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Diagnósticos

dos Problemas
de Aprendizagem
Diagnósticos dos Problemas de Aprendizagem

A dimensão afetiva dos problemas de aprendizagem

Responsável pelo Conteúdo:


Profa. Dra. Laura Marisa Carnielo Calejon

Revisão Textual:
Profa. Esp. Márcia Ota
Unidade
A dimensão afetiva dos problemas de aprendizagem

Motivação inicial:

Professora 1: Meu aluno tem muitos problemas


emocionais e não consegue aprender.
Professor 2 : A aprendizagem também implica
em afetos. Acho que a gente não
entende direito o papel dos afetos
ou a dimensão afetiva do processo
de aprendizagem.

A dimensão afetiva constitui-se em uma dimensão relevante para compreender os problemas


e as dificuldades de aprendizagem. Pain (1985) descreve a aprendizagem como função do
ego. O ego é uma estrutura ou uma instância da personalidade que estabelece contato entre
a realidade psíquica do sujeito e as demandas do mundo externo. A autora assinala ainda,
lembrando Freud, que a aceitação do real baseia-se na resignação.
A partir da perspectiva de Klein, Pain assinala que a capacidade do sujeito para lidar com
a frustração indica a saúde do ego. A realidade nunca atende ou gratifica completamente
o sujeito. Ainda que o resultado das nossas ações sejam satisfatórias, a realidade não nos
gratifica completamente.
O pensamento, o discernimento e a possibilidade de adiar a realização de um ato ou de
antecipar as condições em que um ato é possível são funções do ego. Memorizar e focalizar a
realidade também são funções do ego.
Pain (1985), considerando que o ego é essencialmente frustração, uma instância que permite
ao sujeito a aceitação de determinadas condições de vida, a resignação. Se o ego, como diz
Pain, é uma instância que se submete, que resigna, podemos tomar este conceito no sentido
de resigna, ou seja, na possibilidade que o sujeito tem de ressignificar ou voltar a significar a
realidade como característica do processo de aprendizagem.

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Unidade: A dimensão afetiva dos problemas de aprendizagem

Sara Pain é uma pesquisadora importante no campo dos problemas de


dificuldades de aprendizagem. Analisa a questão da aprendizagem do ponto
de vista de Piaget e da psicanálise. Exerceu uma influência considerável na
Psicopedagogia no Brasil.

Nesta perspectiva, a dimensão afetiva de observar ou observar a dimensão afetiva do


funcionamento do sujeito permite compreender de modo mais adequado a dificuldade que o
mesmo apresenta no processo de aprendizagem. Na perspectiva histórico-cultural, as vivências
do sujeito são condições relevantes do processo de aprendizagem. As pesquisas com sujeitos
que apresentam dificuldades de aprendizagem demonstram que estes sujeitos trazem vivências
negativas em relação ao conhecimento e a aprendizagem.
O desenvolvimento psicológico resulta em última instância como um produto da experiência
individual de cada sujeito, produzida pelo modo como o sujeito vivencia as infinitas situações
sociais e culturais que influenciam o sujeito em sua formação e desenvolvimento ao longo de
sua história ( Beatón, 2005). As vivências e experiências são de natureza e conteúdo afetivo/
cognitivo, consciente/inconsciente, social e pessoal.

O enfoque histórico-cultural assinala a importância da vivência no processo de


aprendizagem e do desenvolvimento humano.

O que o conceito de vivência sugere é uma unidade dialética entre a dimensão cognitiva e
a dimensão afetiva do ato de aprender. As informações a serem recolhidas sobre a dimensão
cognitiva do funcionamento psíquico pode ser recolhida principalmente por entrevistas e
técnicas gráficas.
As técnicas gráficas permitem explorar diferentes dimensões da personalidade, oferecendo
dados para compreender a força da estrutura do ego, a autoestima, assim como os vínculos que
o sujeito construiu em relação ao conhecimento. A autoestima tem sido considerada como chave
de sucesso e de autorealização. Maria de Lourdes Cysneiros de Morais demonstra diferentes
conceitos de autoconhecimento e de autoestima.
Para Braden, o autoconceito se caracteriza como um conjunto amplo de representações
(imagens, juízos, conceitos) que as pessoas têm de si mesmo. Barros considera o autoconceito
como a avaliação que o sujeito faz de si mesmo, a partir de sua experiência. A formação
do autoconceito é um processo lento que se desenvolve a partir das experiências pessoais da
criança e da reação dos outros ao seu comportamento. A autoestima tem sido considerada
como um dos componentes mais importantes e de maior impacto do autoconceito. É entendida
como um processo avaliativo que o sujeito faz de suas qualidades e de seu desempenho.

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As técnicas gráficas, os desenhos oferecem indícios sobre a personalidade do
sujeito. No caso das dificuldades de aprendizagem interessam os indicadores de
força do ego.

Neste processo avaliativo, a dimensão afetiva mostra-se intrinsecamente relacionada com a


dimensão cognitiva e a intervenção dos outros desempenha um papel relevante. Consideramos
a autoestima como a possibilidade que o sujeito tem de avaliar seus recursos para a realização
das tarefas que lhe são solicitadas.
As técnicas gráficas podem oferecer indícios importantes tanto da autoestima do sujeito
quanto da sua estrutura de ego.
As técnicas gráficas estão organizadas a partir do conceito de projeção, sistematizado pela
Psicanálise. O conceito de projeção demonstra que, a partir de uma situação pouco estruturada,
o sujeito organiza uma resposta que expressa a estrutura da personalidade do sujeito.
Entre as técnicas gráficas, encontramos o desenho da: figura humana, casa, árvore, família e
do par educativo, entre outros.
Os desenhos oferecem diferentes indicadores da personalidade do sujeito, mas focalizamos,
nesta unidade, aqueles que se relacionam mais diretamente com as questões de aprendizagem
e dos problemas de aprendizagem.
Entendemos que a capacidade de suportar frustração e a autoestima realista relacionam-se
com a capacidade que o sujeito tem de estabelecer contato com a realidade, com os recursos
que desenvolveu para retirar do ambiente a satisfação de suas necessidades, com a possibilidade
de interagir com os demais e estabelecer relações interpessoais.
Os desenhos da casa, da árvore e da família oferecem indícios, tanto nos aspectos expressivos
quanto de conteúdo dos desenhos, estas dimensões do funcionamento do sujeito. O tamanho
do desenho, em relação à folha, a localização do desenho, a quantidade de detalhes colocados
no desenho são aspectos expressivos do desenho que permitem avaliar estas dimensões afetivas
importantes para a aprendizagem.
Assim, os tamanhos excessivamente grandes, assim como um desenho muito pequeno sugerem
uma autoestima pouco realista. Os desenhos muito grandes revelam um sujeito que conhece
mal seus recursos, assumindo mais tarefas do que aquelas que efetivamente pode realizar.
Um desenho muito pequeno também revela uma autoestima pouco realista, predominando
sentimentos de inferioridade. O sujeito acaba por assumir menos responsabilidade e tarefas do
que seus recursos permitiriam assumir.
Os aspectos expressivos nos desenhos da casa, da árvore e da figura humana que permitem
compreender o grau de contato do sujeito com a realidade pode ser a existência de uma linha
de solo. Do ponto de vista do conteúdo, as portas e janelas da casa, os galhos da árvore, os
braços da figura humana permitem os recursos que o sujeito desenvolveu para retirar do seu
ambiente os recursos que necessita para satisfazer suas necessidades.

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Unidade: A dimensão afetiva dos problemas de aprendizagem

O desenho da família permite compreender o lugar que afetivamente o sujeito ocupa na


família, como representa este grupo e que figuras aparecem como significativas do ponto de
vista afetivo.
O desenho do par educativo permite avaliar como o sujeito representa a relação com o
conhecimento. Solicita-se ao sujeito que desenhe alguém que ensina e alguém que aprende
em qualquer situação. Os elementos oferecidos pelo desenho são compreendidos de modo
mais claro quando se solicita ao sujeito a elaboração de uma história. No desenho do par
educativo, o tamanho das figuras desenhadas indica o valor que as mesmas têm para o sujeito.
Os elementos colocados no desenho sinalizam o que o sujeito percebe como valorizado no
processo de aprendizagem.

O desenho do par educativo permite observar os vínculos que o sujeito construiu


com o conhecimento e na aprendizagem. A técnica pode ser usada com crianças,
adolescentes e adultos.

A exploração de interesses e sentimentos da criança ou do adolescente representa uma forma


adicional de compreender a dimensão afetiva dos problemas de aprendizagem. Exploram-se os
sentimentos do sujeito, quando ele:
 vai para a escola;
 pode jogar;
 tem que ler, escrever ou ir para a escola;
 faz lição de matemática;
 pode escolher o que ele vai fazer.

As vivências do adolescente ou da criança podem ser compreendidas por uma entrevista


vivencial ao escolar. A entrevista solicita ao sujeito que indique:
a) Qual a recordação do dia ou situação mais feliz de sua vida.
b) Qual o dia ou situação mais triste de sua vida.
c) Quando aconteceu o que foi contado.
d) Se o acontecido foi contado por alguém ou realmente se lembra do que conta.
e) Se algo mudou em sua maneira de pensar, de sentir ou de comportar-se.
f) O que predomina na sua vida, as lembranças alegres ou as tristes.

Como apontado neste texto, existem vários caminhos para obter dados sobre a dimensão
afetiva dos problemas de aprendizagem.

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As funções psicomotoras como a dominância lateral, o conhecimento da lateralidade no
próprio sujeito, no outro e no ambiente, o desenvolvimento da noção de espaço, a orientação
no espaço, da noção de tempo e do esquema corporal também são dimensões importantes do
processo de aprendizagem.
Considerando a dinâmica complexa do desenvolvimento como uma categoria importante
para compreender o desempenho escolar é importante também que psicopedagogo considere
no diagnóstico, as percepções do professor e as relações estabelecidas entre o aluno e os
professores, entre o aluno e seus colegas, assim como a leitura que a família faz da instituição
escolar e do desenvolvimento do sujeito.

Em Síntese:
Entendemos que o texto e esta unidade oferecem elementos importantes que devem
ser considerados no diagnóstico dos problemas de aprendizagem, completando
informações relevantes que foram apontadas nas unidades anteriores.

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Unidade: A dimensão afetiva dos problemas de aprendizagem

Anotações

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