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Alfred North Whitehead nasceu em 1861 na cidade de Ramsgate, Inglaterra.

Seu pai,
Alfred Whitehead, foi pastor e professor da Chatham House Grammar School, uma escola
masculina fundada por seu pai Thomas (avô de Whitehead). Ambos foram descritos pelo
filósofo como homens extraordinários. Curiosamente Whitehead não menciona sua mãe
Maria Sarah em nenhum de seus escritos, denotando pouca proximidade, confirmada, mais
tarde, por sua esposa Evelyn.[6] Ele frequentou a escola Sherborne em Dorset, considerada
uma das melhores escolas particulares do paı́s de sua época. Durante o perı́odo escolar
ele se destacou nas atividades esportivas e em matemática.[7]
Em 1880 ele entrou para a Universidade de Cambridge, Trinity College onde se tornou
membro dos Apóstolos de Cambridge, uma sociedade secreta de estudantes. Na univer-
sidade estudou matemática sob a direção de Edward Routh e se formou em 1884 com
excelente desempenho. Foi condecorado Fellow do Trinity College no mesmo ano, pas-
sando a lecionar matemática e fı́sica. Entre 1890 e 1898 escreveu seu Tratado sobre a
Álgebra Universal. Em 1900 escreveu com seu ex-aluno, Bertrand Russell, o Principia
Mathematica, um dos grandes trabalhos da história da matemática do século XX.[3]
Em 1890 Whitehead se casou com Evelyn Wade, uma irlandesa radicada na França.
Eles tiveram uma filha, Jessie Whitehead; e dois filhos, Thomas North Whitehead e Eric
Whitehead - que veio a falecer aos 19 anos durante combate na Primeira Guerra Mundial,
servindo a Força Aérea Britânica.[8]
Bertrand Russell em 1907. Russell foi aluno, colaborador e amigo de Whitehead. Em
1910, Whitehead pediu demissão do Trinity College e se mudou para Londres. Visto que
ele se demitiu antes de procurar outro ofı́cio, acabou amargando um ano de desemprego,[8]
até aceitar o trabalho de professor em matemática aplicada à mecânica na University
College London. Mais tarde foi preterido na escolha pela da cadeira de Matemática e
Mecânica, posição que ele realmente desejava assumir.[8]
Em 1914 Whitehead foi nomeado professor de matemática aplicada no Imperial College
London, onde seu velho amigo Andrew Forsyth era chefe do departamento de matemática.
Em 1918 ele foi eleito decano da Faculdade de Ciências da Universidade de Londres, cargo
que ocupou durante quatro anos. Em 1919 tornou-se membro e presidente do Senado da
Universidade, função a qual exerceu até sua ida aos Estados Unidos em 1924. Sua polı́tica
como presidente privilegiou o acesso de estudantes carentes às universidades.[8]
A partir do final dos da década de 1910, ele passou a se interessar pela filosofia.
A despeito de não ter nenhum tipo de educação formal na área, sua obra filosófica se
desenvolveu e ganhou prestı́gio rapidamente. Em 1920 publicou O Conceito de Natureza e
se tornou presidente da Sociedade Aristotélica entre 1922–1923.[8] Em 1924 Henry Osborn
Taylor convidou Whitehead, então com 63 anos, para ocupar o cargo de professor de
filosofia da Universidade Harvard.[8]
Foi durante seu perı́odo como professor de Harvard que Whitehead produziu suas mais
importantes contribuições filosóficas. Em 1925 escreveu A Ciência e o Mundo Moderno,
que foi reconhecida como uma alternativa ao dualismo, sobretudo ao dualismo cartesi-
ano.[6] Poucos anos depois publicou sua Magnum Opus, Processo e Realidade, obra que
foi comparada, em importância e complexidade, à Crı́tica da Razão Pura de Immanuel
Kant.[5] A famı́lia Whitehead se estabeleceu definitivamente nos Estados Unidos. Whi-
tehead se aposentou em 1937 e permaneceu em Cambridge, Massachusetts até sua morte
em 30 de dezembro de 1947.[8]
A biografia escrita por Victor Lowe é o estudo mais preciso sobre a vida do filósofo e
matemático, porém muitos detalhes de sua história permanecem obscuros. A pedido do
autor, sua famı́lia destruiu todas suas anotações pessoais depois de sua morte. Além disso

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Whitehead era conhecido por exercer uma crença quase fanática ao direito à privacidade,
registrando, portanto, poucas anotações de cunho pessoal.[6]
O Centro de Pesquisas sobre Whitehead lançou em 2017 uma edição crı́tica dos escritos
pessoais do autor.[9]
Trabalhos sobre matemática e lógica Além de numerosos artigos sobre matemática,
Whitehead escreveu três livros importantes sobre a disciplina: A Teoria Universal da
Álgebra (1898), Principia Mathematica (1910 a 1913) e Uma Introdução à Matemática
(1911). Os dois primeiros livros são destinados exclusivamente para matemáticos profissio-
nais, enquanto que o último, que cobre a história da matemática e suas bases filosóficas,[10]
é destinado a um público mais amplo. O Principia Mathematica, em particular, é consi-
derado uma das obras mais importantes da lógica matemática do século XX.[3]
Além de seu legado como autor do Principia Mathematica, a teoria da ”extensa abs-
tração”de Whitehead é considerada fundamental para o ramo da ciência da computação
e da ontologia conhecido como ”mereotopologia”, uma teoria que descreve as relações es-
paciais entre as séries, as partes, as partes de partes e as fronteiras entre estas partes.[11]
O Tratado da Álgebra Universal Em O Tratado de Álgebra Universal (1898), o termo
álgebra universal possui essencialmente o mesmo significado do contemporâneo; ou seja,
refere-se ao estudo das estruturas algébricas em si, ao invés de modelos de estruturas
algébricas de George Grätzer.[12] Whitehead credita a William Rowan Hamilton e Au-
gustus De Morgan a criação da disciplina.[12][13]
A álgebra de Lie, dada pelo espaço vetorial dos campos de vetores, bem como os qua-
terniões hiperbólicos e a álgebra sobre um corpo, chamaram a atenção para a necessidade
de se expandir estruturas algébricas para além do grupo associativo multiplicativo. Ale-
xander Macfarlane escreveu na revista Science: ”A ideia principal deste trabalho não é
a unificação dos diferentes métodos ou a generalização da álgebra comum para incluı́-los,
mas sim o estudo comparativo entre as estruturas”.[14] George Ballard Mathews define
que a obra ”tem uma unidade de design verdadeiramente notável, dada a variedade de
seus temas”.[15]
Principia Mathematica Ver artigo principal: Principia mathematica
Página de rosto da versão resumida de Principia mathematica. Em “Principia”, Whi-
tehead e Bertrand Russell propuseram uma conclusão de todas as verdades matemáticas,
baseando-se num rol precisamente delineado por axiomas e regras de dedução. Para isso,
eles empregaram uma linguagem lógico-simbólica própria. O livro é considerado um dos
mais importantes trabalhos sobre a interdisciplinaridade entre matemática, lógica e filoso-
fia, com dimensão comparável ao Organon de Aristóteles.[16] A Modern Library colocou-o
no 23º de uma lista dos cem mais importantes livros em inglês de não ficção do século
XX.[17][18]
Whitehead tinha a ideia inicial de concluir o Principia Mathematica em um ano,
contudo, o projeto se estendeu por dez anos.[19] Em sua primeira publicação o livro
foi dividido em três volumes (mais de 2 000 páginas) e, por seu público restrito, formado
majoritariamente por matemáticos profissionais, houve um prejuı́zo de 600 libras esterlinas
em sua publicação - 300 dos quais foram pagos pela Cambridge University Press e 200
pela Royal Society. Whitehead e seu aluno Russell completaram a dı́vida com cinquenta
libras cada. Apesar do prejuı́zo inicial a obra ganhou reconhecimento. Atualmente o
Principia pode ser encontrado em praticamente todas as bibliotecas de universidades.[20]
Uma Introdução à Matemática Ao contrário dos dois livros anteriores, em Uma In-
trodução à Matemática (1911), Whitehead não se dirige exclusivamente para matemáticos
profissionais. Ele busca um público mais amplo para explicar o que é a natureza da

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matemática; sua unidade, sua estrutura interna e sua aplicabilidade.[21] Sobre a obra,
Whitehead escreveu:
”O objetivo de Uma Introdução à Matemática não é o de ensinar matemática, mas
permitir que os alunos descubram do que esta ciência trata, ou seja, a base do pensamento
exato aplicado a fenômenos naturais.”[22]
Este livro pode ser visto como uma tentativa de compreender a unidade e interligação
entre a matemática e a filosofia e entre a linguı́stica e a fı́sica. Embora o livro não
seja tão popular, em alguns aspectos, ele antecipa alguns desenvolvimentos ocorridos
posteriormente na filosofia e na metafı́sica.[23]
Trabalhos sobre epistemologia e metafı́sica Uma Investigação sobre o Princı́pio do
Conhecimento Natural e O Conceito de Natureza Em Uma Investigação sobre o Princı́pio
do Conhecimento Natural (1919) e O Conceito de Natureza (1920), Whitehead rejeita a
identificação da natureza nas ferramentas matemáticas utilizadas para representar as suas
estruturas de relacionamento. Ele sustenta que o ponto geométrico é uma abstração que
não corresponde à realidade que podemos experimentar. A realidade seria uma entidade
abstrata derivada de relações concretas e extensas no tempo e no espaço. Segundo ele,
um ”objeto”é o significado idealizado do que é estável em um evento ou uma conjunto de
elementos: ele classifica os eventos como as realidades fundamentais da experiência e da
natureza. Nessas obras ele se opõe ao empirismo radical de William James.[24]
Ciência no mundo moderno e Religion in the Making Em Ciência no Mundo Moderno
(1925), Whitehead ataca o que chama de ”materialismo cientı́fico dogmático.”Ele critica,
em particular, a visão de que apenas as coisas que podem ser localizadas geometricamente
são reais. Para ele, no entanto, o que importa são as relações entre as coisas.[25] É
também neste livro que introduziu a palavra ”grip”, que ele define como uma ”percepção
não cognitiva”.[26] Com isso, ele indica que as relações não são necessariamente baseadas
no conhecimento e que a nossa primeira consciência do mundo é pré-epistemológica. Os
três últimos capı́tulos deste livro são dedicados à epistemologia, à religião, à ciência e às
condições de progresso social.[24]
Em Religion in the Making (1926), ele definiu a religião como ”o que o indivı́duo faz
com sua própria solidão”.[26] De acordo Herstein, Whitehead entendia a religião como
”uma forma de múltiplas relações do indivı́duo ’no e para’ o mundo. Além disso, esse
modo de relacionamento não pode ser entendido fora de seu contexto”. Whitehead afirma
que ”o propósito de Deus é alcançar valor no mundo temporal”, o valor é entendido como
”inerente a ele mesmo”, como algo que é, e não como algo que é usado.[24]
Processo e Realidade
George Santayana, assim como Whitehead, acreditou que a filosofia exerce uma função
poética. Em sua Magnum Opus publicada em 1929, Whitehead elaborou a filosofia da
organização, mais conhecida como a filosofia do processo.[27]
Whitehead apresenta sua filosofia especulativa, tratando, de uma forma muito sofisti-
cada, de questões como a metafı́sica, a ontologia e a epistemologia. Processo e Realidade
estabelece as bases para o seu princı́pio ontológico, que rejeita o dualismo de Descartes.
Ele pretende construir uma cosmologia capaz de perceber um mundo em formação, ou
seja, no processo de transformação constante. Na filosofia especulativa, o primeiro capı́tulo
da obra, Whitehead enumera as condições que devem abarcar todo e qualquer sistema
especulativo; a coerência, a lógica e a relevância. O livro tem caráter investigativo e se
destina a expandir a metafı́sica por meio de uma série de questões religiosas e filosóficas.
Para o autor, a metafı́sica não pode ser feita sem um sistema elaborado de compreensão
de cada ciência, buscando sempre extrair a experiência de cada campo cientı́fico.[11]

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Ainda é famosa a citação do livro onde ele afirma que:
“A definição mais precisa da Filosofia Ocidental é a de que ela não passa de uma
sucessão de notas de rodapé da obra de Platão.”[28]
Simbolismo: seu significado e efeito e A função da Razão Whitehead sempre demons-
trou interesse em sı́mbolos, e em Simbolismo: seu significado e efeito (1929), eles conti-
nuam a ter um papel fundamental e atrelado à sua teoria do grip. Ele desenvolve a ideia
de que as nossas percepções sensoriais não-cognitivas tomam a forma de sı́mbolos. Por
exemplo, simbolizar uma cadeira para um cão pequeno como um lugar para ele deitar.[24]
Na obra A Função da Razão (1929), ele atribui à razão três funções: viver, viver bem
e viver melhor.[24]
Aventuras de ideias e Métodos de Pensamento De acordo com Herstein, Aventuras de
ideias (1933) é uma obra crucial para se dominar o esquema metafı́sico de Processo de
Realidade. Aqui Whitehead aplica sua metafı́sica no problema da história.[11]
Em Métodos de Pensamento (1938), depois de se opor aos excesso da filosofia da
linguagem de Wittgenstein, Whitehead afirma o que é, para ele, o propósito e a função
da filosofia:
”A filosofia serve para manter ativa a novidade de ideias fundamentais as quais ilu-
minam o sistema social. Ela deve reverter à degradação do pensamento substituı́do pelo
lugar-comum do cidadão passivo (...) A filosofia é semelhante à poesia”[24]

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