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GUIÃO PEÇA DE TEATRO MEDIQUE-SE

CENA I

Enfermeira Catarina encontra-se sentada no gabinete de enfermagem, consulta


processo clínico no computador do senhor Joaquim, de 55 anos, portador de hipertensão
arterial e diabetes mellitus tipo II.

Enfermeira Catarina (levanta-se da cadeira e dirige-se à porta) (com sorriso e


boa disposição) – Senhor Joaquim Soares.

Joaquim (irritado) – Já estava a ver que nunca mais chegava a minha vez! Posso
entrar senhora enfermeira?

Enfermeira Catarina (sorri, tom caloroso) – Bom dia senhor Joaquim, sim pode
entrar. Sente-se, por favor.

Joaquim (senta-se na cadeira devagar)

Enfermeira Catarina – Bem senhor Joaquim, o que é que lhe traz aqui à
consulta?

Joaquim – Ah senhora enfermeira, não me tenho sentido muito bem. Pedi à


minha filha para me fazer o favor de marcar uma consulta, porque de manhã não me
tenho sentido muito bem e à tarde tem me dado umas dores de cabeça, parece que a
minha cabeça vai explodir! Não sei mais o que faça, estou assim há semanas.

Enfermeira Catarina – Como é que se tem sentido?

Joaquim – Sem ser isso, tudo tem estado dentro dos conformes.

Enfermeira Catarina – Eu vou lhe medir a tensão e avaliar a sua glicemia.


Comeu alguma coisa de manhã?

Joaquim – Sim, senhora enfermeira. Comi papo seco com café preto para ver se
me tirava a fraqueza.

Enfermeira Catarina – E costuma beber o seu café com ou sem açúcar?

Joaquim – Sim senhora enfermeira, gosto do meu café bem doce, ponho 5
colheres de açúcar no café.
Enfermeira Catarina – Agora vou medir a sua tensão arterial e depois avaliar os
“Diabetes”.

Foi feita medição da tensão arterial e da glicémia capilar. Este apresentava-se


hipertenso e normoglicémico.

Enfermeira Catarina (olha para o esfigmomanómetro e está preocupada com o


valor) – Ah, senhor Joaquim isto está muito alto!

Joaquim – Ah senhora enfermeira, eu não percebo nada disso, como assim está
muito alto?

Enfermeira Catarina – Então não lhe ensinaram os sinais de hipertensão?

Joaquim – Ah senhora enfermeira, não sei nada disso!

Enfermeira Catarina – Bom senhor Joaquim, além de ter as dores de cabeça à


tarde, alguma vez se sentiu com tonturas, com o coração a bater muito depressa, dores
no peito ou mesmo com falta de ar?

Joaquim (tom melancólico) – Bom! Depois de almoçar sinto o meu coração a


bater muito rápido e não me levanto com falta de ar.

Enfermeira Catarina – Pronto senhor Joaquim, isso são sinais de que está com
hipertensão arterial, ou seja, o sangue das suas veias está com muita força e dá dores de
cabeça, bem como o que já lhe tinha referido. Normalmente, a tensão acima de 140/90
mmHg “14/9” significa que tem hipertensão arterial e a tensão abaixo de 90/60 mmHg
“9/6” significa que o sangue não está a correr com força suficiente, ou seja, está com
hipotensão arterial e pode se sentir enjoado, cansado, confuso ou até mesmo sentir uma
fraqueza no corpo.

Joaquim – Ah sim senhora enfermeira, depois de tomar a medicação começo a


me sentir enjoado e com uma fraqueza no corpo, ao me levantar caio de novo no sofá.

Enfermeira Catarina – O senhor Joaquim toma a medicação como o médico


recomendou?

Joaquim (pensativo, coça a cabeça) – Mmmmm, os comprimidos para a diabetes


eu tomo de manhã antes das refeições tal como o senhor doutor recomendou. Para as
dores de cabeça eu tomo um benuron depois do almoço. Os da tensão como o senhor
doutor está sempre a mudar e eles me dão fraqueza e me sinto mal com eles, só tomo
quando sinto que alguma coisa não tá bem.

Enfermeira Catarina – Faz muito bem em tomar a medicação para os diabetes


tudo certinho. Mas porque é que toma a dos diabetes certa e a da tensão não toma como
o médico disse?

Joaquim (encolhe os ombros) – Então senhora enfermeira, eu fui uma vez ao


doutor e tinha uma ferida no pé e tive de ir ao centro de saúde fazer pensos durante três
meses, o senhor doutor disse que aquilo era dos diabetes e que se eu não começasse a
tomar a medicação certa, que eu poderia ter de cortar a perna. Cá com a tensão alta só
tenho tido dores de cabeça.

Enfermeira Catarina – Se o senhor Joaquim começar a tomar a medicação


certinha como o senhor doutor mandou, não se sente tão mal do que quando só tomar
quando se sente mal. Não é verdade?

Joaquim – Ah senhora enfermeira, eu já não me lembro de como o senhor doutor


me mandou tomar a medicação. Eu sei que tenho de tomar um à noite e um depois do
pequeno-almoço.

Enfermeira Catarina (consulta processo clínico do utente) – Bom, o médico


escreveu que já tomou como antidiabético o risidon e a synjardy, mas agora faz o
diamicron. Em relação à medicação para a tensão já fez o triatec e capritim, mas agora
faz o cosyrel, depois do pequeno-almoço e à noite, este medicamento é um
antihipertensor, o que significa que ajuda a manter os valores da tensão normais, por
isso, é muito importante que tome a medicação certa, não é?

Joaquim – Sim, senhora enfermeira, estou a ver.

Enfermeira Catarina – Bem, senhor Joaquim, eu tenho aqui as recomendações


que o senhor doutor lhe deu para tomar a medicação, se achar melhor, eu ofereço esta
caixa diária e vou assinalar aqui a hora a tomar e para que é. Acha que fica mais fácil?

(Irá ser projetado em PowerPoint como auxilio visual para a gestão


medicamentosa)

Joaquim – Podemos tentar, senhora enfermeira. A ver se fica mais fácil para
mim.
O enfermeiro apresenta a caixa da medicação, faz apontamentos das horas a
tomar a medicação e oferece ao utente.

Enfermeira Catarina – Senhor Joaquim, nesta caixinha (compartimento) vai


colocar a medicação da diabetes de manhã e a noutra caixinha a medicação para a
tensão depois do pequeno-almoço. Na terceira caixinha irá por a medicação dos diabetes
antes do almoço e logo depois a medicação para antes do jantar e na última caixinha
colocará um medicamento da tensão antes de ir dormir.

Joaquim – Não me parece ser muito difícil.

Enfermeira Catarina – Conseguiria exemplificar?

O senhor Joaquim pega nos comprimidos e divide-os corretamente.

Enfermeira Catarina – Muito bem, senhor Joaquim. Percebeu logo à primeira,


mas vou lhe dar aqui um papel com o que é que tem de pôr em cada caixinha, caso se
esqueça.

Joaquim (com entusiasmo) – Ah pode ser, senhora enfermeira. Assim caso me


esqueça, já sei onde ei de ir procurar.

Enfermeira Catarina – Eu vi aqui no seu processo que o senhor doutor mandou-


lhe tomar insulina quando tivesse hiperglicemia. O senhor Joaquim sabe quando deve
tomar?

Joaquim – Senhora enfermeira, já me ensinaram como medir a glicemia, mas


não sei quando medir. Eu sinto-me sempre bem!

Enfermeira Catarina – No seu processo, o médico escreveu que a insulina é feita


de manhã e à noite, por isso, deverá medir a glicémia antes das refeições principais e
antes de fazer a insulina para saber se está com a glicémia alta ou baixa, porque se ela
tiver baixa, não deve fazer a insulina, porque a insulina diminui a glicémia e pode ter
uma hipoglicémia. Por acaso, sabe me dizer os sinais de hiperglicemia e hipoglicemia?

Joaquim – Ah senhora enfermeira, eu não sei! Mesmo que eu quisesse lhe dizer,
eu não sabia.
Enfermeira Catarina – Não faz mal, que eu tenho todo o gosto em lhe explicar!
Após as refeições, costuma sentir uma fome constante e difícil de saciar, sensação de
boca seca, mais sede do que o habitual, cansaço e a visão turva?

Joaquim – Olhe, por acaso, após o almoço e o jantar sinto-me cansado e com
mais vontade de beber água pois sinto a boca seca. E à noite sinto uma roeza e levanto-
me para trincar qualquer coisa.

Enfermeira Catarina – Então, isso são sinais de que está com hiperglicemia, ou
seja, a sua glicemia (concentração de açúcar no sangue) está com valores acima de 126
mg/dl em jejum e de 200 mg/dl no resto do dia. E a glicemia inferior a 70 mg/dl
significa que tem hipoglicemia e pode se sentir confuso, com dificuldade em se
concentrar, com suor excessivo, cansado ou até mesmo sentir uma fraqueza no corpo.
Por isso, o senhor Joaquim toma o medicamento diamicron que é um antidiabético, ou
seja, serve para tratar a diabetes.

Joaquim – Ah assim já fiquei a saber!

Enfermeira Catarina – Posso então marcar-lhe uma consulta para a próxima


semana para ver se percebeu tudo o que foi aqui dito e se conseguiu tomar a medicação
toda certinha?

Joaquim – Senhora enfermeira, eu agora vou tomar a medicação toda certinha,


mas pode marcar, por isso, se tiver alguma dúvida, venho para a semana com as
perguntas todas apontadas no meu bloquinho.

Enfermeira Catarina (cumprimenta com cotovelada) – Bem senhor Joaquim,


muito obrigada por ter vindo e vemo-nos na próxima semana!

Joaquim (retribui cumprimento com cotovelada) – Obrigado e continuação de


uma boa semana!
CENA II

Enfermeira Marisa encontra-se sentada no gabinete de enfermagem, consulta


processo clínico no computador da senhora Serafina, de 75 anos, portadora de depressão
e distúrbios do sono (insónias).

Enfermeira Marisa (levanta-se da cadeira e dirige-se à porta) (com sorriso e boa


disposição) – Senhora Serafina Barrada.

Serafina (tem mão a apoiar rosto e olhos fechados, acorda sobressaltada) – Ah,
já vou senhora enfermeira!

Enfermeira Marisa (sorri, tom caloroso) – Bom dia senhora Serafina, pode se
sentar, por favor.

Serafina (senta-se na cadeira devagar)

Enfermeira Marisa – Então senhora Serafina, qual é o motivo da sua vinda ao


centro de saúde?

Serafina (tom melancólico, suspira) – Ai senhora enfermeira, eu vim aqui ao


centro de saúde porque já não durmo há uma semana, tenho tido sempre o mesmo
pesadelo que não me deixa dormir descansada e já não sei mais o que faça!

Enfermeira Marisa – Isso deve ser uma situação muito difícil para si.

Serafina – Nem imagina o quanto.

Enfermeira Marisa – Além de não conseguir dormir bem, como é que se tem
sentido?

Serafina (tom melancólico, encolhe os ombros) – Vai se vivendo. Rindo e


cantando neste vale de lágrimas.

Enfermeira Marisa – Senhora Serafina, eu compreendo que o facto de não estar a


dormir tão bem a faz se sentir em baixo e lhe causa um grande desgosto. Mas estou aqui
para ajudá-la no que for possível. Bem, antes de ir dormir, já experimentou fazer
alguma coisa para ajudar a descansar melhor?
Serafina – Bem senhora enfermeira, eu antes de me deitar, eu ligo o rádio para
ouvir o terço e bebo um cházinho de tília, mas já há algum tempo que não me faz nada e
a partir da uma da manhã não durmo mais.

Enfermeira Marisa – E durante o dia como é que se tem sentido?

Serafina - Sinto muito sono durante o dia e já não tenho paciência como dantes.

Enfermeira Marisa – Certo, senhora Serafina. Isso que me disse sobre já não
dormir há uma semana, de ter sempre o mesmo pesadelo e sono durante o dia são sinais
de insónia, que perturba a sua capacidade e adormecer e de permanecer a dormir.

Serafina – Ah, fiquei a saber mais uma coisa!

Enfermeira Marisa (consulta processo clínico no computador) – Ainda bem,


senhora Serafina. Vejo aqui que a médica há umas semanas receitou medicação para
dormir, mas esta já foi alterada algumas vezes. Já tomou como antidepressivo a
sertralina e o zoloft.

Serafina – E agora estou a tomar o prozac, Sra. Enfermeira.

Enfermeira Marisa - E como antipsicótico, já tomou risperdal e tiapridal, mas


neste momento toma a olanzapina.

Serafina – Sim Sra. Enfermeira e para ansiedade já tomei o dormonoct e o


dormicum, agora é só o xanax.

Enfermeira Marisa - A senhora Serafina toma a medicação como a médica


recomendou?

Serafina (tira da bolsa recortes das caixas do seu regime terapêutico) – Sim, eu
tenho tomado. Bom senhora enfermeira, esta é a medicação que tomo, mas há uns que já
não me lembro para que servem.

Enfermeira Marisa – Sabe me dizer os medicamentos que está a tomar agora e


para que é que servem?

Serafina – O xanax é para a ansiedade como eu já tinha dito, segundo o que a


senhora doutora disse, o prozac é para não me sentir tão triste e a olanzapina a senhora
doutora disse que era para uma psicose ou lá o que seja.
Enfermeira Marisa (pega nos recortes do antidepressivo, antipsicótico e do
ansiolítico) – Senhora Serafina, sabe me dizer se tem tomado estes medicamentos como
a médica recomendou?

Serafina (olha fixamente para os recortes durantes alguns segundos, olhar


confuso) – Ah, os medicamentos que a senhora doutora me mandou tomar para me
ajudar a dormir melhor! Ah minha filha, eu não gosto de os tomar!

Enfermeira Marisa – Mas então se toma o resto da medicação toda direitinha,


porque é que não toma os medicamentos para dormir como a médica lhe tinha dito?

Serafina – Para ser sincera, eu tomava essa medicação antes de deitar, mas como
me deixa com o nariz entupido e com o coração a bater muito rápido, eu sentia-me meio
aflita e deixei de tomar há algumas semanas.

Enfermeira Marisa – Mmmm, estou a ver. Depois de deixar de tomar essa


medicação tem se sentido mais triste, ansiosa ou até mesmo sem vontade para fazer as
suas tarefas?

Serafina – Eu tenho um pouco de vergonha de admitir, mas agora sinto sempre


uma agonia que me faz sentir da maneira que a senhora enfermeira disse, mas não
percebo o porquê?

Enfermeira Marisa – Como a senhora Serafina não está tomando os


medicamentos diariamente e de acordo com a receita da médica, isso faz com que não
consiga dormir e que não esteja a ter um sono reparador, fazendo-a se sentir mais
ansiosa, com falta de energia, memória diminuída e deprimida.

Serafina – Ah senhora enfermeira, se eu soubesse que me ia sentir assim, não


deixava de tomar a medicação para a dormir! Mas e agora que não me lembro como é
que toma?

Enfermeira Marisa – Se for mais fácil para si, posso escrever num papel as
recomendações que a médica doutora lhe deu para tomar a medicação, acha que fica
mais fácil?

Serafina – Pode ser, mas eu se eu me baralho?


Enfermeira Marisa – Se achar melhor senhora Serafina, ofereço esta caixa diária
e vou assinalar aqui a hora a tomar cada medicamento e para que é, acha que é melhor
assim?

Serafina – Podemos tentar, senhora enfermeira.

Enfermeira Marisa – Senhor Serafina, nesta caixinha (compartimento) vai


colocar a medicação que toma de manhã e noutra caixinha coloca o prozac depois do
pequeno-almoço. Na terceira caixinha irá por a medicação que antes do almoço e logo
depois na última caixinha colocará o xanax e a olanzapina que toma antes de ir dormir.

(Irá ser projetado em PowerPoint como auxílio visual para a gestão


medicamentosa)

Serafina – Não me parece ser muito complicado. Posso tentar?

Enfermeira Marisa – Claro que sim, senhora Serafina.

A senhora Serafina pega nos comprimidos, olha atentamente para cada


medicamento e para folha, leva o seu tempo e divide-os corretamente.

Enfermeira Marisa – Uau, muito bem, senhora Serafina. Fez tudo direitinho à
primeira, mas vou lhe dar aqui um papel com o que é que tem de pôr em cada caixinha,
caso se esqueça.

Serafina (com entusiasmo) – Ah pode ser, senhora enfermeira. Assim caso me


esqueça, é só ver a folha.

Enfermeira Marisa – Tenho a relembrar senhora Serafina que além da


medicação, existem algumas coisas que pode fazer para ajudá-la a dormir melhor. Por
exemplo, quando for dormir tente desligar a luz do quarto ou usar a luz da mesa de
cabeceira; minimizar os ruídos antes de dormir, por isso, é importante desligar rádio
antes de deitar. O terço que ouve é gravado ou é transmitido diretamente no rádio?

Serafina – Ah, eu tenho gravado num cd.

Enfermeira Marisa – Então, poderá ouvir o terço mais cedo, por exemplo, antes
do jantar e antes de se deitar poderá ler um livro.

Serafina – Vou fazer isso mesmo.


Enfermeira Marisa – Então, não se importar, posso lhe marcar uma consulta para
a próxima semana para ver se percebeu tudo o que foi aqui dito e se conseguiu tomar a
medicação toda certinha?

Serafina – Acho melhor, senhora enfermeira, que não sei se consigo fazer isto
tudo certinho.

Enfermeira Marisa – Acredite em si senhora Serafina, eu sei que ao se


concentrar, consegue fazer tudo certo. Muito obrigada por ter vindo e vemo-nos na
próxima semana!

Serafina – Adeus e obrigada.

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