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TURNER, Joseph. Lago Avernus: Enéias e a Sibila Cumaeana: Lake Avernus: Aeneas and the Cumaean Sibyl. 1814.

Épica Latina

A Eneida de Virgílio

Livro VI

Catarina Menezes, Marisa Pontes e Rafaela Lopes


Anteriormente em Eneida…

Livro V:
○ Iris é enviada por Juno até Sicília;
○ Iris finge ser Béroe, velha esposa de Dorciclo, e queima os navios;
○ É reconhecido por Pirgo e foge para os altos;
○ As mulheres enfurecidas alastram o fogo na frota;
○ A notícia chega até Enéias que vai até o incêndio e invoca os deuses para o ajudar;
○ Júpiter manda uma tempestade para apagar o fogo;
○ O deus Nautes conforta Eneias e o aconselha a seguir para onde o destino os impele;
○ A sombra de Anquises desce até a Terra e fala com Eneias;
○ Vênus fala com Netuno suas preocupações com o trajeto de Eneias;
○ Netuno assegura que Eneias chegará em segurança ao Tibre ao preço de uma vida;
○ Eneias acorda e percebe que o barco está desgovernado, ele lamenta a morte do amigo.
Resumo do livro VI

○ Chegada de Eneias a Cumas; ○ Primeiro encontro com Dido após sua


○ Consagração de Apolo; morte;
○ Eneias pede a Sibila que o leve até ○ Guerreiros tombados em Troia;
seu pai, Anquises, no submundo; ○ Campos Elísios e Tártaro;
○ Anúncio da morte de Miseno; ○ Palácio de Plutão e Prosérpina;
○ Passagem pelo vestíbulo e travessia ○ Encontro com Anquises;
pelo rio Aqueronte; ○ A reencarnação das almas;
○ Os Campos Lungentes; ○ As Portas do Sono.
A chegada de Eneias à Cumas
Cidade da ilha grega de Eubeia, próxima do lago Averno, a entrada dos infernos. Lá, dirige-se ao
monte onde Apolo é cultuado e à gruta de Sibila, virgem sacerdotisa que revela as coisas futuras.

“Ó tu, que alfim te livraste dos grandes perigos dos males!


Outros, maiores, em terra te esperam: aos reinos lavínios
virão os filhos de Dárdano. Disso, porém, não receies;
lastimarão muito cedo até lá terem vindo. Percebo
guerras, terríveis encontros e o Tibre espumando de sangue.” (vv.
83-87)

(...) E a causa, sempre, a mulher, novamente uma esposa de fora,


tálamo estranho aos troianos.
Porém não cedas; com mais decisão para a frente prossigas
quanto a Fortuna o deixar, pois a luz salvadora – o que nunca
puderas crer – te virá de uma grande cidade dos dânaos.” (vv.
93-97).
BARBIERI, Guercino. The Cumaean Sibyl. 1591.
Eneias pede à Sibila que o leve ao Inferno
“Só peço uma coisa: uma vez que é aqui, segundo dizem, a porta do rei do Inferno e o tenebroso
paul, transbordamento do Aqueronte, que me seja permitido ir à presença de meu querido pai e
com ele entreter-me; ensina-me o caminho e abre as portas sagradas.”
(...) “Sob a copa
densa de uma árvore oculta-se um ramo de talo flexível,
de folhas áureas, a Juno infernal dedicado. A floresta
no seu negrume o acoberta, na sombra dos vales profundos.
Mas não é dado a ninguém penetrar até o centro da terra,
sem que primeiro dessa árvore arranque o áureo ramo com
folhas.” (vv. 135-141)
Eneias sai do templo entristecido, encontra-se com seu fiel companheiro Acates e logo é
informado da morte de Miseno. Ao preparar os funerais, avista duas pombas brancas que o guiam
até o ramo de ouro. Colhe-o e o entrega à sacerdotisa. Presta culto aos deuses infernais e
começa sua descida aos Infernos.
“No vestíbulo, à entrada das gargantas do Orco, fizeram seu leito o Luto e os vingadores
Remorsos, ali habitam as pálidas Enfermidades, a triste Velhice, o Medo, a mal avisada Fome, a
torpe Miséria, formas horríveis de se ver, e a Morte, a Fadiga, depois o Sono, irmão da Morte, os
maus Prazeres da mente, e no limiar em frente, a mortífera Guerra, e as câmaras de ferro das
Eumênides e a Discórdia demente, com os cabelos de víboras arrumados em tranças
sangrentas.”

“Vestibulum ante ipsum primisque in faucibus Orci


Luctus et ultrices posuere cubilia Curae;
pallentesque habitant Morbi tristisque Senectus
et Metus et malesuada Fames ac turpis Egestas,
terribiles uisu formae, Letumque Labosque;
tum consanguineus Leti Sopor et mala mentis
Gaudia mortiferumque aduerso in limine Bellum,
ferreique Eumenidum thalami et Discordia demens
uipereum crinem uittis innexa cruentis.” (vv.
273-281)

ENÉIAS e a Sibila: Aeneas and the Sibyl. 1800.


A travessia do Aqueronte

Ao chegar ao rio Aqueronte, Sibila ensina a Eneias que Caronte não deixa que almas insepultas
façam a travessia antes de cem anos a vagar ao redor da praia e, por isso, a grande turba que ele
enxerga nas margens. Entre as almas insepultas, Eneias vê seu piloto Palinuro. O barqueiro barra a
travessia deles mas Sibila lhe diz:

“Não abrigamos insídia nenhuma; sossega esse gênio;


nem são nocivas as armas. O grande porteiro prossiga
no seu mister, a ladrar para as sombras carentes de vida,
e continue tranquila Prosérpina junto do tio.
O teucro Eneias, varão mui piedoso e de braço invencível,
desce à procura do pai, entre as sombras inanes do Inferno.
Se não te move o espetac’lo de tanta piedade, que ao menos
este sinal reconheças.” (vv. 400-407)
O encontro
Após Eneias e Sibila chegarem a outra margem e passarem por Cérbero, eles penetram os
Campos Lugentes, a caverna das almas das crianças, dos suicidas e das almas dos que
morreram por amor. Lá Eneias vê Dido.
“Infelix Dido, uerus mihi nuntius ergo
uenerat exstinctam ferroque extrema secutam?
Funeris heu tibi causa fui? Per sidera iuro,
per superos, et si qua fides tellure sub ima est,
inuitus, regina, tuo de litore cessi.
Sed me iussa deum, quae nunc has ire per umbras,
per loca senta situ cogunt noctemque profundam,
imperiis egere suis; nec credere quiui
hunc tantum tibi me discessu ferre dolorem.
Siste gradum teque aspectu ne subtrahe nostro.
Quem fugis? Extremum Fato, quod te alloquor, hoc est.” (vv. 456-466)

PINELLI, Bartolomeo. Enéas e a sombra do Dido: Aeneas and the shade of Dido. 1892
Entre os Campos Elísios e o Tártaro

Eneias e Sibila prosseguem em sua jornada e alcançam uma bifurcação no caminho. É então que
Aurora diz:

(...) “Hic locus est, partes ubi se uia findit in ambas:


dextera quae Ditis magni sub moenia tendit,
hac iter Elysium nobis; at laeua malorum
Exercet poenas et ad impia Tartara mittit.” (vv.
540-544)
(...) “Ao ponto exato chegamos em que se divide o caminho:
o da direita nos leva ao palácio do nobre Plutão,
rumo do Elísio; o da esquerda, às escuras estâncias do Tártaro,
onde os maldosos as penas recebem de quanto fizeram.”
(vv. 540-544)
Encontro com Anquises
Eneias e Sibila enveredam pela direita e alcançam as portas do palácio de Plutão. Eneias
asperge-se com água pura e pendura o ramo áureo na porta. Chegam, então, aos sítios
graciosos, de éter puro e grande luz, lugar de habitação dos afortunados e vitoriosos em vida.
Sibila interroga Museu sobre a região de morada de Anquises e a grande alma os encaminha até
lá. O pai de Eneias logo o avista e lhe fala:
“Enfim chegaste! Venceste o caminho com a tua piedade
de filho amado, e me dás a ventura de ver-te de perto,
ouvir-te a voz, e em colóquios passarmos alguns momentinhos.
Pelos meus cálculos, certo, tirando ou repondo alguns dias,
tinha chegado a marcar nosso encontro para este momento.
Por quantas terras jogado, e que mares venceste! Somente
para me veres, meu filho! E os imensos perigos da viagem?
Como temi que te fossem fatais as paragens da Líbia!”
vv. 687-694
(...) “Tua imagem, meu pai, dolorida,
Que a cada instante me vinha à memória, ao destino me trouxe.
Nossos navios, senhor, no Tirreno se encontram. Permite
que as mãos nos demos; não negues ao filho este amplo
singelo”.
(vv. 695-698)

MANFREDI, Biagio. Addio di Anchise al figlio Enea e alla Sibilla Deifobe alle porte dell’Averno.
O discurso de Anquises
Nisso, Eneias vê povos sem fim à beira de um rio. Explica-lhe Anquises que são almas fadadas a uma outra
existência e que precisam beber das águas do Letes para esquecerem completamente a vida anterior e
poderem transmigrar para outro corpo. E, ante o espanto de Eneias, instrui-lhe sobre o fogo celeste, a
semente da vida, os mil anos na roda do tempo, as sucessivas reencarnações até a purificação do espírito e o
ingresso na vida eterna.
"Dir-te-ei, agora, que glória espera, no futuro, a raça de Dardano, quais serão os nossos descendentes de
raça italica, almas ilustres que deverão ter nosso nome e vou revelar-te o teu destino. (...) O primeiro a surgir
ao sopro do ar de sangue italiano misturado ao nosso, é Sílvio, nome albano, teu filho derradeiro que ser-te-á
dado por tua esposa Lavínia tardiamente, no fim de tua velhice”.

Depois, Anquises instrui Eneias sobre as lutas que irá travar, os trabalhos sem conta, o luto. Mas mostra-lhe
também as glórias futuras. Sempre conversando com o filho, leva-o e à Sibila até as duas Portas do Sono.
Uma se abre aos sonhos falsos e a outra aos sonhos verdadeiros. Pela porta dos sonhos verdadeiros Eneias
sai, após despedir-se do pai, encontra seus companheiros e navega rumo ao Lácio.
Considerações finais

“A descida de Eneias ao mundo dos mortos marca o centro do poema. Ali se encerra a metade
odisseica da Eneida, a errância no mar e se inicia a metade iliádica, as guerras em terra. A chegada
aos Infernos recorda elementos da filosofia platônica, das doutrinas órfica e pitagórica, a
metempsicose. (...) As personagens infernais foram motivo de deleite para o povo antigo e aquilo
que para Eneias era o futuro, (...) o público contemporâneo de Virgílio via seu próprio tempo
integrado a todo o passado de Roma, e de certa forma, no poema, via-se a si mesmo como
continuação de feitos gloriosos.”

Odisseia
Ilíada
Correlações Filosofia platônica
Doutrina órfica
Doutrina pitagórica

BRUEGHEL, Jan. Aeneas and the Sibyl in the Underworld. 1568.


Referências bibliográficas
● VIRGÍLIO. Eneida. Tradução: Carlos Alberto Nunes. São Paulo: Editora 34, 2014 (1º edição).
892 p.
● VIRGÍLIO. Eneida. Tradução: David Jardim Júnior. Rio de Janeiro: Tecnoprint LTDA, 1880.
● HOMERO. Odisséia. Tradução: Frederico Lourenço. São Paulo: Penguin-Companhia, 2011
(1º edição).
● HOMERO. Ilíada. Tradução: Frederico Lourenço. São Paulo: Penguin-Companhia, 2013 (1º
edição).
● HIGINO. Fábulas. Tradução: José Miguel García Ruiz. Madrid: Editorial Grecos, 2013. 409
p.
● ALIGHIERI, Dante. Inferno. Tradução: José Pedro Xavier Pinheiro. São Paulo: Principis,
2020. 240 p.
● KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. São Paulo: Editora Edicel, 2016 (1º edição).
● MARIA CASORETTI, Anna. O surgimento da ascética da alma na antiguidade grega:
Orfismo e Pitagorismo, São Paulo, p. 8-119, 2014. Disponível em:
https://sapientia.pucsp.br/bitstream/handle/11653/1/Anna%20Maria%20Casoretti.pdf. Acesso
em: 11 nov. 2022.
● MARIA CASORETTI, Anna. A origem da alma: Do Orfismo a Platão, São Paulo, p. 9-75,
2010. Disponível em:
http://revistapandorabrasil.com/revista_pandora/anna_maria_casoretti.pdf. Acesso em: 11
nov. 2022.
● SCHMITT, Carlos Eduardo. O Mito de Eneias na Ilíada, nas Fabulae e nas Heroides. Rio de
Janeiro: Universidade Estadual do Rio de Janeiro, 2018.

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