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Licenciatura em Antropologia
Sinopse 13ª aula: Marcel Mauss e seus discículos: o caso Griaule-Leiris, da dádiva à pilhagem
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Mauss foi também professor na Universidade da Sorbonne (Écola Pratique de Hautes Études), lecionando um
curso sem essa dimensão prática, dedicado às religiões dos povos ditos “não civilizados”. Mauss, na verdade,
criticava esta expressão que havia sido introduzida pelo antropólogo evolucionista Léon Marillier aquando da
inauguração do curso no século XIX.
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O termo antropologia em França tendia a ser reservado para a antropologia física e ainda hoje o termo etnologia
é muito utilizado. Mais tarde, sobretudo graças a Claude Lévi-Strauss, o termo antropologia impôs-se com o sentido
de antropologia cultural e social.
estéticos condicionados pelo gosto europeu. Havia, pelo contrário, que entender as coisas no seu contexto,
pelo que aconselhava que a aquisição de cada objeto, mesmo o aparentemente mais “insignificante”, fosse
acompanhada do preenchimento de uma ficha que repertoriasse exaustivamente toda a informação
associada ao mesmo. Segundo Thomas Hirsch, essa insistência na importância das fichas contribuía para
subtrair a etnografia ao amadorismo, pois numa era sem computadores a realização de fichas era uma
prática muito corrente nas ciências representadas na academia.
5. MAUSS E O COLONIALISMO
Mauss não era insensível à questão do colonialismo, mas os seus escritos não eram focados nesse assunto
e as poucas passagens relativas ao mesmo, nos materiais de arquivo, revelam alguma ambivalência
pragmática: se por um lado insistia que era preciso observar tudo, por outro lado não enfatizava a
importância de estudar as transformações em contexto colonial; se por um lado considerava que a
etnologia podia contribuir para atenuar aspetos negativos do colonialismo, por outro lado aconselhava os
seus estudantes a não criticarem explicitamente a administração colonial. Tudo somado, a relação entre
as lições de Mauss e o colonialismo tem mais a ver com o grande Leitmotiv da história da antropologia
que é o sentido de urgência das observações etnográficas sobre realidades sociais e culturais pré-coloniais,
a que o mestre dava visivelmente maior importância, descurando a preparação dos seus estudantes para
abordarem diretamente os problemas do impacto colonial para lá do registo de tradições sob risco de
desaparecimento.
A Missão Dacar-Djibuti e em particular a obra de Griaule tiveram um impacto espantoso, tanto no panorama francês
como em diversos países africanos após os processos de independência: a sabedoria dogon foi aceite como prova da
contribuição do génio africano para a civilização universal. Essa é uma história que de certa forma relegou para
segundo plano Leiris e Emawayish na proporção em que glorificou Griaule e Ogotemmêli. Contudo, a crítica pós-
colonial da obra antropológica e da prática etnográfica de Griaule, que já leva mais de meio século, também deu lugar
a uma redescoberta e reapreciação da obra de Michel Leiris. Hoje, é a antropologia de Griaule que é considerada
“maldita”, enquanto a de Leiris é considerada “visionária”.