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Jorge Amado

Nascido em 1912, na Bahia, Brasil, Jorge Amado despertou muito cedo para a arte, mais
concretamente para a literatura, começou por escrever no Jornal da Escola, textos
jornalísticos, mas a sua vida enquanto escritor pautou-se maioritariamente pelo romance, o
seu estilo favorito.

De salientar que o livro “O país do Carnaval” foi o primeiro romance que Jorge Amado
escreveu com apenas 18 anos.

Jorge Amado foi um dos mais famosos e traduzidos escritores brasileiros – obra editada em 55
países, 49 idiomas - muitas das suas obras foram adaptadas ao cinema, ao teatro e à televisão.
Ele fez parte da sociedade intelectual comunista brasileira desde o final da primeira metade do
século XX.

Pela sua ideologia comunista, Jorge Amado foi perseguido e hostilizado ao ponto do ver a sua
obra banida e retirada do mercado, como foi o caso do livro “Cacau”. Esteve, ainda, exilado na
Argentina cerca de 3 anos. Contudo, voltou ao Brasil e sem desistir, continuou a escrever e
voltou a ser preso.

Jorge Amado recebeu vários prémios nacionais e internacionais, como o prémio Camões, foi,
também, homenageado diversas vezes e ainda recebeu alguns graus muito importantes como
o de Comendador e de Grande-Oficial nas Ordens da Argentina, Chile, Espanha, França e
Portugal.

Jorge Amado morreu em agosto de 2001, em Salvador, Brasil.

Livro
Foi publicado pela primeira vez em 1931.Trata-se de um livro pequeno, que na capa tem o
nome do mesmo e do autor. Na capa é, ainda, possível ver o nome da coleção a que pertence
este exemplar: Autores Lusófonos”.

A ilustração da capa faz referência aos personagens centrais do livro, vários homens a olhar em
diferentes direções. São elas os intelectuais Paulo Rigger, Pedro Ticiano, Ricardo Braz, António
Gomes, Gerónimo Soares e José Lopes.

Na contracapa pode-se ler uma pequena biografia do autor e informação relativa à obra em
causa.

Este livro é constituído por 16 capítulos e é um Romance, a sua personagem principal é Paulo
Rigger.

O livro fala-nos sobre a história de Paulo Rigger, um homem recém-chegado ao Brasil depois
de muito tempo em França. Ao chegar ao Brasil depara-se com o carnaval, no Rio de Janeiro,
mas não demora a ir viver com os pais na Bahia. Já na Bahia, ele conhece um grupo de
intelectuais com quem fala sobre tudo, desde política, religião e os seu antigos amores. É com
este grupo de homens todos diferentes nas suas crenças políticas e religiosas, que ele acaba
por criar um jornal. Estas personagens debatem-se com diversas dúvidas e conflitos
existências, tentado sempre perceber a confusão cultural em que viviam.

Após algum tempo, Paulo Rigger cansa-se do Brasil e da situação conflituosa em que se vive lá,
e regressa à Europa.

Passagem
A passagem que eu escolhi foi a passagem que se pode ler nas páginas 28 à 30, porque é nesta
parte que o autor descreve como ficam as ruas do Rio de Janeiro e o estado de espírito das
pessoas durante o Carnaval.

Paulo Rigger, conta a sua situação no carnaval e o espanto que teve ao presencial toda aquela
animação exacerbada. Desde carros com música muito alta, o samba, a mulheres quase nuas e
toda gente feliz a gritar, a cantar, a beijarem-se, toda de forma livre e natural como ele nunca
tinha presenciado, daí a sua admiração que até o fez ponderar se ele era mesmo brasileiro.

No carnaval, Paulo encontra uma mulata linda com qual vai dançar e acaba aos beijos e
apalpos com ela mesmo sem nunca a ter conhecido. Mal ele sai do grupo de mulatas, uma
outra mulher bastante volumosa dá-lhe “uma umbigada” e segundos depois estavam a beijar-
se enquanto ouviam samba. Tudo isto era inédito e até desapropriado para o entendimento de
um homem acabado de chegar da Europa.

Este momento mostra bem o poder do carnaval sobre as pessoas, Paulo Rigger utiliza uma
expressão bastante elucidativa: “Vitória do instinto, Reino da Carne….”, ou seja, vale tudo,
sobretudo o irracional.

Esta passagem é o ponto central desta história porque relata o momento mais intenso, que vai
dar origem as tuas as outras situações da história, ou seja, a forma como os Brasileiros vivem o
carnaval, se é correta ou não, que questões morais e éticas se levantam, que valores estão em
causa e se é que estão mesmo valores em causa e como todas estas questões têm reflexo na
sociedade Brasileira e na sua vida em particular.

Intertextualidade
Para a intertextualidade eu escolhi o filme Beautiful Boy, um filme escrito por Luke Davies e
Groeningen, baseado no livro Beautiful Boy: A father´s journey though his sons´s addiction, de
David Sheff. Este filme retrata a relação de um pai e de um filho usuário de metanfetamina.
Trata-se de um texto baseado em factos verídicos.

O filme mostra a angústia de um pai e a luta pela sobrevivência do filho dependente de drogas.
Ao longo do filme são colocadas várias questões éticas, morais e de valores tanto à família,
como à sociedade, como ao rapaz, que se deixou levar pelo “carnaval” da droga, ou seja, este
jovem, com uma vida aparentemente perfeita, procurou nas drogas um refúgio ao quotidiano,
ele queria sentir a euforia, a felicidade, a liberdade sem aflições ou preocupações. Mas sempre
que o efeito da droga termina, este rapaz debate-se com sem número de preocupações, de
questões morais, familiares, sociais que infringiu. Esta parece-me ser a visão de Jorge Amado
do Brasil em tempo de carnaval, pois enquanto era carnaval parecia que não havia problemas,
era como se o país estivesse sobe o efeito de uma droga e ninguém dava conta dos seus
problemas ou dos problemas do país, tudo era permitido e válido, mas assim que acabava o
carnaval, o país caí em si e apercebia-se da situação em que estava e perguntava-se o porquê,
começavam as questões sem resposta. Contudo tanto o rapaz como no Brasil acabam ambos
por voltar ao seu carnaval o que torna a situação deles cada vez pior.

A meu ver a droga funcionou para este jovem como o carnaval funciona para os brasileiros em
“O país do carnaval”, isto é, por vezes o Ser Humano precisa de um refúgio, mas esse refúgio
tem um preço, depois de usufruir dele à que lidar com todas as questões morais, as incertezas,
as dúvidas e as consequências de ter colocado tudo de lado por alguns momentos.

Este tema é tão atual agora como era há mais de oitenta anos quando Jorge Amado escreveu
este livro. A crise de valores, as questões morais e éticas são um problema transversal a todas
as sociedades em qualquer época.

A minha reflexão é: será que não necessitamos todos de alguns momentos de carnaval ao
longo das nossas vidas? Que preço estamos dispostos a pagar?

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