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Karl Marx : A Lei Não Está Desvinculada do Deve... http://www.scientific-socialism.de/KMFEDireitoC...
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[1]
Cf. MARX, KARL HEINRICH. Debatten über das Holzdiebstahlsgesetz. Von einen Rheinländer
(Debates acerca da Lei sobre o Furto de Madeira. Por um Renano)(1° de Novembro de 1842), in :
Marx und Engels Werke (Obras de Marx e Engels), Vol. 1, pp. 109 - 147. O presente texto de Marx,
traduzido, agora, segundo tudo está a indicar, pela primeira vez, para a língua portuguesa, foi
publicado, originariamente, no jornal intitulado "Gazeta Renana", Nr. 298, de 25 de outubro de
1842. Anoto, por oportuno, que as passagens dos discursos, pronunciados pelos deputados da
Assembléia Estadual, aos quais Marx se refere no presente texto, encontram-se incluídos nos
SITZUNGSPROTOLOLLE DES SECHSTEN RHEINISCHEN PROVINZIALLANDTAGS
(Protocolos das Sessões da Sexta Assembléia Estadual Provincial da Renânia), Koblenz, 1841, pp. 3 e
s.
O presente texto de Marx é parte de uma série de artigos, composta de 5 partes, já por mim traduzida
para o idioma português. Esses artigos de Marx, redigidos entre 25 de outubro e 3 de novembro de
1842, propõem-se a analisar os debates, ocorridos na Assembléia Estadual da Renânia, entre 23 de
maio e 25 de julho de 1841. Aplicando magistralmente o método dialético-materialista à temática em
causa, Marx conseguiu aqui examinar, pela primeira vez, com profundidade, as contradições,
existentes entre os interesses materiais de diferentes classes histórico-sociais do mundo
contemporâneo, posicionando-se em defesa dos interesses das massas populares pobres, despojadas
de todos os tipos de propriedade.
Marx demonstra, em seus artigos em realce, que o Direito Consuetudinário de recolhimento de
madeira caída e apanhada no chão não poderia ser tipificado como furto, por meio de nova
legislação penal. Marx reivindica, assim, para a pobreza o Direito Consuetudinário, válido em todos
os países, o qual : " ... por sua própria natureza, pode ser apenas o Direito dessas massas mais
inferiores, desapossadas e elementares."
E, com efeito : em contraste com o Direito Consuetudinário da nobreza privilegiada que se funda
sobre a falsa concepção de uma suposta desigualdade natural-estamental dos seres humanos, o Direito
Consuetudinário da pobreza é postulado por Marx como sendo efetivamente social-universal.
Diferentemente dos animais despidos de razão, os seres humanos são livres e iguais a todos os seus
pares do gênero humano, ao passo que os primeiros, por não gozarem de liberdade, são iguais apenas
no âmbito de sua espécie determinada. As diferenças de classes e estamentos historicamente
existentes contradizem, assim, à essência da liberdade igual de todos os seres humanos. Os Direitos
Consuetudinários das distinções são, portanto, costumes, praticados contra o próprio conceito de
Direito e Legislação Racionais, uma vez que seu conteúdo colide com sua forma jurídica, enquanto
que o Direito Consuetudinário da pobreza não colide senão com a ausência de sua própria
formalidade jurídica.
O interesse material dos proprietários de floresta é, segundo Marx, é um interesse particular e, por
consegüinte, limitado. O interesse das massas mais inferiores, desapossadas e elementares, um
interesse universal e ilimitado.
Por exigirem os proprietários de floresta também um Direito de Propriedade sobre a madeira caída e
apanhada no chão, agem em discrepância com o Direito Consuetudinário da pobreza, visto que são
as próprias árvores, enquanto partes integrantes da natureza, que despejaram ao chão e, praticamente,
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excluíram de si mesmas essa madeira caída e apanhada. As massas mais inferiores, excluídas,
despejadas, separadas e não integradas pela sociedade de classes, são tais quais a madeira caída ao
chão e, nessa analogia, reconhecem, instintivamente, o seu Direito de apropriação das coisas
derrubadas e caídas ao chão.
Antecipando em vários anos sua ulterior magistral descoberta da essência da mais-valia capitalista,
Marx demonstra que as classes proprietárias superiores exigiam não apenas indenização pela
subtração da madeira caída e apanhada no chão, senão ainda penas pecuniárias a serem pagas pelos
"ladrões de madeira". O valor da madeira substraída nessas circunstâncias deveria ainda ser fixado
por autoridades florestais, contratadas pela nobreza latifundiária, no melhor dos casos, não de modo
vitalício, senão apenas temporariamente.
No último artigo da série aqui em realce, Marx propugnou, inovadoramente, seu conceito de fetiche,
o qual haveria de desenvolver, posteriormente, em sua crítica dialética do dinheiro e do capital.
O texto aqui em realce, tal quais os demais dessa série, demonstram, inequivocamente, o início da
dedicação intelectual de Marx aos estudos da economia política. Acerca do tema, vide mais
precisamente Cf. IDEM. Vorwort zur Kritik der Politischen Ökonomie (Prefácio à Crítica da
Economia Política)(Agosto de 1858 – Janeiro de 1859), in : ibidem, Vol. XIII, Berlim : Dietz Verlag,
1961, pp. 7 e s.
Nesse último material, Marx assinala, com precisão : "Meu estudo específico era o da Ciência do
Direito, o qual empreendi, entretanto, apenas como disciplina subordinada, ao lado da Filosofia e
da História. Em 1842 e 1843, enquanto redator da “Gazeta Renana”, meti-me, pela primeira vez, no
embaraço de ter de colaborar, pronunciando-me acerca dos assim chamados interesses materiais. Os
debates da Assembléia Estadual da Renâna sobre o furto de madeira das florestas e o parcelamento
da propriedade fundiária, a polêmica ministerial que o Sr. von Schaper, outrora Presidente Supremo
da Província da Renânia, moveu contra a “Gazeta Renana” acerca das condições do camponês do
Vale do Rio Mosela, os debates, enfim, sobre o livre comércio e a duana protecionista, forneceram os
primeiros pretextos para minha dedicação às questões econômicas. Por outro lado, naquela época,
quando a boa vontade de "ir adiante" havia multiplamente compensado o conhecimento objetivo,
tornara-se audível na "Gazeta Renana" um eco de socialismo e do comunismo francês, levemente
tingido de filosofia. Declarei-me contrário a essa obra de má qualidade, confessando, porém, ao
mesmo tempo, de modo direto e aberto, em uma controvérsia, mantida com o "Diário Popular de
Augsburg", que meus estudos, até então empreendidos, não me permitiam ousar formular, por mim
mesmo, nenhum julgamento acerca do conteúdo das tendências francesas. Em vez disso, lancei mão,
avidamente, da ilusão dos editores da "Gazeta Renana", que acreditavam poder fazer retroceder a
sentença de morte recaída sobre o jornal devido às suas posições mais complacentes, a fim de me
retirar da cena pública e recolher-me em meu gabinete de estudo."
[2]
Indicação de Emil Asturig von München : Marx refere-se aqui à seguinte legislação carolíngea,
eminentemente célebre por sua suas prescrições penal-punitivas extremamente cruéis, DIE
PEINLICHE HALSGERICHTSORDNUNG KAISER KARL'S V. CONSTITUTIO
CRIMINALIS CAROLINA. (Regimento do Tribunal Criminal de Execução Sumária de Penas
Capitais do Imperador Carlos V. Constituição Criminal Carolíngea), hrsg. Heinrich Zoepfl,
Heildelberg : Winter, 1842, pp. III e s.
[3]
Indicação de Emil Asturig von München : Acerca do tema, vide MONTESQUIEU, CHARLES
DE SECONDAT BARON DE LA BRÈDE ET DE. De l'Esprit De Loi Ou Du Rapport Que Les
Loix doivent avoir avec la Constitution de chaque Gouvernement, les Moeurs, le Climat, la Religion,
le Commerce, &c. (Do Espírito das Leis ou da Relação que as Leis devem possuir com a Constituição
de Cada Governo, os Costumes, o Clima, a Religião, o Comércio etc.)(1748), Primeira Parte, Livro VI
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: Conseqüências dos Princípios dos Diversos Governos em Relação à Simplicidade das Leis Civis e
Criminais, a Forma dos Julgamentos e o Estabelecimento das Penas, Capítulo XII : Sobre o Poder das
Penas, Geneva : Barrillot, 1749, pp. 3 e s.
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