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Direção Editorial
Lucas Fontella Margoni
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φ
Diagramação: Marcelo A. S. Alves
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Corporações transnacionais: novos atores e novos poderes [recurso eletrônico] / Eduardo Baldissera Carvalho
Salles -- Porto Alegre, RS: Editora Fi, 2018.
180 p.
ISBN - 978-85-5696-385-7
CDD: 340
Índices para catálogo sistemático:
1. Direito 340
À Caticlys e aos meus familiares.
Prefácio ........................................................................................................ 13
1.................................................................................................................... 21
Introdução
2 .................................................................................................................. 29
A sociedade global e seus atores
2.1 O fenômeno da globalização ........................................................................... 29
2.1.1 Origens ......................................................................................................... 31
2.1.2 Correntes interpretativas .......................................................................... 39
2.1.3 Aspectos distintivos e dimensões ............................................................. 49
2.2 As características dos atores transnacionais ..................................................54
2.2.1 Historicidade do fenômeno........................................................................56
2.2.2 Significado e categorias ............................................................................ 66
3 .................................................................................................................. 79
A questão do poder
3.1. A emergência de debates teóricos e conceituais........................................... 84
3.1.1 Debates modernos...................................................................................... 85
3.1.2 Debates americanos....................................................................................97
3.1.3 Debates contemporâneos: perspectiva epistemológica e evolucionária ... 103
3.2 As categorizações contemporâneas do poder .............................................. 112
3.2.1 Poder físico e poder social.........................................................................113
3.2.2 Poder assimétrico e poder equilibrado .................................................. 114
3.2.3 Poder “sobre” e poder “para”................................................................... 115
4 ................................................................................................................. 119
O poder das corporações transnacionais
4.1 Surgimento ...................................................................................................... 121
4.2 Capacidade de atuação como ator ................................................................ 133
4.3 Domínio global: análise a partir do poder “sobre” e “para” ....................... 144
5 ................................................................................................................. 161
Conclusão
6 ................................................................................................................. 169
Referências
Prefácio
Giovanni Olsson1
1
Professor Permanente do PPGD da UNOCHAPECÓ (Linha Atores Internacionais), Membro do
GP/CNPQ “Relações Internacionais, Direito e Poder: Cenários e Protagonismos dos Atores Estatais e
Não-Estatais”
1
Introdução
2.1.1 Origens
1945
1873
1877
1881
1885
1889
1897
1901
1905
1909
1913
1917
1921
1925
1929
1933
1937
1941
1949
Fonte: ORTIZ-OSPINA; ROSER, 2016
700%
500%
400%
300%
200%
Privado
Público
100%
0%
-100%
1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010
Estados Unidos Japão Alemanha França
Reino Unido Itália Canadá Austrália
0,6
0,5
0,4
0,3
0,2
0,1
0
1995
1950
1953
1956
1959
1962
1965
1968
1971
1974
1977
1980
1983
1986
1989
1992
1998
2001
2004
2007
2010
A questão do poder
partir das obras dos filósofos clássicos, sem testar suas hipóteses em
experiências ou comparações (HEARN, 2012, p. 43).
Como homem de seu tempo, o trabalho de Maquiavel foi
construído objetivando contornar as ameaças que o afligiam no
período, notadamente a independência da dominação estrangeira,
necessidade de dominação interna por um tirano e a expansão da
cidade para as demais regiões da península a fim de unificar a Itália
em um único governo. Disse ele, ainda, que as pessoas são
normalmente sectárias, egoístas e desconfiadas, e que haveriam
duas grandes ameaças ao sucesso do Estado: a aristocracia, cujo agir
egoísta tenderia a subverter a lei e a ordem social em seu próprio
proveito e os exércitos de mercenários, que, ao contrário dos
exércitos próprios, seriam desunidos, ambiciosos, sem disciplina e
infiéis, porquanto não estariam motivados pelo propósito cívico,
mas por interesses particulares e recompensa pecuniária
(MAQUIAVEL, 1999, p. 42).
Embora Maquiavel tenha desenvolvido seu pensamento em
diversas obras, foi o controverso “O Princípe” que o tornou famoso.
Nele, o autor cunhou conselhos ao príncipe de Florença que
contrariavam a maior parte dos dogmas católicos, porquanto
defendia certa flexibilização do conceito de bondade e a adoção de
práticas um tanto quanto utilitárias.
Jonathan Heartn alerta que os escritos de Maquiavel não
devem ser interpretados como se fossem desprovidos de
moralidade, eis que o pensador florentino apenas construiu uma
hierarquia de valores distinta daquela professada pela maioria dos
teóricos da época: ao contrário da liberdade individual consta no
topo de seu ideário a manutenção da liberdade republicana da
cidade-estado, e, por esta razão, seria possível que o governante
executasse certas maldades que objetivassem preservar o bem
coletivo (HEARN, 2012, p. 44).
Atualmente essa questão é denominada como “o problema
das mãos sujas” (problem of dirty hands) porque, nos sistemas
políticos contemporâneos, os governantes muitas vezes executam
88 | Corporações transnacionais: Novos atores e novos poderes
é reputado como legítimo por Weber, esta afirmação não pode ser
tomada como irrefragável. Isso porque, apesar da base principal do
poder weberiano ser a violência, a obediência só poderia ser
alcançada pelo medo, porquanto o uso desmedido da violência
ameaçaria a legitimidade do poder, de modo que o seu uso seria
ambivalente – poderia apoiar ou destruir sistemas de governo.
A categoria “poder sobre”, portanto, ultrapassa a divisão
maniqueísta de violência e consenso. Inclui os meios de coerção em
que situações e percepções são moldadas de maneira que induzam
o cumprimento dos interesses dos detentores do poder. Abrange,
assim, uma ampla variedade de métodos por meio dos quais o poder
é exercido tanto para comandar e manipular quanto para
embrenhar-se anonimamente nos discursos, num âmbito coletivo.
Por outro lado, ao tempo em que o “poder sobre” diz respeito
a uma relação inserida em um contexto social, o “poder para” existe
nas práticas dos atores, podendo a sua potência resultar em um
aumento de poder para todos os participantes. Goehler assevera,
nesse sentido, que nesta categoria o poder não se insere em um jogo
de “soma zero”, mas sim de “resultado positivo” (GOEHLER, 2000,
p. 45).
Esse conceito de “poder para” possibilita agregar em torno de
uma categorização a visão analítica de Pierre Bourdieu e Michel
Foucault, bem como a de Hannah Arendt, para a qual o poder não
tem relacionamento de comando e obediência, mas pertenceria às
instituições políticas e teria caráter agregador.
Nota-se, em seus escritos, que Arendt não admite o “poder
sobre” por identifica-lo como manifestação de violência, propondo
uma visão normativa do poder que contrasta com Max Weber e sua
perspectiva empírica. Para ela, o poder envolve também a
elaboração de âmbitos que não apenas espaços onde a dominação
legitimar-se-ia.
Em seus escritos, Arendt narra que o poder “[...] corresponde
à habilidade humana de não somente agir, mas de agir de forma
concertada. Poder nunca é uma propriedade de um indivíduo; ela
118 | Corporações transnacionais: Novos atores e novos poderes
4.1 Surgimento
Conclusão
Referências
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Eduardo Baldissera Carvalho Salles | 171
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174 | Corporações transnacionais: Novos atores e novos poderes
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-158
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MANN, Michel. The sources of social power: v. 2. The Rise of Classes and
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