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42 | 2014
Sofrimento e Violência
Edição electrónica
URL: http://journals.openedition.org/horizontes/786
ISSN: 1806-9983
Editora
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
Edição impressa
Data de publição: 10 Outubro 2014
Paginação: 399-404
ISSN: 0104-7183
Refêrencia eletrónica
Luís Felipe Sobral, « DEBAENE, Vincent. L’adieu au voyage: l’ethnologie française entre science et
littérature », Horizontes Antropológicos [Online], 42 | 2014, posto online no dia 15 dezembro 2014,
consultado o 29 abril 2019. URL : http://journals.openedition.org/horizontes/786
© PPGAS
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Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, ano 20, n. 42, p. 399-404, jul./dez. 2014
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[…] os “pais” da etnologia francesa pretendem retomar por sua conta o impe-
rativo de observação e a necessidade de se manter aos “fatos”, recusando todo
efeito de estilo. Mas como conciliar tais exigências com a convicção que o fato
social é também e em primeiro lugar um fato mental e um fato moral? Pois se
há uma herança que a etnologia francesa retoma da sociologia durkheimiana,
é esta: o social é mental. Mas o “clima moral” de uma sociedade, como diz
Métraux, a “tonalidade da vida coletiva”, como escreve Mauss, não se “recolhe”
como se coleta ferramentas ou máscaras rituais. Como estar seguro de penetrá-
-los? E, sobretudo, como explicá-los sem recorrer a um trabalho de escrita ou a
uma certa forma de “literatura”? (p. 39-40).1
1
Todas as traduções são minhas.
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que, junto com o Institut d’Ethnologie fundado em 1925 por Mauss, Rivet
e Lucien Lévy-Bruhl (1857-1939), foi responsável pela institucionalização
da etnologia na França (p. 45, 119-121). O Trocadéro, que daria espaço ao
Musée de l’Homme em 1938, era uma espécie de gabinete de curiosidades
sem qualquer organização científica (catálogo, inventário, condições físi-
cas adequadas); a partir de sua reorganização no início da década de 1930,
passa a recusar tanto o gabinete de curiosidades como o modelo oferecido
pelo museu de belas artes. Orientado pela ideia de que todo objeto cultural
poderia se tornar “documento”, o Trocadéro tinha por objetivo dar visibili-
dade à ciência e educar as massas: “o documento não fala de si mesmo e é
necessário controlar sua recepção” (p. 55), o que conduzia à explicação de
cada peça, remetendo-a ao “sistema coerente” do qual fazia parte (p. 51-55).
O problema residia justamente na incapacidade dos objetos coletados em
campo de reconstituir a atmosfera vivida; em outras palavras, verifica-se a
inadequação desse modelo positivista a uma ciência social e moral como a
etnologia – daí o objetivo dos suplementos à viagem etnográfica: “atenuar
as insuficiências do documento e fazer sentir as formas de sentir” (p. 134).
De uma forma geral, pode-se dizer então que o projeto etnológico fran-
cês do entreguerras foi elaborado em termos empiristas:
[…] ele postulava que os objetos do etnólogo são sociedades e que estas devem
ser descritas. Que esse objeto seja material ou mental e que se hesite entre di-
ferentes métodos (a coleção ou a imersão) e diferentes modos de exposição de
resultados (estudo erudito ou obra “literária”) não muda em nada a questão: é a
mesma epistemologia que comandava a coleta de dados e a narrativa evocatória.
(p. 421-422).
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Referências
LEIRIS, M. L’Afrique fantôme. In: LEIRIS, M. Miroir de l’Afrique. Ed. de
Jean Jamin. Paris: Gallimard, 1996. p. 61-868.
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