Você está na página 1de 4

ABRINDO CAMINHO PARA A EMPATIA HISTÓRICA:

DESCOBRINDO A VERDADE AMERÍNDIA NO CASO DA FASE


INICIAL DA “ CONQUISTA” DOS ASTECAS E DOS INCAS

INTRODUÇÃO

“Para que haja a união dos povos é necessário sentirmos o que eles sentem, pensarmos
como eles pensam e enxergarmos como eles enxergam. Sendo assim, a empatia é a principal
ferramenta para que isso aconteça” nessa citação de Lucas Morgado, há algo muito importante
e crucial dentro do conhecimento histórico, a empatia, pois é impossível compreender
verdadeiramente uma determinada cultura sem que haja um desprendimento total de
pré-conceitos formados. Preconceitos esses que possam deturpar um conhecimento mais
profundo e rico a respeito da mesma.
Seguindo uma perspectiva da história tradicional, muitas vezes etnocêntrica e
colonialista, somos privados de conhecer mais a fundo sobre a história de povos que foram
invisibilizados e/ou subjugados . Na contramão dessa perspectiva, o texto que ora se apresenta
tem o objetivo de visibilizar uma memória de lutas e resistências dos povos indígenas
americanos. Para isso, nos propomos a discutir como aconteceu o processo inicial de
colonização de povos pré-colombianos pelos espanhóis, ressaltando que, diferente do que
muitos tendem a pensar, essa “conquista” não foi instantânea, mas sim parte de um processo.
Acreditamos que essa memória de força e resistência possa contribuir para a construção de
uma empatia histórica com desdobramentos positivos na visão que temos sobre os povos
originários das Américas.

METODOLOGIA

Muitos estudiosos da Colonização espanhola se perguntaram como os europeus


conseguiram conquistar impérios com milhões de súditos. Nesse trabalho nos propomos a
responder esse questionamento, focando especificamente nos "Impérios" Asteca (ou
Mexicas) e Inca. Usaremos como referencial teórico o que o autor Tzvetan Todorov discute
em seu livro “A Conquista da América: a questão do outro”. A partir dos resultados obtidos
com o nosso estudo destacamos alguns fatores que podem ter alavancado essa conquista

DISCUSSÃO DOS RESULTADOS


Dominando um grande território do Vale do México, o Império Asteca, e o Império
Inca que dominava a região da Cordilheira dos Andes, possuem muitos fatores em comum:
ambos eram Impérios estratificados, que cobravam altos impostos de seus povos e possuíam
grande desigualdade social e conflitos internos. Com a chegada dos espanhóis no território
Asteca houveram uma série de questionamentos e estranhamentos que durante um certo
tempo impediram uma reação por parte dos indígenas, que devido às suas crenças e o contato
com o diferente, acreditavam que os europeus eram deuses, pois segundo Todorov “Não
conseguindo inseri-los na categoria dos totonacas - portadores de uma alteridade quase nada
radical -, os astecas renunciam, diante dos espanhóis, a seu sistema de alteridades humanas, e
são levados a recorrer ao único outro dispositivo acessível: o intercâmbio com os deuses”
(1999, p. 44). Além disso, Cortéz observou a estrutura interna da sociedade Asteca, e se
aproveitando das fraquezas expostas, utilizou isso para formar alianças com as nações
oprimidas por esses impérios com a falsa promessa de libertação do governo tirânico.
Outro fator que merece ser observado para uma possível aceleração da conquista
espanhola foi o comportamento de Montezuma, Imperador da Civilização Asteca, que teve
seu papel muitas vezes questionado por não agir conforme o esperado, contudo, no livro
citado acima fica claro que o comportamento ambíguo de Montezuma tinha uma explicação:
toda aquela situação era algo muito novo para o Imperador, que recorrendo à tradição
interpretativa de seu povo , isto é, o passado, não conseguia enxergar um cenário semelhante.
Por esse motivo ele se manteve calado por muito tempo, e também evitava receber qualquer
tipo de informação sobre o que estava acontecendo, ao contrário de Cortéz que estava sempre
buscando obter respostas sobre tal comportamento, a fim de entender como deveria prosseguir
com o processo de colonização.
Ou seja, ao contrário do que muitos tendem a pensar, Montezuma não agiu de forma
incorreta ou tardia, ele apenas buscava respostas em suas bases culturais. Diante de algo
jamais visto ele necessitava de algum meio para obter respostas, mas quanto mais tempo ele
gastava procurando uma explicação mais Cortéz avançava. Depois de um combate
catastrófico que eclodiu depois da morte de Montezuma, entre Astecas e espanhóis, no qual
milhares de nativos assim como os próprios espanhóis foram mortos, os espanhóis
conseguiram enfim conquistar pouco a pouco o império Asteca.
Não muito diferente temos o Império Inca que também se tratava de uma grande
civilização. Aqui é importante frisar que durante o período de conquista havia uma ascensão
de doenças infecciosas nesse território trazidas pelos espanhóis, inclusive a varíola, essa, foi a
responsável pela morte do Imperador Inca. Depois de sua morte iniciou-se uma guerra civil
dentro do território por disputa de poder entre seus filhos. Essa guerra civil consequentemente
enfraqueceu e desestabilizou o império Inca, havendo assim uma divisão interna, com isso os
espanhóis aproveitando-se dessa instabilidade conseguiram conquistar os territórios
dominados pelos incas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Morgana Gomes diz em seu texto "A Conquista Espanhola na Visão dos Vencidos" que “para
conquistar um povo, para dominá-lo, basta destruir sua cultura, destruir sua religião e
impor-lhes a sua.” O que se conclui é que nada é tão simples quanto parece, podemos
observar as inúmeras camadas dessa guerra entre nativos americanos e espanhóis, e ainda sim,
nunca teremos a totalidade dos fatos, o que não podemos é nos ater a apenas uma versão dos
fatos, principalmente a visão de que os indígenas foram facilmente dominados e não
enfrentaram os seus inimigos. Como demonstra Todorov, diversos fatores explicam tal
conquista, aqui citamos as doenças trazidas pelos europeus que mataram milhares de
indígenas e as divisões e tensões internas dos Impérios Asteca e Inca, que foram explorados
politicamente por parte dos espanhóis. Diferente das versões contadas, esses dois impérios
não foram conquistados facilmente e sem que houvesse um longo período de resistência.
Achar que esse processo foi fácil é mais uma vez contribuir para um pensamento distorcido e
que menospreza grande parte da história de luta desses povos. Eles resistiram, e continuam
resistindo até hoje, e compreender esse passado, é compreender a nossa própria história.
REFERÊNCIAS

TODOROV, Tzvetan. A conquista da América: a questão do outro. 2. ed. São Paulo:


Martins Fontes, 1999.

Você também pode gostar