque para quatro meses
de consumo. Portanto, o meu intervalo entre pedidos, será de quatro meses.

Todos os indicadores de estoque podem ser representados por um gráfico, conhecido como
gráfico dente de serra, veja a figura 2:

Figura 2: Gráfico dente de serra.

Fonte: Adaptado de Ching (2010).

O gráfico nos mostra a ação de todos os indicadores no controle de estoque, representando


o estoque máximo (Emax), os lotes de compra no primeiro, segundo e terceiro mês (Q1, Q2
e Q3), a demanda (D1, D2 e D3) e sua ação no lote de compra, reduzindo gradativamente.
Também podemos ver o estoque médio (Em), o ponto de pedido (PP) e o estoque de segurança
(ES). Abaixo podemos identificar os indicadores de tempo com o tempo de atendimento (TA),
que representa o lead time do fornecedor e o intervalo entre pedidos (IP).

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No exemplo dado, vimos que o estoque de segurança e o lote de compra já estavam
estabelecidos, mas como a empresa chega nesses valores? Vamos entender:

O estoque de segurança consiste em uma quantidade adicional de produtos


adicionada ao estoque, visando minimizar as diferenças de entrega que possam
ocorrer. Para estabelecer o volume de produtos no estoque de segurança, a
empresa deve fazer uma análise cuidadosa da demanda da empresa assim como da
frequência de entrega de seus fornecedores.
Logicamente, o estoque de segurança também representa custos para a empresa,
portanto ela deve manter apenas o suficiente para garantir o nível de serviço
desejado e não aumentar demasiadamente seus custos. Vamos calcular o estoque
de segurança de uma empresa que tem os seguintes registros de demanda:
- 1º mês: 3.000 cadeiras
- 2º mês: 3.200 cadeiras
- 3º mês: 3.100 cadeiras

Caso a empresa opte por manter sempre a demanda do primeiro mês em estoque
(3.000 cadeiras), ela corre o risco de não conseguir atender as demandas do 2º e
do 3º mês. Portanto, ela deve manter estoques de segurança a fim de garantir a sua
disponibilidade de produtos. A empresa, então, pode realizar uma média entre os
meses de demanda:
- 3.000 + 3.200 + 3.100 = 9.300, dividido por 3 meses = 3.100

Deverão ser mantidas as 3.000 peças em estoque, mais um estoque de segurança


de 100 peças, todo mês. Percebemos que, com este valor, seria possível atender às
vendas dos três meses indicados.
Muitas empresas também optam pela adoção de um percentual único, por exemplo,
5% da demanda, como estoque de segurança. Deve-se ter uma visão bem clara do
comportamento das vendas para que a empresa não tenha custos desnecessários.
Além do estoque de segurança, a empresa também pode determinar o Lote
Econômico de Compra, ou LEC.
Ela indica o tamanho do lote a ser comprado do fornecedor, considerando o trade-
off entre os custos de manter os produtos em estoque e os custos de processamento
de pedido, transporte e outros que vimos anteriormente.
Segundo Vieira (2009, p.191), o tamanho do lote econômico de compra deve ser o
objetivo principal a ser buscado para a formação dos estoques.
A fórmula do LEC é dada por:

LEC = 2. CA. DA
CMA.VUP

Onde:
LEC = tamanho do lote econômico de compras em unidades;
CA = custo de aquisição (processamento do pedido);

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Unidade: Gestão de estoques

DA = demanda anual em unidades;


VUP = valor unitário do produto (do item);
CMA = custo de manutenção anual do item em percentual (%).

Vamos aplicar a fórmula do LEC, pensando no produto cadeira e a tinta utilizada


em sua produção, veja os parâmetros:
- Preço de venda por cadeira = R$120,00
- Lucro = 20%
- Tinta utilizada = 200 ml por cadeira ao custo de R$35,00l
- Demanda anual = 36.500 unidades

Vamos calcular:
- CA = 200 ml (0,2 litros) à R$ 35,00 o litro = 35 * 0,2 = R$ 7,00 de tinta por
cadeira.
- DA = 200 ml (0,2 litros) para uma demanda de 36.500 cadeiras = 36.500*0,20 =
7.300 litros de tinta por ano.
- VUP = R$ 120,00 * 20% lucro = R$ 24,00 de lucro = 120-24 = R$ 96,00 de
valor unitário do produto (sem os lucros).
- CMA = R$ 7,00 (CA) / R$ 96,00 (VUP) = 0,072917 ou 7,2917% de custo de
manutenção.

Jogando os valores na fórmula, temos:


LEC = √ 2 *7*7300
0,072917*120
LEC = 108,0738 litros de tinta

Se soubermos que a produção diária de cadeiras é de 100 unidades/dia. Temos:


- 0,2 (litros por cadeira)* 100 = 20 litros por dia
- 108,0738 / 20 = 5,4036905 dias, ou seja, o meu lote econômico de compra dura
para uma produção de, no mínimo, 5 dias.

A partir do cálculo do estoque de segurança e do lote econômico, as demais


definições e quantidades a serem mantidas em estoque podem ser mais bem
estabelecidas pela empresa.

O LEC também auxilia a empresa a negociar contratos com seus fornecedores,


por exemplo, pelo cálculo da DA, sabemos que teremos que comprar de nosso
fornecedor de tintas, 7.300 litros por ano. Com esta informação, poderemos fazer
um contrato anual de compra, que poderá trazer benefícios e descontos na aquisição
de produtos, ao melhor custo de estoque e disponibilidade de material.

Outro indicador também muito utilizado para o gerenciamento de estoques é o giro de


estoques, que identifica a quantidade de vezes, em determinado período, que o estoque da
empresa é vendido. Seu resultado é dado em giros e ele tem a seguinte fórmula:

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Giro de estoques = Quantidade ou valor consumido no período
Quantidade ou valor de estoque médio no período

Vejamos um exemplo: Se o estoque médio de uma produtora de farelo de trigo é de 400


sacas e esta empresa vende 3.600 sacas ao ano, qual o seu giro?
Giro de estoque = 3.600 / 400 = 9 giros ao ano
Veja na tabela 3 o cálculo de giro de estoque, em valores:

Tabela 3: Giro de estoque.

Mês EI Entradas Saídas EF EM Giro


Abril 73.804,40 303.457,00 295.902,50 81.358,90 77.581,65 3,81
Maio 81.358,90 265.856,00 301.845,12 45.369,78 63.364,34 4,76
Junho 45.369,78 345.965,00 248.204,56 143.130,22 94.250,00 2,63
Fonte: elaborada pela autora.

Para o cálculo do estoque médio foi utilizada a fórmula: (EI+EF)/2. e o valor das saídas foi
dividido pelo estoque médio. Podemos perceber que no mês de Maio, o giro de estoque foi
melhor que nos outros meses, com um resultado de 4,76, calculado da seguinte forma:
301.845,12 / 63.364,34 = 4,76

Responsividade e eficiência na gestão de estoques

Você já ouviu a frase: “Estoque é dinheiro parado”? Não deixa de ser verdade, como vimos
no item Custos, mas a decisão de se manter estoques é mais profunda. Ela tem base na análise
de eficiência e responsividade da empresa.

Você Sabia ?
Efciência significa o cumprimento de padrões, regras e determinações no tempo e da forma
correta, gastando somente o necessário para que estes objetivos sejam realizados.
Responsividade é a habilidade em atender ao cliente com uma grande variedade de produtos e
um nível de serviço cada vez mais alto.

Fisher (1997) discute em seu artigo a influência dos diferentes perfis de demanda dos produtos
e a estruturação das estratégias da empresa para os diferentes segmentos. Desta forma, a
característica da demanda é que determinará como as estratégias deverão ser montadas. O autor
afirma que, para produtos de demanda previsível, com ciclo de vida longo e baixa variedade, a
empresa necessita possuir estratégias de suprimento que se relacionem à eficiência com que o
produto ou serviço são realizados, priorizando a redução de custos, para conseguir preços mais
competitivos. Para produtos com demanda imprevisível, ciclo de vida curto e grande variedade

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Unidade: Gestão de estoques

de produtos, a empresa deve priorizar a flexibilidade e agilidade no atendimento às demandas


inconstantes dos clientes, de forma a atendê-los rapidamente, mesmo que a um custo maior
que seu concorrente.
Então a pergunta central para definir o que, como e quanto ter em seus estoques é: a operação
da minha empresa deve prezar pela eficiência ou pela responsividade?
A figura 3 traz alguns exemplos de como as empresas incorporam tais decisões em suas
cadeias:

Figura 3: Eficiência e responsividade.

Fonte: Adaptada de Chopra e Meindl (2011).

Para Pensar

Reflita sobre outros exemplos de como a eficiência e a responsividade podem afetar a organização
da cadeia de suprimentos da empresa. Como empresas eficientes podem organizar seus estoques e
como isso difere das empresas responsivas? Discuta em um fórum com seus colegas.

Vimos diversos aspectos relacionados à estocagem de materiais, mas devemos também


pensar em sua gestão e em como fazê-la da melhor forma e ao menor custo. É neste cenário
que entra a Armazenagem.

Estoque x armazenagem

Muitas pessoas confundem estoque com armazenagem. Já sabemos que o estoque é: “a


acumulação armazenada de recursos materiais em um sistema de transformação”. Slack (2002,
p.20).
Já a armazenagem:

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Diálogo com o Autor

Armazenagem “é a denominação genérica e ampla que inclui todas as atividades de um ponto


destinado à guarda temporária e à distribuição de materiais (depósitos, almoxari¬fados, centros de
distribuição, dentre outros)” (MOURA, 1997, p.4).

A partir do momento em que a empresa define que manterá produtos em estoque, caberá
à armazenagem a sua administração e estratégias para a gestão. Vimos diversos aspectos
relacionados à estocagem de materiais, mas devemos também pensar em sua e em como fazê-
la da melhor forma e ao menor custo. É neste cenário que entra a Armazenagem.
O armazém é responsável pela guarda e gestão dos skus de uma empresa. A armazenagem
possui diversas rotinas como:
··Recebimento;
··Classificação de Materiais;
··Lançamento de entrada no sistema;
··Transferência e Movimentação;
··Armazenagem em prateleira, estantes, tanques, estrados ou pátio;
··Controle de Estoque;
··Picking – Separação;
··Inventário.

Você Sabia ?
São definidos como SKUs (Stock Keeping Unit) os itens estocados em um armazém. Também são
conhecidos como códigos de produtos, referências ou part numbers.

Uma das principais tarefas da armazenagem é a classificação dos itens. A mais comumente
utilizada é a classificação ABC. Essa classificação foi criada com base na classificação de Pareto,
também conhecida como 80/20. Vilfredo Pareto foi um sociólogo e engenheiro italiano que
viveu entre 1842 e 1923. Pareto dedicou-se a estudar a renda da população.
Seus estudos indicaram que 20% da população detinham 80% da renda e 80% da população
detinham 20% da renda. Esta regra, a 80/20 recebeu várias aplicações e desdobramentos, como
a classificação ABC, que é aplicada não somente quanto à distribuição de renda, mas também
nas áreas de marketing, produção, demanda e também na armazenagem.

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Unidade: Gestão de estoques

Reflita
Você consegue traçar um paralelo entre a teoria elaborada por Pareto e os dias de hoje? É interessante
identificar que, ainda nos tempos atuais, a distribuição de renda da população continua desigual.

Classificação ABC

Como a regra 80/20 de Pareto, a classificação ABC tem como objetivo identificar os itens
que possuem maior representatividade no faturamento da empresa, comparativamente aos que
possuem menor representatividade.
A classificação ABC considera os valores de faturamento da empresa e possui o seguinte
passo a passo para sua realização:
Passo 1: coleta de dados da empresa que podem ser manualmente ou via sistemas de
informação, identificando o item, seu valor unitário e sua quantidade consumida ou projetada
no período. Veja no exemplo abaixo:

Material R$ Preço Unitário Consumo anual (unidades)

P1 25,00 200
P2 16,00 5.000
P3 50,00 10
P4 100,00 100
P5 0,15 200.000
P6 0,01 100.000
P7 8,00 1.000
P8 2,00 20.000
P9 70,00 10
P10 5,00 60

Passo 2: Cálculo do consumo anual para cada item (multiplicação da quantidade consumida
ou projetada no período de um ano pelo valor unitário).
Passo 3: Organizar a planilha em ordem decrescente de valor:

Material R$ Preço Unitário Consumo anual (unidades) Valor do consumo anual (R$)

P2 16,00 5.000 80.000


P8 2,00 20.000 40.000
P5 0,15 200.000 30.000

20
P4 100,00 100 10.000
P7 8,00 1.000 8.000
P1 25,00 200 5.000
P6 0,01 100.000 1.000
P9 70,00 10 700
P3 50,00 10 500
P10 5,00 60 300

Passo 4: Cálculo do valor acumulado de consumo e sua porcentagem:

Valor %
R$ Preço Consumo Valor do
Material acumulado de acumulado
Unitário anual (unidades) consumo anual (R$)
consumo de consumo

P2 16,00 5.000 80.000 80.000 46%


P8 2,00 20.000 40.000 120.000 68%
P5 0,15 200.000 30.000 150.000 85%
P4 100,00 100 10.000 160.000 91%
P7 8,00 1.000 8.000 168.000 96%
P1 25,00 200 5.000 173.000 99%
P6 0,01 100.000 1.000 174.000 99%
P9 70,00 10 700 174.700 100%
P3 50,00 10 500 175.200 100%
P10 5,00 60 300 175.500 100%

Para o cálculo do valor acumulado de consumo, deve-se pegar o primeiro valor de venda e
somar com os valores seguintes: 80.000 + 40.000 = 120.000, e assim por diante.
Para o calculo da porcentagem, divide-se o valor acumulado pelo total de vendas e multiplica-
se por 100: (80.000 / 175.500) * 100 = 46%
Passo 5: classificam-se os materiais, a partir da divisão dada pela empresa, por exemplo:
··Classe A: itens até 75% do valor acumulado de consumo.
··Classe B: itens entre 76% e 95% do valor acumulado de consumo.
··Classe C: itens de 96% a 100% do valor acumulado de consumo.

Esta é uma classificação sugerida, e cada empresa estabelece a sua, dependendo da análise
das suas operações. Vejamos o exemplo com a classificação a partir dos valores dados:

21
Unidade: Gestão de estoques

Valor do Valor %
R$ Preço Consumo
Material consumo anual acumulado de acumulada de
Unitário anual (unidades) Classificação
(R$) consumo consumo

P2 16,00 5.000 80.000 80.000 46% A


P8 2,00 20.000 40.000 120.000 68% A
P5 0,15 200.000 30.000 150.000 85% B
P4 100,00 100 10.000 160.000 91% B
P7 8,00 1.000 8.000 168.000 96% C
P1 25,00 200 5.000 173.000 99% C
P6 0,01 100.000 1.000 174.000 99% C
P9 70,00 10 700 174.700 100% C
P3 50,00 10 500 175.200 100% C
P10 5,00 60 300 175.500 100% C

Percebemos que somente uma parcela dos produtos representa a classificação A, ou seja,
somente os produtos P2 e P8 dão o maior faturamento para a empresa.
A classificação ABC auxilia na identificação de itens que merecem maior atenção, já que
representam uma parcela importante do faturamento da empresa. É a partir da classificação
que a empresa poderá estabelecer estratégias de operação que otimizem a armazenagem dos
produtos e reduzam seus custos, trazendo melhores resultados de estoques.
Empresas que pretendem gerenciar seu armazém de forma otimizada, em geral utilizam
softwares próprios que auxiliam no controle das suas operações, proporcionando maior controle,
economia de tempo e, consequentemente, redução de custos.

Sugestão de leitura

Quer saber mais sobre o WMS e sua utilização nas operações de armazenagem? Leia:
http://www.sitedalogistica.com.br/news/por-que-utilizar-um-software-wms-/

Resumindo
··Estoque é a acumulação armazenada de recursos materiais em um sistema de
transformação (SLACK, 2002).
··Os estoques auxiliam a empresa a se prevenir contra incertezas na demanda e no
fornecimento, causadas por crises de abastecimento, diferenças na renda da população,
alterações econômicas, ações da concorrência, entre outros;
··A empresa deve avaliar a diferença entre o custo e o nível de serviço, definindo o trade-
off em seus estoques. Por um lado, ela deve aumentar o seu capital de giro, o que pode

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ser alcançado com a redução de custos, e por outro, a empresa deve proporcionar um
ótimo nível de serviço aos seus clientes, por meio do atendimento no prazo certo e
quantidades corretas;
··Os estoques podem ser de matéria prima, produto em processo, produto acabado, peças
de manutenção, estoque em trânsito e estoque em consignação;
··Os custos de estoque podem ser de materiais, pessoal, equipamentos e manutenção,
edificação, oportunidade, pedido e falta;
··As estratégias adotadas pela empresa para seu estoque podem classificá-lo como pulmão,
especulativo ou estratégico;
··É necessário o uso de indicadores de estoque para controle dos volumes máximos e
mínimos que a empresa deve ter em guarda, assim como realizar o monitoramento do
comportamento do estoque ao longo de determinado período;
··O estoque de segurança, lote econômico de compra e giro de estoques também são
muito utilizados para controle dos materiais que a empresa mantenha sob guarda;
··O estoque é a acumulação armazenada de recursos materiais em um sistema de
transformação (SLACK, 2002), já a armazenagem é a denominação genérica e ampla
que inclui todas as atividades de um ponto destinado à guarda temporária e à distribuição
de materiais (MOURA, 1997, p.4).
··A classificação ABC auxilia na identificação de itens que merecem maior atenção, já que
representam uma parcela importante do faturamento da empresa. É a partir dela que a
empresa poderá estabelecer estratégias de operação que otimizem a armazenagem dos
produtos e reduzam seus custos, trazendo melhores resultados de estoques.

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Unidade: Gestão de estoques

Material Complementar

Links interessantes para leitura e aprofundamento do tema Gestão de Estoques:

Explore

AMARAL, Jessica T.; DOURADO, Laurinda O, Gestão de Estoque. Lins, 17-21 de outrubro,
III Simpósio de Educação Unisalesiano. Acesso em 15/06/2014. Disponível em: http://www.
unisalesiano.edu.br/simposio2011/publicado/artigo0055.pdf

CHING, H. Y., Gestão de estoques na cadeia logística integrada. São Paulo: Editora Atlas,
2010 – Capítulo 1.

FERREIRA, K. A; ALCÂNTARA, R. Uma discussão sobre as diferentes classificações da


estratégia de postponement. Revista de Ciência & Tecnologia, v. 17, n. 33, p. 53-63, jan./jun.
2012. Acesso em 15/06/2014. Disponível em: https://www.metodista.br/revistas/revistas-unimep/
index.php/cienciatecnologia/article/viewFile/992/677

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Referências

CHING, H. Y. Gestão de estoques na cadeia logística integrada. São Paulo: Editora


Atlas, 2010.

CHOPRA, S. MEINDL, P. Gestão da cadeia de suprimentos: estratégia, planejamento e


operações, 4. ed., São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2011.

MOURA, R. Armazenagem: do recebimento à expedição. São Paulo: IMAM, v.2, 1997.

SLACK, N. Administração da produção. 2.ed., São Paulo: Atlas, 2002.

TAYLOR, D. Logística na cadeia de suprimentos: uma perspectiva gerencial. São Paulo:


Pearson, 2005.

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Unidade: Gestão de estoques

Anotações

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